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FACULDADE DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE PORTUGUÊS


DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA II

Mudança do Português em Moçambique

Orlando Mário
Código: 7123557

Quelimane, Março de 2024


FACULDADE DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE PORTUGUÊS

DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA II

Mudança do Português em Moçambique

Trabalho de pesquisa apresentado na


UnISCED como requisito para avaliação na
cadeira de Língua Portuguesa II

Orientado pelo Docente꞉

Orlando Mário

Tete, Março de 2024


Índice
1. Introdução ............................................................................................................................... 1

1.1. Objectivos ............................................................................................................................ 2

1.1.1. Objectivo Geral................................................................................................................. 2

1.1.2. Objectivos Específicos ..................................................................................................... 2

1.2. Metodologia ......................................................................................................................... 2

2. Revisão bibliográfica .............................................................................................................. 3

2.1. Variação linguística em Moçambique ................................................................................. 3

2.2. Variação fonética fonológica ............................................................................................... 3

2.3. Variação sintáctica ............................................................................................................... 5

2.4. Variação lexical ................................................................................................................... 5

2.5. Apresentação de propostas para melhoria ........................................................................... 6

3. Conclusão ............................................................................................................................... 8

4. Referências bibliográficas ...................................................................................................... 9


1. Introdução

De acordo com as conclusões de Silva (2019), Moçambique é reconhecido por sua rica
diversidade cultural, que abraça uma ampla gama de culturas e línguas. Dentro desse cenário,
uma variedade de idiomas do grupo bantu coexiste, juntamente com o português e outras
línguas europeias, com destaque para o inglês e línguas de origem asiática. O português é
oficialmente designado como a língua do país. Antes de 1975, apenas cerca de um quarto da
população moçambicana falava português como segunda língua, e apenas 1% o tinha como
língua materna. A decisão de manter o estatuto linguístico pré-independência, no qual o
português era a única língua oficial, resultou em um aumento significativo no número de
falantes desse idioma. De acordo com dados do Censo Populacional de 2007 do Instituto
Nacional de Estatística, aproximadamente 40% da população moçambicana fala português,
sendo que 10,7% o têm como língua materna, principalmente nas áreas urbanas.

Dias (2009) identifica três níveis de proficiência em português em Moçambique: um


nível elevado, composto por indivíduos com alto nível de instrução; um nível médio,
caracterizado por falantes com formação escolar moderada, onde é perceptível a influência de
outras línguas e que é ensinado nas escolas; por fim, há um grupo com proficiência básica,
que possui apenas conhecimento oral geral do idioma. As línguas bantu, nativas para muitos
falantes bilíngues, exercem influência sobre o português falado em Moçambique em vários
aspectos, incluindo fonética, fonologia, morfologia, vocabulário, sintaxe, semântica e
discurso.

Assim sendo o presente estudo de campo tem como objectivo investigar as áreas de
mudança do português em Moçambique, com foco na fonética, sintaxe e léxico. Além disso,
serão discutidas propostas para lidar com os desafios identificados, visando promover uma
abordagem inclusiva e sensível à diversidade linguística no contexto moçambicano.

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1.1. Objectivos

1.1.1. Objectivo Geral

 Compreender a evolução do português em Moçambique.

1.1.2. Objectivos Específicos

 Contextualizar a evolução do português em Moçambique;


 Explorar as áreas de mudança do português no país;
 Descrever as mudanças fonéticas, sintácticas e lexicais do português moçambicano;
 Apresentar propostas para lidar com os desafios encontrados.

1.2. Metodologia

Neste trabalho utilizou-se pesquisa bibliográfica, fundamentada em artigos científicos,


livros e recursos online especializados. A pesquisa foi realizada em bibliotecas digitais, como
Google Scholar, Scribd e Docero. De acordo com Marconi & Lakatos (2010), a pesquisa
bibliográfica consiste na análise de documentos previamente publicados, como livros, artigos
científicos, teses, dissertações e relatórios. O objectivo desse tipo de pesquisa é reunir e
analisar informações sobre um tema específico para obter um entendimento mais aprofundado
sobre o assunto em questão.

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2. Revisão bibliográfica

2.1. Variação linguística em Moçambique

De acordo Neves (1997) a contextualização da variação linguística em Moçambique


requer uma compreensão da rica diversidade étnica, cultural e linguística do país.
Moçambique é caracterizado por uma ampla variedade de grupos étnicos, cada um com sua
própria língua e tradições linguísticas. Além disso, o português é a língua oficial e de ensino,
mas é falado como segunda língua por muitos moçambicanos, especialmente nas áreas
urbanas e entre aqueles com acesso à educação formal.

Neves (1997) refere que “a variação linguística em Moçambique é influenciada por


vários factores históricos, sociais e geográficos”. Por exemplo, as línguas bantu, faladas por
muitos grupos étnicos, exercem uma forte influência sobre o português falado em
Moçambique, contribuindo para variações fonéticas, sintácticas e lexicais.

Além disso, a história colonial do país, com influências portuguesas e outras culturas
europeias, também desempenha um papel na variação linguística. A presença de comunidades
de imigrantes de outros países africanos e asiáticos também contribui para a diversidade
linguística em algumas áreas de Moçambique (Neves, 1997).

Santos (2008) sustenta que as diferenças regionais também são significativas, com
variações linguísticas observadas entre áreas urbanas e rurais, bem como entre as várias
regiões do país. Por exemplo, o português falado em Maputo, a capital, pode ser diferente do
português falado em áreas rurais do norte ou do sul.

2.2. Variação fonética fonológica

A variação fonético-fonológica corresponde a aspectos intrínsecos às diferenças na


pronúncia das palavras, variando não só entre diferentes línguas, mas também entre diferentes
variedades dentro de uma mesma língua. Essa variação pode ser influenciada por diversos
factores, inclusive pela interacção com outras línguas. No entanto, é importante ressaltar que
os princípios fonológicos são conceitos abstractos que emergem das relações entre os sons
dentro do panorama da língua (Cagliari, 2008, p.26).

Em Moçambique, a variação fonológica no português é frequentemente influenciada


pelas línguas maternas de origem bantu, presentes em diversas regiões do país. Através dessa

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variação, é possível identificar diferenças na pronúncia entre falantes nascidos no norte e no
sul do país (Timbane, 2013).

Segundo Timbane (2013) observamos algumas variações fonéticas nas províncias de


Nampula, Cabo Delgado, Niassa e Zambézia, todas situadas ao norte de Moçambique, onde o

makhuwa é predominante:

1. Substituição de consoantes sonoras por consoantes surdas


 Substituição de [d] por [t]: dedo = [teto]; dado = [tato]
 Substituição de [b] por [p]: bebé, bebe = [pepe]; banana = [panana]
 Substituição de [g] por [k]: galo = [kalo]; golo = [kolo]; pingar = [bikari]

A falta de sonoridade nas consoantes que normalmente são sonoras no Português


Europeu, conforme exemplificado nos casos acima, é um fenómeno distintivo entre os
falantes nativos da língua macua, podendo ocasionalmente prejudicar a inteligibilidade e
compreensão das expressões linguísticas.

Segundo Ngunga (2012, p.11), "a falta de sonoridade nas consoantes é uma
característica fonética fundamental do português falado pelos falantes de macua como
língua materna". Entretanto, o fenómeno exemplificado no caso (2) não é exclusivo do
macua, sendo uma característica comum às línguas bantu em geral, onde a estrutura
silábica tende a ser predominantemente consonantal ou consonantal/vocálica.

2. Ditongação da sílaba final


 fazer = [fazeri]; lavar = [lavari]; ler = [leri]; pagar = [pacari]
3. Eliminação da consoante final
 fazer = [faze]; lavar = [lava]
4. Nasalização ou desnasalização

Santos (2008) observa que no Português Moçambicano (PM), há um processo de


nasalização que afeta tanto a vogal baixa quanto a vogal anterior (exemplos a. e b.), ou então
ocorre uma completa desnasalização da vogal anterior, como em c. Em [ῖkono’mjα], a
nasalização afeta a vogal anterior. Apesar da ausência de explicações linguísticas claras para
esse fenômeno nos estudos disponíveis, algumas evidências sugerem que ele ocorre com
maior frequência em falantes do changana.

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2.3. Variação sintáctica

A variação sintáctica refere-se às diferentes maneiras pelas quais as frases e estruturas


gramaticais podem ser construídas e organizadas em uma língua, variando de acordo com
factores como contexto comunicativo, registro linguístico, regionalismo, entre outros. Esta
variação pode ocorrer tanto dentro de uma mesma língua, entre diferentes regiões ou grupos
sociais, quanto entre línguas diferentes (Silva, 2019).

Em Moçambique, por exemplo, a variação sintáctica no português pode ser observada


em diferentes construções de frases e padrões gramaticais, influenciadas por factores como
línguas maternas locais e contacto com outras línguas.

2.3.1. Modificação da estrutura argumental de verbos

Exemplo:

 PM: A Celeste nasceu duas meninas


 PE: Celeste deu à luz duas meninas
 PM: Eu fui nascido no dia que caíram muitas chuvas em Gorongoza.
 PE: Eu nasci em Gorongoza no dia em que choveu muito.

No changana, o verbo 'nascer', kubeleka, é tratado como um verbo transitivo, o que


sugere uma possível influência na estrutura sintática do Português Moçambicano (PM) a
partir do changana.

Dias (2009) destaca que há diversas variações linguísticas em comparação com o


Português Europeu (PE) em Moçambique. É importante salientar que todas as análises são
referentes ao PE. Alguns exemplos fornecidos por Gonçalves (2005a, p.55) exemplificam
essas diferenças:

• Português Moçambicano (PM): "Eles exaltaram a uma pessoa." Português Europeu


(PE): "Eles elogiaram uma pessoa."
• PM: "Elogiaram-lhe muito." PE: "Elogiaram-na muito."

Esses exemplos retirados de um corpus oral sugerem que há divergências entre a linguagem
escrita e falada. Em muitos casos, ocorre a transcrição da fala para a escrita, o que resulta em
desvio da norma padrão.

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2.4. Variação lexical

Segundo Santos, (2008) a variação lexical refere-se à diversidade de vocabulário em


uma língua, incluindo variações regionais, sociais, históricas e culturais. Em Moçambique,
essa variação é evidente no português falado e pode ser observada em comparação com o
Português Europeu (PE)

Dias (2009) destaca que há diversos casos de variação lexical quando comparados com o
PE, sendo importante ressaltar que todas as análises têm como referência o PE. Alguns
exemplos de variação lexical são fornecidos por Gonçalves (2005a, p.55):

 Português Moçambicano (PM): "Eles estão na paragem."


 Português Europeu (PE): "Eles estão no ponto."
 PM: "Ele comprou um chapa."
 PE: "Ele comprou um bilhete de autocarro."

Esses exemplos demonstram variações no vocabulário utilizado em Moçambique em


comparação com o PE. Eles ilustram como certos termos e expressões são diferentes entre as
variedades do português, refletindo influências regionais, culturais e históricas (Neves, 1997).

Além disso, Moita (2014) sustenta que a variação lexical também pode ser observada
em expressões idiomáticas, gírias e terminologias específicas de diferentes áreas de actuação
ou grupos sociais em Moçambique, contribuindo para a riqueza e diversidade linguística do
país.

2.5. Apresentação de propostas para melhoria

Conforme Baptista (2012) sustenta que para enfrentar os desafios identificados em


relação à variação do PM, é importante adoptar estratégias que promovam a compreensão
mútua, o respeito pela diversidade linguística e a valorização das diferentes variedades do
português. Aqui estão algumas propostas para lidar com esses desafios:

 Educação Linguística: desenvolver programas educacionais que valorizem e ensinem


sobre a diversidade linguística em Moçambique, integrando o estudo da variação
linguística no currículo escolar.

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 Formação de Professores: oferecer formação contínua para professores para
capacitá-los a reconhecer, entender e lidar com a variação linguística em sala de aula
de forma eficaz.
 Promoção da Literatura Moçambicana: incentivar a produção e o consumo de
literatura moçambicana que reflicta a diversidade linguística do país, promovendo
assim a valorização das diferentes formas de expressão linguística.
 Campanhas de Conscientização: realizar campanhas de sensibilização pública para
promover a compreensão e aceitação da variação linguística como uma riqueza
cultural e linguística de Moçambique.
 Investimento em Pesquisa Linguística: investir em pesquisa linguística para
entender melhor a natureza e o impacto da mudança linguística em Moçambique,
fornecendo assim uma base sólida para o desenvolvimento de políticas linguísticas
eficazes.

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3. Conclusão

Em conclusão, este estudo de campo proporcionou uma visão abrangente das áreas de
mudança do português em Moçambique, destacando a variação fonética, sintáctica e lexical.
Identificou-se que as influências das línguas bantu locais desempenham um papel
significativo na evolução do português moçambicano, resultando em uma variedade
linguística única e dinâmica. Para enfrentar os desafios decorrentes dessas mudanças
linguísticas, propomos medidas educacionais, de conscientização e de pesquisa que visam
valorizar e promover a diversidade linguística em Moçambique. Ao adoptar uma abordagem
inclusiva e sensível à diversidade linguística, podemos fortalecer a identidade cultural e
promover uma comunicação mais eficaz e harmoniosa em todo o país.

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4. Referências bibliográficas

1. Baptista, A. (2012). Estratégias para o ensino do português como língua não materna
em Moçambique: desafios e propostas. Revista Língua Portuguesa, 26, 87-99.
2. Matimbe, A. (2005). A influência das línguas bantu na sintaxe do português falado em
Moçambique. In: A. M. Carvalho (Org.), Atas do 3º Congresso Internacional da
ABRALIN (pp. 318-327). João Pessoa: ABRALIN.
3. Moita, M. F. (2014). A influência das línguas bantu na fonética e na fonologia do
português moçambicano. Revista Moçambicana de Linguística, 10(1), 137-152.
4. Neves, M. H. M. (1997). Variação e mudança no português de Moçambique. In: C.
M. Lopes (Org.), Actas do XVII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de
Linguística (pp. 443-451). Porto: APL.
5. Santos, L. S. (2008). Variação fonética no português moçambicano. Revista
Portuguesa de Humanidades, 12, 167-178.
6. Silva, C. F. (2019). Variação lexical no português de Moçambique: um estudo
sociolinguístico. Revista de Estudos da Linguagem, 27(1), 159-177.

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