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Direito Tributário I

Prof. Samuel Cunha de Oliveira


Unidade I – Atividade Financeira do Estado
 Considerações iniciais sobre o Direito Financeiro
 Nos países democráticos ou que, embora imperfeitamente, procuram disciplinar-se pelo regime
democrático, a atividade financeira desdobra-se dentro de campo institucional traçado pelo Direito
Público.

 O Direito Financeiro, à semelhança do Administrativo, é ramo do Direito Público.

 A Constituição brasileira distingue-se das outras por ser a que reservou maior espaço, em suas
disposições, às regras do Direito Financeiro.

 O conjunto das normas que regulam a atividade financeira constitui o Direito Financeiro.
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 As relações jurídicas específicas que decorrem da tributação e da despesa, a índole específica do
orçamento e até as peculiaridades dos contratos de empréstimos, quando o devedor é o Estado, definem
claramente a autonomia do Direito Financeiro.

 No decurso de um século, o enriquecimento normativo do Direito Fiscal, suscitado pelas causas já


mencionadas, multiplicou os atritos com o Direito comum e o induziu a emancipar-se deste, por meio de
privilégios reivindicados pelo Tesouro.

 A disciplina do direito financeiro é dogmática. Tem conceitos próprios e unidade orgânica de suas
normas.
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 O Direito Financeiro é compreensivo do conjunto das normas sobre todas as instituições financeiras –

receitas, despesas, orçamento, crédito e processo fiscal –, ao passo que o Direito Fiscal, sinônimo de

Direito Tributário, aplica-se, contemporaneamente e a despeito de qualquer contraindicação

etimológica, ao campo restrito das receitas de caráter compulsório. Regula precipuamente as relações

jurídicas entre o Fisco, como sujeito ativo, e o contribuinte ou terceiros, como sujeitos passivos.
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 CONCEITO DE ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

 Finalidade do Estado = realização do bem comum.

 Bem comum = ideal que promove o bem-estar e conduz a um modelo de sociedade, que permite o pleno
desenvolvimento das potencialidades humanas, ao mesmo tempo em que estimula a compreensão e a
prática de valores espirituais.

 Atividade estatal como meio de atingir a sua finalidade.


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 Na antiguidade:
 Requisição de bens e serviços dos súditos;
 Colaboração gratuita e honorífica dos súditos no desempenho de funções públicas;
 Apossamento de bens de inimigos derrotados na guerra.

 Hoje: regime de despesa pública  pagamento em dinheiro dos bens e serviços necessários à realização
do bem comum.

 Atividade Financeira do Estado = atuação estatal voltada para obter, gerir e aplicar os recursos
financeiros necessários à consecução das finalidades do Estado que, em última análise, se resumem na
realização do bem comum.
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 FINS DA ATIVIDADE FINANCEIRA

 Fins da atividade financeira do estado = finalidade do estado.

 Necessidades coletivas lato sensu = necessidades coletivas stricto sensu + necessidades publicas.

 Necessidades coletivas stricto sensu X Necessidades públicas:


 Necessidades públicas: tudo aquilo que incumbe ao Estado prestar em decorrência de uma norma
jurídica, de natureza constitucional ou legal, de interesse geral, satisfeita sob o regime de direito
público, presidido pelo princípio da estrita legalidade.

 Necessidades coletivas: todo interesse particular ou coletivo, satisfeito pelo regime de direito privado,
informado pelo princípio da autonomia da vontade.
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 FINS DA ATIVIDADE FINANCEIRA

 Compete ao poder político a definição das necessidades públicas dentre as necessidades coletivas.

 Proporção direta: quanto maiores as necessidades públicas, maior será a intensidade da atividade
financeira do Estado.

 Concepção e dimensão do Estado é quem dimensionarão o volume das finanças públicas.


 Estado mínimo (libelarismo clássico – Séc. XVIII e XIX): atividade estatal restrita ao poder público.
 Estado-previdência / Estado-intervencionista (após a Segunda Guerra Mundial - ultimo quarto do Séc.
XX): agigantamento estatal, intervencionismo na economia dos países derrotados e subdesenvolvidos.
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 FINS DA ATIVIDADE FINANCEIRA

 Década de 60: o agigantamento estatal fez com que as finanças públicas atingissem tamanha dimensão
que ensejou o aparecimento de disciplina jurídica própria.

 Classificação das necessidades públicas básicas:


1. Serviços Públicos;
2. Exercício Regular do Poder de Polícia;
3. Intervenção no Domínio Econômico.
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1. Serviços Públicos:
 Segundo a CF/88: art. 21, X, XI, XII, XIII, XV, XXII, XXIII e art. 175.

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.

 Duplo sentido:
 Sentido de organização de recursos materiais e pessoais;
 Sentido de unidades para obtenção de meios financeiros e técnicos para o desemprenho das
atribuições do poder público.
 Art. 21. Compete à União:
 X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
 XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de
telecomunicações, ...
 XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
 a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
 b) os serviços e instalações de energia elétrica ...;
 d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado ou Território;
 e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
 XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a
Defensoria Pública dos Territórios;             
 XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito
nacional;
 XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;          
 XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza ...
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 FINS DA ATIVIDADE FINANCEIRA
1. Serviços Públicos:
 Em suma, são instrumentos necessários ao atingimento de objetivos do Estado.

 Objetivos nacionais: decisão política que leva em conta as ideias politicas, morais e filosóficas, bem como
a conjuntura da época.

 Objetivos nacionais permanentes: determinado por interesses e aspriações do povo. São a democracia, a
soberania, a paz social, o progresso, a integração nacional e a integridade territorial.

 Objetivos nacionais imediatos/atuais: condicionados pela realidade conjuntural. São os serviços


públicos.
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1. Serviços Públicos:
 Serviço Público x Serviço AO Público: nem tudo o que o Estado faz ou deva fazer configura serviço
público, tão somente os prestados sob o regime de direito público.
 Aplicação dos princípios da:
 supremacia do interesse público;
 indisponibilidade do interesse público.

 Para Celso Antonio Bandeira de Mello, serviço público significa “prestação de utilidade ou
comodidade material fruível diretamente pelos administrados, prestado pelo Estado ou por
quem faça suas vezes, sob regime de direito público”
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1. Serviços Públicos:
Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas
respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou
potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.

Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-se:


I - utilizados pelo contribuinte:
a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título;
b) potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade
administrativa em efetivo funcionamento;
II - específicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade, ou de necessidades
públicas;
III - divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários.
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2. Poder de Polícia:
CTN, art. 78:
Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em
razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado
pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e,
tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
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2. Poder de Polícia:
CTN, art. 78:
Kyoshi Harada: conceito limitado, pois “é o poder de regulamentação de que está
investido o Estado. É discricionário, mas tem por limite a lei.”

CF/88 – arts. 145, II, 170, 174, 182, 192, 193,...

Na tributação: separação de tributos em fiscais e extrafiscais.


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2. Poder de Polícia:
Poder DE Polícia x Poder DA Polícia: não se confundem
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 FINS DA ATIVIDADE FINANCEIRA
2. Poder de Polícia:
Corresponde à modalidade denominada polícia administrativa, que objetiva
a manutenção da ordem pública em geral, atuando preventivamente, de
forma a evitar possíveis infrações legais.

Ex.: a polícia sanitária, a polícia rodoviária, a polícia de trânsito, a polícia de edificações,


a polícia marítima, aérea e de fronteiras, a polícia de comunicações etc, que difere da
polícia judiciária.
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3. Intervenção no Domínio Econômico:
CF/88, art. 1º, IV – eleva a livre iniciativa como princípio fundamental.
Art. 170, I a IX – princípios gerais da atividade econômica.

Parágrafo Único - É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade


econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei.
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3. Intervenção no Domínio Econômico:
O conceito de livre iniciativa, que se extrai do exame do Texto Magno, pressupõe a
prevalência da propriedade privada na qual se assentam a liberdade de empresa, a
liberdade de contratação e a liberdade de lucro. Esses são os marcos mínimos que dão
embasamento ao regime econômico privado, ou seja, ao regime de produção capitalista, o
qual sofre interferências do Estado, por meio de três instrumentos básicos:
1.o poder normativo;
2.o poder de polícia; e
3.a assunção direta da atividade econômica.
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3. Intervenção no Domínio Econômico:
1. Poder Normativo – elaborar leis de combate ao abuso econômico, de proteção ao consumidor, leis
tributárias de natureza extrafiscal, entre outros;
Obs.: art. 146-A, critérios especiais de tributação – risco de desvio de finalidade.

2.Poder de Polícia – mecanismos administrativos de fomento da atividade econômica:


 BNDES;
 Banco do Brasil;
 Caixa Econômica.

3.Exloração da Atividade Econômica.


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3. Intervenção no Domínio Econômico:
3.Exloração da Atividade Econômica:
CF/88 – só permite a exploração de atividade econômica pelo Estado quando necessária a
imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo. (art. 173).

As empresas públicas ou sociedades de economia mista que explorem atividade econômica


sujeitam-se ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e
obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias, não podendo gozar de privilégios fiscais
não extensivos às do setor privado (§§ 1º e 2º do art. 173).
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3. Intervenção no Domínio Econômico:
3.Exloração da Atividade Econômica:
Todavia... Art. 177 e incisos – manteve e ampliou monopólio da União;

Empresas Controladas (Lei de Responsabilidade Fiscal – empresas públicas e sociedades de economia


mista) NÃO SÃO UNIFORMES.
As que exploram atividade lucrativa  não podem ter privilégios = concorrencia desleal.
As que apenas prestam serviço público  podem ter privilégios = não há risco. (CEF, Metrô, Comgás,
ECT, Sabesp, etc – art. 21, X, XI, XII, letras a a f, e 25, § 2º da CF).
ECT tem imunidade recíproca  STF, RE no 407.099-RS, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 6-8-2004, Ata
no 21/2004.
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3. Intervenção no Domínio Econômico:
3.Exloração da Atividade Econômica:
Art. 174 - Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado* exercerá, na forma
da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor
público e indicativo para o setor privado. 
*Entidades da Federação

Intervencionismo Economico x Planificação Economica = não se confundem


Deve buscar a formulação de uma ordem econômica justa, baseada na valorização do trabalho e
na livre iniciativa, de sorte a propiciar, na medida do possível, uma existência digna a todos, que
deverá ser uma preocupação permanente do Poder Público.

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