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Resistência à mudança na clínica

analítico-comportamental
Kauane K. Mussett Lazarini
Psicóloga Clínica CRP 08/25712
Mestranda em Análise do Comportamento - UEL

Laboratório de Análise
Experimental
Universidade Estadual de Londrina
do Comportamento
Humano
O objetivo do curso é apresentar a teoria que embasa a resistência à mudança, e mostrar
como essa teoria é importante para desenvolver intervenções no contexto clínico.

• Análise experimental do comportamento: estudando o comportamento no laboratório;

• Teoria do Momentum Comportamental - aspectos teóricos e práticos;

• Resistência à mudança: do laboratório a clínica comportamental. Planejamento e


desenvolvimento de intervenções;
Análise
Experimental do
Comportamento
: estudando o
comportamento
no laboratório.
Análise Experimental Análise Aplicada do
Behaviorismo Radical do Comportamento Comportamento
(Filosofia da ciência (Validação em empírica (Aplicação social do
do comportamento) das teorias a partir de conhecimento
pesquisas cientificas) científico produzido)

A Análise Experimental do Comportamento busca relações funcionais entre variáveis,

controlando condições experimentais, manipulando variáveis independentes, e

observando as mudanças causadas no comportamento ( variáveis dependentes)

(Todorov, 2004).
A Análise do Comportamento é uma ciência que estuda o comportamento
humano a partir de uma relação entre o organismo e o ambiente.

Sd : R Sr
Tríplice Contingência, estamos falando de uma relação de interdependência entre estímulos e
respostas, relação esta na qual um estímulo consequente a uma classe de respostas altera a
probabilidade de emissão desta mesma classe de respostas no futuro em um contexto semelhante.
(Catania, 1999)
ANTECEDENTES
ESTÍMULOS RESPOSTAS CONSEQUÊNCIAS
DISCRIMINATIVOS

EXTINÇÃO
REFORÇO
Como estudar comportamentos complexos no
laboratório ?
ESQUEMAS DE REFORÇAMENTO

Descrevem regras sobre como determinados FR Múltiplo


desempenhos serão consequenciados ou VR Concorrente
exigem desempenhos específicos para a
FI Misto
produção de consequências
VI Encadeado
RESPOSTAS TEMPO

FIXO Razão Fixa


Razão Fixa Intervalo Fixo

Intervalo
VARIÁVEL Razão Variável
Variável
RAZÃO FIXA (FR)
Na presença do estímulo discriminativo (SD) um número FIXO DE RESPOSTAS produz o reforçador.

FR 30
Laboratório Mundo real
(Pierce & Chaney, 2017)
RESPOSTAS TEMPO

FIXO Razão Fixa Intervalo Fixo

Razão Intervalo
VARIÁVEL Razão Variável
Variável Variável
RAZÃO VARIÁVEL (VR)
Na presença do estímulo discriminativo (SD) um número VARIÁVEL DE RESPOSTAS produz o reforçador.

VR 15
Laboratório Mundo real

1º Reforço -> 10 respostas


2º Reforço -> 8 respostas 10 + 8 + 17 + 30 + 10 = 75
3º Reforço -> 17 respostas 75/5 = 15
4º Reforço -> 30 respostas
5º Reforço -> 10 respostas
(Pierce & Chaney, 2017)
RESPOSTAS TEMPO

FIXO Razão Fixa


Intervalo
Intervalo Fixo
fixo

Intervalo
VARIÁVEL Razão Variável
Variável
INTERVALO FIXO (FI)
Na presença do estímulo discriminativo (SD) o reforçador é entregue após um período de TEMPO FIXO.

FI 5
Laboratório Mundo real
(Pierce & Chaney, 2017)
RESPOSTAS TEMPO

FIXO Razão Fixa Intervalo Fixo

Intervalo
Intervalo
VARIÁVEL Razão Variável
Variável
variável
INTERVALO VARIÁVEL (VI)

Na presença do estímulo discriminativo (SD) o reforçador é entregue após um período de TEMPO VARIÁVEL.

VI 15
Laboratório Mundo real

1º Reforço -> 1ª resposta após 10 s


2º Reforço -> 1ª resposta após 8 s 10 + 8 + 17 + 30 + 10 = 75
3º Reforço -> 1ª resposta após 17 s 75/5 = 15
Reforço -> 1ª resposta após 30 s
5º Reforço -> 1ª resposta após 10 s
(Pierce & Chaney, 2017)
ESQUEMAS MÚLTIPLOS

VI 10

IEC

FI 10
…ciência não progride por passos
cuidadosamente delineados
chamados “experimentos”, cada
um dos quais com um início e fim
 bem definidos.
Ciência é um processo contínuo
e, frequentemente, desordenado
e acidental (Skinner, 1972, p.
122).
Teoria do
Momentum
Comportamental:
Aspectos teóricos,
experimentais e
práticos;
A resistência do comportamento à mudança pode ser entendida como a tendência de
um comportamento continuar ocorrendo quando é alterado o arranjo ambiental no qual
ele era mantido (Cohen, 1998; Craig, Nevin, & Odum, 2014; Santos, 2005).

Em 1974, Nevin e colaboradores


iniciaram estudos sobre as variáveis
que afetam a resistência do
comportamento à mudança. Essas
variáveis foram estudadas,
inicialmente, a partir do conceito de
força da resposta.
Definição inicial de força da resposta:
Respostas fortes são aquelas com alta probabilidade de ocorrência e respostas
fracas, são aquelas com baixa probabilidade de ocorrência (Skinner, 1938).

VI 10 FI 60

Qual resposta é mais forte?


Nevin, 1974.

LINHA
TESTE
DE BASE

VI IEC VI
1 min 30 segundos 3 min
Comida
independente
60 reforços/h da resposta 20 reforços/h
liberada durante
o IEC.
(D.O =
Disrupting
operation)
Nevin, 1974

Qual comportamento foi mais resistente à mudança ?

Comportamentos
VI mantidos por maiores taxasVI de reforço,
tendem 1amin
ser mais resistentesIECà mudança, quando
3 min alguma
30 segundos
condição é alterada.

60 reforços/h 20 reforços/h
(Nevin & Wacker, 2013)
Mace et al. (1990, Parte 2)

LINHA DE BASE
SD R+

VI 60 s
Esquema
múltiplo de
dois
componentes IEC
30 s
VI 60 s
VT 30 s
Mace et al. (1990, Parte 2)

TESTE
D.O
VI 60 s
IEC
30 s

VI 60 s
VT 30 s
Mace et al. (1990, Parte 2)
Resultados
Luiz, Costa e Cançado (2019)
Analogia com 2ª Lei de Newton

Velocidade constante

Massa X*2

Dramatização

Massa X
Força Externa
Aplicada

Luiz (2018)
Analogia com 2ª Lei de Newton

Taxa de respostas

Taxa de
reforço

Dramatização

Taxa de
reforço
D.O

Luiz (2018)
TEORIA DO MOMENTUM
COMPORTAMENTAL
AEC FORÇA DA RESPOSTA
A  (TMC) foi proposta para sistematizar os dados de pesquisas sobre
resistência do comportamento à mudança, oferecendo um modelo
experimental para estudar esse fenômeno.

ESTUDOS EMPÍRICOS ANALOGIA COM A FÍSICA


Paradigma
Avaliar o efeitos do Teste em dois componentes
Esquema múltiplo com dois ou mais componentes;
(comportamentos) de forma relativamente simultânea;

Comparamos o desempenho daquele comportamento com


No mínimo 2 fases: Linha de base e Teste;
ele mesmo (Teste em relação a LB);

A DO pode ser definida como uma modificação na situação experimental que afete o
No teste uma Operação D.O é inserida;
responder, como extinção, reforço independente da resposta no intervalo entre
componentes, ou custo da reposta;

Análise de dados: Cálculo de proporção de mudança


Cálculo de proporção de mudança;

D.O

LB Teste
TxR = 120 R/m TxR = 100 R/m
20 R/m
Mesma Resistência?
LB Teste
TxR = 80 R/m TxR = 60 R/m
PROPORÇÃO DE MUDANÇA COMO UNIDADE DE MEDIDA

Taxa de Respostas [Teste]


Taxa de Respostas [Linha de Base]

PM = 100/120 PM = 60/80
PM = 0,83 PM = 0,75
Implicações para a prática

Vamos imaginar que a resposta de “separar talheres” fosse indesejável (talvez


por ocorrer em períodos inapropriados);

Um dos objetivos do processo terapêutico seria diminuir a frequência com que


essa resposta problema ocorre;

Suponha que não haja fontes externas de reforçamento óbvias;

Um procedimento muito comum: reforçar respostas alternativas (DRA);

Qual é o problema?
Acompanhem a thread...

COMPORTAMENTO “FONTES” DE REFORÇO


CONTEXTO X INDESEJÁVEL DESCONHECIDAS

Aumentando o número de
COMPORTAMENTO “FONTES” DE REFORÇO
reforços liberados em um
ALTERNATIVO ALTERNATIVAS
determinado contexto!
Implicações para a prática

Vamos imaginar que a resposta seja “abuso de substâncias químicas;

O que mantém uma pessoa no abuso de substâncias?

Por mais que pareça ser algo prejudicial, por que as pessoas continuam
apresentando esse comportamento?

No caso do alcoolismo, a pessoa bebe apenas por conta da bebida?


Shahan e Burke (2004)

Linha de Base
Teste

RI
EXT(VI) EXT
RI (VI)

0,1 ml etanol

VT
Comida
Resultados

Taxa de Respostas sempre


menor no componente com
consequências independentes
da resposta adicionadas

Shahan e Burke (2004)


Resultados

Shahan e Burke (2004)


Os homens agem sobre o mundo e o modificam e, por sua vez, são
modificados pelas consequências de sua ações (Skinner, 1957).
Resistência à
mudança: do
laboratório a
clínica
comportamental.
Planejamento e desenvolvimento
de intervenções;
“Praticantes da área clínica geralmente enfrentam a tarefa de reduzir
ou eliminar de alguma forma comportamento problema, como agressão,
comportamentos disruptivos, ou de autolesão. Em muitos casos, o
comportamento problema tem sido emitido por muito tempo e é
extraordinariamente resistente ao tratamento. (...)
Por que as pessoas persistem em cursos de ação que têm
consequências aparentemente tão negativas? E o que pode ser feito para
ajudá-las a mudarem seus comportamentos e fazerem as mudanças
desejáveis persistirem em face dos desafios?
Nevin (2015)
Dificuldades do contexto clínico

• Por que as pessoas procuram terapia?


• Mudar pode ser difícil;
• História de vida;
• Clínica não é um ambiente controlado igual o laboratório;
Mudança é um processo que envolve UMA NOVA
APRENDIZAGEM!

• Por onde começar?

• Ingrediente essencial na mudança: O ambiente!

• Inicialmente, devemos operacionalizar as queixas do seu cliente


buscando compreender quais os contextos difíceis que este
enfrenta e principalmente de que forma o cliente interage com
estes contextos;
Análise funcional
• Análises funcionais moleculares (microanálise)
É a análise de contingências pontuais (moleculares) importantes para a
compreensão de comportamentos específicos em contextos específicos.

1º Passo: Identificar a resposta;


2º Passo: Identificar antecedentes: De acordo com Baum
(1994/2006), são os efeitos que
definem comportamentos bem e
3º Passo: Identificar consequências; malsucedidos, de modo que uma
atividade é tida como bem-
4º Passo: Identificar processos; sucedida quando é reforça
5º Passo: Identificar possíveis efeitos;
(De – Farias, Fonseca & Nery, 2018)
Caso clínico
Nome: Lucas (fictício)
Idade: 10 anos
Queixa: Primeiramente, a queixa veio da escola, relatando que Lucas não
realizava as atividades escolares e tinha dificuldade em se concentrar;
A escola encaminhou Lucas para realizar avaliação diagnóstica, todos os
testes apresentaram pontuação “dentro da média”;
Os pais decidiram procurar psicoterapia quando Lucas reprovou e
começou a emitir comportamentos inadequados (relatados
como “estresse”).
Caso clínico
Dados importantes:
• Os pais de Lucas nunca namoraram, mas possuem um bom
relacionamento;
• Ambos estiveram em outros relacionamentos;
• A guarda sempre foi compartilhada. Lucas passa metade da semana
com no pai, e a outra metade da semana com a mãe;
• Tanto o pai quanto a mãe realizam diversas atividades com o filho;
• Em ambas casas, Lucas fica com as avós quando os pais saem;
Caso clínico
• Relato da mãe:
“Nos dias que ele está comigo saímos da escola e vamos direto pro futebol ou karatê,
chegamos tarde então é difícil acompanhar as tarefas, era pra ele fazer de manhã com a
minha mãe (avó) mas ele não faz. Nós tentamos sempre conversar, não somos de bater e eu e
o pai sempre resolvemos juntos, sentamos com ele e resolvemos.”

• Relato da Pai
“Nós tentamos ser parceiros, tanto eu e ele, quanto eu e a mãe, nunca tivemos problemas em
conversar pra fazer o melhor pela educação dele. Eu trabalho a noite então só as vezes
consigo acompanhar as atividades.
Quando eu trabalho ele fica com minha mãe e minha irmã, e de fim de semana se vou em
algum lugar que ele não pode ir, ele fica com elas também.”
Caso clínico

Processo terapêutico com o Lucas:


• Vínculo estabelecido rapidamente;
• Criança agitada, porém não emitia comportamentos inadequados na
sessão;
• Realizou atividades de raciocínio lógico sem dificuldade;
Relato de Lucas em uma das sessões:
Caso clínico

• Lucas: Eu não tenho casa!


• Psicóloga: Como assim não tem casa?
• Lucas: Eu tenho, mas está tudo misturado. As vezes preciso de uma
coisa e está no meu pai, ai depois preciso e está na minha mãe.
• Psicóloga: E como você se sente com isso?
• Lucas: É ruim. Queria morar na mesma casa.
• Psicóloga: Mesma casa com quem?
• Lucas: Meu pai, mãe, avó, a outra avó e minha tia.
Caso clínico

Em uma entrevista posterior com os pais, descobrimos que os únicos


momentos que os três ficavam juntos (Lucas, pai e mãe) era para
conversar com Lucas sobre os comportamentos inadequados;

Mãe: “Quando ele reprovou, eu e o pai dele ficamos mais de uma hora
conversando com ele, explicando, conversando, ele chorou muito mas
parece não ter adiantado nada. Até na escola a gente foi.”
Análise funcional

• Não realizar as atividades • Reprovação; Punição Tristeza;


• Presença dos pais;
escolares; Pais chateados;
•CasaCasa
dosdos pais; •• Bronca
pais; • Não se concentrar; Bronca dos
dos pais
pais (juntos);
Reforço Segurança pela
•SalaSala
de de aula;
aula; (juntos);
• Rasgar cadernos e família estar
atividades; • Ficar de castigo Reforço juntos;
• Bronca professora Punição Felicidade;
• Pais na escola Reforço Atenção;
Caso clínico
Intervenção:
Orientação de pais;
Quadro da rotina;
Colocar comportamento inadequado em EXT;
Reforçar comportamento adequado;

Resultado: Os comportamentos inadequados continuaram


ocorrendo.
Análise funcional

• Aprovação; Reforço Segurança pela


• Presença dos pais; • Realizar as atividades
família estar
•CasaCasa
dosdos pais;
pais; escolares; •• Atenção dospais
pais(juntos);
Bronca dos Reforço juntos;
•SalaSala
de de aula;
aula; • Seguir o quadro de rotina; (juntos); Felicidade;
• Elogio da professora; Reforço Atenção;

FORTALECIMENTO DA RELAÇÃO S-S


RESISTÊNCIA À MUDANÇA
Caso clínico
Possível solução:
• Treino do comportamento desejável em um CONTEXTO DIFERENTE;
• Realização das atividades na sessão de psicoterapia;
• Orientação de pais e intervenções separadas;
• Tentativa de controlar a história de reforço do comportamento
inadequado;
• Partir de um comportamento adequado que já ESTÁ sendo
reforçado em outro contexto;
CONTEXTO
CLÍNICO!
Considerações finais...
• A AEC (pesquisa básica) são essenciais para compreensão do
comportamento humano;
• Nos auxilia a planejar intervenções eficazes;
• O terapeuta que valoriza a relação entre o que está fazendo e aquilo
que os pesquisadores básicos fazem será capaz de aplicar, como
consequência, técnicas terapêuticas com mais criatividade e eficácia.
Psicólogos são engenheiros
comportamentais!
Obrigada! Os principais problemas enfrentados hoje pelo
mundo só poderão ser resolvidos se
melhorarmos nossa compreensão do
comportamento humano.”
kauanemussett@hotmail.com

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