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PERIANAIS
Abcessos e fístulas perianais
Cláudia Lima
Dra. Teresa Almeida
Dr. Alberto Midões
As supurações perianais
constituem um grupo heterogéneo
de doenças associadas à infeção
do períneo e podem manifestar-se
de forma aguda ou crónica. O
abcesso e a fístula anal podem ser
considerados como duas fases
sequenciais do mesmo processo
Drenagem infecioso: o abcesso anal
representa a manifestação aguda
Abcesso (espontânea Fístula enquanto que a fístula representa
ou cirúrgica) a fase crónica
supurações perianais abcessos e fístulas anais é desconhecida visto que a maioria das
pessoas atribui as queixas às hemorroides e muitos dos
■ Incidência real desconhecida (1/10 000
abcessos/fístulas não são diagnosticados. Ainda assim os dados
habitantes por ano) apontam para uma incidência de 1/10000 habitantes por ano,
■ Mais frequentes no sexo masculino nas mulheres. Alguns estudos apontam para rácios de 2:1,
outros de 4:1. É uma patologia rara na infância
■ Patologia rara na infância
Etiologia
Doença de
Crohn A maioria das supurações do canal anal tem
perianal uma etiologia criptoglandular (explico no
próximo slide). Outras causas de abcessos e
fístulas são: a doença de Crohn perianal – 2ª
Neoplasias
Trauma causa mais comum (as fístulas anais são
(ex: parto) comuns e podem ser a manifestação inicial da
doença); trauma, nomeadamente o trauma
obstétrico (++ países subdesenvolvidos),
Criptoglandular proctite rádica, corpos estranhos (causa rara),
(+++ comum) doenças infeciosas como linfogranuloma
venereum, tuberculose anoretal, actinomicose
perineal primária, SIDA; neoplasia (uma
neoplasia pélvica pode manifestar-se com uma
Doenças Proctite
fistula e apresentar drenagem)
infeciosas rádica
Corpos
estranhos
Teoria Criptoglandular
• Infeção das glândulas anais localizadas no espaço interesfincteriano
• Contaminação bacteriana do conteúdo fecal associada a pequenos
microtraumatismos nessa área → criptite piogénica → extensão da
infeção para outros espaços perianais
• Extensão da infeção pode ocorrer através de 3 planos:
• Vertical; Horizontal; Circunferencial
Como referi atrás, a maioria das supurações do canal anal têm uma etiologia
criptoglandular, isto é, resultam da infeção das glândulas anais localizadas no espaço
interesfincteriano. A combinação da contaminação bacteriana do conteúdo fecal
associada a pequenos microtraumatismos nessa área levam à formação da criptite
piogénica (inflamação da cripta com formação de pus) que posteriormente se estende
seguindo as linhas de menor resistência dos tecidos aos outros espaços perianais. A
extensão da infeção pode ocorrer através de 3 planos: vertical, horizontal e
circunferencial. A extensão causal é a mais simples e é assim que se originam mais
comumente os abcessos perianais. A extensão cefálica vai originar um abcesso
intermuscular alto ou um abcesso supraelevador, dependendo da relação com a camada
muscular longitudinal. A extensão horizontal pode ocorrer através do esfíncter interno
para o canal anal ou através do esfíncter externo alcançando a fossa isquiretal e
originando um abcesso ísquio-retal. A extensão circunferencial pode originar um
abcesso em horseshoe e pode ocorrer em 3 planos: interesfincterico, ísquio-retal ou
supraelevador.
Apresentação clínica FÍSTULA
Apresentação insidiosa
ABCESSO
Dor intermitente (++defecação)
Dor na região anal de intensidade
crescente Drenagem purulenta ou sero-hemática intermitente
ou persistente, de cheiro fétido
Constante (sem relação com a
Prurido
defecação)
Abcessos recorrentes (se o orifício externo fechar)
Sintomas constitucionais (febre e mal-
estar)
Drenagem purulenta
Abcesso: Os doentes com abcessos anais apresentam frequentemente uma dor na região anal, que aumenta
progressivamente de intensidade. É uma dor constante, que não alivia e sem relação com a defecação. Associadamente,
o doente pode apresentar sintomas constitucionais como febre e mal-estar. O abcesso pode drenar espontaneamente
conteúdo purulento.
Fístula: A apresentação clínica das fístulas perianais é muito mais insidiosa. Os doentes queixam-se de dor intermitente,
principalmente durante a defecação mas também ao sentar e com a atividade. Podem apresentar drenagem purulenta ou
sero-hemática intermitente ou persistente e de cheiro fétido, assim como prurido (pela irritação cutânea causada pela
drenagem).
Exame objetivo
FÍSTULA
Sinais inflamatórios da pele
ABCESSO Orifício externo pode ser visualizado ou palpado
Sinais inflamatórios da pele “Watering can perineum”
Flutuação Cordão palpável
Celulite Orifício interno no canal anal (++ linha dentada)
Abcesso: Ao exame objetivo pode ser visualizada uma área de flutuação e eritema, assim como endurecimento da pele
em doentes com abcessos superficiais (ex: perianais).
Fístula: Ao exame objetivo observa-se que a pele perianal pode estar inflamada. O orifício externo pode ser
visualizado ou ser palpado. O processo inflamatório crónico pode resultar no desenvolvimento de trajetos fistulosos
secundários e por isso podem estar presentes vários orifícios externos, sendo esta condição conhecida como “watering
can perineum”. Pode estar presente um cordão palpável desde o orifício externo ao canal anal. O orifício interno pode
ser sentido como um nodulo duro, mais frequentemente localizado na linha dentada, o que vai de acordo com a teoria
criptoglandular.
Regra de Goodsall
■ Útil na determinação do orifício interno com base na localização
do orifício externo
■ Primeiro passo: dividir o ânus com uma linha transversal
– Se o orifício externo estiver na metade anterior, o trajeto da fístula
será retilíneo com o orifício interno no mesmo trajeto radial que o
externo.
– Se o orifício externo estiver na metade posterior, o trajeto da fístula
será curvilíneo com a saída do orifício interno na linha média da
região posterior.
Transesfincterianas (30%)
Supraesfincterianas (20%)
Extraesfincterianas (5%)
Submucosa ou superficial
■ FALAR DO PARKS: Em 1976 Parks e os colegas propuseram uma classificação com
base no estudo de 400 fístulas tratadas no Hospital de Saint Marks. Apesar de antiga
esta classificação é ainda hoje a mais usada. As fístulas classificam-se consoante a
relação do trajeto primário com os músculos do esfíncter anal e a classificação tem
implicações no tratamento. A classificação de Parks define 4 tipos de fístulas:
interesfincterianas (45% dos casos), transesfincterianas (30%), supraesfincterianas
(20%) e extraesfincterianas (5%).
Interesfincteriana
• Começa na linha dentada, caminha ao longo do plano
interesfincterico entre o esfíncter interno e externo e termina
próximo da margem anal
Transesfincteriana
• Atravessa o esfíncter externo em direção à fossa ísquio-retal e
termina na pele da nádega
Interesfincteriana (tipo 1, 45% dos casos): a fístula começa na linha dentada, caminha ao longo do plano
interesfincterico entre o esfíncter interno e externo e termina próximo da margem anal
Transesfincteriana (tipo 2, 30%): a fístula atravessa o esfíncter externo em direção à fossa ísquio-retal e termina na
pele da nádega
Supraesfincteriana
• Caminha superiormente no plano interesfincteriano, passa
acima do nível do músculo pubo-retal, desce em direção à
fossa ísquio-anal e termina na pele perianal.
Extraesfincteriana
• Normalmente encontra-se superiormente no canal anal e
localiza-se proximalmente à linha dentada. Rodeia o aparelho
esfincteriano por completo, incluindo os elevadores, e
termina na pele da nádega.
Supraesfincteriana (tipo 3, 20%): a fístula caminha superiormente no plano interesfincteriano, passa acima do nível do
músculo pubo-retal, desce em direção à fossa ísquio-anal e termina na pele perianal.
Extraesfincteriana (tipo 4, 5%): Não têm relação com o esfíncter. Normalmente encontra-se superiormente no canal anal,
e localiza-se proximalmente à linha dentada. Rodeia o aparelho esfincteriano por completo, incluindo os elevadores, e
termina na pele da nádega. Estas fístulas não têm uma origem criptoglandular, resultam de trauma, corpos estranhos,
doença de Crohn ou de lesão iatrogénica.
As fístulas também podem ser
classificadas em…
• Simples
• Complexas:
• Envolvem mais de 30% do esfíncter externo
• Proximais à linha pectínea
• Extraesfinctéricas
• Anteriores em mulheres
• Com múltiplos trajetos
• Recorrentes
• Em doentes com história de incontinência fecal
A Associação Americana de Gastroenterologia classifica as fistulas em simples e complexas e define estas últimas como:
fistulas que envolvam mais de 30% do esfíncter externo, fistulas proximais à linha pectínea, fistulas extraesfinctéricas,
fistulas anteriores em mulheres, fistulas com múltiplos trajetos, fistulas recorrentes e fistulas em doentes com história de
incontinência fecal.
Diagnóstico abcessos
■ História clínica + Exame físico (incluindo toque retal e exame
proctológico)
Manometria
TAC Fistuloscopia
anoretal
• Uso limitado • Útil na identificação • Potencial utilidade
• Avaliação de dos doentes com intra-operatória na
patologia pélvica maior risco de identificação de
associada em doentes incontinência no pós- orifícios primários,
com fístulas anais operatório trajetos múltiplos ou
complexas • Não se faz por rotina complexos e trajetos
iatrogénicos
Enquanto que fistulas simples não requerem exames de imagem para guiar o tratamento, fistulas complexas,
principalmente aquelas associadas à doença de Crohn e fistulas recorrentes podem beneficiar de exames de imagem.
■ - Sigmoidoscopia e Colonoscopia: Deve ser feita sigmoidoscopia em todos os doentes com fistulas anoretais. A
presença de patologia associada como neoplasias, DII ou trajetos secundários no reto devem ser procurados.
Certos achados podem requerer a realização de colonoscopia.
■ - Fistulografia: Deve ser feita em doentes com fístulas recorrentes ou quando não é possível identificar o orifício
interno.
■ - Ecoendoscopia: É útil para delinear a anatomia do esfíncter anal em relação a um abcesso ou a uma fístula, mas a
sua acuidade é, contudo, muito dependente da experiência do médico endoscopista. A ecoendoscopia é superior à
RMN na avaliação da extensão do envolvimento do esfíncter.
■ - RMN (Gold-Standard): A RMN mostrou ser útil especialmente nestas fístulas complexas na identificação dos
trajetos fistulosos, na identificação de extensões secundárias e na identificação de orifícios internos. A RM
apresenta uma sensibilidade superior a 90% para o diagnóstico de fístula perianal. Assim sendo, é considerada o
“gold standard” imagiológico para a caracterização da anatomia das fístulas perianais. Deve ser efetuada de rotina
em todas as fístulas perianais complexas.
■ - TAC: O seu uso na avaliação de fístulas anais é limitado pela pobre visualização dos elevadores e do complexo
esfincteriano. O papel da TAC limita-se à avaliação de patologia pélvica associada em doentes com abcessos do
supraelevador a em doentes com fístulas anais complexas.
■ - Manometria anoretal: Pode ser útil na identificação dos doentes com maior risco de incontinência no pós-
operatório.
- Fistuloscopias: Esta é uma técnica com potencial utilidade intra-operatória na identificação de orifícios primários,
Tratamento abcessos
- Princípios gerais
■ O tratamento é cirúrgico → Incisão e drenagem precoce
■ A ausência de evidência clínica de flutuação não deve ser razão para atrasar o
tratamento
■ A incisão deve ser feita no local de maior flutuação e o mais próximo possível da
margem anal
■ O tamponamento da ferida não está recomendado
■ Está recomendada antibioterapia após drenagem apenas em situações particulares
■ As culturas não estão recomendadas por rotina
■ Os abcessos perianais simples podem ser drenados sob anestesia local.
■ A maioria dos abcessos periretais são complexos e devem ser drenados no bloco
operatório, de preferência sob anestesia regional ou geral.
O tratamento do abcesso anoretal é cirúrgico, sendo a incisão e a drenagem precoce o pilar do tratamento.
Não há lugar para tratamento conservador e a ausência de evidência clínica de flutuação não deve ser razão
para atrasar o tratamento. O atraso no tratamento pode resultar na expansão do abcesso para outros espaços
ou numa infeção sistémica. A incisão deve ser feita no local de maior flutuação e o mais próximo possível
da margem anal. Se se desenvolver uma fístula o orifício externo estará perto da margem, por isso a
fistulotomia vai requerer a divisão de menor quantidade de músculo. O tamponamento da ferida não está
recomendado pois provoca desconforto ao doente e não permite a livre drenagem da cavidade do abcesso.
Quanto ao uso empírico de antibióticos após a drenagem de um abcesso, a Sociedade Americana de
Cirurgia Colo-retal recomenda o seu uso apenas em situações particulares: celulite extensa, sinais de infeção
sistémica (sepsis), diabetes, doença cardíaca valvular (excluindo-se prolapso da válvula mitral),
imunossupressão, com próteses valvulares cardíacas ou outras doenças com risco aumentado de
desenvolvimento de endocardite bacteriana. Na prática clínica todos os doentes fazem um ciclo de
antibioterapia empírica após a drenagem do abcesso (amoxiclav ou cipro+metro). Há evidência que esta
prática reduz a probabilidade de formação de fístulas. As culturas não estão recomendadas por rotina, mas
devem ser feitas em algumas situações: em doentes que vão tomar antibióticos; em doentes que cumpriram
vários ciclos de antibióticos; em doentes com dor desproporcional ou que sejam imuncomprometidos; para
distinguir um abcesso criptoglandular (microorganismos da flora intestinal) de um abcesso da pele
(staphylococcus); em doentes com risco de desenvolver infeção por MRSA.
Os abcessos perianais simples podem ser drenados sob anestesia local. A maioria dos abcessos periretais são
complexos e devem ser drenados no bloco operatório, de preferência sob anestesia regional ou geral.
Abcesso perianal e
ísquio-anal
■ É feita uma incisão cruzada
■ As margens da pele são normalmente excisadas
para evitar coaptação
■ Pode ser usado um cateter para drenagem no
caso de estarmos perante cavidades de grandes
dimensões
É feita uma incisão cruzada sobre a parte mais flutuante, o mais
próximo possível da margem anal. As margens da pele são
normalmente excisadas para evitar coaptação, o que poderia
encerrar a cavidade prematuramente e levar a recorrência.
Drenagem contínua de cavidades grandes pode ser conseguida
com o uso de um cateter Pezzer ou de outro semelhante deixado
in situ até que a drenagem diminua.
Abcesso interesfincterico
É drenado para o reto através de uma esfincterotomia interna. Após anestesia adequada é colocado um
retrator no canal anal de forma a expor o abcesso. É feita uma incisão na mucosa abaixo da linha
dentada, dividindo-se o esfíncter interno. Drena-se o conteúdo do abcesso. A cavidade do abcesso é
deixada aberta para drenagem. Os mesmos princípios aplicam-se ao abcesso submucoso. Para não fazer
fistulas extra-esfinctericas
Abcesso supraelevador
■ Abcessos que resultam de doença
abdominopélvica podem ser drenados por via
transretal ou transabdominal
■ O abcesso supraelevador que resulta da
extensão superior de um abcesso
interesfincterico deve ser drenado por via
transretal
■ O abcesso supraelevador que resulta da
extensão cefálica de uma fístula transesfincterica
ou de uma coleção ísquio-retal deve ser drenado
por via transperineal
■ A localização anatómica da origem do abcesso é de grande importância na gestão de coleções
do supraelevador. Abcessos que resultam de doença abdominopélvica podem ser drenados
por via transretal ou transabdominal. O tratamento depende da patologia subjacente. O
abcesso supraelevador que resulta da extensão superior de um abcesso interesfincterico deve
ser drenado por via transretal. Caso contrário origina-se uma fistula supraesfincterica.
Coleções do supraelevador que resultam da extensão cefálica de uma fístula transesfincterica
ou de uma coleção ísquio-retal devem ser drenadas por via transperineal pela fossa isquianal
(incisão na pele). Caso contrário origina-se uma fístula extraesfinctérica.
Abcesso pós-anal
■ É drenado através de uma incisão profunda
na linha média posterior, entre o coxis e o
ânus
■ Todos os músculos ligados ao coxis, o
ligamento anococcigeo, o esfíncter externo e
a margem inferior do esfíncter interno são
divididos
■ Quando o abcesso se espalha para os
espaços ísquio-retais, uma ou múltiplas
incisões secundárias são feitas na pele que
cobre o espaço ísquio-retal
O abcesso do espaço pós-anal é drenado através de uma incisão profunda na linha média posterior, entre o coxis e o
ânus. Todos os músculos ligados ao coxis, o ligamento anococcigeo, o esfíncter externo e a margem inferior do esfíncter
interno são divididos. Quando o abcesso se espalha para os espaços ísquio-retais, uma ou múltiplas incisões secundárias
são feitas na pele que cobre o espaço ísquio-retal.
Fistulotomia primária ou diferida?
■ 30 a 70% dos doentes com abcessos apresentam uma fistula concomitantemente
■ A decisão de fazer uma fistulotomia quando se drena o abcesso é controversa
■ Os aspetos pela qual é controversa são:
– A capacidade de localizar o esfíncter interno quando estamos perante um evento
infecioso agudo
– Os efeitos de uma fistulotomia primária na recorrência e na continência
Fistulotomia primária:
• Deve ser considerada apenas em fístulas transesfincterianas superficiais ou baixas,
quando o trajeto da fístula está inequivocamente presente
• Está contra-indicada em idosos e em mulheres com fístulas anteriores
• Não deve ser feita em doentes com incontinência fecal prévia, doença de Crohn, SIDA
e em fistulas tranesfincterianas altas
■ 30 a 70% dos doentes com abcessos apresentam uma fistula concomitantemente. Nestes
doentes, a decisão de fazer uma fistulotomia quando se drena o abcesso é controversa. Os
aspetos pela qual é controversa são: a capacidade de localizar o esfíncter interno quando
estamos perante um evento infecioso agudo e os efeitos de uma fistulotomia primária na
recorrência e na continência. A tentativa de encontrar o orifício interno no contexto de
uma infeção aguda pode ser muito difícil. Para além disso, o evento agudo facilita a
criação de trajetos falsos e de orifícios internos e o facto de nem todos os doentes com
abcessos criptoglandulares virem a desenvolver uma fistula traz riscos de incontinência
desnecessários. A fistulotomia primária deve ser considerada apenas em fístulas
transesfincterianas superficiais ou baixas, quando o trajeto da fístula está inequivocamente
presente. A fistulotomia primária está contra-indicada em idosos e em mulheres
(especialmente em mulheres que já tiveram filhos ou que vão ter) com fístulas anteriores,
visto que o músculo é bastante fino nessa área. Para além disso, não deve ser feito em
doentes com incontinência fecal prévia, doença de Crohn, SIDA e fistulas
tranesfincterianas altas.
Tratamento fístulas
- Princípios gerais
■ O objetivo do tratamento da fístula anal é curar a doença, prevenir a recorrência
e preservar a continência
■ Nas diferentes técnicas, as taxas de recidiva e de incontinência fecal associam-se
de forma antagónica
– A taxa de recidiva mais baixa (maior sucesso) associa-se a taxa de incontinência
fecal mais elevada e vice-versa
■ A decisão da técnica cirúrgica a utilizar deve ser discutida com o doente
O objetivo do tratamento da fístula anal é curar a doença, prevenir a recorrência e preservar a continência.
O tratamento cirúrgico das fístulas perianais exige o conhecimento técnico das várias opções cirúrgicas disponíveis. Exige
igualmente o conhecimento das respetivas taxas de recidiva e de incontinência fecal. Frequentemente, nas diferentes
técnicas, esses dois vetores associam-se de forma antagónica: a taxa de recidiva mais baixa (maior sucesso) associa-se a
taxa de incontinência fecal mais elevada e vice-versa. A decisão da técnica cirúrgica a utilizar deve ser discutida com o
doente.
GRUPO 1: técnicas com taxa de sucesso alto e taxa de incontinência fecal aceitável
GRUPO 2: técnicas com taxa de sucesso aceitável e taxa de incontinência fecal aceitável
GRUPO 3: técnicas com taxa de sucesso variável ou baixo e taxa de incontinência fecal baixa
GRUPO 4: técnicas com taxa de sucesso alto e taxa de incontinência fecal alta
Grupo Grupo
3 4
• Plugs • Seton
• Cola de cortante
fibrina
Fistulotomia
■ É a técnica standard e a mais eficaz
■ Taxa de recorrência baixa e risco de incontinência mínimo
■ É o pilar do tratamento para fistulas interesfinctericas e transesfinctericas
baixas, assim como para fístulas que envolvem uma extensão de esfíncter externo
inferior a 25-30%
■ O risco de incontinência fecal está relacionado com a quantidade de esfíncter
seccionado
■ Não está recomendada em fistulas transesfinctericas altas (principalmente fístulas
anteriores em mulheres) e supraesfinctericas
■ Superior à fistulectomia
■ É a técnica cirúrgica standard e a mais eficaz para o tratamento da fístula perianal. A
taxa de recorrência é baixa e o risco de incontinência é mínimo. A fistulotomia é o pilar
do tratamento para fistulas interesfinctericas e transesfinctericas baixas, assim como
para fístulas que envolvem uma extensão de esfíncter externo inferior a 25-30%.
Salienta-se, contudo, a dificuldade de avaliação quantitativa do esfíncter anal envolvido.
A fistulotomia perianal tem riscos de incontinência fecal relacionados com a quantidade
de esfíncter seccionado. A fistulotomia não está recomendada em fistulas
transesfinctericas altas (principalmente fístulas anteriores em mulheres) e
supraesfinctericas. Relativamente à decisão de fistulectomia versus fistulotomia a
primeira é associada a maior demora de cicatrização, maior taxa de incontinência e taxa
de recidiva semelhante, portanto tem desvantagens em relação à fistulotomia.
Seton laxo
■ Útil para marcar o trajeto fistuloso
■ Frequentemente usado como medida temporária de controlo de
infeção (ponte para tratamento definitivo)
■ Usado como tratamento de manutenção em fístulas complexas
quando há um grande risco de incontinência ou de cicatrização
difícil: Os setons são uteis para marcar o trajeto
fistuloso e como tratamento de manutenção
– Doença de Crohn em fístulas complexas quando há um grande
– Doentes imunocomprometidos risco de incontinência ou de cicatrização
– difícil (ex: doença de Crohn, doentes
Doentes com incontinência prévia
imunocomprometidos e doentes com
– Doentes com diarreia crónica incontinência, doentes com diarreia crónica e
– Fistulas anteriores em mulheres fistulas anteriores em mulheres). É
frequentemente usado como medida
temporária de controlo de infeção (permite a
drenagem do abcesso).
LIFT (Ligation of intersphincteric fistula
tract) Incisão no sulco interesfincteriano
■ Método com preservação do
esfíncter
Disseção entre os músculos esfincterianos
■ Orifício interno: fechado com
sutura absorvível
■ Orifício externo: curetado e Identificação do trajeto fistuloso
deixado aberto para drenar
Disseção do trajeto
O método com preservação do esfíncter envolve uma incisão no sulco interesfincterico, disseção entre os músculos
esfincterianos e identificação do trajeto. A sonda está colocada no trajeto para facilitar a sua identificação. O trajeto é então
dissecado e a sonda é removida. A seguir, o trajeto é laqueado e dividido. O orifício interno é fechado com sutura
absorvível e o orifício externo é curetado e deixado aberto para drenar.
Retalhos de avanço endoretal
• O retalho de avanço inclui mucosa, submucosa e parte do
esfíncter
• A fístula é desbridada e o orifício interno é suturado a nível do
músculo. O retalho da parede contendo o orifício interno é
excisado e o restante retalho é avançado e suturado sobre o
defeito interno
Superficial/
X
Interesfincterica
Transesfincterica
X X X X X X
baixa
Transesfincterica
X X X X X
alta
Supraesfincterica X X X
Extraesfincterica X
Novas técnicas