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CITOPATOLOGIA MAMÁRIA
Técnicas de amostragem, interpretação e classificação citopatológica
Fabrizio Grandi
INTRODUÇÃO
O diagnóstico dos tumores mamários deve combinar os exames físico,
imagenológico, por agulha fina, histopatológico, imuno-histoquímico e molecular (ex.
hibridação in situ) dentro de um contexto multi-disciplinar que envolva a íntima interação
entre clínicos, cirurgiões, patologistas e imagenologistas durante todo o processo do work
up diagnóstico. A multidisciplinariedade garante a maximização dos resultados
conclusivos e a redução das taxas de erro diagnóstico. Como parte desse work up
diagnóstico, a citopatologia per se assume papel fundamental em países em franco
desenvolvimento nos quais, o acesso a testes mais sensíveis e específicos é limitado.
Como exame de triagem, a citologia é indicada na diferenciação entre processos
inflamatórios, hiperplásicos, displásicos e neoplásicos a um custo relativamente baixo e
menor taxa de invasão e complicação pós-coleta. Além disso, o material obtido pode ser
submetido a cito-inclusão (cell block), aumentando o leque de opções diagnósticas
complementares.
Os valores preditivos, negativo (VPN) e positivo (VPP), referem-se à proporção
de resultados negativos e positivos que correspondem aos diagnósticos verdadeiramente
negativos ou positivos em determinado teste diagnóstico (ex. citopatológico). Em
situações ideais, i.e. valores elevados, as chances de sub ou sobretratamento do paciente
são consideravelmente minimizadas. Entretanto, ambos valores são dependentes da
sensibilidade e especificidade diagnósticas que, em última instância, dependem de fatores
relacionados aos métodos de coleta, sistemas de graduação citológica de malignidade e a
presença de fatores obscurecedores (por ex. necrose e inflamação) como veremos adiante.
Desde a década de 1980, inúmeros sistemas de gradação citológica,
principalmente para os carcinoma ductais invasores humanos, foram propostos por
diversos autores incluindo o método de classificação citoprognóstica de Mouriquand;
esquema de gradação nuclear de Black; sistema simplificado de Fisher; critérios
citomorfológicos de Robinson, Khan ou Taniguchi; escore de discoesão de Yu; e critérios
citológicos de Howell baseados no sistema de gradação histológico de Scarff-Bloom-
Richardson (SBR). A despeito da escassez de sistemas de graduação citológica para
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TÉCNICAS DE AMOSTRAGEM
Independentemente do método escolhido (descritos abaixo), o uso e o envio de
requisição padrão de exame citopatológico de mama (Quadro 1) anexada às amostras,
otimiza o informe dos dados clínicos ao patologista e, contribui sobremaneira para a
diminuição de resultados falso-positivos ou negativos. Portanto, na medida do possível,
seu uso deve ser encorajado nos ambulatórios de oncologia mamária.
Descarga papilar
A secreção, descarga ou derrame papilar mamário pode estar associado a
condições fisiológicos ou patológicas. A descarga papilar fisiológica está associada a
prenhez e/ou lactação. O derrame patológico é observado nas mastites, tumores mamários
ductais e não-ductais e alterações hormonais.
A cor e o aspecto das secreções mamárias patológicas apresentam grande variação
incluindo água-de-rocha, sanguínea/hemorrágica, serosa, purulenta verde e/ou amarela,
leitosas (galactorréicas) ou combinações; a quantidade, em discreta, moderada e
acentuada; a distribuição, em unilaterais, bilaterais, regionais (pares mamários) ou
generalizadas.
A coleta de descarga papilar é especialmente indicada nos casos em que não há
tumor mamário palpável. A técnica consiste na antissepsia local do teto e massagem gentil
dos tetos com o dedo indicador e o polegar (Figura X) O material expelido pelos ductos
mamários é então transferido para uma lâmina de vidro limpa através de decalque.
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Figura X. Coleta de amostra para exame citopatológico pela técnica de descarga papilar
(Fonte: Prof. Geovanni Dantas Cassali).
Escarificação
O processo de escarificação tecidual pode ser realizado com lâmina de bisturi ou
lâmina de vidro. A técnica consiste em promover esfoliação celular por atrito direto da
extremidade da lâmina com o tecido tumoral. O método é reservado às lesões ulceradas
ou erosivas; entretanto, apresenta pouca serventia na rotina visto que, normalmente, há
um alto grau de contaminação por fatores obscurecedores (necrose, inflamação, displasia
da epiderme adjacente).
1. População epitelial
1.1. Arranjo papilar e moruliforme
2. População mesenquimal/mioepitelial
2.1. Arranjo estoriforme
A disposição estoriforme é característica de células mesenquimais e
mioepiteliais, as quais arranjam-se em fascículos ondulares que intersectam-se ou
entrelaçam-se em diversos ângulos, como as cerdas de um capacho. A densidade celular
dos fascículos é altamente variável. Geralmente, ambas as populações estão associadas
a quantidade variáveis de matriz extracelular mixóide, condroide, osteóide e/ou fibrosa.
A determinação da natureza dessas matrizes depende do emprego de técnicas de
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coloração citoquímica específicas como por exemplo o Ácido Periódico de Schiff, Azul
Alciano e o Tricrômio de Masson.
uma nota explicativa ao final do laudo afirmando que o padrão observado (ex. carcinoma
simples papilar, tubular ou túbulo-papilar) pode não representar a classificação
histopatológica final (padrão-ouro).
3. Categoria dos tumores mistos benignos e carcinomas com matriz mixóide e/ou
elementos mesenquimais atípicos
4.1.Carcinoma micropapilar
7. Categorias especiais
7.1. Carcinomas inflamatórios
O termo carcinoma inflamatório denota uma apresentação clinico-patológica
específica caracterizada por evolução clínica aguda e prognóstico desfavorável. Os
carcinomas inflamatórios estão associados a uma miríade de subtipos de carcinomas
mamários, todos caracterizados por embolização de vasos linfáticos de derme superficial.
Segundo Grandi e colaboradores (2011), o diagnóstico citopatológico de carcinoma
inflamatório não é exequível uma vez que o principal critério, i.e. embolização linfática,
é apreciável somente em amostras de biópsia. Ainda, é importante ressaltar que, apesar
da designação “inflamatório”, a presença de células inflamatórias não pode ser
considerada um critério citomorfológico válido para o diagnóstico de carcinoma
inflamatório visto que, grande parte dos tumores mamários apresentam em sua
composição, leucócitos infiltrantes.
7.5.Carcinoma secretor
Apesar de incomuns, existem descrições do padrão citomorfológico dos
carcinomas secretórios em cães. Comumente, os aspirados são altamente celulares e
compostos por células epiteliais dispostas em grupos trabeculares com ramificações ou
individualizadas e arredondadas. Os núcleos apresentam cromatina irregular e um ou mais
nucléolos. O citoplasma é abundante e claro com numerosos vacúolos grandes que
deslocam o núcleo perifericamente, assumindo as vezes, forma de anel de sinete. É
importante distingui-los de carcinomas ricos em lípides, ricos em glicogênio e mucinoso.
A imunomarcação citoplasmática por alfa lacto-albumina permite também a
diferenciação.
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Carcinoma metaplásico
Carcinoma micropapilar in situ
Carcinoma com matriz mixóide e/ou Carcinoma metaplásico
elementos mesenquimais atípicos Osteossarcoma
Adenocarcinoma Carcinoma
Inconclusivo Carcinoma
Griffiths e col. (1984)
Tumor benigno Carcinoma
Carcinoma Adenoma
Carcinoma Carcinoma complexo
Tumor misto maligno
Carcinoma simples
Carcinoma sólido
Benigno secretório Tumor misto benigno
Shafiee e col. (2013)
Hiperplasia Hiperplasia cística
Adenocarcinoma Tumor misto maligno
Adenocarcinoma papilar
Adenocarcinoma sólido
Adenoma Adenoma
Carcinoma
Tumor misto benigno
Carcinoma
Carcinoma Adenoma
Carcinoma de células escamosas
Adenoma com baixo número de células Carcinoma
atípicas Adenoma Simon e col. (2009)
Tumor misto benigno
Fibrossarcoma Tumor maligno de células
fusiformes
Amostras inadequadas Carcinoma
Adenoma
Tumor misto benigno
Lipoma
Carcinoma Carcinoma
Tumor misto maligno
Adenocarcinoma cístico papilar
Carcinoma tubular
Adenoma Carcinoma
Adenocarcinoma
Adenoma secretório Tumor misto maligno
Otoni e col. (2010)
Carcinoma secretório Adenoma
Tumor misto maligno Tumor misto maligno
Adenocarcinoma
Processo inflamatório Tricoepitelioma
Carcinoma mucinoso
Carcinossarcoma
*O resultado citopatológico expressa uma probabilidade diagnóstica. Portanto, resultados falso-positivos ou falso-negativos podem
ocorrer. A análise histopatológica é imprescindível para a confirmação diagnóstica e graduação das lesões malignas.
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Observações:
ANEXO 1
ANEXO 2
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amostras com 30% ou mais das células exibindo determinado critério. As amostras que
pontuaram escore igual ou superior a 3 foram consideradas malignas; tumores com
valores inferiores a 3, considerados suspeitos; e tumores sem nenhum critério, benignos.
A semelhança de Simon e colaboradores (2009), os autores consideraram satisfatórias as
amostras com pelo menos 20 células intactas/campo de 100X em pelo menos 2 aspirados.
Os tumores com mitoses atípicas, independentemente do escore auferido nos demais
critérios, sempre eram considerados malignos. Ao considerar as amostras insuficientes e
inadequadas na análise de concordância cito-histológica, a acurácia diagnóstica diminuía
para 63,3%, frente aos 96,5% prévios. A presença de células fusiformes não permitiu a
diferenciação entre tumores simples, complexos e mistos, como já verificado por Allen e
colaboradores (1986).
Referências bibliográficas