Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Audiencia Conciliatoria No Inventario Au
Audiencia Conciliatoria No Inventario Au
009311-
6/001), Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões, vol. 30, Maio/Jun 201, p. 130-134.
Fernanda Tartuce
Doutora e Mestre em Direito Processual pela
USP; Professora do Programa de Mestrado
e Doutorado da Faculdade Autônoma de
Direito de São Paulo (FADISP); Professora
e Coordenadora de Processo Civil da
Escola Paulista de Direito (EPD); Advogada
Orientadora do Departamento Jurídico XI de
Agosto; Membro do IBDP (Instituto Brasileiro
de Direito Processual), do IASP (Instituto
dos Advogados de São Paulo) e
do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito
de Família); Diretora do CEAPRO (Centro
de Estudos Avançados de Processo); Mediadora
e Autora de publicações jurídicas.
O acórdão em análise foi prolatado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais ao julgar o Agravo
de Instrumento 1.0342.15.009311-6/001. Proposta por certo herdeiro uma medida cautelar
contra outras duas sucessoras, o magistrado de primeiro grau designou audiência conciliatória;
as requeridas, "informadas" sobre a audiência apenas na véspera de sua realização, deixaram
de comparecer. O magistrado então fixou, com base no art. 334, § 8º, do CPC/2015, multa de
1 (um) salário mínimo para cada uma das partes a ser paga no prazo máximo de 10 (dez) dias.
Página 131. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA - Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 30 - Maio-
Jun/2019
já que as agravantes não tiveram intenção de praticar ato atentatório à Justiça; 6) ainda que o
despacho tenha atingido o fim colimado, não foi respeitado o prazo legal para designação de
audiência de conciliação ou mediação. Por tais razões, requereram a modificação da decisão
para declarar nulo o ato praticado pelo serventuário e afastar a multa imposta.
Inicialmente, vale destacar o pleno cabimento do recurso: nos termos do art. 1.015, parágrafo
único, do CPC/2015, caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas
no processo de inventário.
O acórdão foi provido em relação ao primeiro argumento invocado pelo recorrente: como o
termo "informação" foi empregado na certidão para dar ciência sobre a audiência que se
realizaria no dia seguinte, não haveria como considerar ser esta uma modalidade de
comunicação do ato processual prevista no Código Processual Civil.
Segundo o Desembargador-Relator seria forçoso reconhecer que o ato não atingiu sua
finalidade - que era o comparecimento na audiência designada para o dia seguinte -, "tendo em
vista que as agravantes são residentes em cidade diversa daquela em que tramita a ação de
inventário" e na qual ocorreria o ato processual.
A decisão merece elogios: a citação e a intimação são atos processuais de extrema relevância
para que o contraditório e a ampla defesa possam ser efetivamente concretizados. As regras
que envolvem tais atos de comunicação precisam ser observadas, sob pena de
comprometimento de garantias fundamentais, não havendo espaço para atos "peculiares"
inidôneos em relação ao alcance do fim almejado.
Registrou ainda o Desembargador-Relator que nas ações de inventário não são aplicadas as
disposições contidas nos arts. 693 e ss. do CPC, sendo tais previsões destinadas às ações de
família.
O julgador atuou muito bem no acórdão ao ressaltar que os prazos processuais e os modos de
comunicação previstos na legislação processual civil devem ser respeitados: diante da patente
ofensa à lei, determinou
Página 132. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA - Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 30 - Maio-
Jun/2019
"a anulação dos atos praticados em ofensa ao princípio da legalidade" que trouxeram "prejuízo
às agravantes que, por não terem comparecido na audiência, sofreram imposição de
penalidade de forma indevida".
Ao ponto, cabe ressaltar um ponto relevante: enquanto nas demandas familiares a realização
de audiência consensual é objeto de destaque dentre as regras do procedimento especial (por
força dos arts. 694 e 695 do CPC/2015), nos litígios sucessórios a realização de tal audiência
não foi prevista pelo legislador no rito de inventário. Sob o prisma procedimental, portanto, a
proposta é que não haja, como regra, a designação de tal audiência.
Embora o acórdão acima tenha sido proferido sob a égide do CPC/73, pelo prisma
estritamente procedimental, o teor do acórdão paulista continua valendo: no rito específico de
inventário não foi contemplada previsão sobre audiência de conciliação ou mediação para lidar
com conflitos sucessórios.
O tema da falta de previsão específica não foi aventado pelo acórdão do Tribunal mineiro, mas
o relator destacou louvar-se "a tentativa de realização de audiência para resolução amigável do
conflito, tendo em vista que se trata de questões patrimoniais referentes ao mesmo núcleo
familiar", destacando que "a determinação está em consonância com as normas processuais
em vigor que prestigiam a realização desse ato processual".
Página 133. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA - Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 30 - Maio-
Jun/2019
sequências variadas de atos processuais com condutas a serem observadas pelas partes e
pelo juiz 1.
Um dos exemplos que mais costuma ser invocado, aliás, como típico de procedimento
especial, é o inventário: tendo falecido o patriarca e/ou a matriarca da família, seria
interessante processar o inventário sob o procedimento comum com petição inicial, audiência,
contestação, réplica e instrução probatória? Certamente não: como o inventário envolve
atividades para apurar, arrecadar e nomear bens do falecido, essa sequência não se mostra
adequada para bem tutelar a situação dos herdeiros 2.
Cabe, porém, perquirir: mesmo não havendo previsão no procedimento, as partes podem
querer a designação de uma sessão judicial de mediação ou conciliação, manifestando-se
positivamente quanto a tal realização?
Dentre as normas fundamentais do CPC/2015, duas regras corroboram tal conclusão: 1) "o
Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos" (art. 3º, § 2º); 2)
"a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público,
inclusive no curso do processo judicial" (art. 3º, § 3º).
Algumas hipóteses merecem ser cogitadas para melhor compreensão sobre o tema.
Página 134. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA - Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 30 - Maio-
Jun/2019
Ação de Inventário. Ato Processual que Atingiu o Fim Colimado. Não Comparecimento
em Audiência de Conciliação. Imposição de Multa. Comprovação de Prejuízo. Prazo
do Art. 334 do Código de Processo Civil
ACÓRDÃO
Vistos, etc., acorda, em Turma, a 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em dar provimento ao recurso.
VOTO
Trata-se de agravo de instrumento interposto por F.C.O.M. contra decisão proferida pelo MM.
Juiz de Direito da Vara de Família e Sucessões da Comarca de Ituiutaba, nos autos da medida
cautelar ajuizada pelo E.M.L.M., que impôs multa aos agravantes em razão da ausência
injustificada em audiência de conciliação (fls. 34/35 - TJ), nos seguintes termos:
"(...)
(...)"
Em seguida, esclarecem que o Código de Processo Civil se vale de dois instrumentos para
comunicar atos processuais, que é a intimação e a citação, nada dizendo sobre "informar", e
mencionam os arts. 334 e 695 do diploma legal. De tal modo, este ato deve ser declarado nulo.
Argumentam que não foi observado o prazo disposto no art. 695, § 2º, do Código de Processo
Civil, já que entre a informação e a designação da audiência de mediação e conciliação
decorreu apenas um dia. Esclarecem que não mais residem na Comarca de Ituiutaba e para se
ausentarem do trabalho devem ter autorização dos respectivos chefes.
Por outro lado, ainda que o despacho tenha atingido o fim colimado, não foi respeitado o prazo
legal para designação de audiência de conciliação e mediação. Requerem a modificação da
decisão para declarar nulo o ato praticado pelo serventuário, bem como a multa imposta.
O recurso foi recebido e devidamente processado, nos termos da decisão de fls. 60/61 v. - TJ,
mas não foi concedido o efeito suspensivo, tendo em vista a insuficiência de comprovação dos
fatos alegados. Posteriormente, veio aos autos a petição de reconsideração de fls. 65/66
acompanhada de vários documentos ensejando o acolhimento do pedido para deferir o efeito
suspensivo (fls. 85/85v. - TJ).
O Magistrado de Primeira Instância, em resposta ao ofício que lhe foi encaminhado, informou
sobre a manutenção da decisão e o cumprimento do disposto no art. 1.018, § 2º, do Código de
Processo Civil.
É o sucinto relatório.
Analisando a documentação de fls. 69/74 - TJ, que trata da informação de isenção de Imposto
de Renda, verifico que o benefício almejado deve ser deferido, posto que não há como exigir o
pagamento das custas de um processo para aqueles que estão fora da faixa da capacidade
contributiva do indivíduo.
A propósito:
Com efeito, o termo "informação" que foi empregado na certidão de fl. 58 - TJ, ocorrido no dia
17.11.2016, para dar ciência sobre a audiência que se realizaria na data de 18.11.2016 (fls.
34/35 - TJ), não é modalidade de comunicação do ato processual prevista no Código
Processual Civil em vigor. Deste modo, forçoso reconhecer que o ato que não atingiu sua
finalidade, que era o comparecimento na audiência designada para o dia seguinte, tendo em
vista que as agravantes são residentes em cidade diversa daquela em que tramita a ação de
inventário e que ocorreria o ato processual.
Igualmente, deve ser afastada a multa aplicada na audiência, por alegada ausência
injustificada, com fincas no art. 334, § 8º, do Código de Processo Civil. É que entre a data da
comunicação da audiência e sua realização, deve ser respeitado o prazo mínimo de 20 (vinte)
dias, segundo exegese do caput do art. 334 do CPC, in verbis:
"Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de
improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de
mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com
pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência."
Com efeito, a comunicação sobre a audiência ocorreu no dia anterior à sua realização (certidão
de fl. 58 - TJ) e de forma indevida por ter sido utilizado meio de comunicação não autorizado
pelo Código de Processo Civil, sendo ainda desrespeitado
o prazo estipulado no art. 334 do mencionado diploma legal, pois a audiência efetivamente
ocorreu em 18.11.2016 (fl. 34/35 - TJ).
Pela movimentação processual dos autos no site do TJMG, os fatos alegados pelas
agravantes podem ser confirmados:
Cumpre fazer um parêntese para tecer uma breve explicação quanto a alegação das
agravantes em relação aos citados artigos do Código de Processo Civil. Registro que nas
ações de inventário não são aplicadas as disposições contidas nos arts. 693 e ss. do CPC,
posto que estas se destinam às ações de família, conforme consta na petição das agravantes.
É patente a ofensa à lei e a medida que se impõe, in casu, é a anulação dos atos praticados
em ofensa ao princípio da legalidade, trazendo prejuízo às agravantes, que por não terem
comparecido na audiência, sofreram imposição de penalidade de forma indevida.
Neste sentido:
Com essas considerações, o ato de informação praticado pelo oficial de justiça quanto da
designação da audiência na véspera de sua realização (fl. 58-TJ) e a multa fixada quando de
sua realização em virtude da ausência das partes (fls. 34/35 TJ) não podem prevalecer, devido
à inobservância das formalidades legais previstas no Código de Processo Civil. Outrossim, não
há que se falar em nulidade dos atos posteriores, pois a mácula anterior é isolada e não viola
nenhum dos demais atos praticados devido a independência existente e a posterior realização
de audiência suprindo qualquer irregularidade.
Assim, diante do exposto, dou provimento ao recurso para decretar a nulidade da certidão de
informação exarada pelo oficial de Justiça e da multa fixada na audiência em virtude da
ausência das agravadas declarando válidos todos os demais atos posteriores não atingidos
pela nulidade decretada.
Custas, ex lege.