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TARTUCE, Fernanda. Audiência Conciliatória no Inventário: Ausência e Multa (TJMG, AI 1.0342.15.

009311-
6/001), Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões, vol. 30, Maio/Jun 201, p. 130-134.

Audiência Conciliatória no Inventário: Ausência e Multa


(TJMG, AI 1.0342.15.009311-6/001)

Fernanda Tartuce
Doutora e Mestre em Direito Processual pela
USP; Professora do Programa de Mestrado
e Doutorado da Faculdade Autônoma de
Direito de São Paulo (FADISP); Professora
e Coordenadora de Processo Civil da
Escola Paulista de Direito (EPD); Advogada
Orientadora do Departamento Jurídico XI de
Agosto; Membro do IBDP (Instituto Brasileiro
de Direito Processual), do IASP (Instituto
dos Advogados de São Paulo) e
do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito
de Família); Diretora do CEAPRO (Centro
de Estudos Avançados de Processo); Mediadora
e Autora de publicações jurídicas.

O acórdão em análise foi prolatado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais ao julgar o Agravo
de Instrumento 1.0342.15.009311-6/001. Proposta por certo herdeiro uma medida cautelar
contra outras duas sucessoras, o magistrado de primeiro grau designou audiência conciliatória;
as requeridas, "informadas" sobre a audiência apenas na véspera de sua realização, deixaram
de comparecer. O magistrado então fixou, com base no art. 334, § 8º, do CPC/2015, multa de
1 (um) salário mínimo para cada uma das partes a ser paga no prazo máximo de 10 (dez) dias.

Eis os argumentos jurídicos aduzidos no recurso de agravo de instrumento: 1) o Código de


Processo Civil se vale de dois instrumentos para comunicar atos processuais, a intimação e a
citação; como nada consta sobre "informar", o ato deve ser declarado nulo; 2) não foi
observado o prazo disposto no art. 695, § 2º, do CPC, já que entre a informação e a
designação da audiência consensual decorreu apenas um dia; 3) como as recorrentes não
mais residiam na Comarca de Ituiutaba, para que pudessem se ausentar do trabalho deveriam
ter autorização dos respectivos chefes; 4) o oficial informou sobre a realização da audiência no
dia anterior à sua realização, mas não foi aposta assinatura do causídico que as patrocinavam
na comunicação feita pelo serventuário, em razão de não ter ocorrido citação ou intimação; 5)
a imposição da multa pelo não comparecimento à audiência seria injustificada,

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já que as agravantes não tiveram intenção de praticar ato atentatório à Justiça; 6) ainda que o
despacho tenha atingido o fim colimado, não foi respeitado o prazo legal para designação de
audiência de conciliação ou mediação. Por tais razões, requereram a modificação da decisão
para declarar nulo o ato praticado pelo serventuário e afastar a multa imposta.

Inicialmente, vale destacar o pleno cabimento do recurso: nos termos do art. 1.015, parágrafo
único, do CPC/2015, caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas
no processo de inventário.

O acórdão foi provido em relação ao primeiro argumento invocado pelo recorrente: como o
termo "informação" foi empregado na certidão para dar ciência sobre a audiência que se
realizaria no dia seguinte, não haveria como considerar ser esta uma modalidade de
comunicação do ato processual prevista no Código Processual Civil.

Segundo o Desembargador-Relator seria forçoso reconhecer que o ato não atingiu sua
finalidade - que era o comparecimento na audiência designada para o dia seguinte -, "tendo em
vista que as agravantes são residentes em cidade diversa daquela em que tramita a ação de
inventário" e na qual ocorreria o ato processual.

A decisão merece elogios: a citação e a intimação são atos processuais de extrema relevância
para que o contraditório e a ampla defesa possam ser efetivamente concretizados. As regras
que envolvem tais atos de comunicação precisam ser observadas, sob pena de
comprometimento de garantias fundamentais, não havendo espaço para atos "peculiares"
inidôneos em relação ao alcance do fim almejado.

O pedido de afastamento da multa por ausência injustificada à audiência conciliatória também


foi acolhido, embora com fundamento diverso: invocou-se o art. 334, caput, do CPC,
dispositivo que prevê que entre a data da comunicação da audiência e sua realização deve ser
respeitado o prazo mínimo de 20 (vinte) dias. Ao ponto, merece elogios o zelo do julgador ao
listar detalhadamente a movimentação processual que consta dos autos no site do Tribunal
para bem compreender e expor a linha do tempo.

Registrou ainda o Desembargador-Relator que nas ações de inventário não são aplicadas as
disposições contidas nos arts. 693 e ss. do CPC, sendo tais previsões destinadas às ações de
família.

O julgador atuou muito bem no acórdão ao ressaltar que os prazos processuais e os modos de
comunicação previstos na legislação processual civil devem ser respeitados: diante da patente
ofensa à lei, determinou

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"a anulação dos atos praticados em ofensa ao princípio da legalidade" que trouxeram "prejuízo
às agravantes que, por não terem comparecido na audiência, sofreram imposição de
penalidade de forma indevida".

Realmente se mostra acertada a decisão de afastar a multa.

Ao ponto, cabe ressaltar um ponto relevante: enquanto nas demandas familiares a realização
de audiência consensual é objeto de destaque dentre as regras do procedimento especial (por
força dos arts. 694 e 695 do CPC/2015), nos litígios sucessórios a realização de tal audiência
não foi prevista pelo legislador no rito de inventário. Sob o prisma procedimental, portanto, a
proposta é que não haja, como regra, a designação de tal audiência.

Esse entendimento foi assim exposto em acórdão do Tribunal de Justiça paulista:

"INVENTÁRIO. Pedido de designação de audiência de tentativa de conciliação.


Indeferimento. Além de não prevista no rito do inventário, a audiência de conciliação
não é obrigatória e sua não realização não importa prejuízo às partes, que, ademais,
podem transigir a qualquer momento. Realização do ato que está sujeita à prudente
discrição do Juiz de Direito, inexistindo ilegalidade ou abuso no indeferimento da
pretensão caso não se vislumbre possibilidade concreta de conciliação entre as partes.
Na condução do processo, o Juiz, a despeito da orientação legal de promover a
tentativa de conciliação entre as partes, também deve evitar a prática de atos
processuais inócuos ou inúteis. Agravo interno desprovido." (TJSP, AgRg 2090151-
56.2015.8.26.0000/50000, Ac. 8569112, Primeira Câmara de Direito Privado, Rel. Des.
Luiz Antonio de Godoy, j. 23.06.2015, DJESP 26.06.2015)

Embora o acórdão acima tenha sido proferido sob a égide do CPC/73, pelo prisma
estritamente procedimental, o teor do acórdão paulista continua valendo: no rito específico de
inventário não foi contemplada previsão sobre audiência de conciliação ou mediação para lidar
com conflitos sucessórios.

O tema da falta de previsão específica não foi aventado pelo acórdão do Tribunal mineiro, mas
o relator destacou louvar-se "a tentativa de realização de audiência para resolução amigável do
conflito, tendo em vista que se trata de questões patrimoniais referentes ao mesmo núcleo
familiar", destacando que "a determinação está em consonância com as normas processuais
em vigor que prestigiam a realização desse ato processual".

Os procedimentos especiais foram concebidos pelo legislador em atenção a peculiares


situações de direito material para promover eficiência e racionalidade na tramitação de certos
feitos. Como o legislador processual entendeu que o procedimento comum não seria apto a
gerar proveitosas atuações em todas as hipóteses (ou insuficiente para resolver
adequadamente todos os conflitos), previu diferenciados procedimentos para contemplar

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sequências variadas de atos processuais com condutas a serem observadas pelas partes e
pelo juiz 1.

Um dos exemplos que mais costuma ser invocado, aliás, como típico de procedimento
especial, é o inventário: tendo falecido o patriarca e/ou a matriarca da família, seria
interessante processar o inventário sob o procedimento comum com petição inicial, audiência,
contestação, réplica e instrução probatória? Certamente não: como o inventário envolve
atividades para apurar, arrecadar e nomear bens do falecido, essa sequência não se mostra
adequada para bem tutelar a situação dos herdeiros 2.

A designação inicial de audiência de conciliação ou mediação, em princípio, não é cabível nos


procedimentos especiais que não a preveem; deve o legislador, sob pena de esvaziamento da
lógica inerente aos procedimentos especiais, seguir o desenho previsto na lei para o
encaminhamento das demandas que seguem o rito peculiar.

Cabe, porém, perquirir: mesmo não havendo previsão no procedimento, as partes podem
querer a designação de uma sessão judicial de mediação ou conciliação, manifestando-se
positivamente quanto a tal realização?

Sendo positiva a intenção de ambas de se engajarem na autocomposição, a resposta é


positiva.

Dentre as normas fundamentais do CPC/2015, duas regras corroboram tal conclusão: 1) "o
Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos" (art. 3º, § 2º); 2)
"a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público,
inclusive no curso do processo judicial" (art. 3º, § 3º).

Algumas hipóteses merecem ser cogitadas para melhor compreensão sobre o tema.

Caso todos os herdeiros solicitem a designação de uma audiência de conciliação ou mediação,


faz sentido que o juiz agende data para sua realização. Ao magistrado incumbe, afinal,
promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de
conciliadores e mediadores judiciais (CPC, art. 139, V).

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A situação soa problemática, porém, quando não há consenso sobre a pertinência da


designação de tal audiência. Nesse cenário, pelo prisma técnico, diante da litigiosidade e da
ausência de previsão sobre audiência no procedimento especial, o juiz deve determinar o
seguimento do feito observando as diretrizes normativas inerentes ao procedimento especial
do inventário.
Como se nota, o tema é rico e merece reflexão detida para que possa haver a adequada
distribuição de justiça aos sucessores necessitados de tutela jurisdicional.

Inteiro teor do acórdão

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.0342.15.009311-6/001

RELATORA: DESEMBARGADORA ÂNGELA DE LOURDES RODRIGUES

Ação de Inventário. Ato Processual que Atingiu o Fim Colimado. Não Comparecimento
em Audiência de Conciliação. Imposição de Multa. Comprovação de Prejuízo. Prazo
do Art. 334 do Código de Processo Civil

Nos autos de inventário é louvável a designação de audiência de tentativa de


conciliação e mediação, mas o ato de informação praticado pelo oficial de justiça
quanto à sua designação, na véspera de sua realização e a multa fixada quando de
sua realização no dia seguinte, em virtude da ausência das partes, não são atos
processuais válidos devido a inobservância das formalidades legais previstas no
Código de Processo Civil. Outrossim, não há que se falar em nulidade dos atos
posteriores, pois a mácula anterior é isolada e não viola nenhum dos demais atos
praticados devido a independência existente e a posterior realização de audiência
suprindo qualquer irregularidade.

(TJMG; AGIN 1.0342.15.009311-6/001; 8ª C.Cív.; Relª Desª Ângela de Lourdes


Rodrigues; DJEMG 30/10/2017)

ACÓRDÃO

Vistos, etc., acorda, em Turma, a 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em dar provimento ao recurso.

Desembargadora Ângela de Lourdes Rodrigues - Relatora

VOTO

Trata-se de agravo de instrumento interposto por F.C.O.M. contra decisão proferida pelo MM.
Juiz de Direito da Vara de Família e Sucessões da Comarca de Ituiutaba, nos autos da medida
cautelar ajuizada pelo E.M.L.M., que impôs multa aos agravantes em razão da ausência
injustificada em audiência de conciliação (fls. 34/35 - TJ), nos seguintes termos:

"(...)

Considerando a ausência injustificada dessas partes, imponho-lhes, nos termos do art.


334, § 8º, do Código de Processo Civil, uma multa de 1 (um) salário mínimo para cada
uma delas, a ser paga no prazo máximo de 10 (dez) dias.

(...)"

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As agravantes requerem a concessão da justiça gratuita ao argumento de que são pobres no
sentido legal.

Em seguida, esclarecem que o Código de Processo Civil se vale de dois instrumentos para
comunicar atos processuais, que é a intimação e a citação, nada dizendo sobre "informar", e
mencionam os arts. 334 e 695 do diploma legal. De tal modo, este ato deve ser declarado nulo.

Argumentam que não foi observado o prazo disposto no art. 695, § 2º, do Código de Processo
Civil, já que entre a informação e a designação da audiência de mediação e conciliação
decorreu apenas um dia. Esclarecem que não mais residem na Comarca de Ituiutaba e para se
ausentarem do trabalho devem ter autorização dos respectivos chefes.

As recorrentes esclarecem que o oficial informou sobre a realização da audiência no dia


anterior à sua realização, mas não foi aposta assinatura do causídico que as patrocinam na
comunicação feita pelo serventuário, em razão de não ter ocorrido citação ou intimação,
conforme consta de fl. 133v.

Defendem, ainda, que a imposição da multa pelo não comparecimento à audiência é


injustificada. Pontuam que não tiveram a intenção de praticar ato atentatório à Justiça.

Por outro lado, ainda que o despacho tenha atingido o fim colimado, não foi respeitado o prazo
legal para designação de audiência de conciliação e mediação. Requerem a modificação da
decisão para declarar nulo o ato praticado pelo serventuário, bem como a multa imposta.

O recurso foi recebido e devidamente processado, nos termos da decisão de fls. 60/61 v. - TJ,
mas não foi concedido o efeito suspensivo, tendo em vista a insuficiência de comprovação dos
fatos alegados. Posteriormente, veio aos autos a petição de reconsideração de fls. 65/66
acompanhada de vários documentos ensejando o acolhimento do pedido para deferir o efeito
suspensivo (fls. 85/85v. - TJ).

O Magistrado de Primeira Instância, em resposta ao ofício que lhe foi encaminhado, informou
sobre a manutenção da decisão e o cumprimento do disposto no art. 1.018, § 2º, do Código de
Processo Civil.

Apesar de regularmente intimada, a parte agravada deixou de apresentar sua contraminuta


recursal.

É o sucinto relatório.

As agravantes, inicialmente, reclamaram a concessão da justiça gratuita argumentando que


são pobres no sentido legal.

Analisando a documentação de fls. 69/74 - TJ, que trata da informação de isenção de Imposto
de Renda, verifico que o benefício almejado deve ser deferido, posto que não há como exigir o
pagamento das custas de um processo para aqueles que estão fora da faixa da capacidade
contributiva do indivíduo.

A propósito:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA. PESSOA FÍSICA.


COMPROVANTES DE ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA, CÓPIA DA

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CARTEIRA DE TRABALHO E CERTIDÃO NEGATIVA DE VEÍCULO AUTOMOTOR.


COMPROVAÇÃO DA HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO. A concessão da justiça gratuita depende de prova da hipossuficiência
financeira, não bastando simples declaração de pobreza. Uma vez carreado aos autos
demonstrativos de renda que comprovam a insuficiência de recursos do litigante, o
benefício da justiça gratuita deve ser deferido." (TJMG, AI 1.0000.16.084556-6/001,
Rel. Des. Aparecida Grossi, j. 12.07.2017).

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA. PESSOA FÍSICA.


HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA COMPROVADA. IMPOSTO DE RENDA. FAIXA
DE ISENÇÃO. ACESSO À JUSTIÇA. RECURSO PROVIDO. A Constituição Federal de
1988, em seu art. 5º, LXXIV, dispõe que o benefício da assistência judiciária somente
será concedido quando restar devidamente comprovada a alegada insuficiência de
recursos para arcar com as custas processuais e honorários advocatícios, visando dar
eficácia ao princípio constitucional do acesso à justiça. A atual jurisprudência vem se
firmando no sentido de que, se os rendimentos do postulante estiverem além da faixa
de isenção do imposto de renda, resta descaracterizada a alegada hipossuficiência
financeira." (TJMG, AI 1.0000.17.026060-8/001, Rel. Des. Alexandre Santiago, j.
05.07.2017)

Feitas estas considerações, verifico tratar-se de recurso próprio e tempestivo, presentes os


pressupostos de admissibilidade, merece pronta apreciação e deve ser recebido na forma de
instrumento.

Da leitura da irresignação recursal, constata-se que as agravantes não se conformam com a


forma da comunicação sobre a audiência de conciliação designada e a multa arbitrada em
razão da falta de comparecimento injustificado. Alegam inobservância do prazo de 15 (quinze)
dias entre a comunicação e a realização da audiência de mediação e conciliação, previsto no
art. 695, § 2º, do Código de Processo Civil.

Com efeito, o termo "informação" que foi empregado na certidão de fl. 58 - TJ, ocorrido no dia
17.11.2016, para dar ciência sobre a audiência que se realizaria na data de 18.11.2016 (fls.
34/35 - TJ), não é modalidade de comunicação do ato processual prevista no Código
Processual Civil em vigor. Deste modo, forçoso reconhecer que o ato que não atingiu sua
finalidade, que era o comparecimento na audiência designada para o dia seguinte, tendo em
vista que as agravantes são residentes em cidade diversa daquela em que tramita a ação de
inventário e que ocorreria o ato processual.

Igualmente, deve ser afastada a multa aplicada na audiência, por alegada ausência
injustificada, com fincas no art. 334, § 8º, do Código de Processo Civil. É que entre a data da
comunicação da audiência e sua realização, deve ser respeitado o prazo mínimo de 20 (vinte)
dias, segundo exegese do caput do art. 334 do CPC, in verbis:

"Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de
improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de
mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com
pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência."

Com efeito, a comunicação sobre a audiência ocorreu no dia anterior à sua realização (certidão
de fl. 58 - TJ) e de forma indevida por ter sido utilizado meio de comunicação não autorizado
pelo Código de Processo Civil, sendo ainda desrespeitado

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o prazo estipulado no art. 334 do mencionado diploma legal, pois a audiência efetivamente
ocorreu em 18.11.2016 (fl. 34/35 - TJ).

Pela movimentação processual dos autos no site do TJMG, os fatos alegados pelas
agravantes podem ser confirmados:

"Audiência Conciliação Realizada - Juiz(a) Titular 19992 - 18.11.2016

Expedição de Certidão de Int. Procurador - 17.11.2016

Expedição de Certidão de Int. Adv. Autor - 16.11.2016


Audiência Conciliação Antecipada 15:30 - Juiz(a) Titular 19992 - 18.11.2016

Proferido Despacho - Citação/Intimação - 11.11.2016

Conclusos para Despacho - Juiz(a) Titular 19992 - 18.10.2016

Juntada de Petição de Manifestação - 11.10.2016

Publicado Despacho Audiência - 17.08.2016

Audiência Conciliação Designada 15:30 - Juiz(a) Titular 19992 - 13.12.2016

Audiência Conciliação Realizada - Juiz(a) Titular 19992 - 18.11.2016

Expedição de Certidão de Int. Procurador - 17.11.2016

Expedição de Certidão de Int. Adv. Autor - 16.11.2016

Audiência Conciliação Antecipada 15:30 - Juiz(a) Titular 19992 - 18.11.2016

Proferido Despacho - Citação/Intimação - 11.11.2016

Conclusos para Despacho - Juiz(a) Titular 19992 - 18.10.2016

Juntada de Petição de Manifestação - 11.10.2016

Publicado Despacho Audiência - 17.08.2016

Audiência Conciliação Designada 15:30 - Juiz(a) Titular 19992 - 13.12.2016"

Cumpre fazer um parêntese para tecer uma breve explicação quanto a alegação das
agravantes em relação aos citados artigos do Código de Processo Civil. Registro que nas
ações de inventário não são aplicadas as disposições contidas nos arts. 693 e ss. do CPC,
posto que estas se destinam às ações de família, conforme consta na petição das agravantes.

De outra sorte, louva-se a tentativa de realização de audiência para resolução amigável do


conflito, tendo em vista que se trata de questões patrimoniais referentes ao mesmo núcleo
familiar, em virtude do óbito de Maria Laudemira de Morais, inclusive a determinação está em
consonância com as normas processuais em vigor que prestigiam a realização desse ato
processual. Entretanto, os prazos processuais e os modos de comunicação previstos na
legislação processual civil devem ser respeitados.

É patente a ofensa à lei e a medida que se impõe, in casu, é a anulação dos atos praticados
em ofensa ao princípio da legalidade, trazendo prejuízo às agravantes, que por não terem
comparecido na audiência, sofreram imposição de penalidade de forma indevida.

Neste sentido:

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"AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA. PRELIMINAR DE OFÍCIO.


NULIDADE DE CITAÇÃO. OFENSA AO DISPOSTO NO ART. 334 DO CPC. NÃO
CUMPRIMENTO DOS PRAZOS ESTABELECIDOS EM LEI. ANULAÇÃO DOS ATOS
DESDE A CITAÇÃO. CABIMENTO. O art. 334 do CPC determina que ‘se a petição
inicial preencher todos os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência
liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com
antecedência mínima de 30 dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 dias de
antecedência’. Não tendo sido respeitados os prazos legais estipulados para a
designação de audiência e citação do réu, resta patente a necessidade de se anular
todos os atos processuais desde a citação, ainda mais diante do prejuízo causado a
parte adversa." (TJMG, AI 1.0000.17.020683-3/002, Rel. Des. Sérgio André da
Fonseca Xavier, j. 04.07.2017)
Por outro lado, ressalto que as agravantes pretendem a nulidade do ato praticado pelo
serventuário e anulação da multa imposta. Registro que, observando mais uma vez o
andamento processual, outra audiência de conciliação foi realizada em março do ano corrente
sem qualquer ocorrência de irregularidade alegada pelas partes.

"Juntada de Petição de Manifestação - 19.04.2017

Recebidos os Autos do Advogado 115487/MG - 17.04.2017

Autos Entregues em Carga ao Advogado do Autor 115487/MG - 04.04.2017

Audiência Conciliação Realizada - Juiz(a) Titular 19992 - 30.03.2017

Juntada de Mandado - 30.03.2017

Mandado Devolvido Cumprido 18 - 30.03.2017

Juntada de Mandado - 29.03.2017

Mandado Devolvido Cumprido 7, 13, 14, 16,19 - 29.03.2017

Juntada de Mandado - 29.03.2017

Mandado Devolvido Não Cumprido 17 - 29.03.2017

Mandado Devolvido Cumprido 08 - 29.03.2017

Juntada de Mandado - 28.03.2017

Mandado Devolvido Não Cumprido 10 - 28.03.2017

Mandado Devolvido Cumprido 09 - 28.03.2017

Juntada de Mandado - 27.03.2017

Mandado Devolvido Cumprido 11, 15 - 27.03.2017

Juntada de Ofício - 23.03.2017

Mandado Devolvido Não Cumprido 06 - 23.03.2017

Expedição de Mandado - 21.03.2017

Juntada de Petição de Manifestação - 16.03.2017

Juntada de Mandado - 15.03.2017

Mandado Devolvido Cumprido 05 - 15.03.2017

Juntada de Aviso de Recebimento - 15.03.2017

Publicado Despacho Audiência - 17.03.2017"

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Com essas considerações, o ato de informação praticado pelo oficial de justiça quanto da
designação da audiência na véspera de sua realização (fl. 58-TJ) e a multa fixada quando de
sua realização em virtude da ausência das partes (fls. 34/35 TJ) não podem prevalecer, devido
à inobservância das formalidades legais previstas no Código de Processo Civil. Outrossim, não
há que se falar em nulidade dos atos posteriores, pois a mácula anterior é isolada e não viola
nenhum dos demais atos praticados devido a independência existente e a posterior realização
de audiência suprindo qualquer irregularidade.
Assim, diante do exposto, dou provimento ao recurso para decretar a nulidade da certidão de
informação exarada pelo oficial de Justiça e da multa fixada na audiência em virtude da
ausência das agravadas declarando válidos todos os demais atos posteriores não atingidos
pela nulidade decretada.

Custas, ex lege.

Desembargador Carlos Roberto de Faria - De acordo com a Relatora.

Desembargador Gilson Soares Lemes - De acordo com a Relatora.

Súmula: "Recurso provido".

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