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DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL

04.DIREITO ADMINISTRATIVO

SUMÁRIO
CAPÍTULO V – PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..............................................................................2
1. PODER HIERARQUICO....................................................................................................................................2
2. PODER DISCIPLINAR.......................................................................................................................................2
2.1. Processo Administrativo Disciplinar (PAD)................................................................................................3
3. PODER REGULAMENTAR...............................................................................................................................4
4. PODER DE POLÍCIA.........................................................................................................................................4
4.1. Atributos do Poder de Polícia....................................................................................................................5
4.2. Uso do Poder.............................................................................................................................................5
4.3. Abuso de Poder.........................................................................................................................................5
5. LIBERDADES PÚBLICAS E PODER DE POLÍCIA...........................................................................................6
SÚMULA DO STF..................................................................................................................................................6

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CAPÍTULO V – PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Os poderes administrativos é o conjunto de medidas e instrumentos, e eventuais prerrogativas, de que
se vale a Administração Pública para consecução de sua finalidade. O Estado, para exercer suas atribuições,
necessita de alguns poderes, que são considerados instrumentais. Tais poderes são irrenunciáveis, pois
visam o interesse público.
É o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse particular que justifica os poderes
conferidos à Administração, bem como a relação de verticalidade entre ela e o particular.
Atenção: O interesse do Estado enquanto pessoa jurídica é legítimo, sendo vedado atuar exclusivamente na defesa do seu
interesse secundário (dissociado do interesse primário = bem comum). Exemplo: o ato administrativo multa, é ato administrativo
cuja finalidade é punir e educar. A multa não tem finalidade arrecadatória, pois o ato com finalidade arrecadatória é o tributo.
Os poderes administrativos possuem as seguintes características:
• Exercício obrigatório: os poderes administrativos impõem seu exercício e vedam a inércia, pois o
reflexo atinge, em último caso, a coletividade;
• Irrenunciável: o administrador não pode abrir mão dos poderes administrativos nem renunciar,
uma vez que só pode abrir mão daquilo que lhe pertence;
• Exercício nos limites da lei: o administrador não pode criar obstáculos para o administrado de uma
hora para outra, devendo exercer o seu poder nos limites da lei: competência + binômio (necessidade +
adequação = proporcionalidade).
1. PODER HIERARQUICO: É um instrumento concedido à Administração para que essa possa distribuir e
escalonar, ordenar, fiscalizar e rever a atuação dos seus agentes. Para que haja manifestação do poder
hierárquico, é fundamental que haja uma relação de hierarquia e de subordinação entre as partes. A
hierarquia é típica da atividade administrativa da Administração Pública, sendo resultado da relação de
subordinação que existe entre os diversos órgãos e agentes que integram a estrutura do Poder Executivo.
Atenção: Não há hierarquia nos Poderes Judiciário e Legislativo, quando estiverem no desempenho de suas funções típicas, ou
seja, só haverá hierarquia em tais poderes quando no desempenho de suas funções administrativas.
Da relação de subordinação, existente na estrutura hierárquica da administração, podemos destacar
como objetivos e consequências do poder hierárquico:
a) poder de dar ordem (ordenar, controlar e corrigir as atividades administrativas) e obedecer às
determinações superiores, salvo se manifestamente ilegais;
b) poder de fiscalizar os atos praticados pelos subordinados, pois quem comanda fiscaliza;
c) poder de delegar e avocar atribuições;
d) poder de aplicar sanções disciplinares;
e) poder de rever os atos de inferiores hierárquicos.
Segundo a legislação vigente, poderá haver delegação de competências entre órgãos ou autoridades,
sem que haja uma relação de hierarquia, ao passo que, na avocação de competências, é sempre essencial
que haja hierarquia entre os órgãos ou as autoridades envolvidas.
O poder hierárquico permite que o superior aprecie os aspectos de legalidade (anulação) e mérito
(revogação) dos atos praticados por seus subordinados.
Atenção: SUBORDINAÇÃO ≠ VINCULAÇÃO. A relação de subordinação está associada à ideia de hierarquia administrativa,
enquanto que a vinculação é decorrência do poder de supervisão ministerial sobre a entidade vinculada, fruto da relação existente
entre a Administração Direta e Indireta.

Atenção: Com a EC nº 45/2008, criou-se uma hierarquia parcial no Poder Judiciário, traduzida na faculdade do STF editar súmulas
com efeito vinculante, de ofício ou mediante provocação, pelo voto de 2/3 (dois terços) dos seus membros, depois de reiteradas
decisões sobre matéria constitucional, para os demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal. Assim, a súmula vinculante torna obrigatória a sua observância pelos magistrados e agentes
da Administração Pública.

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2. PODER DISCIPLINAR: É o instrumento disponibilizado à Administração Pública para apurar infrações e


aplicar penalidades aos servidores públicos e demais pessoas sujeitas à disciplina administrativa. É o caso
dos que com ela contratam. Assim, o poder disciplinar possibilita à Administração Pública:
a) punir internamente as infrações funcionais de seus servidores; e
b) punir infrações administrativas cometidas por particulares (físicas ou jurídicas) a ela ligados
mediante algum vínculo jurídico específico. Exemplo: punir um particular que com ela tenha celebrado um
contrato administrativo e descumpra as obrigações contratuais que assumiu. Nesse caso, trata-se de um
regime contratual em que as situações que ensejam aplicação de punição devem estar descritas no ajuste de
vontades.
O poder disciplinar, normalmente, é uma decorrência do poder hierárquico, ou seja, deriva da estrutura
hierarquizada da Administração Pública, da relação de subordinação existente na estrutura administrativa.
Atenção: O STF firmou entendimento que o exercício do poder disciplinar se trata de um ato vinculado, pois a Administração possui
obrigação de investigar, sendo um poder-dever (art. 146 1, da Lei nº 8.112/1990). Exemplo: um servidor no topo da hierarquia toma
conhecimento que um subalterno pratica uma infração administrativa. Por outro lado, o exercício do poder disciplinar poderá ser um
ato discricionário quando houver gradação da sanção legal a ser aplicada (juízo de conveniência e oportunidade). Exemplo:
quantos dias de suspensão ou mesmo o enquadramento da conduta (dependendo das circunstâncias, escolhe-se advertência ou
suspensão).
2.1. Processo Administrativo Disciplinar (PAD): Previsto no art. 146 da Lei nº 8.112/1990, o PAD é um
instrumento para apurar a prática de um ilícito administrativo disciplinar, que foi praticado por um servidor
público. O Brasil adota o sistema misto (jurisdicionalização moderada), onde a pena é aplicada pelo superior
hierárquico, mas há intervenção dos órgãos por meio de pareceres, existindo um certo grau de
discricionariedade da pena. Não impede que se busque o judiciário para evitar certas ilegalidades. As
infrações administrativas são ações ilícitas, mas que devem ser praticadas no exercício das atribuições do
agente público, ou a pretexto de exercê-las no cargo que está investido.
2.1.1. Espécies de Processo Disciplinar :
a) Verdade sabida: ocorre quando a autoridade competente para punir toma conhecimento direto
e imediato do fato, aplicando desde já a penalidade, dispensando a instauração de PAD. Nesse caso, há a
suspensão do contraditório e ampla defesa e do devido processo legal. Todavia, o ordenamento jurídico
brasileiro não admite a verdade sabida, haja vista que as leis que trouxeram tal possibilidade não foram
recepcionadas pela CF/88, que aplica o contraditório e ampla defesa aos processos administrativos.
b) Sindicância acusatória: é um processo disciplinar que serve para apurar a autoria ou
existência de uma irregularidade de menor gravidade. É um instrumento amis célere. Este procedimento é
composto por uma comissão de 2 ou 3 servidores estáveis.
c) Sindicância investigativa: é realizada para apurar indícios de irregularidade de forma genérica,
sendo indicação prévia de autoria. Essa sindicância é um instrumento para apuração de irregularidade sem
aplicação de sanções, mas detém natureza inquisitorial.
d) Processo administrativo disciplinar (PAD): é um rito mais complexo, sendo destinado a apurar
infrações mais graves: suspensão por mais de 30 dais, demissão, cassação de aposentadoria, disponibilidade
ou destituição de cargo em comissão; sendo composta por comissão de 3 servidores estáveis.
2.1.2. Procedimento do PAD:
a) Fase de instauração: a autoridade competente, por meio de portaria (regra), irá iniciar o
procedimento; designando uma comissão, formada por 3 servidores (regra), com a finalidade de apurar os
fatos. O presidente da comissão deverá ocupar um cargo superior, ou ao mesmo nível do sujeito que será
julgado, ou ter uma escolaridade superior em relação ao servidor investigado.
b) Fase de inquérito administrativo: é a instrução, defesa e relatório. O inquérito administrativo
possui defesa, respeitando o contraditório e ampla defesa, não se confundindo com o inquérito policial. Após
a apuração de provas e havendo a tipificação da infração, será formulada o indiciamento do servidor, o qual
será intimado e terá o prazo de 10 dias para apresentar defesa escrita. Após isso, a comissão elabora um
relatório minucioso, sendo ele conclusivo no sentido de inocência ou responsabilização do servidor. Este
relatório será encaminhado à autoridade competente para ver se demite, suspende ou não.
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Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de
aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de processo disciplinar.
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c) Fase de julgamento: poderá acatar o relatório da comissão ou não, caso esteja


manifestamente contrária à prova dos autos (deverá motivar). Não é obrigatória a intimação do interessado
para apresentar alegações finais após o relatório do inquérito administrativo, haja vista que o sujeito já foi na
defesa. Se a decisão contrariar os autos, a autoridade poderá agravar a pena, desde que o faça
motivadamente.
Quando houver conveniência do serviço público, e a critério da autoridade julgadora, poderá a
penalidade ser convertida em multa, desde que se mostre mais conveniente para a administração público.
Essa multa terá como base 50% por dia da remuneração do servidor. Se ele for multado, durante o período
de cumprimento dessa multa, será obrigado a permanecer no serviço.
Estabelece a Súmula nº 343 do STJ que “é obrigatório a presença do advogado em todas as fases
do processo administrativo disciplinar”. Tal argumento se funda-se pela lógica de que sem advogado não há
defesa técnica e sem defesa técnica, não há ampla defesa. Portanto, a presença do advogado seria
obrigatória.
Súmula Vinculante nº 05: A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.
2.1.3. Prescrição da ação disciplinar : segundo a lei, a ação disciplinar prescreve em (i) 5 anos, para
as penas de demissão, cassação de aposentadoria, disponibilidade ou destituição em cargo ou comissão; (ii)
02 anos, para suspensão; (iii) 180 dias, para advertência.
A publicação da respectiva portaria de abertura da sindicância ou a instauração do PAD
interromperá a prescrição. A partir desse momento da publicação da portaria até o momento da decisão final
proferida pela autoridade competente, o prazo não irá correr. Contudo, se ocorrer o final do prazo legal para
conclusão do PAD, e ainda não houver julgamento, aí o prazo prescricional voltará a correr.
O prazo prescricional para se concluir um PAD é de 140 dias. Isso porque há 60 dias para o PAD,
mais 60 dias para o caso de prorrogação, mais 20 dias para proferir a sua decisão. Depois que este prazo foi
extrapolado, o procedimento continua válido, mas volta a ter curso na integralidade o prazo prescricional,
conforme entende o STF (RMS 35868).
3. PODER REGULAMENTAR (ou Poder Normativo): É o poder conferido à Administração Pública de editar
atos gerais para completar as leis e permitir sua efetiva aplicação. O Poder Regulamentar, em sentido estrito,
consubstancia-se na autorização, ao Chefe do Poder Executivo (art. 84, IV 2, CF), para a edição de decretos e
regulamentos. Segundo a doutrina moderna, o poder normativo tem como objetivo para que as demais
autoridades públicas também emitissem atos de caráter normativo. Assim, quando um Ministro de Estado
expede uma instrução normativa ou quando o Presidente de uma agência reguladora expede uma resolução,
temos o exercício do poder normativo. O poder regulador é uma das formas pelas quais o Poder Executivo
exerce a sua função normativa, sendo certo que o exercício do poder regulamentar é fruto do poder normativo
(conceito mais amplo e genérico). Doutrinariamente, existem 2 (dois) tipos de regulamentos:
a) Decreto regulamentar executivo: É aquele que complementa o conteúdo de uma lei, nos termos
do Art. 84, IV, da CF, servindo como instrumento à fiel execução de uma lei. Não pode estabelecer normas
contra legem (contra lei) ou ultra legem (além da lei). Limitam-se a editar normas secundum legem (segundo
a lei). Está hierarquicamente subordinado a uma lei prévia, sendo ato privativo do Chefe do Poder Executivo.
b) Regulamento Autônomo ou Independente: Originalmente, não encontrava previsão na CF/88,
porém, com o advento da EC nº 32/2001, passou a ter previsão no art. 84, IV, da CF. Tal dispositivo
constitucional estabelece competência ao Presidente da República para dispor, mediante decreto, sobre: (i)
organização e funcionamento da Administração federal, desde que não haja aumento de despesa nem
criação ou extinção de órgão público; e (ii) extinção de cargos ou funções públicas, quando vagos.
Atualmente, essas são as únicas hipóteses de emissão de decreto autônomo. Sem contar que, por
serem atos de primeiro grau, estão sujeitos ao controle de constitucionalidade, e não de legalidade.
Atenção: No Brasil, há uma grande divergência sobre a possibilidade de decretos e regulamentos autônomos. Todavia, para a
grande maioria da doutrina, a CF/88 limitou consideravelmente o poder regulamentar, não deixando espaço para os regulamentos
autônomos. Para as provas de concursos tem-se adotado o entendimento de que excepcionalmente e somente na hipótese da
atual redação do art. 84, IV, da CF é que se admite falar-se em decreto autônomo.

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Art. 84, IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução.
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4. PODER DE POLÍCIA: É a prerrogativa que dispõe a administração pública para, na forma da lei, definir
parâmetros de uso e gozo dos direitos de liberdade e propriedade individuais, na busca do interesse público.
O poder de polícia é a faculdade de que dispõe o Poder Público de fiscalizar o uso e o gozo de bens,
atividades e direitos individuais, em prol do interesse da coletividade. No sentido estrito, abrange apenas as
atividades do Poder Executivo, já no sentido amplo, abrange não só as atividades do Poder Executivo, como
também as atividades do Poder Legislativo.
Assim sendo, tal Poder é exercido por todos os entes da Federação (União, Estados, Distrito Federal e
Municípios) sobre todas as atividades que possam interferir no interesse público coletivo ou prejudica-lo.
Entre as sanções derivadas do exercício do poder de polícia, Hely Lopes Meirelles aponta: (i) interdição
de atividades; (ii) fechamento de estabelecimento; (iii) demolição de construção irregular; (iv) apreensão de
mercadorias irregulares; (v) inutilização de gêneros; (vi) destruição de objetos; (vii) embargo de obras etc.
Não há qualquer incompatibilidade existente entre os direitos individuais e os limites a eles impostos
pelo Estado, com base no poder de polícia. Na verdade, o fundamento de tal poder é o princípio da
supremacia do interesse público sobre o particular, não podendo o Estado aniquilar totalmente os direitos
individuais.
A doutrina majoritária reconhece o (i) poder de polícia originário e o (ii) poder de polícia derivado.
a) Poder de polícia originário: este poder nasce com a entidade que o exerce, através de
transferência legal. O poder de polícia originário é pleno no seu exercício e consectário.
b) Poder de polícia derivado (delegado): este poder provém de outra entidade, através de
transferência legal. O poder de polícia derivado é limitado ao poder de delegação e se caracteriza por atos de
execução. Por isso mesmo que este poder não se compreende a imposição de taxas, porque o poder de
tributar é intransferível da entidade estatal que o recebeu constitucionalmente.
Segundo o STF, o poder de polícia só pode ser exercido por pessoa jurídica direito público, dada a
natureza da atividade envolvida.
O poder de polícia também é dividido em: POLÍCIA ADMINISTRATIVA e POLÍCIA JUDICIÁRIA.
TIPO DE PODER DE POLÍCIA POLÍCIA ADMINISTRATIVA POLÍCIA JUDICIÁRIA
ATUAÇÃO Principalmente preventiva Principalmente repressiva
TIPO DE ILÍCITO Administrativo Penal
NORMAS REGULAMENTARES Direito Administrativo Direito Processual Penal
INCIDÊNCIA Bens, Direitos e Atividades Pessoas
COMPETÊNCIA Diversos órgãos da Administração Corporações Especializadas
Pública

4.1. Atributos do Poder de Polícia: Doutrinariamente, são reconhecidos como atributos do poder de
polícia a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a coercibilidade.
4.1.1. Discricionariedade: reside na livre escolha, por parte da Administração Pública, da
oportunidade e da conveniência de exercer o poder de polícia, assim como de aplicar sanções e empregar os
meios necessários a atingir o fim pretendido, que é a proteção do interesse público. Embora a
discricionariedade seja apontada como regra, não podemos esquecer que, em alguns casos, haverá total
vinculação do administrador à lei, no exercício do poder de polícia. Exemplo: concessão de licença no
exercício de uma profissão a um particular.
4.1.2. Autoexecutoriedade: para Hely Lopes Meirelles, “a autoexecutoriedade consiste na
possibilidade que certos atos administrativos ensejam de imediata e direta execução pela própria
Administração, independentemente de ordem judicial”. Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade
têm funcionado como limitadores à autoexecutoriedade dos atos administrativos.
4.1.3. Coercibilidade: é a imposição coativa das medidas adotadas pela Administração, ou seja,
deve ser obrigatoriamente observada pelo particular. A imposição coercitiva também prescinde (dispensa) de
prévia autorização judicial, mas não impede uma posterior avaliação por tal poder, com vistas a apurar o
chamado abuso de poder, em suas modalidades: excesso de poder e desvio de poder.
4.2. Uso do Poder: Uso do poder é prerrogativa da autoridade pública. Atualmente, a doutrina aponta
que, aos administradores, cabe o poder-dever de agir, isto é, o poder administrativo, por ser conferido à
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Administração para o atingimento do fim público, representa um dever de agir. No entanto, é obrigação do
administrador público utilizá-lo segundo as normas legais e com obediência aos princípios que regem o
Direito Administrativo, nos justos limites que o bem-estar social exige. Quando ultrapassa tais limites, surge a
figura do abuso de poder.
4.3. Abuso de Poder: É o fenômeno que se verifica sempre que uma autoridade ou um agente público
pratica um ato (i) que ultrapassa os limites das suas atribuições ou competências, ou (ii) que desvie das
finalidades administrativas definidas pela lei. O abuso de poder é gênero do qual são espécies: a) o excesso
de poder e o b) desvio de poder.
a) Excesso de poder: quando a autoridade competente extrapolar os limites de sua competência, ou
seja, quando atua fora dos limites legais de sua competência. Exemplo: a autoridade competente aplica
penalidade mais grave (suspensão), que não se encontra na esfera de suas atribuições.
b) Desvio de Poder (ou desvio de finalidade): quando a autoridade atinge finalidade diversa do
interesse público, ou seja, decorre da atuação do agente afastada do interesse público, ainda que dentro da
sua competência. Também é modalidade de desvio de poder quando o administrador, ainda que atinja o
interesse público, utiliza-se de ato com finalidade diversa da prevista em lei para a prática do ato. Poderá se
dar de 2 (dois) modos:
• quando o agente busca uma finalidade, contrariando o interesse público. Exemplo: quando ele
usa seus poderes para prejudicar um inimigo, ou para beneficiar a si próprio, um amigo ou parente.
• quando o agente busca uma finalidade ainda que de interesse público, alheia à categoria do
ato que utilizou, este será inválido por divergir da orientação legal. Exemplo: o administrador que remove um
servidor público com o objetivo de aplicar-lhe uma penalidade, todavia, esse ato de remoção, de acordo com
a previsão legal, serve para acomodação das necessidades do serviço e não está na lista das possíveis
penalidades aplicáveis por infrações funcionais.
5. LIBERDADES PÚBLICAS E PODER DE POLÍCIA:
Evidentemente, abusos no exercício do poder de polícia não podem ser tolerados. Por mais que todo
direito individual seja relativo perante o interesse público, existem números mínimos de direitos que devem
ser preservados, mesmo no exercício do poder de polícia. Nesse sentido, a faculdade repressiva deve
respeitar os direitos do cidadão, as prerrogativas individuais e as liberdades públicas que são consagradas na
CF.
Os principais limites do poder de polícia são:
a) Necessidade: a medida de polícia só pode ser adotada para evitar ameaças reais ou prováveis de
perturbações ao interesse público;
b) Proporcionalidade/razoabilidade: é a relação entre a limitação ao direito individual e o prejuízo a ser
evitado;
c) Eficácia: a medida deve ser adequada para impedir o dano a interesse público. Para ser eficaz a
Administração não precisa recorrer ao Poder Judiciário para executar as suas decisões, é o que se chama de
autoexecutoriedade.
Importante colocar, como limite, ainda, a necessidade de garantia de contraditório e ampla defesa ao
administrado. Nesse sentido, aduz a Súmula nº 312 do STJ: “no processo administrativo para imposição de
multa de trânsito, são necessárias as notificações da atuação e da aplicação da pena decorrentes da
infração”.

SÚMULA DO STF:
Súmula Vinculante nº 21: É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para
admissibilidade de recurso administrativo.

Súmula Vinculante nº 05: A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.

Súmula nº 443: A prescrição das prestações anteriores ao período previsto em lei não ocorre, quando não tiver sido negado, antes
daquele prazo, o próprio direito reclamado, ou a situação jurídica de que ele resulta.

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Súmula nº 383: A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas
não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

Súmula nº 19: É inadmissível segunda punição de servidor público, baseado no mesmo processo em que se fundou a primeira.

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