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Rio de Janeiro
2022
COMO A PSICOLOGIA E A PEDAGOGIA SE
COMPLEMENTAM NO CENÁRIO ESCOLAR PÓS-
PANDEMIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL DO COLÉGIO
JOÃO DE BARRO – RIO DE JANEIRO
Rio de Janeiro
2022
YASMIN ACCIOLI LOBO
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Prof.ª.
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Prof.ª.
Rio de Janeiro
2022
AGRADECIMENTOS
Sou muito grata a minha mãe, por ter estado presente durante todo esse processo,
pela força, amizade, compreensão, e principalmente por ter acreditado no meu potencial,
sem ela não estaria hoje alcançando essa vitória. E ao meu pai Ricardo pelo incentivo que
me deu durante a faculdade e por ter estado presente para aplaudir minhas vitórias.
Agradeço ao meu namorado Filipe que leu minha monografia diversas vezes.
(Emília Ferreiro)
RESUMO
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................49
APÊNDICES...................................................................................................................55
9
1. INTRODUÇÃO
A pandemia de coronavírus que teve início em março de 2020 afetou por completo
os sistemas educacionais em todo o mundo, levando ao fechamento generalizado de
escolas e universidades.
Podemos com certeza dizer que o surto de covid-19 no Brasil e nos demais países
causou uma enorme crise educacional ao impor o fechamento de escolas e o modelo de
ensino remoto.
aprendizado, tornando difícil a recuperação desse tempo que foi “perdido”. Essa
interrupção do processo de ensino-aprendizagem e do vínculo afeta a rede de proteção
social e familiar, visto que muitas crianças brasileiras têm na merenda escolar a única
refeição completa e saudável.
Além disso, com o fechamento das escolas e a permanência das crianças em casa
em tempo integral, muitas mães, por serem responsáveis pelo cuidado infantil, ficaram
sobrecarregadas ao precisar dividir o tempo entre o trabalho e o cuidado para com os
filhos.
Diante de todo o exposto, cabe ressaltar que esta monografia apesar de considerar
o impacto da pandemia na educação, tem como tema principal a importância das áreas de
pedagogia e psicologia dentro do cenário escolar pós-pandemia e a relação de completude
destas duas disciplinas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para dar início a este capítulo podemos dizer que as condições atuais de ensino
na pandemia do COVID-19 tornaram um tanto difícil o acesso à educação para os seis
milhões de alunos matriculados na rede pública de ensino, pois grande parte não tem
acesso à internet e consequentemente não consegue ter acesso à educação a distância
(EAD), segundo matéria do site jornalístico Exame.
Além desse fato, há também grande parcela de professores e alunos que não
possuem familiaridade com as ferramentas tecnológicas de aprendizagem a distância que
foram implementadas na pandemia.
A evidência brasileira mostra que mesmo em estados com mais recursos e com
mais escolas com acesso à Internet, grande parte dos professores possuem pouca
familiaridade com as ferramentas e com o uso da Internet para o ensino.
Segundo Martin-Barbero,
E a função da escola vai além, além da função de educar, ela também exerce uma
função social, onde o aluno constrói relações com seus colegas, professores e
responsabilidades para com seus compromissos.
Faz-se importante pensar em ações voltadas para os grupos de risco, como jovens
com alto risco de abandono escolar e famílias em vulnerabilidade social, a escola
necessita oferecer o suporte a famílias carentes para reduzir o choque econômico derivado
da pandemia que, também, afeta o retorno das crianças à escola.
Dessa forma, o cenário pós-pandemia pode ser visto como oportunidade para
modificarmos à nossa maneira de ensinar e aprender, tornando o aprendizado mais
dinâmico, interativo, envolvendo o aluno em seu processo de aprendizagem e a família,
pois essa inovação e mudança trará bons frutos.
16
Assim a escola não pode mais continuar sendo uma mera instituição conteudista,
é necessário haver espaço para projetos de vida que envolvam aprendizados para além da
escola, pensando na vida do aluno com um todo, e não como um recorte da escola como
um local separado das outras áreas da vida.
Para encerrar este capítulo, podemos trazer o conceito de Mozart Neves Ramos
que nos diz que “O Brasil ainda tem uma escola do século XIX, professores do século XX e
alunos do século XXI”. Ou seja, fica de reflexão para mudarmos esse padrão e fazermos uma
prática crítica da pedagogia com os nossos alunos, como já mencionava Paulo Freire.
17
Entretanto, mesmo com essa definição de pedagogia, não é tarefa fácil conceituá-
la, pois, não há um simples resposta do que ela é, muitos teóricos tentaram e dizem que a
pedagogia se origina do termo grego “paidagogo”, onde a palavra paidós significa criança
e a palavra agogós significa aquele que conduz. Em linhas bem gerais, o pedagogo é
aquele que acompanha as crianças no seu aprendizado escolar.
O autor segue nos dizendo conforme indicação de Libâneo (2007, p. 17) que:
“[...] a pedagogia é o campo científico que faz uma reflexão sistemática sobre
a prática educativa, a educação, que é o objeto de estudo da pedagogia”.
Apesar de a pedagogia ser uma ciência que lida com a educação, o senso comum
ainda a enxerga como prática voltada para a docência na educação infantil e uma questão
de “dom”, “talento” ou uma “vocação” natural para ensinar.
Diante do exposto até o momento e trazendo à tona o foco do trabalho, que faz
uma breve revisão acerca da pedagogia no campo escolar, podemos utilizar a definição
de Franco, Libâneo e Pimenta (2007, p.64), que nos diz que etimologicamente pedagogia
significa “arte de condução de crianças”.
Podemos dizer então que se educação e ensino dizem respeito a crianças, então se
o ensino se dirige a crianças na educação básica, logo, quem ensina é pedagogo, que
também é visto como um “ensinador de crianças”.
Apesar da pedagogia ter essa vertente direcionada para o ensino de crianças, não
podemos nos afastar da ideia de que a pedagogia e à docência são a prática de um ofício.
E como tal, o pedagogo que ensina não somente tem um “dom”, “vocação” ou “talento
natural”, essas definições reduzem a pedagogia a um mero senso comum pedagógico.
prática escolar. A partir de seus estudos e observações busca por meio do processo de
ensino-aprendizagem proporcionar aos estudantes uma educação de qualidade.
Segundo Dayrell:
os conflitos que existem com mais frequência entre alunos e docentes são: o
aluno não entender o que os professores explicam; notas arbitrárias;
divergência sobre critério de avaliação; avaliação inadequada (na visão do
aluno); discriminação; falta de material didático; não serem ouvidos (tanto
alunos quanto docentes) e desinteresse dos alunos pela matéria de estudo.
A partir do entendimento da importância do pedagogo dentro da instituição
escolar é que nos propomos pesquisar sobre “O papel do Pedagogo dentro do Colégio
20
“[...] O pedagogo é aquele que não fica indiferente, neutro, diante da realidade.
Procura intervir e aprender com a realidade em processo”. Portanto, vale
ressaltar que para que o pedagogo possa intervir na prática pedagógica de
maneira eficiente, numa ação transformadora da realidade, requer deste um
domínio mais aprofundado das questões educacionais e pedagógicas presentes
na escola, que ultrapasse o mero espontaneísmo e imediatismo com os quais
se tem legitimado a cultura escolar.
Acerca da atuação do pedagogo no Colégio João de Barro, foi necessário conhecer
o PPP da escola, para entender um pouco mais sobre a comunidade escolar e suas relações
que permeiam o campo do ensino-aprendizado, relações estas compostas pelas figuras
dos alunos e professores.
Deste modo, após conhecer o PPP do colégio, realizou-se uma entrevista com uma
profissional atuante no campo pedagógico da instituição.
Até o ano de 1874 pouco se falava sobre o ensino na primeira infância e apenas
no início do século XX, o tema passou a ganhar relevância nacional, através da fundação
de instituições e da criação de leis voltadas para as crianças.
21
Diante da realidade escolar de muitas escolas pudemos perceber que a maioria dos
nossos docentes, tem uma percepção difusa sobre o perfil do seu aluno, o que indica que
esta percepção, muitas vezes, não está vinculada a criança e ao jovem que frequenta a
instituição na qual ele atua.
[...] a maioria dos docentes conhecem bastante pouco da vida de seus alunos:
onde e com quem moram, as atividades que realizam além de ir à escola, como
ocupam os seus fins de semana, as características de suas famílias, suas
expectativas e possibilidades futuras etc. (p.194, 2003).
Colocando como protagonista o sujeito que aprende, considera-se que o pedagogo
necessita desenvolver competências de criar, estruturar e dinamizar situações de
aprendizagem e estimular a aprendizagem e a autoconfiança nas capacidades individuais
do sujeito aprendente.
Para ser capaz de criar uma situação de aprendizagem que realmente seja efetiva,
o primeiro passo para ser professor da educação infantil é cursar a graduação em
22
Segundo Libâneo:
Segundo Franco:
Ainda assim, para muitas pessoas o conceito sobre o papel do pedagogo, dentro
da instituição escolar é limitado, e nesse sentido Vasconcellos nos traz uma reflexão sobre
esta função:
[...] o pedagogo não é (ou não deveria ser): fiscal de professor, dedo duro (que
entrega os professores para a direção ou mantenedora), pombo correio (que
leva recado da direção para os professores e dos professores para a direção),
coringa/tarefeiro/quebra galho/salva-vidas (ajudante de direção, auxiliar de
secretaria, enfermeiro, assistente social, etc.), tapa buraco (que fica ‘toureando’
os alunos em sala de aula no caso de falta de professor), burocrata (que fica às
voltas com relatórios e mais relatórios, gráficos, estatísticas sem sentido,
mandando um monte de papéis para os professores preencherem – escola de
‘papel’), de gabinete (que está longe da prática e dos desafios efetivos dos
educadores), dicário (que tem dicas e soluções para todos os problemas, uma
espécie de fonte inesgotável de técnicas, receitas), e não é generalista (que
entende quase nada de quase tudo). (2002, p. 86-87).
Nas palavras de Saviani (1985, p. 28), “o pedagogo é aquele que domina
sistemática e intencionalmente as formas de organização do processo de formação
cultural que se dá no interior das escolas”.
Para concluir este capítulo, podemos dizer que o pedagogo escolar representa uma
figura de referência para os alunos, pois ele é o profissional que controla os alunos quanto
a disciplina, que atende as situações de conflitos entre os alunos e entre alunos e professor,
controla as faltas dos alunos e as chegadas atrasadas ou saídas antecipadas, comunica os
recados importantes e que também cobra os alunos sobre o desempenho escolar.
26
primeiros anos de vida são essenciais para o desenvolvimento adequado do cérebro e das
funções neurais fundamentais para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo,
impactando diretamente o desempenho escolar.
De acordo com Shonkoff et al (2012), quando o impacto negativo de déficits
nutricionais iniciais e da pobreza atrapalham a formação de conexões neurais, o
desenvolvimento cognitivo, e do ambiente sobre a forma como as crianças desenvolvem
a capacidade de regular o comportamento e as emoções, bem como sobre o
desenvolvimento da atenção em médio prazo fica prejudicado.
Quando falamos acerca da importância do psicólogo escolar, faz-se necessário
conceituar o que é a psicologia, podemos dizer que a psicologia é a ciência que estuda os
processos mentais do ser humano, seus sentimentos e pensamentos e o seu
comportamento.
Acerca da psicologia no campo escolar, esta traz importantes contribuições para
o estudo da aprendizagem e das condições que a tornam mais eficiente e intencional para
o aluno.
Considerando que a contribuição da psicologia a educação reside em fornecer
subsídios para o desenvolvimento do planejamento curricular da escola de forma a
abarcar todos os alunos, incluindo de forma efetiva aqueles que em que a aprendizagem
se mostra prejudicada, o psicólogo escolar necessita estar atento aos fatores emocionais
e cognitivos que podem impedir o aprendizado do aluno.
Nesse cenário, é necessário que haja uma interação entre o psicólogo educacional,
os professores e o pais, pois todos compõem a comunidade escolar e precisam estar juntos
para que as mudanças sejam significativas e duradouras.
“uma ciência que fornece insights sobre a maioria dos aspectos da prática
educacional e mais especificamente dos processos de ensino-aprendizagem”,
ao passo que “ensino se define como a sequência de eventos, tais como o
comportamento do professor, que intencionalmente afeta a aprendizagem do
aluno”.
Para alguns autores, a psicologia educacional lida com a identificação das
condições do desenvolvimento humano, de aprendizagem e de ensino e objetiva
aperfeiçoar as práticas educacionais, objetivando melhorar a atuação dos professores,
porque é uma ciência que compreende a maneira como os indivíduos se comportam.
O psicólogo educacional deve deixar claro para os docentes que o seu trabalho é
realizado em uma relação de parceria, que o seu saber não tem a intenção de sobrepujar
o outro, baseado nessa ideia, ambos os profissionais devem estar abertos para o diálogo e
o debate saudável acerca de como criar condições para que os docentes repensem e
problematizem suas práticas, neste cenário o psicólogo deve estar disponível para ajudá-
29
Segundo Vygotsky (1991, p. 94), “o aprendizado das crianças começa muito antes
delas frequentarem a escola. Qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se
defronta tem sempre uma história prévia”.
Nesse sentido, nos fala Novaes (1986, p. 15), que, a função do psicólogo também
será de: “[...] contribuir para o melhor relacionamento do aluno e professor, sendo
decisiva no processo educativo”.
E por mais que o psicólogo tenha uma ampla área de atuação no qual pode exercer
diferentes papéis sempre com o objetivo de promover o equilíbrio e o crescimento do
indivíduo, este não deve tentar ocupar o espaço que é do professor com os problemas de
sala de aula.
Tão grande era o interesse de Wallon pela educação, que culminou num projeto
chamado Langevin-Wallon, que tinha o objetivo de reformar completamente o sistema
educacional francês após a segunda guerra.
Entretanto, Wallon não propôs uma teoria pedagógica, mas sim psicológica, em
que estudou o indivíduo por completo, analisando os aspectos afetivo, cognitivo e motor
de forma integrada.
Para Jean Piaget, a criança se desenvolve em estágios e com isso têm surgido
inúmeras possibilidades de ação, que variam quanto ao modo de situar o valor dos
conteúdos das matérias escolares, portanto o papel do professor e do psicólogo escolar é
mediar o conhecimento e escolher os melhores instrumentos de avaliação, objetivando
estar atento a todos os componentes que participam da situação de ensino-aprendizagem.
Para confirmar sua hipótese, Piaget inicia um diálogo clínico com as crianças, sem
utilizar os testes como base, com a intenção de “investigar e descobrir quais os processos
de raciocínio conduziam as respostas erradas e quais conduziam às respostas corretas”.
(FERREIRO, 2001, p. 108).
Macedo (1994 apud PIAGET, 1975) afirma que existem duas palavras do
processo cognitivo da inteligência infantil, para Piaget. A primeira é a aprendizagem, que
ocorre quando a criança dá uma resposta própria, aprendida com uma experiência obtida
ou não sistematicamente. E a segunda, o desenvolvimento, responsável pela
aprendizagem propriamente dita, se encarrega pela formação dos conhecimentos.
Na sua definição:
Para dar início a contribuição de Vygotsky, podemos dizer que ele sempre
demonstrou interesse no entendimento das funções mentais superiores e como a cultura,
a linguagem e os processos orgânicos do cérebro influenciavam neste processo. Devido
ao seu interesse, acabou por trabalhar com pesquisadores renomados como Alexander
Luria e Alexei Leontiev.
Vygotsky observou que a criança desde seu nascimento já interage com o adulto
e este, por sua vez, é o responsável por inseri-la nas relações sociais e na cultura; porém,
é visto que na fase inicial do processo, as crianças respondem de forma natural,
característica da sua herança biológica. Por isso, Vygotsky atribui uma grande
importância ao processo de mediação, no qual o adulto contribuirá com a criança para o
desenvolvimento dos seus processos psicológicos virem a ser mais complexos.
Vygotsky observou que, a partir das interações sociais, o homem possui diferentes
formas de se comportar. Segundo ele, o homem não poderia ser considerado como um
ser passivo, consequência de suas relações e, sim, como um ser ativo, que age nas suas
relações sociais, no mundo e que transforma essas ações para o seu funcionamento
interno.
Vygotsky (1982, apud NEVES, 2005), “aparece afirmando que o meio social é
determinante do desenvolvimento humano e que isso acontece fundamentalmente pela
aprendizagem da linguagem, que ocorre por imitação”.
sociais entre as pessoas, pois, a relação do indivíduo com o mundo externo é sempre
mediada pelo outro; daí para aprender é necessário o contato com o outro, pois, é o outro
quem fornece os significados para que se possa compreender e pensar sobre o mundo à
nossa volta. É por meio do outro com quem me relaciono e é do processo de ensino-
aprendizagem que ocorre o processo de apropriação da cultura que compartilho e na qual
estou inserido.
Nesta época, Vygotsky teria desenvolvido uma série de ideias que, a seu ver,
poderiam auxiliar na compreensão dos processos de construção de novas funções
psicológicas superiores: o papel do jogo e da fantasia no desenvolvimento infantil, a
necessidade de conhecer tal desenvolvimento prospectivamente e o caráter necessário das
interações sociais na constituição do indivíduo. Entretanto, a necessidade de 20
compreender de forma globalizante esses aspectos, fez com que Vygotsky sentisse a
necessidade de construir um conceito teórico que exercesse tal função unificadora: eis o
papel do conceito de ZDP. (VAN DER VEER; VALSINER, 1991).
• Interrupção da aprendizagem
• Professores com pouco conhecimento acerca das novas tecnologias
• Famílias despreparadas para ensinar e “assumir” o papel do educador
• Desigualdade no acesso aos conteúdos digitais
• Aumento significativo da evasão escolar
Com este capítulo, e falando acerca do cenário pós-pandemia nosso objetivo foi o
de defender a ideia de que os profissionais de pedagogia e psicologia são corresponsáveis
em sustentar o currículo escolar, sendo de sua responsabilidade o esforço coletivo para
elaborar novos programas curriculares e fugir do chamado “currículo mínimo”; além de
apontar novas metodologias de trabalho que considerem o cenário pós-pandêmico.
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3. METODOLOGIA DE PESQUISA
A entrevista foi realizada no contexto da sala de aula, após dias de observação das
crianças, pois na época eu era estagiária/auxiliar de turma do pré-escolar I e já conhecia
as crianças que necessitavam de intervenção adequada. Além de estar no final da
graduação de Pedagogia, já possuo a graduação em Psicologia, com foco na área da
psicologia infantil e pós-graduação em Psicopedagogia clínica e institucional, o que me
possibilitou um olhar mais aprofundado e sistemática acerca das questões
comportamentais, cognitivas e escolares dos alunos.
As perguntas propostas tiveram como objetivo conhecer mais a fundo a realidade
de uma professora da educação infantil, responsável pela alfabetização de crianças,
incluindo alunos com algum tipo de dificuldade de aprendizagem e/ou transtorno do
neurodesenvolvimento. As perguntas realizadas na entrevista então descritas abaixo:
1) O que a levou a cursar a faculdade de Pedagogia? Decidi fazer Pedagogia, porque
estava à procura de uma faculdade que me possibilitasse trabalhar na área da educação.
Além disso, escolhi o curso de pedagogia porque me preocupo com o rumo da educação no
Brasil, afinal é na primeira infância que se desenvolve a maior parte do caráter das crianças
e a construção do conhecimento, assim sendo, eu penso que educar as crianças é a melhor
forma de mudarmos o país.
2) Em que Universidade você se formou? Universidade Estácio de Sá
3) Em ano que você se formou? 2015
4) Onde você trabalha atualmente? Centro Educacional Primavera e Colégio João de
Barro.
5) A quanto tempo você exerce a função de professora? 7 anos
6) Quais são as atividades desempenhadas por você nos colégios em que trabalha?
Professora do pré-escolar I.
7) Você acha que o curso de Pedagogia na modalidade de licenciatura a preparou
para o exercício da docência? Na minha opinião, a faculdade de pedagogia com ênfase na
licenciatura contribuiu para tornar mais simples o processo de dar aulas, entretanto, a
prática de estágio supervisionado, isto é a formação prática oferecida na graduação é de
fundamental importância para o preparo da docência, que vai muito além de ensinar, o
profissional precisa saber elaborar um plano de aula, saber ter a regência da sala de aula.
Porém, apesar de toda a teoria e vivência prática na sala de aula, é somente na “vida real”
que o professor descobre os métodos que funcionam, pois toda turma é formada por um
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grupo heterogêneo de alunos que podem vir a exigir maior flexibilidade e jogo de cintura
por parte do professor, o que somente vem com a prática do dia a dia.
8) Como é o trabalho do pedagogo/professor da educação infantil? Na minha visão
enquanto educadora, a escola que abrange a educação infantil tem uma função sócio-
histórica que abrange a formação de crianças por meio da mediação dos adultos,
principalmente a figura do professor, que ocupa uma posição privilegiada no contexto da
sala de aula, para meus alunos da educação infantil – isto é o pré-escolar - I, eu sou a
detentora de um saber que eles ainda não possuem. Muitas vezes, meus alunos me vêm
como um modelo a ser seguido, pois na educação infantil o trabalho pedagógico envolve
processos de apropriação, reprodução e criação.
9) Quais as maiores vantagens e dificuldades do seu trabalho? No meu entender,
existem diversas vantagens e desvantagens ao se escolher uma profissão, nem tudo será
perfeito em cem por cento do tempo. Como vantagens de ter feito pedagogia e do meu
trabalho posso citar o poder de transformar as crianças que passam por mim em seres
pensantes, que farão a sociedade ser melhor. Além disso, o meu trabalho me permite um
aumento na minha capacidade de comunicação, com a própria criança, seus responsáveis
e com os demais membros da equipe pedagógico do Colégio João de Barro. O meu
trabalho me possibilita estar sempre em desenvolvimento e aprendendo com os meus
pares profissionais e em cursos que abordem novidades no campo educacional, e por
último, a flexibilidade de horário com professora, pois atualmente consigo conciliar a
vida de professora da educação infantil em duas escolas e ainda tenho uma filha de 8
meses que demanda uma energia que eu já não tenho quando chego em casa após a minha
dupla-jornada de trabalho.
10) No seu caso, que possui alunos com diferentes diagnósticos, como é o processo
de adaptação do currículo e das atividades para esses alunos? Na minha visão enquanto
educadora de alunos matriculados no pré-escolar I, faz-se importante em primeiro uma
investigação das habilidades cognitivas, motoras, sociais e do nível de “maturidade” que
a criança já apresenta, pois percebo nos meus uma heterogeneidade gritante quanto a
maturidade para compreender conceitos e manter-se atento, e isso não só acontece com
crianças que tem laudo, há diferenças significativas de comportamento entre as chamadas
crianças típicas. Entretanto, para aqueles que por conta do transtorno a sua capacidade de
aprender esteja impactada, é necessário um trabalho conjunto entre o professor, o
psicopedagogo, o fonoaudiólogo e os pais, para que com todos empenhados no
desenvolvimento daquela criança, melhores resultados sejam alcançados.
11) O que você gostaria de falar sobre o tema da nossa entrevista, para os futuros
estudantes de Pedagogia? Se o seu sonho é ser professor, seja ele da educação infantil,
do ensino fundamental I ou II, ou até mesmo de uma universidade, não desista, acredite
em você, no seu processo e na sua capacidade e, por mais que você já ache que esteja
pronto, nós nunca estamos 100% prontos, isso em qualquer profissão, sempre haverá algo
novo para aprender! E como diria Paulo Freire: O professor que pensa certo, deixa
transparecer, aos educandos a beleza de estarmos no mundo e com o mundo, como seres
históricos... (Paulo Freire 2011, p. 61).
Após a realização da entrevista, eu, enquanto a entrevistadora e futura profissional
de Pedagogia, pude refletir bastante acerca do exercício da docência e delinear a
professora que quero ser para meus alunos no futuro.
Tomando o livro Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire, como norte de uma
reflexão crítica da prática profissional do professor, podemos dizer que não há docência
sem discência, é necessário saber como passar o conhecimento e não somente transmitir
conhecimento ao aluno como se este fosse um ser passivo em seu processo de ensino-
aprendizagem. Ou seja, só existe ensino quando o aprendiz é capaz de recriar ou refazer
o que lhe foi ensinado.
Ainda tomando como referência as ideias e os saberes de Paulo Freire, podemos
dizer que ensinar exige do professor uma rigorosidade metodológica para com o seu
aluno, objetivando torná-lo curioso, criativo e envolvido no seu processo de
aprendizagem, para que educador educando se transformem em sujeitos da construção e
da reconstrução do saber.
45
Além de tudo que foi dito acima, para ensinar o professor precisa pesquisar,
segundo Paulo Freire (1996, p. 29), não há ensino sem pesquisa, nem pesquisa sem ensino
e ele vai além, nos dizendo que para educar o professor precisa respeitar os saberes do
educando, visto que este aluno já chega ao colégio com conhecimentos prévios que foram
adquiridos fora do espaço escolar, mas que não devem ser desconsiderados pelo educador
somente por este motivo.
Por fim, pude refletir que para ensinar não basta somente os conteúdo teórico,
aquilo que você aprende na graduação, para vir a ser uma profissional que desperte o
interesse e a mudança nos alunos, é necessário fazer uma prática respeitosa, reflexiva,
crítica, que respeite os saberes e a autonomia do educando e que não somente reproduza
conhecimentos.
Para encerrar este capítulo metodológico, podemos trazer o pensamento de
Antônio Nóvoa, grande psicólogo e educador português: “ainda que a bagagem teórica
tenha utilidade, se você não fizer uma reflexão global sobre sua vida, como aluno e como
profissional, esta bagagem terá sua utilidade reduzida”. Trecho retirado de entrevista
realizada por Paola Gentile e concedida por Antônio Nóvoa por e-mail diretamente da
Capital Portuguesa. 1
1
O link da entrevista se encontra nas referências bibliográficas do trabalho.
46
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não podemos esquecer que o ato de aprender é um fenômeno complexo que exige
uma preparação e avaliação minuciosa e que pressupõe o estabelecimento de vínculos
necessários ao processo de ensino-aprendizagem.
Podemos dizer que esta pesquisa foi satisfatória, pois conseguiu cumprir com os
seus objetivos gerais e específicos, levando a uma contribuição de que o papel do
pedagogo vai muito além da sala de aula.
Por fim, vale a pena dizer que as contribuições dos teóricos aqui escolhidos
servem de base para investigar o ato de aprender. É necessário que os profissionais alvo
desta monografia utilizem os referenciais teóricos para melhor planejar as suas atividades
e os recursos para identificar, tratar e prevenir as dificuldades decorrentes da
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aprendizagem, seja por distúrbio, seja por transtorno, seja ainda por outra origem que
interfira no processo de aprendizagem.
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54
APÊNDICE 1
APÊNDICE 2
10) No seu caso, que possui alunos com diferentes diagnósticos, como é o
processo de adaptação do currículo e das atividades para esses alunos?
11) O que você gostaria de falar sobre o tema da nossa entrevista, para os
futuros estudantes de Pedagogia?