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Rose Miriam di Matteo sofreu um novo golpe em sua batalha pelo reconhecimento de união estável

com Gugu Liberato. No dia 18 de maio de 2020, a mãe de João Augusto, Marina e Sofia foi retirada
da ação de Inventário e Bens e Partilha do apresentador de TV, cuja fortuna está estimada em 1 bilhão
de reais.

No processo 1122050-41.2019.8.26.0100, o qual VEJA teve acesso via Diário Oficial Estadual, a
juíza Eliane da Câmara Leite Ferreira, da 1º Vara da Família e Sucessões, argumentou que o
entendimento foi mudado quando se soube da existência de um documento que demonstra, a
princípio, a inexistência de união estável entre Rose e Gugu. A magistrada menciona ainda na
decisão publicada que o mesmo contrato já havia sido analisado pelo Tribunal, afastando também, a
“tese” de Rose Miriam.

Nessa decisão publicada no Diário Oficial, que tirou Rose do processo de inventário, a juíza ainda
afirma que não há razão pela permanência da médica no inventário pelo fato de ter sido indeferido o
pedido de reserva de bens1, fazendo que sua permanência nas discussões do patrimônio seja
injustificável.

A magistrada usa a parte final de seu despacho para dar uma bronca em Rose. “Se não bastasse os
fatos expostos acima, a terceira vem tumultuando o andamento do feito, com a juntada de petições,
cujo conteúdo foge ao objeto dos presentes, e supostamente, dando indevida publicidade dos atos
processuais. Igualmente, o advogado da terceira (Rose) não terá mais acesso aos autos, devendo,
todavia, ser intimado da presente decisão”, escreveu a magistrada, referindo-se a Nelson Willians,
responsável pela defesa de Rose. Cabe recurso e Rose pode reverter a decisão para voltar a
acompanhar o inventário.

Como VEJA publicou em março, foi anexada ao processo uma escritura do livro 5.995, página 225 do
7º Tabelião de Notas de São Paulo. Nela, consta a doação de uma casa de Alphaville de Gugu para
Rose, com seis suítes e valor venal de 1,8 milhão de reais. À época, tratava-se da residência onde a
médica vivia com seus três filhos (o imóvel está até hoje no nome de Rose). Essa certidão em si é
menos importante pela cessão da casa do que pelas informações que nele constam. O documento,
lavrado no dia 24 de janeiro de 2012, traz outras implicações sobre a dinâmica da relação. Rose
aparece ali como “solteira, segundo declarou, sem manter relacionamento”. Outro trecho diz que
“reconhece que estão ligados tão e somente como pais e, portanto, são responsáveis pelo
bem-estar dos filhos”. Esse documento parecia ser o ponto final no processo de união estável.

Ainda não se sabe ao certo qual é o valor exato do patrimônio de Gugu. Dono de inúmeras
empresas, algumas com participação de cotas e outras como único proprietário, todas as
matrículas de imóveis e ações estão sendo requeridas para perícia e análise.

Namorado de Gugu desde 2011, o chef sorveteiro Thiago Salvático também deu entrada com pedido
de reconhecimento de união estável. Ele até o momento não integrou o inventário do apresentador
falecido no ano passado vítima de um acidente doméstico, em Orlando.

1
É um pedido com base em união estável para que bens adquiridos ou doados na vigência da
união não sejam partilhados e vendidos.
https://ibdfam.org.br/noticias/na-midia/2517/TJMT+-+Reserva+de+bens+em+inventário+ass
egura+direito+futuro+de+herdeiros
Desde a morte do apresentador, a família de Gugu vem se envolvendo em diversas polêmicas na
Justiça. No último mês de janeiro, Rose Miriam Di Matteo, mãe dos filhos de Gugu Liberato, entrou
na Justiça para cobrar valores relativos à pensão que ela recebe do espólio do apresentador.

Os filhos do apresentador entraram em uma disputa pela herança. No testamento, Gugu não
reconhece Rose Miriam como companheira em união estável e nomeia a própria irmã,
Aparecida Liberato, como responsável por cuidar de seu espólio. Rose contesta. Isso acabou
levando a um desentendimento entre as filhas gêmeas do apresentador e o irmão delas, João Augusto,
de 20 anos. Enquanto o filho mais velho do apresentador declarou apoio à tia no caso, as jovens
decidiram apoiar a mãe.

Diante dessas considerações, responda as seguintes indagações de forma fundamentada:

a) Quem teria legitimidade ativa para promover esta demanda e como deveria ser formulado o
requerimento inicial e as primeiras declarações? A juíza agiu corretamente ao excluir da relação
jurídico-processual Rose Miriam? Seria possível exclui-la do processo apenas com base em sua sua
conduta de tumultuar o andamento do feito? De que maneira Rose Miriam poderia reverter essa
situação e passar a ser herdeira necessária na ação de inventário?

1) Quem teria legitimidade ativa para promover esta demanda e como deveria ser
formulado o requerimento inicial e as primeiras declarações?

1.1 Art. 615 e 616. Aparecida Liberato (com base no art. 615), filho, filhas/MP (incapazes,
MP por causa das filhas), Fazenda e o testamenteiro.
1.2 Comunica-se o óbito, juntamente com a certidão de óbito do autor da herança (art. 320 e
615, par. único, do CPC), e se requere a nomeação do inventariante (com base no rol de
preferência do art. 615 ou 616).
O inventariante nomeado pelo juiz é intimado a prestar compromisso, que poderá se recusar a
assumir o encargo. Se anuir, será intimado a apresentar, no prazo de 20 dias, as primeiras
declarações, podendo tal lapso temporal ser prorrogado a requerimento ou ex officio pelo
juiz.
1.3. Exposição, oral ou escrita, preferencialmente escrita, apresentada pelo inventariante,
destinada a descrever o patrimônio (apontar bens e dívidas) e identificar os herdeiros do
falecido. Devem constar nas primeiras declarações as informações previstas no art. 620:
dados do falecido e dos herdeiros, a relação dos bens e as dívidas ativas e passivas do
falecido. Se o falecido era empresário individual ou sócio de sociedade não anônima,
observar ainda o § 1º do art. 620.

2) A juíza agiu corretamente ao excluir da relação jurídico-processual Rose Miriam?

Sim. A ação de inventário não é procedimento para reconhecimento de união estável com
base em prova diferente da documental, e já houve decisão que indeferiu pedido de reserva de
bens.

O pedido de reserva de bens é um pedido com base em união estável para que bens
adquiridos ou doados na vigência da união não sejam partilhados e vendidos.

3) Seria possível excluí-la do processo apenas com base em sua sua conduta de
tumultuar o andamento do feito?
Não é possível. Juntada de petições cujo conteúdo foge ao objeto do processo seria litigância de
má-fé, com fundamento no art. 80, V ou VI, do CPC, com cominação da multa do art. 81 do
CPC.

Agir de modo temerário significa atuar em um processo em que se tem consciência de uma
situação injusta e ímproba. A parte sabe que não tem razão ao ingressar com uma
determinada ação.

A hipótese prevista no art. 80, inciso VI, do CPC, diz respeito ao caso em que uma das partes
provoca a instauração de um incidente ou ajuiza uma ação infundada, ou seja, sem
fundamentação razoável. Essa conduta também afigura-se como protelatória e, portanto, é
caracterizada como má-fé.

https://www.projuris.com.br/litigancia-de-ma-fe/

4) De que maneira Rose Miriam poderia reverter essa situação e passar a ser herdeira
necessária na ação de inventário?

Entrando com uma ação de reconhecimento de UE no procedimento comum.


Companheiro supérstite é herdeiro necessário, de acordo com o STF (art. 616, inc. I, do
CPC).
Segundo o precedente vinculante do STF (RE 646.721), o companheiro supérstite é herdeiro
necessário, tal como o cônjuge supérstite, nos termos do art. 1.845, do Código Civil.

Para reverter a situação, Rose teria que demonstrar por meio de provas que possuía uma união estável
com Gugu em ação própria e com decisão favorável, aí sim, solicitar a inclusão no processo de
inventário, como companheira.

b) Como Rose Miriam obteve essa pensão do espólio e de que maneira ela deve ter entrado na Justiça
para cobrar valores relativos a essa pensão? Moveu uma ação própria ou formulou pedido na própria
ação de inventário?

1) Como Rose Miriam obteve essa pensão do espólio e de que maneira ela deve ter
entrado na Justiça para cobrar valores relativos a essa pensão?

A única hipótese em que a obrigação alimentar pode ser imposta ao espólio, conforme a
jurisprudência do STJ, é o caso de alimentando que também seja herdeiro, porque haveria o
risco de ficar desprovido em suas necessidades básicas durante a tramitação do inventário.
Rose provavelmente entrou com ação de alimentos alegando ser companheira supérstite de
Gugu (art. 616, inc. I, do CPC).

Ela obteve a pensão sob a alegação de que possuía uma união estável com Gugu, alegação
essa que foi posteriormente derrubada por ter sido encontrado um documento que prova o
contrário, que ela se declarava como solteira e que possuíam relação apenas como pais e
como tais, responsáveis pelo bem-estar dos filhos.

2) Moveu uma ação própria ou formulou pedido na própria ação de inventário?


Moveu uma ação própria, pois a ação de inventário não admite cumulação com qualquer
outra ação ou pedido.

c) O que Rose Miriam pode fazer para impedir o reconhecimento de união estável entre Thiago
Salvático e Gugu? É possível que seja reconhecida a união estável em favor de Rose Miriam com base
nos depoimentos prestados em juízo pelas duas filhas gêmeas do apresentador? Quais desses
depoimentos valem mais: o do filho mais velho, João Augusto, que defende a inexistência de união
estável; ou os das filhas gêmeas, que apoiam a mãe e sustentam a união estável?

1) O que Rose Miriam pode fazer para impedir o reconhecimento de união estável entre
Thiago Salvático e Gugu?

Mover uma ação contra os herdeiros para reconhecer a união estável2 e evitar que seja
reconhecida a UE entre Thiago e Gugu durante o período em que ela esteve em UE.
Isso porque, caso seja procedente a demanda de Rose, ela passa a ser herdeira e terá
legitimidade para figurar no polo passivo da demanda de Thiago de reconhecimento de união
estável, como herdeira. Na demanda contra Thiago, ela pode invocar os impedimentos do art.
1.521 do CC, inclusive trazendo a sentença que declarou a união estável. Thiago, aliás, não
cumpre todos os requisitos para o reconhecimento da união estável, a saber: (i) ânimo de
constituir família, (ii) estabilidade, (iii) publicidade, (iv) continuidade, especialmente o
requisito da publicidade.

Além disso, caso tenha vivido UE em concomitância com o namoro de Gugu e Thiago,
conforme jurisprudência pacífica do STJ, não é permitido o reconhecimento de duas uniões
estáveis ao mesmo tempo.

STF: A preexistência de casamento ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada a


exceção do artigo 1.723, parágrafo 1º, do Código Civil, impede o reconhecimento de novo
vínculo referente ao mesmo período, inclusive para fins previdenciários, em virtude da
consagração do dever de fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico
constitucional brasileiro. – Tese firmada no RE 1045273.

2) É possível que seja reconhecida a união estável em favor de Rose Miriam com base
nos depoimentos prestados em juízo pelas duas filhas gêmeas do apresentador?

Na ação de inventário, não.


Em eventual ação de reconhecimento de união estável, as filhas seriam meramente
declarantes (art. 447, § 2º, I; e § 4º, do CPC), e não testemunhas, de modo que o depoimento
prestado não poderia embasar a sentença, a não ser servir como elemento de convicção para o
juízo, se assim entender o juiz.

2
TJ-GO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. AÇÃO DE CONHECIMENTO
DE UNIÃO ESTÁVEL POST MORTEM C/C INDENIZAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO.
ILEGITIMIDADE AD CAUSAM CONFIGURADA. 1. Na ação de reconhecimento de união estável post
mortem são legitimados para figurar no polo passivo da demanda os herdeiros, assegurando-lhes os princípios
do contraditório e ampla defesa, uma vez que o interesse jurídico nas questões relacionadas ao direito de
herança pertencem aos herdeiros e não ao espólio. 2. A legitimidade de agir consiste na pertinência subjetiva
da demanda, ou seja, decorre da relação jurídica de direito material existente entre as partes. 3. Na espécie, não
existe vínculo, revelando-se, assim, a sua manifesta ilegitimidade ad causam. AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO E DESPROVIDO. DECISÃO MANTIDA.
Para passar a ser herdeira necessária na ação de inventário, caberia a Rose provar que vivia
união estável com Gugu, configurada pelos seguintes elementos: i) ânimo de constituir
família; ii) estabilidade; iii) publicidade; iv) continuidade; v) ausência de impedimentos
matrimoniais.

Art. 447. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas
ou suspeitas.
[...]
§ 2º São impedidos:
I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau e o colateral,
até o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se o exigir
o interesse público ou, tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não se puder obter
de outro modo a prova que o juiz repute necessária ao julgamento do mérito;
[...]
§ 4º Sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento das testemunhas menores, impedidas
ou suspeitas.

3) Quais desses depoimentos valem mais: o do filho mais velho, João Augusto, que
defende a inexistência de união estável; ou os das filhas gêmeas, que apoiam a mãe e
sustentam a união estável?

A ação de inventário não admite depoimento oral, então não seria possível colher os
depoimentos dos filhos.
Ambos, o filho mais velho e as filhas gêmeas, teriam depoimentos com igual valor em
eventual ação de reconhecimento de união estável: de declarantes apenas, em razão dos
impedimentos do art. 447, § 2º, I, do CPC.

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