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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CIVEL

DA COMARCA DE ARAÇATUBA-SP,

Processo n.º 1016014-82.2019.8.26.0032


PA/DOL 2538515/2022 – Curadoria Especial

LISLEIA LEONATO ROSA, devidamente qualificada nos


autos em epígrafe, vem respeitosamente, por meio da Defensoria Pública do Estado de São
Paulo – Regional de Araçatuba, na qualidade de curadora especial, por intermédio do
Defensor público que esta subscreve, apresentar CONTESTAÇÃO, por negativa geral, com
fulcro no parágrafo único, do artigo 341, do Código de Processo Civil.

I - DOS FATOS

Trata-se de Ação de Reparação por Danos Morais, ajuizada por


Débora Rossane da Silva, aduzindo, em suma, que no dia 06 de Outubro de 2019, durante
uma troca de turno no serviço de cuidados médicos a domicílio, foi surpreendida pela
requerida que, consternada devido ao atraso da autora, passou a gritar e no momento em que a
requerente foi contatar o empregador pelo telefone, a ré a empurrou e passou a desferir socos
em sua cabeça e chutes pelo corpo.
Neste diapasão, alega que a briga só foi encerrada com a
chegada de um transeunte que passava pelo local, que separou ambas e aguardou a chegada da
polícia militar.

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No mais, a autora aduz que não agrediu a requerida, vez que
apenas se defendeu das agressões, expondo que sofreu lesões corporais decorrentes do ato e
acostando aos autos Boletim de Ocorrência e laudo realizado (fls. 20/28), em que se concluiu
ter sido a lesão apresentada de natureza LEVE.
Por fim, em razão do ocorrido, a requerente pleiteia a
condenação da ré ao pagamento do montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de danos
morais e estéticos.
Em despacho de fl. 166, após todas as diligências na tentativa de
localizar a ré restarem infrutíferas, fora determinada sua citação por edital (fls. 167 e 173).
Outrossim, conforme certidão de fl. 176, o prazo para apresentar
contestação, após a publicação do edital, decorreu in albis. Desta feita, fora expedido ofício à
Defensoria Pública, no intuito de nomear curador especial à requerida (fl. 180).

II - DA NEGATIVA GERAL

Por ser desconhecido o paradeiro da requerida, a Defensoria


Pública de Araçatuba foi nomeada a atuar no feito como curador especial.
Desta forma, como prevê o artigo 341, parágrafo único, do
Código de Processo Civil:
Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se
precisamente sobre as alegações de fato constantes da
petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não
impugnadas, salvo se:
Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos
fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado
dativo e ao curador especial.

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Comentando o referido dispositivo, consoante a lição de
Humberto Theodoro Júnior, tem-se que:
Há, também, outro caso em que a presunção de veracidade
dos fatos não impugnados deixa legalmente de operar:
ocorre quando a contestação é formada por advogado
dativo, curador especial ou órgão do Ministério Público
(art. 302, parágrafo único). É que, em tais circunstâncias, o
relacionamento entre o representante não tem a intimidade
ou profundidade que é comum entre os clientes e seus
advogados normalmente contratados.

III - DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Todavia, há de se sopesar e averiguar no caso em comento a


proporcionalidade do dano experimentado pela autora com o valor por ela pleiteado a título de
indenização, a fim de se evitar injustiças, onerando por demasiado a ré, gerando
enriquecimento ilícito por parte da autora.
Consoante conclusão do laudo acostado (fl. 28), a natureza da
lesão corporal restou caracterizada como de grau LEVE, não gerando qualquer debilidade ou
deformidade permanente na requerente.
Assim, caso Vossa Excelência repute devido algum valor a ser
pago pela Ré à Autora, seja a que título for (danos emergentes, lucros cessantes e/ou danos
morais, estéticos), não se pode olvidar que, em todas essas hipóteses, este valor deverá ser
fixado com moderação e razoabilidade, a fim de não gerar enriquecimento ilícito do ofendido.
Da mesma maneira, a fixação do mencionado valor deverá
atender a certos parâmetros, tais como:

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- A capacidade contributiva do ofensor (veja-se que não há nos
autos prova acerca da capacidade da Ré para prover o próprio sustento, tampouco o prejuízo
que o pleito inicial representaria à sua subsistência);
- O grau de culpa da Ré pelo evento e a participação da vítima
no fato;
- As peculiaridades do caso concreto;
Observa-se que tais parâmetros encontram-se sedimentados pela
jurisprudência pátria, como se vê pelos acórdãos abaixo exarados, respectivamente, pelo E.
TJ/SP e STJ:

(...) FIXAÇÃO. PARÂMETROS. EXCESSO


CONFIGURADO. REDUÇÃO OPERADA. A
quantificação da compensação derivada de dano moral
deve levar em consideração o grau da culpa e a capacidade
contributiva do ofensor, a extensão do dano suportado pela
vítima e a sua participação no fato, de tal sorte a constituir
em um valor que sirva de bálsamo para a honra ofendida e
de punição ao ofensor, desestimulando-o e a terceiros a ter
comportamento idêntico, não se constituindo em
enriquecimento sem causa. Assim considerado, o
arbitramento havido, por excessivo, merece redução.
(Apelação n. 0122524-18.2008.8.26.0002 - Relator(a):
Paulo Ayrosa - Comarca: São Paulo - Órgão julgador: 31ª
Câmara de Direito Privado - Data do julgamento:
22/11/2011 - Data de registro: 22/11/2011 - Outros
números: 1225241820088260002)

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RECURSO ESPECIAL - RESPONSABILIDADE CIVIL
- ACIDENTE EM PLATAFORMA DE EXPLORAÇÃO
DE PETRÓLEO - MORTE DE FILHO - DANOS
MORAIS - QUANTUM INDENIZATÓRIO - NÚMERO
DE LESADOS - RAZOABILIDADE - RECURSO NÃO
CONHECIDO.
1. Aos parâmetros usualmente considerados à aferição do
excesso ou irrisão no arbitramento do quantum
indenizatório de danos morais - gravidade e repercussão
da lesão, grau de culpa do ofensor, nível socioeconômico
das partes -, perfaz-se imprescindível somar a quantidade
de integrantes do pólo proponente da lide. A observância
da eqüidade, das regras de experiência e bom senso, e dos
princípios da isonomia, razoabilidade e proporcionalidade
quando da fixação da reparação de danos morais não se
coaduna com o desprezo do número de lesados pela morte
de parente.
2. Ante as peculiaridades da espécie, a manutenção do
quantum indenizatório arbitrado pelo Tribunal a quo, em
valor equivalente a 500 salários mínimos para cada um
dos autores, pais da vítima do acidente laboral, denota
eqüidade e moderação, não implicando em enriquecimento
sem causa.
3. Recurso Especial não conhecido.

(REsp 745.710/RJ, Rel. Ministro CESAR ASFOR


ROCHA, Rel. p/ Acórdão Ministro JORGE
SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em
05/12/2006, DJ 09/04/2007, p. 254)

Desse modo, em atendimento aos parâmetros acima elencados,


torna-se imperiosa a redução drástica dos valores buscados pela Autora a título de
ressarcimento pelos danos que alega ter sofrido, sob pena de enriquecimento ilícito e ofensa
aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.

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IV - DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:

a) A total improcedência da demanda, com fulcro no artigo


341, parágrafo único, do Código de Processo Civil;
b) Caso Vossa Excelência repute devido algum valor a ser
pago pela Ré à Autora, a título de danos morais e estéticos e, em atendimento aos parâmetros
acima elencados, de rigor a redução drástica do valor buscado pela Autora a título de
ressarcimento pelos danos que alega ter sofrido, sob pena de enriquecimento ilícito;
c) Derradeiramente, a observância das prerrogativas legais
de contagem em dobro de todos os prazos e intimação pessoal da Defensoria Pública de todos
os atos processuais, nos termos do artigo 186 do Código de Processo Civil.

Araçatuba, 27 de julho de 2022.

FABRÍCIO KEIDY ARAKAKI MATHEUS FAGUNDES MASSA


Defensor Público Estagiário de Direito

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