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Ética Geral e Jurídica

Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

P618e

Pieritz, Vera Lúcia Hoffmann

Ética geral e jurídica. / Vera Lúcia Hoffmann Pieritz. – Indaial:


UNIASSELVI, 2021.

310 p.; il.

ISBN 978-65-5663-374-9
ISBN Digital 978-65-5663-375-6

1. Ética jurídica. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 341.415

Impresso por:
Apresentação
Olá, caro acadêmico, eu sou a sua professora e autora nesta Disciplina de
Ética Geral e Jurídica e me chamo Vera Lúcia Hoffmann Pieritz, sou doutoranda
no curso de Administração e Gestão em Saúde Pública na Universidad
Columbia Del Paraguay – PY, tenho mestrado em Desenvolvimento Regional,
especialista em Direito Médico e Hospitalar, Educação a Distância: Gestão
e Tutoria; MBA Profissional em Gestão Administrativa e Marketing. Tenho
graduação em Direito e Serviço Social. Com experiência profissional em
coordenação de Cursos de Graduação da área Social e jurídica.

No estudo da “Ética Geral e Jurídica”, pretendemos aprofundar os


conhecimentos acerca das questões relativas à ética geral e jurídica, como
também ampliar a percepção da ética na atuação profissional dos operadores
do direito em suas diversas instâncias de atuação profissional.

Para isto, na primeira unidade, trabalharemos uma reflexão em torno


da “ética geral”, refletindo sobre as noções da ética e da moral, procurando
desvelar as questões pertinentes ao desenvolvimento do sujeito ético-moral,
às bases éticas, como também discutiremos suas principais características e
diferenças, mas não deixaremos de proporcionar um estudo sobre a consciência
e a conduta moral.

Nesta unidade, ainda, discorreremos sobre os valores e princípios


morais, estudando a essência intrínseca da moral e os valores e princípios morais
como princípios norteadores da ética, como também demostraremos alguns
apontamentos sobre a ética e as relações humanas na atualidade, debatendo
sobre as questões éticas atuais, a ética e a liberdade humana e, por fim, o espaço
da ética na relação indivíduo e sociedade e suas relações humanas.

Na segunda unidade, ampliaremos a sua percepção com relação à


“ética jurídica”, oferecendo subsídios para você compreender as questões da
ética nas profissões jurídicas, elucidando as características da ética no direito.
Como também, será desenvolvida uma reflexão atinente à deontologia
forense, à obrigação de ser ético no direito e à responsabilidade jurídica.

Nesse sentido, proporcionaremos ainda a compreensão dos princípios


éticos comuns às carreiras jurídicas, como os princípios da cidadania,
efetividade, probidade, liberdade, princípio da defesa de prerrogativas
profissionais e o princípio da informação e solidariedade.

Ainda, trabalharemos nesta segunda unidade, as questões da ética e


suas relações com outras ciências humanas e sociais, estudando as relações da
ética com outras ciências, principalmente a ética no direito positivo, ética na
área do direito público e privado, como também refletiremos sobre a ética e
bioética e a bioética e direito.
Na terceira unidade, proporcionaremos um contato maior com as
questões da “ética na atuação profissional dos operadores do direito”, em
que você poderá estudar primeiramente sobre a ética do estudante do curso
de direito, para assim compreender a importância da ética para a formação
desse estudante, como também faremos uma análise da postura ética, os
direitos e deveres dos estudantes de direito. Nesta última unidade do nosso
livro, também ofereceremos subsídios para você compreender as nuances
da ética na advocacia, em que estudaremos o código de ética e disciplina da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), refletindo sobre a ética e advocacia,
suas regras deontológicas fundamentais, como também a ética do advogado
e o processo ético disciplinar.

Propiciaremos ainda um debate relativo à ética na carreira jurídica,


procurando evidenciar as principais características dos diversos códigos
de éticas, tanto da magistratura, defensoria pública, ministério público,
promotores de justiça, desembargadoria e dos delegados de polícia.

Por fim, discorreremos sobre a ética na consultoria jurídica,


proporcionando uma reflexão sobre a ética na assessoria e consultoria
jurídica, como também estudaremos o compliance e a ética na mediação,
conciliação e arbitragem.

Ufa! Quanta Coisa!

Pronto para começar a estudar sobre a Ética Geral e Jurídica?

Então, vamos começar!

Bons estudos!

Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL......................................................................................................... 1

TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL.......................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 A QUESTÃO DA ÉTICA E DA MORAL......................................................................................... 4
3 O DESENVOLVIMENTO DO SUJEITO ÉTICO-MORAL .......................................................... 9
4 CONCEITO DE ÉTICA...................................................................................................................... 12
5 ÉTICA E MORAL: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E DIFERENÇAS ............................. 20
6 A AUSÊNCIA E OS CONTRÁRIOS A ÉTICA E A MORAL..................................................... 28
7 SÍNTESE CONCEITUAL DA ÉTICA E MORAL......................................................................... 31
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 45
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 47

TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA


E CONDUTA MORAL................................................................................................ 49
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 49
2 OS VALORES E PRINCÍPIOS MORAIS COMO PRINCÍPIOS NORTEADORES
DA ÉTICA............................................................................................................................................ 50
3 A ESSÊNCIA INTRÍNSECA DA MORAL .................................................................................... 55
4 A CONSCIÊNCIA E O EMPODERAMENTO MORAL ............................................................. 59
5 OS ESTÁGIOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E MORAL: AS ETAPAS DA
EVOLUÇÃO HUMANA.................................................................................................................... 67
5.1 PRIMEIRO ESTÁGIO: MEDO, PUNIÇÃO E OBEDIÊNCIA ................................................. 70
5.2 SEGUNDO ESTÁGIO: RECOMPENSA..................................................................................... 71
5.3 TERCEIRO ESTÁGIO: APROVAÇÃO SOCIAL........................................................................ 73
5.4 QUARTO ESTÁGIO: MANUTENÇÃO DA ORDEM SOCIAL.............................................. 75
5.5 QUINTO ESTÁGIO: PROTEÇÃO DO BEM-ESTAR COLETIVO........................................... 77
5.6 SEXTO ESTÁGIO: ZELO PELOS PRINCÍPIOS ÉTICOS UNIVERSAIS................................ 79
6 A CONDUTA MORAL ..................................................................................................................... 82
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 86
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 88

TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE............................. 91


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 91
2 AS QUESTÕES ÉTICAS ATUAIS................................................................................................... 93
2.1 OS DILEMAS NO ÂMBITO DA FAMÍLIA................................................................................ 96
2.2 REFLEXÕES SOBRE A SOCIEDADE CIVIL.............................................................................. 98
2.3 PONDERAÇÕES SOBRE OS DILEMAS DO ESTADO ........................................................... 99
3 ÉTICA E LIBERDADE HUMANA................................................................................................ 100
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 108
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 121
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 122

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 123
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA.............................................................................................. 125

TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS................................................................ 127


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 127
2 A ÉTICA NO DIREITO E NAS PROFISSÕES JURÍDICAS.................................................... 128
3 A QUESTÃO DA JUSTIÇA NA ÉTICA JURÍDICA.................................................................. 131
3.1 SENTIDOS DA JUSTIÇA............................................................................................................ 134
3.2 A DIMENSÃO DA JUSTIÇA COMO EQUIDADE................................................................. 136
3.3 MORALIDADE E JUSTIÇA....................................................................................................... 138
4 APONTAMENTO SOBRE A ÉTICA EM ALGUMAS ÁREAS DO DIREITO...................... 139
4.1 A ÉTICA E O DIREITO CONSTITUCIONAL ....................................................................... 139
4.2 A ÉTICA E O DIREITO CIVIL ................................................................................................. 140
4.3 A ÉTICA E O DIREITO PENAL................................................................................................ 142
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 150
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 152

TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA................................................................................... 155


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 155
2 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS A DEONTOLOGIA.............................................................. 156
3 A DEONTOLOGIA JURÍDICA..................................................................................................... 160
4 PRINCÍPIOS GERAIS DA DEONTOLOGIA JURÍDICA........................................................ 164
4.1 PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA........................................ 164
4.2 PRINCÍPIO DA CONDUTA ILIBADA ................................................................................... 165
4.3 PRINCÍPIO DO DECORO E DA DIGNIDADE...................................................................... 166
4.4 PRINCÍPIO DA DILIGÊNCIA................................................................................................... 167
4.5 PRINCÍPIO DA CONFIANÇA.................................................................................................. 167
4.6 PRINCÍPIO DO COLEGUISMO................................................................................................ 168
4.7 PRINCÍPIO DO DESINTERESSE.............................................................................................. 168
4.8 PRINCÍPIO DA FIDELIDADE................................................................................................... 168
4.9 PRINCÍPIO DA RESERVA.......................................................................................................... 169
4.10 PRINCÍPIO DA LEALDADE E DA VERDADE.................................................................... 169
5 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO FUNDAMENTO DA ÉTICA
JUDICIAL E DA JUSTIÇA.............................................................................................................. 170
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 184
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 186

TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS.................... 189


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 189
2 OS PRINCÍPIOS ÉTICOS E SUA APLICAÇÃO NO EXERCÍCIO DO DIREITO............... 190
3 PRINCÍPIO DA CIDADANIA....................................................................................................... 190
4 PRINCÍPIO DA LIBERDADE........................................................................................................ 195
5 A DEMOCRACIA COMO ELEMENTO DO COMPORTAMENTO
ÉTICO JURÍDICO............................................................................................................................ 196
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 202
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 215
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 217

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 219
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES
DO DIREITO........................................................................................................... 223

TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB............................................................................... 225


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 225
2 OAB E SEU ESTATUTO ................................................................................................................. 227
2.1 TÍTULO I – DA ADVOCACIA................................................................................................... 229
3 DA ÉTICA DO ADVOGADO E TEMAS FINAIS DO ESTATUTO DA OAB...................... 239
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 250
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 252

TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO................................................................ 255


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 255
2 DA ÉTICA DO ADVOGADO ....................................................................................................... 256
2.1 DAS RELAÇÕES COM O CLIENTE......................................................................................... 261
2.2 DO SIGILO PROFISSIONAL..................................................................................................... 263
2.3 DA PUBLICIDADE, DOS HONORÁRIOS PROFISSIONAIS E OUTROS ASSUNTOS......... 265
2.3.1 Capítulo IV – da publicidade............................................................................................ 265
2.3.2 Capítulo V – Dos honorários profissionais..................................................................... 268
2.3.3 Capítulo VI – Do dever de urbanidade........................................................................... 270
2.3.4 Capítulo VII – Das disposições gerais............................................................................. 270
3 DO PROCESSO DISCIPLINAR.................................................................................................... 271
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 280
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 282

TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA........................ 285


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 285
2 CÓDIGO DE ÉTICA DO ESTUDANTE DE DIREITO E DOS OPERADORES
DE DIREITO...................................................................................................................................... 286
2.1 ÉTICA PARA OS ESTUDANTES DE DIREITO...................................................................... 286
2.2 ÉTICA PARA OS MAGISTRADOS........................................................................................... 287
2.3 ÉTICA PARA OS DEFENSORES PÚBLICOS.......................................................................... 294
3 COMPLIANCE E DIREITO ............................................................................................................ 297
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 301
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 305
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 307

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 309
UNIDADE 1 —

A ÉTICA GERAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as nuances relativas da ética geral;


• elucidar as noções sobre ética e moral;
• ampliar a percepção relativa ao desenvolvimento do sujeito ético-moral;
• sedimentar as bases éticas, no intuído de desmistificar as principais
características e diferenças da ética e moral;
• perceber as questões da conduta e da consciência moral;
• aprofundar os conhecimentos acerca dos valores e princípios morais;
• compreender a essência intrínseca da moral e os valores e princípios
morais como princípios norteadores da ética;
• refletir sobre os apontamentos sobre a ética na atualidade;
• oferecer subsídios sobre a ética e a liberdade humana;
• compreender o espaço da ética na relação indivíduo e sociedade.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

TÓPICO 2 – DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E


CONDUTA MORAL

TÓPICO 3 – A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico da primeira unidade do seu livro de Ética
Geral e Jurídica, realizaremos um aprofundamento dos nossos conhecimentos
acerca das principais noções sobre a ética e a moral, perpassando por uma
reflexão a respeito da questão da Ética e da moral, desvelando o significado e o
desenvolvimento do Sujeito Ético-Moral e seus fundamentos e bases éticas.

Debateremos aqui a questão da Ética e Moral, realizando uma reflexão


sobre suas principais características, semelhanças e diferenças, proporcionando
um contato com seus elementos e propriedades, para assim esclarecer seus
atributos conceituais.

Discorreremos sobre a questão relativa à Consciência Moral no


desenvolvimento do ser humano, para que ele possa ter uma vida permeada
pelo respeito e a dignidade, pois devemos ter por premissa preliminar que é a
Conduta Moral dos seres humanos que faz toda a diferença na sua qualidade de
vida perante a sociedade que vive e convive, a qual reflete diretamente na sua
dignidade.

Nesse sentido, ressalva-se que é primordial compreendermos o que, em


nosso comportamento perante os outros, faz bem ou mal, o que é certo e errado,
para assim nortearmos a nossa conduta humana em sociedade.

Então! Convidamos-lhe a compreender as principais noções sobre a ética


e a moral!

Boas reflexões!

3
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

FIGURA 1 – ÉTICA E MORAL

FONTE: <https://bit.ly/3cbtt5b>. Acesso em: 9 fev. 2021.

2 A QUESTÃO DA ÉTICA E DA MORAL


Com relação às questões da ética e da moralidade, pode-se expor que as
duas estão conectadas de maneira implícita no próprio comportamento do homem
em sociedade, no meio social, político e econômico que vivem e convivem com os
outros, ou seja, na sua condição de ser e de agir, pois, segundo Pieritz (2020, p. 4), “a
consciência moral do certo e do errado, do bem e do mal, é formada pela composição
histórica dos nossos costumes e das nossas ações em sociedade, formando, assim,
uma moralidade e uma ética implícita nas ações do ser humano e refletida no seu
convívio social”. É esse comportamento ético e moral sobre as coisas e os fatos que
formam o nosso convívio social e a própria sociedade em que vivemos.

É importante ressaltar que a ética e a moral estão permeadas constantemente


em nossas vidas, pois, segundo Tavares (2013, p. 4), é “no nosso dia a dia [que] a
ética tem presença garantida, porque ela faz parte do ser humano em todas as suas
atividades, funções, espaço, ou seja, na família, no trabalho, no lazer, enfim, onde o
ser humano interage com outro, a ética aí se faz presente”. Demostrando que nossas
ações e decisões diárias estão carregadas de princípios éticos e de valores morais.

Nesse sentido, de acordo com Pieritz (2020, p. 4), “a questão da ética e


da moral está além dos seus conceitos preeminentes, já que é um conceito vivo,
moldando-se no nosso comportamento diário que permuta o conceito para a
prática das relações humanas e sociais”. A qual essa questão foi ressalvada por
Tomelin e Tomelin (2002, p. 89), que nos colocam que “a ética é uma das áreas da
filosofia que investiga sobre o agir humano na convivência com os outros [...]”.

Pieritz (2020, p. 4) demostra que, sob esta perspectiva, o:


Nosso comportamento ético e moral é objeto do estudo da própria
filosofia, que busca investigar a racionalidade do comportamento
humano perante a sociedade, como também procura compreender os
princípios fundamentais dos seres humanos, que permeiam a nossa
vida cotidiana.

4
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Pode-se expor que a ética e a moral são mutáveis conforme a própria


evolução humana e a compreensão da vida em sociedade.

Outro fator que merece uma reflexão, é que a ética, segundo Cunha (2011,
p. 140), é o “ramo do conhecimento cuja finalidade é estabelecer os melhores
critérios para o agir”. Demostrando, assim, que esses critérios, segundo Pieritz
(2020, p. 4), “são estabelecidos socialmente e que norteiam o convívio do ser
humano em sociedade”, já que podemos compreender que a ética é tida como
“normas e princípios que dizem respeito ao comportamento do indivíduo no
grupo social a que pertence” (GUIMARÃES, 2016, p. 377).

Desse modo, segundo Leyser (2018, p. 3), “na linguagem comum,


frequentemente utilizamos as palavras ética e moral (e antiético e imoral) de
forma intercambiável, isto é, falamos da pessoa ou ato como ético ou moral”, pois
todos os nossos comportamentos em sociedade são compreendidos socialmente
como certo ou errado, ético ou antiético, moral ou imoral, denotando sempre os
dois lados de uma mesma moeda.

Solomon (2006, p. 12) coloca-nos que “estudar ética não é escolher entre o
bem e o mal, mas é se sentir confortável diante da complexidade moral”, porque
devemos compreender que estamos “buscando aprofundar o conhecimento
acerca do nosso agir perante a sociedade em que vivemos, pois se faz necessário
realizar um estudo das nossas atitudes éticas e morais, para assim podermos
refletir e entender essas questões balizares das nossas atitudes e comportamentos”
(PIERITZ, 2020, p. 5).

De tal modo que, a partir desse aporte conceitual, inicialmente trabalhado,


Pieritz (2013, p. 3) coloca-nos que:
Com relação aos problemas éticos e morais do comportamento humano,
observamos que a ética não é facilmente explicável, ao sermos indagados,
mas todos nós sabemos o que é, pois está diretamente relacionada
aos nossos costumes e às ações em sociedade, ou seja, ao nosso
comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com os outros
integrantes da sociedade.

Assim, fica evidente que possuímos uma noção empírica do que é a ética
e a moral, que é historicamente constituído em sociedade, já que convivemos com
os outros nos grupos sociais a que fazemos parte, e esse comportamento faz parte
da própria cultura do povo.

Neste sentido, vale salientar que:


[...] é na convivência humana e social que refletimos os nossos valores
éticos e morais, que foram construídos historicamente na sociedade e
grupo social a qual fazemos parte. E, que estes valores éticos e morais
são concebidos de acordo com a visão de mundo de cada um, dentro
do seu contexto social, pois, cada um de nós possui uma visão do que
é o bem e o mal, do que é certo e errado. (PIERITZ, 2020, p. 5).

5
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Leyser (2018, p. 4) nos complementa expondo:


Quando falamos de pessoas como sendo morais ou éticas, geralmente,
queremos dizer que elas são pessoas boas, e quando falamos delas
como sendo imorais ou antiéticas, queremos dizer que elas são
pessoas más. Quando nos referimos a certas ações humanas como
sendo morais, éticas, imorais ou antiéticas, queremos dizer que elas
estão certas ou erradas. A simplicidade dessas definições, contudo,
termina aqui, pois como definimos uma ação certa ou errada ou uma
pessoa boa ou má? Quais são os padrões humanos pelos quais tais
decisões podem ser tomadas? Estas são as questões mais difíceis que
constituem a maior parte do estudo da moralidade [...].

Entretanto, vale ressaltar que a consciência moral e ética dos homens que
vivem e convivem em sociedade, segundo Pieritz (2013, p. 4), “é determinada por
um consenso coletivo e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e
compõe as normas de conduta que o regem”. Proporcionando ao ser humano
“um regramento comportamental empírico, ditado pelos comportamentos éticos e
morais, como também pelos regramentos e normativas institucionais, balizados em
regras e normas legais do legislativo, executivo e judiciário” (PIERITZ, 2020, p. 5)

Partindo dessa concepção, pode-se expor que todo o comportamento


socialmente constituído deve estar pautado por normas sociais, institucionais e
legais, e que ambas seguem as premissas constitucionais.

E
IMPORTANT

Prezado acadêmico, com relação a questão das normativas e regramentos,


queremos instigá-los a aprofundar os seus conhecimentos relativos aos princípios e valores
constitucionais brasileiros. Assim, os convidamos a fazer a leitura e análise dos Artigos 1º,
3º e 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, que foi promulgada em 1988. Na
íntegra em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.

Continuando nossa reflexão, Leyser (2018, p. 4) complementa expondo


que “o importante é lembrar, aqui, que a moral, ética, imoral e antiética significam,
essencialmente, o bom, o certo, o mau e o errado, com frequência, dependendo
se alguém está se referindo às próprias pessoas ou as suas ações”. Denotando,
assim, que são nossas ações que norteiam nosso comportamento ético e moral.

Assim, com relação a essa reflexão relativa à problemática teórica da


ética e da moralidade na vida dos seres humanos, buscou-se oferecer elementos
que possam proporcionar a compreensão de que existem comportamentos
positivados e outros negativados socialmente, o qual podem ser desmistificadas
no Quadro 1, que apresenta os dois campos dos problemas teóricos da ética e da
moral. Vejamos!

6
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

QUADRO 1 – CAMPOS DO PROBLEMA TEÓRICO DA ÉTICA E DA MORAL

CAMPOS CARACTERÍSTICAS
Tais como:
• Liberdade;
PROBLEMAS GERAIS E • Consciência;
FUNDAMENTAIS • Bem e Mal;
• Valor;
• Lei e outros.
Na aplicação concreta, como os problemas da:
• Ética profissional;
PROBLEMAS • De ética política;
ESPECÍFICOS • De ética sexual;
• De ética matrimonial;
• De bioética; etc.
FONTE: Adaptado de Valls (2003, p. 8)

Esses campos dos problemas teóricos da ética e da moral apresentados no


Quadro 1, demostram que existem problemáticas gerais e basilares como também
questões mais específicas, os quais Pieritz (2020, p. 6) destaca:
A ética e a moral permeiam em nossas vidas cotidianas, desde nossas
ações mais fundamentais e básicas, que é o processo de decisão do que é
o certo e o errado a se fazer, dos nossos valores e princípios morais, até
nas ações mais específicas, que estão refletidas no nosso modo operante
de fazer as coisas e se relacionar com o outro em sociedade.

Demostrando assim, que a questão da moral e da ética é concebida como a


base estruturante das nossas relações sociais, humanas, políticas e econômicas, pois,
estas normativas éticas e morais é que norteiam o nosso comportamento em sociedade.

ATENCAO

Você saberia dizer o que é certo e errado, se estamos fazendo o bem ou o mal?

Reflita sobre essa questão e depois leve suas indagações para discutir em sala.

FIGURA 2 – CERTO OU ERRADO?

FONTE: <https://bit.ly/2ODqGd6>. Acesso em: 9 fev. 2021.

7
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Qual o lado da balança que pesa mais em nossas decisões?


Que direção Tomar?

FIGURA 3 – DIREÇÕES A TOMAR

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/625507835722319479/>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Esses são bons questionamentos! Não acham?

É importante, aqui, refletirmos o seguinte:

• Os problemas éticos são os mesmos dos problemas morais?


• É a ética e a moral que ajudam na tomada das decisões do caminho a seguir?

Olha só! Primeiramente, precisamos entender que esta problemática da


ética e da moral é desvelada por algumas características genéricas, que permitem
fazermos uma distinção entre elas, como podem verificar suas diferenças e aspectos
comuns no Quadro 2.

QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS GENÉRICAS DA MORAL E DA ÉTICA

CARACTERÍSTICAS
QUESTÃO
ESPECÍFICAS COMUNS

• A moral se caracteriza pelos • O que há de comum


PROBLEMAS DA VIDA entre elas é fazer o
COTIDIANA. homem pensar sobre a
• A moral faz pensar as RESPONSABILIDADE
MORAL das consequências de
CONSEQUÊNCIAS GRUPAIS,
adverte para normas culturalmente suas ações.
formuladas ou pode estar
fundamentado num princípio ético.
• A ética faz pensar sobre as
CONSEQUÊNCIAS UNIVERSAIS,
sempre priorizando a vida
ÉTICA
presente e futura, local e global. A
ética pode, desta forma, pautar o
comportamento moral.
FONTE: Adaptado de Tomelin e Tomelin (2002, p. 90)

8
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Desse modo, verificou-se que a ética e a moral possuem características


conceituais particulares e gerais que as definem, como apresentado no quadro
supracitado. Entretanto pode-se verificar que “tanto na ética como na moral é a
questão da responsabilidade das consequências de nossas ações que refletem o
nosso agir perante a sociedade em que estamos inseridos, sejam elas de âmbito
micro (grupo intrafamiliar e amizades pessoais) ou macro (regional, comunitário,
empresarial e social)” (PIERITZ, 2020, p. 8).

Proporcionando a compreensão de que são os princípios éticos e morais


que conduzem as nossas decisões comportamentais perante a sociedade que
vivemos e convivemos com os outros.

Leyser complementa essa reflexão:


A moralidade reivindica nossas vidas. Faz reivindicações sobre cada
um de nós que são mais fortes do que as reivindicações da lei e tem
prioridade sobre o interesse próprio. Como seres humanos que vivem
no mundo, temos deveres e obrigações básicas. Há certas coisas que
devemos fazer e certas coisas que não devemos fazer. Em outras palavras,
há uma dimensão ética da existência humana. Como seres humanos,
experimentamos a vida em um mundo de bem e mal e entendemos
certos tipos de ações em termos de certo e errado. A própria estrutura da
existência humana dita que devemos fazer escolhas. A ética nos ajuda
a usar nossa liberdade de maneira responsável e a compreender quem
somos. E, a ética dá direção em nossa luta por responder às perguntas
fundamentais que questionam como devemos viver nossas vidas e
como podemos fazer escolhas certas (LEYSER, 2018, p. 3).

Assim, segundo Pieritz (2020, p. 8):


tanto a ética como os princípios morais nos devem auxiliar na reflexão
sobre a responsabilidade das consequências advindas de nossas
ações perante o meio familiar e social em que vivemos e convivemos,
norteando as nossas decisões de fazermos o que é certo e errado, o que
faz bem ou o mal para nós e para o outro.

Esses preceitos éticos e morais fazem com que possamos tomar o melhor
caminho a ser seguido perante a sociedade a qual fazemos parte.

3 O DESENVOLVIMENTO DO SUJEITO ÉTICO-MORAL

Depois de termos explorado as questões relativas à ética e à moralidade no


comportamento humano, neste momento, realizaremos uma reflexão a respeito do
desenvolvimento do sujeito ético-moral em si, procurando desvelar seu significado
e trazer à tona suas principais características. De tal modo, desmistificar-se-á seus
atributos e predicados conceituais, para assim proporcionar uma compreensão
de como a ética e a moral permeiam em nossas vidas cotidianas.

Entusiasmados? Vamos lá!

9
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Primeiramente, devemos compreender que:


Todos os homens fazem parte de uma sociedade, de um grupo social,
portando, podemos dizer que os homens em sociedade convivem em
grupo. Cada grupo social possui diferentes características culturais
e morais, como, por exemplo: os povos indígenas, os orientais, os
africanos, os alemães, os franceses, os italianos, os americanos, os
brasileiros, entre muitos outros. Cada sociedade possui suas normas de
conduta comportamental e seus princípios morais, ou seja, cada grupo
social constituiu o que é certo e errado, o que é o bem e o mal para o
seu povo, portanto, nem sempre o que é certo para nós pode ser certo
para outro grupo social e vice-versa (PIERITZ, 2013, p. 5, grifo nosso).

Como exposto, todos nós, seres humanos, somos diferentes mesmo que
convivamos em um mesmo grupo social, pois, de acordo com Pieritz (2020, p. 9) é:
Importante compreendermos que, se fazemos parte de uma
comunidade, de um grupo social ou grupo familiar, ou seja, de uma
sociedade, devemos entender que todos nós somos diferentes e
possuímos valores e princípios éticos e morais diferenciados, sendo
que cada etnia possui seu próprio jeito de ser e conviver, instituindo
regras sociais, políticas, econômicas e jurídicas de convivência.

Nesse sentido, como nós temos digitais diferentes, possuímos princípios


éticos e morais semelhantes, mas nunca iguais, pois temos o livre arbítrio da
escolha, segundo nossa cultura e formação intelectual. Então, segundo Pieritz
(2020, p. 9), “tudo depende da formação dos valores e princípios éticos e morais
sócio-históricos da comunidade a que pertencemos”.

Ressalva-se, ainda, que devemos compreender que nessa questão de


fazer o certo ou errado, de fazer o bem ou o mal, a nossa compreensão relativa
a esse comportamento e decisão é diferente para cada um de nós, ou seja, para
cada grupo social, político e econômico ou etnia, pode ser dispare, conforme sua
formação sócio-histórica e cultural.

Conforme Pieritz (2020, p. 9), “de acordo com o desenvolvimento sócio-


histórico dos valores e princípios éticos e morais de um determinado grupo social,
essa comunidade em si, desenvolve seu próprio jeito de ser, seu comportamento
social e moral, formatando socialmente sua tradição, costumes, hábitos e cultura”.

Nesse sentido, de acordo com Tavares (2013, p. 3), “a ética e a moral são os
condutores para a sustentabilidade de uma sociedade mais humana, mais justa,
mais igualitária. É o bem comum que subsidia as condições para as condutas
morais, para a manutenção de valores que coadunam com o interesse coletivo”.

10
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

NOTA

“Podemos pegar como exemplo a cultura do nascimento de crianças. Existem


algumas sociedades indígenas em que a mãe, ao dar à luz, embrenha-se na mata sozinha
e se o filho não for perfeito, segundo os seus princípios morais, ela o abandona a sua
própria sorte. À luz de nossos princípios morais, essa ação seria considerada um crime de
abandono” (PIERITZ, 2013, p. 6).

O que é cultura?

Vejamos!

No quadro a seguir, veremos elementos importantes do conceito de


Cultura.

QUADRO 3 – CONCEITO DE CULTURA

CULTURA

É o conjunto de práticas assinaladas


É o CONJUNTO ou RESULTADO
por ELEMENTOS CONSTANTES ou
das ações humanas.
COMUNS de um grupo social.

É o complexo de PADRÕES de comportamento, de crenças, das instituições,


das manifestações artísticas, intelectuais etc., TRANSMITIDOS
COLETIVAMENTE E TÍPICOS DE UMA SOCIEDADE.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 99)

O quadro supracitado expõe os principais elementos do conceito de


cultura, que transmite o modo coletivo de ser de um povo, suas características e
comportamentos social e historicamente constituídos. Denotando seus costumes,
crenças e hábitos. Na própria cultura permeia os valores éticos e morais.
11
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Agora, poderemos verificar, na Figura 4, alguns exemplos visuais da


diversidade cultural do povo brasileiro.

FIGURA 4 – DIVERSIDADE CULTURAL

FONTE: <https://definicao.net/wp-content/uploads/2019/05/diversidade-cultural-1.jpg>.
Acesso em: 9 fev. 2021.

Assim, verifica-se que no desenvolvimento do sujeito ético-moral os


elementos da formação cultural são expoentes no processo de decisão do seu
comportamento moral, e que cada cidadão possui um desenvolvimento histórico
diferente, sempre relacionado as suas prerrogativas legais e éticas, que mediam
seu comportamento junto ao grupo social, político e econômico do qual faz parte.

DICAS

Prezado Acadêmico, se você quiser saber mais sobre o comportamento moral


desses grupos sociais/povos, pesquise na internet sobre a cultura de cada povo. Assim, você
poderá observar as diferenças culturais de cada um e identificar seus princípios morais.

4 CONCEITO DE ÉTICA
Agora que você já compreendeu um pouco das questões da ética e da
moralidade no comportamento do ser humano, como também realizamos uma
reflexão a respeito do desenvolvimento do sujeito ético-moral e vimos que cada
grupo ou composição possui diferentes costumes, princípios, valores éticos e
morais e que foi constituído historicamente pelos componentes do seu provo,
resta compreender e estudar o significado da ética em si.
12
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Sob esse cenário, indagamos:


Afinal, o que é ética?
Vejamos!

Partiremos do conceito estrito do dicionário do direito, para irmos aos


poucos decifrando seus elementos conceituais. Nesse sentido, de acordo com
Cunha (2011, p. 140), a ética é compreendida como:

QUADRO 4 – CONCEITO DE ÉTICA

ÉTICA

São as NORMAS E PRINCIPIOS que dizem respeito ao comportamento do


indivíduo no grupo social a que pertence.

É a CIÊNCIA cujo objeto é a MORAL. É a FILOSOFIA da moral.

É o RUMO DO CONHECIMENTO cuja finalidade é estabelecer os


melhores critérios para o agir.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 140) e Guimarães (2016, p. 377)

De tal modo, pode-se expor que a ética denota o agir comportamental dos
seres humanos em sociedade, estudando e mediando as melhores formas que
normatizem e institucionalizem nosso comportamento social, político e econômico.

Sob essa perspectiva, Leyser (2018, p. 3, grifo nosso) complementa


expondo que:
Ética vem do termo grego ethike que provém de ethos, que por sua vez
deriva de duas matizes distintas, uma que designa costumes normativos
e outra que ensina constância do comportamento, hábito ou caráter. Na
verdade, o termo ethos é uma transposição metafórica de um termo que
denota a morada dos animais (VAZ, 2006). Os gregos antigos ao fazerem
essa transposição queriam se referir ao mundo humano, quanto aos
seus costumes e o próprio agir humano que constituiria sua morada e,
simultaneamente, seu caráter.

13
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Assim sendo, Tomelin e Tomelin (2002, p. 89) ainda nos colocam que “a
palavra ética provém do grego ethos e significa hábitos, costumes, e se refere à
morada de um povo ou sociedade. A palavra moral provém do latim morális e
significa costume, conduta”. Comprovando que:
A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento
que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que
é certo ou errado, o que é bom ou mau, porém, este comportamento
sempre partirá do ponto de vista dos princípios morais de cada
sociedade, ou seja, seu grupo social. A ética auxilia no esclarecimento e
na explicação da realidade cotidiana de cada povo, procurando sempre
elaborar seus conceitos conforme o comportamento correspondente
de cada grupo social (PIERITZ, 2013, p. 7).

De tal modo, Pieritz (2020, p. 11, grifo nosso) expõe que “pode-se
compreender que a ética reflete os hábitos e costumes gerais de uma sociedade,
suas normativas e convenções, que fora institucionalizada pelo coletivo social,
e a moral é a forma que conduzimos nossos atos perante o outro, ou seja, é a
conduta em si”.

Nesse sentido, a ética pode ser compreendida como os pilares normativos


de nossa conduta moral perante a sociedade em que vivemos e convivemos, pois,
é a ética que normatiza e dita as regras do jogo, expondo qual o melhor caminho a
ser seguido. E, a moral denota a nossa decisão e a nossa ação a respeito das regras
socialmente constituídas.

Mediante essa reflexão do conceito da ética, vejamos no Quadro 5 o que


é a ética.

QUADRO 5 – O QUE É ÉTICA?

• ESTUDO DOS JUÍZOS de apreciação que se referem


à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal.
• Conjunto de NORMAS E PRINCÍPIOS que norteiam
a boa conduta do ser humano.
FONTE: Adaptado de Houaiss (2009, p. 324)

Mediante esses elementos da ética, pode-se expor que a ética realiza um


estudo dos juízos e valores do comportamento humano em sociedade, e mediante
essas análises comportamentais, desenvolve normativas e princípios ético-morais,
que mediarão a vida dos homens em sociedade.

A partir dessas análises preliminares, Vazquez (2005, p. 20) completa essa


discussão expondo que “o ético transforma-se, assim, numa espécie de legislador do
comportamento moral dos indivíduos ou da comunidade”, pois podemos verificar
que a ética examina a conduta dos seres humanos na sociedade a qual pertence, já
que “a ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana
ou forma de comportamento dos homens [...]” (VAZQUEZ, 2005, p. 21).

14
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Desse modo, pode-se dizer que ser ético é saber legislar sobre o
comportamento humano, buscando explicar e investigar a conduta em si, seus
prós e contras, definindo os caminhos que poderão ser seguidos. Ditando, assim,
o comportamento moral das pessoas.

Vale frisar aqui, que “o valor de ética está naquilo que ela explica – o fato
real daquilo que foi ou é [...], e não no fato de recomendar uma ação ou uma atitude
moral” (PIERITZ, 2013, p. 7, grifo nosso).

A ética não recomenda como agimos perante os outros, a ética nos dá as


diretrizes comportamentais, pois, segundo Pieritz (2020, p. 12), “a ética está posta
para nos explicar o nosso agir junto à comunidade e grupo social a que vivemos
e convivemos”.

Nesse sentido:
Ética é a ciência da conduta humana, segundo o bem e o mal, com vistas
à felicidade. É a ciência que estuda a vida do ser humano, sob o ponto
de vista da qualidade da sua conduta. Disto precisamente trata a Ética,
da boa e da má conduta e da correlação entre boa conduta e felicidade,
na interioridade do ser humano. A Ética não é uma ciência teórica ou
especulativa, mas uma ciência prática, no sentido de que se preocupa com
a ação, com o ato humano. (ALONSO; LÓPEZ; CASTRUCCI, 2006, p. 3).

De acordo com Pieritz (2020, p. 12), “a ética é considerada uma ciência


que estuda a conduta humana, suas normas e comportamentos reais, para
proporcionar a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos”. Visto que,
na convivência social saudável, é importante termos diretrizes norteadoras de
que possibilidades de decisões poderemos tomar perante os outros que vivem e
convivem conosco. Por isso, a ética é muito importante para os seres humanos,
pois ela baliza o nosso comportamento moral.

Ressalva-se ainda que “existem grandes transformações históricas


no decorrer dos tempos em nossa sociedade. E com essas mudanças, o nosso
comportamento também muda e, consequentemente, os nossos princípios morais
também” (PIERITZ, 2013, p. 7).

E ainda:
Estas transformações sociais ao longo da história da humanidade
advêm da própria existência humana, pelas suas relações sociais com
o outro, pois, a ética vem demostrando pelo seu estudo e regulação, que
determinadas ações e atitudes morais devam ser revistas e adaptadas
à nova realidade social, pois estamos em constantes transformações
humanas e sociais (PIERITZ, 2020, p. 12, grifo nosso).

Assim, são as transformações da vida do homem em sociedade que fazem


com que a ética não seja estanque, isso é, parada no tempo e no espaço, pois
a ética precisa estar constantemente analisando e regulando o comportamento
humano, que é mutável. O importante aqui é compreender que a ética está em
constante transformação histórico-social, e assim precisa ser observada.
15
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Sobre essa questão, Pieritz (2013, p. 7) expõe que “outro fator que não
podemos esquecer é a questão de julgar o comportamento dos outros grupos
sociais, pois a realidade cotidiana desses foi formada por outro conjunto de
normas e princípios morais, diferente dos nossos. Mesmo que em alguns aspectos
esses princípios se pareçam com os nossos”.

Salienta-se ainda que precisamos considerar que deve haver um respeito


com relação às normativas comportamentais dos outros grupos sociais, pois eles
foram sendo constituídos historicamente de forma diferente da nossa.

Depois dessas concisas explanações e reflexões sobre a questão conceitual


da ética, torna-se importante compreender que a ética poderá ser definida sob
três vertentes conceituais e basilares, que você poderá visualizar e analisar no
Quadro 6. Vejamos!

QUADRO 6 – VERTENTES DO CONCEITO DE ÉTICA?

Que corresponde a JUÍZO DE VALOR, ou seja, quem tem boa


conduta pode ser considerado como uma pessoa ética, ou seja,
uma pessoa virtuosa e íntegra.
A ética é
Enquanto quem não condiz com as expectativas sociais pode
DESCRITIVA
ser considerado ‘sem ética’.

Nesse sentido, a ética assume uma ideia simplista reduzida a


um VALOR SOCIAL, ou apenas um adjetivo.

A ética como “SISTEMA DE NORMAS MORAIS ou a um


CÓDIGO DE DEVERES” (SOUR, 2011, p. 19), ou seja, os
padrões morais que deveriam conduzir categorias sociais ou
A ética é
organizações passam a se chamar de CÓDIGO DE ÉTICA.
PRESCRITIVA
Nesse sentido de prescrição a ética e moral tornam-se
SINÔNIMO INDISTINGUÍVEL.

Que corresponde à TEORIA DE UM ESTUDO


SISTEMÁTICO como objeto de INVESTIGAÇÃO que, ao
transitar por diferentes áreas, pode ser considerada como:
A ética é
• ÉTICA FILOSÓFICA – que reflete sobre a melhor maneira
REFLEXIVA
de viver (ideais morais).

• ÉTICA CIENTÍFICA – que estuda, observa, descreve e


explica os fatos morais (a moralidade como fenômeno).
FONTE: Adaptado de Tavares (2013, p. 7)

16
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Essas vertentes conceituais da ética demonstram que podemos verificar que


a ética é descritiva, pois denota juízos de valores das nossas condutas, como também
a ética é tida como prescritiva, pois prescreve normativas comportamentais e, por
fim, a ética é reflexiva, pois está em constante análise e estudo do comportamento
humano em sociedade.

E
IMPORTANT

Caros acadêmicos, de acordo com Tavares (2013, p. 7, grifo nosso):

“A ética filosófica quer refletir sobre a maneira de viver. A ética científica quer observar e
descrever a maneira de viver”.

FIGURA 5 – REFLEXÃO E OBSERVAÇÃO HUMANA

FONTE: <https://icon-library.com/png/105300.html>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Com relação ao conceito de ética, sobretudo a verificação da sua essência


e base conceitual e demais elementos caracterizantes de seus fundamentos,
Pieritz (2020, p. 13) expõe que “devemos compreender que a ética está além das
normas socialmente constituídas, pois existem muitos elementos norteadores do
comportamento humano”, o qual, a Figura 6 apresentará algumas características
balizares da ética, para que você possa compreender de forma holística todos os
elementos que estão atinados ao conceito da ética. Vejamos!

17
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

FIGURA 6 – CARACTERÍSTICAS BALIZARES DA ÉTICA

FONTE: Adaptada de Pieritz (2020, p. 14)

Segundo Pieritz (2020, p. 14), “a ética faz com que o ser humano reflita e
indague sobre seus atos, comportamentos e costumes, para assim poder agir no
seu meio social”. Pode-se observar na Figura 6 muitos atributos que proporcionam
uma compreensão de adjetivos e características que fundamentam a essência da
ética de forma geral.

Conseguiram verificar que no conceito de ética aparecem diversas


características do nosso próprio comportamento humano em sociedade? Como
nossos hábitos, costumes, caráter, virtudes, códigos e assim por diante, demostrando
que a ética está aí para nos direcionar, dar um aporte, um rumo a ser seguido no
nosso dia a dia, mas a decisão de como agir é somente de cada um, pois temos o livre
arbítrio de escolher em fazer o bem ou o mal, de fazer certo ou errado.

E
IMPORTANT

Prezados acadêmicos:

“A ética não se restringe somente às normas e leis instituídas pelos poderes legislativo,
executivo e judiciário!

A ética vai além das normativas impostas, pois leva em consideração a construção histórica
do comportamento humano em sociedade, sua conduta, hábitos e costumes” (PIERITZ
(2020, p. 14).

18
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

FIGURA 7 – COMPORTAMENTO HUMANO EM SOCIEDADE

FONTE: <https://bit.ly/2PGxOFT>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Vale refletir ainda sobre esta indagação de Valls (2003, p. 43, grifo nosso):

“Será que agir moralmente significaria agir de acordo com a própria


consciência”? (VALLS, 2003, p. 43)

O que você acha? Será?

Vejamos!

De acordo com Pieritz (2020, p. 15):


É salutar compreender que o nosso agir deve ser consciente e
estar conectado com a realidade de mundo que vivemos, ou seja,
precisamos perceber em que contexto social, político e econômico que
estamos, quais são as regas e normativas vigentes, quais são nossos
direitos e deveres, quais são as nossas responsabilidades e obrigações,
para assim podermos agir coerentemente, respeitando as convenções
socialmente construídas.

Assim, podemos compreender que devemos agir normalmente conforme


os preceitos constituídos socialmente e o nosso livre arbítrio decisório, mas
sempre no intuito de fazer o bem e sem prejudicar ninguém, pois, segundo Pieritz
(2020, p. 15), “são as nossas escolhas que refletem a nossa conduta, do certo e
errado, do bem e do mal, do ético ou do antiético”.

Nesse sentido, Pieritz (2020, p. 15) expõe que “pode-se perceber que a
ética oportuniza uma reflexão do nosso jeito de viver e conviver historicamente
em sociedade, compreendendo os nossos costumes de hoje, de ontem e como
poderá se moldar amanhã”. E é esse comportamento que define a nossa conduta
ética perante o grupo social que vivemos.

19
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

5 ÉTICA E MORAL: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E DIFERENÇAS


Agora que realizamos uma reflexão em torno das bases da ética,
perpassando pelas questões preliminares da ética e da moral, e de como se dá o
desenvolvimento do sujeito ético-moral, e das características conceituais da ética,
em que adentraremos num debate relativo às características e diferenças da ética
e da moral, para assim poder compreendê-las.

Iniciaremos essa abordagem expondo que “a ética estuda e investiga o


comportamento moral dos seres humanos. E esta moral é constituída pelos
diferentes modos de viver e agir dos homens em sociedade, que é formada por
suas diretrizes morais da vida cotidiana, transformando-se no decorrer dos
tempos” (PIERITZ, 2013, p. 19).

Ficou demostrado que “a ética e a moral permeiam em nosso agir perante


a sociedade, desde o estudo do comportamento até a sua prática real cotidiana
das relações humanas e sociais” (PIERITZ, 2020, p. 27).

Assim, pode-se expor que:

Sob esse cenário, indagamos-lhe: afinal, o que é moral?

Vejamos!

Iniciaremos essa reflexão com o conceito exposto no dicionário do direito,


para assim instigar sua reflexão sobre a moral. Segundo Cunha (2011, p. 196-197),
a moral pode ser compreendida como:

QUADRO 7 – CONCEITO DE MORAL E MORALIDADE

MORAL

A moral é a APLICAÇÃO NA PRÁTICA do


É a dimensão ideal da moralidade.
conjunto de regras e princípios morais.

A moral é relativo à DIGNIDADE, ao DECORO e à HONRA.

20
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

MORALIDADE

Processo Social COSTUMEIRO, concernente à melhor forma de


comportamento.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 196-197)

Então, perceberam que a moral designa o modo de ser dos seres humanos,
seu comportamento perante os outros e que esse comportamento está pautado
nos princípios e diretrizes da ética?

Mediante esse conceito preliminar, Aranha e Martins (2005, p. 301)


complementam:
A moral vem do Latim mos, moris, que significa “costume”, “maneira de
se comportar regulada pelo uso”, e de moralis, morale, adjetivo referente
ao que é “relativo aos costumes”. Portanto, podemos considerar que a
moral é um conjunto de regras de conduta admitidas em determinada
época ou por um grupo de pessoas.

Assim, a moral denota um costume comportamental dos preceitos éticos,


na relação com os outros em sociedade. Nesse sentido, vale expor que costume
é compreendido como a prática reiterada e constante de algum comportamento
habitual dos seres humanos, e que ele seja notório, ou seja, conhecido e tido como
um hábito geral de um determinado grupo social.

Você saberia me dizer quais são as diferenças conceituais entre a ética e a


moral?

Sim? Não? Talvez?

Vamos juntos compreender essas diferenças conceituais da ética e da moral,


no qual visualizaremos no Quadro 8 algumas de suas principais características.

QUADRO 8 – O QUE É A ÉTICA E MORAL

FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 140-196)

21
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Mediante esse quadro conceitual da ética e moral, é notório que os dois


conceitos demostraram que “ambos estão correlacionados a uma ciência, um
estudo do comportamento e das normas de conduta, e que esse conjunto de regras
e princípios ético-morais propiciem a honra, o decoro e a dignidade da pessoa
humana” (PIERITZ, 2020, p. 28, grifo nosso).

Fazendo com que:


Essa conduta moral só é possível se tiver um estudo dos hábitos e
costumes do homem em sociedade, no seu convívio histórico-social.
E é a ética que realiza essa ciência das dimensões morais, propiciando
transparecer nos diversos códigos de condutas, regramentos e
legislações como devemos proceder e se comportar perante o meio
social que vivemos e convivemos (PIERITZ, 2020, p. 28, grifo nosso).

Assim, pode-se expor que a ética realiza os estudos do comportamento


humano, e de posse desses resultados e suas análises, desenvolve o regramento
social da conduta moral dos seres humanos. Segundo Pieritz (2020, p. 28), “essa
é uma condição socialmente construída ao longo da história da humanidade,
sendo aprimorada conforme o desenvolvimento humano”.

A ética e a moral estão sempre juntas, por isso que possuímos um


comportamento ético-moral, pois uma estuda como devemos nos comportar
eticamente na sociedade em que fazemos parte (a ética), e outra (a moral) é o
próprio comportamento, que é determinado pelas nossas escolhas de fazer o bem
ou o mal, o certo ou o errado. Esse ciclo é desenvolvido historicamente, desde os
primórdios da humanidade.

Agora, apresentaremos, no Quadro 9, mais algumas diferenças entre a


ética e a moral, para continuarmos a nossa reflexão a esse respeito. Vejamos:

QUADRO 9 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL

ÉTICA
X MORAL

É o MODO DE VIVER E AGIR de


É a CIÊNCIA que estuda a moral.
cada povo, em cada cultura.

É o conjunto de normas, prescrição


É a REFLEXÃO SISTEMÁTICA sobre
e valores reguladores da AÇÃO
o comportamento moral.
COTIDIANA.

É a parte da filosofia que trata da


reflexão dos princípios universais da Varia no tempo e no espaço.
humanidade.

São os valores humanos UNIVERSAIS São os valores concernentes ao bem e


e FUNDAMENTAIS. ao mal, permitindo ou proibindo.

22
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Conjunto de normas e regras


É a TEORIA do comportamento moral. reguladoras entre os homens de uma
determinada comunidade.

Nasce da necessidade de ajudar cada


É a compreensão subjetiva do ato
membro aos interesses coletivos do
moral.
grupo.
FONTE: Adaptado de Tomelin e Tomelin (2002. p. 89-90)

Ressalva-se que o supracitado quadro comparativo das diferenças conceituais


entre a ética e a moral, nos reforça o que já viemos refletindo até agora que, segundo
Pieritz (2020, p.28), “o comportamento ético-moral é estudado como ciência, para
proporcionar melhor qualidade de vida ao cidadão brasileiro e mundial”. Visto
que, vivemos em constantes transformações humanas, políticas e sociais, e nesse
sentido a ética está a postos para refletir e regular nosso comportamento moral
perante os outros.

Assim, de acordo com Pieritz (2020, p. 29), ficou claro que “é a nossa
consciência das obrigações e deveres morais, ou seja, o caráter e o modo de ser dos
homens em sociedade que formam a ética”. Todavia, precisamos compreender
que, “a ética é a ciência que procura estudar e compreender as nuances relativas
aos princípios morais, que são constituídos historicamente” (PIERITZ, 2020, p.
29, grifo nosso).

Em contrapartida, a moral:
Retrata nossos costumes e hábitos cotidianos, pois seu caráter é social
e está pautado na história, cultura e natureza dos seres humanos, pois,
a moral está compreendida como um conjunto de normativas, regras,
leis, regulamentos e princípios, que são instituídos pelo coletivo social,
mas individualizada na consciência dos homens e mulheres que vivem
e convivem em sociedade (PIERITZ, 2020, p. 29, grifo nosso).

Nesse sentido, é importante ressaltar que a moral advém dos princípios


comportamentais dos seres humanos, que foram adquiridos pela herança histórica
da própria humanidade, a qual foi preservada pelos cidadãos e pelas populações
que vivem e convivem em seus grupos políticos, econômicos e sociais.

Mediante esse cenário conceitual, estudado até o presente momento,


gostaríamos de lhes apresentar, agora, um quadro comparativo entre a ética e a moral,
para que você possa desvelar suas características e elementos primordiais.

Nesse sentido, segue no Quadro 10, um balanço comparativo dos elementos


conceituais da ética e da moral.

23
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

QUADRO 10 – BALANÇO COMPARATIVO ENTRE ÉTICA E MORAL

FONTE: Pieritz (2020, p. 29)

O supracitado balanço comparativo das características conceituais da


ética e da moral, apresentado por Pieritz (2020) demonstra que:
As duas estão amplamente conectadas, mas apresentam sutis
diferenças, porque a ética denota um conceito subjetivo e teórico
sobre a consciência das regras sociais, já a moral se apresenta mais
de cunho prático e objetivo, proporcionando uma tratativa da conduta
humana por intermédio de regras e códigos de condutas socialmente
constituídos (PIERITZ, 2020, p. 29, grifo nosso).

Assim, pode-se expor que “a ética sempre procurará conhecer as formas


das tratativas do bem e do mal no âmbito holístico, do coletivo social, já a moral
busca tratar o agir humano de forma individualizada, tratando o certo e o errado
nos seus regulamentos e normas institucionalizadas” (PIERITZ, 2020, p. 30).

Nessa discussão, Pieritz (2020, p. 30, grifo nosso) ainda expõe que:
Os seres humanos não nascem com os conhecimentos éticos e postura
moral, eles se tornam éticos no decorrer do seu desenvolvimento
intelectual ao longo de sua história, e colocam seus princípios morais
de acordo com o empoderamento de suas conotações e convívio sociais,
pois, é na socialização e interação com o outro em sociedade que
construímos a nossa postura ética individual e profissional.

De tal modo, podemos expor que é no âmbito do convívio humano, nas


relações sociais, que colocamos a nossa ética em prática, pelo nosso comportamento
moral perante o grupo social que vivemos e convivemos. Pieritz (2020, p. 30, grifo
nosso) complementa essa discussão:
Vale destacar ainda que a ética é aprendida pelo estudo do comportamento
humano em sociedade, e a moral necessita ser imposta pelos regramentos
sociais de convívio humano. E que a ética é manifestada a partir do
interior das pessoas, de sua consciência, já a moral se expressa no exterior
do indivíduo, na conduta dos seus atos.

24
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Nesse sentido, nota-se que a ética e a moral são mutáveis ao longo do


convívio humano, pois se adequam às novas realidades sociais, que são fruto
do próprio comportamento humano. Necessitando aprimoramento constante das
regras e normativas sociais e institucionais.

E
IMPORTANT

Prezado acadêmico! “Lembre-se de que um dia a escravidão já foi considerada


um comportamento “normal”, e hoje a escravidão é totalmente considerada um crime.
Demostrando, assim, que as regras mudam conforme a mudança do comportamento e
normativas socialmente constituídas” (PIERITZ, 2020, p. 30).

Sob os aspectos apresentados até o presente momento, acreditamos que


passaram, em sua mente, várias cenas do seu cotidiano pessoal e profissional,
com relação às questões do comportamento ético-moral, certo?

Então, na prática da vida cotidiana, como se apresentam as questões éticas


e morais?

Vejamos!

Apresentaremos charges que representarão algumas situações do dia


a dia da nossa vida cotidiana, e que estão relacionadas diretamente com o
comportamento ético e moral dos cidadãos.

Nesse sentido, convidamos você, acadêmico, a realizar algumas reflexões


sobre a ética e a moral.

Vamos lá!

FIGURA 8 – PRIMEIRA SITUAÇÃO

FONTE: Adaptada de <https://br.pinterest.com/pin/809662839228928606/>.


Acesso em: 20 jun.2020.

25
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

FIGURA 9 – SEGUNDA SITUAÇÃO

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/455637687295581746/>. Acesso em: 20 jun. 2020.

FIGURA 10 – TERCEIRA SITUAÇÃO

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/431641945509586866/>. Acesso em: 20 jun. 2020.

26
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

FIGURA 11 – QUARTA SITUAÇÃO

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/716283515704220437/>. Acesso em: 20 jun. 2020.

FIGURA 12 – QUINTA SITUAÇÃO

FONTE: http://www.jornalcorreiocacerense.com.br/ver_noticia.php?noticia=16405>.
Acesso em: 10 fev. 2021.

Prezado acadêmico, nas cinco charges apresentadas podemos observar


algumas situações vivenciadas na vida cotidiana que passam despercebidas, e
que nem nos damos conta do que está acontecendo na realidade, muitas vezes,
desvirtuando os preceitos ético-morais que foram socialmente constituídos por nós.

Mediante essas charges, convidamos você a pensar um instante, em


quantas situações similares nos deparamos no nosso convívio social, político e
econômico? Temos certeza de que são muitas! Com certeza!

27
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Elas nos parecem situações comuns, mas que nos preocupam muito,
pois demostram uma concepção errônea do nosso comportamento ético-moral.
Contudo, como cidadãos civis, não podemos julgar esses comportamentos, pois
depende da decisão de que caminho desejamos seguir com relação aos preceitos
éticos socialmente constituídos.

Quem julga os danos causados por nossos comportamentos é o sistema


judiciário. Isso também é uma regra socialmente constituída.

DICAS

Pesquise mais situações do nosso comportamento ético, e leve-os para


debater no seu próximo encontro.

6 A AUSÊNCIA E OS CONTRÁRIOS A ÉTICA E A MORAL


Prezado acadêmico, até o presente momento falamos da ética e da moral,
mas é necessário fazermos uma reflexão da inversão dessa postura e comportamento
ético-moral. Assim, demostraremos, agora, o outro lado dessa moeda ética-moral,
ou seja, a postura humana que denota ausência e os contrários à ética e à moral.

Entretanto, primeiramente vamos compreender dois conceitos fundamentais,


que é a questão das terminologias “ausência” e o “contrário”, certo? Vejamos:

QUADRO 11 – CARACTERÍSTICAS DAS TERMINOLOGIAS AUSÊNCIA E CONTRÁRIO

AUSÊNCIA CONTRÁRIO
• O OPOSTO.
• Estado ou condição da AUSENTE. • Que apresenta OPOSIÇÃO OU
• Não comparecimento, falta. DIFERENÇA ABSOLUTA.
• INEXISTÊNCIA, FALTA. • Desfavorável, desvantajosos.
• A falta de alguém que se esperava • Relativo à proposição que NEGA não só
ou que deveria estar presente. o que a firma a outra, mas também o que
afirmaria uma proposição menos extensa.
AUSENTE CONTRARIAR
• NÃO PRESENTE.
• Desagradar ou descontentar alguém.
• Pessoa que não está presente em
• DIZER, FAZER OU QUERER O
determinado lugar.
CONTRÁRIO.
• Aquele que não está no lugar em
• Argumentar em sentido contrário.
que se pratica o ato.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 43-85) e Ferreira (2008, p.154-264)

28
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Desse modo, pode-se observar nas características supracitadas das


terminologias ausência e contrário, que esses elementos estão presentes na postura
cotidiana de muitos seres humanos, que denotam uma falta ou inexistência dos
princípios éticos em suas ações, como também possuem pessoas que se opõem a
ter uma conduta moral, porque desejam ser assim.

Alguns sinônimos interessantes para você conhecer sobre essa questão,


vejamos:

• Ausência: carência, deficiência, falta, falha, escassez, insuficiência e lacuna.


• Contrário: adverso, antagônico, avesso, desfavorável e oposto.

Assim, mediante essas análises preliminares, iniciaremos uma discussão


relativa aos sentidos inversos do comportamento moral e ético, mas, primeiramente,
faz-se necessário compreender sua terminologia, que está exposta no Quadro 12.

QUADRO 12 – AUSÊNCIA E CONTRÁRIOS À ÉTICA E À MORAL

FONTE: Pieritz (2020, p. 32)

De tal modo, que se pode observar que, quando falamos da AUSÊNCIA


de alguma coisa, estamos nos referindo a falta, a deficiência, a carência e a
insuficiência, conforme sinônimos apresentados acima.

Nesse sentido, ao levarmos estes conceitos supracitados para a ética


e a moral, pode-se perceber que essa ausência de ética e de moral denota um
comportamento aético e amoral. Que podemos ver suas características no quadro
a seguir. Vejamos!

29
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

QUADRO 13 – AÉTICA E AMORAL


NA ÉTICA NA MORAL
AÉTICA AMORAL
• Uma pessoa amoral, é um individuo
que não possui ou é deficiente na
• Uma pessoa aética, é um individuo
forma que conduz seus atos perante
que não possui ou é deficiente da
a sociedade que vive e convive,
consciência do coletivo, dos atos e
pelo simples fato de lhe faltar a
costumes gerais do meio em que vive
compreensão de como agir perante
e convive.
os regramentos impostos.
• Possui insuficiência ou carência da
• Possuindo assim, insuficiência ou
compreensão dos estudos históricos
carência na sua forma de agir, na sua
da composição dos juízos de valores.
atitude e conduta, na sua aplicação
da norma, pois não a compreende.
Aqui a palavra-chave Aqui a palavra-chave é
é a consciência do todo. a atitude individual.
FONTE: Adaptado de Pieritz (2020, p. 33)

Com relação ao comportamento dos seres humanos que são contrários a


alguma coisa, estamos falando das pessoas que são adversas, antagônicas, avessas,
desfavoráveis e opostas a alguma situação de sua vida cotidiana.

Assim, pode-se observar que ao transmitir essas características conceituais


para a ética e a moral, verifica-se que essas atitudes tidas como contrárias a alguma
coisa denotam uma postura comportamental antiética e imoral, como podem
verificar no quadro a seguir. Vejamos!

QUADRO 14 – ANTIÉTICA E IMORAL


NA ÉTICA NA MORAL
ANTIÉTICA IMORAL
• Uma pessoa antiética, é um indivíduo
• Uma pessoa imoral, é um indivíduo
que possui ARGUMENTOS NO
que não segue as REGRAS
SENTIDO CONTRÁRIO da consciência
DE CONDUTA socialmente
coletiva do que é certo e errado, do que
constituídas pelo coletivo social,
é fazer o bem ou o mal.
pelo seu livre arbítrio.
• Demonstrando estar em oposição aos
• É fazer, ser oposto ou querer o
atos e costumes gerais da sociedade
contrário das normas. São avessas
em que está inserido, como também
a qualquer código de conduta, por
é avesso ao estudo dos juízos de
consciência de querer contrariá-la.
valores constituído historicamente.
Aqui a palavra-chave Aqui a palavra-chave é
contrariedade. a ATITUDE consciente.
FONTE: Adaptado de Pieritz (2020, p. 33)

30
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Mediante as supracitadas explanações relativas ao comportamento ético e


moral, ou seja, aquela postura que denota ausência ou que seja contrária. Podemos
verificar que, quem toma essa decisão é única e exclusivamente o ser humano, em
seus processos de tomada de decisão, junto ao coletivo social.

Então, o que é certo, errado, bom ou ruim para nós, pode não ser para
nosso semelhante!

Tudo depende da consciência e das decisões humanas! E são nossas ações


no dia a dia que irão demostrar se nossa postura é ética, aética, antiética, moral,
amoral ou imoral.

7 SÍNTESE CONCEITUAL DA ÉTICA E MORAL


Prezado acadêmico, depois de tantas reflexões, que acreditamos lhe
proporcionou realizar e obter uma compreensão dos diversos sentidos conceituais
da ética, suas principais características e fundamentos, e sua problemática junto às
questões da moral e a formação do sujeito ético-moral, convidamos você, agora,
para finalizar esse debate em torno da ética e da moral, a observar nos quadros
a seguir as principais características conceituais do nosso comportamento ético-
moral, pois é salutar que você consiga sedimentar esses conhecimentos adquiridos.

Desse modo, seguem sínteses para que você possa fazer sua reflexão final
das concepções e diferenças da ética e moral.

Vamos relembrar!

No quadro a seguir, está uma síntese das principais categorias da ética e


da moral. Relembre!

QUADRO 15 – SÍNTESE DAS PRINCIPAIS CATEGORIAS DA ÉTICA E MORAL

FONTE: Pieritz (2020, p. 34)

31
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

A seguir, estão as principais características da ética e da moral, veja!

FIGURA 13 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE ÉTICA E MORAL

FONTE: Pieritz (2020, p. 26)

Na supracitada síntese analítica das categorias da ética e moral, você


pode entender as diferenças e semelhanças entre elas, mas o principal é você
compreender que ambas analisam, estudam e regulam o nosso comportamento,
seja pessoal ou profissional, e que esses preceitos éticos e morais são constituídos
historicamente nas relações dos seres humanos com os demais cidadãos.

Assim, pode-se verificar que neste estudo das supracitadas características


da ética e da moral, trabalharam-se os conhecimentos relativos à ética e à moral
na vida cotidiana das pessoas, que vivem e convivem em seus grupos sociais,
políticos e econômicos, proporcionando a você a possibilidade de compreender
essas diferenças conceituais.

Esperamos que tenha gostado, pois foi muito bom ter você até aqui!

Agora lhe convido a realizar duas leituras complementares, que são muito
importantes para sedimentar seus conhecimentos em relação a base da ética e da moral.

Boas Leituras!

32
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

ÉTICA E MORAL

Sandro Denis

Existe alguma confusão entre o Conceito de Moral e o Conceito de Ética.


A etimologia destes termos ajuda a distingui-los, sendo que Ética vem do grego
“ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem
de “mores”, significando costumes. Esta confusão pode ser resolvida com o
estudo em paralelo dos dois temas, sendo que Moral é um conjunto de normas
que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são
adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. É a “ciência dos
costumes”. A Moral tem caráter normativo e obrigatório.

Já a Ética é “conjunto de valores que orientam o comportamento do


homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo,
assim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se
comportar no seu meio social.

A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência


Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo
realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é,
surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria surgido com
Sócrates, pois se exige maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas
morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas
principalmente por convicção e inteligência. Ou seja, enquanto a Ética é teórica e
reflexiva, a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra.

Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do ato de um


traidor? Em situações como esta, os indivíduos se deparam com a necessidade
de organizar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas
ou mais dignas de ser cumpridas. Tais normas são aceitas como obrigatórias, e
desta forma, as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela
maneira. Porém o comportamento é o resultado de normas já estabelecidas,
não sendo, então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá um
julgamento. E a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais,
assim Ética é uma espécie de legislação do comportamento Moral das pessoas.

33
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Ainda podemos dizer que a ética é um conjunto de regras, princípios ou


maneiras de pensar que guiam, ou chamam para si a autoridade de guiar, as ações
de um grupo em particular, ou, também, o estudo da argumentação sobre como
nós devemos agir. Também a simples existência da moral não significa a presença
explícita de uma ética, entendida como filosofia moral, pois é preciso uma reflexão
que discuta, problematize e interprete o significado dos valores morais.

Podemos dizer a partir dos textos de Platão


e Aristóteles, que, no Ocidente, a ética ou filosofia
moral inicia-se com Sócrates. Para Sócrates, o
conceito de ética iria além do senso comum da sua
época, o corpo seria a prisão da alma, que é imutável
e eterna. Existiria um “bem em si” próprios da
sabedoria da alma e que podem ser rememorados
pelo aprendizado. Esta bondade absoluta do homem
tem relação a uma ética anterior à experiência,
pertencente à alma e que o corpo para reconhecê-la
terá que ser purificado.

Aristóteles subordina sua ética à política,


acreditando que na monarquia e na aristocracia se encontraria a alta virtude,
já que esta é um privilégio de poucos indivíduos. Também diz que na prática
ética, nós somos o que fazemos, ou seja, o Homem é moldado na medida em
que faz escolhas éticas e sofre as influências dessas escolhas.

O Mundo Essencialista é o mundo da contemplação, ideia compartilhada


pelo filósofo grego antigo Aristóteles. No pensamento filosófico dos antigos, os
seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados
pela conduta virtuosa. Para a ética essencialista o homem era visto como um
ser livre, sempre em busca da perfeição. Esta por sua vez, seria equivalente aos
valores morais que estariam inscritos na essência do homem. Dessa forma –
para ser ético – o homem deveria entrar em contato com a própria essência, a
fim de alcançar a perfeição.

Costuma-se resumir a ética dos antigos, ou ética essencialista, em três


aspectos: 1) o agir em conformidade com a razão; 2) o agir em conformidade com
a Natureza e com o caráter natural de cada indivíduo; 3) a união permanente
entre ética (a conduta do indivíduo) e política (valores da sociedade). A ética
era uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no intuito de propiciar
a harmonia entre o mesmo e os valores coletivos, sendo ambos virtuosos.

34
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Com o cristianismo romano, através de S. Tomás


de Aquino e Santo Agostinho, incorpora-se a ideia de que
a virtude se define a partir da relação com Deus e não
com a cidade ou com os outros. Deus nesse momento é
considerado o único mediador entre os indivíduos. As
duas principais virtudes são a fé e a caridade.

Através deste cristianismo, se afirma na ética


o livre-arbítrio, sendo que o primeiro impulso da
liberdade dirige-se para o mal (pecado). O homem
passa a ser fraco, pecador, dividido entre o bem e o mal. O auxílio para a melhor
conduta é a lei divina. A ideia do dever surge nesse momento. Com isso, a ética
passa a estabelecer três tipos de conduta; a moral ou ética (baseada no dever), a
imoral ou antiética e a indiferente à moral.

As profundas transformações que o mundo sofre


a partir do século XVII com as revoluções religiosas, por
meio de Lutero; científica, com Copérnico e filosófica,
com Descartes, oprimem um novo pensamento na era
Moderna, caracterizada pelo Racionalismo Cartesiano
– agora a razão é o caminho para a verdade, e para
chegar a ela é preciso um discernimento, um método.
Em oposição à fé surge agora o poder exclusivo da
razão de discernir, distinguir e comparar. Este é um
marco na história da humanidade que a partir dai
acolhe um novo caminho para se chegar ao saber: o saber científico, que se baseia
num método, e o saber sem método é mítico ou empírico.

A ética moderna traz à tona o conceito de que os


seres humanos devem ser tratados sempre como fim da
ação e nunca como meio para alcançar seus interesses.
Essa idéia foi contundentemente defendida por
Immannuel Kant. Ele afirmava que: “não existe bondade
natural. Por natureza somos egoístas, ambiciosos,
destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de prazeres que
nunca nos saciam e pelos quais matamos, mentimos,
roubamos”.

De acordo com esse pensamento, para nos tornarmos seres morais era
necessário nos submetermos ao dever. Essa ideia é herdada da Idade Média na
qual os cristãos difundiram a ideologia de que o homem era incapaz de realizar o
bem por si próprio. Por isso, ele deve obedecer aos princípios divinos, cristalizando
assim a ideia de dever. Kant afirma que se nos deixarmos levar por nossos impulsos,
apetites, desejos e paixões não teremos autonomia ética, pois a Natureza nos conduz
pelos interesses de tal modo que usamos as pessoas e as coisas como instrumentos
para o que desejamos. Não podemos ser escravos do desejo.

35
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

No século XIX, Friedrich Hegel traz uma nova


perspectiva complementar e não abordada pelos
filósofos da Modernidade. Ele apresenta a perspectiva
Homem – Cultura e História, sendo que a ética
deve ser determinada pelas relações sociais. Como
sujeitos históricos culturais, nossa vontade subjetiva
deve ser submetida à vontade social, das instituições
da sociedade. Desta forma a vida ética deve ser
“determinada pela harmonia entre vontade subjetiva
individual e a vontade objetiva cultural”.

Através desse exercício, interiorizamos os valores culturais de tal


maneira que passamos a praticá-los instintivamente, ou seja, sem pensar. Se
isso não ocorrer é porque esses valores devem estar incompatíveis com a nossa
realidade e por isso devem ser modificados. Nesta situação podem ocorrer
crises internas entre os valores vigentes e a transgressão deles.

Já na atualidade o conceito de ética se fundiu nessas duas correntes de


pensamento:

A ética praxista, em cuja visão o homem tem a capacidade de julgar,


ele não é totalmente determinado pelas leis da natureza, nem possui uma
consciência totalmente livre. O homem tem uma co-responsabilidade frente as
suas ações.

A ética Pragmática, Com raízes na apropriação de coisas e espaços, na


propriedade, tem como desafio à alteridade (misericórdia, responsabilização,
solidariedade), para transformar o Ter, o Saber e o Poder em recursos éticos para
a solidariedade, contribuindo para a igualdade entre os homens: “distribuição
eqüitativa dos bens materiais, culturais e espirituais”.

O homem é visto, como sujeito histórico-social, e como tal, sua ação não
pode mais ser analisada fora da coletividade. Por isso, a ética ganha novamente um
dimensionamento político: uma ação eticamente boa é politicamente boa, e contribui
para o aumento da justiça, distribuição igualitária do poder entre os homens. Na
ética pragmática o homem é politicamente ético, – “todos os aspectos da condição
humana, têm alguma relação com a política” – há uma
co-responsabilidade em prol de uma finalidade social: a
igualdade e a justiça entre os homens.

Na Contemporaneidade, Nietzsche atribui a


origem dos valores éticos, não à razão, mas à emoção.
Para ele, o homem forte é aquele que não reprime
seus impulsos e desejos, que não se submete a moral
demagógica e repressora. E para coroar essa mudança
radical de conceitos, surge Freud com a descoberta do

36
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

inconsciente, instância psíquica que controla o homem, burlando sua consciência


para trazer à tona a sexualidade represada e que o neurotiza, porém, Freud,
em momento algum afirma dever o homem viver de acordo com suas paixões,
apenas buscar equilibrar e conciliar o id com o super ego, ou seja, o ser humano
deve tentar equilibrar a paixão e a razão.

Hoje, numa era em que cada vez mais se fala


de globalização, da qual somos todos funcionários
e insumos de produção, o conhecimento de nossa
cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento de
outras culturas. Entretanto essa tarefa antropológica
não é suficiente para o homem comum superar a crise
da ética atual conhecendo o outro e suas necessidades
para se chegar a sua convivência harmônica. Ao
contrário, ser feliz hoje é dominar progresso técnico e
científico, ser feliz é ter. Não há mais espaço para uma
ética voltada para uma comunidade. Hoje se aposta no
individualismo, no consumo, na rapidez de produção.

No momento histórico em que vivemos existe um problema ético-político


grave. Forças de dominação tem se consolidado nas estruturas sociais e econômicas,
mas através da crítica e no esclarecimento da sociedade seria possível desvelar
a dissimulação ideológica que existe nos vários discursos da cultura humana,
sabendo disso, essas mesmas forças tem procurado controlar a mídia.

Em lugar da felicidade pura e simples há a obrigação do dever e a


ética fundamenta-se em seguir normas. Trata-se da “Ética da Obediência”.
Que impede o Homem de pensar, e descobrir uma nova maneira de se ver, e
assim encontrar uma saída em relação ao conformismo de massa que está na
origem da banalidade do mal, do mecanismo infernal em que estão ausentes
o pensamento e a liberdade do agir, pois assim determina Vasquez (1998) ao
citar Moral como um “sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual
são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a
comunidade, de tal maneira que essas normas, dotadas de um caráter histórico
e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, e
não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal”.

Enfim, Ética e Moral são os maiores valores do homem livre. O homem,


com seu livre arbítrio, vai formando seu meio ambiente ou o destruindo, ou
ele apoia a natureza e suas criaturas ou ele subjuga tudo que pode dominar, e
assim ele mesmo se forma no bem ou no mal neste planeta.

FONTE: <Http://Circulocubico.Wordpress.Com/2008/04/04/Tica-E-Moral/>.
Acesso em: 10 jun. 2020.

37
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

ÉTICA E MORAL

UMA REFLEXÃO SOBRE A ÉTICA E OS PADRÕES DE MORALIDADE


OCIDENTAL

Israel Alexandria

1 A MORALIDADE ENQUANTO OBJETO DA ÉTICA

Gosto não se discute. Correntemente essa frase é utilizada quando se


quer estabelecer a ideia de que gosto é algo radicalmente subjetivo e imutável.
Ora, a imensa variedade de sujeitos com preferências e opiniões distintas entre si
e o fato de um mesmo sujeito mudar de preferências e opiniões fazem prova de
que a complexa estrutura psíquica humana é capaz de aprender e de modificar
o que se aprendeu. SUBJETIVIDADE não combina com IMUTABILIDADE,
logo a frase em questão é contraditória.

Diz-se também que PERSONALIDADE vem da natureza. Quando


atribuímos à natureza a existência de alguma coisa, estamos simplesmente
dizendo que esta coisa não foi criada pela cultura, nasce-se com ela. Não há
necessidade de aprender o que é natural. O natural é inato. Essa coisa chamada
personalidade é inerente à pessoa. Pessoa e personalidade vêm da mesma
palavra: persona. Ninguém nasce pessoa. Ninguém se refere a um bebê como
"aquela pessoa", pois sabe-se que personalidade tem a ver com um sistema mais
ou menos definido de gostos, preferências que se vai adquirindo com o tempo.

Embora as preferências e as condições que formam a personalidade sejam


tão subjetivas e mutáveis, há uma constante que não podemos desprezar. É o
princípio do prazer. Todo ser dotado de sensibilidade tem a propensão natural
de afastar o que lhe está associado à dor e buscar o que lhe é prazeroso. O gato
morde o homem que lhe pisa a cauda e o vegetal cresce em direção ao sol. Para o
gato é bom que não lhe pisem na cauda. Para a planta, é bom crescer em direção
ao sol. O ser humano não foge a essa regra. O bebê humano é capaz de manifestar
sua percepção de prazer e dor e essa capacidade não se perde com a idade. O que
muda é a forma como se dá essa manifestação e o objeto do prazer ou o da dor
que, por sua vez, dependem das circunstâncias. O que permanece imutável é o
fato dos sujeitos estarem sempre buscando o que lhes parece bom, e afastando o
que lhes parece mal. É sobre esses dois conceitos que trata a ética.

A ética é uma ciência comprometida com a busca aprofundada das


relações entre o homem e os conceitos de bem e de mal. Trata-se de uma ciência
da qual não podemos nos esquivar, pois o bem e o mal, o certo e o errado
impregnam nossa conduta prática. Embora a maioria não pense no assunto, o
comportamento humano é uma contínua resposta às questões éticas. É nesse
ponto que nasce a distinção entre ética e moral.

38
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

O dicionarista e pensador Nicola Abbagnano (1901-1990) afirma que


MORAL é "atinente à conduta" (1982: 652) enquanto a ÉTICA é "a ciência com
vistas a dirigir e disciplinar a mesma conduta" (1982: 360). A moral seriam as
regras práticas e a ética, o fundamento teórico da moral. Diz-se moral aristotélica,
moral kantiana para enfatizar os respectivos aspectos práticos; ética aristotélica,
ética kantiana estariam mais relacionados aos seus aspectos teóricos. Alguns
autores, entretanto, ressaltam que, embora haja uma infinidade de morais: moral
cristã, moral judaica, moral platônica, moral kantiana etc., a ética seria uma só. É
que, sendo esta uma ciência, trabalha apenas com conceitos universais.

Basicamente, são três os modelos de moralidade: aristocrático, utilitarista


e kantiano.

2 A MORAL ARISTOCRÁTICA

A moral aristocrática visa fazer com que o indivíduo se aproxime,


cada vez mais, de um homem ideal e transcendente. Nesse sentido, são morais
aristocráticas a moral judaica, baseada no modelo de homem de fé (Abraão),
a moral cristã, no amor ao próximo (Jesus), a moral platônica, no ascetismo
(filósofo-rei), a moral budista, na eliminação dos desejos (Buda).

Mas, na maioria das vezes, esses modelos ideais são apenas descrições
sem referências a nomes de personagens históricos. A moral aristocrática
propõe que cada indivíduo seja dotado das virtudes adequadas (a palavra
virtude vem de virtu, que significa força) para imitar o modelo ou um ideal de
vida proposto. A felicidade plena é obtida quando o indivíduo realiza o ideal
proposto. Quanto mais virtuoso for o indivíduo, maior o seu grau de felicidade.

Sócrates (470-399 a.C.) inventou o ideal cínico (palavra derivada de


canino), cuja principal virtude é o desprezo às comodidades, às riquezas e às
convenções sociais, enfim a tudo aquilo que afasta o homem da simplicidade
natural de que dão exemplo os animais (no caso o cão). Cínico é aquele que
vive o descaramento da vida canina. Relata-se que Sócrates caminhava nos
mercados apenas para saber do que ele não precisava. Outros curiosos relatos
envolvendo Diógenes, tais como o da "visita do imperador", "a mão e a cuia", "a
lanterna" etc. indicam que este teria sido o maior cínico da história.

Platão (428-348 a.C.) propôs o ideal asceta. A prática da ascese consiste


em viver na contemplação do mundo das ideias ao tempo que se afasta de tudo
o que é corpóreo. "É evidente que o trabalho do filósofo consiste em se ocupar
mais particularmente que os demais homens em afastar sua alma do contato com o
corpo" (Platão: Fédon, 65, a). O sábio educa-se para a morte, ou seja, para o dia em
que sua alma se separará definitivamente do corpo, migrando para o outro mundo.

39
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Aristóteles (384-322 a.C.) definia o homem ideal como aquele


que consegue pôr em prática tanto a sua animalidade natural como a sua
sociabilidade natural, pois o homem é um animal social por natureza. "Mesmo
quando não precisam da ajuda dos outros, os homens continuam desejando
viver em sociedade" (Aristóteles. Política: III, 6). Reprimir a animalidade ou a
sociabilidade distancia o homem da felicidade. Para encontrar um termo médio
entre essas duas naturezas, o homem vale-se da razão.

Os estoicos são outro exemplo de moral aristocrática. No séc. IV a.C.


Acredita-se que o nome estoico tenha sido inspirado no local onde Zenão de
Cício (335-263 a.C.) ensinava: os pórticos (stoa, em grego). Costuma-se atribuir
a razão do surgimento dessa doutrina ao fato da cidade de Atenas haver
perdido sua independência para os macedônicos, prolongada depois pelo
império romano. O estoicismo foi uma espécie de refúgio espiritual, uma via
filosófica para se conseguir a independência em nível individual. Não obstante,
o estoicismo atravessou séculos, sendo adotado pelos cristãos e até pelo
imperador romano Marco Aurélio (121-180 d.C.). Segundo os estoicos, nenhum
evento acontece por acaso (teoria da necessidade). Até mesmo o trajeto de uma
folha que se desprende da árvore já foi milimetricamente traçado pelo Logos,
princípio inteligente do cosmos. O ideal de sabedoria estoica é a completa
apatia: indiferença-acomodação diante dos acontecimentos da vida, é o que
revela Sêneca (4 a.C. 65 d.C.) um dos expoentes do estoicismo.

Toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua


condição, queixando-se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das
vantagens que ela possa oferecer: nenhum destino é tão insuportável que uma
alma razoável não encontre qualquer coisa para consolo. Vê-se frequentemente
um terreno diminuto prestar-se, graças ao talento do arquiteto, às mais diversas
e incríveis aplicações, e um arranjo hábil torna habitável o menor canto. Para
vencer os obstáculos, apela à razão: verás abrandar-se o que resistia, alargar-se o
que era apertado e os fardos tornarem-se mais leves sobre os ombros que saberão
suportá-los (1973: 216).

Não se interprete indiferença por alienação: um sábio pode engajar-se na


vida política até mesmo porque estava escrito. Nesse ponto, os povos muçulmanos
parecem estar em franco acordo com a doutrina estoica, pois regularmente
repetem a expressão maktub (estava escrito), particípio passado do verbo catab
(escrever). A virtude do sábio é o controle absoluto de suas emoções. Segundo
sua parenética (termo que diz respeito aos aconselhamentos práticos), quando
as circunstâncias tornam impossível o controle das emoções, é aconselhável a
prática do suicídio.

Epicuro de Samos (341-270 a.C.) criou o modelo de sábio epicurista: o


homem que pratica plenamente a virtude da ataraxia (despreocupação; ausência
de aborrecimentos, de dores ou medos).

40
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Nem a posse das riquezas nem a abundância das coisas nem a obtenção
de cargos ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-
na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito que se
mantenha nos limites impostos pela natureza.

A ausência de perturbação e de dor são prazeres estáveis; por seu turno,


o gozo e a alegria são prazeres de movimento, pela sua vivacidade. Quando
dizemos, então, que o prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres
dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como creem certos
ignorantes, que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem,
mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações
da alma (Epicuro.1993: 25).

Efetivamente, a ideia de que os epicuristas pregavam a volúpia do corpo


é falsa. Eles praticavam uma espécie de otimismo profilático que se aproxima
muito do famoso "jogo do contente" da personagem Poliana. Eram iconoclastas
em relação aos mitos sobre morte, religião e política. Isolados em jardins
afastados das agitações da vida citadina, cultivavam a amizade (a prática de
viver em seletos círculos de amigos era considerada condição fundamental
na vida do sábio epicurista). O modus vivendi de Epicuro e seus discípulos foi
chamado de aurea mediocritas (mediocridade dourada) por Horácio.

3 A MORAL UTILITARISTA

A moral utilitarista caracteriza-se pela ausência do transcendente e de


modelos a priori a serem imitados. Todas as ações devem ser medidas pelo bem
maior para o maior número.

Ao definir o utilitarismo, o filósofo irlandês Francis Hutcheson (1694-


1746) assim se expressa: "a melhor ação é aquela que produz a maior felicidade
ao maior número de pessoas". O utilitarismo é a moral dos números.

Nicolau Maquiavel (1469-1527), pensador italiano, tem sobre si a culpa de


haver defendido que os fins justificam os meios embora, segundo o Dicionário de
Filosofia de Abbagnano (1962: 614), tal máxima tenha origem jesuíta. A injustiça
que recai sobre Maquiavel vem da dificuldade que se tem de separar o mero
descrever e o opinar. Ele tinha horror a governos de ocasiões, golpes sucessivos,
casuísmos, enfim à política do dia a dia que tanto permeava a agitada vida nos
bastidores políticos de Florença. Em O Príncipe ele faz uma descrição em forma
de aconselhamento, com base em seus conhecimentos de história, da conduta
do governante que pretende permanecer no poder por um tempo relativamente
longo, mas chega mesmo a confessar que, para atingir tal permanência, o ideal
seria que as coisas não ocorressem da forma como a história demonstrara. Não
obstante, a tradição nos legou o termo maquiavélico como designativo de um
modelo que se firmou como um dos marcantes exemplos de moral utilitarista: a
que visa um maior número de dias no poder.

41
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, parte do princípio de que


quanto menor for o número de invasões, mortes violentas e desapossamentos
mútuos, mais feliz será a espécie humana. Essa condição só pode ser arranjada com
a existência de um contrato social e de um Leviatã. Vamos explicar melhor: Para
Hobbes, o homem é, naturalmente, o lobo do homem (homo homini lupus), ou seja,
não é um ser naturalmente cordial e sociável, não está naturalmente aparelhado
para sentir-se incomodado com a dor alheia quando sua sobrevivência está em
jogo. "Se dois homens desejam a mesma coisa ao mesmo tempo que, é impossível
ela ser gozada por ambos, eles se tornam inimigos" (Hobbes, 1651: 43). Relegados
ao estado de natureza, os homens promovem uma guerra de todos contra
todos (bellum omnium contra omnes), guerra inútil porque põe em risco a própria
conservação humana. Os homens, portanto perceberam e admitiram entre si a
vantagem em cada um reprimir sua animalidade natural em prol de uma mútua
convivência pacífica, bem mais útil, produtiva, confortável e segura. A civilização
nasce desse contrato social. Essa nova situação, entretanto, só pode ser mantida
com a existência de um Leviatã (monstro amedrontador e forte) que se expressa
preferencialmente na figura de um rei, comandante autoritário e único que gera
em todos o sentimento generalizado de medo da punição, garantindo assim a
continuidade do Estado civil.

A base da moral utilitária de Hobbes sofreu inúmeras críticas, a


principal partiu de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, que via
na animalidade humana não lobos e sim cordeiros. Tais quais cordeiros livres,
os homens, no estado de natureza, vivem em plena felicidade. Foi a civilização
que fez com que muitos cordeiros se tornassem violentos e pensassem ser lobos.
A soberania do Leviatã não é desejável porque além de retirar do homem a sua
liberdade natural impossibilita a construção de uma liberdade civil, que só é
possível quando a vontade geral é soberana. A conquista da liberdade civil estaria
na reeducação por meio de leis "corderiais" que, metaforicamente, fizessem com
que os cordeiros reconhecessem que são cordeiros.

Ainda a respeito da dicotomia lobo/cordeiro há outras observações


curiosas. Para Frederich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, a natureza
produz homens-lobos e homens-cordeiros e não podemos ignorar que lobos
estão aparelhados para devorar cordeiros. Quando só restarem lobos, as forças
naturais produzirão superlobos que devorarão antigos lobos numa progressão
infinita de vidas cada vez mais fortes. A moral nietzschiana é a da exuberância da
força e do vitalismo das potências naturais ou super-humanas. É uma moral que
pretende ir além do bem e do mal (se é que isso é possível). Nietzsche afirma que
dicotomia entre bem e mal não passa de invencionice resultante do ressentimento
e da fraqueza dos cordeiros.

"Toda moral é [...] uma espécie de tirania contra a 'natureza' e também


contra a 'razão'". (Nietzsche, 1886: 110).

42
TÓPICO 1 — NOÇÕES SOBRE ÉTICA E MORAL

Michel Foucault (1926-1984) diria que lobos e cordeiros habitam cada


um de nós e ambos teriam desenvolvido estratégias de sobrevivência que
tornariam extremamente complexa a luta entre os dois, uma complexidade
tal que o cordeiro, em determinados momentos, poderia estar sob a condição
de ataque. Nesse caso a questão moral só poderia ser definida dentro de um
contexto muito específico onde se levariam em conta os sujeitos envolvidos,
suas estratégias, suas relações de poder... Foucault é o criador da microética.

4 A MORAL KANTIANA

A moral kantiana é a concebida por Immanuel Kant (1724-1804), filósofo


prussiano. Sua intuição principal foi que o indivíduo deve estar livre para agir
"não em virtude de qualquer outro motivo prático ou de qualquer vantagem
futura, mas em virtude da ideia de dignidade de um ser racional que não obedece
a outra lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente se dá" (Kant, 1785: 16).
A ação moral exige a autonomia do agente. Ser autônomo é obedecer a si mesmo
ou ao que vem de dentro. É o inverso do heterônomo (o que obedece ordem do
outro, obedece ao que vem de fora). Não se pode falar em ética sem autonomia,
pois a ação heterônoma (cuja vontade vem de fora) não é uma ação ética. A moral
aristocrática e a utilitarista não são eticamente válidas porque dependem de algo
exterior: a primeira, de ideais transcendentes e a segunda, de ideais imanentes.

Para realizar a autonomia, a ação moral deve obedecer apenas ao imperativo


categórico: o bom senso interior que todos nós temos de perceber que não somos
instrumentos e sim agentes. Nunca instrumentalizar o homem é a exigência maior
do imperativo categórico. Kant fornece uma regra para saber se uma decisão nossa
obedece ou não ao imperativo categórico: indague a si mesmo se a razão que te
faz agir de determinada maneira pode ser convertida em lei universal, válida para
todos os homens. Se não puder, essa tua ação não é digna de um ser racional,
não é eticamente boa porque falta-te a autonomia, estás agindo premido por
circunstâncias exteriores a ti. O bem ético é um bem em si mesmo.

Ao realçar a exigência da autonomia da ação moral, Kant desperta a


questão da liberdade ética. O conceito de liberdade ética parte da distinção
entre ação reflexa e ação deliberada. A ação deliberada é aquela que resulta de
uma decisão, de uma escolha, é o mesmo que ação autônoma. A ação reflexa
é "instintiva", independe da vontade do agente. Apenas as ações deliberadas
podem ser analisadas sob o ponto de vista ético. Voltemos ao exemplo do gato
que morde o homem que lhe pisou a cauda. O gato tentou afastar o que lhe
era um mal, mas não podemos dizer que ele escolheu morder o homem. Logo,
não se pode dizer que o gato agiu de forma imoral ou antiética. A questão da
liberdade ética pode ser assim resumida: Levando-se em conta que somos
animais e ocasionalmente agimos de forma reflexa, em que condições nossa
ação pode ser considerada uma ação deliberada?

43
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Henri Bergson (1859-1941) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) respondem a


essa pergunta de forma radical: O livre-arbítrio é a qualidade que melhor define
o homem. A própria condição humana exige que todo ato humano seja um ato
de escolha, seja uma ação deliberada. O homem está condenado à liberdade
porque nunca pode decidir não escolher. Diante da consciência de que nos
vemos forçado a realizar algo por imposição exterior, passamos a ter liberdade
de escolher entre entregar-se à ação ou ir de encontro a ela.

FONTE: <http://ialexandria.sites.uol.com.br/textos/israel_textos/etica_e_moral.htm>. Acesso em:


20 jun. 2020.

44
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A ética e a moral estão conectadas de maneira implícita no próprio


comportamento do homem em sociedade, no meio social, político e econômico,
que vivem e convivem com os outros.

• É o comportamento ético e moral sobre as coisas e os fatos que formam o


nosso convívio social e a própria sociedade em que vivemos.

• Nossas ações e decisões diárias estão carregadas de princípios éticos e de


valores morais. E vimos que a ética e a moral são mutáveis, conforme a própria
evolução humana e a compreensão da vida em sociedade.

• Todos os nossos comportamentos em sociedade são compreendidos


socialmente como certos ou errados, éticos ou antiéticos, morais ou imorais,
denotando sempre os dois lados de uma mesma moeda.

• Todo o comportamento socialmente constituído deve estar pautado por


normas sociais, institucionais e legais, e que ambas seguem as premissas
constitucionais.

• São os princípios éticos e morais que conduzem as nossas decisões


comportamentais perante a sociedade que vivemos e convivemos com os outros.

• Nós temos digitais diferentes, e assim possuímos princípios éticos e morais


semelhantes, mas nunca iguais, pois temos o livre arbítrio da escolha, segundo
nossa cultura e formação intelectual.

• A cultura é que transmite o modo coletivo de ser de um povo, suas


características e comportamentos socialmente e historicamente constituídos.
Denotando seus costumes, crenças e hábitos. Na própria cultura permeia os
valores éticos e morais.

• A ética realiza um estudo dos juízos e valores do comportamento humano em


sociedade, e mediante essas análises comportamentais, desenvolve normativas
e princípios ético-morais, que irão mediar a vida dos homens em sociedade.

• Ser ético é saber legislar sobre o comportamento humano, buscando explicar


e investigar a conduta em si, seus prós e contras, definindo os caminhos que
poderão ser seguidos. Ditando assim, o comportamento moral das pessoas.

• Na convivência social saudável é importante termos diretrizes norteadoras


de que possibilidades de decisões poderemos tomar perante os outros que
vivem e convivem conosco. Por isso, a ética é muito importante para os seres
humanos, pois ela baliza o nosso comportamento moral.
45
• São as transformações da vida do homem em sociedade que fazem com
que a ética não seja estanque, ou seja, parada no tempo e no espaço, pois a
ética precisa estar constantemente analisando e regulando o comportamento
humano, que é mutável. O importante é compreender que a ética está em
constante transformação histórico-social, e assim precisa ser observada.

• Precisamos considerar que deve haver um respeito com relação às normativas


comportamentais dos outros grupos sociais, pois eles foram sendo constituídos
historicamente de forma diferente da nossa.

• No conceito de ética, aparecem diversas características do nosso próprio


comportamento humano em sociedade, como nossos hábitos, costumes,
caráter, virtudes, códigos e assim por diante, demostrando que a ética está aí
para nos direcionar, dar um aporte, um rumo a ser seguido no nosso dia a dia,
mas a decisão de como agir é somente de cada um, pois temos o livre arbítrio
de escolher em fazer o bem ou o mal, de fazer certo ou errado.

• Devemos agir normalmente conforme os preceitos constituídos socialmente


e o nosso livre arbítrio decisório, mas sempre no intuito de fazer o bem e sem
prejudicar ninguém.

• A moral designa o modo de ser dos seres humanos, seu comportamento perante
os outros. E que esse comportamento está pautado nos princípios e diretrizes
da ética.

• A moral denota um costume comportamental dos preceitos éticos, na relação


com os outros em sociedade. Nesse sentido, vale expor que costume é
compreendido como a prática reiterada e constante de algum comportamento
habitual dos seres humanos, e que este seja notório, ou seja, conhecido e tido
como um hábito geral de um determinado grupo social.

• A ética realiza os estudos do comportamento humano, e de posse desses


resultados e suas análises, desenvolve o regramento social da conduta moral
dos seres humanos.

• A ética e a moral estão sempre juntas, por isso que possuímos um


comportamento ético-moral, pois uma estuda como devemos nos comportar
eticamente na sociedade em que fazemos parte (a ética), e outra (a moral) é o
próprio comportamento, que é determinado pelas nossas escolhas de fazer o
bem ou o mal, o certo ou o errado. Esse ciclo é desenvolvido historicamente,
desde os primórdios da humanidade.

• Com relação ao comportamento dos seres humanos que são contrárias a alguma
coisa, estamos falando das pessoas que são adversas, antagônicas, avessas,
desfavoráveis e opostas a alguma situação de sua vida cotidiana.

• Aquela postura que denota ausência ou que seja contrária, podemos verificar
que quem toma essa decisão é única e exclusivamente o ser humano, em seus
processos de tomada de decisão, junto ao coletivo social.
46
AUTOATIVIDADE

1 No senso comum, frequentemente utilizamos as palavras ética e moral (e


antiético e imoral) de forma intercambiável. Isso é, falamos da pessoa ou ato
como ético ou moral, pois, todos os nossos comportamentos em sociedade
são compreendidos socialmente como certos ou errados, éticos ou antiéticos,
morais ou imorais, denotando sempre os dois lados de uma mesma moeda.
Sobre a definição de ética, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) São as normas e princípios que dizem respeito ao comportamento do


indivíduo no grupo social a que pertence.
b) ( ) São as normas e princípios que falam do nosso dia a dia social e das
lacunas morais em nosso agir.
c) ( ) São todas as habilidades em utilizar a moralidade para criticar as ações
de outrem.
d) ( ) É um sofisma da moralidade com relação à sociedade moderna.

2 A Moral pode ser entendida como um sistema de normas, princípios e


valores que servem para regulamentar as relações entre os indivíduos e
deles com a comunidade, definindo normas de comportamento com caráter
histórico e social e que sejam acatadas de forma livres e conscientemente,
por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou
impessoal. Com relação à moral, analise as sentenças a seguir:

I- Moral é o conjunto de regras e princípios morais.


II- Moral é a dimensão ideal da moralidade.
III- Moral é relativo à dignidade, ao decoro e à honra.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) Somente a sentença II está correta.
d) ( ) Somente as sentenças III está correta.

3 Desenvolver a ética e a moral se faz necessário em toda a esfera da sociedade


moderna. A ética e a moral estão conectadas de maneira implícita no
próprio comportamento do homem em sociedade, no meio social, político
e econômico que vivem e convivem com os outros. Com relação à ética,
analise as sentenças a seguir:

I- A ética está em constante transformação histórico-social.


II- A ética está associada ao agir imoral da sociedade.
III- A ética realiza os estudos do comportamento humano, e de posse desses
resultados e suas análises, desenvolve o regramento social da conduta
moral dos seres humanos.

47
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

48
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E


CONDUTA MORAL

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, neste tópico, desenvolveremos uma análise
referente aos valores, princípios, essência, consciência e conduta moral, no qual
aprofundaremos nosso conhecimento acerca dos valores e princípios morais,
como princípios norteadores da ética, na questão dos valores humanos e os
princípios éticos e morais.

Perpassaremos pela discussão da essência intrínseca da moral,


desvelando aspectos correlacionados às particularidades da moralidade humana,
principalmente no seu comportamento perante o meio social, político e econômico.

Também discorreremos sobre a consciência e empoderamento moral dos


seres humanos, procurando fazer uma reflexão sobre os estágios da consciência
ética e moral, elucidando, assim, as etapas da evolução humana.

Outra questão que estudaremos, nesta unidade, será a questão da conduta


moral, ou seja, do comportamento moral das pessoas em si.

Prontos para começar? Espero que sim! Então, vamos lá compreender


sobre os valores, princípios, essência, consciência e conduta moral da vida
cotidiana das pessoas!

Bons estudos!

FIGURA 14 – VALORES MORAIS E SUA IMPORTÂNCIA NA SOCIEDADE

FONTE: <https://bit.ly/3t3mSAF>. Acesso em: 10 fev. 2021.

49
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

2 OS VALORES E PRINCÍPIOS MORAIS COMO PRINCÍPIOS


NORTEADORES DA ÉTICA
Proporcionaremos, nesse momento, uma reflexão relativa aos valores
e princípios morais, principalmente compreendendo-os como princípios
norteadores da ética. Nesse sentido, apresentaremos preliminarmente a concepção
conceitual das categorias “valor” e “princípios”, para depois relativizar nossa
análise com as questões ético-morais.

Desse modo, o quadro a seguir demostrará as principais características da


terminologia “valor”. Vejamos!

QUADRO 16 – CARACTERÍSTICAS DA TERMINOLOGIA VALOR

VALOR

• CARACTERÍSTICA (de uma ação, de um fato, de uma coisa) em que se


funda uma preferência.
• Significado rigoroso de um termo.

• IMPORTÂNCIA de determinadas coisas.


• Coisas valiosas.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 291) e Ferreira (2008, p. 806)

Diante do supracitado quadro, pode-se perceber que os valores correspondem


a uma determinada importância que damos a alguma coisa, fato ou ato que iremos
praticar. Sendo que esses valores são constituídos historicamente e que formam a
cultura de um povo ou de um grupo social, então esses valores são culturais.

O que é um valor cultural? Vejamos!

No Quadro 17, apresentaremos as características conceituais dos valores


culturais, que é primordial entendermos, pois eles nos levarão a compreender
algumas decisões que tomamos em nossas vidas.

QUADRO 17 – CARACTERÍSTICAS DO VALOR CULTURAL

VALOR CULTURAL
É uma ideia comum sobre como alguma coisa é classificada em termos de
desejabilidade, mérito ou perfeições sociais relativas.
• Em todos os casos, o que torna a ideia
• Valores podem ser usados para
um valor é seu uso para categorizar
classificar virtualmente qualquer coisa,
coisas em relação a outras, e não
incluindo:
as comparar como sendo apenas
semelhantes ou diferentes.

50
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

o Abstrações (lógica acima da


intuição).
o Objetos (ouro acima de chumbo).
o Experiência (amar e perder acima
de nunca amar).
o Comportamento (dizer a verdade
acima de mentir).
o Características pessoais (alta
estatura acima de baixa).
o Estados de ser (sadio acima de
doente).

Podemos distinguir entre valores


culturais, por um lado e gostos e Compreendemos a autoridade dos
preferências pessoais, por outro. valores culturais.

Situação essa em que a Única Contudo, como existindo fora do


autoridade, no tocante às últimas, é o indivíduo que pode tê-los.
próprio indivíduo.

• A honestidade, por exemplo, é


valorizada não porque você ou eu • O fato de nós, como indivíduos,
dizemos que tem valor, mas porque não darmos muita importância aos
vemos a honestidade como algo valores, não afeta muito sua categoria
considerado importante em nossa como parte da cultura.
cultura.

Valores são partes importantes de todas as culturas, porque


INFLUENCIAM a maneira como pessoas escolhem e como sistemas sociais
se desenvolvem e mudam.
FONTE: Adaptado de Johnson (1997, p. 247)

Conseguiram perceber que os valores culturais permeiam em nosso


comportamento ético e moral? Espero que sim, pois os valores norteiam e
influenciam o comportamento humano em sociedade, já que são ideias comuns
socialmente construídas e positivadas pelo coletivo social no cotidiano das
relações humanas e sociais.

Diante desse cenário, Pieritz (2013, p. 39), reforça essa discussão, expondo
que é importante “compreender o significado de valor, pois, ao refletir sobre
ética, também falamos sobre os nossos valores e virtudes e, consequentemente,
no comportamento dos homens”. Possibilitando, assim, realizarmos uma reflexão
pertinente às questões ético-morais, pois vale salientar que estamos nos reportando,
aqui, diretamente à “vida moral dos homens, e essa moralidade social é permeada
de valores, esses também constituídos em sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 39).

51
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Aqui entrou outra categoria na nossa análise, que é a questão da virtude


humana, que segundo Ferreira (2008, p. 819), é compreendida como a “disposição
firme e constante para a prática do bem. Força moral”. Quer dizer, dentro dos
nossos valores culturais, temos qualidades comportamentais, que são subjetivas
de cada pessoa, e fazer o bem é uma delas.

Dentre as virtudes humanas, podemos citar como exemplo:

QUADRO 18 – EXEMPLOS DE VIRTUDES HUMANAS

FONTE: A autora

Diante desse lindo painel de alguns exemplos das virtudes humanas,


questionamos: o que pode ser considerado um valor dos princípios morais?

Vejamos!

Segundo José Paulo Netto, a filósofa Agnes Heller cita que “valor é tudo
aquilo que contribui para explicar e para enriquecer o ser genérico do homem,
entendendo como ser genérico um conjunto de atributos que constituiriam a
essência humana” (PAULO NETTO, 1999 apud BONETTI et al., 2010, p. 22-23).

Assim, de acordo com Pieritz (2020, p. 37), “valor é aquele atributo


essencial do comportamento ético-moral, que explica a subjetividade humana,
suas preferências e modo de ser”. Esses atributos ético-morais, na perspectiva de
Heller (PAULO NETTO, 1999 apud BONETTI et al., 2010) são:

QUADRO 19 – ATRIBUTOS NA PERSPECTIVA DE HELLER

• Que expressa prioritariamente por intermédio do


trabalho.
OBJETIVAÇÃO
• Que proporciona sair do subjetivo e passar para o real
e o concreto

• Que se expressa com a convivência com o outro, em


grupo.
SOCIALIDADE
• Aprendiz com o outro.
• Assimilação de normas sociais.

52
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

• Tomar ciência dos fatos ou de alguma coisa.


• Reconhecimento da realidade.
CONSCIÊNCIA
• Descoberta de algo.
• Capacidade de perceber as coisas.

• Universal.
UNIVERSALIDADE • O todo.
• Fazer parte de um determinado grupo.

LIBERDADE • Livre-arbítrio
FONTE: Adaptado de Paulo Netto (1999 apud BONETTI et al., 2010, p. 23)

O que é um princípio?

Vejamos! O quadro a seguir demostrará as principais características da


terminologia “princípios”.

QUADRO 20 – CARACTERÍSTICAS DA TERMINOLOGIA PRINCÍPIOS

PRINCÍPIOS

• PRECEITO, REGRA.
• Fonte ou finalidade de uma instituição, aquilo que corresponde á sua
natureza, essência ou espírito.
• Aquilo em que se encontra a BASE ou ORIENTAÇÃO para o agir.
• Os primeiros preceitos de uma arte ou ciência.

• ORIENTAÇÃO FUNDAMENTAL de comportamento.


• Bons costumes, educação.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 228) e Ferreira (2008, p. 654)

Diante do supracitado quadro, pode-se perceber que um princípio denota


uma orientação, uma regra que nos orienta, ou seja, são as bases normativas que
norteiam nosso comportamento.

Você sabe as diferenças entre os valores e princípios?

Sim? Não? Talvez?

Vamos juntos compreender essas diferenças?

Pieritz (2020) nos dá uma precisa noção em relação a essas diferenças


conceituais dos valores e dos princípios, as quais podemos vislumbrar no quadro
a seguir:

53
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

QUADRO 21 – DIFERENÇAS CONCEITUAIS DOS VALORES E PRINCÍPIOS

VALORES PRINCÍPIOS

• É o SENTIDO INTRÍSECO da • São os PARÂMETROS, PRECEITOS,


moral e do comportamento, o seu NORMAS, LEIS e MARCOS de
conjunto de qualidades individuais, referência universais, que definem as
que transmite o modo de ser das regras de conduta social e consequente
pessoas, ou seja, cada um de nós a mediação das consequências do
possuímos nossas subjetividades, que comportamento humano.
alimentam a conduta humana em
sociedade, a qual, propicia a definição • São os PRESSUPOSTOS que estão
da personalidade e preferência das conectados diretamente com a nossa
pessoas. consciência e modo de agir.

EXEMPLOS EXEMPLOS

O princípio da IGUALDADE,
A HUMILDADE, BONDADE,
IMPARCIALIDADE,
RESPEITO e assim por diante.
MORALIDADE, LIBERDADE etc.
FONTE: Adaptado de Pieritz (2020, p. 38)

E
IMPORTANT

“Esses atributos, segundo muitos estudiosos, são os elementos constitutivos


do ser humano, do ser social” (PIERITZ, 2013, p. 41).

Propiciamos até o presente momento um debate relativo aos valores e


princípios ético-morais, o qual pode-se compreender que “a ética é formada pelo
estudo e investigação do comportamento e dos juízos de valores, estabelecendo
ponderações de valor para o que está de acordo ou não com as normas e regras
de convivência dos homens em sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 41), elucidando que
“são os valores e princípios ético-morais que moldam a postura comportamental
do ser humano” (PIERITZ, 2020, p. 38).

Por fim, o que são os valores sociais?

Pieritz (2013, p. 41, grifo nosso) expõe que:


Diariamente, analisamos e fazemos julgamentos de valores tanto de
coisas como dos seres humanos. Por exemplo, “Aquela flor tem muitos
espinhos, pode me machucar”. “Este sabonete é ruim para mim, pois
me dá alergia”. “Este chocolate é ruim, pois derrete fácil”. “Gosto muito
daquele chocolate, porque é muito gostoso”. “Acho que a Samanta
agiu bem ao ajudar você no trabalho de aula”. “Aquele profissional
é competente”. Essas afirmações se referem ao juízo de valor da

54
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

realidade em que estamos inseridos, pois quando partimos do fato que


a flor, o sabonete, o chocolate, a moça e o profissional existem realmente,
atribuímos algumas qualidades a eles, que podem nos atrair ou repelir.

Assim, os valores sociais são concebidos coletivamente pela construção


histórica das relações humanas, principalmente no convívio do dia a dia dos seres
humanos em sociedade e, segundo Pieritz (2020, p. 39, grifo nosso), “é a qualidade
que empregamos às coisas e ações, que definem seus valores”.

De tal modo, que no nosso dia a dia, de acordo com Pieritz (2013, p. 41),
“empregamos diversos tipos de valores, tais como: utilidade, estético, afetividade,
do bem e mal, religiosos, aspectos econômicos, sociais e políticos”.

Para finalizar este subtópico, verifique, na Figura 15, alguns exemplos de


princípios e valores:

FIGURA 15 – EXEMPLOS DE PRINCÍPIOS E VALORES

FONTE: <http://www.kipique.com.br/imagens/vantagens.jpg>. Acesso em: 10 fev. 2021.

Compreenderam? Espero que sim!

3 A ESSÊNCIA INTRÍNSECA DA MORAL


Prezado acadêmico, neste momento, realizaremos um debate acerca da
essência intrínseca da moral, pois já compreendemos nos subtópicos anteriores
o real sentido da moral e suas características conceituais, e agora procuraremos
discorrer sobre o cerne e o coração da questão da moral do ser humano. Vamos lá!

Primeiramente, precisamos conhecer o significado da categoria “essência”


e “intrínseco”, para depois debatê-los com relação à moral.

55
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Assim, podemos compreender que a essência, segundo Cunha (2011, p. 137),


é “aquilo que constitui a natureza de um ser, considerando independentemente
o fato de existir”. O que denota uma característica indispensável e necessária de
uma determina ação, ou seja, o seu caráter primordial, o sentido que a ação possui.

Com relação à questão de uma ação ser considerada intrínseca, Ferreira (2008,
p. 488) coloca-nos que a terminologia “intrínseco” denota que é o “que está dentro
duma coisa ou pessoa e lhe é próprio, íntimo. Inseparavelmente ligado a uma coisa ou
pessoa”. Assim, podemos expor que possuímos determinadas características morais
que são inerentes à própria condição humana, pois já estão concebidas naturalmente
pela própria evolução do comportamento humano em sociedade.

E
IMPORTANT

Aqui, precisamos compreender duas coisas:


• Essência – é o sentido da ação.
• Intrínseco – é natural, é pertencimento, é próprio da ação.

Mediante essas supracitadas concepções, Pieritz (2013, p. 35) expõe que


devemos partir “do entendimento de que todo homem pode ser considerado um
ser ético e que nossas raízes éticas advêm da nossa própria história por meio
do trabalho”, de tal modo, que podemos realizar alguns questionamentos com
relação a nossa forma de se relacionar com o outro em sociedade ou num grupo
social, político ou econômico, ou seja, devemos nos perguntar:

• Qual é a natureza da moral das pessoas?


• Por que a moral é tida como necessária para a vida cotidiana do ser humano?
• E como é o comportamento moral?

Assim, partimos do princípio que compreendemos que, segundo Barroco


(2000, p. 25), “a (re)produção da vida social coloca necessidades de interação
entre os homens, modos de ser constitutivos da cultura, produtos do trabalho, tais
como a linguagem, os costumes, os hábitos, as atividades simbólicas, religiosas,
artísticas e políticas”. Desse modo, necessitamos estar socializando com os demais
integrantes dos nossos grupos sociais, já que não conseguimos viver isolados e
sem o contato com nossos semelhantes.

Perante esse contexto, no Quadro 22, gostaríamos de apresentar alguns


exemplos dessa preeminente necessidade biológica de interação e contato com
outros seres humanos.

56
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

QUADRO 22 – EXEMPLOS DAS NECESSIDADES DE INTERAÇÃO ENTRE OS HOMENS PARA A


REPRODUÇÃO DA VIDA COTIDIANA

QUESTÃO DE
NECESSIDADE PARA
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
A REPRODUÇÃO DA
VIDA COTIDIANA

• Observa-se que, em toda região do Brasil, como no


mundo, desenvolvem-se ao longo de suas próprias
histórias, diversos grupos, que são ligados por seus
costumes e hábitos da vida cotidiana, tais como:
LINGUAGEM,
o o nosso tipo de comida;
HÁBITOS E
o o estilo de vida;
COSTUMES
o as atitudes.

• Esses costumes e hábitos propiciam a determinação


do nosso convívio social. Desenvolvendo, assim,
uma linguagem e dialeto próprio.

• Aqui, o Lúdico de uma realidade abstrata e


simbólica positivada denota um aspecto muito
importante para o desenvolvimento das pessoas,
ATIVIDADES para assim poderem se espelhar naquela atividade.
SIMBÓLICAS
• Pois a simples aplicação de leituras de histórias
de conto de fadas serve para o desenvolvimento
emocional de crianças.

• As cenas representativas dos atos da vida cotidiana


reforçam aspectos intrínsecos da personalidade
das pessoas.
ARTÍSTICA • Assim, qualquer atividade artística, como a
dança, a pintura, o teatro exercem sobre os seres
humanos, a possibilidade do desenvolvimento
criativo e a liberação do imaginário.
FONTE: Pieritz (2020, p. 35)

Assim, pode-se verificar que nesses supracitados exemplos das


necessidades de interação entre os homens para a reprodução da vida cotidiana,
podemos vislumbrar que nossas linguagens, hábitos e costumes, assim como
nossas atividades simbólicas e artísticas, são essenciais e necessárias para o nosso
próprio desenvolvimento humano.

Nessa questão das necessidades do relacionamento com os outros, para


a reprodução da vida cotidiana, precisamos compreender que “de acordo com o
conjunto de possibilidades e necessidades de cada grupo socialmente constituído,

57
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

é que se terá a criação e desenvolvimento dos valores, seja individual ou coletivo,


institucionalizando um padrão do que é considerado certo ou errado, bom ou
mau” (PIERITZ, 2020, p. 35).

Como poderemos considerar, então, as configurações intrínsecas de ser


da moral?

Essas configurações da moral, segundo Barroco (2000, p. 25-26), denotam que:


[...] o campo da moral é um espaço de criação e realização de normas e
deveres, de atitudes, desejos e sentimentos de valor. Na vida cotidiana,
julgamos as ações práticas como corretas ou incorretas; fazemos juízo
de valor sobre nosso comportamento e dos outros; nos deparamos com
situações em que ficamos em dúvida sobre a melhor escolha; projetamos
nossa vida a partir de valores que julgamos positivos e negamos as ações
que se orientam por valores que consideramos negativos.

Vale ressaltar que, no cenário da vida cotidiana dos seres humanos,


em suas relações em sociedade, têm pessoas “que não respeitam as normas de
conduta da sociedade em que vivem, por isso, elas possuem um comportamento
imoral ou antiético, ou seja, negam as normas e diretrizes morais constituídas e
legitimadas pela própria sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 36). Evidenciando que
“existem os dois lados da moeda do comportamento moral, os que são adeptos
do comportamento ético-moral e os contrários a ele, demostrando a liberdade da
escolha da conduta humana” (PIERITZ, 2020, p. 36).

Barroco (2000, p. 26) complementa essa discussão, expondo que:


Todos esses julgamentos, sentimentos, escolhas e desejos constituem o
campo da moral; referem-se a valores, normas e deveres que orientam o
comportamento dos indivíduos em sociedade, reproduzindo um dever
ser que possa fazer parte do seu ethos, de seu caráter, determinando
sua consciência moral, influenciando as escolhas, os projetos, as ações
práticas dirigidas à realização do que se considera bom. É também
no âmbito da moral que falamos do senso moral, pois se considera
que os indivíduos estão socializados quando têm capacidade para se
autodeterminar em face de situações de conflito, podem distinguir o
que é bom e o que não é, podem ser responsabilizados pelos seus atos.

Pieritz (2013, p. 38) percebe ainda “que a moral sugere, constantemente, a


valorização de nossas ações e de nossos comportamentos em sociedade, mas é a
moral que determina quais são os nossos direitos e deveres perante a sociedade
em que vivemos”. De tal modo que, propicia uma regulação do nosso modo de
interagir com os demais integrantes dos grupos sociais, políticos e econômicos
que fazemos parte.

No entanto, de acordo com Pieritz (2020, p. 36), “tanto os direitos, como os


deveres e obrigações socialmente constituídos, denotam responsabilidade sobre
os atos praticados, pois ambos estão diretamente associados ao nosso modo de
ser e conviver em sociedade”, ou seja, somos responsáveis diretos pelas nossas
decisões comportamentais e respondemos por ela.

58
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

Você sabe quais são essas responsabilidades que estamos falando aqui?

Segundo Pieritz (2020, p. 36), são as responsabilidades sobre:


• Sentimentos.
• Escolhas.
• Desejos.
• Atitudes.
• Posicionamentos diante da realidade.
• Juízo de valor.
• Senso moral.
• Consciência moral.

Compreenderam que podemos ser considerados responsáveis diretos


por todos os nossos atos e decisões comportamentais, sejam de ação ou omissão?
Visto que, segundo Pieritz (2013, p. 39), “não podemos esquecer que a moral, seus
hábitos, princípios e costumes são constituídos em sociedade e no decorrer de
nossa história. Essas construções são baseadas no dia a dia das relações sociais,
que compõem a produção e reprodução da vida em sociedade”.

Pieritz (2020, p. 37) compreende “que todas as pessoas possuem


consciência e responsabilidade sobre os atos que praticam no seu cotidiano, tanto
individualmente como socialmente”.

Assim, podemos concluir que existe uma essência comportamental na


ação cotidiana dos seres humanos, e que estão intrínsecas à própria ação em si,
permitindo que o ser humano se sinta pertencente ao grupo social, político ou
econômico do qual faz parte.

4 A CONSCIÊNCIA E O EMPODERAMENTO MORAL


Olá, acadêmico! Agora, pretendemos aprofundar nossos conhecimentos
acerca da própria consciência e do empoderamento moral em si, em que
realizaremos uma discussão da gênese da consciência moral, refletindo a questão
da necessidade da ciência dos fatos e das coisas, para o desenvolvimento humano
em sociedade.

Assim, no Quadro 23, apresentaremos as principais características da


concepção conceitual da consciência humana. Vejamos!

59
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

QUADRO 23 – CARACTERÍSTICAS DA TERMINOLOGIA CONSCIÊNCIA

CONSCIÊNCIA
Consciência é:
• Tomar CIÊNCIA dos fatos ou de alguma coisa.
• Reconhecimento da realidade;
• Descoberta de algo;
• Capacidade de perceber as coisas.
• Atributo pelo qual o homem pode conhecer e julgar sua própria realidade.
• Faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados.
• CONHECIMENTO.
• Percepção imediata dos acontecimentos e da própria atividade psíquica.
FONTE: Adaptado de Paulo Netto (1999 apud BONETTI et al., 2010, p. 23) e Ferreira (2008, p. 259)

Desse modo, demostrou-se, no supracitado quadro, que a consciência


humana denota que temos ciência, noção, conhecimento e compreensão dos
fatos e das coisas, em que possamos reconhecer e distinguir a realidade posta,
possibilitando às pessoas a faculdade de perceber as coisas como elas realmente
são e como poderiam ser. Para assim, poder exercer seu livre arbítrio decisório,
de que postura tomar frente à realidade cotidiana da vida em sociedade.

Sob essa perspectiva, entra a questão do empoderamento humano e


social, pois a partir da consciência das coisas, o ser humano se empodera dessas
informações e conhecimentos, para assim tomar posturas frente a sua realidade
de vida.

Daí, perguntamos: Você já escutou algo sobre empoderamento?

Sim? Não? Talvez

Entretanto, não se preocupe, pois agora apresentaremos um extrato do texto


adaptado de Pieritz (2004, p. 80-84), que nos trará o conceito do empoderamento:

EMPODERAMENTO

(Empowerment)

Por Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

[...]

Vasconcelos (2001, p. 5, grifo nosso) cita que o empoderamento é o


“aumento do poder pessoal e coletivo de indivíduos e grupos sociais nas relações
interpessoais, principalmente daqueles submetidos às relações de opressão e
dominação social”.

60
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

De acordo com Vasconcelos (2001), o termo “empoderamento” (em


inglês: empowerment) é empregado para assinalar um processo contínuo de
desenvolvimento do poder, fortalecendo a autoconfiança dos grupos e indivíduos
sociais desfavorecidos, capacitando-os para a articulação de seus interesses, e
para a participação na comunidade e no processo político.

Acrescentando, Fridemann (1996, p. 8, grifo nosso) afirma que se pode


conceber empoderamento também como “todo acréscimo de poder que, induzido
ou conquistado, permite aos indivíduos ou unidades familiares aumentarem a
eficácia do seu exercício de cidadania”.

Falar em empoderamento trata-se de discorrer sobre um aglomerado


de táticas para desenvolver e fortalecer o poder, tanto de grupos, indivíduos
e instituições perante a sociedade civil em geral.

Segundo Mattar (2003, p. 1, grifo nosso), “[...] A única coisa que parece
permear toda prática que utiliza a abordagem é a noção de que ninguém
empodera ninguém. As pessoas é que se empoderam”.

Ou seja, o processo de empoderamento de grupos ou indivíduos acontece


quando esses atores sociais conquistam uma consciência da dependência social
em que vivem e da dominação política que estão envolvidos, acarretando, assim,
não só uma emancipação individual ou coletiva, mas adquirem autoestima e se
empoderam na busca constante da realização de seus objetivos.

Mattar (2003) prosseguindo sua reflexão faz o seguinte questionamento:

Afinal, o que é empoderamento?


[...] Em resumo, trata-se de conscientização sobre direitos e sobre como
se pode exercê-los para operar melhoras nas condições de vida de uma
pessoa ou comunidade, jogando luz sobre as relações de poder que as
colocam em situação de pobreza ou exclusão. (MATTAR, 2003, p. 1)

Complementando a discussão de Mattar (2003), acerca do empoderamento


de grupos e indivíduos, observa-se que se trata da capacidade que o homem
tem de conhecer valores e mandamentos morais e aplicá-los nas diferentes
situações da realidade da vida, das questões sociais e das causas que formam
essas expressões das questões sociais, podendo compreendê-las melhor e atuar
junto a suas possíveis resoluções, possibilitando com isso uma melhor qualidade
de vida para esses atores.

Segundo Ronano (ANO apud MATTAR, 2003, p. 1, grifo nosso),


empoderamento "é um processo pelo qual as pessoas, as organizações, as
comunidades assumem o controle de seus próprios assuntos, de sua própria
vida e tomam consciência de sua habilidade e competência para produzir, criar
e gerir", ou seja, o empoderamento propicia autocontrole, autonomia para que os
atores tenham controle sobre suas vidas.

61
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Segundo Mattar (2003, p. 1), o empoderamento


[...] tem a ver com conscientização, noção sobre direitos e –
principalmente – com a análise das relações de poder, como o
próprio termo indica. Empoderar, portanto, passa pela conquista de
poder, entendido como a autonomia sobre os rumos e processos que
influem na vida de uma pessoa ou comunidade. Não se trata apenas
de conhecer direitos e exercê-los, mas também de construir novos
direitos, influir em políticas públicas etc.

Mattar (2003) coloca-nos que o empoderamento é um mecanismo que


propicia aos atores o poder de assimilar ideias, analisar, raciocinar, julgar,
visualizar problemas, reconhecer aptidões e desenvolver habilidade mental
sobre os direitos e deveres das pessoas, determinando, assim, a autonomia do
destino de cada ser humano, em prol de melhoria de qualidade de vida, tanto
individual como coletiva.

Segundo Sing e Titi (1995, p. 13):


O conceito vai além das noções de democracia, direitos humanos e
participação para incluir a possibilidade de compreensão a respeito
da realidade do seu meio (social, político, econômico, ecológico e
cultural), refletindo sobre os fatores que dão forma ao seu meio
ambiente bem como à tomada de iniciativas no sentido de melhorar
sua própria situação.

O empoderamento baseia-se não só na compreensão dos direitos


humanos e na percepção da realidade da vida cotidiana, mas também, constitui-
se nos momentos de tomadas de decisões e na realização de ações em prol da
realização dos objetivos pessoais, como coletivos.

Assim, no sentido de contribuir para esse debate e investigar o processo


do empoderamento, torna-se necessário pontuar algumas considerações
históricas, perpassando por algumas tradições (da Era Moderna) e correntes
teóricas correlacionadas ao processo de empoderamento tanto de grupos
sociais, como de atores individuais.

Do ponto de vista teórico, Vasconcelos (2001, p. 7-8) sustenta as seguintes


premissas básicas:
a) Trabalhar com a noção de empowerment implica importar toda a
complexidade do poder como fenômeno teórico, político, social e
subjetivo;
b) O presente uso de ideais de empowerment não constitui um fenômeno
genuinamente novo, mas uma reapropriação e reelaboração de
tradições e interpelações já existentes, em um contexto histórico
que, então, apresenta importantes características novas que dá a
essas interpelações novas facetas;
c) O desenvolvimento de estratégias de empowerment constitui
frequentemente um processo não linear, não acumulativo ou
progressivo, como acontece nas formas de poder localizadas no nível
mais macrossocietário e mais estruturais e institucionalizadas.

62
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

Neste último ponto de vista, Vasconcelos (2001) demonstrou-nos que


o processo de empoderamento vem se constituindo historicamente na vida
dos seres humanos, e esse processo de empoderamento se processa tanto nas
esferas teóricas, políticas, sociais e subjetivas, ou seja, ela está em constante
transformação na vida dos homens, pois a cada conjuntura esse processo
também se altera em alguns aspectos.

Finalizando, Vasconcelos (2001, p. 48) conclui sua análise citando que o


“empowerment constitui um território que necessariamente teremos de enfrentar
na busca contemporânea por uma profunda democracia, igualdade social e
cidadania”, ou seja:

O processo de empoderamento dos seres humanos lhes propiciarão


condições de usufruírem seus direitos políticos, econômicos e sociais,
proporcionando-lhes cidadania, democracia e uma maior igualdade social.

FONTE: Adaptado de PIERITZ, V. L. H. O Empoderamento da rede de economia solidária do vale


do Itajaí – RESVI: A esfera pública em construção. Blumenau: Furb, 2004.

Gostaram? Espero que sim!

Podemos vislumbrar que por intermédio da consciência humana dos


fatos e das coisas, empoderamo-nos junto ao coletivo social, tornando-nos com
mais poder de decisão perante a sociedade que estamos inseridos.

Assim, dando prosseguimento em nossa reflexão, é salutar lembrar de um velho


ditado popular, o qual expõe que “o homem é homem, porque é um ser racional!”.

“A questão não é tão simples assim, pois não podemos dizer que a ética
só depende da razão e que a racionalidade é o seu fator constituinte” (PIERITZ,
2013, p. 21).

Denotando que essa racionalidade humana, segundo Pieritz (2020, p. 40, grifo
nosso), “advém da consciência e empoderamento dos valores e princípios ético-
morais adquiridos no decorrer da história da humanidade. E refletem diretamente
no senso e na consciência moral do ser humano”.
Entretanto, antes de tudo, precisamos compreender o significado das
ações ético-morais na vida dos seres humanos, indagando se o simples
fato de pensar e estabelecer normas de conduta da realidade cotidiana
pode ser compreendido como a realização de uma atividade prática em
sua vida, ou seria possível que a vida dos homens fosse estabelecida
apenas por sua racionalidade ou pela composição de regras, normas e
valores sociais? (PIERITZ, 2013, p. 21-22).

63
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Sendo assim, vale salientar que, nesse cenário, as pessoas vivem e convivem
coletivamente “num mundo real, palpável, pulsante e em constantes transformações,
na qual, constantemente estamos estabelecendo novas e diversas relações com a
própria natureza, e esse contato propicia sua própria transformação, modificando-a
de acordo com suas necessidades reais de sobrevivência” (PIERITZ, 2020, p. 40).

Assim, segundo Pieritz (2013, p. 22):


Os seres humanos estão ligados à natureza e dela dependem para
se constituírem como seres sociais, pois, à medida que utilizam sua
consciência sobre a natureza, desenvolvem necessidades práticas
de sobrevivência, ou seja, não basta apenas pensar e observar, se
faz necessário que os homens ajam sobre sua realidade cotidiana,
realizem seus desejos e vontades e transformem a sua vida conforme
suas necessidades e as necessidades de sua sociedade.

Desse modo, Marx e Engels (1987, p. 22) colocam-nos que:


[...] o primeiro pressuposto de toda existência humana e, portanto, de
toda história, é que os homens devem estar em condições de viver para
poder fazer história. Mas, para viver, antes de tudo comer, beber, ter
habitação, vestir-se e algumas coisas a mais. O primeiro ato histórico
é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação dessas
necessidades, a produção da própria vida material, e fato este é um
ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda
hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprida todos os dias e
todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos.

Pieritz (2020, p. 41) expõe também “que a realização de nossas atividades


e necessidades humanas é entendida como um fato social, que é historicamente
constituído, e esse fato relativo à relação e ao convívio social se torna primordial
para compreendermos a própria existência humana”.

O que é fato social?

O fato social pode ser compreendido como “uma característica cultural


e estrutural de sistemas políticos que experimentamos como externa a nós e que
exerce uma influência e autoridade que equivalem a mais do que a soma das
intensões e motivações de indivíduos que, por acaso participem desses sistemas
em um determinado tempo” (JOHNSON, 1997, p. 108).

Johnson (1997, p. 109) expõe que “Durkheim argumentava que a natureza


coletiva da sociedade e da vida social não podia reduzir a experiência do
indivíduo, ou representações da mesma, que experimentar a lei como individuo,
por exemplo, não poderia explicar a lei como fenômeno social”. Assim, podemos
observar que os fatos sociais também são constituídos historicamente pela
composição dos seres humanos em sociedade.

Compreenderam o que é um fato social? Esperamos que sim!

64
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

Prosseguindo em nosso debate, neste momento, ampliaremos nossa


percepção com relação à própria existência da ética na nossa vida cotidiana. Para isso,
a filósofa Marilena Chaui, agracia-nos com uma linda reflexão, apresentando-nos
algumas situações da vida cotidiana, trazendo um debate relativo ao senso moral e a
consciência moral. Vejamos!

QUADRO 24 – REFLEXÃO DA EXISTÊNCIA ÉTICA

NOSSOS SENTIMENTOS E NOSSAS AÇÕES EXPRIMEM NOSSO


SENSO MORAL

• VIVEMOS CERTAS SITUAÇÕES, ou sabemos que foram


vividas por outros, como situações de extrema aflição e angústia,
situações felizes e de prazer.
• Denotando a consciência destas situações advindas dos fatos
SITUAÇÕES históricos vividos pelo homem, a qual, buscamos no espirrar e
de vida moldar.

• Situações como essas – mais dramáticas ou menos dramáticas –


de alegria e de tristeza – de sucesso e fracasso – surgem sempre
em nossas vidas.

• NOSSAS DÚVIDAS quanto à DECISÃO CERTA A TOMAR


não manifestam nosso senso moral, mas também põem a prova
nossa consciência moral, pois exigem que decidamos o que fazer,
que justificaremos para nós mesmos e para os outros as razões
de nossas decisões e que assumimos todas as consequências
delas, porque somos responsáveis por nossas opções.
DECISÕES
de vida • Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolável ou
por alguma emoção forte (medo, orgulho, ambição, vaidade,
covardia), fazemos alguma coisa que, depois, sentimos vergonha,
remorso, culpa. Gostaríamos de voltar atrás no tempo e agir de
modo diferente.
• Esses sentimentos também exprimem nosso SENSO MORAL.

SENSO MORAL CONSCIÊNCIA MORAL

Conjunto de AVALIAÇÕES de conduta


Conjunto de SENTIMENTOS de
que nos levam a tomar decisões por nós
indignação, de administração ou
mesmos, a agir em conformidade com
de responsabilidade por nossa
elas e a nos responder por elas.
conduta ou de outros.
CAPACIDADE DE DECIDIR o que fazer,
MANEIRA como avaliamos a
de justificar as razões de nossas decisões e
conduta e a ação de outras pessoas.
de assumir as consequências delas.

65
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

O senso moral e a consciência moral referem-se a:


• VALORES de justiça, honradez, espírito de sacrifício, integridade, generosidade:
• SENTIMENTOS provocados pelos valores, de admiração, vergonha, culpa,
remorso, contentamento, cólera, amor, dúvida, medo;
• DECISÕES que conduzem a ações com consequências para nós e para os outros.

Embora os conteúdos dos valores variem, podemos notar que estão se referindo
a um valor mais profundo, mesmo que apenas subentendido: o bom ou o bem.

O SENSO E A CONSCIÊNCIA MORAL dizem respeito a valores, sentimentos,


intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade

Dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto,


NASCEM E EXISTEM COMO PARTE DA NOSSA VIDA SUBJETIVA.
Dizem o porquê as coisas são como são, como são e por
JUÍZO DE FATO
que são.
São avaliações sobre coisas, pessoas e situações, e são
JUÍZO DE VALOR proferidos na moral, nas artes, na política, na religião. Se
referem ao que devem ser.
Homem, dotado de razão, capaz de ver, julgar e agir na
AGENTE MORAL
realidade em que está inserido.
A EXISTÊNCIA ÉTICA é constituída por dois polos internamente relacionados:
• O AGENTE ou O SUJEITO moral (o homem); e
• Os VALORES MORAIS ou os FINS ÉTICOS.

Além disso, é constituída também pelos MEIOS MORAIS.


FONTE: Adaptado de Chaui (2016, p. 312-319)

No Quadro 24, “a filósofa Marilena Chaui expõe com sensatez como as


nossas emoções, anseios, ações e sentimentos exprimem o nosso senso ético-
moral nas diversas situações da vida cotidiana, além de desmistificar as nuances
relativas à consciência e senso moral” (PIERITZ, 2020, p. 43).

Segundo Pieritz (2020, p. 43), “no senso e na consciência moral dos


seres humanos estão estampados nossas intenções e desígnios, como também
nossos valores, emoções e sentimentos, relativos à concepção do bem e do mal”.
Essa composição de valores e princípios formam uma consciência coletiva do
comportamento ético-moral.

O que é uma consciência coletiva?

Vejamos!

O Quadro 25 nos apresentará as principais características de uma


consciência coletiva.
66
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

QUADRO 25 – CARACTERÍSTICAS DA CONSCIÊNCIA COLETIVA

CONSCIÊNCIA COLETIVA

De acordo com Emile Durkheim, a consciência coletiva é um arcabouço


cultural de ideias morais e normativas, a crença em que o mundo social existe
até certo ponto à parte e externo à vida psicológica do indivíduo.

Como indivíduos, sentimos as


limitações e restrições impostas pelo
Quando alguém comete um ato
mundo social e somos afetados por
imoral, por exemplo, é a consciência
elas quando fazemos opções sobre
coletiva que é violada.
como nos mostrar e nos comportar em
relação aos outros.

Dizer que alguma coisa é imoral diz muito mais do que aquilo que é
pessoalmente ofensivo ou abominável para a pessoa que assim se manifesta.

Em vez disso, declarações desse tipo


Nesse sentido, a consciência coletiva é
apelam para uma autoridade maior, que
inteiramente diferente da consciência
está contida na ordem moral associada à
individual.
sistemas sociais como um todo.

Não é uma "mente grupal", mas sim um arcabouço comum que indivíduos
experimentam como externo, limitador e significativo.
FONTE: Adaptado de Johnson (1997, p. 49)

Assim, demostramos que a consciência retrata que nós, seres humanos,


possuímos a capacidade de perceber e reconhecer as coisas e os fatos, sejam
individuais ou coletivos, e que quanto mais informações decodificamos, mais
empoderados estamos.

5 OS ESTÁGIOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E MORAL: AS


ETAPAS DA EVOLUÇÃO HUMANA
Prezado acadêmico! Estudaremos, neste instante, a classificação dos
estágios da consciência ética e do julgamento moral dos seres humanos, procurando
compreender as nuances relativas às etapas e níveis da evolução humana.

Entretanto, vejamos primeiramente o que Alves (2017, p. 1) nos questiona:


• “Como nos tornamos seres morais?”
• “Como aprendemos distinguir entre o certo e o errado?”

Verificamos o que o próprio Alves (2017, p. 1) nos coloca a esse respeito


que, “as respostas filosóficas são tão díspares quanto interessantes”.

67
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Agostinho afirmava que já nascemos depravados e inclinados a


naturalmente escolher o mal, enquanto Rousseau contesta que
originalmente o ser humano é bom, mas nos corrompemos mediante
o contato social. Mais tarde, em uma abordagem psicodinâmica, Freud
dava explicações como a repressão das pulsões (a influência do superego)
para a origem da moral. O psicólogo Jean Piaget deu um grande passo ao
notar que a formação moral é construída e difere entre a construção da
moralidade extrínseca e a internalizada (ALVES, 2017, p. 1).

Desse modo, Pieritz (2020, p. 43) coloca-nos que “tudo depende da


consciência que o ser humano tem dos seus próprios atos e ações perante o
meio em que vive e convive, e que eles são constituídos historicamente pela
sua socialização junto a outras pessoas que estão ao seu entorno”. Quanto mais
conhecimentos adquirimos sobre os fatos e as coisas, mais consciência humana
temos dos nossos preceitos ético-morais, e assim cada vez mais nos empoderamos
nas relações humanas e sociais.

Aveline (2019, p. 1) complementa expondo que “o psicólogo norte-


americano Lawrence Kohlberg (1981) afirma que o desenvolvimento moral do ser
humano tem seis estágios, mas atualmente, são poucos os que alcançam o patamar
mais elevado”. Segundo Pieritz (2020, p. 43), “esses estágios da consciência ética
são desenvolvidos durante o percurso histórico da evolução humana e psicológica
de qualquer pessoa, independentemente de raça, cultura ou etnia”.

Nesse sentido, Alves (2017) expõe que:


Em um notável experimento, Kohlberg descobriu que a construção da
moral ocorre por estágios, paralelos aos estágios desenvolvimentais
então estudados por Piaget. Ainda mais, para uma criança atingir certo
estágio de desenvolvimento moral, deveria antes alcançar um estágio
intelectual que a permitisse assimilar as questões morais e produzir
seu próprio raciocínio (ALVES, 2017, p. 1).

Pieritz (2020, p. 44) complementa colocando-nos que:


Pode-se considerar que a base desses seis estágios da consciência
ética e do julgamento moral dos seres humanos se encontra na fase
do desenvolvimento intelectual do mesmo, para assim possibilitar o
discernimento e compreensão dos fatos e das coisas, possibilitando
seu empoderamento do intelecto e tomadas de decisão, do que é certo
ou errado, do que é fazer o bem, ou o mal.

Já que diante dessas concepções, “os seis estágios também coexistem entre
si. A vida é contraditória. Cada pessoa possui vários níveis de motivos para agir
corretamente e diversos tipos de definição do que é correto” (AVELINE, 2019, p. 1).

Logo, Aveline (2019, p. 1) expõe que “em cada indivíduo ou grupo


social, há alguns níveis de consciência ética que predominam sobre os outros”,
“possibilitando, assim, que todos nós possamos ser diferentes, pois temos o livre
arbítrio da escolha do caminho que desejamos seguir, mediante o desenvolvimento
da nossa consciência ética e moral” (PIEIRTZ, 2020, p. 44).

68
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

Assim, na Figura 16, serão apresentados os seis estágios da consciência


ética e do julgamento moral que foram sugeridos por Kohlberg (1981), o qual
permitirá demostrar as motivações humanas que levam para cada nível e estágio
do desenvolvimento humano. Vejamos!

FIGURA 16 – KOHLBERG E OS ESTÁGIOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA

FONTE: <https://bit.ly/3enawzb>. Acesso em: 10 fev. 2021.

Primeiramente, faz-se necessário compreendermos a respeito de cada um


desses seis estágios da consciência ética-moral, sugeridos por Kohlberg (1981).
Salienta-se assim, que devemos entender que eles foram classificados em três grandes
níveis denominados de pré-convencional, convencional e pós-convencional. Vejamos
cada um deles no Quadro 26.

QUADRO 26 – CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS NÍVEIS DOS ESTÁGIOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E


MORAL PROPOSTOS POR KOHLBERG

Nível 1 ou A Nível 2 ou B Nível 3 ou C

Raciocínio e Moralidade Raciocínio e Moralidade Raciocínio e Moralidade


PRÉ-CONVENCIONAL CONVENCIONAL PÓS-CONVENCIONAL

Nível PRÉ-MORAL, estágio Nível da CONFORMIDADE Nível de ACEITAÇÃO dos


mais básico e inferior com os papéis sociais princípios morais e universais

Estágio 1 e 2 Estágio 3 e 4 Estágio 5 e 6

Raciocinam para melhorar o


Sem código de conduta Leal as regras e normas
mundo
• Teve plena internalização das
• Ainda não compreende o normas e convenções sociais.
que é certo e errado, o que • Segue as regras e as normas
é fazer o bem e o mal. de condutas socialmente • Não se baseia nos padrões
constituídos pela sociedade dos outros.
• Não teve internalização das que estão inseridas.
normas e convenções sociais. • Baseia-se nos seus princípios
individuais abstratos.
FONTE: Pieritz (2020, p. 45)

69
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Mediante o quadro exposto, você pôde observar que os seis estágios da


consciência ética-moral, sugeridos por Kohlberg (1981), são classificados em
três grandes níveis, e nesse sentido, convidamos você a refletir nos subtópicos a
seguir, cada um desses estágios.

Vamos lá!

5.1 PRIMEIRO ESTÁGIO: MEDO, PUNIÇÃO E OBEDIÊNCIA


Prezado acadêmico! O primeiro estágio da consciência ética e do
julgamento moral dos seres humanos, que foi sugerido por Kohlberg (1981),
“busca compreender o nível mais básico da consciência, do raciocínio do intelecto
da própria evolução humana” (PIERITZ, 2020, p. 45).

Segundo a pirâmide de Kohlberg (1981), a ação do ser humano é “motivada


pelo medo da punição e pela obediência” (AVELINE, 2019, p. 1, grifo nosso),
bem como, segundo Pieritz (2020, p. 45), “está considerada no primeiro nível
dessa classificação geral, possuindo um raciocínio e moralidade consideradas
pré-convencionais”, conforme exposto no Quadro 26.

No primeiro nível, de acordo com Pieritz (2020, p. 46, grifo nosso), “as
pessoas ainda não compreendem o que é certo e errado, o que é fazer o bem e o
mal. Como também, não tiveram a internalização das normas e convenções sociais
instituídas legalmente e que não seguem um código de conduta”.

Assim, o primeiro estágio da nossa evolução da consciência e raciocínio


humano, para Pieritz (2020, p. 46, grifo do autor) “foi denominado como a fase do
medo, punição e obediência”, pois, segundo Alves (2017, p. 1), “as consequências
das ações determinam o certo e o errado”, e, de acordo com Aveline (2019, p. 1,
grifo nosso), “a ação certa é a ação que não é punida”, pois “a prioridade é não
ser punido, e por isso há uma obediência. A ação errada é aquela que recebe
castigo. Se não houver castigo, não haverá consciência de que algo errado foi
feito” (AVELINE, 2019, p. 1).

De tal modo, para Pieritz (2020, p. 46, grifo do autor):


Pode-se verificar que a base da pirâmide está norteada por orientações
de obediência, para assim evitar a punição, demostrando que o medo
de não obedecer ao socialmente posto, gera temor do castigo que possa
ter, e assim segue com um comportamento de obediência, pois tem
medo de ser descoberto que possa ter feito algo considerado errado pela
sociedade que vive e convive.

As questões desse primeiro estágio da consciência ética e do julgamento


moral dos seres humanos, de acordo com Pieritz (2020, p. 46, grifo do autor), são
as seguintes:

70
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

• “Se não obedecer, serei punido ou castigado?


• Quais serão as consequências de minha ação ou omissão?”.

Segundo Carvalho (2011, p. 1), no Estágio 1, “a criança obedece literalmente


a regra, pois sua interpretação é que, obedecer a autoridade é evitar castigo. Cumpre,
portanto, por obediência ao adulto e para não sofrer sanções, nesse caso, o castigo”.

Pieritz (2020, p. 46) salienta que são “as consequências das ações que
demostram o comportamento em si, a ação comportamental, ou seja, não é a ação
que predomina, e sim o medo das consequências que a ação poderá gerar. Gerando
obediência por medo de punição e castigo”.

Segundo Pieritz (2020, p. 46), “a palavra aqui é obediência à regra posta!”

NOTA

De acordo com Ferreira (2008, p. 585), as seguintes terminologias são assim


compreendidas:

Obediência:
• “Ato ou efeito de obedecer.”
Obedecer:
• “Sujeitar-se à vontade ou à autoridade ou ao mando de outrem.”
• “Cumprir, executar.”

5.2 SEGUNDO ESTÁGIO: RECOMPENSA


O segundo estágio da consciência ética-moral dos seres humanos no seu
convívio social, político e econômico, que foi recomendado por Kohlberg (1981),
denota a busca de uma compreensão do nível basilar da consciência humana, do
raciocínio do intelecto da própria evolução das pessoas em seu convívio com o outro.

De acordo com a pirâmide de Kohlberg (1981), a ação do ser humano


é “motivada pela obtenção e recompensa” (AVELINE, 2019, p.1, grifo nosso),
como também, segundo Pieritz (2020, p. 46), “está considerada no primeiro nível
dessa classificação geral, possuindo um raciocínio e moralidade consideradas
pré-convencionais”, conforme revelado no Quadro 26.

Pieritz (2020, p. 47) expõe que nesse primeiro nível, “os indivíduos ainda não
compreendem o que é certo e errado, o que é fazer o bem e o mal. Como também não
tiveram a internalização das normas e convenções sociais instituídas legalmente e que
não seguem um código de conduta”.

71
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Vale salientar que, segundo Pieritz (2020, p. 47, grifo do autor), “esse estágio
da evolução do intelecto e comportamento humano, foi denominado como a fase
da recompensa”, pois, de acordo com Alves (2017, p. 1), no Estágio 2, as ações estão
pautadas no “hedonismo instrumental ingênuo. O individualismo e a transação
passam a ser considerados.” “A ação correta é definida como ‘aquela que serve os
interesses de cada um’. O objetivo é obter uma recompensa. Ocorre aqui o ‘toma lá,
dá cá’. Vale a negociação caso a caso, a troca de favores, o apoio mútuo em ações de
curto prazo” (AVELINE, 2019, p. 1).

NOTA

Prezado acadêmico! Vejamos alguns significados importantes que você


precisa conhecer:
• Hedonismo – “Tendência a considerar que o prazer individual é imediato é a finalidade
da vida” (FERREIRA, 2008, p. 448, grifo nosso).
• Ingênuo – “Sem malícia, franco. em que há inocência, pureza, singelo, pueril” (FERREIRA,
2008, p. 478, grifo nosso).
• Egocêntrico – “Que ou quem refere tudo ao próprio eu. egoísta (FERREIRA, 2008, p. 334,
grifo nosso).

Desse modo, para Pieritz (2020, p. 47):


Esse desejo imediato da realização individual do prazer é compreendido
como um instrumento egocêntrico do ser humano, para sua própria
satisfação. Nesse sentido, neste segundo estágio da consciência ética e
moral das pessoas no seu convívio social, a orientação comportamental
aponta para o contentamento dos próprios desejos ou de outros.

No entanto, de acordo com Pieritz (2020, p. 47, grifo do autor), as questões


desse segundo estágio são as seguintes:

• “O que posso ganhar ou obter com minha ação ou omissão?


• O que ganho em troca?”.

Assim, conforme Pieritz (2020, p. 47, grifo do autor), “as ações humanas, no
seu convívio social, estão pautadas no prazer individual, desprovida de malícia, e
na transação ou negociação de barganha para conseguir o que deseja. Ações essas,
únicas e exclusivas para satisfação pessoal”.

Segundo Carvalho (2011, p. 1), esse segundo estágio denota que o ser
humano “age pelo próprio interesse (individualismo), [pois] a obediência consiste
em fazer só aquilo que lhe interessa e até na relação com os outros não é movido
por respeito ou por lealdade, mas pelo interesse de “uma mão lava a outra”, uma
troca de favores.

72
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

Nesse sentido, Pieritz (2020, p. 48, grifo do autor) ressalva que, “o objetivo
desse comportamento é a reciprocidade restrita em obter uma recompensa”.

ATENCAO

Prezado acadêmico!
Segundo Aveline (2019, p. 1, grifo nosso), os dois estágios iniciais da moralidade humana são
chamados de “pré-convencionais”, porque neles não há um código de conduta. As ações
são vistas de modo mais ou menos isolados. Predomina o “casuísmo”.

Segundo Pieritz (2020, p. 48), “a palavra aqui é buscar recompensa”.

NOTA

Segundo Ferreira (2008, p. 687), as seguintes terminologias são assim


compreendidas:
Recompensa:
• “Ato ou efeito de recompensar. Recompensação”.

Recompensar:
• “Dar a (alguém) prêmio ou compensação por serviço, auxílio”.
• “Dar algo cujo valor ou importância são considerados uma boa retribuição a (esforços,
dedicação, sofrimento etc.)”.

5.3 TERCEIRO ESTÁGIO: APROVAÇÃO SOCIAL


Prezado acadêmico! Nesse terceiro estágio da consciência e julgamento
ético-moral das pessoas, que foi sugerido por Kohlberg (1981), podemos perceber
que os seres humanos desenvolvem um raciocínio ético e moral convencional, pois,
segundo Pieritz (2020, p. 48), “propicia ser um nível conectado com a conformidade
dos papéis sociais, ou seja, a lealdade dos homens com as regras e normas
socialmente constituídas”.

Já que, segundo a pirâmide de Kohlberg (1981), a ação do ser humano é


“motivada pela aprovação social” (AVELINE, 2019, p. 1, grifo nosso), como também,
conforme Pieritz (2020, p. 48), “está considerada no segundo nível dessa classificação
geral, possuindo um raciocínio e moralidade consideradas convencionais”, conforme
exposto no Quadro 26.

73
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Importante ressaltar que no segundo nível, Pieritz (2020, p. 48, grifo


nosso) expõe que “as pessoas procuram seguir as regras e as normas de condutas
socialmente constituídas pelo grupo social do qual fazem parte. São Leais às regras
e às normas”.

Desse modo, Pieritz (2020, p. 48, grifo do autor) expõe que “esse terceiro
estágio da consciência e raciocínio da evolução humana, foi denominado como a
fase da aprovação social”, pois, de acordo com Alves (2017, p. 1, grifo nosso), esse
é o estágio das “relações interpessoais. [Onde existe] o ideal de “bom garoto”, ou
seja, o que agrada aos outros é bom”.

Aveline (2019) completa essa reflexão expondo que, no terceiro estágio:


A criança (ou o adulto) demonstra ter bom caráter. É a etapa do “bom
garoto”. A meta é a aprovação social, ou o apoio sincero dos mais velhos
e dos mais poderosos. Aqui vale a frase “faça aos outros, o que gostaria
que eles lhe fizessem”. A pessoa desenvolve um sentido de justiça e
reciprocidade. A compaixão é compreendida e até certo ponto vivenciada.
Também pode ocorrer um conformismo: mas existe um sentido de
compromisso ético verdadeiro (AVELINE, 2019, p. 1, grifo nosso).

Assim, mediante essa explanação, Pieritz (2020, p. 49, grifo do autor)


demostra que “nas relações interpessoais, buscar ser considerado uma boa pessoa
é um bom negócio, para ter um convívio social pleno e ser aprovado socialmente”.

Pieritz (2020, p. 49, grifo do autor) expõe que “procuramos nos orientar
pelos valores socialmente constituídos, buscando mantê-lo íntegros, conforme as
normativas, regras e legislações vigentes, mas sempre no intuito de agradar o grupo
social em que fazemos parte, e não pelo simples fato de seguir as normas”.

Segundo Pieritz (2020, p. 49), as questões pertinentes desse terceiro estágio


estão pautadas em:
• “Se seguir as normas sociais, estou agradando e sou aprovado socialmente?
• Como sou considerado nas minhas relações interpessoais, agrado a todos?
• Será que tenho bom caráter, se sigo fielmente a legislação vigente?”.

Pieritz (2020, p. 49) complementa expondo que “nossa atitude com relação
às ações humanas deva estar pautada nas normativas socialmente constituídas, e
que nos orientam se podemos ser considerados bons ou maus seres humanos, e
se assim agradamos e somos aprovados socialmente”.

Ressalva-se ainda que, para Pieritz (2020, p. 49, grifo do autor), “as ações que
agradam o coletivo são consideradas boas, e que o caráter humano é reconhecido
por esses atos compartilhados e positivados nas relações interpessoais”.

Segundo Pieritz (2020, p. 49, grifo do autor), “a palavra aqui é agradar o outro!”

74
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

NOTA

Segundo Ferreira (2008, p. 102), a seguinte terminologia é assim compreendida:

Agradar:
• “Ser agradável”.
• “Satisfazer o gosto, o critério, as exigências”.
• “Causar satisfação”.
• “Contentar, satisfazer”.

5.4 QUARTO ESTÁGIO: MANUTENÇÃO DA ORDEM SOCIAL


O quarto estágio da consciência ética e moral dos seres humanos nos seus
relacionamentos sociais, políticos e econômicos, que foi proposto por Kohlberg
(1981), e que, segundo Pieritz (2020, p. 49), “esse estágio do raciocínio da ética e
da moral é convencional para, assim, demostrar que esse nível está conectado
com a harmonia dos papéis sociais, ou seja, a lealdade dos homens com as regras
e normas socialmente constituídas”.

Conforme a pirâmide de Kohlberg (1981), a ação do ser humano é


“motivada pela manutenção da ordem social” (AVELINE, 2019, p. 1, grifo nosso),
assim como, Pieritz (2020, p. 49) expõe que ela “está considerada no segundo nível
dessa classificação geral, possuindo um raciocínio e moralidade considerados
convencionais”, conforme demonstrado no Quadro 26.

Ressalva-se que, de acordo com Pieritz (2020, p. 49, grifo nosso), no terceiro
nível, “os seres humanos procuram seguir as regras e as normas de condutas
socialmente constituídas pela sociedade em que vivem convivem. São leais às regras
e normas”.

Desse modo, Pieritz (2020, p. 49, grifo nosso), coloca-nos que “esse quarto
estágio da consciência e raciocínio da evolução humana, foi denominado como
a fase da manutenção da ordem social”, pois, de acordo com Aveline (2019, p.
1, grifo nosso), “o quarto estágio é o da Lei e da Ordem. Neste ponto, o respeito
ao líder, ao chefe, ao professor é algo central. O importante é cumprir o dever.
Cabe respeitar às normas e obedecer às autoridades – sem questioná-las”. Como
também é importante salientar que é a “autoridade [que] mantém a ordem social.
Atitude deontológica, cumprir os deveres” (ALVES, 2017, p. 1).

Salienta-se que Pieritz (2020, p. 50, grifo nosso) evidencia, aqui, que “o
nosso comportamento social é orientado pelas normas, leis, regras e ordem
social. Procurando MANTER os valores e princípios socialmente constituídos”.

75
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Segundo Pieritz (2020, p. 50, grifo nosso), “é a manutenção das leis e


normas e o respeito às lideranças que propiciam a promoção do bem-estar social
da população”.

De acordo com Pieritz (2020, p. 50, grifo nosso), as questões pertinentes a


esse quarto estágio encontram-se pautadas nas três indagações:
• “Se seguir as normas vigentes, estou mantendo a ordem e o bem-estar social?
• Será que estou respeitando minhas lideranças e suas decisões?
• Estou cumprindo meus deveres e minhas obrigações sociais?”.

Embora, denota-se importante elucidarmos as questões relativas à Lei e


da ordem, pois:
Quem está nesse estágio realmente acredita que a lei, a ordem social, a
justiça e outros valores são reais, são partes do gênero humano, nesse
sentido o correto é cumprir seu dever na sociedade, preservar a ordem
social, e manter o bem-estar da sociedade ou do grupo (CARVALHO,
2011, p. 1, grifo nosso).

Já que, aqui, de acordo com Pieritz (2020, p. 50, grifo nosso), “o importante
sempre será o cumprimento da lei e da ordem, cumprindo nossos deveres
e obrigações para com a sociedade em que fazemos parte, além de respeitar os
processos decisórios de nossos gestores, pois, assim, proporcionaremos a promoção
do bem-estar social”.

ATENCAO

Prezado acadêmico! De acordo com Aveline (2019, p. 1, grifo nosso), “As etapas
três e quatro são chamadas de “convencionais”, porque nelas o indivíduo é sinceramente leal
às normas e às orientações coletivas”.

Segundo Pieritz (2020, p. 50, grifo nosso), “as palavras aqui são respeito e
cumprimento das leis e da liderança!”

NOTA

Segundo Ferreira (2008, p. 702), as seguintes terminologias são assim


compreendidas:

Respeito:
• “ato ou efeito de respeitar (-se), ou sentimento de quem respeita”.

76
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

Respeitar:
• “Tratar com reverência ou acatamento. Honrar”.
• “Dar atenção ou importância a. Considerar”.
• “Não agir contrariamente a (decisão, orientação, regra). Acatar”.
• “Agir de modo que não fira, não prejudique ou não ofenda (alguém), ou não destrua (algo)”.

5.5 QUINTO ESTÁGIO: PROTEÇÃO DO BEM-ESTAR COLETIVO


Prezado Acadêmico! No quinto estágio da consciência ética-moral dos
homens, que foi sugerido por Kohlberg (1981), Pieritz (2020, p. 50) expõe que se
“busca compreender a questão do raciocínio e da moralidade no âmbito pós-
convencional, no nível da aceitação dos princípios morais universais, em que os
seres humanos procuram raciocinar para melhorar a qualidade de vida no mundo”.

Já que, segundo a pirâmide de Kohlberg (1981), nesse quinto estágio, a


ação dos homens, é “motivada pela proteção do bem-estar coletivo” (AVELINE,
2019, p.1, grifo nosso), como também, de acordo com Pieritz (2020, p. 51), “está
considerada no terceiro nível dessa classificação geral, possuindo um raciocínio e
moralidade consideradas pós-convencional”, conforme exposto no Quadro 26.

Pieritz (2020, p. 51, grifo nosso) destaca que “devemos compreender que
as pessoas já possuem plena internalização das normas e convenções sociais, e
que não se baseiam nos padrões dos outros, e sim baseiam-se nos seus princípios
individuais abstratos”.

Salienta-se ainda que, no terceiro nível, precisamos partir do princípio de


que “agora as crianças ou adultos respeitam às normas, leis e convenções, mas, ao
mesmo tempo, enxergam além delas e procuram aprimorá-las” (AVELINE, 2019,
p. 1, grifo nosso).

Mediante essas compressões supracitadas, necessitamos realizar uma


reflexão!

Prezado acadêmico, reflitamos o que Sigmund Freud escreveu:


[…] Não é necessário ser um anarquista para ver que as leis e as normas
não podem ser consideradas como algo sagrado ou inquestionável, ou
para compreender que elas são com frequência formuladas de modo
inadequado e ferem o nosso sentido de justiça, ou virão a ser injustas
dentro de algum tempo, e que, considerando a lentidão das autoridades,
muitas vezes o único meio de corrigir estas leis tolas é tendo a coragem
de violá-las. Além disso, se desejamos manter o respeito pelas leis e
normas, é aconselhável só promulgá-las quando se pode vigiar e saber
se são obedecidas (FREUD, 2005, p. 53, grifo nosso).

77
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Você conseguiu notar, no discurso de Freud, que “as leis e normas podem
ser reformuladas e modificadas no decorrer da própria evolução humana,
por conta da transformação social? Que elas podem ter sido feitas de formas
equivocadas, não atingindo seu propósito? Que podem ter perdido sua validade,
por conta do tempo de promulgação?” (PIERITZ, 2020, p. 51).

Ficamos felizes que tenha compreendido essa questão! Visto que esse
assunto é de fundamental importância para você compreender esse estágio da
consciência ética-moral dos homens, como o sexto estágio também.

Assim, segundo Pieritz (2020, p. 51, grifo nosso), “este quinto estágio da
consciência e raciocínio da evolução humana, foi denominado como a fase da
proteção do bem-estar coletivo”, pois, na visão de Aveline (2019, p.1, grifo nosso),
esta é uma fase que demostra o “desenvolvimento ético, [onde] o indivíduo percebe
que as leis e os costumes estabelecidos podem ser injustos. [E], quando necessário,
ele busca uma mudança para melhor. Faz isso através de meios legítimos,
democráticos, moralmente aceitáveis, eticamente responsáveis”. “Demonstrando
que é possível realizar a mudança normativa, desde que devidamente justificada
e legal, pois quem está nessa fase, consegue enxergar além das normativas postas,
pois procura aprimorar o contrato social posto” (PIERITZ, 2020, p. 51).

Aqui, nesse quinto estágio, de acordo com Pieritz (2020, p. 52, grifo nosso),
os seres humanos “se orientam pela melhoria constante do contrato social e suas
normativas institucionalizadas, procurando o exercício do respeito aos direitos
civis, sociais e individuais, no intuito de protegê-las e verificarem sua eficácia, para
angariar a promoção do bem-estar do coletivo social”.

Nesse sentido, Alves (2017, p. 1) coloca-nos que os contratos sociais são


“acordos democraticamente alcançados sobre se os valores são bons, cabendo ao
indivíduo determinar o certo e o errado dentro dos parâmetros desses valores”.

Mediante essas concepções supracitadas, Pieritz (2020, p. 52, grifo nosso)


expõe que o aperfeiçoamento normativo do contrato social demonstra os seguintes
questionamentos:

• “Será que podemos ir além do contrato social instituído, tendo uma visão
ampliada de sua eficácia e propor aprimoramento, quando necessário?
• Como podemos exercer nossa cidadania para proteger o bem-estar coletivo?”.

Diante desse cenário, Carvalho (2011, p. 1) expõe que, as pessoas desse


quinto estágio possuem uma “visão que no mundo as pessoas são diferentes, têm
opiniões, direitos e valores também diferentes e o correto é apoiar os direitos,
valores e contratos jurídicos de uma sociedade, mesmo quando estão em conflito
com as normas concretas do grupo”, ou seja, segundo Pieritz (2020, p. 52),
“procuram ir além do socialmente posto, para poder contribuir na melhoria de
qualidade de vida dos cidadãos, pois entendem que somos todos diferentes”.

78
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

NTE
INTERESSA

Prezado acadêmico! Aveline (2019, p. 1) expõe que:

Exemplos desse nível de moral (assim como do sexto nível) são


Mahatma Gandhi, na Índia, Martin Luther King, nos Estados Unidos e,
no Brasil, Chico Mendes, o defensor da Floresta Amazônica. Os três
líderes sociais deram um exemplo de altruísmo e foram assassinados
precisamente por defenderem ideais nobres e uma ética superior,
contrariando as estruturas da ignorância organizada. Na quinta etapa,
busca-se um contrato social eficiente e justo para todos.

Segundo Pieritz (2020, p. 52, grifo nosso), “as palavras aqui são proteção
do bem-estar coletivo e melhoria do contrato social”.

NOTA

Segundo Ferreira (2008, p. 661), as seguintes terminologias são assim


compreendidas:
Proteção:
• “Ato ou efeito de proteger (-se)”.
• “Abrigo, resguardo”.
• “Auxílio, amparo”.

Proteger:
• “Dispensar proteção a. Amparar, favorecer. Defender”.
• “Preservar do mal”.
• “Defender de riscos, perigos, ataques (físicos ou morais), intempéries etc.”.

5.6 SEXTO ESTÁGIO: ZELO PELOS PRINCÍPIOS ÉTICOS


UNIVERSAIS
Para finalizar este debate, convidamos você a aprofundar seu conhecimento
acerca do sexto estágio da consciência ética-moral dos seres humanos, que foi exibido
por Kohlberg (1981), e que, segundo Pieritz (2020, p. 52), “procurou apresentar uma
reflexão relativa ao raciocínio e à moralidade no âmbito pós-convencional, no nível
da aceitação dos princípios morais universais, em que os seres humanos procuram
raciocinar para melhorar a qualidade de vida no mundo”.

79
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Assim, a pirâmide de Kohlberg (1981) nos apresenta que a ação do


homem, no sexto estágio, é “motivada pelo zelo dos princípios éticos universais”
(AVELINE, 2019, p. 1, grifo nosso), como também, segundo Pieritz (2020, p. 53), “está
considerada no terceiro nível dessa classificação geral, possuindo um raciocínio e
moralidade considerados pós-convencional”, conforme exposto no Quadro 26.

Pieritz (2020, p. 53, grifo nosso) expõe que:


Vale frisar, que nesse terceiro nível da classificação geral da pirâmide
de Kohlberg, é importante compreender que as pessoas já possuem
plena internalização das normas e convenções sociais, e que não se
baseiam nos padrões dos demais cidadãos, e sim baseiam-se nos seus
princípios individuais abstratos.

Desse modo, no terceiro nível, devemos partir do princípio de que “agora as crianças
ou adultos respeitam as normas, leis e convenções, mas ao mesmo tempo enxergam além
delas e procuram aprimorá-las” (AVELINE, 2019, p. 1, grifo nosso).

De tal modo, Pieritz (2020, p. 53) expõe que “esse sexto estágio da
consciência e raciocínio da evolução humana, foi denominado como a fase do
zelo dos princípios éticos universais”, pois, para Aveline (2019, p. 1), “na sexta
etapa de desenvolvimento moral, o indivíduo – ou o povo – vive os princípios
universais da consciência ética. Hoje, são pouco numerosos os seres humanos
firmemente estabelecidos nesse estágio. São os precursores. Preparam o futuro.
Abrem o caminho”.

Pieritz (2020, p. 53) expõe que, no último estágio, necessitamos fazer os


seguintes questionamentos:

• “Qual o caminho que podemos trilhar para zelar os princípios éticos


universais?
• Com podemos aprimorar os preceitos éticos e morais, para ir além do
socialmente posto?”.

Nessa fase, segundo Pieritz (2020, p. 53):


As pessoas se orientam pelos princípios éticos universais, a qual
procuram zelar estes valores ético-morais ao longo da história da
humanidade. Pois, lembra-se que a ética reflete os hábitos e costumes
gerais de uma sociedade, suas normativas e convenções, que fora
institucionalizada pelo coletivo social, e a moral é a forma que
conduzimos nossos atos perante o outro, ou seja, é a conduta em si.

Alves (2017, p. 1) coloca-nos que “os princípios de justiça e ética são parte da
consciência, sendo questões de escolhas individuais dentro de princípios axiológicos
universais, mesmo que contra as leis e regras socialmente estabelecidas”. Vale
lembrar que “a pessoa desenvolve um padrão moral baseado nos direitos humanos
universais. Quando confrontado com um conflito entre a lei e a consciência, a
pessoa seguirá a consciência, ainda que essa decisão envolva risco pessoal. E tem a
capacidade de ver-se no lugar do outro” (CARVALHO, 2011, p. 1).

80
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

Assim, de acordo com Pieritz (2020, p. 53), “somos incitados a zelar por
essa consciência dos princípios éticos e de justiça universais que refletem as nossas
condutas na sociedade em que estamos inseridos”.

Lembre-se de que, de acordo com Pieritz (2020, p. 54), “Estamos aqui para
melhorar o mundo em que vivemos, mas precisamos compreender e zelar os
nossos valores e princípios ético-morais que foram historicamente concebidos pelo
coletivo social”.

NOTA

Prezado acadêmico, para Kohlberg (1981), “nem todos progrediam por esses
estágios. Somente uns poucos (citou Gandhi, Thoureau e Martin Luther King) chegam ao
estágio 6, mas todos tem potencial podem alcançar esses estágios, que progridem conforme
a idade” (ALVES, 2017, p. 1). De acordo com Carvalho (2011, p. 1):

Kohlberg (1981) acreditava que esses níveis e estágios ocorrem numa


sequência:
• Antes dos nove anos, a maioria das crianças seguem caminhos
pré- convencionais (nível 1).
• Na primeira adolescência, eles raciocinam de uma maneira mais
convencional (nível 2). A maioria, no Estágio 3, com apenas sinais dos
Estágios 2 e 4.
• No início da fase adulta, um pequeno número de indivíduos arrazoa
(raciocina) de maneira pós-convencional.

Segundo Pieritz (2020, p. 54, grifo nosso), “as palavras aqui são zelo dos valores
e princípios ético-morais e universais, pois a ética é para o coletivo, para todos”.

NOTA

Segundo Ferreira (2008, p. 801-831), as seguintes terminologias são assim


compreendidas:
Zelo:
• “Dedicação, desvelo, por alguém ou por algo”.
• “pontualidade e diligência em qualquer serviço”.
• “Cuidadoso”.

Universal:
• “Comum a todos os homens, ou a um grupo dado”.
• “Que advém de todos. Geral”.

81
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

6 A CONDUTA MORAL
Prezado acadêmico! Adentraremos agora numa última reflexão, que
também é necessária para compreendermos a questão da ética e da moral, que é o
próprio comportamento moral das pessoas em si, ou seja, a nossa conduta moral.

Nesse sentido, Pieritz (2020, p. 54) expõe que “no que tange a nossa conduta
moral, em relação ao fazer o bem ou o mal, em fazer o certo ou o errado, pode-se
dizer que chegamos agora num dilema, pois, no nosso próprio comportamento
ético-moral, é a nossa consciência, das coisas e dos fatos, que irá determinar o
caminho a seguir”.

Mediante a supracitada explanação, Pieritz (2020, p. 54) nos indaga:


• “Como saber o que devemos fazer? Para que lado ir?
• O que é certo ou errado perante a sociedade?
• O que é fazer o bem e como evitar o mal?”.

Assim, proporcionando respostas às supracitadas indagações, Valls (2003,


p. 67-68) expõe que:
Agir eticamente é agir de acordo com o bem. A maneira de como se
definirá o que seja este bem, é um segundo problema, mas a opção
entre o bem e o mal, distinção levantada já há alguns milênios, parece
continuar válida. [...] Neste sentido, poderíamos continuar dizendo que
uma pessoa ética é aquela que age sempre a partir da alternativa bem
ou mal, isto é, aquela que resolveu pautar seu comportamento por uma
tal opção, uma tal disjunção. E quem não vive dessa maneira, optando
sempre, não vive eticamente.

Pieritz (2020, p. 55) complementa, colocando-nos que:


[...] se agirmos no intuito de fazer o bem, estamos agindo com uma postura
ética-moral, e ela proporcionará uma conduta direcionada para o certo,
mas, sempre pautada no que fora instituído socialmente. Então, pode-
se dizer que, os seres humanos são aquelas pessoas que desenvolvem
uma conduta ou um comportamento baseado em alternativas, podendo
escolher em fazer o bem ou o mal, e que quem faz o bem é considerado
ético, e quem faz o mal é antiético.

Ainda, segundo Pieritz (2013, p. 23-24):


Para efetuarmos um julgamento concreto sobre alguma situação da
vida em sociedade, devemos nos pautar sobre todos os pressupostos
éticos daquela sociedade em si, ou seja, seus princípios morais e seus
costumes. Entretanto, sem esquecer que o que todo ser humano busca
em suas ações cotidianas na sociedade é fazer sempre e somente o bem,
pois é por causa e em nome deste bem maior que eles realizam tudo.

Assim, vale salientar nessa análise da conduta moral, que “necessitamos


compreender a realidade social, política e econômica do grupo social a que
pertencemos, principalmente seus preceitos ético-morais para assim, podermos
tomar a decisão de que postura teremos em relação aos outros que vivem e
convivem conosco” (PIERITZ, 2020, p. 55).
82
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

[Pois], sempre que uma decisão ou uma escolha deve ser feita em
relação ao comportamento, a decisão moral será aquela que trabalha
para a criação de confiança e integridade nos relacionamentos. Deve
aumentar a capacidade dos indivíduos para cooperar, e aumentar a
sensação de autorrespeito no indivíduo. Atos que criam desconfiança,
suspeita e mal-entendidos, que constroem barreiras e destroem a
integridade, são imorais. Eles diminuem o senso de autorrespeito
do indivíduo e, ao invés de produzir uma capacidade de trabalhar
juntos, separam as pessoas e rompem a capacidade de comunicação
(KIRKENDALL, 1961, p. 6).

Nesse sentido, é importante compreender que:


Todas as nossas ações possuem um propósito, ou seja, um fim. Este
fim somente é alcançado quando os homens realizam uma atividade
para alcançá-lo, vão em busca de seus objetivos e metas. Portanto, se
realmente existe um motivo que visa tudo o que fazemos, este fim só
poderá ser realizado se nós, seres humanos, o realizarmos através de
ações/atividades. Elas, por sua vez, sempre estão na busca constante
da realização do bem e da verdade e procurando a felicidade e o prazer
(PIERITZ, 2013, p. 24).

Nesse contexto, indaga-se: o que é a moralidade?

A moralidade, de acordo com Cunha (2011, p. 197), é compreendida como


o “processo social costumeiro, concernente à melhor forma de comportamento.”
Em que, demonstra a qualidade do comportamento ético-moral do cidadão, suas
regras e princípios.

Nesse sentido, segundo Pieritz (2013, p. 35), “a moralidade dos homens é


um reflexo direto do modo de ser e conviver em sociedade, no qual o caráter, os
sentimentos e os costumes determinam o seu comportamento individual e social,
que foi ou está sendo perpetuado num espaço de tempo”.

E o que é o princípio da moralidade?

O princípio da moralidade demonstra a origem e ascendência do


comportamento moral de nossa sociedade e de nossos grupos sociais, políticos
e econômicos. Visto que, o princípio da moralidade significa que os seres
humanos estão vinculados pelas suas próprias normas, regras e diretrizes do
comportamento moral em sociedade. Portanto, denota um agir de acordo com os
preceitos ético-morais que são socialmente constituídos pelo mesmo grupo.

83
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

ÉTICA, VALORES E CRENÇAS

Tatiane Souza

Todos nós somos providos por crenças e valores pessoais que nos
estimulam ou que nos prendem em determinados momentos. Esses valores e
crenças foram sendo adquiridos ao longo de nossa história desde o momento de
nosso nascimento, sendo influenciado por nossos amigos, parentes e familiares
mais próximos. Esse conjunto se torna praticamente nosso jeito de ser e agir.
Nossos valores são tudo que acreditamos como certo, independente da ética
que faz parte de um conjunto de valores estipulados pela sociedade.

Definição de Ética: O termo ética deriva do grego ethos (caráter, modo


de ser de uma pessoa). Ética é um conjunto de valores morais e princípios
que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja
um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia
prejudicado. Nesse sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as
leis, está relacionada com o sentimento de justiça social.

A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos
e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os
valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos, pois bem, dentro
de nossos valores (que seria uma ética particular nossa) existem crenças que
nos fortalecem nas tomadas ou não de decisões. Nossas crenças nos movem no
sentido do que acreditamos. Mesmo que a decisão tomada não seja a melhor,
tomamos a mesma em cima do que acreditamos, e não conforme a grande
maioria das pessoas nos estimulam a acreditar.

Dentro das organizações, há um problema muito grande de alinhamento


de cultura, pois como nós agimos em detrimento a nossos valores e crenças,
também uma empresa deve agir dentro desse principio. Só que a problemática
geral está no sentido de que uma organização é composta por diversas pessoas
que possuem seus próprios valores e princípios. E aí como resolver a situação?

O sucesso de um profissional e também de uma empresa está justamente


nesse alinhamento de valores e crenças. O que a empresa acredita como certo,
precisa estar alinhada ao que as pessoas que lá trabalham também acreditam.
Diferente disso, tornamos o ambiente conhecido como antiético, que nada mais é
do que valores diferentes sendo utilizados em um ambiente em comum.

Antes de mais nada precisamos olhar em nossa volta e verificar se a empresa


em que estamos está alinhada com nossos valores, como também a empresa precisa
olhar mais significadamente seus colabores e avaliar se o que ela acredita como
certo também se faz presente na crença daqueles que fazem o resultado acontecer.
Diferente disso? Dificil, nada pode ser pior do que valores não alinhados.

FONTE: <https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/tica-valores-e-crenas/>. Acesso em: 25 fev. 2021.

84
TÓPICO 2 — DOS VALORES, PRINCÍPIOS, ESSÊNCIA, CONSCIÊNCIA E CONDUTA MORAL

Olá, acadêmico, ufa!!! Este tópico foi bastante extenso e incitou muitas
reflexões sobre os valores, princípios, essência, consciência e conduta moral da
vida cotidiana das pessoas.

Vamos, a seguir, apresentar os principais assuntos estudados até agora.

85
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os valores correspondem a uma determinada importância que damos a


alguma coisa, fato ou ato que iremos praticar. Sendo que esses valores são
constituídos historicamente e que formam a cultura de um povo ou de um
grupo social, então são culturais.

• Os valores norteiam e influenciam o comportamento humano em sociedade,


já que são ideias comuns socialmente construídas e positivadas pelo coletivo
social no cotidiano das relações humanas e sociais.

• Dentro dos nossos valores culturais, temos qualidades comportamentais, que


são subjetivas de cada pessoa, e fazer o bem, é uma delas.

• O valor é aquele atributo essencial do comportamento ético-moral, que explica


a subjetividade humana, suas preferências e modo de ser.

• Um princípio denota uma orientação, uma regra que nos orienta, ou seja, são
as bases normativas que norteiam nosso comportamento.

• A ética é formada pelo estudo e investigação do comportamento e dos juízos


de valores, estabelecendo ponderações de valor para o que está de acordo ou
não com as normas e regras de convivência dos homens em sociedade.

• Os valores sociais são concebidos coletivamente pela construção histórica


das relações humanas, principalmente no convívio do dia a dia dos seres
humanos em sociedade.

• É a qualidade que empregamos as coisas e as ações que definem seus valores.

• A essência denota uma característica indispensável e necessária de uma


determina ação, ou seja, o seu caráter primordial, o sentido que a ação possui.

• Possuímos determinadas características morais que são inerentes à própria


condição humana, pois já estão concebidas naturalmente pela própria
evolução do comportamento humano em sociedade.

• Necessitamos estar socializando com os demais integrantes dos nossos grupos


sociais, já que não conseguimos viver isolados e sem o contato com nossos
semelhantes.

• Podemos vislumbrar que nossas linguagens, hábitos e costumes, como nossas


atividades simbólicas e artísticas, são essenciais e necessárias para o nosso
próprio desenvolvimento humano.

86
• Existe uma essência comportamental na ação cotidiana dos seres humanos, e
que está intrínseca à própria ação em si, permitindo que o ser humano se sinta
pertencente ao grupo social, político ou econômico do qual faz parte.

• A consciência humana denota que temos ciência, noção, conhecimento e


compreensão dos fatos e das coisas, e que possamos reconhecer e distinguir
a realidade posta, possibilitando às pessoas a faculdade de perceber as coisas
como elas realmente são, e como poderiam ser. Para assim, poder exercer seu
livre arbítrio decisório, de que postura tomar frente à realidade cotidiana da
vida em sociedade.

• Por intermédio da consciência humana dos fatos e das coisas, empoderamo-


nos junto ao coletivo social, tornando-nos com mais poder de decisão perante
a sociedade em que estamos inseridos.

• Os fatos sociais também são constituídos historicamente pela composição dos


seres humanos em sociedade.

• A consciência retrata que nós, seres humanos, possuímos a capacidade de


perceber e reconhecer as coisas e os fatos, sejam individuais ou coletivos, e
que quanto mais informações decodificamos, mais empoderados estamos.

• Os estágios da consciência ética e moral são as etapas da evolução humana.

• Quanto mais conhecimentos adquirimos sobre os fatos e as coisas, mais


consciência humana temos dos nossos preceitos ético-morais, e assim cada
vez mais nos empoderamos nas relações humanas e sociais.

• Estudamos o próprio comportamento moral das pessoas em si, ou seja, a


nossa conduta moral.

87
AUTOATIVIDADE

1 No senso comum, frequentemente utilizamos as palavras ética e moral (e


antiético e imoral) de forma intercambiável. Isto é, falamos da pessoa ou ato
como ético ou moral, pois, todos nossos comportamentos em sociedade são
compreendidos socialmente como certos ou errados, éticos ou antiéticos,
morais ou imorais, denotando sempre os dois lados de uma mesma moeda.
Sobre a consciência coletiva, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) De acordo com Émile Durkheim (JOHNSON, 1997, p. 49), a consciência


coletiva é um arcabouço cultural de ideias morais e normativas, a
crença em que o mundo social existe até certo ponto à parte e externo
à vida psicológica do indivíduo.
b) ( ) São as consciências conjugadas de cada pessoa individualmente
formando a soma do coletivo.
c) ( ) São todas as habilidades de manipular o coletivo em favor de um
indivíduo.
d) ( ) É um sistema moderno que integra todas as consciências individuais
formando um coletivo graças às tecnologias modernas.

2 O senso moral e a consciência moral fazem parte do âmago do indivíduo,


balizando as suas ações em sociedade. Verificamos a sua desvirtuação
por indivíduos que cometem crimes e ferem a sociedade com os seus atos
gerando uma comoção geral. Com relação ao senso moral e a consciência
moral, analise as sentenças a seguir:

I- Valores de justiça, honradez, espírito de sacrifício, integridade,


generosidade.
II- Sentimentos provocados pelos valores, de admiração, vergonha, culpa,
remorso, contentamento, cólera, amor, dúvida, medo.
III- Decisões que conduzem a ações com consequências para nós e para os
outros.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) Somente a sentença II está correta.
d) ( ) Somente a sentenças III está correta.

3 Os princípios são o baluarte das relações humanas e estão em todas as


áreas, como os princípios da física, os princípios da constituição federal, os
princípios legais etc. Sobre a definição de princípios, assinale a alternativa
CORRETA:

88
a) ( ) São os parâmetros, preceitos, normas, leis e marcos de referência para
uso pessoal e de referência para o comportamento humano e que serve
para julgar as pessoas.
b) ( ) São os parâmetros, preceitos, normas, leis e marcos de referência para
a formação da consciência coletiva, da moral e da justiça.
c) ( ) São os princípios legais de referência para o comportamento humano.
d) ( ) São os parâmetros, preceitos, normas, leis e marcos de referência
universais, que definem as regras de conduta social e consente a
medição das consequências do comportamento humano.

89
90
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, aqui, desenvolveremos uma reflexão relativa ao
comportamento ético-moral nas relações humanas e sociais, proporcionando sua
ampliação da percepção no que tange à questão da ética na atualidade, procurando
refletir sobre algumas questões polêmicas sobre a ética na contemporaneidade,
como também faremos algumas reflexões sobre a ética e a liberdade.

Demostraremos ainda a questão do livre-arbítrio da escolha e suas


consequências e responsabilidades, para assim compreender a liberdade como
uma das capacidades humanas. Além de apresentarmos algumas questões
polêmicas referentes à ética.

Outra questão salutar a ser estudada aqui será um debate com relação ao
ser humano e sociedade, para compreender as nuances relativas à compreensão
do que é o “ser humano” e a “sociedade” em si, para possibilitar um entendimento
do homem e suas relações humanas e sociais na sociedade em que vive e convive
com os outros.

Nessa questão, desvelaremos a terminologia “homem” enquanto “ser


humano” e não como gênero homem ou mulher e, por vezes, o classificaremos
tão somente como “indivíduo” ou simplesmente “ser humano”. Apresentaremos
o que é o ser humano e a sociedade e alguns aspectos correlacionados a essa
temática, tais como:
• A percepção de como o homem se vê na sociedade.
• A questão da territorialidade humana.
• Demostrar de que forma a sociedade vê o ser humano em suas inter-relações
sociais e em suas condutas ético-morais na convivência cotidiana do “eu” com
o “outro”.

No debate relativo às relações humanas, estudaremos o comportamento


dos homens em sociedade, seu relacionamento com os outros, seus papéis sociais
e processos de socialização. Como também refletiremos sobre a complexidade
das relações humanas, perpassando pela compreensão do ser humano em si, e
como ele se vê e como ele vê o outro com quem vive e convive.

Devemos partir de um simples princípio que percorrerá nossa discussão


neste tópico, que as relações sociais são compreendidas como uma ponte entre:

91
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

FIGURA 18 – A PONTE DAS RELAÇÕES HUMANAS

FONTE: Pieritz (2012, p. 70)

Essa ponte do relacionamento humano e social demostra que sempre


interagimos com o outro, e necessitamos do outro para sobrevivermos na
sociedade contemporânea na qual vivemos.

Então, vamos lá?

Antes, reflita: “Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta:


que não há ninguém que explica, e ninguém que não entenda”
Cecília Meireles

Ótimos estudos!

FIGURA 17 – ÉTICA E REALIDADE ATUAL

FONTE: <http://era.org.br/>. Acesso em: 11 fev. 2021.

92
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

2 AS QUESTÕES ÉTICAS ATUAIS


Primeiramente, ampliaremos nossa percepção com relação a algumas
questões polêmicas sobre os dilemas éticos da nossa vida cotidiana, mas, para
isso, faz-se necessário verificar o que Valls (2003, p. 70) nos apresenta:
[...] a ética foi reduzida a algo de privado. [...] Ora, nos tempos da
grande filosofia, a justiça e todas as demais virtudes éticas referiam-
se ao universal (no caso, ao povo ou à polis), eram virtudes políticas,
sociais. Numa formulação de grande filosofia, poderíamos dizer que o
lema máximo de ética é o bem comum. E se hoje a ética ficou reduzida
ao particular, ao privado, isto é um mau sinal.

Pieritz (2020, p. 70) expõe que “sob este bem comum, na visão de Valls (2003),
estamos saindo das concepções universais, do todo, para um comportamento
individualizado, privado, centralizando nossas ações aos fatos particulares de
nossa vida em sociedade e não somente no contexto ético-moral universal”.

Assim, segundo Pieritz (2013, p. 49-50):


Não se pode esquecer que os valores, os hábitos e os princípios formam
a consciência moral dos seres humanos, e esta consciência moral torna-
se um fator preocupante nos dias de hoje, pois os indivíduos possuem
suas responsabilidades individuais e coletivas perante a sociedade em
que vivem, contudo, muitas vezes, o dever ético respalda muito mais no
indivíduo do que na coletividade, mesmo que os valores éticos sejam
constituídos pela sociedade como um todo.

Aqui, é importante ressaltar:


Que o ser humano está muito mais preocupado com seus direitos e deveres
individuais, deixando muitas vezes o coletivo de lado, mas, lembre-se
de que os princípios ético-morais foram constituídos pelo coletivo social
a que pertencemos. E assim, o nosso agir individual continua pautado
nestas normativas sociais universais (PIERITZ, 2020, p. 70).

Sob essas concepções, questionamos:

• O que é ter uma vida ética nos dias de hoje?


• Você conhece alguns dilemas éticos?

Você sabe? Sim? Não? Talvez?

Todavia, antes de refletirmos sobre essa resposta, convidamos você,


primeiramente, a verificar exemplos notórios de alguns dilemas ético-morais que
podemos perceber em nossa sociedade nos tempos de hoje. Vejamos!

93
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

QUADRO 27 – DILEMAS ÉTICOS E MORAIS

Os alimentos transgênicos, A CLONAGEM A transfusão de sangue


que são geneticamente nos pacientes de certas
modificados A corrupção, sonegação. religiões

As formas de reprodução A INTELIGÊNCIA


O ABORTO
humana, como a ARTIFICIAL
reprodução assistida.
Filho órfão já na concepção,
por intermédio da O suicídio assistido – A substituição do ser
reprodução humana além eutanásia humano pela tecnologia
da vida de um dos pais, a robótica
fertilização in vitro CIRURGIA ROBÓTICA

TERAPIAS Ter filhos apenas como um


A histerectomia
ALTERNATIVAS meio de ganhar alguma coisa
FONTE: Adaptado de Pieritz (2020, p. 70-71)

De acordo com Pieritz (2020, p. 71), “poderíamos estender esta pequena


lista de exemplos, mas não é o caso, o importante é fazer com que se compreenda
que a nossa sociedade está permeada por dilemas éticos-morais, nas mais diversas
esferas, e que eles são frutos do livre-arbítrio das escolhas humanas”.

DICAS

Prezado acadêmico! Convidamos você, agora, a fazer um exercício de reflexão!

• Atividade: Pegue um bloco de anotações, nele, coloque pelo menos cinco dilemas
éticos e morais que você possa detectar no seu bairro, município e estado.

Esta atividade é para você poder refletir sobre eles com seus colegas no próximo encontro!

Boa reflexão e debate!

Assim, Valls (2003, p. 71) complementa expondo que “a liberdade se


realiza eticamente dentro das instituições históricas e sociais, tais como a família,
a sociedade civil e o Estado”. Desse modo, “possuímos a liberdade de escolher
fazer o certo ou o errado, fazer o bem ou o mal, mas sempre pautados pelos
princípios ético-morais universais do nosso contexto social, e que muitas vezes
adentramos num dilema, indagando-nos qual caminho devemos seguir?”
(PIERITZ, 2020, p. 71).

Desse modo, podemos compreender que um dilema é “uma situação


difícil, na qual é preciso escolher entre duas alternativas contraditórias ou
antagônicas ou insatisfatórias” (FERREIRA, 2008, p. 319).
94
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

Pieritz (2020, p. 71) expõe que “essas situações de conflito, em que temos
que escolher, é realmente um grande dilema ético-moral para a humanidade,
pois sempre teremos vários caminhos a percorrer, mas, sempre devemos fazer
três indagações antes de agirmos”, como:
• Eu quero fazer ou não?
• Eu devo fazer ou não?
• Eu posso fazer ou não?

Pieritz (2020, p. 72) coloca-nos que “esses questionamentos ajudarão no


posicionamento da nossa postura ética-moral, colaborando no esclarecimento do
dilema das escolhas que podemos ou devemos fazer”.

Ressalva-se, ainda, que esses dilemas cotidianos que vivemos, com relação
às escolhas ético-morais que fazemos, perpassam três questões fundamentais,
que estão delimitados nos dilemas dos valores, destinatários e meios, os quais
descreveremos suas principais características no Quadro 28. Vejamos!

QUADRO 28 – CARACTERÍSTICAS DOS DILEMAS DOS VALORES, DESTINATÁRIOS E MEIOS

Dilema dos
Dilema dos VALORES Dilema dos MEIOS
DESTINATÁRIOS
Em que aqui se
apresentam os conflitos
dos valores éticos- Aqui, o fator gerador da
morais, ou seja, as escolha da alternativa
ESCOLHAS dos valores São aqueles dilemas contraditória está,
éticos, de ser ético ou e situações difíceis única e exclusivamente,
antiético. correlacionadas com as na MANEIRA de se
Este é o dilema da PESSOAS que irão se alcançar o resultado
escolha de seguir beneficiar com a ação da desejado, ou seja, o
ser leal, de honrar o tomada de decisão, ou MEIO, MECANISMOS,
compromisso, de ser não. e INSTRUMENTOS
solidário, tolerante utilizados para realizar a
ou não. Ser justo ou atividade e atingir seu fim.
injusto. Ser honesto ou
desonesto.

Também são os É relacionada Esses meios são


VÁRIOS CAMINHOS aos AGENTES classificados por
A SEGUIR, como por ENVOLVIDOS em que, sua VALIDAÇÃO E
exemplo: honrar o nosso a situação conflitante LEGITIMIDADE ética-
compromisso de pagar está na escolha do moral.
uma conta, uma dívida destinatário da ação ou
ou, com este mesmo omissão, ou seja, quem
recurso, colaborar com a será beneficiado ou
melhoria de qualidade de prejudicado.

95
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

vida de uma família


em situação de
vulnerabilidade social.
Deixando assim de
cumprir com um
compromisso pessoal
para amparar o outro.
FONTE: Adaptado de Pieritz (2020, p. 72)

Segundo Pieritz (2020, p. 72), “esses dilemas concernentes aos valores,


destinatários e meios, devem ter por premissa o coletivo social, ou seja, devem
prevalecer os interesses universais sobre os grupais e individuais, mesmo se as
instâncias destes grupos menores possam ser feridas”.

Assim, mediante o nosso processo de tomada de decisão, seja individual


ou coletiva, também apresentamos mais outros dois elementos do comportamento
humano a compreender, que são os sensos do dever e da importância da decisão a ser
tomada. O qual descreveremos suas principais características no Quadro 29. Vejamos!

QUADRO 29 – CARACTERÍSTICAS DOS SENSOS DO DEVER E DA IMPORTÂNCIA DA DECISÃO


A SER TOMADA

Senso do DEVER Senso da IMPORTÂNCIA

No qual transmite uma ética


Em que aqui denota uma ética permeada pelo seu DESÍGNIO,
relacionada ao CUMPRIMENTO DOS PROPÓSITO E RAZÃO, denotando
DEVERES, TAREFAS E OBRIGAÇÕES, para resultados que queremos ter
ou seja, a consciência do dever de fazer com nossa ação ou omissão, e qual
ou não fazer alguma coisa. importância destes resultados para a
vida cotidiana.
FONTE: Adaptado de Pieritz (2020, p. 72)

De tal modo, Pieritz (2020, p. 73) conclui expondo que “os sensos do dever
e da importância da decisão a ser tomada são muito importantes nessa discussão
dos dilemas ético-morais que vivenciamos o tempo todo, para podermos mediar
o nosso comportamento nas nossas relações humanas e sociais”.

2.1 OS DILEMAS NO ÂMBITO DA FAMÍLIA


Neste momento, convidamos você, prezado acadêmico, a refletir sobre
algumas questões e dilemas éticos-morais que são consideradas polêmicas no
âmbito da família, e que aqui demostraremos algumas situações difíceis e algumas
indagações que se apresentam na nossa sociedade contemporânea.

96
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

Primeiramente, ponderaremos a respeito das indagações reflexivas sobre


a família que estão expostas no Quadro 30, vejamos!

QUADRO 30 – INDAGAÇÕES REFLEXIVAS SOBRE A FAMÍLIA

INDAGAÇÕES REFLEXIVAS SOBRE A FAMÍLIA

Em relação à família, hoje se colocam de maneira muito aguda as questões das


exigências éticas do amor.

O amor não tem de ser LIVRE?


O que dizer então da noção tradicional do amor livre?
Ele é realmente livre?

E como definir, hoje, o que seja a VERDADEIRA FIDELIDADE, sem identificá-


la como formas criticáveis de possessividade masculina ou feminina?

Como fundamentar, a partir dos progressos das ciências humanas, os


compromissos do amor, como se expressam na resolução (no sim) matrimonial?

E como desenvolver uma nova ética para as novas formas de relacionamento


heterossexual?

E como fundamentar hoje as preferências por formas de vida celibatária, casta


ou homossexual?

Fonte https://www.cubatel.com/blog/actualidad/cuando-llegara-el-nuevo-codigo-de-familia-
-a-cuba/
FONTE: Adaptado de Valls (2003, p. 71)

Conseguiram verificar, no Quadro 30, que na nossa vida cotidiana em


família possuímos muitas indagações, certo?! E essas merecem uma boa reflexão!

“Pois bem! É assim mesmo! Já que estamos em constantes transformações


humanas e sociais e essas mudanças refletem diretamente na relação entre pais
e filhos, e nas composições e configurações das novas estruturas familiares”
(PIERITZ, 2020, p. 74).

97
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Vale ressaltar que, neste momento, não analisaremos essas configurações


familiares expostas aqui, já que a intenção é apenas demostrar que nossa vida
está permeada de uma séria de dilemas e indagações, que como já estudamos
nos capítulos anteriores, situações que são inerentes à própria existência do ser
humano na terra, especialmente na suas relações familiares e intrafamiliares.

DICAS

Prezado acadêmico! Convidamos você a compreender um pouco mais sobre


essas novas configurações familiares. Nesse sentido, procure pesquisar sobre o tema e
leve os resultados de sua pesquisa para o próximo encontro de sua turma. Procure debater
esse assunto à luz dos princípios éticos e morais já estudados.

Nesse contexto, podemos observar que:


As transformações histórico-sociais exigem, hoje, igualmente
reformulações nas doutrinas tradicionais éticas sobre o relacionamento
dos pais com os filhos. Novos problemas surgiram com a presença
maior da escola e dos meios de comunicação na vida diária dos filhos.
As figuras tradicionais, paterna e materna, não exigem, hoje, uma nova
reflexão sobre os direitos e os deveres dos pais e dos filhos? Em especial,
a reflexão sobre a dominação das chamadas minorias sociais chamou a
atenção para a necessidade de novas formas de relacionamento dentro
do próprio casal. O feminismo, ou a luta pela libertação da mulher,
traz em si exigências éticas, que até agora não encontraram talvez as
formulações adequadas, justas e fortes. A libertação da mulher, a
libertação de todos os grupos oprimidos, é uma exigência ética, das mais
atuais. E, como lembraria Paulo Freire, em seu Pedagogia do Oprimido,
a libertação não se dá pela simples troca de papéis: a libertação da
mulher liberta igualmente o homem (VALLS, 2003, p. 72).

Assim, Pieritz (2020, p. 74) expõe que se pode “perceber que os valores
e princípios éticos e morais vão sendo renovados e reconfigurados conforme a
própria evolução humana na terra, pois, a humanidade vem se transformando ao
longo da sua história”.

Lembre-se de que estamos em movimento e em constantes transformações!

2.2 REFLEXÕES SOBRE A SOCIEDADE CIVIL


Prezado acadêmico! Neste subtópico, realizaremos apenas algumas
reflexões e discussões, que são tidas como polêmicas, refletindo sobre a ética e a
moral do dia a dia da sociedade civil em que vivemos e convivemos, buscando
aprofundar nosso conhecimento acerca dos dilemas relativos ao mundo do
trabalho e à propriedade.

98
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

Nesse sentido, Valls (2003, p. 72) expõe o seguinte:


Como falar de ética num país onde a propriedade é um privilégio
tão exclusivo de poucos? E não é um problema ético a própria falta
de trabalho, o desemprego, para não falar das formas escravizadoras
de trabalho, com salários de fome, nem da dificuldade de uma
autorrealização no trabalho, quando a maioria não recebe as condições
mínimas de preparação para ele, e depois não encontram, no sistema
capitalista, as mínimas oportunidades para um trabalho criativo e
gratificante? Num país de analfabetos, falar de ética é sempre pensar
em revolucionar toda a situação vigente.

Pieritz (2013, p. 51) complementa expondo que, nesse contexto, “faz-se


necessária algumas reformas políticas e éticas, no que tange às regras de conduta
referente ao modo de aquisição da propriedade e do trabalho. Essa reforma deve
partir da reformulação dos nossos princípios morais e éticos e através da vontade
política de nossos governantes”.

Assim, segundo Valls (2003, p. 73):


A crítica atual insiste muito mais, agora, sobre a injustiça que reside no
fato de só alguns possuírem os meios da riqueza, e a crítica à propriedade
se reduz sempre mais apenas aos meios de produção. [...] A propriedade
particular aparece agora, nas doutrinas éticas, principalmente como
uma forma de extensão da personalidade humana, como extensão do
seu corpo, como forma de aumentar sua segurança pessoal, e de afirmar
a sua autodeterminação sobre as coisas do mundo.

DICAS

Prezado acadêmico, agora o convidamos a compreender um pouco mais sobre


essas novas configurações do mundo do trabalho e suas relações trabalhistas. Assim,
procure pesquisar sobre os dilemas profissionais da profissão que você está exercendo
hoje, e leve os resultados de sua pesquisa para o próximo encontro de sua turma. Contudo,
procure debater esse assunto à luz dos princípios éticos e morais já estudados.

2.3 PONDERAÇÕES SOBRE OS DILEMAS DO ESTADO


Acadêmico, realizaremos uma breve reflexão sobre algumas questões
polêmicas do próprio comportamento ético e moral nos dias de hoje, que são
relativos aos aspectos do Estado.

Assim, podemos verificar que o Estado denota “ser muito mais complexo,
pois os ideais políticos são um tanto mais complicados de se compreender”
(PIERITZ, 2013, p. 51). Especialmente, quando verificamos a questão liberdade!

99
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Nesse sentido, de acordo com Valls (2003, p. 74):


[...] a liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do cidadão
de um Estado livre e de direito. As leis, a Constituição, as declarações
de direitos, definição dos poderes, a divisão destes poderes para evitar
abusos, e a própria prática das eleições periódicas aparecem hoje como
questões éticas fundamentais. Ninguém é livre, numa ditadura [...].

De tal modo, indaga-se: qual é a função do Estado?

Valls (2003, p. 75) complementa expondo que “os Estados que existem de
fato são a instância do interesse comum universal, acima das classes e dos interesses
egoístas privados e de pequenos grupos [...]. Em outras palavras, o Estado real
resolve o problema das classes, ou serve a um dos lados, na luta de classes?”.

3 ÉTICA E LIBERDADE HUMANA


Antes de adentrarmos na discussão relativa à liberdade humana,
gostaríamos de lhe contar a pequena história da “Águia e a Galinha”. Veja!

A ÁGUIA E A GALINHA

Numa tarde sonolenta de verão, voltava um criador de cabras do alto


de uma planura verde. Quando passava ao pé de uma montanha, encontra
um ninho de águias todo estraçalhado. Semicoberta por gravetos, havia uma
jovem águia ferida na cabeça, parecia morta. Era uma águia-harpia brasileira,
ameaçada de extinção no Brasil.

Recolheu a águia com cuidado e pensou em levá-la ao seu vizinho, que


empalhava animais. Ele ficou admirado por se tratar de uma águia-harpia.
Também supôs que estivesse morta e a colocou ternamente debaixo de uma
cesta.

Na manhã seguinte, teve grata surpresa. Percebeu que a águia mexia


levemente. Havia feridas em várias partes do corpo e a águia estava cega.

Sentiu muita pena da jovem águia. Por misericórdia, quase quis sacrificá-
la. Até encontrava razões para isso, visto que matam muitos animais pequenos,
especialmente macacos, preguiças, lebres e patos. Sabia que, na Austrália, as
águias são mortas às centenas por serem prejudiciais aos cangurus e outros
animais pequenos.

Pensou muito, mas lembrou-se da tradição espiritual de Buda e veio-lhe


à mente: “escolha a vida e viverá”.

100
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

Por todos esses argumentos, decidiu preservá-la e tratá-la com carinho.


Todo dia partia-lhe pedaços de pão e carne e a alimentava com dificuldade.
Depois de um ano, começou a perceber que os sentidos despertavam para a
vida. Primeiro os ouvidos. Depois, começou a se mover por si mesma. Andava
pela sala e pelo jardim. Recuperou sua voz, mas continuava cega. Os olhos são
tudo para uma águia. Seu olhar vê oito vezes mais que o olho humano.

Por fim, o empalhador decidiu colocá-la junto às galinhas. Durante dois


anos circulava cega entre elas. Andava com dificuldade, pois suas garras não
foram feitas para andar. Eis que um dia, a águia começou a enxergar. Depois de
três anos de paciente cuidado, ela recuperara seu corpo de águia, porém, vivia
como uma galinha.

Certo dia, um casal de águias passou por ali. Deu voos rasantes. Ao
perceber as águias no céu, a águia-galinha espalmava as asas e sacudia a cauda.
Seu coração de águia voltava a pulsar aos poucos.

Passado algum tempo, o empalhador recebeu a visita de um naturalista,


que ficou perplexo ao ver a águia-galinha. Decidiram fazer um teste. O
empalhador colocou-a no braço e falou-lhe:

— Águia, nunca deixará de ser águia, estenda suas asas e voe. Vendo
as galinhas, a águia deixou-se cair pesadamente. Fizeram nova tentativa, no
terraço de sua casa, mas não funcionou.

Aí ambos se lembraram da importância do sol para uma águia e a


levaram no alto da montanha, de frente para o sol. O empalhador sustentou
fortemente a águia sob o olhar confiante do naturalista e disse:

— Águia, você é amiga da montanha, filha do sol, eu lhe suplico:


desperte de seu sono! Revele sua força interior. Abra suas asas e voe para o alto!

A águia ergueu-se soberba sobre o próprio corpo, abriu as longas asas,


esticou o pescoço e alçou voo. Voou na direção do sol nascente. Voou até fundir-
se no azul do firmamento.

FONTE: BOFF, L. A águia e a galinha. In: TOMELIN, J. F.; TOMELIN, K. N. Do mito para a razão:
uma dialética do saber. 2. ed. Blumenau: Nova Letra, 2002. p.129-130.

Pieritz (2020, p. 77) expõe que:


Nesta história da “Águia e a Galinha”, podemos verificar que a vida
é feita de escolhas, e elas nos conduzirão para o nosso destino, mas, a
nossa essência humana fala mais alto, ou seja, os valores e princípios
éticos e morais são os nossos guias de comportamento, e é eles que
revelam a nossa força interior.

101
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

“Faça como a águia, abra suas asas e voe para o alto! Tenha seu livre-
arbítrio em suas escolhas! Compreendendo seus princípios ético-morais, para ter
um comportamento socialmente condizente com os preceitos pré-estabelecidos”
(PIERITZ, 2020, p. 78).

Professora, o que é essa tal liberdade?

Vejamos!

Convido-lhe a fazer a seguinte leitura:

O QUE É A LIBERDADE?

Luísa Guimarães

Liberdade é um conceito encarado com bastante controvérsia. Um


assunto que é discutido por muitos, os quais procuram uma resposta que
parece inalcançável. Sempre foi, é, e penso que sempre será, uma das maiores
questões da humanidade. Somos livres ou é uma mera ilusão? Temos limites e
o outro tem limites?

Todos procuramos a liberdade, sendo que a falta desta apresenta uma


das mais temíveis ameaças. Mas será que somos realmente livres?

O livre arbítrio é um apelo a essa liberdade, que se traduz no direito de


agir de segundo própria vontade, na sensação de não depender de ninguém e
no prazer de poder escolher, analisando antes as hipóteses que se encontram ao
nosso dispor e ponderando sobre a nossa decisão final.

Este é um tema que, mesmo podendo não parecer, é bastante complexo,


até para alguns filósofos. Ninguém aparenta ter a capacidade para responder à
“simples” questão: O que é a liberdade? – uma pergunta intrigante que revela
a complexidade de toda uma realidade com a qual não estamos habituados a
conviver. Quando fazemos este tipo de questões a nós próprios apercebemo-
nos de que talvez não prestamos a devida atenção à maioria dos assuntos que
nos rodeiam, dos mais simples aos mais labirínticos e, por vezes, desprezamo-
los quando, na verdade, podem ser dos mais importantes.

A liberdade está intimamente relacionada com a Ética uma vez que,


agindo livremente, nós devemos ser responsabilizados pelos nossos atos e
por isso devemos comportarmo-nos, em sociedade, da melhor forma para que
ninguém seja prejudicado.

102
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

Este é um assunto que deve ser discutido por todos nós para que
possamos ter um contato mais cuidado e atento com as diferentes realidades
que dão vida ao nosso mundo e para que possamos entender o outro e agir da
melhor forma.

FONTE: <https://osraciociniosdeninguem.blogspot.com/2019/04/o-que-e-liberdade_22.html>.
Acesso em 25 jun. 2020.

De tal modo, pode-se expor que “a liberdade é uma das capacidades


humanas de tomar decisões perante os grupos sociais a que pertencemos”
(PIERITZ, 2020, p. 78). Segundo Pieritz (2013, p. 52):
Devemos sempre partir do princípio de que a ética denota regras,
normas e responsabilidades, mas também não podemos esquecer que
a ética é um espaço de reflexão sobre a nossa vida cotidiana. Esta vida,
que está pautada nos alicerces da moral humana em sociedade, deve
também supor que todos os homens sejam livres.

Mediante as supracitadas informações. Indaga-se: o que é liberdade?

No Quadro 31, poderemos verificar elementos conceituais do que é


liberdade, vejamos:

QUADRO 31 – CARACTERÍSTICAS CONCEITUAIS DE LIBERDADE

FONTE: <https://bit.ly/36ztu13>. Acesso em: 18 nov. 2020.

A LIBERDADE é:
• A capacidade de determinar.
• A posse das próprias faculdades.
• Poder agir segundo próprio discernimento.
• É o direito de fazer tudo quanto as leis permitem.
• A obediência à lei que nós mesmos nos prescrevemos.
• A faculdade de só obedecer às leis externas as quais, pude dar o meu
assentimento.
• A segurança tranquila no exercício do direito.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 185)

Assim, para Pieritz (2013, p. 52):

103
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Quantas vezes tivemos o sentimento de estarmos presos, ou seja,


não tendo liberdade para fazer aquilo que realmente desejamos; ou
simplesmente poder escolher entre uma ou mais opções; ou ainda sentir-
se livre para querer realizar as nossas mais subjetivas necessidades, tais
como: escolher uma boa comida, comprar aquela roupa desejada, fazer
aquele curso desejado e não imposto pela família ou sociedade, andar
de bicicleta, fazer um esporte etc.

Complementando nossa reflexão, verifique, no Quadro 32 e no texto a


seguir, alguns aspectos importantes referentes à liberdade e às concepções da ética:

QUADRO 32 – CONCEITO DE ÉTICA

FONTE: <https://bit.ly/36ztu13>. Acesso em: 18 nov. 2020.

A ÉTICA é:
• A moral individual ou subjetiva, por oposição à moral social.
• A filosofia da moral.
• É a ciência cujo objeto é a moral.
• O ramo do conhecimento cuja finalidade é estabelecer os melhores critérios
para o agir.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p.140)

Complementando essa questão, convido-lhe a fazer a seguinte leitura


sobre liberdade e ética:

LIBERDADE E ÉTICA

Liberdade e ética, binômio fascinante. A mentalidade medíocre vê


apenas uma face do ser humano. A mentalidade sábia vê o ser humano em
todos os seus aspectos. A mediocridade é disjuntiva: liberdade ou ética, ética ou
liberdade. A sabedoria é conjuntiva: liberdade com ética é ética com liberdade. A
visão estreita fragmenta o ser humano. A visão ampla é arquitetônica. Engloba
liberdade e ética.

LIBERDADE E ÉTICA POSSUEM RECIPROCIDADE POSITIVA.


Intercomunicam-se e interfecundam-se. A liberdade acelera a ética e a ética
tonifica a liberdade. Interligadas, estimulam a “mútua criação”.

104
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

A ética pressupõe a liberdade. A pedra, a planta, o animal e o homem


coagido não exercem ato ético, porque não dispõem de liberdade para a atividade
ética. Por outra parte, sem ética, a liberdade pode adotar procedimentos
tortuosos. A LIBERDADE REQUISITA REFERENCIAIS ÉTICOS PARA MOVER-
SE COM LEGITIMIDADE. A ética oferece balizas aos passos livres. Valores éticos
são flechas que apontam rumos à liberdade. A ética sinaliza trânsito aberto ou
fechado para a arrancada da liberdade.

Liberdade e ética não são infalíveis. Podem tropeçar no percurso da


vida. Estão sujeitas a falhas e a deformações. O eticismo é vazio de sentido.
O autoritarismo ético veta inovações. A ética negativa proíbe iniciativas
construtivas e condena atitudes lícitas. O fundamentalismo ético revela
rigorismo patológico. Por outra parte, o libertarismo ilimita pretensões abusivas
da liberdade. E não leva em conta a liberdade e os direitos dos outros. Também
a liberdade pode ensandecer na irracionalidade.

A ética ditatorial avisa: “Aqui mando eu”. E a liberdade destemperada


ameaça: “Sou livre e faço o que quero”. Ora, a ética tem a função de encaminhar
a liberdade, e não de bloqueá-la arbitrariamente. E, por sua vez a liberdade nem
sempre pode justificar-se a si mesma, porque acerta, mas também desacerta.
Não basta ser livre para ter o direito de fazer tudo o que é executável. Com
liberdade fazem-se maravilhas, mas também se faz o pior. Se bastasse ser livre
para agir retamente, então matar com liberdade, estuprar com liberdade e
rapinar dinheiro público com liberdade seriam procedimentos legítimos, mas
são execráveis. Apesar de livres, são totalmente imorais. Pico Della Mirandola,
protagonista do “humanismo orgulhoso”, confessa que se pode fazer “uso
funesto da livre escolha”. Todo ser humano honesto reconhece que o direito à
liberdade não sanciona ações criminosas praticadas livremente.

Sartre mostra que a liberdade é inerente ao ser humano. E, ao mesmo


tempo, aponta o caráter ético da liberdade ao escrever que o “homem é livre
porque, lançado no mundo, é responsável por tudo quanto fizer”. A liberdade
possibilita a ética, e a ética salvaguarda a liberdade. Liberdade madura não
dispensa a ética, e ética lúcida não amordaça a liberdade. O sujeito humano
unifica, em si, liberdade e ética. Não se deve divorciá-las. Há que mantê-las
organicamente articuladas.

Orientar eticamente a liberdade não é aprisioná-la, mas consolidá-


la. O mundo atual pede mais liberdade e mais ética. Juntas contribuem para
que a humanidade seja autônoma e justa. Sem liberdade, a humanidade é
submetida à escravidão. E, sem ética, é submetida a crueldades repugnantes.
Rousseau diz que “só a liberdade moral torna o homem senhor de si mesmo”. A
humanidade, quanto mais livre, deve ser mais ética. E quanto mais ética, deve
ser mais livre. E concretizemos, com o pensamento e as mãos, a utopia de uma
nova humanidade livremente ética e eticamente livre.

105
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

“O que mais irrita um tirano é a impossibilidade de pôr a ferros também o


pensamento do homem”.
Poul Volarey

FONTE: ARDUINI, J. Antropologia: ousar para reinventar a humanidade. São Paulo: Paulus, 2002.

Assim, segundo Pieritz (2013, p. 54), “sabemos que todos os homens


necessitam de liberdade. Os animais também precisam dela. A liberdade pode ser
entendida como um processo de poder fazer escolhas. Essas escolhas devem ser
sempre pautadas sobre os nossos princípios morais e éticos, para que, assim, não
possamos prejudicar os outros”.

Barroco (2000, p. 54) expõe que:


A liberdade como capacidade humana é, portanto, o fundamento de
ética. Assim, agir eticamente, em seu sentido mais profundo, é agir
com liberdade, é poder escolher conscientemente entre alternativas,
é ter condições objetivas para criar alternativas e escolhas. Por sua
importância na vida humana, a liberdade é também um valor, algo
que valoramos positivamente, de acordo com as possibilidades de
cada momento histórico. Por tudo isso, podemos perceber que a
liberdade é também uma questão ética das mais importantes, pois
nem todos os indivíduos sociais têm condições de escolher e de criar
novas alternativas de escolha.

Logo, nesse contexto, Pieritz (2013, p. 54) expõe que:


O formato da vida em que estamos inseridos demonstra a situação
de que os homens estão sempre tomando decisões sobre onde, como,
para onde, o que estão fazendo ou vão realizar. A nossa própria
existência pode ser considerada instável e incerta, porque mudamos
de opinião o tempo todo. O mundo está em constante transformação
e, por consequência, os nossos hábitos e costumes também, devido ao
fato de que os seres humanos estão o tempo todo em movimento.

Conforme Pieritz (2013, p. 54), “não sabemos se choverá amanhã ou fará


sol, não sabemos realmente o que pode acontecer no dia seguinte e nem o caminho
que vamos tomar daqui para frente”.

Tomelin e Tomelin (2002, p. 128) colocam-nos que “nosso existir se


constitui a cada dia, pois o homem não é algo pronto e acabado, é um ser em
movimento e que tem possibilidades de escolha. O nosso existir revela uma
escolha. Uma escolha de nossos pais, ao terem um filho e uma escolha nossa, de
optarmos todos os dias pela vida”.

Então, de acordo com Pieritz (2013, p. 54):

106
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

Podemos compreender que somos livres, temos o poder de escolha entre


as inúmeras possibilidades que o universo nos proporciona. Só que não
podemos esquecer que toda escolha denota uma responsabilidade, não
vivemos isolados, mas numa sociedade e, perante ela, podemos, de certa
maneira, influenciar os outros conforme as nossas próprias escolhas.

Pieritz (2020, p. 82) ressalta que “toda escolha que fazemos determinará a
nossa própria existência junto ao grupo social que fazemos parte”.

Por fim, de acordo com Pieritz (2013, p. 55), “a moral, por meio das normas
de conduta, determina como devemos agir perante a sociedade em que vivemos.
E se devemos agir desse modo, conforme as diretrizes morais e éticas, é porque
existe a possibilidade de as pessoas fazerem o contrário, ou seja, não agirem
conforme as normas de conduta preestabelecidas pela sociedade”.
Temos a liberdade de escolha, pois muitas vezes nos indagamos se
realmente devemos obedecer ou não a essas regras, pois cabe a cada
um de nós decidir o que é certo ou errado, o que é fazer o bem ou o
mal. É claro, essa decisão deve ser tomada à luz de nossos valores e
princípios éticos, que foram e são constituídos pela sociedade como um
todo (PIERITZ, 2013, p. 55).

Prezado acadêmico, agora, apresentaremos uma síntese da Unidade 1 do


Livro de Relações humanas e sociais, para que você possa compreender um pouco
mais as questões que permeiam no mundo da ética e da moral dos seres humanos.
Vamos lá!

No entanto, sugerimos ler a obra toda, acessando o livro na biblioteca


virtual através do seu AVA, pois é muito importante que você possa se empoderar
dessas informações.

Vamos lá?!

107
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

LEITURA COMPLEMENTAR

O ESPAÇO DA ÉTICA NAS RELAÇÕES HUMANAS E SOCIAIS

Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

DO SER HUMANO E SOCIEDADE

O SER HUMANO

Pois bem, adentraremos numa discussão puramente filosófica no intuído


de compreender melhor o tal do “SER HUMANO”, ou aquele ser chamado
de “HOMEM” ou desmistificar aquele cara denominado simplesmente de
“INDIVÍDUO”, que convive com os outros em sociedade.

Sabemos que somos diferentes das outras espécies de animais, tais como
os gatos, cachorros, pássaros, cavalos, bois, tigres, elefantes, leões, rinocerontes,
crocodilos, macacos, peixes, e muitos outros, pois, possuímos certas particularidades
e complexidades que nos definem como homens e seres racionais, mas, então qual
é o fator que nos classifica como diferentes? Vejamos:

Podemos dizer que os homens possuem um emaranhado de características


que por si só o definem como um ser humano, pois “essa diferença complexa, faz
com que cada ser humano sinta, pense e aja de forma diversificada” (TOMELIN
E TOMELIN, 2002, p.110).

Nenhum homem é igual a outro homem, pois todos nós possuímos


princípios, valores, personalidade e aptidões diferentes, ou seja, cada um de nós
possui um conjunto de características parcial ou totalmente diferente do outro,
possuímos visão de mundo também diferente. E são estas características que
nos definem enquanto seres humanos. Então nunca poderemos generalizar a
conceituação dos homens, pois nós somos complexos por nossa própria natureza.

Mas, então o que é o ser humano?

Podemos ver que, de acordo com Batista (2008, p.1), “o homem, sem
dúvida alguma, é um ser eminentemente social, isto é, tem inerente em si a
perpétua tendência a se agrupar, de unir-se aos seus semelhantes, não só para
lograr atender aos fins que busca e deseja, mas também para satisfazer suas
necessidades materiais e de cultura”, ou seja, podemos considerar que uma das
primeiras características do ser humano é a SOCIABILIDADE, pois o homem
vem se constituindo com tal pelo convívio com o outro. E por intermédio do
convívio social que o homem começa a constituir seus princípios e valores éticos
e morais, que norteiam todos os seus atos em sociedade. E esta convivência
social do ser humano permeia por todas as fases da vida do homem, desde seu
nascimento até sua morte. Assim, Batista (2008, p.01) complementa expondo que

108
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

“dessa forma, pode-se considerar que a vida em sociedade é o modo natural da


existência da espécie humana” no mundo. E esta por sua vez só se torna possível
por intermédio da sua comunicação com o outro e também por suas relações de
trabalho, no qual a comunicação e o trabalho são fatores concretos de interação
constantemente com seus semelhantes.

Aquele mundo que o ser humano vive e convive com o outro, em seu
grupo socialmente constituído, mas também devemos compreender que nesse
mundo do homem em sociedade existem as suas particularidades subjetivas, ou
seja, a constituição íntima e pessoal do homem, que é formada por princípios e
valores socialmente constituídos.

Assim, podemos expor que o homem é um ser complexo, pois além de sua
natureza necessita se relacionar com os outros seres humanos, interagindo com
todos os elementos culturais do seu grupo social.

A SOCIEDADE

Então, agora que entendemos um pouco do significado do homem, devemos


compreender o que define a sociedade em si, mas, antes de qualquer coisa devemos
observar que cada grupo social possui características e cultura diversificada, nunca
poderemos generalizar dizendo que a sociedade é universal e igual para todos os
seres humanos no planeta. Cada sociedade é formada por um determinado grupo
de homens e estes por sua vez possuem características, princípios, desejos, crenças
e valores socialmente construídos por este determinado grupo social.

Neste sentido, o que é SOCIEDADE então? Vejamos:

Segundo Johnson (1997, p. 213) a SOCIEDADE “é um tipo especial de


sistema social que, como todos os sistemas sociais, distinguem-se por suas
características culturais, estruturais e demográficas/ecológicas. Especialmente, é
um sistema definido por um território geográfico, dentro do qual uma população
compartilha de uma cultura e estilo de vida comuns, em condições de autonomia,
independência e autossuficiência relativas”.

A sociedade, então, pode ser considerada como um conjunto de pessoas


que possui certa afinidade social entre si, pois vivem e trabalham no mesmo espaço
territorial boa parcela de tempo, e ela vem sendo constituída historicamente
através dos tempos, e essa convivência social desse grupo de pessoas acabam
gerando um grupo social em si, formando a sociedade como a conhecemos.

Outro fator preponderante na composição de um grupo social, ou de uma


sociedade, é a autonomia e solidariedade dos grupos e indivíduos, pois além dos
componentes e aspectos que compõe os grupos sociais o ser humano não perde
suas características subjetivas, ou seja, as suas particularidades pessoais, pois
como sabemos o homem é um ser social, não sabendo viver isolado dos outros
seres humanos.

109
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

E esta cumplicidade solidária é que mantém a harmonia e o convívio


social entre os homens, pois todos constituem socialmente suas regras sociais e
num sentido colaborativo as mantém. Em outros termos, as pessoas necessitam
trocar suas experiências e interagirem entre si, para fortalecer seus vínculos
sociais e se manterem vivos, pois, como já sabemos, o homem necessita suprir
suas necessidades, desejos e também ajudar a todos que convivem em seu grupo
social, construindo, socializando e ajudando o grupo na tentativa de garantia da
permanência do grupo social em si no mundo.

Você já pensou como seria a vida do homem se não houvesse essa


constituição social, ou a sociedade?

Vejamos, nós necessitamos do outro para podermos sobreviver, não


só pelos fatores materiais, mas também, porque os seres humanos precisam e
necessitam de afeto, atenção, dedicação, carinho e amor ao longo de sua existência,
para assim possuir um sentido de pertencimento e continuidade. O homem
necessita preponderantemente crer em alguma coisa, no qual vem depositando
sua esperança, fé e respeito a alguma coisa, para assim se sentir útil perante a
própria sociedade onde vive.

O “EU” só se completa com o “OUTRO”.

Então, podemos dizer que a convivência humana em sociedade se tornou


uma necessidade física, psicológica e biológica de sobrevivência no mundo, pois
nunca conseguiríamos viver isolado por muito tempo. Sendo que necessitamos
da companhia do “outro” para nos constituir como seres humanos.

AS RELAÇÕES HUMANAS: UMA CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO

Pois bem, a teoria das relações humanas trabalha as questões dos ASPECTOS
EMOCIONAIS do homem em suas relações de trabalho. No qual, determina que
se o ser humano conseguir se sentir pertencente em um determinado local ele
conseguirá melhores resultados em seus relacionamentos humanos e sociais, ou
seja, o homem necessita fazer parte de um determinado grupo, para assim se sentir
útil e realizar seus objetivos, mas, só este fator não é suficiente, ele precisa também
relacionar-se informalmente com as outras pessoas do seu entorno, desenvolvendo
laços de interação social sem as formalidades normais dos ambientes que está
inserido, como os laços de amizade, de grupo, de equipe etc...

Outro fator exposto por esta teoria é que o ser humano necessitar
desenvolver relações de cooperação, ou seja, participar e criar ações colaborativas
e participativas, além de desenvolver um bom processo de comunicação com os
outros. Em outros termos, o homem é um ser social complexo e esses elementos
devem ser constantes na vida do homem, principalmente em suas ações e atitudes
perante o grupo social a que pertence, para que assim possa desenvolver sua
integração social e possibilitar boas relações humanas e sociais. O mesmo está
representado no quadro a seguir.

110
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

QUADRO: ELEMENTOS BÁSICOS DA TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS

FONTE: a autora

Esses elementos bem desenvolvidos farão a diferença nas atitudes diárias


dos seres humanos em suas diversas integrações sociais que vier a constituir, pois
necessitam estar em grupo, para assim angariar melhores condições de vida.

Vimos, então, que a teoria das relações humanas trata do comportamento,


ações e as atitudes humanas como aspectos de âmbito emocional do homem em
seus diversos processos de integração social.

O HOMEM ENQUANTO SER SOCIAL

Já falamos muito sobre o ser humano, agora discutiremos mais profundamente


com relação ao homem enquanto ser social, pois como já vimos este fator social
no ser humano pode ser considerada uma “herança genética que o define como ser
humano” (MUSSAK, 2009, p. 1). E, portanto uma questão de formação genética em
si mesmo, pois como já abordamos o homem só é homem por intermédio de suas
relações e convivências sociais, adquiridas ao longo de sua história.

Aristóteles, 384-322 a.C (apud REIS, 2009, p. 1) nos coloca que “o homem é
reconhecido como um animal social: pois qualquer um que não consegue lidar com
a vida comum ou é totalmente autossuficiente que não necessita e não toma parte da
sociedade, é um bicho ou um deus”. Assim, verificamos que não conseguimos viver
sem estar em contato com o outro, seja direta ou indiretamente. Temos a necessidade de
nos conectar com as outras pessoas, pois “o homem como ser social está envolvido de
alguma forma evidente de relacionamento com outros: dando suporte, demandando,
ditatorial, justa, explorativa ou altruísta. Tais características poderiam aumentar ou
diminuir o bem-estar social subjetivo das pessoas” (REIS, 2009, p. 1). assim, podemos
colocar que o homem só se constitui como homem, quando ele desenvolve contatos
e relacionamentos com os outros homens em uma determinada sociedade ou um
determinado grupo social. E “o homem só se realiza como pessoa na relação com os
outros, relação essa que tem vários níveis e assume múltiplas formas: Universalidade;
Sociabilidade e intimidade” (MUSSAK, 2009, p. 1).
111
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Então podemos dizer que o ser humano faz parte de um contexto


universal, pois ele não está sozinho no mundo e no universo, socializando assim
suas experiências e subjetividades com o outro em sociedade, pois necessitamos
viver em sociedade para suprir nossas necessidades e realizar nossos sonhos, ou
seja, sempre realizaremos alguma coisa ou tomamos uma atitude em função de
um objetivo, seja ela pessoal ou coletiva.

Em outros termos, o homem não se constitui com ser humano sem


a convivência com os outros seres humanos. É uma necessidade biológica à
sociabilidade humana.

Mas então, como podermos analisar a nossa FUNÇÃO SOCIAL?

Todos nós fazemos parte de um contexto social, no qual desenvolvemos


muitos papéis nos grupos a que pertencemos. E cada um desses papéis sociais
possui uma função na sociedade em que vivemos, e que os mesmos denotam
algumas características tais como: pertencimento, intimidade, produtividade,
estabilidade e adaptabilidade.

Assim, podemos expor que, se o ser humano desenvolver constantemente


esses elementos em seu convívio social possibilitará ao mesmo melhoria de suas
condições de vida e integração social, pois como já estudamos é o desenvolvimento
das relações humanas e sociais que determina o ser humano, sua vida em grupo,
pois, “sem contato com o grupo social, o homem dificilmente pode desenvolver
as características que chamamos humanas” (DIAS, 2000, p.71).

E como se dá o PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO dos seres humanos?

Vejamos:

Segundo Dias (2000, p. 72), “ao nascer, a criança possui apenas potencialidades
de tornar-se humana. Ao interagir com outros, passa por várias experiências, e vai
sendo socializada. A esse processo, através do qual o ser humano vai aprendendo
o modo de vida de sua sociedade, desenvolve a capacidade de “funcionar” como
indivíduo e como membro do grupo, é que denominamos socialização”.

Então, o que é SOCIALIZAÇÃO?

Pois bem, “podemos definir socialização como sendo a aquisição das


maneiras de agir, pensar e sentir próprias dos grupos, da sociedade ou da civilização
em que o indivíduo vive. Esse processo tem início no momento em que nasce,
continua ao longo de toda a sua vida e só acaba quando a pessoa morre” (DIAS,
2000, p. 72). Já Johnson (1997, p.212) coloca-nos que o processo de socialização “é
para a vida inteira, que ocorre à medida que pessoas adquirem novos papéis e se
ajustam à perda de outros mais antigos”. Assim, podemos dizer que estamos em
constante processo de socialização, ou seja, estamos nos socializando com os outros
durante toda nossa existência na face da terra.

112
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

UNI

“A socialização do indivíduo numa dada sociedade permite que ele adquira


uma personalidade própria, que o diferenciará dos demais e ao mesmo tempo o identificará
com o seu grupo social” (DIAS, 2000, p. 72).

Dias (2000, p. 72) complementa expondo que “embora haja elementos


comuns na experiência de todas as pessoas, e mais ainda, na experiência de
pessoas dentro de uma determinada sociedade, cada pessoa continua sendo
única. Assim, cada homem é socializado de tal modo que sua personalidade é ao
mesmo tempo muito parecida com a dos outros em sociedade e em outro sentido
possui diferenças que a tornam única”.

Assim, Johnson (1997, p. 212) complementa expondo que SOCIALIZAÇÃO


“é o processo através do qual indivíduos são preparados para participar de
sistemas sociais”.

Segundo Dias (2000, p. 73) “o processo de socialização é um processo


profundamente cultural, no sentido da definição de que cultura é tudo o que
é socialmente aprendido e partilhado pelos membros da sociedade – inclui
conhecimento, crença, arte, moral, costumes e outras capacidades e hábitos adquiridos
pelos indivíduos em sociedade”.

Mas, então, quais seriam os principais AGENTES DE SOCIALIZAÇÃO


do homem?

Vejamos:

Segundo Dias (2000, p. 73), “podemos identificar cinco principais agentes


de socialização: a família, a escola, os grupos de “status”, os meios de comunicação
em massa e os grupos de referência”.

A COMPLEXIDADE DAS RELAÇÕES HUMANAS

OS SENTIMENTOS HUMANOS

Falar de sentimentos e emoções parece bem fácil, mas caro aluno não é.
Este tema possui certa complexidade de entendimento, portanto vamos por parte.

O que podemos compreender como SENTIMENTOS?

Vejamos:

113
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Os homens possuem uma diversidade e complexidade de sentimentos,


emoções e atitudes, como por exemplo, amor, raiva, compaixão, carinho, alegria,
tristeza e muitos outros, no qual o ser humano demonstra dependendo do momento
e condição de vida a que estão vivenciando. Isto tudo está diretamente relacionado
com os princípios e valores socialmente constituídos pelos homens, no qual refletem
diretamente nas atitudes desenvolvidas por ele no grupo a que a pessoa pertence.

Podemos dizer então que o sentimento nada mais é do que informações do nosso
estado psicológico, ou seja, conforme nos sentimos estamos transmitimos determinado
sentimento ou tomamos determinada ação e atitude perante o grupo social.

Os sentimentos podem ser de ordem positiva ou negativa, dependendo


do contexto social em que o homem está vivenciando.

Vejamos agora alguns tipos de atitudes e sentimentos:

QUADRO – EXEMPLOS DE ATITUDES E SENTIMENTOS

ORGULHO VERGONHA CULPA REPUGNÂNCIA


SIMPATIA AMOR GRATIDÃO VEXAME
ÓDIO CONDESCENDÊNCIA AFEIÇÃO DESPREZO
APEGO PIEDADE REVERÊNCIA RESPEITO
CARINHO ALEGRIA RAIVA COMPAIXÃO
FONTE: A autora

Agora que compreendemos um pouco sobre os sentimentos e emoções


humanas, podemos dizer que o homem é um ser social repleto de sentimentos e
emoções, que ao longo de sua interação social transmite o seu estado psicológico em
suas ações e atitudes, conforme sua cultura, conhecimento, hábitos e costumes.

Portanto, o que é CONVIVER com o outro?

Vejamos:

Sabemos que vivemos em sociedade, mas para que possamos conviver


harmoniosamente com os outros homens, necessitamos compreender o como viver
e conviver com o outro.

Primeiramente devemos colocar que conviver com os outros não é só estar com
os outros, e sim conviver é estar se relacionando diariamente com a outra pessoa, além
de possuir vínculos, intimidade, afinidades e familiaridade com este outro, ou seja, fazer
parte ativa da história do outro. Fazer com que o outro também se sinta parte da sua
vida e mostrar que ele é importante para a sua vida, pois, podemos dizer que o ato de
conviver é mais forte do que apenas viver. Sendo que não conseguimos viver isolados,
necessitamos estar em constante contato com os demais seres humanos. Necessitamos
nos relacionar, interagir com o outro para assim nos tornarmos humanos.
114
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

OLHANDO PARA VOCÊ... OLHANDO PARA OS OUTROS

Quando falamos nas questões dos relacionamentos humanos e seu


comportamento moral, precisamos compreender que o homem só se constitui
plenamente por meio do seu contato com os outros homens, seja somente com
uma pessoa ou com grupos de pessoas.

E, nesse sentido, o que pega no relacionamento humano é o tato ou habilidade


em se relacionar com o outro. Saber qual a melhor maneira de conviver em sociedade,
pois “a eficiência em lidar com outras pessoas é muitas vezes prejudicada pela falta
de habilidade, de compreensão e de trato interpessoal” (MINICUCCI, 2011, p. 31).

Com relação ao comportamento moral dos homens, chegamos numa


encruzilhada que é a nossa própria consciência moral, pois como saber o que
devemos fazer? O que é certo ou errado perante a sociedade? O que é o bem e
como evitar o mal?

Pois bem, para efetuarmos um julgamento concreto sobre alguma situação da


vida em sociedade, devemos nos pautar sobre todos os pressupostos éticos daquela
sociedade em si, ou seja, seus princípios morais e seus costumes. Entretanto, sem
esquecer que o que todo ser humano busca em suas ações cotidianas na sociedade
é fazer sempre e somente o bem, pois é por causa e em nome deste bem maior que
eles realizam tudo.

Todas as nossas ações possuem um propósito, ou seja, um fim. Este fim


somente é alcançado quando os homens realizam uma atividade para alcançá-los,
vão em busca de seus objetivos e metas. Portanto, se realmente existe um motivo
que visa tudo o que fazemos, este fim só poderá ser realizado se nós, seres humanos,
o realizarmos através de ações/atividades. Elas, por sua vez, sempre estão na busca
constante da realização do bem e da verdade e procurando a felicidade e o prazer.

Devemos compreender ainda que “as pessoas que tem mais habilidade
em compreender os outros e tem traquejo interpessoal são mais eficazes no
relacionamento humano” (MINICUCCI, 2011, p. 31). e isso nos mostra que
devemos tentar compreender melhor as pessoas que estão se relacionando
conosco, para assim poder desenvolver um bom relacionamento com eles, mas,
devemos compreender o outro com os princípios e valores deste outro e nunca
tentar compreendê-los com os nossos valores, pois cada um de nós constitui
uma gama de valores e princípios um pouco diferentes, pois cada um de nós
possuímos subjetividades e visão de mundo diferente.

Assim, o ser humano deve “aprender a aperfeiçoar sua habilidade


em compreender os outros e a si próprio, adquirindo traquejo nas relações
interpessoais” (MINICUCCI, 2011, p.31), pois, em nome de um bem maior, da
realização de um prazer ou em nome da felicidade, as pessoas realizam muitas
ações na sociedade. Às vezes, essas ações podem prejudicar outras pessoas.

115
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Complementando, Minicucci (2011, p.31) expõe que “a compreensão dos


outros (um dos aspectos mais importantes nas relações humanas) é a aptidão
para sentir o que os outros pensam e sentem”. E “essa aptidão denominamos
SENSIBILIDADE SOCIAL ou EMPATIA” (MINICUCCI, 2011, p. 31).

Assim, de acordo com Ferraz (2010, p.119) a “empatia é a habilidade de


se colocar no lugar de outra pessoa”.

Quando vamos lidar com as outras pessoas devemos ter tato, ou uma certa
sensibilidade em tentar compreender a outra pessoa como ela realmente é, pois:

QUADRO – TRATATIVA COM AS PESSOAS

FONTE: adaptado de Minicucci (2011, p. 32)

Assim,podemosobservarquedevemoscompreendercomoaspessoasrealmente
são e como elas se comportam, e ao mesmo tempo devemos ter “jogo de cintura”
com relação ao nosso comportamento perante ao grupo social a que pertencemos,
pois necessitamos ter flexibilidade de ação em nosso comportamento, relativizando
constantemente com o comportamento coletivo, para assim desenvolvermos uma
interação social sólida e saudável, pois ao desenvolvermos a habilidade da empatia
nós poderemos melhor compreender o outros, pois, “ela nos ajuda compreender as
razões (por mais estranhas que pareçam) que levam alguém a fazer coisas que você
jamais faria, como, por exemplo: passar horas praticando determinado esporte, que
você detesta; valorizar o status, enquanto você não se importa com isso; gastar o que
não tem, ou, então, economizar sem precisar” (FERRAZ, 2010, p. 119).

Portanto, para obtermos um bom relacionamento humano necessitamos


ter EMPATIA (sensibilidade social) e uma boa FLEXIBILIDADE em nosso
comportamento para assim desenvolvermos um bom repertório de condutas sociais
perante o grupo social a que pertencemos.

Assim, estas condutas sociais advindas de uma boa sensibilidade social


e de uma boa flexibilidade comportamental proporcionarão ao ser humano
possibilidade de uma melhora em sua qualidade de vida.
116
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

MELHOR CONHECIMENTO DE SI PRÓPRIO

Primeiramente necessitamos nos conhecer bem, para depois tentar conhecer


as demais pessoas que estão ao nosso entorno, mas, essa ação não é tão fácil assim,
pois “às vezes, não compreendemos por que temos certos tipos de comportamentos
ou atitudes. Não tentamos verificar que isso pode acontecer porque temos dentro
de nós CONFLITOS que não conseguimos resolver” (MINICUCCI, 2011, p. 33).

E esses conflitos são advindos dos princípios éticos e morais que constituímos
ao longo de nossas vidas, pois, no que tange aos problemas éticos e morais do
comportamento humano, observamos que a ética não é facilmente explicável, ao
sermos indagados, mas todos nós sabemos o que é, pois está diretamente relacionada
aos nossos costumes e às ações em sociedade, ou seja, ao nosso comportamento, ao
nosso modo de vida e de convivência com os outros integrantes da sociedade.

Nesse sentido observamos que todos nós possuímos princípios e valores


que foram e são constituídos por nossa sociedade. E com relação a esses valores,
cada um de nós possui uma visão do que é certo e errado, do que é o bem e o
mal. Contudo, essa consciência moral é determinada por um consenso coletivo
e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas de
conduta que o regem.

Tudo isso nos leva às questões dos princípios morais e éticos, que segundo
Tomelin e Tomelin (2002, p. 89), “a palavra ética provém do grego ethos e significa
hábitos, costumes e se refere à morada de um povo ou sociedade. A palavra moral
provém do latim morális e significa costume, conduta”.

A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento


que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo
ou errado, o que é bom ou mal, porém, esse comportamento sempre partirá do
ponto de vista dos princípios morais de cada sociedade, ou seja, seu grupo social.
A ética auxilia no esclarecimento e na explicação da realidade cotidiana de cada
povo, procurando sempre elaborar seus conceitos conforme o comportamento
correspondente de cada grupo social.

E para iniciar o processo de compreensão de nós mesmos, deveremos


primeiramente reconhecer quais são esses valores e princípios éticos que são a
base de nossa convivência social, pois, Vazquez (2005, p. 21) coloca-nos que “a
ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou
forma de comportamento dos homens [...]”, ou seja, o valor de ética está naquilo
que ela explica – o fato real daquilo que foi ou é –, e não no fato de recomendar
uma ação ou uma atitude moral.

Como todos sabem, existem grandes transformações históricas no decorrer


dos tempos em nossa sociedade. E com essas mudanças, o nosso comportamento
também muda e, consequentemente, os nossos princípios morais também.

117
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

Além do mais, nosso comportamento influencia diretamente as outras


pessoas que estão ao nosso entorno e vice versa, ou seja, também somos influenciados
pelo comportamento dos outros. Então necessitamos nos compreender melhor,
saber reconhecer o que é certo e errado, o que é bom ou ruim para nós, e
consequentemente para o grupo a que pertencemos.

MELHOR COMPREENSÃO DOS OUTROS

Agora que já percebemos que tudo está relacionado aos princípios


morais e éticos dos seres humanos, e que estes é que norteiam o comportamento
de cada homem, também devemos entender que as outras pessoas também
os têm. Portando devemos tentar compreendê-las para assim melhorar nosso
relacionamento pessoal ou social com as mesmas, pois, como já sabemos todos
nós possuímos subjetividades e características diferentes.

E, o primeiro passo para construir um bom relacionamento com as outras


pessoas é tentar compreendê-las como elas realmente são e saber respeitar as
diferenças e não como nós as vezes gostaríamos que elas fossem. E para isso,
devemos escutá-las e observar o seu comportamento, para que depois possamos
analisar e compreender como a mesma age em sociedade, pois segundo Minicucci
(2011, p. 35), “é muito difícil entender alguém pensando em planos mágicos como
a astrologia, a leitura de cartas do baralho ou consultando uma quiromante”,
pois, são dados abstratos, vindo do nada. Necessitamos de dados reais e concretos
para assim poder compreender melhor as outras pessoas que convivem conosco.

Minicucci (2011, p. 35) reforça essa questão expondo que “você


poderá conhecer melhor as pessoas, observando seu comportamento, dando
a elas a oportunidade de exporem seus pensamentos, sentimentos e ações, no
relacionamento com seus semelhantes”, mas, para isso o ser humano necessita
desenvolver uma SENSIBILIDADE SOCIAL, ou seja, estar aberto e sensível aos
valores e princípios da outra pessoa. E, não ser rígido e querer ver os demais seres
humanos agindo e se comportando como se fosse você.

E, é esta sensibilidade social que devemos aprimorar a cada dia de nossas


vidas, para assim podermos nos relacionar melhor com os outros.

MELHOR CONVIVÊNCIA EM GRUPO

Sabendo compreender os demais membros de nosso grupo social


desenvolveremos uma convivência mais harmoniosa com os mesmos, pois sem esta
sensibilidade social nos transformaremos em seres cristalizados e intransigentes,
pois, “você convive em grupo na família, na escola, no trabalho e em diversões. Por
outro lado, papéis são desempenhados nesses grupos, como o papel de pai, de mãe
e de filho” (MINICUCCI, 2011, p. 37).

118
TÓPICO 3 — A ÉTICA E AS RELAÇÕES HUMANAS NA ATUALIDADE

São os PAPÉIS SOCIAIS que desempenhamos a todo o momento, pois


como já abordamos anteriormente, nós seres humanos exercemos diversas
representações sociais ao longo do dia e de nossas vidas. Muitos autores o chamam
como “papéis funcionais”.

Minicucci (2011, p. 37) expõe que “num processo de grupo, durante seu
desenvolvimento, você poderá notar comportamentos tais como:

QUADRO 21

Apartes Expressões fisionômicas que traduzem ansiedade


Formação de
Pouco caso Indiferença Agressividade
panelinhas
Conversas
Bloqueio ao grupo Esnobismo
paralelas
Bloqueio a determinados elementos do grupo
FONTE: Minicucci (2011, p. 37)

E esses comportamentos e atitudes são reflexos diretos dos papéis sociais


que estamos representando e do jeito que assimilamos o comportamento dos outros,
pois, “sentindo esses tipos de comportamentos e sabendo como tratá-los, você terá
condições de perceber como o grupo funciona e como os indivíduos interagem, e
colocar sua atuação em função da realidade percebida” (MINICUCCI, 2011, p. 37).

Assim, devemos compreender como realmente é o funcionamento dos nossos


grupos sociais, tais como a família, a escola, o trabalho entre outros, mas antes de
tudo o ser humano precisa saber respeitar as DIFERENÇAS, sendo que todos nós
possuímos particularidades e subjetividades diferentes.

Minicucci (2011, p. 37) coloca-nos que “dessa forma, desenvolvendo


a sensitividade social, num grupo, você terá mais condições de levá-lo a um
procedimento mais funcional e às relações mais amistosas”.

DESENVOLVIMENTO DE APTIDÕES PARA UM RELACIONAMENTO


MAIS EFICIENTE COM O OUTROS

Quando falamos dos relacionamentos humanos e sociais, devemos


procurar entender como o ser humano pode se relacionar melhor com o outro, e o
que ele poderia fazer para melhorar seu relacionamento, para assim obter melhor
convivência com seus semelhantes.

O ponto de partida seria o desenvolvimento ou aprimoramento de certas


aptidões e habilidades no seu comportamento, como os processos de comunicação.
Nesse sentido, Minicucci (2011, p. 38) coloca-nos que “à medida que você vai
utilizando o conhecimento em si e dos outros, aprende a maneira de se comunicar
mais eficazmente”, isto é:
119
UNIDADE 1 — A ÉTICA GERAL

FONTE: Adaptado de Minicucci (2011, p.38)

Sem saber se comunicar, o homem não conseguirá se relacionar com as outras


pessoas, mas, no processo de comunicação devemos primeiramente saber ouvir as
outras pessoas para depois desenvolver as outras funções da comunicação, como
saber receber e avaliar as mensagens recebidas e nunca deixar de elogiar, dizer o que
pensa e agradecer.

FONTE: Adaptado de Pieritz, V. L. H. Relações humanas e sociais. Indaial: Uniasselvi, 2012.

120
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Estudamos algumas questões polêmicas com relação aos dilemas éticos da


nossa vida cotidiana.

• Estamos saindo das concepções universais, do todo, para um comportamento


individualizado, privado, centralizando nossas ações aos fatos particulares
de nossa vida em sociedade e não somente no contexto ético-moral universal.

• A nossa sociedade está permeada por dilemas ético-morais, nas mais diversas
esferas, e que eles são frutos do livre-arbítrio das escolhas humanas.

• Possuímos a liberdade de escolher fazer o certo ou o errado, fazer o bem ou o


mal, mas sempre pautados pelos princípios ético-morais universais do nosso
contexto social.

• Os sensos do dever e da importância da decisão a ser tomada são muito


importantes nessa discussão dos dilemas ético-morais que vivenciamos o
tempo todo, para podermos mediar o nosso comportamento nas relações
humanas e sociais.

• Refletimos sobre alguns dilemas no âmbito familiar, sociedade civil e Estado.

• A liberdade é uma das capacidades humanas de tomar decisões perante os


grupos sociais a que pertencemos.

CHAMADA

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121
AUTOATIVIDADE

1 Todos os homens necessitam de liberdade. A liberdade pode ser entendida como


um processo de poder fazer escolhas. Essas escolhas devem ser sempre pautadas
sobre os nossos princípios morais e éticos, para que, assim, não possamos
prejudicar os outros. Com relação à liberdade, analise as sentenças a seguir:
I- A liberdade como capacidade humana é, portanto, o fundamento de
ética. Assim, agir eticamente, em seu sentido mais profundo, é agir com
liberdade, é poder escolher conscientemente entre alternativas, é ter
condições objetivas para criar alternativas e escolhas.
II- Por sua importância na vida humana a liberdade é também um valor,
algo que valoramos positivamente, de acordo com as possibilidades de
cada momento histórico.
III- A liberdade é também uma questão ética das mais importantes, pois
nem todos os indivíduos sociais têm condições de escolher e de criar
alternativas de escolha.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) Somente a sentença II está correta.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

2 Todo grupo de pessoas que possui certa estabilidade ao longo da história


forma uma estrutura social, no qual são regidas por normas e leis socialmente
constituídas. Toda organização social desenvolve ou vem desenvolvendo
diretrizes comportamentais para seus membros, para assim poder estruturar
e regular todos os tipos de relações humanas.
Sobre a definição de estruturas sociais e humanas, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A estrutura social se refere aos padrões relativamente instáveis em que


estão organizadas as relações sociais e que formam a estrutura básica
da sociedade nas empresas. Estrutura é utilizada para identificar a
organização societária de uma empresa.
b) ( ) A estrutura social se refere aos padrões relativamente estáveis e
duradouros em que estão organizadas as relações sociais e que formam
a estrutura básica da sociedade. Estrutura é utilizada para identificar a
distribuição, em determinada ordem, das diversas partes de um todo.
Assim, quando nos referimos à estrutura de algo, estamos nos referindo
à interrelação das diversas partes que o compõem.
c) ( ) São os princípios legais de referência para o desenvolvimento de uma
estrutura social e humana.
d) ( ) Estruturas sociais e humanas são os parâmetros, preceitos, normas,
leis de referência universais, que definem as regras de conduta social e
consente a medição das consequências do comportamento humano.

122
REFERÊNCIAS
ALEXANDRIA, I. Ética e moral: uma reflexão sobre a ética e os padrões
de moralidade ocidental. 2001. Disponível em: http://www.gbic.com.br/
ibes2k9si/1%BA%20Semestre/etica/audio/3%20-%20%C9tica%20e%20moral%20
-%20Uma%20reflex%E3o%20sobre.txt . Acesso em: 26 fev. 2021.

ALVES, L. M. Os estágios morais de Kohlberg. 2017. Disponível em: https://


wp.me/pHDzN-3To. Acesso em: 20 jul. 2020.

ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 3. ed. São Paulo:


Moderna. 2005.

ARDUINI, J. Antropologia: ousar para reinventar a humanidade. São Paulo:
Paulus, 2002.

AVELINE, C. C. Kohlberg e os estágios da consciência ética: compreendendo


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124
UNIDADE 2 —

A ÉTICA JURÍDICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• aprofundar os conhecimentos acerca da ética nas profissões jurídicas, ou


seja, a ética no direito.
• compreender a questão da justiça, igualdade e equidade.
• ampliar a percepção acerca da deontologia jurídica.
• proporcionar uma reflexão concernente aos princípios éticos comuns às
carreiras jurídicas, perpassando pelos princípios da cidadania e liberdade.
• compreender as características principais da democracia.
• refletir sobre a ética em algumas áreas do direito.
• discutir sobre a dignidade da pessoa humana como fundamento da ética
judicial e da justiça.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

TÓPICO 2 – DEONTOLOGIA JURÍDICA

TÓPICO 3 – PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

125
126
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, agora que você já se empoderou dos conhecimentos
acerca da “ética geral”, em que realizamos, na unidade anterior, uma reflexão sobre
as noções da ética e da moral, suas características e diferenças, o desenvolvimento
do sujeito ético-moral e suas bases éticas-morais, a consciência e a conduta moral, os
valores e princípios morais, a essência intrínseca da moral e os valores e princípios
morais como princípios norteadores da ética, como também debatemos a respeito
da ética e as relações humanas na atualidade, elucidando sobre as questões éticas
atuais, a ética e a liberdade humana e, por fim, estudamos o espaço da ética na
relação indivíduo e sociedade e suas relações humanas.

Ufa! Quanta coisa já absorvemos e elucidamos sobre a ética e a moral!

Vale ressaltar que esses preceitos estudados na Unidade 1, do seu livro de


Ética geral e jurídica, são tidos como a base conceitual para proporcionar a você a
melhor compreensão da ética no âmbito profissional jurídico.

Neste primeiro tópico, discorreremos sobre as nuances da “ética jurídica”,


principalmente apresentando subsídios para você compreender as questões da
ética nas profissões jurídicas, elucidando as principais características e elementos
norteadores da ética no direito, como também será desenvolvida uma reflexão
atinente à justiça na ética jurídica, à liberdade e equidade, à moralidade e justiça e à
ética em algumas áreas do direito, como na área constitucional, civil e penal.

Prontos para continuar nossos estudos sobre a ética?

Vamos estudar sobre a ética no âmbito jurídico profissional?

FIGURA 1 – ÉTICA JURÍDICA

FONTE: <https://bit.ly/3ewCp8d>. Acesso em: 17 fev. 2021.

127
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

2 A ÉTICA NO DIREITO E NAS PROFISSÕES JURÍDICAS


Olá, caro acadêmico! Aqui, ofereceremos subsídios para você compreender
a questão da ética no direito e nas profissões jurídicas. Para isso, primeiramente
abordaremos aspectos correlacionados à relação da ética com o direito, mas antes,
vamos aos conceitos de ética, moral e direito.

Lembre-se de que na Unidade 1 deste livro, expomos que “pode-se


compreender que a ÉTICA reflete os hábitos e costumes gerais de uma sociedade,
suas normativas e convenções, que fora institucionalizada pelo coletivo social, e
a MORAL é a forma que conduzimos nossos atos perante o outro, ou seja, é a
conduta em si” (PIERITZ, 2020, p. 11, grifo nosso).

Assim, colocamos que a ética pode ser compreendida como os pilares


normativos de nossa conduta moral perante a sociedade em que vivemos e
convivemos, pois é a ética que normatiza e dita as regras do jogo, expondo qual o
melhor caminho a ser seguido. Já a moral denota a nossa decisão e a nossa ação a
respeito das regras socialmente constituídas.

No entanto, o que é direito?

Vejamos!

QUADRO 1 – CONCEITO DE DIREITO

DIREITO

Poder legislativo de fazer ou deixar de A efetivação institucional da


fazer alguma coisa. liberdade.
Conjunto sistemático das normas
Processo de adaptação concernente às
jurídicas, o tipo de comportamento
relações institucionalizadas de poder.
que preveem.
Ciência que sistematiza as normas necessárias para o equilíbrio das relações
entre o Estado e os cidadãos e destes entre si, impostas coercitivamente pelo
Poder Público.

UNIVERSALIDADE DAS NORMAS LEGAIS


Que disciplinam e protegem os interesses ou regulam as relações jurídicas.

A palavra vem do latim popular directu,


Em contraposição ao jus, havia o
substituindo a expressão do latim
faz, que eram princípios jurídicos
clássico jus, que indicava as normas
cuja aplicação cabia aos pontífices,
formuladas pelos homens destinadas
ministros religiosos.
ao ordenamento da sociedade.

Processo social de adaptação cuja finalidade é a paz e cujo critério é a justiça.


FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 112) e Guimarães (2016, p. 315)

128
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

Vejamos outras características importantes do direito:

QUADRO 2 – CONCEITO DE DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO

DIREITO OBJETIVO DIREITO SUBJETIVO


(jus norma agendi) (jus facultas agendi)

Segundo Miguel Reale:


Segundo Miguel Reale:
“Vinculação bilateral imperativo-
atributiva da conduta humana para a “A autorização da norma jurídica para
realização ordenada dos valores de o exercício de uma pretensão”.
convivência”.

OBJETIVAMENTE SUBJETIVAMENTE

Direito é o interesse protegido pela


Direito é a realização da lei, a
ordem jurídica, o poder concedido a
lei escrita, a norma de agir, de
cada um de agir, de fazer ou deixar
exteriorizar-se pela ação.
de fazer.
FONTE: Adaptado de Guimarães (2016, p. 315)

Nesse sentido, partiremos da premissa que “a ética tem papel importante


para emprestar conteúdo a todo e qualquer comportamento. Desse modo, não há
dúvidas de que também se manifesta, de forma bastante destacada, com relação ao
Direito” (ALTOÉ; DOMINGUES, 2015, p. 74, grifo nosso), ou seja, o comportamento
ético e moral nos trazem elementos para dirimir as premissas comportamentais no
âmbito do direito, pois o comportamento profissional dos operadores do direito
também é regulado pelos princípios éticos e morais, como de todos os cidadãos que
vivem em sociedade.

Assim, de acordo com Rezende e Moreschi (2014 apud SILVEIRA, 2018, p.


14-15, grifo nosso), “a ética e o direito, dentre todas as formas de comportamento
humano, a jurídica é a que guarda maior intimidade com a moral. Através da ligação
de intimidade entre moral e direito é que se estabelece o relacionamento entre a
ética e o direito”, pois, se nesse comportamento humano não preconizar os preceitos
ético-morais “[...] com certeza absoluta irá sofrer as sanções do direito” (REZENDE;
MORESCHI, 2014 apud SILVEIRA, 2018, p. 14-15).

Mediante o exposto, Polizel (2013, p. 3, grifo nosso) complementa expondo que:


Se aceitarmos que, na justificação do direito vigente, deve-se considerar
a tábua de valores aceita pela sociedade em referência, então a ética,
enquanto princípio dominante na formação da consciência jurídica
estará presente no julgamento axiológico de toda norma jurídica de
caráter atributivo. Só essa diretriz deontológica permitirá a existência
de uma política jurídica para a construção do direito que deve ser e
como deva ser.

129
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

Desse modo, em âmbito jurídico, os preceitos éticos e morais são ainda


mais notórios e vivos, pois estão presentes na própria norma jurídica, que regula
como deve ser o comportamento dos homens em suas relações humanas, sociais,
políticas e econômicas.

Nesse sentido, pode-se observar que existe uma intimidade entre o direito e
as concepções ético-morais, pois, para Silva e Gonçalves (2015 apud SILVEIRA, 2018,
p. 15, grifo nosso), essa intimidade acontece “pelo fato que juntas disciplinam a
relação entre os homens através de normas, impondo uma conduta obrigatória”,
ou seja, tanto a ética como o direito desenvolvem normativas, códigos, preceitos e
leis que disciplinam o comportamento humano.

Polizel (2013, p. 4) reforça essa discussão expondo que é o “caráter


normativo de ética que a colocará em íntima conexão com o direito”. Vale ressaltar
que no âmbito da moral, esses preceitos éticos são constituídos internamente, ou
seja, de acordo com Silva e Gonçalves (2015 apud SILVEIRA, 2018, p. 15), “a vida
moral que levamos está focada no nosso interior, de uma consciência individual
de uma intimidade pessoal de uma análise com sua própria consciência”. Na
questão dos preceitos morais, entra a consciência humana de fazer ou deixar de
fazer, segundo as normas éticas.

Contudo, no âmbito do direito ou da práxis jurídica, esse regramento


do comportamento humano é tido como externo, pois, segundo Pereira (2017
apud SILVEIRA, 2018, p. 15), na “vida jurídica ela é exterior, pelo fato de que a
observância da norma jurídica não depende da consciência. A legalidade de um
proceder consiste na mera adequação externa do ato à regra; sua moralidade na
concordância interna”. Na questão dos preceitos jurídicos, entra o ato em si de
cumprir, ou não, as regras e normas legais.

Assim, Silveira (2018, p. 15, grifo nosso) complementa expondo que no “ato
moral, ele parte de uma atitude com discernimento e o ato jurídico é praticado
inconscientemente e não irá perder esse atributo.” Então, a diferença está na
atitude consciente ou inconsciente do ato em si.

Lembre-se!

• No comportamento ético-moral, os preceitos normativos do comportamento


humano, instituídos socialmente, são por adesão, ou seja, as pessoas têm o
poder da escolha, e assim agir de forma consciente, conforme o seu livre arbítrio.
• Já no direito, as leis e normativas são obrigatórias para todos. Em outros termos,
as pessoas devem cumprir as normativas, códigos, preceitos e leis instituídas
pelos poderes executivo, legislativo e judiciário.

Outro fator importante é que:


As leis jurídicas são identificadas pela sua coercibilidade.
As leis éticas, pela sua motivação interna.
Os valores éticos envolvem as distintas concepções de bem e visam
respeito à individualidade e identidade das pessoas.

130
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

As regras jurídicas são originárias de um sistema legislativo e valem


para determinada comunidade política.
As normas morais são universalíssimas e valem para todos os seres
humanos, independentemente de suas concepções de bem e valores
pessoais.
A necessidade de justificação pública é comum às leis jurídicas e às
normas morais (WEBER, 2015, p. 294, grifo nosso).

Vale salientar que “o jurídico e o moral têm em comum a justificação


pública e obedecem ao critério da universalidade [...], ou seja: o que confere
legitimidade às normas é a sua capacidade de serem justificadas universalmente”
(WEBER, 2015, p. 302), pois tanto as normas éticas como as jurídicas são validadas
pelo coletivo e são para todos.

No que tange à ética, ao direito e à moral em si, precisamos compreender que:


• Existe uma neutralidade ética no direito.
• Os princípios e valores ético-morais necessitam da proteção das normas e
leis jurídicas.
• As normas e leis jurídicas são a capa protetora do comportamento ético e
moral dos seres humanos.
• As leis e normas jurídicas valem para todas as comunidades éticas e morais,
mas cada qual, segundo suas normativas locais, regionais e nacionais.

NOTA

Prezado acadêmico! Para Weber (2015, p. 303), “a neutralidade ética do Direito


visa assegurar a realização dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos dentro de
seus diferentes valores éticos”.

3 A QUESTÃO DA JUSTIÇA NA ÉTICA JURÍDICA


Verificamos que o direito denota o desenvolvimento de um processo
social, político e econômicos, a qual possui por finalidade a busca e manutenção
constante da paz, tomando por critério intrínseco a justiça.

Essa justiça pode ser compreendida como “a virtude de dar a cada um


aquilo que é seu. A faculdade de julgar segundo o direito e melhor consciência”
(FERREIRA, 2008, p. 500). Nesse sentido, a justiça denota a consciência humana
de julgar de acordo com as normas jurídicas, leis e diretrizes, o que é de direito
de cada cidadão.

131
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

Desse modo, Perelman (2005, p. 9) complementa expondo que a justiça é


“dar a cada um a mesma coisa; dar a cada um segundo seus méritos; dar a cada
um segundo suas necessidades; dar a cada um o que a lei lhe atribui”. Em outros
termos, pode-se expor que a justiça permite que os seres humanos conquistem
tudo o que as leis e normas os permitirem, sejam por seus méritos, necessidades
ou por intermédio das legislações, e que essas sejam normas iguais para todos,
para a universalidade.

Vejamos, no Quadro 3, mais algumas características do conceito de justiça:

QUADRO 3 – CONCEITO DE JUSTIÇA

JUSTIÇA
Conformidade com o direito, o Poder de julgar, de aplicar os
preceito legal. dispositivos legais.

Equilíbrio perfeito que estabelece a moral e a razão entre o direito e o dever.

A definição consagrada é de Ulpiano:

“Justiça é a vontade constante e perpétua de dar a cada um o que é seu”.


Valor concernente ao JUSTO.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 176) e Guimarães (2016, p. 480)

Assim, mediante os conceitos supracitados, pode-se expor que a justiça


pode ser entendida como o equilíbrio constante no julgamento e aplicabilidade
universal das normas e leis, proporcionando a garantia dos direitos e deveres
institucionalizados e formalizados mediante a lei escrita.

Johnson (1997, p. 133) ainda expõe que, “no sentido mais simples, justiça é
um conceito que se refere à equidade e ao processo de pessoas conseguirem aquilo
que merecem”, pois nem sempre os efeitos das leis e normas são igualitários e
justos para todos os homens. Sob esse prisma, vale destacar que:
Os princípios de justiça são de justificação pública; [...] compartilháveis por
todos os cidadãos. Contudo, o cidadão se vê protegido em sua identidade
ética enquanto seus valores não conflitarem com os princípios do justo.
As pessoas precisam ser protegidas em seus valores éticos através das
leis jurídicas e das leis morais.
As liberdades de consciência religiosa e de expressão são bons exemplos
disso. É por isso que procuramos proteção na comunidade jurídica e na
comunidade internacional.
A diferença é que as leis jurídicas valem para determinada comunidade
política e as leis morais para a comunidade internacional, portanto,
até mesmo para os apátridas. Se estes não se veem protegidos por uma
comunidade ética nem por uma comunidade jurídica deverão sê-lo pela
comunidade dos seres humanos (WEBER, 2015, p. 303, grifo nosso).

132
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

Mediante essa afirmação de Weber (2015), podemos colocar que a justiça


possui por premissa o caráter público, pois é para todos, e que a justiça está
permeada pela proteção dos valores e princípios éticos-morais dos seres humanos,
desde que seja justo, e para isso, as pessoas são protegidas pelos regramentos
jurídicos e morais.

No entanto, o que é justo?

Justo, para Cunha (2011, p. 177), é “a medida do bem. O que é adequado,


justificado”. Nesse sentido, Ferreira (2008, p. 500) complementa expondo que justo
é estar “conforme à justiça, à equidade, à razão. Imparcial, íntegro, exato, preciso.
Legítimo, fundado. Homem virtuoso”, ou seja, justo é aquilo que é apropriado e
imparcial para todos os seres humanos.

Assim, pode-se expor que ser justo é ter um comportamento pautado nas
regras legais, mas sempre levando em conta as diferenças, a imparcialidade e a
integralidade, pois, de acordo com Perelman (2005, p. 19), os “seres de uma mesma
categoria essencial devem ser tratados da mesma forma”, ou seja, deve haver equidade
no tratamento das regras e leis institucionalizadas, pois devemos compreender que
os “casos semelhantes devem ter tratamento semelhante” (WEBER, 2015, p. 294).

Continuando nossa discussão sobre a justiça, apresentaremos, nesse


momento, algumas dimensões da justiça, segundo as concepções de Aristóteles,
Sócrates, os romanos e os sofistas. Vamos lá!

QUADRO 4 – DIMENSÕES OU CONCEPÇÕES DA JUSTIÇA

AS DIMENSÕES OU CONCEPÇÕES DA JUSTIÇA


• Devem-se afastar as definições absolutas e todos os tipos de
Para os sofistas ontologia ou metafísica sobre os valores sociais, relativizando
a justiça, sob o pressuposto da contingência das leis.

• A justiça compreende também a dimensão política, pela


qual cada pessoa deve cumprir na sociedade a função que
lhe incumbe, de forma que estabelece o primado da ética
Para Sócrates do coletivo sobre a ética do individual.
• A virtude está no conhecimento, base do agir ético, por isso
a felicidade das pessoas só será atingida com a erradicação
da ignorância por meio, principalmente, da educação.

• A justiça tem uma essência altruísta individual, é voltada


Para os
para os outros, significando que devemos evitar fazer aos
romanos
outros o que não queremos que eles nos façam.

• Considera a justiça como uma virtude da pessoa humana,


Para
sendo que a ética, como ciência prática, incumbir-se-ia em
Aristóteles
definir o que é justo e o que é injusto.

133
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

• Apenas o conhecimento em abstrato do conteúdo da


virtude não basta para se chegar à felicidade, necessária a
realização da virtude, que se adquire pelo hábito.
• Imprescindível, pois a prática ética, segundo ele, cumpre ao
juiz equalizar as diferenças surgidas das desigualdades.
FONTE: Adaptado de Bezerra (2010, p. 271-272)

NOTA

Relativismo: “Doutrina ou tendência segundo a qual o significado ou valor


de algo varia conforme a situação ou as relações com os outros elementos e valores”
(FERREIRA, 2008, p. 694).
Altruísmo: “Sentimento de quem põe o interesse alheio acima do seu próprio” (FERREIRA,
2008, p. 114).

3.1 SENTIDOS DA JUSTIÇA


No que tange aos sentidos da justiça, convidamos você a compreender
algumas concepções da justiça no âmbito jurídico, distributivo e social. Vejamos!

QUADRO 5 – SENTIDOS DA JUSTIÇA

SENTIDOS DA JUSTIÇA
• A justiça consiste em tratar a todos de acordo com a lei,
Em sentido jurídico em garantir os direitos civis e seguir de forma coerente
e imparcial as normas prescritas.

A justiça distributiva ou social implica ideias menos precisas sobre o que é


justo, em especial na distribuição de recursos e recompensas, como a riqueza.
• É a justiça que se pratica pela distribuição dos bens
Justiça distributiva
existentes.
Justiça social • É a justiça que leva em conta as desigualdades sociais.
FONTE: Adaptado de Johnson (1997, p. 133), Cunha (2011, p. 176) e Guimarães (2016, p. 380)

Assim, pode-se verificar que existem três sentidos na justiça, a jurídica,


distributiva e social, que denotam que:

• todos são tratados de forma igualitária perante a lei;


• as leis devem ser aplicadas de forma coerente e imparcial;
• haja distribuição igualitária dos bens e recursos a todos;
• seja levado em consideração as desigualdades sociais.
134
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

Complementando, Bittar e Almeida (2001, p. 119, grifo nosso) expõe que:


A justiça total destaca-se como sendo a virtude (total) de observância
da lei. A justiça total vem acompanhada pela noção de justiça particular,
corretiva, presidida pela noção da igualdade aritmética (comutativa,
nas relações voluntárias; reparativa, nas relações involuntárias) ou
distributiva, presidida pela noção de igualdade geométrica.

Entretanto, o que é igualdade?

De acordo com Cunha (2011, p. 159), a igualdade é a “característica do que


é igual. Critério segundo o qual se atribuem ou reconhecem, às pessoas, bens ou
direitos iguais”. Ferreira (2008, p. 460) complementa expondo que a igualdade
denota a “qualidade ou estado de igual. Expressão com o qual se afirma que duas
entidades (com o sinal = entre elas) são iguais ou devem ser assim consideradas”.

Saiba que todos os cidadãos possuem o direito à igualdade, a qual está


estampada no preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, que assim expõe:
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia
Nacional Constituinte para instituir um estado democrático, destinado
a assegurar o exercício:
• dos direitos sociais e individuais;
• a liberdade;
• a segurança;
• o bem-estar;
• o desenvolvimento;
• a igualdade; e
• a justiça (BRASIL, 1988 apud CÉSPEDES; ROCHA, 2020, p. 3, grifo
nosso).

Então, qual é o direito à igualdade e o que este direito exprime? Vejamos!

QUADRO 6 – DIREITO À IGUALDADE


DIREITO À IGUALDADE
• Somos todos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
• A igualdade é o mais vasto dos princípios constitucionais.
o Ela garante o indivíduo contra toda má utilização que se possa fazer da
ordem jurídica.
• A função do princípio constitucional da igualdade é a de informar e condicionar
todo o resto do direito.
o É por intermédio dele que o ordenamento jurídico pátrio assegura a todos,
indistintamente, os direitos e prerrogativas constitucionais.
• A igualdade é um direito subjetivo.
• Deve-se, contudo, buscar não somente essa aparente igualdade formal, mas,
principalmente, a igualdade material, uma vez que a lei deverá tratar igualmente
os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.
FONTE: Adaptado de Lenza (2014), Mascarenhas (2008), Pieritz (2013) e Cunha (2011)

135
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

Vale salientar que a igualdade é concebida como uma das garantias


constitucionais expostas no caput do Art. 5° da Constituição do Brasil de 1988, no
qual o Inciso I trata em específico da igualdade entre homens e mulheres: “Homens
e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos dessa Constituição”
(BRASIL, 2012, p. 13, grifo nosso).

De tal modo que, segundo Pieritz, Bonetti e Franzmann (2016), “pode-


se expor que este preceito constitucional nos traz referência a uma igualdade
irrestrita, integral, incondicional e absoluta entre homens e mulheres, sejam
brasileiros ou estrangeiros, pois ambos possuem direitos e deveres perante a
sociedade em que vivem e convivem”.

O que é IGUAL?

Conforme Ferreira (2008, p. 460), igual é “quem tem a mesma aparência,


estrutura ou proporção. Idêntico. Que tem o mesmo nível, plano. Que tem a
mesma grandeza, valor, quantidade, quantia ou número, equivalente. Da mesma
condição, categoria, natureza etc.”, ou seja, de acordo com Cunha (2011, p. 159),
igual denota o “idêntico. Com relação ao outro, o que dele se distingue apenas
pelas singularidades”. Então, igual significa aquilo que tem condições idênticas
ou semelhantes.

3.2 A DIMENSÃO DA JUSTIÇA COMO EQUIDADE


No que tange à dimensão da justiça com equidade, devemos primeiramente
compreender o sentido estrito do conceito de equidade, nesse sentido, vejamos
que, para Guimarães (2016, p. 362, grifo nosso), a equidade é um:
Conceito advindo da filosofia e da doutrina do direito natural,
geralmente associado a um conjunto de princípios de justiça, fundados
na razão humana e na ética, que induzem o julgador a um critério
de moderação ao preferir decisão, para suprir as lacunas na lei ou
modificar o rigor das normas, tornando-as mais humanas e amoldadas
às circunstancias fáticas.

Denotando, assim, que a justiça necessita ser equânime, ou seja, a justiça


precisa considerar as diferenças, proporcionando mecanismos para tornar iguais
os desiguais, como você poderá visualizar na Figura 2.

136
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

FIGURA 2 – EQUIDADE, MUITO MAIS DO QUE IGUALDADE

FONTE: <https://bit.ly/3t4hSM4>. Acesso em: 17 fev. 2021.

A Figura 2 demostra como a justiça trataria pelos princípios da igualdade


e como lidaria a mesma questão pelo princípio da equidade, pois, na igualdade,
apenas trataria conforme as regras e legislações iguais para todos, sem diferenciação,
já na equidade, levaria em considerações as diferenças, buscando equiparar as
diferenças, para proporcionar o acesso ao mesmo direito a todos.

Entretanto, o que é EQUIDADE?

Vejamos!

QUADRO 7 – CONCEITO DE EQUIDADE

EQUIDADE
É o critério básico de justiça, que
através das diferenças busca a É a igualdade, retidão, equanimidade.
igualdade.

É a interpretação mais branda das


É a justiça do caso concreto.
normas jurídicas.

É o critério de julgamento em que,


no interesse da justiça, há liberdade para aplicar ou não a norma legal.
É a aplicação circunstanciada da norma no caso concreto, sem o excessivo
apelo à letra da lei.
É a disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um, justiça.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 135), Guimarães (2016, p. 362) e Ferreira (2008, p. 358)

Assim, podemos visualizar que a equidade denota a igualdade das diferenças,


e a justiça reconhece, assim, o direito de cada ser humano, conforme suas diferenças
e o caso concreto.
137
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

Lembre-se de que as legislações possuem um regramento geral, mas os


magistrados os interpretam conforme o caso concreto, levando em consideração
em suas decisões a questão da equidade.

NOTA

De acordo com Guimarães (2016, p. 362, grifo nosso):

• “O CPC informa que o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
• Hipóteses em que há expressa autorização da aplicação da equidade são encontradas
na CLT, de forma subsidiária, e na lei que regula os procedimentos perante os Juizados
Especiais, nesse último caso, como fonte direta do Direito.
• O CTN admite o emprego da equidade pelas autoridades administrativas, de forma
supletiva, e desde que não ocorra, por força de sua aplicação, a dispensa de tributo devido.
• Nas decisões proferidas em procedimento arbitral, um dos requisitos exigidos para a
sentença é trazer os fundamentos da decisão, mencionando-se se foi dada por equidade”.

3.3 MORALIDADE E JUSTIÇA


Vale demostrar ainda alguns aspectos correlacionados à moralidade e à
justiça, no qual Silveira (2018, p. 15) expõe que “a justiça é uma lei ética, porém
existem algumas diferenças entre moralidade e justiça”, que estão apresentadas
no quadro a seguir. Vejamos!

QUADRO 8 – DIFERENÇAS ENTRE MORALIDADE E JUSTIÇA

DIFERENÇAS ENTRE MORALIDADE E JUSTIÇA

É que a justiça não só impõe deveres como estabelece um estilo de


direito correspectivo. A obrigação de um é correlata a faculdade
de outro tornando-se dois aspectos analíticos da mesma situação,
ou seja, da mesma coisa.
PRIMEIRA
DIFERENÇA Já a lei moral não se comporta literalmente e correlativamente,
porém é um processo unilateral.

Exemplo: ‘ama o teu próximo como a ti mesmo’, intimando a


mim mesmo um dever.
É que o direito como norma de cooperação externa não entra
em função se não depois que a atividade seja exteriorizada.
SEGUNDA
DIFERENÇA A lei moral inversamente domina também as determinações
interiores que se consuma entre o domínio interno da vontade
humana com a lei.

138
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

É que os preceitos morais não podem ser coercitivos, isto é, não


TERCEIRA
podem ser solicitados por via de coação judicial, ou seja, a sanção
DIFERENÇA
moral é totalmente espiritual.
FONTE: Adaptado de Carvalho (2008 apud SILVEIRA, 2018, p. 15-16)

4 APONTAMENTO SOBRE A ÉTICA EM ALGUMAS ÁREAS DO


DIREITO
Prezado acadêmico! Agora apresentaremos brevemente características da
relação de algumas áreas do direito com os preceitos éticos, para compreender que no
âmbito jurídico também permeiam os preceitos de um comportamento ético e moral.

4.1 A ÉTICA E O DIREITO CONSTITUCIONAL


A ética está intrínseca no direito constitucional brasileiro, pois a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é tradicionalmente
conhecida como a “Constituição Cidadã”, como também podemos chamá-la de
“Constituição Ética”, porque, para Silveira (2018, p. 16), “nela não se abrange
somente regras jurídicas, mas tem espaço para vários núcleos éticos, históricos
econômicos políticos sociais que foram valorizados pelos nossos constituintes”.

Silveira (2018, p. 16) complementa expondo que “a constituição brasileira


possui vários princípios voltados para moralidade sendo um dos pilares para a
administração pública. Além de princípios voltados para moralidade, encontramos
vários princípios voltados para a Ética”. Nesse sentido, vale, aqui, expor que:
Na Constituição Federal de 1988 é possível notar, em diversos
dispositivos, a presença de preceitos éticos, como o princípio da
moralidade administrativa, previsto no caput Art. 37 e a dignidade da
pessoa humana Art. 1º, III. Todavia, essas não são as únicas situações
em que a ética se manifesta no texto constitucional, cite-se como
exemplo os princípios elencados no preâmbulo da Carta Magna, a
saber: a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos (SILVA, 2009, p. 1).

Assim, pode-se visualizar que, no direito constitucional brasileiro, tem-


se por diversas vezes as premissas do comportamento ético-moral estampados
em seus precitos constitucionais, como esses exemplos apresentados por Silva
(2009) e Silveira (2018) de preceitos éticos que estão contidos na Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988:
• liberdade;
• igualdade;
• fraternidade;
• justiça;
• cidadania;

139
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

• democracia;
• dignidade da pessoa humana;
• segurança;
• bem-estar.

Demostrando, assim, que a Constituição da República Federativa do Brasil


de 1988 é uma carta de princípios éticos e legais.

4.2 A ÉTICA E O DIREITO CIVIL


Partiremos do princípio que o Direito Civil tem por base os preceitos
constitucionais de 1988, e, nesse sentido, também possuem como norte os preceitos
éticos e morais como base das normativas cíveis.

A ética no direito civil já vem estampada nos seus três princípios gerais que
são a Eticidade, a Socialidade e a Operabilidade, mas principalmente na eticidade,
pois ela exprime no seu âmago a importância dos princípios e valores éticos e
morais, ou seja, a boa-fé, igualdade e a justiça, para que assim possa proporcionar
à população brasileira melhores condições de vida em seu relacionamento social,
político e econômico.

Salienta-se que a eticidade é tida como um princípio, ou seja, o Princípio


da eticidade, que é a base ética do Código Civil brasileiro. Assim a eticidade está
diretamente ligada com a socialidade e a operabilidade das normas legais de
âmbito civil, pois, as três são concebidas como o alicerce do Código Civil no Brasil,
pois, a eticidade é o atributo essencial que norteia o comportamento individual do
ser humano, e esse comportamento está pautado pelo senso de justiça, de equidade
e da honestidade, que são preceitos da ética.

Nesse sentido, Maria Helena Diniz destaca que o princípio da eticidade


está relacionado diretamente ao Direito Civil, pois esse "se funda no respeito à
dignidade humana, dando prioridade à boa-fé subjetiva e objetiva, à probidade
e à equidade" (DINIZ, 2012, p. 834), as quais são consideradas cláusulas éticas.

Entretanto, qual a diferença e características desses três princípios básicos


do Direito Civil? Vejamos!

QUADRO 9 – PRINCÍPIOS DA ETICIDADE, SOCIALIDADE E OPERABILIDADE

PRINCÍPIOS BÁSICOS DO DIREITO CIVIL

• É aquele que impõe prevalência dos valores


coletivos sobre os individuais, respeitando os
PRINCÍPIO DA direitos fundamentais da pessoa humana.
SOCIABILIDADE
o Exemplo: princípio da função social do contrato,
da propriedade.

140
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

• É aquele que impõe justiça e boa-fé nas relações civis


(pacta sunt servanda).
PRINCÍPIO DA
ETICIDADE • No contrato tem que agir de boa-fé em todas as
suas fases. Corolário desse princípio é o princípio
da boa-fé objetiva.

• É aquele que impõe soluções viáveis, operáveis e


sem grandes dificuldades na aplicação do direito.
PRINCÍPIO DA • A regra tem que ser aplicada de modo simples.
OPERABILIDADE
o Exemplo: princípio da concretude pelo qual se
deve pensar em solucionar o caso concreto de
maneira mais efetiva.
FONTE: Adaptado de Bertocco (2008, p. 1)

Salienta-se que tanto a eticidade como a socialidade e a operabilidade


enfatizam, em seus preceitos, no direito civil, a dignidade da pessoa humana, o
qual os preceitos éticos estão intrínsecos nas normativas do Código Civil brasileiro.

Dentro do princípio da eticidade aparecem, como exemplo, os preceitos


éticos da justiça, boa-fé, honestidade e lealdade.

Outro exemplo dessa questão da ética no direito civil, é o direito de família,


que na sua base fundamental, essa é ética para proporcionar um equilíbrio aos
valores morais do âmbito familiar.

NOTA

Prezado acadêmico, no Código Civil (CC) brasileiro, a Lei n° 10.406/2002, em


sua parte geral, deixa visível a ideia de eticidade por boa-fé objetiva nos artigos, veja:

"Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração".
"Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois
que não era credor".
"Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como
em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé" (BRASIL, 2002).

141
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

4.3 A ÉTICA E O DIREITO PENAL


Prezado acadêmico, no âmbito do Direito Penal, também partiremos
do princípio que o Código Penal brasileiro possui por alicerce as normas
constitucionais de 1988, e assim seus preceitos e normativas penais estão baseados
nos princípios éticos e morais.

Então, os preceitos do comportamento ético-moral estão contidos no


direito penal, pois, de acordo com Silveira (2018, p. 16-17, grifo nosso):
A influência da ética no direito penal é perceptível no princípio
da proporcionalidade, que é entendido como um mandamento de
otimização do respeito máximo a todo direito fundamental em situação
de conflito com o outro na medida do jurídico é possível; daí se resulta
que não se vulnere o conteúdo essencial de direito fundamental com
desrespeito à dignidade humana.

Vale salientar que, segundo Gomes (2009, p. 1, grifo nosso:


O Direito penal existe para proteger bens jurídicos (os mais relevantes).
Não pode o Direito penal proteger um determinado ensinamento ou
uma pura reprovação ética (relacionamento sexual livre entre adultos
com autoconsciência).
O Direito penal não pode proteger a ética (quando não há ofensa a
nenhum bem jurídico), mas ao proteger bens jurídicos, claro, o faz com
base em preceitos éticos (morais).
Um dos campos em que mais confusão pode acontecer (entre Direito
penal e Ética) é o dos crimes sexuais. É que existe certa moralidade
(uma certa ética) que acompanha a história da sexualidade.

Silveira (2018, p. 17) complementa expondo que “toda pena pode ferir
ou, no mínimo, restringir direitos individuais e só se justifica a sua previsão para
atender à reclamos de bem-estar da comunidade”. Assim, pode-se expor que os
preceitos legais do Código Penal brasileiro possuem por base os princípios da
ética e do comportamento moral, mas as normativas penais em si não regulam ou
protegem a ética e a moral.

OS PRINCÍPIOS ÉTICOS E SUA APLICAÇÃO NO DIREITO

Marcelo DI Rezende Bernardes

RESUMO: Diante dos fatos explícitos na realidade brasileira, apontando para a


transgressão ética em massa e, consequentemente, o progressivo desrespeito às
normas de moral e conduta, urge um retorno aos princípios éticos em todas as
camadas sociais. O presente artigo tem por finalidade relacionar os conceitos de
Ética e de Direito, destacando aspectos gerais, mas não menos importantes, de
ambos. Nesse sentido, este artigo tratará de questões relacionadas à ética e, em
específico, referente ao Direito e seu profissional.

PALAVRAS-CHAVE: Ética. Moral. Direito.

142
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

INTRODUÇÃO

Na atualidade, o papel da ética tem sido foco de significativas discussões


nos meios acadêmico e profissional. Isso porque na sociedade contemporânea,
desventurosamente, tem se tornado comum a exposição de condutas antiéticas nas
diferentes áreas profissionais e do conhecimento.

É bem verdade que a conduta humana não está sempre em conformidade


com as leis éticas, contudo, existe a necessidade de se ressaltar a importância da ética
na fundamentação da ação humana, pois o conteúdo ético é universal na humanidade
e característico da espécie humana, diga-se, universal, porém não estático.

Segundo Leonardo Boff (2003), a crise moral e ética que se instalou na


atualidade propicia a desintegração das relações interpessoais, justificada na
grande tensão encontrada pela tentativa de funcionamento em torno de interesses
particulares em detrimento dos interesses do direito e da justiça, assim ele afirma:
"Tal fato se agrava ainda mais por causa da própria lógica dominante da economia e
do mercado que se rege pela competição, que cria oposições e exclusões, e não pela
cooperação que harmoniza e inclui" (BOFF, 2003, p. 27).

O fato ético, em interface com as transformações sociais, detém


proporcionalmente a possibilidade de atualizações. Segundo Ashley (2003, p.
60), "da mesma forma que as sociedades transformam-se ao longo do tempo, os
valores culturais de que os indivíduos se servem para organizar sua realidade e
suas ações, também tendem a sofrer modificações".

Desse modo, o conteúdo ético mencionado está sujeito a alterações da


mesma maneira que ocorre com o meio social. Conceitos outrora considerados
éticos podem perder tal status por ora ou definitivamente. A reorganização
produz uma nova realidade. Trata-se de um movimento que deve estar sempre
em análise, pois a sociedade é dinâmica e está em processo contínuo de mudança,
como expressa muito bem, a perspectiva dialética.

A ética relaciona-se com as ações do homem, sendo direcionada para as


inter-relações sociais. Sob o ponto de vista dialético, o ideal ético fundamenta-
se em uma vida social igualitária e justa, ou seja, a ética, nessa visão, tem como
pedra angular o bem coletivo (BRAGA, 2006).

OS PRINCÍPIOS ÉTICOS E SUA APLICAÇÃO NO EXERCÍCIO DO DIREITO

A conceituação de toda e qualquer categoria inserida nas Ciências Sociais


e Humanas, ao longo da história da Filosofia, se constitui em tarefa árdua devido
à grande variedade de pontos de vista. Entretanto, se faz necessário tal exercício
no sentido de apresentar, em maior ou menor grau, objetividade dos significados,
com a finalidade de contribuir para a melhor compreensão do assunto.

143
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

Na tentativa de se conceituar Ética, a realidade relatada se comprova. "A


ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de
explicar, quando alguém pergunta" (VALLS, 1993, p. 7). Para Augusto Comte (1798-
1857), citado por Lima (2007) a Ética consiste na: (...) a suprema ciência, do amor por
princípio, do amor sem cabeça, moral cósmica, naturalista e social, pois recompõe
os laços do universo da natureza com o universo da moralidade e vê nas regras do
comportamento humano um caso das leis que presidem a ordem universal. Ética
em que o homem está submetido, em virtude de sua submissão à humanidade (...).

De acordo com Vázquez (198, p. 12), "Ética é um conjunto sistemático


de conhecimentos racionais e objetivos a respeito do comportamento humano
moral, melhor dizendo, é a teoria ou ciência do comportamento moral do homem
em sociedade".

Durkeim conceitua Ética da seguinte forma: "Tudo que é relativo aos bons
costumes ou às normas de comportamento admitidas e observadas, em certa
época, numa dada sociedade" (Durkeim apud Oliveira, 2006).

Segundo Moore (1975, p. 4) "a Ética é a investigação geral sobre aquilo


que é bom, isso se dá porque o maior objetivo da Ética é tentar aproximar o ser
humano da perfeição, alcançar a sua realização pessoal".

Sob o ponto de vista de Jean-Paul Sartre (1905-1980), de acordo com Lima


(2007), a ética é: (...) uma moral da ambiguidade e da situação. Vai da liberdade
absoluta e inútil à liberdade histórica, da náusea diante da gratuidade das coisas,
do em si e o para si, do ser e do nada, do ser para outros, do existencialismo como
humanismo, da crítica da razão dialética. É o homem, o ser humano, isto é, cada
indivíduo em determinadas circunstâncias, em determinada "situação", que por
sua livre escolha cria o valor de seu ato. Todos os valores são relativizados, exceto
aquele que a liberdade outorga a si mesma, quando se considera fim supremo (...).

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, Ética é "o estudo dos


juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação
do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade,
seja de modo absoluto".

Etimologicamente observado, Ética origina - se no grego ethos, e encontra


correlação no latim morale, com o significado sinônimo de conduta ou ainda
referente aos costumes. Podemos concluir que etimologicamente ética e moral
são palavras iguais, porém, será apresentada posteriormente a diferenciação
básica entre Ética e Moral.

Uma das configurações atribuídas à palavra Ética é de cunho filosófico.


Ética enquanto parte da Filosofia diz respeito a uma direção para reflexão sobre
a complexa questão da moral no ser humano, relacionado ao meio social em que
está inserido.

144
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

O autor Henrique Cláudio de Lima Vaz, em sua obra intitulada "Ética


e Direito", alerta para o perigo das teorias consideradas na atualidade que
questionam a validade da Ética filosófica, dizendo: (...) parece difícil admitir que
uma teoria do ethos no sentido filosófico da sua justificação ou fundamentação
racional possa desaparecer do horizonte cultural da nossa civilização, a menos
que desapareça a própria filosofia e a civilização venha a mudar de alma e de
destino (VAZ, 2002, p. 63).

A Ética, como categoria filosófica, impulsiona o exercício crítico – reflexivo


das bases moralistas, quando necessária elucidação à dos fatos morais. Desta
forma, é notável que a Ética, na Filosofia, não oferece um código de normas,
antes incentiva o homem, como ser racional e social, a praticar o senso crítico
e auto-avaliativo em suas atitudes e modo de agir. Nesse sentido, o professor
Ângelo V. Cenci afirma: A ética não pode prescrever conteúdos ao agir, nem pode
instrumentalizá-lo; não é seu papel fornecer soluções concretas ao agir humano.
A ética precisa contar com a capacidade de os indivíduos encontrarem saídas
plausíveis, racionais para o seu agir. A ética filosófica (formal e universalista)
não pode, paternalisticamente, dizer o que o indivíduo deve fazer, prescrevendo
ações; ela não pode se constituir em um receituário para a conduta cotidiana dos
indivíduos, nem servir de desculpa para justificar seu agir mediante motivos
puramente externos. A justa medida requerida pela ética não é extraída por
intermédio de fórmula alguma; ela é medida qualitativamente, por isso requer
mediania (CENCI, 2002, p. 88).

De acordo com Marilena Chauí (1998), o que foi apresentado por Cenci
(2002) corresponde ao principal pilar da diferenciação entre Moral e Ética, pois
para ela toda moral é normativa enquanto designada a ditar aos sujeitos os
padrões de conduta individual e ou social, assim como os valores e costumes das
sociedades das quais participam. Já a ética não é necessariamente normativa. A
professora ainda sistematiza a subdivisão de ética em normativa e não normativa.
Normativa seria a ética de deveres e obrigações e não normativa a ética que
tem como objeto de estudo as ações e paixões humanas embasadas no ideal da
felicidade de acordo com o critério da relação razão – vontade – liberdade.

De qualquer forma, não se pode pensar filosoficamente a Ética se não


relacionada ao agente ético. Nesse sentido, seria responsabilidade da Ética
a definição da figura do agente ético e de suas atitudes. De acordo com este
paradigma, o agente ético corresponde ao sujeito consciente que sabe o que são
suas ações, sendo livre para escolher o que faz e responsável pelas consequências
de seus atos (Chauí, 1998).

Para Souto & Souto (1981), o sujeito, desde que em perfeito estado de
juízo, já possui a ideia do que é certo ou errado em suas atitudes. Nas sociedades
em geral existem os códigos de conduta estabelecendo o que deve ser considerado
como certo ao agir. Dessa forma, existe a ideia de como fazer.

145
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

O jurista João Baptista Herkenhoff (1987, p. 83) enuncia o seu


entendimento acerca de Ética ditando: "o mundo ético é o mundo do “dever ser
(mundo dos juízos de valor) em contraposição ao mundo do “ser” (mundo dos
juízos de realidade)”. Já a moral, segundo Herkenhoff (1987, p. 85), "é a parte
subjetiva da ética" que ordena o comportamento humano para consigo mesmo,
além de englobar os costumes, obrigações, maneiras e procedência do homem
em convívio com os demais. A moral é compreendida na forma de uma conduta
voluntária isenta de pressões externas ao indivíduo.

Assim, a moral pode ser entendida como a listagem de normas de


ação específica, estando então implícita em códigos, normatizações e leis que
regulamentam a ação do ser humano em meio social. Por ocasião da exposição de
definições da palavra moral, é importante ressaltar que alguns a igualam à Ética, mas
na realidade contemporânea, por certo que ambas são aplicadas diferentemente.

Segundo Vázquez (1984), a moral deriva da necessidade comum aos


indivíduos de se relacionarem, buscando o bem para a coletividade, podendo
ser definida também como um conjunto de normas e regras que tem a finalidade
reguladora das interações entre os indivíduos dividindo o mesmo espaço em um
mesmo tempo. A moral, dessa forma, consiste em um dado histórico mutável e
dinâmico que evolui conforme as transformações políticas, econômicas e sociais,
tendo em vista que a existência de princípios morais estáticos seria impossível.

Segundo Nicola Abbagnano (1970, p. 652), em seu Dicionário de Filosofia,


moral é um substantivo configurado de diferentes formas, tais como: 1 - O mesmo
que Ética; 2 - O objeto da Ética que consiste na conduta direcionada por normas.

Para Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855), citado por Lima (2007), a


moral é existente em uma vida que levou a sério o cristianismo, do poeta cristão,
do indivíduo diante de Deus.

Existe a definição que circula em torno do entrelaçamento entre Ética e Moral,


no sentido de que existiria um método científico para se estudar a Moral, baseado
em uma teoria que propicia a descrição das normas e valores comportamentais. "A
Ética é uma ciência da moral, pois questiona ao buscar por que e em quais condições
determinada ação é considerada boa ou má, até que ponto ajuda a construir a
identidade de uma nação, grupo ou pessoa". (Ribeiro, 2000, p. 137).

Mesmo diante de tantos percalços controversos, a distinção entre ética


e moral é necessária, pois, verifica-se, que sem a moral, a ética se tornaria em
inutilidade no sentido de consistir em abstrata reflexão de experiência.

Em resumo, a diferenciação entre Moral e Ética pode acontecer de várias


maneiras: Ética é princípio, moral são aspectos particulares de determinado tipo
de conduta; Ética é permanente, moral é temporária; a Ética possui a propriedade
da universalidade enquanto que a moral é restrita à dada cultura; Ética é regra,
moral é prática de tal regra; Ética é teoria, moral é prática desta teoria.

146
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

Definindo, verifica-se que Direito é uma palavra oriunda do latim


directum, derivada do verbo dirigere, que tem o significado de ordenar. Conclui-
se, etimologicamente falando, que o vocábulo Direito significa "aquilo que é reto"
"que está coerente com a justiça e equidade". Portanto, pode-se dizer que Direito
é a disciplina da qual se originam as normas a serem observadas pelo homem e
englobam direitos e deveres, dos quais ninguém se isenta. Conforme Pinho (1995), o
Direito pode ser entendido como "aquilo que é" ou "que deve ser". Assim, o Direito
surgiu em resposta à necessidade de se estabelecer regras gerais para o convívio do
homem em sociedade. O Direito é considerado antes de tudo, uma instituição ética
que trabalha no sentido de aplicar as leis, os princípios morais, tais como: igualdade,
justiça, liberdade, dentre outros, na solução de controvérsias.

Diante da escorreita explicitação de tais conceitos, é possível observar a


Ética em interface com o Direito, se acatada a definição de conduta amparada na
aplicação de regras morais no meio de convívio social, ou seja, a caracterização
do homem enquanto ser relacional. É essa face normativa da Ética que a relaciona
intimamente com o Direito. Nesse sentido, a contínua discussão da Ética dentro
do Direito encontra respaldo no fato de ser uma área das Ciências Humanas que
busca a consolidação e manutenção da justiça e da moralidade social.

Faz-se apropriada, aqui, a definição de Cenci (2002, p. 90) para Ética,


que "nasce amparada no ideal grego da justa medida, do equilíbrio das ações".
Ângelo Cenci ainda esclarece que "a justa medida é a busca do agenciamento
do agir humano de tal forma que o mesmo seja bom para todos". Para tanto,
indaga-se: e não é esse o fundamento para o exercício cotidiano dos profissionais
do Direito? Resta evidente, embora alguns até discordem, que os valores éticos
e morais devem ser o fundamento da construção do profissional do Direito, no
sentido da aplicação dos princípios morais enumerados pela Ética geral aplicada
ao campo profissional, possibilitando a prática da ética profissional. A pessoa tem
que estar imbuída de certos princípios ou valores próprios do ser humano para
vivenciá-lo nas suas atividades de trabalho. De um lado, ela exige a deontologia,
isto é, o estudo dos deveres específicos que orientam o agir humano no seu campo
profissional; de outro lado, exige a diciologia, isto é, o estudo dos direitos que a
pessoa tem ao exercer suas atividades (CAMARGO, 1999, p. 33).

O Direito, se analisado sob o ponto de vista cultural, abarca o sentido de ser


uma realidade referente a valores, possuindo como missão intrínseca a progressiva
busca pela segurança jurídica que consiste em bem social e da justiça. Tais objetivos
são comuns à Ética, contudo, não se pode atribuir à norma ética o valor imperativo
da norma jurídica. São definidas como normas éticas: (...) as normas que disciplinam
o comportamento do homem, quer o íntimo e subjetivo, quer o exterior e social.
Prescrevem deveres para a realização de valores. Não implicam apenas em juízos
de valor, mas impõem a escolha de uma diretriz considerada obrigatória, numa
determinada coletividade. Caracterizam-se pela possibilidade de serem violadas
(Herkenhoff, 1987, p. 87).

147
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

Acresce-se ainda, a validade da norma jurídica que só é verificável quando


esta resguarda os princípios éticos. Pode-se tomar como exemplo da prerrogativa de
retorno aos valores morais e da vinculação entre Ética e Direito, o Constitucionalismo.
A ideologia de democracia materializa-se com a indelével proteção dos direitos e
garantias fundamentais do cidadão, por intermédio da Constituição que rege o país.

O saudoso jurisconsulto Miguel Reale em seu livro "Lições Preliminares


de Direito" já defendia que "(...) as normas éticas não envolvem apenas um juízo
de valor sobre os comportamentos humanos, mas culminam na escolha de uma
diretriz considerada obrigatória numa coletividade" (Reale, 2002, p. 33). Nessa
perspectiva, a ética pode ser entendida como uma tomada de decisão, uma
escolha embasada em um conjunto de valores organizadores de uma determinada
sociedade. De acordo com Reale (2002, p. 35), "toda norma ética expressa um
juízo de valor, ao qual se liga uma sanção (...)".

A ética, nesse sentido, corresponde a uma obrigação e seu cumprimento


tem como pressuposto a ideia do que é justo diante da sociedade, que pode ser
aceita ou não de acordo com o juízo de valor de cada um.

Miguel Reale (2002, p. 42) afirma que "a teoria do mínimo ético consiste em
dizer que o Direito representa apenas o mínimo de Moral declarado obrigatório
para que a sociedade possa sobreviver", relacionando Direito e Moral, ambos
inseridos em um complexo ético, pois o viver de forma ética corresponde ao ato
de acrescer uma regra moral de uma norma jurídica em uma situação qualquer.

Ao contrário do que acontece na realidade, onde se constata que na


prática jurídica ocorre comumente a conduta antiética, principalmente entre
aqueles que exercem papel de maior poder, sendo verificada a falta de respeito
e de profissionalismo de alguns profissionais com relação àqueles que somente
necessitam e buscam soluções para as lides, a observância dos preceitos éticos no
exercício do Direito se faz necessária por ser uma questão que merece atenção de
todos os envolvidos no assunto, dada a sua relevância ímpar. Uma vez que o Direito
vive a constante transformação de acordo com o desenvolvimento sociocultural,
também a ética se adequa ao Direito sem perder o conteúdo de seus princípios.

Ressalta-se ainda, a relevância da ética no exercício da profissão do Direito,


tendo em vista a natureza da atividade jurídica relacionada aos principais valores
éticos, quais sejam, a justiça e moralidade.

Referente à conduta ética do profissional do Direito - especificamente


o advogado, tem-se que: O serviço profissional é bem de consumo e, para ser
consumido, há de ser divulgado mediante publicidade. Em relação à advocacia,
é necessária uma postura prudencial. Não se procura advogado como se busca
um bem de consumo num supermercado. A contratação do causídico está
sempre vinculada à ameaça ou efetiva lesão de um bem da vida do constituinte
(NALINI, 2006, p. 247).

148
TÓPICO 1 — ÉTICA NAS PROFISSÕES JURÍDICAS

Ainda esse mesmo autor, vem a nos esclarecer sobre a responsabilidade


do profissional do Direito no que tange à probidade: "(...) quem escolhe a profissão
de advogado deve ser probo. (...) Quem procura um advogado está quase sempre
em situação de angústia e desespero. Precisa nutrir ao menos a convicção de estar
a tratar com alguém acima de qualquer suspeita" (NALINI, 2006, p. 252.).

Sobre a Ética e o profissional exercendo o Direito, pode-se salientar ainda


que, não existe o exercício de defesa da justiça e equidade sem a aplicação de
normas éticas a embasar o ordenamento jurídico. Nesse sentido, comenta com
muita propriedade Ruy de Azevedo Sodré (1967, p. 32), "a ética profissional do
advogado consiste, portanto, na persistente aspiração de amoldar sua conduta,
sua vida, aos princípios básicos dos valores culturais de sua missão e seus fins,
em todas as esferas de suas atividades".

Por fim, temos que a Ética é o estudo geral do que é certo ou errado,
bom ou mal, justo ou injusto, apropriado ou inapropriado. Assim, é possível a
conclusão do objetivo da Ética na fundamentação de regras estabelecidas pela
Moral e pelo Direito, porém, ressaltando, que ela se diferencia de ambos, na
medida em que não dita regras (GLOCK & GOLDIM, 2003).

CONCLUSÃO

De acordo com o apresentado, é possível afirmar que é de grande valia


a recuperação do sentido da ética, enquanto instrumento indispensável da vida
social, pois são dos fatos concretos instalados na sociedade que se originam os
costumes e o próprio Direito.

Pode-se concluir que a ética norteia a maneira de se comportar do homem,


incluindo tanto nas esferas públicas e sociais, com nas íntimas e subjetivas. A
ética não está limitada somente ao conjunto de juízos de valor, mas se sobressai
imponente como código de disciplina aprendido obrigatoriamente pela sociedade.

O conjunto de deveres morais é a diretriz da conduta do sujeito na vida e


na profissão que exerce, sendo que tal conjunto contribui para a conscientização
profissional que deve ser composta de práticas que resultem em integridade,
dignidade e probidade, de forma coerente para com o ordenamento jurídico vigente.

Em síntese, o sujeito deve ansiar pela ética profissional em seu desempenho


cotidiano, ressaltando a validade de sua adoção como código principal de vida,
pois, tanto ética quanto a moral devem ser resguardadas, propiciando crescimento
profissional. Além disso, é de crucial importância que o profissional do Direito,
como agente transformador da sociedade, oriente o ser humano no sentido de
uma vida digna amparada por princípios éticos.

FONTE: <http://www.lex.com.br/doutrina_23813027_OS_PRINCIPIOS_ETICOS_E_SUA_APLICACAO_
NO_DIREITO.aspx>. Acesso em: 26 fev. 2021.

149
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A ética pode ser compreendida como os pilares normativos de nossa conduta


moral perante a sociedade em que vivemos e convivemos.

• É a ética que normatiza e dita as regras do jogo, expondo qual o melhor


caminho a ser seguido. E a moral denota a nossa decisão e a nossa ação a
respeito das regras socialmente constituídas.

• O comportamento ético e moral nos traz elementos para dirimir as premissas


comportamentais no âmbito do direito, pois o comportamento profissional
dos operadores do direito também é regulado pelos princípios éticos e morais,
como de todos os cidadãos que vivem em sociedade.

• No âmbito jurídico, os preceitos éticos e morais são ainda mais notórios e


vivos, pois estão presentes na própria norma jurídica, que regula como deve
ser o comportamento dos homens em suas relações humanas, sociais, políticas
e econômicas.

• Existe uma intimidade entre o direito e as concepções ético-morais, ou seja,


tanto a ética como o direito desenvolvem normativas, códigos, preceitos e leis
que disciplinam o comportamento humano.

• No âmbito da moral, esses preceitos éticos são constituídos internamente,


e, na questão dos preceitos morais, entra a consciência humana de fazer ou
deixar de fazer, segundo as normas éticas.

• No âmbito do direito ou da práxis jurídica, esse regramento do comportamento


humano é tido como externo, pois, na questão dos preceitos jurídicos entra o
ato em si, de cumprir ou não as regras e normas legais.

• A diferença está na atitude consciente ou inconsciente do ato em si.

• No comportamento ético-moral, os preceitos normativos do comportamento


humano, instituídos socialmente, são por adesão, ou seja, as pessoas têm o
poder da escolha, e assim agir de forma consciente, conforme o seu livre arbítrio.

• No direito, as leis e normativas são obrigatórias para todos. Em outros termos,


as pessoas devem cumprir as normativas, códigos, preceitos e leis instituídas
pelos poderes executivo, legislativo e judiciário.

• Tanto as normas éticas como as jurídicas são validadas pelo coletivo e são
para todos.

• Existe uma neutralidade ética no direito.


150
• Os princípios e valores ético-morais necessitam da proteção das normas e leis
jurídicas.

• As normas e leis jurídicas são a capa protetora do comportamento ético e


moral dos seres humanos.

• As leis e normas jurídicas valem para todas as comunidades éticas e morais,


mas cada qual, segundo suas normativas locais, regionais e nacionais.

• O direito denota o desenvolvimento de um processo social, político e


econômicos, o qual possui por finalidade a busca e manutenção constante da
paz, tomando por critério intrínseco a justiça.

• Esta justiça denota a consciência humana de julgar de acordo com as normas


jurídicas, leis e diretrizes o que é de direito de cada cidadão.

• A justiça permite que os seres humanos conquistem tudo o que as leis e normas
os permitirem, sejam por seus méritos, necessidades ou por intermédio das
legislações, e que essas sejam normas iguais para todos, para a universalidade.

• A justiça pode ser entendida como o equilíbrio constante no julgamento e


aplicabilidade universal das normas e leis, proporcionando a garantia dos
direitos e deveres institucionalizados e formalizados mediante a lei escrita.

• Nem sempre os efeitos das leis e normas são igualitários e justos.

• A justiça necessita ser equânime, ou seja, a justiça precisa considerar as


diferenças, proporcionando mecanismos para tornar iguais os desiguais.

• A igualdade apenas trataria conforme as regras e legislações iguais para todos,


sem diferenciação, já na equidade, levaria em considerações as diferenças,
buscando equiparar as diferenças, para proporcionar o acesso ao mesmo
direito a todos.

• A equidade denota a igualdade das diferenças, e a justiça reconhece assim, o


direito de cada ser humano, conforme suas diferenças e o caso concreto.

151
AUTOATIVIDADE

1 A justiça total destaca-se como sendo a virtude (total) de observância da lei.


A justiça total vem acompanhada pela noção de justiça particular, corretiva,
presidida pela noção da igualdade aritmética (comutativa, nas relações
voluntárias; reparativa, nas relações involuntárias) ou distributiva, presidida
pela noção de igualdade. Assim, pode-se verificar que existem três sentidos
na justiça, a jurídica, distributiva e social. Com relação aos três sentidos de
justiça e suas definições, analise as sentenças a seguir:

I- Em sentido jurídico a justiça consiste em tratar a todos de acordo com a


lei, em garantir os direitos civis e seguir de forma coerente e imparcial as
normas prescritas.
II- Justiça distributiva é a justiça que se pratica pela distribuição dos bens
existentes.
III- Justiça social é a justiça que leva em conta as desigualdades sociais.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) Somente as sentenças II está correta.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

2 (ENEM 2011) O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e


morais adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela pesquisa.
Se o país fosse resultado dos padrões morais que as pessoas dizem aprovar,
pareceria mais com a Escandinávia que com Bruzundanga (corrompida nação
fictícia de Lima Barreto). O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir”
efetivamente o que é moral constitui uma ambiguidade inerente ao humano,
porque as normas morais são:
FONTE: Adaptado de <https://beduka.com/blog/exercicios/filosofia-exercicios/questoes-sobre-
etica-moral/>. Acesso em: 17 fev. 2021.

a) ( ) Decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.


b) ( ) Parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação.
c) ( ) Amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las
integralmente.
d) ( ) Criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se
submeter.

3 A missão do Direito Penal é a proteção aos bens jurídicos. Essa proteção não
é exercida apenas pela prevenção geral (intimidação coletiva) e exercida
pela difusão do temor à sanção penal, mas principalmente através do
contrato ético celebrado entre o Estado e o indivíduo, o qual é convicto da
necessidade da lei penal e crê na justiça desta. Com relação ao Direito Penal,
assinale a alternativa CORRETA:

152
a) ( ) O Direito Penal visa somente legislar sobre as penas devidas pelo
descumprimento das normas morais.
b) ( ) O principal objetivo do Direito Penal não é a tutela atual e concreta dos
bens jurídicos, mas a administração da natureza ético-social de suas
leis, o permanente acatamento legal de suas normas.
c) ( ) O principal objetivo do Direito Penal é a execução tutelar das leis
segundo o Código Civil e moral de um País.
d) ( ) O Direito Penal visa legislar sobre as penas de quem cometeu um crime
ético e moral segundo os costumes da nação.

153
154
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

DEONTOLOGIA JURÍDICA

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, depois de refletirmos sobre as questões pertinentes à
“ética jurídica”, em que aprofundamos nosso conhecimento acerca das questões
da ética nas profissões jurídicas, no qual foi apresentado para você as principais
características e elementos norteadores da ética no direito, perpassando por
uma reflexão correlacionada à justiça na ética jurídica, à liberdade e equidade, à
moralidade e justiça e à ética em algumas áreas do direito, chegou o momento de
compreender as premissas da “deontologia jurídica”.

Aqui, neste tópico, ofereceremos subsídios para você desvelar o significado


da deontologia jurídica, no qual trabalharemos seus aspectos conceituais e demais
características intrínsecas, como seus aspectos introdutórios, sua importância
para os juristas e para a advocacia moderna.

Também trabalharemos cada um dos princípios da deontologia forense,


que possui uma natureza ética, o qual propiciará um contato com os elementos
e características do Princípio fundamental da ciência e consciência, Princípio da
conduta ilibada, Princípio do decoro e da dignidade, Princípio da diligência,
Princípio da confiança, Princípio do coleguismo, Princípio do desinteresse, Princípio
da fidelidade, Princípio da reserva, e do Princípio da lealdade e da verdade.

Por fim, ampliaremos nossa percepção com relação à dignidade da pessoa


humana, buscando compreendê-la como um fundamento da ética judicial e da
justiça. Vamos lá?!

FIGURA 3 – DEVER JURÍDICO

FONTE: < https://conceitos.com/wp-content/uploads/direito/Dever-Juridico-820x615.jpg>.


Acesso em: 17 fev. 2021.

155
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

2 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS A DEONTOLOGIA


Partiremos do princípio básico, ou seja, de compreender os conceitos e
características da deontologia e da diceologia para, posteriormente, evoluirmos
com os demais aspectos da deontologia em si.

Primeiramente, devemos compreender que “a filosofia moral (também


denominada ética) é a base da deontologia geral e, consequentemente, da
deontologia jurídica” (LOCATELLI, 2011, p 1), ou seja, a ética é tida como
fundamento do comportamento moral na deontologia jurídica. Locatelli (2011, p. 1,
grifo nosso) expõe que:
Deontologia é um termo introduzido em 1834 pelo filósofo inglês
Jeremy Bentham para referir-se ao ramo da ética cujo objeto de estudo
são fundamentos do dever e as normas morais.
É conhecida também sob o nome de "Teoria do Dever". É um dos
dois ramos principais da ética normativa. A deontologia é própria
do código deontológico a qual procura desvendar os pressupostos
inseridos nas normas de conduta social dos indivíduos.

Assim, pode-se verificar que a deontologia não é algo contemporâneo,


mas que já foi concebido há quase 200 anos, a qual vem estudando, desde então,
as normas éticas e morais do dever junto aos indivíduos que vivem e convivem
em sociedade.

Nesse sentido, é salutar que possamos compreender de onde se origina


a terminologia “Deontologia”, assim, Lima (2020, p. 1, grifo nosso) expõe que o
termo “deontologia” “origina-se do grego deontos (dever) e logos (estudo, ciência,
tratado)”. No mesmo sentido, Ferreira (2008, p. 2) confirma que essa “etimologia
deriva do grego “déon” ou “deontos” com significado de dever ou obrigação e
“logos”, que pode ser discurso ou tratado”. Sendo assim, “etimologicamente é
a ciência ou tratado dos deveres, sob um ponto de vista empírico, no âmbito de
cada profissão” (LIMA, 2020, p. 1, grifo nosso).

Locatelli (2011, p 1, grifo nosso) complementa expondo que “a deontologia


trata da origem, incidência e efeitos dos deveres, a partir da reflexão sobre o
comportamento de valor ideal, fruto do juízo ético equilibrado e consciente,
conciliador da liberdade individual e da responsabilidade social”.

Desse modo, segundo Ferreira (2018, p. 2, grifo nosso), “além da


deontologia ser conhecida como tratado ou conjunto de deveres e da moral,
também pode ser compreendida como ciência do dever e da obrigação, termo
esse que está interligado intrinsecamente com a filosofia, a ética e a moral, tendo
como fim modelar o exercício de determinados grupos de profissionais”.

Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020, p. 6) complementam


expondo que a “Deontologia Forense é a ciência do dever, obviamente, do dever
jurídico, da ética do profissional de Direito”.

156
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

Neste sentido, o quadro a seguir nos traz o conceito de deontologia.


Vejamos!

QUADRO 10 – CONCEITO DE DEONTOLOGIA

DEONTOLOGIA

Ciencia do que é conveniente fazer. Ciência dos deveres.

Parte da ética correspondente ao cumprimento dos deveres profissionais.


FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 106)

Assim, conforme Locatelli (2011, p. 2, grifo nosso):


A deontologia, como um todo, estuda o dever em geral, sendo nas
palavras de Luiz Lima Langaro "a filosofia do dever", cuja aplicação
não se restringe apenas aos profissionais do direito, mas sim a todas as
profissões, sejam elas do ramo científico, humano ou exato.
Em suma, o termo designa o conjunto de regras e princípios que
ordenam a conduta de um profissional.

Mediante esse cenário, Lima (2020, p. 1) expõe que a deontologia é


“também denominada de "Teoria do Dever", a deontologia compõe um dos dois
ramos principais da Ética Normativa, que, em conjunto com a axiologia, constitui a
Filosofia Moral”. Segundo Lima (2020, p. 1), é “conhecida também por Ética, a base
da deontologia Geral e, por conseguinte, da deontologia Jurídica, e ainda como
Ética Profissional das carreiras jurídicas”.

Entretanto, por que a deontologia é compreendida como a "Teoria do Dever"?

Para Ferreira (2008, p. 2):


A deontologia também é conhecida como “Teoria do Dever”, pois, é
necessário se constituir códigos de condutas com fundamentos éticos
e morais, para que assim seja possível nortear o cumprimento das
atribuições acerca dessas profissões.
É possível calcular a grande importância da deontologia quando
se mede o papel em determinados grupos profissionais, podendo
abarcar, em sua espécie, a Deontologia Jurídica, Médica, Farmacêutica,
Contábeis e muitas outras existentes.
Portanto, o entendimento que se deve extrair da deontologia é que
este instituto abarca princípios e regras de condutas e deveres, sendo
necessário que cada profissional seja regulamentado por um contexto
deontológico específico, onde sejam delimitadas suas formas de agir e
exercer a referida profissão.
Assim ocorre com os Códigos de Ética, por exemplo, criados com o fito
de se ter uma prestação de serviço plena e confiável em relação as suas
relações pessoais e sociais, onde não seria possível se não houvesse a
presença da ética e da moral.

Então, como pode ser compreendido o que é o “DEVER”?

157
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

O “Dever”, segundo Cunha (2011, p. 111), é “aquilo que, independentemente


de desejo, inclinação ou interesse, a razão manda fazer.” Portanto, o que é imperativo,
indispensável, crucial, determinante ou categórico que fora estabelecido por normativa
institucionalizada necessita ser realizado, mesmo que as pessoas não desejam ou não
tenham interesse em fazê-lo.

O “dever” também é compreendido como uma obrigação de fazer.


Nesse sentido, Cunha (2011, p. 111) expõe que o dever é a “orientação formal de
comportamento, percebida como necessidade que integra o conjunto ativo-cognitivo
individual ou coletivo”. Nessa seara, Guimarães (2016, p. 312) complementa
expondo que o “dever” é “imperativo moral, jurídico ou de consciência. Aquilo que
a lei ou a convenção, positiva ou negativamente, exige da pessoa. Determinação
da vontade, imposta pelo direito, pela lei, pela razão”. Assim, pode-se perceber
que o “dever” denota obrigação de fazer imposta pelas convenções, normativas e
legislações constitucionais ou infraconstitucionais.

Agora que você já compreendeu o significado do “dever” e que a


deontologia é tida como a teoria do dever, Ferreira (2018, p. 3) complementa nossa
análise, expondo que “como se vê, a deontologia está entrelaçada com a ética e
a moral, tendo-as como fundamento de seu estudo, uma vez que esses institutos
são destaques da ciência filosófica”, ou seja, como já exposto anteriormente, a
base da deontologia são os preceitos éticos e morais, e nesse sentido, a teoria do
dever está pautada pelos princípios ético-morais.
Destaca-se, pois, que a deontologia se assemelha à ética, cujo seu intuito
é buscar constituir e adequar as normas morais existentes. Nos dias
atuais, pode-se conhecer a deontologia como a “Ética Profissional”,
instituto utilizado como ferramenta de diversas áreas profissionais,
tendo o objetivo justamente de suplementar as ações dos homens,
evitando-se que estes atuem de forma incorreta e injusta um para com
os outros (FERREIRA, 2020, p. 3).

Por fim, “cabe salientar, que independentemente da existência de um


código que regulamente determinada função/profissão, a deontologia encontra-se
intrinsecamente na vida de todo aquele que exerce sua profissão universalmente”
(LOCATELLI, 2011, p. 2). E para os operadores do direito não é diferente.

Entretanto, o que é a DICEOLOGIA?

Para Lima (2020, p. 2), a diceologia “é uma expressão que vem do grego d ikeos,
que significa direito”. Priberam (2008) complementa que esta terminologia grega
denota “cumpridor de uso ou a regra, civilizado, justo, correto”. Sendo assim,
a diceologia é o estudo dos direitos dos seres humanos, sejam eles políticos,
individuais, sociais e constitucionais.

Nesse sentido, o quadro a seguir nos traz o conceito de diceologia.


Vejamos!

158
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

QUADRO 11 – CONCEITO DE DICEOLOGIA

DICEOLOGIA

Teoria que fundamenta os direitos


É a ciência que trata dos direitos.
profissionais.

Estudo ou tratado dos direitos profissionais.


Conjunto dos direitos de uma classe profissional
FONTE: Adaptado de Lima (2020, p. 2) e Priberam (2008)

Logo, pode-se compreender que a diceologia denota o conjunto dos


direitos de uma classe profissional, ou seja, é uma disciplina que trata dos direitos
profissionais de forma ética.

E quais as diferenças entre deontologia e diceologia?

Em síntese, segundo Lima (2020, p. 2), a “deontologia é a codificação dos


deveres profissionais e a diceologia será a codificação dos direitos profissionais”.
Veja essas diferenças na figura a seguir:

FIGURA 4 – CARACTERÍSTICAS E DIFERENÇAS ENTRE DEONTOLOGIA E DICEOLOGIA

FONTE: a Autora

Desse modo, na figura supracitada, podem-se observar as principais


características e diferenças entre deontologia e diceologia, que ambas possuem por
base os princípios éticos e morais e que são concebidas para realizar a orientação
dos direitos e dos deveres de todas as categorias profissionais.

159
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

3 A DEONTOLOGIA JURÍDICA
Agora que você já compreendeu o significado da deontologia em si e
pôde verificar que ela estuda os deveres dos seres humanos, ampliaremos nossas
percepções com relação à deontologia jurídica, ou seja, a deontologia no âmbito
do ramo do direito.

Desse modo, Locatelli (2011, p. 3) expõe que “a deontologia engloba os


deveres de qualquer profissional, e para aqueles que atuam no ramo do Direito
não seria diferente”. Sendo assim, os preceitos ontológicos servem para os
operadores do direito também, como para as demais profissões.

Ferreira (2020, p. 3) segue a mesma linha de raciocínio, expondo que “a


deontologia tem função de regulamentar certos grupos profissionais englobando
a ética e a moral na sua prática. Logo, seria um equívoco afirmar que o Direito não
está abarcado pela Deontologia, que nesse caso trata-se, mais especificamente,
da deontologia Jurídica”. Que corrobora expondo que a área jurídica também
é detentora dos preceitos éticos e morais e, em contrapartida, pelos princípios
ontológicos na sua prática profissional.

Com relação ao conceito da deontologia jurídica, Langaro (2008, p. 152),


expõe que "etimologicamente, o conceito de deontologia é a ‘ciência dos deveres’
ou simplesmente ‘tratado de deveres’”. Contudo, Langaro (2008, p. 152, grifo
nosso) complementa expondo que “consequentemente, Deontologia Jurídica é
a disciplina que trata dos deveres e dos direitos dos agentes que lidam com o
Direito, isto é, dos advogados, dos juízes e dos promotores de justiça e de seus
fundamentos éticos e legais". Então, a deontologia jurídica denota a teoria dos
deveres em âmbito jurídico, para os operadores do direito.

Analisando esse conceito da deontologia jurídica, Ferreira (2020, p. 4,


grifo nosso) destaca que “a ética se assemelha com a deontologia, uma vez que,
o objeto da primeira versa sobre as orientações de condutas morais, já a segunda,
tem como seu objeto as regras morais ou jurídicas que visam controlar as ações
de membros de um determinado grupo profissional”.
Desse modo, ambas as ciências acrescem à conduta um dever com
fundamento na moral, pois um profissional regulado pela ética terá o
instinto de agir de forma positiva, tendo ele, portanto, que observar se seus
atos praticados estão de acordo ou não com a moral, fazendo com que se
sinta limitado na sua forma de agir. Portanto, se na prática o profissional
internamente já qualifica a sua pretendida ação como positiva, deverá ele
segui-la por ser a mais correta, cristalizando o entendimento proposto
pela deontologia jurídica (FERREIRA, 2020, p. 4, grifo nosso).

Então, mediante essa concepção, o comportamento profissional dos


operadores do direito possui por base os princípios éticos e morais, pois a própria
deontologia jurídica tem por base estrutural esses preceitos ético-morais.

160
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

Assim, de acordo com Locatelli (2011, p. 3), “a deontologia não se estreita


apenas em pertencer à filosofia moral, em que, é claro, detém seus fundamentos,
mas consolida-se como um ramo, uma especialização da ciência do direito”. Essa
ciência do direito possui por base a própria filosofia da moral e dos princípios
éticos, por conseguinte, a deontologia jurídica também, ou seja, a obrigação do
fazer dos operadores do direito, segundo os preceitos legais, está alicerçada pelos
princípios ético-morais.

López (1992 apud NALINI, 2009, p. 135), complementa expondo que:


A deontologia jurídica há de compreender e sistematizar, inspirada em
uma ética profissional, o status dos distintos profissionais e seus deveres
específicos que dimanam das disposições legais e das regulações
deontológicas, aplicadas à luz dos critérios e valores previamente
decantados pela ética profissional. Por isso, há que distinguir os
princípios deontológicos de caráter universal (probidade, desinteresse,
decoro) e os que resultam vinculados a cada profissão jurídica em
particular: a independência e imparcialidade do juiz, a liberdade no
exercício profissional da advocacia, a promoção da justiça e a legalidade
cujo desenvolvimento corresponde ao Ministério Público etc.

Nesse sentido, Locatelli (2011, p. 3) expõe que a deontologia “sendo


ciência, cuida das normas jurídicas e princípios doutrinários, com o fim específico
de regular a conduta dos operadores do Direito, no que é concernente aos seus
deveres de ordem profissional”. Ainda, conforme Locatelli (2011, p. 3), “o
âmago da deontologia jurídica é o de procurar usar o direito com ética, com
comportamento moral, bem como estimular o profissional tratar sua profissão
com zelo, com consciência”.

Como já exposto, a deontologia se aplica a todas as profissões, como no


direito também, pois a deontologia estuda os aspectos do dever profissional,
como do advogado e de outros operadores do direito como os juízes, promotores
e serventuários da justiça.

Nesse sentido, o quadro a seguir apresentará algumas características


deontológicas de alguns operadores do direito. Vejamos!

QUADRO 12 – CARACTERÍSTICAS DEONTOLÓGICAS DE ALGUNS OPERADORES DO DIREITO

RAMO DE ATUAÇÃO
CARACTERÍSTICAS DEONTOLÓGICAS
NO DIREITO

• As funções exercidas pelo magistrado implicam em


deveres de ordem salutar, pois a causa que está em
suas mãos pode ser decisiva para a vida do litigante.
Para os juízes • A ética do juiz funda-se, de outra parte, em postulados
elementares de certos valores úteis, fundamentais
e absolutos, como o respeito à vida, ao direito, à
dignidade, à honra da pessoa.

161
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

• São todos os valores transmitidos pela tradição e


que se encontram na primeira página de qualquer
código deontológico

• Assim, cabe ao juiz definir sua estratégia profissional,


e adequar-se, de certa forma, a multiplicidade de
missões que lhe são confiadas pela sociedade, bem
como pelas partes em conflito, para que seja feita a
devida justiça por parte do Estado.

• Os integrantes do Ministério Público, o dever


deontológico se faz estritamente necessário no
exercício pleno de suas funções, seja no âmbito cível
ou criminal.

• O Ministério Público é figura permanente e essencial


à função jurisdicional, como a própria Carta Magna
traz em seu bojo, defendendo os anseios sociais e
fiscalizando a aplicação da lei.

• A atuação e intervenção do Ministério Público deve


ocorrer de forma coerente e necessária.
Para os integrantes
do Ministério Público • Em nenhum momento deve ser levado pela paixão,
relegando o caráter técnico-jurídico a segundo plano
e ferindo de morte a dignidade da sua nobre função.

• Não pode o Ministério Público intervir de forma


arbitrária, com o simples pensamento de uma
condenação, bem como não pode agir fora de seus
limites.
• Assim como os advogados, os promotores também
possuem seu código ético, denominado Código
Nacional de Ética do Ministério Público, o qual
norteia o exercício sadio da profissão.
FONTE: Adaptado de Locatelli (2011, p. 4)

Essas características deontológicas, supracitadas de algumas áreas


profissionais do direito, reafirmam que a base ética e moral estão presentes em suas
respectivas práxis profissionais. Locatelli (2011, p. 4) complementa nossa análise
expondo que:
A deontologia jurídica pode ser orquestrada como um ramo do
direito, pois se funda em regular a conduta dos operadores do direito
através de princípios doutrinários e normas, como, por exemplo, o
Código de Ética e disciplina da OAB e das carreiras da Magistratura
e do Ministério Público. Sendo assim, compete-lhes fazer justiça com
dever ético e moral.

162
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

Essas normativas e códigos das condutas profissionais dos operadores do


direito são reflexos vivos do estudo deontológico, pois neles estão estampados
os princípios doutrinários do comportamento profissional perante o seu fazer
profissional.

Para finalizar este subtópico, gostaríamos de apresentar alguns exemplos


da deontologia jurídica aplicadas à advocacia, pois, segundo Lima (2020, p. 5),
“a deontologia jurídica aplicada à advocacia tem ligação com diversos ramos do
Direito”, e assim seguem alguns exemplos:

QUADRO 13 – EXEMPLOS DA DEONTOLOGIA JURÍDICA APLICADOS À ADVOCACIA

RAMOS DO EXEMPLOS DA DEONTOLOGIA JURÍDICA


DIREITO APLICADOS À ADVOCACIA

• Indispensabilidade do advogado (Art. 133 da CF), o


CONSTITUCIONAL
quinto constitucional.
• Instituto do mandato; da responsabilidade civil dos
CIVIL E
profissionais liberais; da natureza jurídica da sociedade
CONSUMIDOR
de advogados.

• Renúncia; da revogação; do direito de apresentar a


PROCESSO CIVIL
procuração no prazo de 15 dias prorrogáveis.

• Crimes próprios do advogado (tergiversação, patrocínio


simultâneo, patrocínio infiel) e aqueles que os profissionais
PENAL
do Direito têm imunidade no exercício da advocacia
(injúria e difamação); no estudo da reabilitação etc.

• Aplicação subsidiária do Direito Processual Penal aos


processos disciplinares da OAB (Art. 68 do EAOAB);
PROCESSO PENAL na exigência de poderes especiais para que o advogado
ofereça a queixa-crime; perdão nos crimes de ação
penal privada etc.
• Estudo da incompatibilidade da advocacia com
determinados serviços públicos; do impedimento de
ADMINISTRATIVO
certos servidores públicos do exercício da advocacia
contra ou a favor da Administração Pública em geral.
• Estudo do advogado empregado; do sindicato de
TRABALHO advogados; do i us postulandi da parte na Justiça do
Trabalho (Art. 791 da CLT).
FONTE: Adaptado de Lima (2020, p. 5-6)

Mediante essas considerações, pode-se expor que na aplicação dos


preceitos da deontologia jurídica, na práxis profissional dos operadores do direito
e nas supracitadas áreas jurídicas, todos esses exemplos se fazem presentes nos
preceitos éticos e morais.
163
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

4 PRINCÍPIOS GERAIS DA DEONTOLOGIA JURÍDICA


Pois bem, agora gostaria de lhe apresentar brevemente as principais
características de alguns princípios deontológicos da prática profissional dos
operadores do direito, pois no dia-a-dia do cotidiano profissional nos deparamos
com diversas condutas e comportamentos, os quais estão pautados pelos princípios
éticos e morais.

Nesse sentido, Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020, p. 6) nos
colocam que “é possível se extrair alguns princípios do senso comum profissional e
que se prestam a elementos interpretativos e integrativos na aplicação das normas
jurídicas de natureza ética aos casos concretos”. Dentre eles, pode-se citar os
seguintes princípios deontológicos de âmbito jurídico:
• Princípio fundamental da ciência e consciência.
• Princípio da conduta ilibada.
• Princípio do decoro e da dignidade.
• Princípio da diligência.
• Princípio da confiança.
• Princípio do coleguismo.
• Princípio do desinteresse.
• Princípio da fidelidade.
• Princípio da reserva.
• Princípio da lealdade e da verdade.

Passaremos a explanar sobre cada um desses supracitados princípios


deontológicos dos operadores do direito, a seguir.

4.1 PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA


Lembre-se de que, na primeira unidade deste livro, trabalhamos muito
sobre essa questão da ciência e consciência das coisas e dos fatos, principalmente
no item que apresentou a questão da consciência e o empoderamento moral
(Subtópico 4 do Tópico 2) e no Subtópico 5 do mesmo tópico, que refletimos sobre
os estágios da consciência ética e moral, no qual verificou-se que a consciência é um
dos elementos que caracterizam a ética, pois ética significa, em sua subjetividade,
a ciência e consciência das regras sociais.

E
IMPORTANT

Prezado acadêmico! Devemos partir do princípio de que a ciência tratada,


aqui, é ter conhecimento e noção dos atos comportamentais e técnico-profissionais
desenvolvidos pela ciência em si, e não a ciência como um instituto da pesquisa em busca
do conhecimento.

164
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

Nesse sentido, convidamos você a resgatar os preceitos já estudados na unidade


anterior, pois na deontologia jurídica, segundo Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204
apud LIMA, 2020, p. 6), “a ciência não é somente uma acumulação de conhecimentos
técnicos, mas a formação que habilita o profissional ao exercício de sua perícia”. Sendo
assim, no fazer profissional, colocamos em prática as competências e habilidades
desenvolvidas na formação profissional, mas sempre atuando profissionalmente
sobre os preceitos éticos e morais.

Outra questão relevante é a importância da atualização profissional constante,


pois as legislações e entendimentos jurisprudenciais vão se modificando no decorrer
da própria evolução da compreensão da realidade dos casos concretos, vale ressaltar
ainda que, para Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020, p. 6, grifo
nosso), a “ciência com consciência enfrenta o desafio de apontar problemas éticos
e morais da ciência contemporânea, exemplo disso é a importância da atualização
jurídica constante”. São nas consciências e ciências dos problemas ético-morais dos
casos concretos que se permeiam os fazeres profissionais dos operadores de direito, e
sobre elas, busca-se as possíveis soluções de enfrentamento profissional.

Então, os operadores do direito necessitam ter ciência e consciência de


todas as suas condições técnicas-operativas, para proporcionar assim um fazer
profissional ético e moral.

4.2 PRINCÍPIO DA CONDUTA ILIBADA


Nesse quesito, do princípio da conduta ilibada dos operadores do direito,
partiremos da questão conceitual do que é “conduta”, para depois vislumbrar as
principais características deste princípio deontológico.

Desse modo, a “conduta”, segundo Cunha (2011, p. 77), pode ser


compreendida como o “comportamento. Ato, modo ou efeito de se conduzir ou
comportar”. Que é uma “atividade referida a uma norma” (CUNHA, 2011, p. 77).
Denotando, assim, que a conduta é o modo de agir, ou seja, o comportamento ético
e moral em si dos atos e ações praticadas pelos operadores do direito.

Nesse sentido, Guimarães (2016, p. 232) expõe que a “Conduta” é o


“modo de proceder de cada indivíduo, seu comportamento no meio em que vive,
em harmonia, ou não, com a moral, os usos e costumes, os princípios éticos”.
Lembrando que esse comportamento dos profissionais está pautado nas normas,
códigos e regulamentos profissionais de cada categoria.

Assim, para os operadores do direito é exigida uma conduta ilibada, ou


seja, uma conduta permeada pela idoneidade moral, ética, limpa, íntegra e correta,
demostrando que trabalham com honestidade e agem com honra, e que respeitam
os preceitos ético-morais e os bons costumes socialmente constituídos.

165
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

E
IMPORTANT

Conforme Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020, p. 6, grifo


nosso), essas questões do princípio da conduta ilibada dos operadores do direito “está
explícito no Art. 2°, parágrafo único, Incisos I e III do Código de Ética, que é dever do
advogado preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profissão,
zelando pelo seu caráter de essencialidade e indispensabilidade, além de velar por sua
reputação pessoal e profissional. Daí o requisito da idoneidade moral, para a inscrição
(Art. 8°, VI, do EAOAB)”.

4.3 PRINCÍPIO DO DECORO E DA DIGNIDADE


No que tange ao princípio do decoro e da dignidade, devemos, primeiramente,
compreender que, para Cunha (2011, p. 103), o “decoro” é compreendido como a
“correção moral, compostura, decência”. Demostrando que os profissionais, sejam
da área jurídica ou não, devem exercer sua profissão com uma postura condizente
com os preceitos profissionais, morais e éticos.

Entretanto, ser digno, para Cunha (2011, p. 112), é ser “valoroso,


merecedor de consideração e respeito”. Nesse sentido, pode se dizer que agir com
dignidade, é agir segundo os preceitos éticos e morais socialmente constituídos, e
que é moralmente adequado ao fato concreto do seu fazer profissional.

Sendo assim, de acordo com Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204 apud LIMA,
2020, p. 6), “estes princípios dizem respeito ao desempenho da profissão de cada
um de seus membros, exigindo daquele que a pratica seriedade e serenidade no
comportamento”. Isso é, que tenhamos seriedade profissional, buscando sempre agir
com compostura e decência junto aos nossos clientes, colegas e demais profissionais.

Lembre-se de que “o decoro difere da dignidade: enquanto a dignidade


analisa as atitudes e atos do ser humano em sua vida pessoal, o decoro indica
a postura do operador do direito perante sua classe em razão de seus atos”
(NEGRO; RODRIGUES, 2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020, p. 6).

Assim, pode-se concluir que na atuação profissional dos operadores do


direito, faz-se necessário que os profissionais detenham uma postura digna e
respeitosa, com atitudes e atos salutares à profissão, valorando, assim, a própria
profissão e conduta profissional.

166
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

4.4 PRINCÍPIO DA DILIGÊNCIA


Com relação ao princípio da diligência, podemos expor que os operadores
do direito necessitam ser aplicados, zelosos e esforçados no seu fazer profissional,
pois a diligência, segundo Cunha (2011, p. 112), é compreendida como o “cuidado,
empenho que se põe na execução de um ato ou tarefa”. Na práxis profissional do
âmbito jurídico, eles possuem por premissa desenvolver suas atividades laborais
com zelo e cuidado, ou seja, com diligência.

Nesse sentido, Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020,


p. 7) expõem que “esse princípio enseja que o profissional tem o dever de ser
diligente no tratamento igual, tanto para casos menores quanto para casos
de maior relevância”. Desenvolvendo um padrão de qualidade igualitária,
independentemente do caso concreto em si.

Outra questão que se apresenta, aqui, é a responsabilidade do operador


do direito em dar prosseguimento à causa, não a abandonando ou deixando-a
de lado, para dar atenção a outra causa de maior valor, pois esse princípio da
diligência, conforme Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020, p. 7),
“compreende aspectos eminentemente pessoais, zelo, escrúpulo, a assiduidade,
a precisão, a atenção, entre outros”, demonstrando assim que os profissionais da
área jurídica, em específico, precisam desenvolver sua prática profissional com
dedicação, profissionalismo e respeito a seus clientes.

4.5 PRINCÍPIO DA CONFIANÇA


Confiança é um dos preceitos éticos mais importantes no que concerne
à relação dos profissionais com seus clientes e, nesse sentido, os operadores de
direito desenvolvem sua práxis profissional baseados na confiança mútua entre as
partes, pois, segundo Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020, p. 7),
“ao constituir seu advogado, o cliente busca um profissional em quem ele possa
confiar, alguém que possa lhe instruir com relação às probabilidades de êxito ou
de sucumbência quanto a sua pretensão”. É nessa acreditação profissional que os
profissionais do direito buscam a confiança na prestação dos serviços jurídicos.

Outro fator relevante é que o advogado “deve merecer a confiança de seu


cliente, pois ela é elemento indispensável na delicada relação entre o advogado e
seu cliente” (NEGRO; RODRIGUES, 2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020, p. 7). Esse
merecimento é construído pelos seus princípios éticos e morais e, historicamente,
no desenvolvimento de sua prática profissional.

167
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

4.6 PRINCÍPIO DO COLEGUISMO


Neste princípio do coleguismo, entra a questão do trabalho colaborativo e
respeito entre os operadores do direito que trabalham no mesmo espaço laboral
ou entre profissionais da mesma classe profissional, pois o companheirismo é
fundamental para o desenvolvimento da práxis profissional dos operadores de
direito, sendo que cada profissional possui potencialidades como fragilidades e o
trabalho colaborativo se torna fundamental na construção do todo.

Dentre os valores éticos e morais presentes nesse princípio do coleguismo,


pode-se citar a disciplina, respeito, dignidade, cordialidade, colaboração, lealdade,
ética, transparência, sinergia, empatia, decoro, cooperação, fidelidade dentre
muitos outros que denotem um comportamento que leva em consideração o outro
profissional que atua junto ao operador do direito.

Lembre-se de que nunca trabalhamos sozinhos, sempre desenvolvemos


nossa práxis profissional junto a outros profissionais, seja de forma interdisciplinar
ou multidisciplinar. E esses ensejam os valores e princípios ético-morais elencados
no parágrafo anterior.

4.7 PRINCÍPIO DO DESINTERESSE


O princípio do desinteresse demostra que, no desenvolvimento da práxis
profissional dos operadores do direito, o que impera é o interesse da justiça em
si e não os interesses pessoais, pois como cita Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204
apud LIMA, 2020, p. 7), “este princípio tem como peculiaridade fazer predominar
o interesse da justiça sobre qualquer anseio de cobiça pessoal”. Aqui, o importante
é compreender que prevalece o profissionalismo na busca da garantia dos direitos
humanos, individuais e sociais nos casos concretos, assim, o deslinde da causa não
pode ter influência e interesse pessoal do advogado ou do operador do direito.

Salienta-se que, para Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020,
p. 7), “o advogado, todavia, pode recusar determinadas causas em face de certas
circunstâncias”. Demostrando que os profissionais do direito possuem autonomia
de aceitar ou rejeitar certas demandas judiciais.

4.8 PRINCÍPIO DA FIDELIDADE


Esse preceito é muito importante no fazer profissional dos advogados, pois
a fidelidade e comprometimento denota continuidade do trabalho profissional
entre o cliente e seu procurador, o advogado. Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204
apud LIMA, 2020, p. 8) colocam-nos que esse princípio da fidelidade “refere-se,
de forma abrangente, ao comprometimento do operador de Direito, no sentido de
agir sempre com lealdade, verdade e transparência de seus atos e, principalmente,
aos preceitos morais obrigatórios no ordenamento jurídico.” Esse empenho e
esforço profissional refletem no resultado do caso concreto.
168
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

Assim, os operadores de direito possuem como valor ético-moral a fidelidade,


ou seja, ser fiel ao cliente e ao caso concreto. Conforme Ferreira (2008, p. 405), ser
fiel é ser “digno de fé, leal honrado. Que não falha; com o qual se pode contar;
seguro. Exato em fazer as coisas. Verídico, verdadeiro”. Demostrando constância
e veracidade no desenvolvimento de sua instrumentalidade profissional, e assim
proporcionará a fidelização do seu cliente.

4.9 PRINCÍPIO DA RESERVA


No que tange ao princípio da reserva, deve-se compreender que esse preceito,
na verdade, é o princípio da legalidade, que, conforme Guimarães (2016, p. 591), é
o que está “expresso na atual CF, pelo qual as pessoas não são obrigadas a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”. De acordo com Cunha (2011, p.
232), é o “princípio segundo o qual todas as pessoas são subordinadas à lei. Princípio
segundo o qual não há crime sem lei que o defina”. Demostrando que os operadores
do direito desenvolvem suas atividades dentro dos preceitos legais estabelecidos.

Assim, no desenvolvimento da práxis profissional, a conduta deve ser


pautada pela legalidade e, nesse sentido, veja a seguir alguns exemplos de preceitos
legais que apresentam o princípio da legalidade no seu texto legal:

• Art. 5°, II da CF/1988: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer


alguma coisa senão em virtude de lei” (CÉSPEDES; ROCHA, 2020, p. 3).
• Art. 5°, XXXIX da CF/1988: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal” (CÉSPEDES; ROCHA, 2020, p. 5).
• Art. 37 da CF19/88: “a administração pública direta, indireta ou fundacional,
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade [...]” (CÉSPEDES; ROCHA ,2020, p. 15).

Nesse sentido, de acordo com Cunha (2011, p. 235), o Princípio da Reserva


de lei ou Princípio da Reserva Legal é o “princípio que submete determinada
imposição à existência da respectiva lei específica. Princípio segundo o qual a
lei de regência é a do tipo indicado pela Constituição”. Em outros termos, todos
os atos pessoais ou profissionais são regidos por princípios éticos e normativas
constitucionais e infraconstitucionais.

4.10 PRINCÍPIO DA LEALDADE E DA VERDADE


Lealdade, fidelidade, constância, tradição são sinônimos de um
comportamento profissional que denota o preceito ético e moral da sinceridade e
honestidade, pois segundo Ferreira (2008, p. 510), leal é ser “sincero, franco e honesto.
Fiel a seus compromissos”. Esses valores ético-morais proporcionam um fazer
profissional dos operadores de direito pautados no comprometimento honesto frente
aos compromissos profissionais, demostrando sua lealdade junto a seus clientes e
colegas profissionais.
169
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

Nesse sentido, Negro e Rodrigues (2018, p. 31-204 apud LIMA, 2020, p. 8)


expõe que “o princípio da lealdade preconiza ao advogado dizer a verdade ao seu
cliente, seja ela alvissareira ou não”. Esse princípio da lealdade, para Guimarães
(2016, p. 590), expressa “que as partes e os seus advogados têm a obrigação de
serem verdadeiros na exposição dos fatos, leais no seu proceder e de boa-fé”. Sendo
assim, deve ter transparência entre o profissional e seu cliente, e que o trabalho
desenvolvido necessita ser leal e verdadeiro, respeitando a veracidade dos fatos,
pois, Cunha (2011, p. 292) complementa expondo que a verdade são “as coisas tais
como são”. Que denota a veracidade dos fatos e transmite confiança.

Segundo Guimarães (2016, p. 726), a verdade é estar em “conformidade


da vontade declarada com os fatos. Qualidade do que se apresenta aos nossos
sentidos como existente, de maneira inequívoca. Competem às partes e aos seus
procuradores expor os fatos em juízo conforme a verdade”. A verdade é estar em
“conformidade com o real” (FERREIRA, 2008, p. 812).

NOTA

Um exemplo do princípio da lealdade e da verdade está exposto no Art.77, I


do CPC/2015, que assim expõe: “expor os fatos em juízo conforme a verdade” (CÉSPEDES;
ROCHA, 2020, p. 274).

5 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO FUNDAMENTO


DA ÉTICA JUDICIAL E DA JUSTIÇA
Partiremos do princípio que dentro da ética jurídica temos por premissa a
dignidade da pessoa humana, pois ela é tida como um dos fundamentos da ética
judicial e da própria justiça.

Para Bezerra (2010, p. 272), “a justiça, pois, como expressão da verdade,


busca concretizar o fundamento da ética, qual seja, a dignidade da pessoa humana,
por meio da realização integral dos direitos humanos”. Em que, no âmbito da
justiça está a garantia dos direitos humanos.

170
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Prezado acadêmico, a dignidade da pessoa humana é mais um dos


fundamentos da Constituição do Brasil de 1988, na qual devemos compreender
primeiramente algumas questões relativas ao próprio ser humano para depois
desvelar o significado da dignidade da pessoa humana em si, pois de acordo
com Pieritz (2012, p. 69, grifo nosso),
todos os homens fazem parte de uma sociedade, de um grupo social,
de uma estrutura social, portanto, podemos dizer que os homens em
sociedade convivem em grupo. Cada grupo social possui diferentes
características culturais e morais, por exemplo: os povos indígenas,
os orientais, os africanos, os alemães, os franceses, os italianos, os
americanos, os brasileiros, entre muitos outros. Cada sociedade possui
suas normas de conduta comportamental e seus princípios morais, ou
seja, cada grupo social ou cada sistema social constituiu o que é certo e
errado, o que é o bem e o mal para o seu povo. Portanto, nem sempre o
que é certo para nós pode ser certo para outro grupo social, e vice-versa.

Pieritz (2012, p. 70) complementa expondo que:


o ser humano nunca conseguirá ser homem sem interagir diretamente
com os outros homens, e que neste convívio ele deverá procurar o
equilíbrio em seus comportamentos perante os outros, procurando
constantemente se adaptar ao meio em que está inserido, ou seja, o
ser humano necessita respeitar as diferenças para assim melhorar
sua condição de vida e angariar sua dignidade humana.

Desse modo, podemos expor que, quando falamos da dignidade do ser


humano, estamos nos referindo diretamente ao seu bem mais precioso, além da
própria vida em si, pois a dignidade humana está intrínseca aos seus valores
éticos e morais enquanto ser humano que vive e convive em sociedade.

Nesse sentido, Cunha (2011, p. 112) expõe que a dignidade pode ser
compreendida como a “característica do que é digno”. E, portanto, digno é “o
que é valoroso, merecedor de consideração e respeito. Aquele que age segundo
a moral. Aquilo que é normalmente adequado. O que está acima de qualquer
preço, e, por conseguinte, não admite equivalente” (CUNHA, 2011, p. 112).

Podemos compreender que ser digno é estar de bem consigo mesmo,


honrando e agindo conforme seus próprios princípios éticos e morais, ou seja,
ser honesto e correto com seus valores e princípios, o que reflete diretamente no
respeito e consideração dos demais integrantes do seu convívio social.
[Pois] quando se fala, por exemplo, em dignidade, em sentimento,
amor, ódio, conhecimento, intelectualidade, desejo, indiferença,
está se falando em valores intrínsecos do ser humano, em valores
que constituem um patrimônio subjetivo, visualizado no mundo

171
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

exterior apenas nas manifestações que cada pessoa, em determinados


momentos, deixa livremente exalar de seu corpo, de seu espírito,
de sua alma, mostrando-se como verdadeiramente é, mostrando-se
exclusivamente “ser” (MADJAROF, 2011 apud PIERITZ, 2012, p. 20).

A respeito da dignidade da pessoa humana, Mascarenhas (2008, p. 49)


expõe que “a ninguém é dado o direito de violar os direitos do homem, e cabe
ao Estado a proteção desses direitos e a garantia do exercício das liberdades
individuais”. Em outros termos, podemos expor que a dignidade do ser
humano não pode ser violada por ninguém e nem pelo próprio homem, e deve
ser protegida pelo Estado.

E, portanto, a Carta Magna brasileira possui como um de seus


fundamentos constitucionais a dignidade da pessoa humana, justamente no
intuito de possibilitar a proteção incondicional de sua população.

Segundo Moraes (2001, p. 48):


A dignidade, no dizer de Alexandre de Moraes, é um valor espiritual
e moral atinente à pessoa, que se manifesta singularmente na
autodeterminação consciente e responsável da própria vida, e que
traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas,
constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico
deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam
ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas
sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as
pessoas enquanto seres humanos.

Vale salientar ainda, prezado acadêmico, que essa questão da dignidade


da pessoa humana não surgiu no Brasil, e sim adveio de uma preocupação
mundial sobre o respeito e a valorização humana, ou seja, internacionalmente, “o
Direito Internacional dos Direitos Humanos ergue-se no sentido de resguardar
o valor da dignidade humana” (PIOVESAN, 2009, p. 112).

Agora, veremos no quadro a seguir o que significa a dignidade da


pessoa humana.

QUADRO 16 – O QUE SIGNIFICA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA?

O QUE SIGNIFICA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA?

• A dignidade é essencialmente um atributo da pessoa humana


pelo simples fato de "SER" HUMANA.

A PESSOA MERECE TODO O RESPEITO,


independentemente de sua origem, raça, sexo, idade, estado
civil ou condição social e econômica.

172
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

• Muito se tem usado a expressão "dignidade da pessoa humana"


para defender direitos humanos fundamentais, mas sem se
chegar ao âmago do conceito.
• Daí a invocação da expressão em contextos diametralmente
opostos, para justificar seja o direito à vida do nascituro, seja o
direito ao aborto.
• Diante de tal paradoxo, é necessário trazer alguns elementos de
reflexão sobre realidades e sofismas na fixação de um conceito
de "dignidade da pessoa humana" que sirva de base sólida à
defesa dos direitos essenciais do ser humano, sob pena de
deixá-los sem qualquer amparo efetivo e, por conseguinte, sem
garantia de respeito.

• Nesse sentido, o CONCEITO de dignidade da pessoa humana


NÃO PODE SER RELATIVIZADO:
ATRIBUTOS DA PESSOA HUMANA

A PESSOA HUMANA, enquanto tal, NÃO PERDE SUA


DIGNIDADE, quer por suas deficiências físicas, quer mesmo
por seus desvios morais.

• Deve-se, nesse último caso, distinguir entre o crime e a pessoa


do criminoso.
o O crime deve ser punido, mas a PESSOA do criminoso deve
ser tratada com respeito, até no cumprimento da pena a que
estiver sujeito.

Se o PRÓPRIO CRIMINOSO deve ser tratado com respeito,


quanto mais a VIDA INOCENTE.
• RECONHECIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS
FUNDAMENTAIS.

Só é SUJEITO DE DIREITOS a pessoa humana

• Os DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS são o "mínimo


existencial" para que possa se desenvolver e se realizar.
• Há, ademais, uma hierarquia natural entre os direitos humanos,
de modo que uns são mais existenciais do que outros.
• E sua lista vai crescendo, à medida que a humanidade vai
tomando consciência das implicações do conceito de dignidade
da vida humana.
• Por isso, as sucessivas declarações dos direitos humanos
fundamentais (a francesa de 1789 e a da ONU de 1948),
desenvolvendo-se a ideia de diferentes "gerações" de direitos
fundamentais:

173
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

o Os DIREITOS FUNDAMENTAIS de 1ª GERAÇÃO, como:


▪ A VIDA;
▪ A LIBERDADE;
▪ A IGUALDADE;
▪ A PROPRIEDADE.

o Os DIREITOS FUNDAMENTAIS de 2ª GERAÇÃO, como:


▪ A SAÚDE;
▪ A EDUCAÇÃO;
▪ O TRABALHO.

o Os DIREITOS FUNDAMENTAIS de 3ª GERAÇÃO, como:


▪ A PAZ;
▪ A SEGURANÇA;
ATRIBUTOS DA PESSOA HUMANA

▪ O RESGUARDO DO MEIO AMBIENTE.

• Ora, só se torna direito humano fundamental a garantia de um


meio ambiente saudável quando se TOMA CONSCIÊNCIA
de que o descuido da natureza pode comprometer a existência
do homem sobre o planeta.
• Assim, os direitos humanos de 3ª geração dependem
necessária e inexoravelmente dos direitos de 1ª geração.
• Daí que, sendo o DIREITO À VIDA o mais básico e fundamental
dos direitos humanos, não pode ser relativizado, em prol de
outros valores e direitos.

SEM VIDA não há qualquer outro direito a ser resguardado.

• Assim, a defesa do aborto, em nome da dignidade da pessoa


humana, ao fundamento de que uma vida só é digna de ser vivida
se for em "condições ótimas de temperatura e pressão", é dos
maiores sofismas que já surgiram, desde os tempos de Sócrates.
• Uma coisa é o SACRIFÍCIO VOLUNTÁRIO do titular do
direito à vida, para salvar outra vida.
• Outra coisa bem diferente é a IMPOSIÇÃO DO SACRIFÍCIO
por parte do mais forte em relação ao mais fraco, que não tem
sequer como se defender, dependendo de que outros o façam
por ele, por puro altruísmo.
FONTE: Adaptado de Martins Filho e Vieira (2008)

174
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

Assim, podemos expor que realmente este fundamento constitucional


brasileiro, da dignidade da pessoa humana, é de suma importância na
elaboração das demais normas de conduta do cidadão brasileiro.

Fonte: PIERITZ; Vera Lúcia Hoffmann; BONETTI, Joelma Crista Sandri; FRANZMANN, Neusa
Mendonça. Direitos humanos e cidadania. Indaial: UNIASSELVI, 2016. (p. 78-83).

E
IMPORTANT

Segundo Lenza (2014, p. 1.399), a dignidade da pessoa humana é considerada


a “regra matriz dos direitos fundamentais, tema [...] que pode ser bem definido como o
núcleo essencial do constitucionalismo moderno. Assim, diante de colisões, a dignidade
servirá para orientar as necessárias soluções de conflitos”.

Ampliando um pouco mais nossa percepção correlacionada à dignidade


da pessoa humana, vale ressaltar que, segundo Bezerra (2010, p. 268), “no período
axial da história, nasce a ideia de uma igualdade essencial entre os homens. Na
filosofia grega, segundo a tese de Aristóteles, é possível identificar um elemento
comum a todos os indivíduos, que lhe é próprio, a racionalidade”. Igualdade essa
que é fundamental para o convívio humano em sociedade.

Nessa perspectiva, Bittar (2007, p. 158) coloca-nos que “toda a responsabilidade


ética na consciência individual, encontrando na ideia do dever pelo dever (imperativo
categórico) o pilar sobre o qual faz assentar todo o fundamento do agir ético”. E que
esse agir ético deve ser responsável e igualitário proporcionando e resguardando a
dignidade da pessoa humana.

Para Comparato (2006, p. 494), o fundamento soberano da ética é a


“dignidade da pessoa humana”, e acrescenta:
O movimento de aproximação de todos os povos na construção
comunitária de um mundo livre, justo e solidário, fundado no respeito
integral dos direitos humanos, vem crescendo sem descontinuar, e
já começa a tecer uma densa rede de organizações transnacionais de
resistência à dominação capitalista. A sua capacidade de expansão,
ao contrário do que sucede com o movimento antagonista, existe não
em função do poder – tecnológico, econômico ou militar –, mas da
vigência efetiva dos grandes princípios éticos no mundo todo.

Nesse sentido, você pode perceber que o pano de fundo do comportamento


ético, moral e jurídico é a dignidade da pessoa humana.

175
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

DICAS

Prezado acadêmico, não deixe de ler esses dois documentos que tratam da
questão da Dignidade da Pessoa Humana:

• A Carta das Nações Unidas (1945). Na íntegra em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/


decreto/1930-1949/D19841.htm.

• A Declaração Universal dos Direitos Humanos. Na íntegra em: http://www.mp.go.


gov.br/portalweb/hp/7/docs/declaracao_universal_dos_direitos_do_homem.pdf.

Convidamos você, ainda, a realizar as seguintes leituras: Deontologia jurídica: ética das
profissões de Elcias Ferreira da Costa e A deontologia jurídica e a sua aplicação no âmbito
do direito moderno de Tiago Ferreira da Silva.

FIGURA – DEONTOLOGIA JURÍDICA

FONTE: <https://bit.ly/2OdE6g2> Acesso em: 24 fev. 2021.

FONTE: COSTA, E. F. da. Deontologia jurídica: ética das profissões jurídicas. 2. ed. São Paulo:
Forense, 2008.

A DEONTOLOGIA JURÍDICA E A SUA APLICAÇÃO NO ÂMBITO DO


DIREITO MODERNO

Tiago Ferreira da Silva

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como intuito a tratativa acerca do tema da


“Deontologia Jurídica”, assim como os aspectos e as características inerentes ao
âmbito da Deontologia e do Direito. A Deontologia Jurídica é sinônimo de Ética
Profissional, uma vez que esse instituto jurídico tem como objeto o estudo do
comportamento ético das profissões do Direito, para que haja uma adequação
no exercício desses profissionais.

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TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

Assim, será observado a grande importância da Deontologia Jurídica no


âmbito do Direito, bem como a problemática relacionada à sua plena aplicação
no plano jurídico moderno, resultante de pensamentos antropocêntricos, tendo
em vista a dificuldade que vem sendo dada à sua aplicação pelos operadores do
Direito nos dias atuais, pois muito se observa a falta de ética e de boa-fé desses
profissionais para com os seus colegas de profissão, atingindo, inclusive, terceiros
que necessitam de uma tutela jurídica efetiva.

Obstante a essas práticas, a deontologia jurídica deve servir de ferramenta


para que a profissão jurídica seja exercida plenamente, respeitando devidamente
os seus princípios e valores, afastando a corrupção e a desonestidade advinda de
juízes, advogados, promotores, defensores públicos e tantos outros profissionais
que possuem o papel essencial de proporcionar a satisfação do interesse público.

2 A DEONTOLOGIA E SEUS ASPECTOS

Inicialmente, cumpre decifrar o que seria o termo deontologia, cuja


etimologia deriva do grego “déon” ou “deontos” com significado de dever
ou obrigação e “logos”, que pode ser discurso ou tratado. Portanto, além da
deontologia ser conhecida como tratado ou conjunto de deveres e da moral,
também pode ser compreendida como ciência do dever e da obrigação, termo
este que está interligado intrinsecamente com a filosofia, a ética e a moral, tendo
como fim, modelar o exercício de determinados grupos de profissionais.

Sabe-se que para se viver plenamente em uma sociedade é necessário


que sejam interpostas determinadas regras de condutas, proporcionando,
assim, a delimitação de como se deve ou não agir e punindo os que desrespeitem
as referidas regras, proporcionalmente. O mesmo ocorre em determinados
grupos profissionais, onde para que prevaleçam a honestidade e a probidade
dos agentes, faz-se necessário haver uma regulação de condutas, com o fito de
conduzir o comportamento desses grupos, evitando-se que tais práticas possam
se reproduzir gerando desonra à ética que se propõe.

O termo foi introduzido pelo filósofo e jurista Jeremy Bentham, o qual


propôs tratar a ética como fundamento do dever e das normas. Observa-se
o porquê que a deontologia também é conhecida como “Teoria do Dever”,
onde mais uma vez demonstra-se o destaque no campo das profissões, sendo
necessário se constituir códigos de condutas com fundamentos éticos e morais,
para que assim seja possível nortear o cumprimento das atribuições acerca dessas
profissões. É possível calcular a grande importância da deontologia quando se
mede o papel em determinados grupos profissionais, podendo abarcar, em sua
espécie, a Deontologia Jurídica, Médica, Farmacêutica, Contábil e muitas outras
existentes. Portanto, o entendimento que se deve extrair da deontologia é que
este instituto abarca princípios e regras de condutas e deveres, sendo necessário
que cada profissional seja regulamentado por um contexto deontológico
específico, onde sejam delimitadas suas formas de agir e exercer a referida

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UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

profissão. Assim ocorre com os Códigos de Ética, por exemplo, criados com
o fito de se ter uma prestação de serviço plena e confiável em relação as suas
relações pessoais e sociais, onde não seria possível se não houvesse a presença
da ética e da moral.

Como se vê, a deontologia está entrelaçada com a ética e a moral, tendo-as


como fundamento de seu estudo, uma vez que estes institutos são destaques da
ciência filosófica. Vale a diferenciação de cada um destes institutos para melhor
compreensão do tema aqui abordado: A origem etimológica de Ética é o vocábulo
grego "ethos", a significar "morada", "lugar onde se habita", mas também quer
dizer "modo de ser" ou "caráter" (NALINI, 2009, p. 19).

Nas palavras de Nalini, ética se faz mediante condutas reiteradas de


uma dada sociedade, baseada nos costumes sociais e no caráter das pessoas, ou
seja, é considerada como algo já inserido nos costumes dos cidadãos, mediante
um hábito bondoso, empírico e virtuoso, que é passada de geração para geração,
evoluindo juntamente com a sociedade. A ética, diferentemente da moral, possui
uma natureza mais ampla onde abrange o próprio entendimento de “ciência da
práxis”, assim como disciplinava filosoficamente Platão e Aristóteles. Portanto,
a ética não possui natureza coercitiva, na verdade, sua função é de formalizar e
prever os valores, costumes e princípios construídos por uma dada sociedade
como o ser e o dever ser, fazendo com que esses valores sejam perpetuados e
adequados ao meio social presente, dando ênfase às normas morais.

A moral do romano “mores” pode ser compreendida também como


“costumes”, que mais propriamente se refere ao conjunto de normas que visam
regulamentar as condutas e o comportamento humano. Há na moral uma concretude
maior do que na ética, onde se há a presença de normas com fito de guiar o homem,
diferenciando o certo do errado, o moral do imoral, de modo mais coercitivo.

Destaca-se, pois, que a deontologia se assemelha à ética, onde o seu


intuito é buscar constituir e adequar às normas morais existentes. Nos dias atuais,
pode-se conhecer a deontologia como a “Ética Profissional”, instituto utilizado
como ferramenta de diversas áreas profissionais, tendo o objetivo justamente
de suplementar as ações dos homens, evitando-se que estes atuem de forma
incorreta e injusta um para com os outros.

3 A DEONTOLOGIA JURÍDICA

Como demonstrado anteriormente, a deontologia tem função de


regulamentar certos grupos profissionais englobando a ética e a moral na sua
prática. Logo, seria um equívoco afirmar que o Direito não está abarcado pela
Deontologia, que neste caso trata-se, mais especificamente, da Deontologia Jurídica.

Consoante as escritas do professor Luiz Lima Langaro (2008, p. 152),


este dispõe acerca do conceito de deontologia jurídica, a saber:

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TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

"Podemos, então, dizer que, etimologicamente, o conceito de deontologia é


a"ciência dos deveres "ou simplesmente "tratado de deveres". Consequentemente,
Deontologia Jurídica é a disciplina que trata dos deveres e dos direitos dos agentes
que lidam com o Direito, isto é, dos advogados, dos juízes e dos promotores de
justiça, e de seus fundamentos éticos e legais".

Verificado o conceito, destaca-se mais uma vez que a ética se assemelha


com a deontologia, uma vez que, o objeto da primeira, versa sobre as orientações
de condutas morais, já a segunda, tem como seu objeto as regras morais ou
jurídicas que visam controlar as ações de membros de um determinado grupo
profissional. Desse modo, ambas as ciências acrescem à conduta um dever com
fundamento na moral, pois um profissional regulado pela ética terá o instinto de
agir de forma positiva, tendo ele, portanto, que observar se seus atos praticados
estão de acordo ou não com a moral, fazendo com que se sinta limitado na sua
forma de agir. Portanto, se na prática o profissional internamente já qualifica a
sua pretendida ação como positiva, deverá ele segui-la por ser a mais correta,
cristalizando o entendimento proposto pela deontologia jurídica.

Para melhor compreensão, dispõe Nalini (2009, p. 135), com as palavras


de Manuel Santaella López (1992):
(...) a deontologia jurídica há de compreender e sistematizar,
inspirada em uma ética profissional, o status dos distintos
profissionais e seus deveres específicos que dimanam das disposições
legais e das regulações deontológicas, aplicadas à luz dos critérios
e valores previamente decantados pela ética profissional. Por isso,
há que distinguir os princípios deontológicos de caráter universal
(probidade, desinteresse, decoro) e os que resultam vinculados a cada
profissão jurídica em particular: a independência e imparcialidade do
juiz, a liberdade no exercício profissional da advocacia, a promoção
da justiça e a legalidade cujo desenvolvimento corresponde ao
Ministério Público etc.

Diante do quanto observado, conclua-se que não é o bastante que o


(a) bacharel em Direito tenha uma grande educação moral, pois mesmo que
este possua uma boa orientação educacional transmitida pelos seus pais ou
pelos dogmas religiosos, isto não será o suficiente para fazer com que aquele
profissional saiba se portar durante o exercício da sua profissão, uma vez
que para aquela profissão, em especial, é sempre necessário haver um estudo
aprimorado de comportamento profissional. Desse modo, faz-se imprescindível
que o profissional seja doutrinado de maneira ética, porém especificadamente de
acordo com a profissão que exerça, como ocorre, por exemplo, na medicina e na
advocacia, vez que cada uma delas terá o seu respectivo estilo ético de trabalhar
obedecendo as diretrizes que lhes foram ensinadas durante a graduação, sempre
em prol de que seja resguardado o cumprimento de suas obrigações para com os
seus pacientes ou clientes, respectivamente.

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UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

4 A IMPORTÂNCIA DA DEONTOLOGIA JURÍDICA PARA OS JURISTAS

Como se observou nos capítulos anteriores, a deontologia aplicada ao


estudo do Direito tem grande relevância na serventia do dia a dia do profissional,
não só do advogado, como também, das demais figuras públicas que se vinculam
ao campo jurídico. Assim, sendo a deontologia a ciência dos deveres, a Deontologia
Jurídica trata mais propriamente sobre os direitos e obrigações dos operadores
do Direito, sejam eles os advogados, juízes, promotores, defensores públicos,
delegados, bem como as demais figuras públicas vinculadas ao âmbito do Direito.

De acordo com o princípio fundamental da deontologia forense, o profissional


do Direito deve ter em mente que ele possui uma grande responsabilidade, não só
a de aplicar a lei no caso concreto, mas a de saber como aplica-la da maneira mais
correta e efetiva. Não obstante ao conhecimento técnico e apurado do Direito, será
ainda necessário que o profissional jurídico atue com zelo aos princípios e valores
sociais devendo impor comportamentos voltados para as mudanças e avanços que
a sociedade lhe propõe, sempre atuando em respeito à ciência, com consciência
perante seus colegas e jurisdicionados. Além do princípio da deontologia forense
supramencionado, há também outros como o da dignidade, do decoro profissional,
do coleguismo, da correção profissional, da diligência, da confiança, da fidelidade
e etc. Na obra de Miguel Reale (2002, p. 163), cumpre manifestar o entendimento
previsto pelo professor Sílvio de Macedo (1982):

"O homem pelo Direito, adquire uma inserção no processo social e


adquire uma consciência aguda da transformação da comunidade. Não é ele
apenas o técnico do Direito, quando tem vocação deontológica. O Direito não
se exaure como função técnica, porque se completa deontologicamente. E essa
autoconsciência reflexa não é uma imposição profissional, e sim algo além do
pragmatismo jurídico, um privilégio de quem tem algo a dar à humanidade."

Facilmente se observa a importância da ética profissional no exercício dos


operadores do Direito. O juiz é uma das figuras que deve atuar inteiramente com
a deontologia jurídica, pois ao julgar um processo o que estará em jogo será os
interesses de um particular, muitas vezes com extrema necessidade, como casos
de vida ou morte. Seria um bom exemplo, quando o advogado requer um pedido
de tutela cautelar, porém a situação exigia a concessão de uma tutela antecipada
de urgência. Nesses casos, é plenamente cabível a aplicação do princípio da
fungibilidade pelo juiz, acatando a tutela com efeito diverso, ou seja, da que se
pretendia. Além do juiz, a figura do promotor também é inteiramente importante
que atue com probidade, uma vez que este tem como papel principal a fiscalização
da fiel execução da lei, ou seja, deverá atuar com lealdade, transparência e com
respeito tanto à Carta Magna presente no ordenamento jurídico brasileiro e as
demais legislações, quanto aos seus colegas (juízes e defensores). Outro exemplo
de figura imprescindível à administração da justiça é o defensor público, pois
terá ele o papel de assegurar os direitos dos assistidos hipossuficientes que não
possuem condições financeiras para custear um advogado particular.

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TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

O Código de Ética e Disciplina da OAB (Ordem dos Advogados do


Brasil), em seu Capítulo I “Das Regras Deontológicas Fundamentais”, no seu
artigo 2º dispõe:
"Art. 2º O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor
do Estado democrático de direito, da cidadania, da moralidade pública, da
Justiça e da paz social, subordinando a atividade do seu Ministério Privado à
elevada função pública que exerce. Parágrafo único. São deveres do advogado:
I – preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profissão,
zelando pelo seu caráter de essencialidade e indispensabilidade;
II – atuar com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade,
lealdade, dignidade e boa-fé;
III – velar por sua reputação pessoal e profissional;
IV – empenhar-se, permanentemente, em seu aperfeiçoamento pessoal e
profissional;
V – contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das leis;"

Outro princípio que reforça a grande importância dos valores inerentes


às figuras jurídicas citadas anteriormente é o da função social, que terá como
seu objeto a transformação da sociedade em prol da consciência e da satisfação
jurídica de todos os cidadãos. Complementa o professor Sílvio de Macedo (1982)
na obra de Miguel Reale (2002, p. 162): “Ao Jurista, consciente dessa responsabilidade
na sua profissão, se lhe pode atribuir o "papel" de agente transformador da sociedade”.

A função social do advogado ocorre quando este presta efetivamente o


seu papel jurídico, atuando de forma consciente e se pautando nas fontes, nas
leis e nos princípios jurídicos existentes. O advogado deve buscar atender aos
direitos fundamentais previstos na Carta Magna inerentes a todos os cidadãos,
devendo fazer com que estes direitos sejam reconhecidos pelo judiciário quando
forem feridos por algo ou alguém. A função social do advogado visa preservar
a ordem jurídica e a justiça social assegurando a plena aplicação das leis com
lealdade e transparência. O professor Sílvio de Macedo (1982, p.164) ressalta:
“Com essa consciência deontológica, o Jurista não respeita tabus, nem preconceitos. É
uma força inteligente em ação, a serviço da transformação da sociedade.”

Logo, o advogado tem a típica função de administrar e aplicar a justiça,


possibilitando que o seu patrocinado tenha a plena tutela jurisdicional do Estado,
devendo este confiar no papel do causídico. Deverá o advogado atuar de forma ética,
buscando por todos os meios jurídicos possíveis assegurar os direitos do seu cliente,
compondo, portanto, a angularização processual (Estado-juiz, advogado e parte).

5 A DEONTOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DA ADVOCACIA MODERNA

O Direito brasileiro moderno vem enfrentando diversos problemas no que


tange à sua fiel aplicação ética, problemas estes advindos das figuras dos juízes,
advogados e dos membros do Ministério Público, tornando-se estatísticas no âmbito
da improbidade administrativa e dos crimes voltados para a ordem econômica
brasileira. São, portanto, atos que vão de encontro com os ditames da deontologia
jurídica e da Lei Maior que rege todo o território nacional. Apesar de todo conteúdo

181
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

ético demonstrado e a importância dos valores referentes à deontologia jurídica,


muitas vezes os operadores do Direito, que deveriam prestar um serviço público
adequado, íntegro e efetivo, agem em desacordo com a lei para se locupletar à
custa do Estado, acarretando grande prejuízo, não só para a Administração Pública,
como também para o interesse público presente. Tal fato demonstra a problemática
existente em relação ao fiel cumprimento da Ética Profissional, onde a visão dos
homens tornou-se cada vez mais egoísta e antropocentrista.

O Direito é ferramenta imprescindível para alcançar a paz e a justiça social,


pois desde que haja mais de uma pessoa em um único território, embates e direitos
irão surgir a partir dali em relação aos bens pertencentes a cada um e ao respeito
que estes deverão possuir um para com o outro. Tanto é verdade que não se sabe
ao certo quando e onde o Direito surgiu para as civilizações, porém, a certeza é que
ele se tornou necessário. Sequencialmente após o surgimento das normas surgiram
também pessoas que pudessem intermediar a sua aplicação, os Advogados,
satisfazendo os direitos dos cidadãos face às irregularidades do Estado soberano.

Com relação ao tema abordado e a advocacia, cabe reafirmar o importante


papel dado aos advogados pela Constituição Federal de 1988, onde no seu Artigo
133 diz: “Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.

Como observado, a figura do advogado é de extrema importância para


a administração da justiça, pois é para ele que os cidadãos recorrem em busca
da concessão de uma tutela judicial efetiva e célere. A problemática surge
quando os advogados, que estão regidos por um Código de Ética, atuam com
inobservância das normas e princípios éticos para se locupletarem à custa do
seu cliente, muitas vezes hipossuficiente em termos de conhecimentos jurídicos
e que o procurou para satisfazer o seu interesse.

Fundamenta Nalini (2009, p. 145) ao afirmar:


Vive-se um momento trágico nas carreiras jurídicas. Há um
sentimento disseminado de que existe uma irreconciliável divisão
entre o legal e o moral. E isso elimina a fé pública na lei. Os
advogados parecem desdenhar essa percepção popular e reforçam
a impressão de que a ética e a moral não têm lugar na lei.

O fato é notório e tem como exemplos: a falta de sigilo profissional;


a cobrança de honorários acima do recomendado, acarretando prejuízo
ao cliente; desrespeito aos outros colegas, quando da captação de clientes
mediante promessas jurídicas improváveis; compras de decisões, muitas vezes
incoerentes, mediante pagamento de propina; proposição de atos de natureza
procrastinatória, engarrafando o Judiciário e prejudicando as partes envolvidas
na lide processual, dentre outros...

Assim reafirma Nalini (2009, p. 156):

182
TÓPICO 2 — DEONTOLOGIA JURÍDICA

Além de regras deontológicas fundamentais, a normativa contempla


capítulos das relações com o cliente, do sigilo profissional, da
publicidade, dos honorários profissionais, do dever de urbanidade
e do processo disciplinar. Dentre as linhas norteadoras do Código
incluem-se o aprimoramento no culto dos princípios éticos e no
domínio da ciência jurídica.

A advocacia é, portanto, uma profissão que visa garantir a fiel execução


da lei, evitando-se que o particular, que teve o seu direito ferido, permaneça
prejudicado, buscando mediante todos os meios jurídicos e instâncias possíveis que
seja assegurada a satisfação do direito. Além de cumprir o seu papel com respaldo
na sua capacidade técnica-jurídica, deverá o advogado atuar de forma ética,
transparente e com consciência, para que o seu cliente tenha uma garantia jurídica
em sua plenitude. Frise-se que a advocacia é uma atividade meio e não fim, ou seja,
não é possível se prometer decisões, mesmo aquelas dadas como “causa ganha”.

De fato, o advogado tem que cumprir com sua função com expertise,
entretanto este deverá sempre lembrar que está revestido de uma função ética
e imprescindível à administração da justiça.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do quanto observado, a deontologia como ciência dos deveres


abre um leque de diversos valores e princípios éticos, adentrando-os nos diversos
grupos profissionais. Demostra-se, pois, ser cada vez mais imprescindível a
presença da Deontologia jurídica, da ética e da moral no âmbito do Direito,
pelo motivo de que por muita das vezes vem deixando a desejar, fato resultante
dos comportamentos contrários aos princípios deontológicos apresentados por
muitos dos operadores do Direito.

A Deontologia Jurídica é ciência dos deveres pautados na órbita do Direito.


Por ser uma ciência jurídica, deve o estudo da Deontologia sempre se adequar à
modernidade e ao desenvolvimento social, proporcionando uma estabilidade e
uma eficácia maior no que tange os profissionais específicos da área jurídica.

Para que a proposta ética da deontologia seja cumprida com mais exatidão
pelos grupos profissionais, é importante que não só haja uma delimitação
de condutas mais propícia à época atual, como também é necessário que os
profissionais busquem cumprir suas atribuições sem desrespeitar os ditames do
Código de Ética. Os profissionais jurídicos devem ter em mente que suas práticas
ilícitas interferem na saúde pública dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e
Judiciário) como também a si mesmos.

Portanto, reitera-se que tais profissionais devem ter em mente que é


possível se obter sucesso na carreira jurídica sem ir de encontro com os princípios
éticos e deontológicos e, por fim, sem acarretar prejuízos ao interesse público.
FONTE: <https://jus.com.br/artigos/86138/a-deontologia-juridica-e-a-sua-aplicacao-no-ambito-do-
-direito-moderno>. Acesso em 14 nov. 2020.

183
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A ética é tida como fundamento do comportamento moral na deontologia


jurídica.

• A deontologia não é algo contemporâneo, mas que já foi concebido há quase


200 anos e vem estudando, desde então, as normas éticas e morais do dever
junto aos indivíduos que vivem e convivem em sociedade.

• Pôde-se perceber que o “dever” denota obrigação de fazer, imposta pelas


convenções, normativas e legislações constitucionais ou infraconstitucionais.

• A deontologia é tida como a teoria do dever.

• A base da deontologia são os preceitos éticos e morais e, nesse sentido, a teoria


do dever está pautada por esses princípios éticos-morais.

• A diceologia é o estudo dos direitos dos seres humanos, sejam, eles políticos,
individuais, sociais e constitucionais.

• A diceologia denota o conjunto dos direitos de uma classe profissional, ou


seja, é uma disciplina que trata dos direitos profissionais de forma ética.

• Observamos as principais características e diferenças entre deontologia e


diceologia, que ambas possuem por base os princípios éticos e morais e são
concebidas para realizar a orientação dos direitos e dos deveres de todas as
categorias profissionais.

• Os preceitos ontológicos servem para os operadores do direito, bem como


para as demais profissões.

• A área jurídica também é detentora dos preceitos éticos e morais e, em


contrapartida, pelos princípios ontológicos na sua prática profissional.

• A deontologia jurídica denota a teoria dos deveres em âmbito jurídico, para


os operadores do direito.

• O comportamento profissional dos operadores do direito possui por base os


princípios éticos e morais, pois a própria deontologia jurídica tem por base
estrutural esses preceitos ético-morais.

• Esta ciência do direito possui por base a própria filosofia da moral e dos
princípios éticos, por conseguinte, a deontologia jurídica também, ou seja,
a obrigação do fazer dos operadores do direito, segundo os preceitos legais,
está alicerçada pelos princípios ético-morais.

184
• A deontologia se aplica a todas as profissões, como no direito também, pois
a deontologia estuda os aspectos do dever profissional, como do advogado e
de outros operadores do direito como os juízes, promotores e serventuários
da justiça.

• Essas normativas e códigos das condutas profissionais dos operadores do


direito são reflexos vivos do estudo deontológico, pois neles estão estampados
os princípios doutrinários do comportamento profissional perante o seu fazer
profissional.

• A aplicação dos preceitos da deontologia jurídica na práxis profissional dos


operadores do direito e nas supracitadas áreas jurídicas, denota que todos
esses exemplos se fazem presentes nos preceitos éticos e morais.

• A dignidade da pessoa humana é tida como um dos fundamentos da ética


judicial e da própria justiça.

185
AUTOATIVIDADE

1 A deontologia surgiu a quase 200 anos e ela vem estudando, desde então,
as normas éticas e morais do dever junto aos indivíduos que vivem e
convivem em sociedade. Sua origem vem do grego deontos (dever) e logos
(estudo, ciência, tratado). Com relação ao conceito de deontologia, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) A deontologia trata da origem e a cobrança dos deveres, a partir da


reflexão sobre o comportamento de valor ideal, fruto do juízo ético e
jurídico penal sobre a responsabilidade social dos indivíduos.
b) ( ) A deontologia trata da origem, incidência e efeitos dos deveres, a partir
da reflexão sobre o comportamento de valor ideal, fruto do juízo ético
equilibrado e consciente, conciliador da liberdade individual e da
responsabilidade social.
c) ( ) A deontologia trata das penalidades legais a que um indivíduo é
submetido quando comete um ato infracional.
d) ( ) Deontologia é a base do Direito Penal de uma nação.

2 Os princípios deontológicos na prática são facilmente entendidos e fazem


parte do nosso dia a dia profissional, mesmo que não nos atentemos a essa
realidade. Assim, podemos extrair alguns princípios do senso comum
profissional e que se prestam a elementos interpretativos e integrativos
na aplicação das normas jurídicas de natureza ética aos casos concretos.
Com relação aos exemplos de princípios deontológicos de âmbito jurídico,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Princípio da conduta ilibada; Princípio do decoro e da dignidade;


Princípio da negligência e Princípio da injustiça social.
b) ( ) Princípio da conduta incorreta; Princípio do decoro e da dignidade;
Princípio da negligência pura e Princípio da confiança.
c) ( ) Princípio da conduta incorreta; Princípio do decoro e da dignidade;
Princípio da diligência e Princípio da injustiça social.
d) ( ) Princípio da conduta ilibada; Princípio do decoro e da dignidade;
Princípio da diligência e Princípio da confiança.

3 A respeito da dignidade da pessoa humana, temos que ela não pode ser violada
por ninguém e nem pelo próprio homem, e deve ser protegida pelo Estado e a
Carta Magna brasileira que é a nossa Constituição Federal, possui como um de
seus fundamentos constitucionais a dignidade da pessoa humana, justamente
no intuito de possibilitar a proteção incondicional de sua população. Com
relação à dignidade humana, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Princípio da dignidade humana é construído sob os princípios legais


e da punição de quem feriu este princípio.

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b) ( ) A dignidade humana é um valor espiritual, por isso mesmo é a base
das igrejas do Brasil.
c) ( ) A dignidade humana é um valor atinente às questões religiosas relacionadas
à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente
e responsável da própria vida, e que traz consigo a pretensão ao respeito
por parte das demais pessoas, constituindo-se de um valor instituído pela
Igreja brasileira em todas as suas religiões.
d) ( ) A dignidade humana é um valor espiritual e moral atinente à pessoa,
que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e
responsável da própria vida, e que traz consigo a pretensão ao respeito
por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável
que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente
excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos
fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que
merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.

187
188
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

1 INTRODUÇÃO
Depois de termos aprofundado o conhecimento acerca da “ética jurídica”,
em que debatemos as questões da ética nas profissões jurídicas e o significado da
“deontologia jurídica”, estudamos seus aspectos conceituais e demais características
intrínsecas, perpassando por uma análise dos princípios da deontologia jurídica,
que possui natureza ética, realizamos um debate final sobre a relação da dignidade
da pessoa humana com os fundamentos da ética judicial e da justiça.

Toda essa análise, reflexão e discussão inicial nos dois primeiros tópicos
desta unidade do seu livro de Ética geral e jurídica, ofereceram-nos subsídios para
que, neste momento, possamos discorrer sobre os “princípios éticos comuns às
carreiras jurídicas” no Brasil.

Assim, proporcionaremos, neste tópico, um debate em torno dos princípios


éticos e sua aplicação no exercício do direito, estudando as principais características
e elementos caracterizadores dos princípios da cidadania e liberdade, além de
elucidar os preceitos da democracia brasileira.

Prontos para realizar esta reflexão? Vamos lá!

FIGURA 5 – PRINCÍPIOS ÉTICOS JURÍDICOS

FONTE: <https://www.pinterest.com.mx/pin/432978951650224687/>. Acesso em: 18 fev. 2021.

189
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

2 OS PRINCÍPIOS ÉTICOS E SUA APLICAÇÃO NO EXERCÍCIO


DO DIREITO
No Tópico 2 da Unidade 1 deste livro, já verificamos as principais
características do que é um princípio, mas o convidamos a relembrar, vejamos:

QUADRO 14 – CARACTERÍSTICAS DA TERMINOLOGIA PRINCÍPIOS

PRINCÍPIOS

• PRECEITO, REGRA.
• Fonte ou finalidade de uma instituição, aquilo que corresponde a sua
natureza, essência ou espírito.
• Aquilo em que se encontra a base ou orientação para o agir.
• Os primeiros preceitos de uma arte ou ciência.

• ORIENTAÇÃO FUNDAMENTAL de comportamento.


• Bons costumes, educação.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 228) e Ferreira (2008, p. 654)

Lembre-se de que, mediante o supracitado quadro, percebemos que um


princípio denota uma orientação, uma regra que nos orienta, ou seja, são as bases
normativas que norteiam nosso comportamento. Assim, segundo Pieritz (2020, p. 38),
princípios:

• São os parâmetros, preceitos, normas, leis e marcos de referência


universais que definem as regras de conduta social e consentem a
medição das consequências do comportamento humano.
• São os pressupostos que estão conectados diretamente com a
nossa consciência e modo de agir.

Sob essas concepções, apresentaremos os principais princípios éticos no


âmbito do direito.

3 PRINCÍPIO DA CIDADANIA
No que tange ao princípio da cidadania, apresentaremos, neste momento,
uma ponderação correlacionada à cidadania, pois ela faz parte do contexto ético
profissional dos operadores do direito.

190
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

CIDADANIA

Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Prezado acadêmico, outro dos fundamentos da Constituição do Brasil


de 1988 é a cidadania. Cunha (2011, p. 62) expõe que a cidadania é o “atributo
do cidadão. Conjunto de atributos do cidadão. Relação entre a pessoa e a
sociedade política a que pertence”, ou seja, podemos entender que cidadania é
um conjunto de direitos e deveres que denotam e fundamentam as condições
do comportamento de cada indivíduo em relação à sociedade, ou seja, a
cidadania designa normas de conduta para o convívio social, determinando
nossas obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa sociedade
(PIERITZ, 2013, p. 132, grifo nosso).

UNI

Cunha (2011, p. 62) expõe que o cidadão é o “membro da sociedade política”.

Assim sendo, vale salientar que devemos compreender melhor o que


é ser cidadão, e no que consiste a cidadania, para assim compreender melhor
este preceito constitucional. Nesse sentido, vejamos no quadro a seguir algumas
considerações de cidadão e cidadania.

QUADRO 13 – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DE CIDADÃO E CIDADANIA

Ser cidadão:
O que é SER • é RESPEITAR e PARTICIPAR das decisões da sociedade,
CIDADÃO? para melhorar suas vidas e a de outras pessoas.
• é NUNCA ESQUECER DAS PESSOAS que mais necessitam.

A cidadania deve ser divulgada através de instituições de ensino e meios de


comunicação, para o bem-estar e desenvolvimento da nação.

A cidadania consiste:

No que • Desde o gesto de não jogar papel na rua;


CONSISTE a • Não pichar os muros;
cidadania? • Respeitar os sinais e placas;
• Respeitar os mais velhos (assim como todas as outras pessoas);
• Não destruir telefones públicos;

191
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

• Saber dizer obrigado, desculpe, por favor e bom dia quando


necessário [...];
• Até saber lidar com:
o o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas;
o o direito das crianças carentes; e
o outros grandes problemas que enfrentamos em nosso
país.

‘A REVOLTA é o último dos direitos a que deve um povo livre para


garantir os interesses coletivos: mas é também o mais imperioso dos deveres
impostos aos cidadãos’. Juarez Távora - Militar e político brasileiro.
FONTE: Adaptado de WEB CIÊNCIA (2009 apud PIERITZ, 2013, p. 132)

Nesse sentido, segundo Mascarenhas (2008, p. 49, grifo nosso), a


cidadania “é atributo ou qualidade do indivíduo que possui direitos políticos
e civis. Essa cidadania pode ser ativa e passiva”. Assim, vejamos no quadro a
seguir as características da cidadania ativa e passiva.

QUADRO 14 – CARACTERÍSTICAS DA CIDADANIA ATIVA E PASSIVA

CARACTERÍSTICAS DA CIDADANIA ATIVA E PASSIVA

Cidadania • Consiste na existência de direitos civis e políticos ativos.


ATIVA • Referente à CAPACIDADE DE SER ELEITOR.

• Consubstancia-se na capacidade que tem o cidadão de:


Cidadania
o SER VOTADO;
PASSIVA
o SER ELEITO.

Todo cidadão passivo é, também, cidadão ativo, mas nem todo cidadão
ativo é, também, passivo. Exemplo: o analfabeto.
FONTE: Adaptado de Mascarenhas (2008, p. 49)

Vale salientar que “a concepção de cidadania persistida pelo Estado


ainda se baseia nos princípios da liberdade, igualdade e fraternidade, onde a
própria organização política, histórica e social brasileira torna-a impossível,
pelas grandes desigualdades e mazelas sociais existentes” (MADJAROF, 2011
apud PIERITZ, 2012, p. 22).

Podemos observar três dimensões da cidadania:

192
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

QUADRO 15 – TRÊS DIMENSÕES DA CIDADANIA

TRÊS DIMENSÕES DA CIDADANIA

• São aqueles direitos advindos da liberdade de cada indivíduo,


por exemplo:
Cidadania o o livre-arbítrio para expressar nossos pensamentos;
CIVIL: o o direito de propriedade (venda e compra de um imóvel,
um bem ou serviço);
o entre outros.

• Podemos considerar que a cidadania política se legitima


quando os homens exercem seu poder político de eleger e ser
Cidadania
eleitos para o exercício do poder político, independentemente
POLÍTICA:
da instituição pública ou privada na qual venham a exercer
suas atribuições.

• Compreendida como o conjunto de direitos concernentes ao


Cidadania
conforto de cada cidadão, no que tange à sua vida econômica
SOCIAL:
e social, ou seja, do seu bem-estar social.
FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 132-133)

Por conseguinte, Pieritz et al. (2015, p. 16, grifo nosso) expõem que a
cidadania “expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem e
convivem em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange ao
respeito a si, ao próximo e ao patrimônio público e privado”.

Vale salientar também que a cidadania é “participação nos espaços


públicos de discussão, a qual permeia as questões de democracia e ética de
toda a população daquele determinado grupo social, político ou econômico”
(PIERITZ et al., 2015, p. 16, grifo nosso).

Assim, podemos expor que este preceito constitucional é um princípio


fundamental para a convivência humana em sociedade.

Logo, de acordo com Maciel (2012, p. 29), nos dias de hoje a cidadania é
considerada “sinônimo de participação que remete ao exercício da democracia
para além das eleições. Somos ‘controladores’ da política, do orçamento, ou
seja, das ações do Estado como um todo”. Em outros termos, “cada cidadão
tem o dever e o direito de participar de todos os espaços democráticos do seu
município, Estado ou Federação” (PIERITZ et al., 2015, p. 16).

Assim, a participação dos cidadãos nos espaços democráticos denota


diretamente o exercício real da cidadania, em outros termos, “o conceito
contemporâneo de cidadania transcende à simples lógica da garantia de direitos
legais. Segundo a concepção de Dallari (2004), a cidadania expressa um conjunto

193
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar da vida e do governo


de seu povo” (MACIEL, 2012, p. 31). Desse modo, a expressão “participar”
denota o sentido de fazer parte do processo democrático do seu país ou demais
entes federativos, uma vez que, segundo Maciel (2012, p. 32), quem deixa de
exercer a sua cidadania “está excluído da vida social e da tomada de decisões.
A cidadania não significa apenas uma conquista legal de alguns direitos, mas
sim a realização desses direitos. Ela é construída e conquistada a partir da nossa
capacidade de organização, participação e intervenção social”.

Assim, segundo Pieritz et al. (2015, p. 17, grifo nosso), “vale salientar que
a cidadania é conquistada pela nossa participação nos momentos das discussões
e decisões coletivas, portanto a cidadania se dá pela participação ativa de nossa
vida em sociedade e na vida pública”.

Em outros termos, pode-se expor que a cidadania estampada na Carta


Magna brasileira denota prioritariamente como o cidadão brasileiro participa
dos momentos democráticos do seu país, estados e municípios, enquanto
cidadão de direitos e deveres.

FONTE: PIERITZ; V. L. H.; BONETTI, J. C. S.; FRANZMANN, N. M. Direitos humanos e cidadania.


Indaial: UNIASSELVI, 2016. (p. 75-78).

Segundo Lenza (2014, p. 1.399), a cidadania está:


Materializada tanto na ideia de capacidade eleitoral ativa (ser eleitor) e
passiva (ser eleito), como na previsão de instrumentos de participação
do indivíduo nos negócios do Estado. Assim, o conceito de cidadania
não se restringe aos direitos políticos, mas nessa visão muito mais
abrangente e que engloba, também, os direitos e deveres fundamentais.

E como se dá a cidadania no âmbito da advocacia?

Partimos do entendimento de que a cidadania é um dos princípios éticos e


morais constituídos historicamente e, nesse sentido, esses preceitos de cidadania
também se apresentam no âmbito da atuação profissional dos operadores de
direito, pois a cidadania expressa o exercício e o acesso a direitos e deveres
socialmente constituídos, ou seja, a participação ativa ou passiva nos espaços de
decisão pública, em que o cidadão que, nesse caso, é o profissional do direito,
possui o direito de participar dos espaços de tomada de decisão.

Frisa-se, ainda, que a cidadania é a “qualidade dos indivíduos que,


enquanto membros ativos e passivos de um Estado – nação, são titulares ou
destinatários de um determinado número de direitos e deveres universais e, por
conseguinte, detentores de um específico nível de igualdade (NABAIS, 2005, p.
119), pois, ressalva-se que a cidadania é o exercício da liberdade de participar ou
não dos processos de tomada de decisão pública, ensejando um posicionamento
ético do cidadão perante o caso concreto.

194
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

4 PRINCÍPIO DA LIBERDADE
Partindo do entendimento que já estudamos no Subtópico 3, Tópico 2,
da Unidade 1 deste livro, que tratou da Ética e liberdade humana, resgataremos,
neste momento, suas principais concepções, para compreendermos o princípio
ético da liberdade. Nesse sentido, pode-se observar que “a liberdade é uma
das capacidades humanas de tomar decisões perante os grupos sociais a que
pertencemos” (PIERITZ, 2020, p. 78).

Essa liberdade decisória é fundamental na práxis profissional dos


operadores do direito, pois, assim, tem-se o livre-arbítrio em decidir que rumo ou
posição tomar junto ao caso concreto que se está trabalhando, pois, segundo Pieritz
(2013, p. 52):
Devemos sempre partir do princípio de que a ética denota regras,
normas e responsabilidades, mas também não podemos esquecer que
a ética é um espaço de reflexão sobre a nossa vida cotidiana. Esta vida,
que está pautada nos alicerces da moral humana em sociedade, deve
também supor que todos os homens sejam livres.

Essa liberdade humana é basilar para o próprio desenvolvimento humano


em sociedade, pois todos os seres humanos possuem intrinsicamente a capacidade
de decidir o que fazer, como também de determinar seu rumo perante a sociedade
em que está inserido.

Outro elemento importante, aqui, é que a liberdade decisória denota que


as pessoas possuem o empoderamento necessário e o discernimento de suas
próprias faculdades mentais e comportamentais para agirem socialmente, ou
seja, de fazer ou deixar de fazer tudo aquilo que está estampado nos preceitos
éticos, morais e legais.

Liberdade é ter o poder de escolha! Nesse sentido, Pieritz (2013, p. 52) faz
a seguinte reflexão:
Quantas vezes tivemos o sentimento de estarmos presos, ou seja,
não tendo liberdade para fazer aquilo que realmente desejamos;
ou simplesmente poder escolher entre uma ou mais opções; ou
ainda sentir-se livre para querer realizar as nossas mais subjetivas
necessidades, tais como: escolher uma boa comida, comprar aquela
roupa desejada, fazer aquele curso desejado e não imposto pela família
ou sociedade, andar de bicicleta, fazer um esporte etc.

Demostrando que a liberdade para a composição humana é uma questão


primordial para a própria sobrevivência humana em sociedade, pois necessitamos
estar o tempo todo fazendo escolhas e, assim, segundo Pieritz (2013, p. 54), “Essas
escolhas devem ser sempre pautadas sobre os nossos princípios morais e éticos,
para que, assim, não possamos prejudicar os outros”. No âmbito das carreiras
jurídicas não é diferente, pois os operadores de direito precisam tomar decisões
o tempo todo, fazendo escolhas técnicas profissionais em prol da garantia dos
direitos humanos, individuais, políticos e sociais.

195
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

Assim, agir eticamente é agir com liberdade, podendo escolher entre as


diversas alternativas postas pelos princípios ético-morais e normativas legais e
constitucionais, mas essas escolhas devem ser realizadas com responsabilidade,
pois vivemos em comunidade, e nossas ações influenciam os outros, que por
vezes pode até prejudicar e gerar dano.

Então, liberdade é responsabilidade, pois nossas escolhas possuem


ações e reações, que poderão beneficiar ou gerar dano ao outro. Nesse sentido, é
primordial que ao tomarmos uma decisão, seja individual ou coletiva, devemos
levar em consideração se a ação irá prejudicar ou não o outro, sendo que
possuímos a liberdade de decidirmos o que é certo ou errado, o que é fazer o
bem ou o mal, mas essa liberdade decisória, para Pieritz (2013, p. 55), “deve ser
tomada à luz de nossos valores e princípios éticos, que foram e são constituídos
pela sociedade como um todo” (PIERITZ, 2013, p. 55). Assim, podem-se levar
essas considerações para a liberdade de decisão no âmbito jurídico.

5 A DEMOCRACIA COMO ELEMENTO DO COMPORTAMENTO


ÉTICO JURÍDICO
Para finalizarmos nosso debate em torno dos “princípios éticos comuns
às carreiras jurídicas”, apresentaremos uma reflexão correlacionada à democracia,
pois ela faz parte do contexto ético profissional dos operadores do direito.

Neste sentido, convidamos você a fazer a leitura sobre a democracia em


pauta, para posterior reflexão sobre o tema. Boa leitura!

A DEMOCRACIA EM PAUTA

Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Estamos vivendo em um país apresentado como democrático! Mas, será


que todos nós compreendemos o sentido real da democracia e seus reflexos
na sociedade brasileira? Em outros termos, o que realmente é este Estado
Democrático de Direito em que vivemos?

Nesse sentido, Moisés (2010, p. 277) expõe que “o significado mais usual
da democracia se refere aos procedimentos e aos mecanismos competitivos de
escolha de governos através de eleições”, ou seja, a democracia é compreendida
habitualmente somente como um processo de escolha dos nossos representantes
legais em todas as esferas, tanto local, municipal, estadual e federal, no qual
a população destas esferas, por meio de seu voto, seleciona e elege o seu
representante para legislar em nome desta mesma população.

196
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

Assim, “podemos considerar que a democracia nada mais é do que


um sistema de governo, no qual o povo governa para sua própria sociedade”
(PIERITZ, 2013, p. 133). Desse modo, pode-se observar que a democracia pode
ser exercida de duas formas distintas, pois ela pode ser direta ou indireta.

QUADRO 11 – FORMAS DE DEMOCRACIA

FORMAS DE DEMOCRACIA

Na qual o povo decide diretamente, por meio de referendo/


Democracia
plebiscito, se aceita ou não determinadas questões políticas e
direta
administrativas de sua localidade, Estado ou país.

Nesta, o povo participa democraticamente, por meio do voto,


Democracia elegendo seu representante político, ou seja, uma pessoa que
indireta os represente nas diversas esferas governamentais, para tomar
decisões cabíveis em nome do povo que os elegeu.
FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 133)

Este conceito de democracia é notoriamente o entendimento de toda


massa populacional brasileira nos dias de hoje, pois quando se indaga as
pessoas com relação ao conceito de democracia, é este conceito de escolha de
nossos representantes legais, por intermédio do voto popular, que aparece nos
discursos da população de nosso país.

Cunha (2011, p. 105) expõe que a democracia pode ser compreendida


como “método de organização social e política tendente à maior realização
da liberdade e da igualdade. É um Sistema político em que o povo constitui e
controla o governo, no interesse de todos”.

Outro fator que não podemos esquecer é que, quando falamos em


democracia, também falamos de Estado Democrático de Direito. Segundo
Cunha (2011, p. 138), o “Estado de direito [é aquele] que se organiza e opera
democraticamente”. Nossa Carta Magna de 1988, já em seu preâmbulo, instituiu
um Estado Democrático de Direito, ou seja, a Constituição da República
Federativa do Brasil se organizou e definiu suas normativas em prol de um
Estado Democrático, no qual a democracia deverá ser a base fundamental da
República Federativa do Brasil.

Assim sendo, segundo Pieritz (2013, p. 133), “este sistema de governo


democrático possui formatos diferentes nas diversas sociedades, pois em cada
uma existem regras e normas diferentes, e isto acontece por causa da constituição
dos princípios ético-morais de cada localidade”.

Resumidamente, a figura a seguir apresenta o primeiro entendimento


da definição e o significado da democracia e o Estado Democrático de Direito:

197
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

FIGURA 11 – DEMOCRACIA E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

FONTE: A autora

Vale salientar que a democracia vai muito além deste discurso sintético
de representação e de voto, pois Moisés (2010, p. 277, grifo nosso) coloca-nos que:
existem outras perspectivas que ampliam a compreensão do conceito,
incluindo tanto as dimensões que se referem aos conteúdos da
democracia, como também os seus resultados práticos esperados no
terreno da economia e da sociedade. Por uma parte, acompanhando a
abordagem minimalista de Schumpeter (1950) e a procedimentalista
de Dahl (1971), vários autores definiram a democracia em termos de
competição, participação e contestação pacífica do poder.

Nesse sentido, no que tange a esta conotação que a democracia tem de


competição, participação e contestação pacífica do poder, pode-se expor que
falar de democracia também está atrelado ao conceito do “jogo de poderes”,
principalmente a disputa e concorrência de cargos em todas as esferas
governamentais ou não, além da competição entre partidos políticos e outros
grupos econômicos, políticos, culturais e sociais.

Além disso, não podemos esquecer um elemento fundamental da


democracia, que é a questão da “participação do povo”, no qual cada cidadão
brasileiro é elemento fundamental no processo democrático do Brasil, pois
direta ou indiretamente é parte do processo democrático instaurado neste
país. Ao preferir sua escolha, independentemente do que for ou de que escolha
fora feita, torna-se automaticamente parte do Estado Democrático de Direito e
integra-se ao sistema vigente de democracia daquele determinado Estado.

Maciel (2012, p. 73) complementa expondo que a democracia “tornou-se


uma aspiração universal, por ser o regime de governo mais propenso a garantir
os direitos individuais, porém não se resume simplesmente ao ato de votar,
sendo que o direito à participação tornou-se uma atividade importante diante
da constituição da cidadania”.

198
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

Por conseguinte, pode-se expor que democracia denota participação


direta ou indireta da população em todos os espaços que necessitem do veredito
do povo em prol de objetivos comuns a ele mesmo. Assim, Beethan apud Maciel
(2012, p. 73, grifo nosso) complementa expondo que:
o direito à participação pode ser tanto reativo quanto proativo. Em
sua forma reativa, a participação consiste na articulação coletiva
de respostas a políticas de desenvolvimento. Na forma proativa,
ela invoca a responsabilidade popular no desencadeamento da
articulação de políticas de desenvolvimento. No primeiro caso, os
governos propõem e os cidadãos reagem; no segundo, os cidadãos
propõem e os governos reagem. Em ambas as formas, o direito de
participação assume a lógica de colaborar com o desenvolvimento.
No coração da democracia repousa, assim, o direito do cidadão de
opinar nos assuntos públicos e de exercer controle sobre o governo,
em pé de igualdade com os demais.

Desse modo, pode-se expor que um dos elementos da democracia é


a articulação coletiva do povo em prol de uma determinada demanda social,
política, cultural ou econômica. Para que possam debater coletivamente os prós
e contras, no que tange aos assuntos pertinentes ao interesse coletivo, dando
assim respostas a esta mesma demanda.

Vale salientar que a não participação e a omissão também são formas de


participação, pois retratam a sua alienação, indiferença, contestação ou o seu
descontentamento com relação ao sistema vigente. Então, isto não quer dizer
que aquele cidadão que se omitiu ou apenas não quis participar não fez parte
do processo democrático de um país, bem pelo contrário, pois todo cidadão tem
o direito de participar ou não, mesmo que o voto no Brasil seja obrigatório, pois
ao votar ele exprime a sua vontade, ou o seu desejo.

Aqui fica claro que a população, ao exercer seu direito de participação de


forma proativa, demonstra seus direitos e responsabilidades perante os efeitos
da decisão coletiva. Entretanto, também existem quatro condições necessárias
para que se possa instaurar um regime governamental pautado na democracia,
estas serão vistas no quadro a seguir, disposto a seguir.

QUADRO 12 – CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O REGIME DEMOCRÁTICO

CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O REGIME DEMOCRÁTICO

1. Direito dos cidadãos de ESCOLHEREM GOVERNOS por meio de eleições


com a participação de todos os membros adultos da comunidade.

2. ELEIÇÕES regulares, livres, competitivas, abertas e significativas.


3. GARANTIA DE DIREITOS de expressão, reunião e organização, em especial,
de partidos políticos para competir pelo poder.

199
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

4. GARANTIA DE DIREITOS de expressão, reunião e organização, em especial,


de partidos políticos para competir pelo poder.

http://rafaelsilva.over-blog.es/article-objetivo-democracia-iv-124370354.html
FONTE: Adaptado de Moisés (2010, p. 277)

Estas quatro condições mínimas para implantar um regime democrático


são de fundamental importância para que haja a participação democrática
de um povo em prol dos objetivos comuns do próprio povo, uma vez que a
democracia vai muito além da simples representação e de voto, ela se efetiva
e concretiza-se com a participação, com a competição e a contestação dos
processos pacíficos da busca do poder no Estado Democrático de Direito.

Sucintamente, a figura a seguir apresenta a ampliação da compreensão


do entendimento do significado da democracia, ou seja, o seu conceito ampliado:

FIGURA 12 – CONCEITO AMPLIADO DE DEMOCRACIA

FONTE: A autora

FONTE: PIERITZ, V. L. H. et al. Tópicos Especiais. Indaial: UNIASSELVI, 2015. p. 3-8.

200
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

Conseguiram vislumbrar a importância da democracia como elemento


do comportamento ético jurídico? Esperamos que sim! Ela denota elementos
fundamentais do comportamento humano em sociedade, como também do fazer
profissional dos operadores do direito, sendo que a democracia significa participação
e escolha, ou seja, no âmbito da advocacia temos processos eleitorais, os quais os
advogados possuem o poder de decidir quem os representará junto à Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), em suas seccionais.

Como também, o advogado poderá participar das diversas comissões


internas da OAB, tais como exemplo:

• Comissão da Defesa do Consumidor.


• Comissão da Diversidade Sexual e Gênero.
• Comissão da Moralidade Pública.
• Comissão da Mulher Advogada.
• Comissão de Advocacia Pública
• Comissão de Assuntos da Saúde.
• Comissão de Direito Notarial, Registral e de Registros Públicos.
• Comissão de Direito Aduaneiro.
• Comissão de Direito de Família, Criança, Adolescente e Sucessões.
• Comissão de Direito Desportivo.
• Comissão de Direito do Trabalho.
• Comissão de Direito e Tecnologia.
• Comissão de Direito Empresarial
• Comissão de Direito Previdenciário
• Comissão de Direito Sistêmico.
• Comissão de Direito Tributário.
• Comissão de Direitos Humanos.
• Comissão de Ensino Jurídico.
• Comissão de Esportes.
• Comissão de Eventos.
• Comissão de Fiscalização.
• Comissão de Mediação e Arbitragem.
• Comissão de Prerrogativas, Defesa e Assistência.
• Comissão de Segurança Pública.
• Comissão do Jovem Advogado.
• Comissão do Meio Ambiente e Planejamento Urbano.
• Comissão dos Idosos.
• Comissão OAB Cidadã.
• Comissão Provisória da Revista Jurídica.

Essas comissões discutem e analisam os casos concretos e legislações


pertinentes a cada área, e a participação dos advogados nessas comissões é
fundamental para o processo democrático, analítico e decisivo da categoria
profissional.

201
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

LEITURA COMPLEMENTAR

BOA-FÉ E PROCESSO – PRINCÍPIOS ÉTICOS NA REPRESSÃO À


LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ – PAPEL DO JUIZ

Humberto Theodoro Júnior

1 DIREITO E MORAL

Na vida em grupo, o homem não se mantém e desenvolve senão em


sociedade, a observância de certos comportamentos de convivência, é uma
necessidade intuitiva, que dispensa demonstração.

O estado é a forma mais sofisticada e mais enérgica de estabelecer o


programa de organização da vida comunitária. A lei, como comando imperativo,
é o instrumento de que se vale o sistema estatal para traçar as regras a serem
observadas pelos componentes da sociedade organizada, e para estabelecer as
sanções que servirão para conduzir os destinatários a não transgredi-las.

Antes, porém, que o Estado se manifeste a própria sociedade, graças à


razão pura e simples, estabelece costumes cuja aceitação e observância se dão
independentemente da vontade de alguma autoridade exterior. O sentimento de
cada um e o consenso tácito de todos aprovam esses ditames e censuram suas
infrações por meio da moral.

A palavra moral etimologicamente deriva do latim mos, moris, que


corresponde exatamente ao costume, uso. Estudar, portanto, a moral de um
povo equivale a pesquisar e analisar seus costumes, que obviamente variam, no
tempo e no espaço, assim como entre as diversas categorias sociais que integram
uma mesma comunidade, de sorte que jamais se poderá identificar uma moral
absoluta, definitiva e imutável.

Nesse terreno, o costume aqui respeitado pode ser ali repudiado, sempre
com a mesma veemência. A moral, portanto, joga com valores variáveis e se
relaciona com os costumes históricos de cada sociedade e, portanto, "tem uma
forte carga de subjetividade circunstancial”.

Enquanto a moral atua principalmente na esfera do subjetivismo, o direito


se caracteriza por sua marcante objetividade. Para Kant, a moral nasce da razão e
só por ela se explica, sendo por isso inexplicável à luz da mera observação empírica.
O objeto que constitui o "bem moral" pertence ao campo da subjetividade, do
sentimento, que é insuscetível de delimitação prática. Já para o regramento jurídico,
o objeto cogitado são atos exteriores da vontade, e não aqueles que interiormente
se passaram no subjetivismo do agente antes do exercício da vontade. Enquanto
o campo do direito é facilmente delimitável, o da moral não se submete a limites
objetivos, já que se desenvolve no âmbito do sentimento humano subjetivo.
202
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

A história do direito tem registrado uma constante disputa com a moral.


Da visão ética da humanidade, seria a moral a fonte primária de todas as regras
de comportamento social, as quais o homem encontraria naturalmente por meio
da razão. O direito positivado apenas cuidaria de tutelar os preceitos naturais da
ética, individualizando-os objetivamente nas leis.

O positivismo do século XIX tentou romper todos os liames entre o direito


e a ética, reconhecendo a norma jurídica como o começo e o fim da ciência do
direito. Nenhuma interferência deveria sofrer o jurista de preceitos próprios do
subjetivismo moral.

É claro, contudo, que nunca o homem, mesmo sob influência do mais


exacerbado positivismo, conseguiu liberar-se de sua natureza de ser dotado de valores
subjetivos, valores esses que jamais poderiam ser ignorados no momento de traçar a
regra jurídica e principalmente quando de sua interpretação e aplicação prática.

O que o século XX acabou por assistir foi uma invasão da seara do direito
pelos valores éticos, em todos os quadrantes do ordenamento, desde o direito
público ao privado, com a implantação de categorias novas como o abuso ou desvio
de poder, o abuso de direito e a submissão dos negócios jurídicos aos padrões da
boa-fé, entre outros.

Para a norma puramente jurídica, o que importa é objetivamente o resultado


de determinado comportamento, que a lei aprova ou desaprova, exteriormente.
Para a ética o importante é a finalidade do comportamento, que o agente se prepara
deliberadamente a adotar. É a moral que aprova ou desaprova a função atribuída ao
comportamento. O direito é definitivo e preciso: é lícito ou ilícito o comportamento
enfocado. A moral não é estática nem absoluta. Está sempre aberta a avaliações e
reavaliações, sofrendo constantes impactos da evolução histórica e social. Ainda que
o resultado do comportamento tenha sido alcançado dentro do procedimento traçado
pela ordem jurídica, a moral não se abstém de censurar o agente que, na produção do
efeito legal, tenha se afastado dos padrões e valores prestigiados pelos bons costumes.

O advento do Código Civil brasileiro de 2002 corresponde bem ao


coroamento do processo político-cultural que dominou a mudança de rumos
do direito nos últimos tempos, sepultando o projeto positivista e consagrando,
com veemência, a simbiose do ordenamento jurídico com os valores éticos em
observância no meio onde a lei deve incidir.

A nova codificação – explica o Prof. Miguel Reale – embora cônscia do legado


da escola germânica dos pandectistas e de todo tecnicismo haurido na admirável
experiência do Direito Romano, não pôde deixar de reconhecer, em nossos dias, "a
indeclinável participação dos valores éticos no ordenamento jurídico, sem abandono,
é claro, das conquistas da técnica jurídica, que com aquele deve se compatibilizar".
Daí a opção, frequente, por normas genéricas ou cláusulas gerais, onde o apelo é
direto a valores éticos, "sem a preocupação de excessivo rigorismo conceitual", com o
confessado intuito de "possibilitar a criação de modelos jurídicos hermenêuticos, quer
pelos advogados, quer pelos juízes, para contínua atualização dos preceitos legais".

203
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

É bom registrar que os mais atualizados pensadores do direito de nosso


tempo centram suas indagações na busca de critérios supralegais de valoração,
ora localizados no plano sociológico (ESSER), ora, e mais frequentemente, no
plano ético (DWORKIN, LARENZ, ALEXY). Todas essas modernas tendências,
no entanto, "destacam a importância dos princípios (ou dos valores) no direito, o
fato de as normas (ou regras, como alguns preferem) só puderem ser cabalmente
apreendidas com recurso a princípios (ou valores) que os transcendem".

2 A BOA-FÉ COMO PADRÃO ÉTICO DO MODERNO DIREITO CIVIL

O Código Civil de 2002, fiel ao projeto de seus arquitetos de submeter


os negócios jurídicos ao princípio da eticidade, invoca a conduta ética dos
contratantes, em três circunstâncias diferentes, mas ideologicamente conexas:

a) No Art. 422, estabelece-se a obrigação acessória de agir segundo os princípios


de probidade e boa-fé, independentemente da previsão dessa conduta nas
cláusulas do contrato, das negociações preliminares, ou dos termos ajustados
para a execução e para a responsabilidade pela prestação realizada (função
integrativa da boa-fé objetiva).
b) No Art. 113, estatui-se que “os negócios jurídicos devem ser interpretados
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração” (função interpretativa
da boa-fé objetiva).
c) No Art. 187, reprime-se, como ato ilícito, a conduta do titular de um direito,
que, no exercê-lo, “excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes” (função limitativa
da boa-fé objetiva, como meio de controlar o exercício do direito em busca de
impedir ou sancionar o abuso do direito). Sendo ato ilícito, o abuso de direito,
quando este se configurar, o princípio da boa-fé conduzirá à nulidade, total ou
parcial, do contrato, sem prejuízo da reparação do dano sofrido pela vítima.

Em todas essas diversas situações a boa-fé objetiva cuida do disciplinamento


ético do comportamento dos contratantes, um em relação ao outro. O que se pode
afirmar é que as partes, tanto nas tratativas (responsabilidade pré-contratual)
como na consumação e na execução (responsabilidade contratual), bem como
na fase posterior de rescaldo do contrato já cumprido (responsabilidade pós-
obrigacional), sujeitam-se aos ditames da boa-fé objetiva como fator basilar da
interpretação do negócio e da conduta negocial. “Dessa forma, avalia-se sob a
boa-fé objetiva tanto a responsabilidade pré-contratual, como a responsabilidade
contratual e a pós-contratual. Em todas essas situações sobreleva-se a atividade
do juiz na aplicação do direito ao caso concreto”, porque não encontrará apenas
na norma legal o tipo normativo a aplicar ao caso concreto, mas terá de descer
até aos usos e costumes locais para definir a eticidade e, consequentemente, a
licitude do comportamento dos contratantes, e ainda para bem definir o conteúdo
da relação obrigacional.

204
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

3 A PRESENÇA DOS VALORES ÉTICOS EM TODO O SISTEMA NORMATIVO


DO DIREITO

A recuperação dos fundamentos éticos no campo dominado pelo direito


não se deu apenas em um ou outro segmento do ordenamento jurídico. Todo o
direito contemporâneo foi permeado pelos valores morais, a começar, obviamente,
da macroestrutura constitucional.

Já em seu preâmbulo, nossa Constituição proclama com toda ênfase que


a “República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito
destinado a assegurar, o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna plurarista e sem preconceitos".

No texto, a Carta explicita seus "princípios fundamentais", neles fazendo


constar "a dignidade da pessoa humana" (Art. 1º, III) e a construção de "uma
sociedade livre, justa e solidária" (Art. 3º, I).

Valores éticos, como justiça, solidariedade e dignidade da pessoa humana,


na ordem constitucional são, entre outros, os fundamentos do Estado Social de
que se constitui a República Federativa do Brasil.

O posicionamento da Carta Magna de 1988, destarte, é de grande vinculação


com os princípios éticos e com o aspecto moral em todos os atos, sejam dos particulares
ou do poder público, sejam da ordem econômica ou social, sejam da ordem política.
O ordenamento infraconstitucional, por conseguinte, há de conformar seus preceitos
a essa mesma orientação, e há de ser interpretado sob inspiração, desses mesmos
valores, sob pena de afronta à Carta Magna.

Fácil é detectar-se na ideologia de nossa Constituição o propósito de


implantar o Estado Democrático de Direito, a partir de conceitos éticos como o
de que "a lei não deve ser apenas o fruto de uma vontade captada no órgão de
representação popular, mas deve tender à realização da justiça. Em outras palavras,
a lei passa a ser identificada não apenas pelo seu processo formal de elaboração,
mas também pelo seu conteúdo".

Na organização dos serviços da Administração Pública, da qual não


há que se excluir o serviço desempenhado pelos organismos jurisdicionais, a
Constituição entronizou, de forma explícita, o princípio da moralidade (Art. 37).
E ao traçar, especificamente, os fundamentos da organização da magistratura,
ressaltou as garantias necessárias para assegurar a independência, imparcialidade
e confiabilidade dos juízes, no desempenho da função de fazer justiça (Art. 95).
Quanto ao modus faciendi de pacificar os litígios, a garantia do devido processo
legal foi concebida como direito fundamental (Art. 5º, LIV), do qual participa,
não apenas a segurança dos ritos legais, mas também a garantia da sentença justa
(devido processo em sentido material).

205
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

É importante destacar que a concepção de democracia, há um tempo liberal


e solidária, a que chegou a civilização ocidental contemporânea, busca o lineamento
do Estado Justo, sob a forma de democracia social, na qual "las personas informadas,
participativas, puedan autorrealizarse con dignidad".

Não podem, em tal quadra histórica, as leis processuais serem objeto


de indiferença ética, nem muito menos de hermenêutica e aplicação que não
correspondam aos propósitos ideológicos de acesso à justiça por meios e com
resultados efetivamente justos.

“El sentimiento vaporoso de la Justicia há dado lugar en la gente a que se


aprehenda e interiorice como un valor que con los de la libertad, la seguridad y la
solidariedad diseñan un nuevo perfil – nada mediocre y chabacano – que marca la edad
inmediata del Derecho. Cualquier posición que, por insolidaria y egoísta, altere o impida
el equilibrio tolerable de la libertad con la igualdad, es juzgado como incompatible con los
Derechos Humanos. Un proceso judicial (o arbitral) que violente o menoscabe los hitos
que jalonan las conquistas, será por ende evaluado como que está en contraste con él, que
se divorcia de sus metas frustrando los fines de hacer justicia en concreto.

Todo ello le hace bien al hombre de derecho, pues tan serenas y estimulantes
lecciones del pasado y del derecho comparado muestran a las claras cómo es imprescindible
asociar la teoría del proceso justo a las consecuencias positivas que de él deben derivarse
inevitablemente”.

A Constituição brasileira, inserindo-se no movimento global de nosso


tempo, exprime a essência da ideologia que a inspira no seu Preâmbulo, em que se
proclama o propósito de “instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar
o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social...”.

Esse destaque ideológico da justiça prestigiada como um dos valores


supremos da nação, visa, no campo da prestação jurisdicional, a consagrar, de
maneira estável e bem determinada, os fundamentos éticos do processo. Não
se permite, mais, portanto, que os procedimentos judiciais sejam tratados como
simples instrumentos de justiça formal, mas, sim, como uma garantia muito mais
ampla de justiça substancial.

A garantia fundamental não é, assim, de um procedimento devido (correto,


regular no plano formal), mas, sobretudo, “un processo che sia intrinsecamente equo
e giusto, secondo i parametri etico-morali accettati dal comune sentimento degli uomini
liberi di qualsiasi epoca e Paese, in quanto si riveli capace di realizzare una giustizia
veramente imparziale, fondata sulla natura e sulla ragione” .

O que é nuclear no processo de hoje é a controvérsia a resolver e o método


instrumental para solucioná-la, que haverá de assegurar, sempre, “a solução
mais justa e útil”. Esse objetivo do processo, dentro do atual Estado Democrático

206
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

de Direito, não pode, de maneira alguma, tolerar o abuso de direito processual.


Nenhuma forma de má-fé é admissível, por parte dos sujeitos do processo, se o
modelo ideológico constitucional foi plasmado e endereçado a conferir “o grau
máximo de acatamento moral das formas de tutela judiciária e das estruturas
publicísticas, por meio das quais a justiça é administrada”.

A procrastinação maliciosa, a infidelidade à verdade, o dolo, a fraude,


e toda e qualquer manifestação de má-fé ou temeridade, praticados em juízo,
conspurcam o objetivo do processo moderno no seu compromisso institucional
de buscar e realizar resultados coerentes com os valores de “equidade substancial
e de justiça procedimental, consagrados pelas normas constitucionais”.

O processo judicial, enfim, tem muito de jogo, competição. Nessa disputa, é


claro que “a habilidade é permitida, mas não a trapaça”. Daí a imposição do Código
de Processo Civil brasileiro de “deveres éticos das partes e dos procuradores” e a
punição severa às suas infrações.

4 A BOA-FÉ NO ÂMBITO DO PROCESSO CIVIL

Na garantia do devido processo legal, que a Carta brasileira arrola entre os


direitos fundamentais, resta ínsita a função atribuída ao Legislativo e ao Poder Judiciário
de proporcionar às partes um remédio apto a proteger as liberdades compatíveis com
as conquistas do humanismo solidarista do Estado Democrático de Direito.

Inspirada nos valores éticos consagrados pela Constituição, a ideia de devido


processo legal veicula a noção de instrumento apto a proporcionar o verdadeiro
acesso à justiça, ou seja, a de um processo aparelhado para assegurar "a obtenção dos
resultados justos que dele é lícito esperar".

Nesse compasso, o Código de Processo Civil reprime de várias maneiras, a má-


fé processual, de forma a valorizar o comportamento ético dos sujeitos do processo e a
eliminar a pior mácula moral que uma atividade de pacificação social comprometida
com a justiça poderia apresentar: a mentira e, consequentemente, a injustiça.

5 GARANTIAS MÍNIMAS DO "PROCESSO JUSTO"

O quadro atual do direito processual, em todo o mundo ocidental, como


retrata Morelo, vive "la nueva edad de las garantías jurisdiccinales", no qual se reforçam
a autonomia e independência do juiz, e se lhe confia um papel mais ativo, tanto
para comandar a marcha do processo e a instrução probatória, como para zelar pela
dignidade da justiça e pelo comportamento ético de todos quantos intervenham na
atividade processual.

Com esse enfoque, compromete-se a jurisdição com a satisfação plena do


direito individual, por meio daquilo que se convencionou denominar de "tutela
jurisdicional efetiva", mas tudo apoiado em princípios que disciplinam as funções, os
poderes e os deveres do juiz com acentuada qualificação ético-moral e deontológica.

207
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

Do lado das partes, seus poderes e deveres se estabelecem sob a mesma


preocupação ética observada na demarcação do papel confiado ao juiz para implantar
o processo justo. O processo não é produto apenas da atividade do juiz. No sistema
democrático de processo, o resultado da prestação jurisdicional é gerado pelo esforço
conjunto de todos os sujeitos processuais, inclusive, pois, do autor e do réu. Não
basta que o juiz se comporte eticamente. O mesmo padrão de conduta há de ser
observado pelas partes e seus advogados. Já advertia Platão: "não pode haver justiça
sem homens justos".

O papel do juiz é incontestavelmente de grande relevância ética, já que, pela


própria função pública desempenhada, na visão da sociedade, deve personificar
o justo, isto é, "a própria justiça enquanto valor". É dele, em primeiro lugar, "que
se espera maior rigor no comportamento, e, portanto, a estrita observância não só
das normas éticas que direcionam a atividade jurisdicional, mas também daquelas
morais que informam a sua conduta enquanto pessoa".

Tão importante como o do juiz é, no processo ético-democrático, o papel


dos advogados, quando defendem os interesses das partes em juízo. É claro que,
tendo a seu cargo um múnus público, que a Constituição qualifica de indispensável
para a administração da justiça (CF, Art. 133), não podem se entregar ao debate
processual como se tratasse de uma luta em que "vale tudo" para conseguir a vitória
de seu cliente. Numa sociedade organizada institucionalmente sob a inspiração dos
valores morais e atuando como agente de um processo que deve ser justo como quer
a garantia constitucional, os advogados somente podem defender seus constituintes
mediante uma atuação ética condizente, portanto, com os fins públicos que
informam sua profissão. Seria um contrassenso como destaca Pinheiro Carneiro,
"admitir e qualificar alguém como essencial para um determinado fim e ao mesmo
tempo permitir que este alguém pudesse ter um comportamento que colocasse em
risco tal desiderato".

Das garantias mínimas de um processo justo, idealizado pela ciência


processual de nossos tempos, Comoglio extrai as seguintes consequências, tendo
em consideração a valorização do papel ativo confiado ao juiz:

a) la "moralización" del proceso, en sus diversos componentes éticos y deontológicos,


constituye, hoy más que nunca, el eje esencial del fair trial o, si se prefere, del 'proceso
equo e giusto'.
b) El control, bajo el perfil ético y deontológico, de los comportamientos de los sujetos
procesales en el ejercicio de sus poderes, ingresa en el área de inderogabilidad del llamado
'orden público procesal', legitimando en tal modo la subsistencia de atribuciones y de
intervenciones ex officio del juez.
c) El rol activo de este último encuentra una justificación suplementaria, de carácter
político y constitucional, en los sistemas judiciales en los que no vengan debilitados,
sino más bien se vengan consolidando, el sentido de la confianza y las garantías de
credibilidad del aparato jurisdiccional público".

208
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

No âmbito do direito brasileiro, essa esfera ética e política do processo


civil já se acha plenamente consagrada pelo direito positivo, não só quanto aos
deveres de lealdade e correção das partes, como também em relação aos poderes
de comando e as responsabilidades institucionais do juiz, para reprimir a litigância
de má-fé e assegurar a igualdade, a equidade e a economia processual, em busca
da efetividade da justa prestação jurisdicional.

6 O ABUSO DE DIREITO COMO MANIFESTAÇÃO DE QUEBRA DA BOA-


FÉ NO PROCESSO CIVIL

O laboratório em que se forjou a tese do abuso de direito foi


predominantemente o direito civil, onde se logrou primeiro opor os valores éticos
à frieza das regras legais endeusadas pelo positivismo.

Na aplicação das normas do direito privado, formou-se, na doutrina e


jurisprudência, a convicção de que a ordem jurídica somente tolera o exercício
regular dos direitos e, por isso, repele o seu exercício abusivo; e como tal se
considera o que contrarie os fins que a lei levou em conta para estabelecê-los, ou o
que "exceda aos limites impostos pela boa-fé, pela moral e pelos bons costumes".

A teoria do abuso do direito se mostra como uma reação contra a rigidez das
disposições legais e sua aplicação mecânica, alheada dos valores éticos consagrados
pela moral e pelos costumes. Por seu intermédio confere-se flexibilidade ao
ordenamento jurídico, adaptando-o à realidade social, política e econômica.

O atual Código Civil brasileiro, quando qualifica o abuso do direito como


ato ilícito (Art. 187), toma em consideração justamente a conduta antifuncional,
isto é, aquela que in concreto representa um desvio dos fins sociais, econômicos e
éticos da lei. Enfim, reprime-se, na ordem material, o abuso do direito porque todo
o ordenamento jurídico se acha comprometido, a um só tempo, com uma dupla
perspectiva: a) em primeiro lugar, a própria ordem jurídica revela seus propósitos,
suas metas, seu sistema; b) em segundo lugar, a ordem jurídica tem de relacionar-
se com a perspectiva ética inafastável do comportamento humano em sociedade.

Dessa maneira, o abuso do direito tanto ocorre quando o agente o exerce


contrariando o objeto da instituição jurídica, seu espírito e sua finalidade, como
quando descumpre a necessária subordinação da ordem jurídica à ordem
moral. Fazendo eco às ideias plasmadas no campo do direito material, logo o
direito processual civil tratou de amoldar-se aos ditames éticos. O processo, de
instrumento de realização da vontade concreta da lei passou a ser visto como
instrumento destinado a proporcionar a "justa composição dos litígios", tendo os
códigos de maneira geral reforçado os poderes do juiz e sancionado as condutas
processuais abusivas e antiéticas.

O exemplo mais veemente desses novos rumos do direito processual foi


dado pela recente reforma da Constituição italiana, cujo Art. 111, amoldado às
várias convenções internacionais que cogitam do tema, proclama que "a jurisdição
atua mediante um processo justo e equânime regulado pela lei".
209
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

No entanto, é bom advertir que os padrões éticos a serem prestigiados hão


de ser pesquisados no meio social. Não importa a ideologia e as convicções do
juiz. No moderno processo justo, os valores fundamentais a preservar são aqueles
consagrados pela ordem jurídica e pelos costumes (moral) segundo a consciência
mediana da sociedade. A ética, a que o juiz se subordina não é aquela ditada por seu
refinamento espiritual, mas as "premissas ético-morais, sob as quais se enraízam as
tradições socioculturais", do meio onde a tutela jurisdicional se exerce .

7 ETICIDADE E ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

A convivência da ordem jurídica com os valores éticos não apaga a força


da lei, na qual se retrata a soberania estatal e por meio da qual se preserva a
liberdade dos cidadãos, na gestão de seus interesses legítimos. A lei é a um
só tempo, a garantia dos direitos subjetivos e o escudo contra a prepotência e
autoritarismo dos agentes do Poder Público. O direito não está só na norma
positivada pelo legislador, mas nela está sempre presente. Podem e devem ser
acolhidas outras fontes jurídicas além dos preceitos da lei. Estes, contudo, não
poderão ser ignorados pelos tribunais.

O reconhecimento de função social e política à prestação jurisdicional não


libera o juiz do dever de submissão à lei, fundamento básico do Estado de Direito
(C.F., art. 5º, II). Não só ao preceito do direito positivo – é certo – mas também
aos princípios que delineiam o sistema e o espírito do ordenamento jurídico, está
jungido o juiz, quando interpreta e aplica a lei e até mesmo quando preenche suas
lacunas. Adotado um valor (ou uma teoria) pelo legislador, o intérprete, ainda
que discorde cientificamente da orientação legal não pode negar, por razões
pessoais, a opção do poder competente para legislar .

O juiz – é bem verdade – não é um escravo da literalidade da fórmula da


lei. Para definir seu sentido pode investigar-lhe o espírito e identificar a função
que a norma tem de desempenhar social e politicamente. Não lhe cabe, todavia,
desprezá-la, alterá-la ou revogá-la, para substituí-la por outra criada para satisfazer
concepção pessoal. O justo que lhe toca realizar é aquele que se encontra agasalhado
na norma positivada, harmonizada com os princípios do sistema e com os valores
éticos em jogo no momento de concretização da vontade da lei.

Diante do perigo evidente representado pela corrente daqueles que


preconizam o "direito livre, qual seja o que atribui ao juiz o poder e até o dever
de "julgar com a lei, sem a lei ou contra a lei", MONIZ DE ARAGÃO reage
energicamente: "se a corrente a observar for a que prega a liberdade de julgar com a
lei, sem a lei ou contra a lei, declaradamente não a sigo". Além de ser "perigosíssimo
e destoante da concepção do Estado moderno, sobretudo inconciliável com o
regime de freios e contrapesos", que inspira o regime constitucional brasileiro, a
teoria do direito livre de GENY e KANTAROWICZ "pode levar a consequências
imprevisíveis, até mesmo desastrosas, como aconteceu mais recentemente com a
manipulação das normas e dos princípios, entre comunistas, nazistas, fascistas,
seus respectivos seguidores e satélites" .

210
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

São memoráveis as palavras do Profº MONIZ DE ARAGÃO com que


repele a injusta acusação dos que vêm só anacronismo e positivismo na submissão
à autoridade da lei:

"...Observar a lei não é, não pode ser, concepção ultrapassada"... "O Poder
Judiciário será exercido por tribunais independentes, apenas à lei subordinados"
("antiga norma jurídica alemã, inscrita no primeiro artigo da Lei de Organização
dos Tribunais, de 1877")...

"O respeito à lei, a submissão à lei, como diz a apontada regra, é a segurança
máxima a proteger a sociedade, garantia em que o povo alemão sempre teve
orgulho de poder confiar, como atestam os versos famosos do poeta FRANÇOIS
ANDRIEUX, no episódio do bravo moleiro Sans-Souci, que enfrentou altivamente
o todo poderoso rei da Prússia, porque confiava nos juízes de Berlim".

Sem dúvida os juízes contribuem concretamente para completar e aperfeiçoar


os preceitos editados pelos legisladores. A nação – observa com propriedade o
Prof. MONIZ DE ARAGÃO – "quer juízes que sejam tão sensíveis como os grandes
intérpretes da música, que seguem obedientemente a partitura – não a violam, não
a ultrapassam, não a abandonam – mas a cada execução superam-se a si mesmos
e revelam novos e maravilhosos sons, como somente os grandes virtuoses são
capazes de fazer para o fascínio dos ouvintes. Mas há um momento culminante na
vida do juiz em que deve compulsoriamente tornar-se também compositor. É o que
sucede quando a lei é omissa, mas nem aí, como poderia parecer ao leigo, estará ele
desvinculado da lei e da obediência que lhe deve" .

Ao preencher as lacunas da lei, o juiz age como o artífice que tem de


concluir a obra inacabada de outro, ou do construtor que se encarrega de restaurar
a edificação danificada. "O estilo do edifício é tudo. As suas lacunas devem ser
preenchidas e as suas mutilações restauradas na linha de prolongamento de
sua traça, como se faria se alguém quisesse concluir as 'capelas imperfeitas' do
Mosteiro da Batalha".

Daí a síntese, do PROF. MONIZ DE ARAGÃO: "Eis aí, ainda aí, a


submissão à lei; não ao texto, que por força da lacuna não existe, mas ao sistema,
ao ordenamento em que está inserida. Não a completaria, nem a realizaria, quem a
título de sanar-lhe as omissões, se desviasse de suas linhas mestras".

Sim, a interpretação do juiz não deve ser servil à literalidade da lei,


porque nela influem razões axiológicas inevitáveis no ato de concretizar o
preceito abstrato traçado pelo legislador. Para tanto, não violará a lei, mas fiel a
ela, desvendar-lhe-á o sentido justo e adequado, em conformidade com preceitos
de hermenêutica que o próprio direito consagra.

É, nesse plano, que a moral interfere na aplicação dos preceitos jurídicos.


Dá-lhes harmonia e aprimoramento, no rumo de realizar a justiça, sem, entretanto,
revogá-los ou desprezá-los. Outorga-lhes mais sentido e maior virtude, tornando-
os mais justos e equânimes.
211
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

8 LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

O Código de Processo Civil, no tratamento do problema ético no exercício


dos poderes e faculdades processuais, enumera os deveres dos litigantes e os
controla por meio dos poderes conferidos ao juiz.

Segundo o Art. 14, são deveres das partes e seus procuradores:


I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - proceder com lealdade e boa-fé;
III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídos
de fundamento;
IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração
ou defesa do direito;
V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços
à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.

Em correspondência a esses deveres o art. 17 qualifica como litigante de


má-fé a parte que:
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada no andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidentes manifestamente infundados;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Por sua vez, ao juiz o Art. 125 confere poderes para:


I - assegurar às partes igualdade de tratamento;
II - velar pela rápida solução do litígio;
III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça ;
IV - tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.

Esse conjunto normativo se acha assentado sobre conceitos e noções


genéricas e vagas, como sói acontecer com os preceitos éticos em geral. Noções
como "lealdade e boa-fé", "resistência injustificada", procedimento "temerário"
etc. não correspondem a normas precisas, mas a regras principiológicas, que
mais se apresentam como parâmetros do que como comandos normativos. Não
podem ser aplicadas de imediato ou automaticamente, pois reclamam do juiz uma
atividade complementar para preencher a regra legal aberta. Para adequá-las aos
casos concretos, terá o aplicador de se remontar a valores éticos que não se acham
definidos na lei e que, por isso, terão de ser pesquisados no terreno ético-moral,
segundo os padrões dos costumes e da equidade.

Em nome da lealdade e boa-fé, deverá o juiz impedir genericamente a


fraude processual, a colusão e qualquer conduta antiética e procrastinatória.
Não há uma tipicidade para as infrações morais. Tal como preconiza o Código
212
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS ÉTICOS COMUNS ÀS CARREIRAS JURÍDICAS

Processual Modelo Ibero-americano, os atos processuais, dentro de uma cláusula


geral, "deberán ser lícitos, pertinentes y útiles. Habrán de ser realizados con veracidad y
buena fe y tener por causa un interés legítimo" (Art. 73º).

A delimitação dessas condutas ilícitas, em relação a todos os sujeitos


vinculados ao processo (órgão judicial, auxiliares do juízo, partes e advogados,
intervenientes eventuais etc.) se encontra submetida ao princípio sintetizador da boa-
fé e lealdade, que pressupõe o respeito a um determinado standard de moralidade
que se identifica com a dignidade da justiça. "Este último conceito representa o valor
último a que se devem adequar as condutas dentro do processo” .

A responsabilidade pela adequada repressão à má-fé processual e pela


necessária valorização do processo justo repousa muito mais sobre o julgador
do que sobre o legislador. Este pôs nas mãos daqueles poderosos instrumentos
éticos para moralizar o processo e tornar a prestação jurisdicional compatível
com os anseios do Estado Social e Democrático. Do preparo e do esforço dos
magistrados depende, portanto, a implantação efetiva do processo ético idealizado
pela Constituição e normatizado pelo Código de Processo Civil. É claro que este
desiderato pode ser grandemente favorecido se as partes e advogados cumprirem
espontaneamente seus deveres éticos durante o desenvolvimento do processo. A
responsabilidade maior, porém, é do órgão jurisdicional pela soma de poderes
com que conta para reprimir a litigância de má-fé e imprimir ao processo o ritmo
e o feitio conforme à garantia constitucional de justiça.

9 CONCLUSÕES

As teorias que orientam o processo jurisdicional preconizam os valores éticos


da justiça e solidariedade como norteadores da garantia do acesso à justiça (CF, Art.
5º, XXXV) e do devido processo legal (CF, Art. 5º, LIV). Ditos valores conferem à
tutela jurisdicional o seu campo ético, a que há de se sujeitar todo o desenvolvimento
do processo, servindo de orientação para o comportamento de todos os que atuam
no cenário judicial, de modo a torná-los solidários na realização da justiça.

Mesmo quando posicionados em pontos antagônicos, como se dá entre as


partes e seus advogados, a solidariedade exigida pelo princípio ético de justiça,
que impõe a observância do dever de veracidade e, sobretudo, de lealdade e boa-
fé, deve presidir a regra do jogo processual. Do lado do juiz, esse vínculo moral de
solidariedade, o levará a dirigir o processo "sob o signo da igualdade, garantindo
a liberdade das partes, minimizando as diferenças, levando o processo, sempre
que possível e prioritariamente, a uma decisão rápida e justa".

Essa moderna visão da atividade processual valorizada pela solidariedade


decorrente dos valores éticos da boa-fé e lealdade, e do compromisso com o
justo, dá maior dignidade ao processo, afastando-o do papel de simples sucessão
fria de atos e documentos, para transformá-lo em algo palpitante de vida, de
anseios, angústias e esperanças. Dessa maneira, "o processo passa a congregar
dois aspectos que se fundem: o plano técnico e o humano ou ético, não para

213
UNIDADE 2 — A ÉTICA JURÍDICA

criar normas, mas para desvendá-las, descobri-las, potenciá-las, aprimorá-las,


interpretando-as na linha dos escopos jurídicos, sociais e políticos do processo
moderno, que informam o Estado Democrático de Direito. Neste passo a ética
passa a representar um valor indispensável na busca da construção da justiça".

Um último registro merece ser reiterado: a crise da justiça e as dificuldades


de implementar o ideal do processo justo não se mostram como problema
normativo, embora muitos aperfeiçoamentos sempre se possam introduzir nas
leis sobre procedimentos. A cruzada rumo àquele ideal deverá travar-se no campo
operacional e administrativo, aprimorando o preparo técnico-funcional dos agentes
do judiciário e na adoção de sistemas de organização e gerenciamento dos serviços
forenses compatíveis com a ciência da administração e do controle de qualidade.

Num momento em que tanto se fala na reforma do judiciário e tanto se


preocupa com a revisão das leis processuais, soa preocupante a completa ausência
de projetos voltados para a modernização e racionalização dos serviços da justiça.

"Permanece-se" – como adverte LUCIANA DRIMEL DIAS – "praticamente


adicto a esta idéia e ideologia" (a da incessante criação e recriação legislativa),
como se fosse a única opção reformadora; quando o mundo atual está cansado
do mote reformista em tal sentido, e ciente de que os fatores essenciais em que
se apoia a prestação jurisdicional são "homens (sociedade) e estruturas". Daí
porque se deve ir além das modificações legislativas, para "perceber o caminho
que se está trilhando", de forma global, ou seja, conscientizando-se de todo o
ambiente circundante, e olhando "para frente, para trás, para os lados, para fora
mas também para si mesmo e com coragem para acreditar e agir" .

É hora de os operadores da justiça aceitarem colocá-la dentro de um prisma


gerencial, que, de forma alguma, se deve considerar menor e menos significativo
que o puro exame das questões de direito. Urge quebrar o casulo normativo-legal,
para afastar-se do plano teórico e penetrar o mundo do senso prático, "com energia
e determinação para alcançar objetivos concretos".

FONTE: Adaptado de THEODORO JÚNIOR, H. Boa-Fé e Processo: princípios éticos na repressão à


litigância de má-fé – Papel do Juiz. Belo Horizonte: Academia Brasileira de Direito Processual Civil,
2004. Disponível em: http://www.abdpc.org.br/artigos/artigo49.htm. Acesso em: 25 nov. 2020.

214
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Um princípio denota uma orientação, uma regra que nos orienta, ou seja, são
as bases normativas que norteiam nosso comportamento.

• A cidadania é o exercício da liberdade de participar ou não dos processos de


tomada de decisão pública, ensejando um posicionamento ético do cidadão
perante o caso concreto.

• A cidadania expressa o exercício e o acesso aos direitos e deveres socialmente


constituídos, ou seja, a participação ativa ou passiva nos espaços de decisão
pública, em que o cidadão, que nesse caso é o profissional do direito, possui o
direito de participar dos espaços de tomada de decisão.

• A liberdade decisória é fundamental na práxis profissional dos operadores


do direito, pois assim, tem-se o livre-arbítrio em decidir que rumo ou posição
tomar junto ao caso concreto que se está trabalhando.

• A liberdade humana é basilar para o próprio desenvolvimento humano


em sociedade, pois todos os seres humanos possuem intrinsicamente a
capacidade de decidir o que fazer, como também de determinar seu rumo
perante a sociedade em que está inserido.

• A liberdade decisória denota que as pessoas possuem o empoderamento


necessário e discernimento de suas próprias faculdades mentais e
comportamentais para agirem socialmente, ou seja, de fazer ou deixar de
fazer tudo aquilo que está estampado nos preceitos éticos, morais e legais.

• Liberdade é ter o poder de escolha!

• A liberdade na composição humana é uma questão primordial para a própria


sobrevivência humana em sociedade, pois, necessitamos estar o tempo todo
fazendo escolhas.

• No âmbito das carreiras jurídicas não é diferente, pois os operadores de direito


precisam tomar decisões o tempo todo, fazendo escolhas técnicas profissionais
em prol da garantia dos direitos humanos, individuais, políticos e sociais.

• Agir eticamente é agir com liberdade, podendo escolher entre as diversas


alternativas postas pelos princípios ético-morais e normativas legais e
constitucionais.

• As escolhas devem ser realizadas com responsabilidade, pois vivemos em


comunidade, e nossas ações influenciam os outros, que por vezes podem até
prejudicar e gerar dano.
215
• A liberdade é responsabilidade, pois nossas escolhas possuem ações e reações,
que poderão beneficiar ou gerar dano ao outro.

• A democracia denota elementos fundamentais do comportamento humano


em sociedade, como também do fazer profissional dos operadores do direito,
sendo que a democracia significa participação e escolha.

• A democracia no âmbito da advocacia tem processos eleitorais, o qual os


advogados possuem o poder de decidir quem os representará junto a Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), em suas seccionais.

• O advogado poderá participar das diversas comissões internas da OAB.

CHAMADA

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216
AUTOATIVIDADE

1 A democracia é compreendida habitualmente como um processo de escolha


dos nossos representantes legais em todas as esferas, tanto local, municipal,
estadual e federal, no qual a população destas esferas, por meio de seu voto,
seleciona e elege o seu representante para legislar em nome dessa mesma
população. A democracia nada mais é do que um sistema de governo, no qual
o povo governa para sua própria sociedade. Temos então que a democracia
pode ser exercida de duas formas distintas, ela pode ser direta ou indireta.
Com relação aos tipos de democracia, analise as sentenças a seguir:

I- Democracia direta é a qual o povo decide diretamente, por meio de


referendo/plebiscito, se aceita ou não determinadas questões políticas e
administrativas de sua localidade, Estado ou país.
II- Democracia indireta é a qual o povo decide diretamente, por meio de
referendo/plebiscito, se aceita ou não determinadas questões políticas e
administrativas de sua localidade, Estado ou país.
III- Democracia indireta é a qual o povo participa democraticamente, por
meio do voto, elegendo seu representante político, ou seja, uma pessoa
que os represente nas diversas esferas governamentais, para tomar
decisões cabíveis em nome do povo que os elegeu.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

2 A missão do Direito Penal é a proteção aos bens jurídicos. Essa proteção não
é exercida apenas pela prevenção geral (intimidação coletiva) e exercida
pela difusão do temor à sanção penal, mas principalmente através do
contrato ético celebrado entre o Estado e o indivíduo, o qual é convicto da
necessidade da lei penal e crê na justiça desta. Com relação ao Direito Penal,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Direito Penal visa somente legislar sobre as penas devidas pelo


descumprimento das normas morais.
b) ( ) O principal objetivo do Direito Penal não é a tutela atual e concreta dos
bens jurídicos, mas sim a administração da natureza ético-social de
suas leis, o permanente acatamento legal de suas normas.
c) ( ) O principal objetivo do Direito Penal, é a execução tutelar das leis
segundo o Código Civil e moral de um País.
d) ( ) O Direito Penal visa legislar sobre as penas de quem cometeu um crime
ético e moral segundo os costumes da nação.

217
3 A democracia é um direito da população brasileira e ela deve exercer esse
direito de forma participativa e proativa, demonstrando seus direitos e
responsabilidades perante os efeitos da decisão coletiva. Existem quatro
condições necessárias para que se possa instaurar um regime governamental
pautado na democracia. Com relação a essas quatro condições necessárias
citadas, analise as sentenças a seguir:

I- Uma condição necessária para instaurar um regime governamental pautado


na democracia é o direito dos cidadãos de escolherem governos por meio de
eleições com a participação de todos os membros adultos da comunidade.
II- Uma condição necessária para instaurar um regime governamental pautado
na democracia é que as eleições sejam regulares, livres, competitivas,
abertas e significativas.
III- Uma condição necessária para instaurar um regime governamental
pautado na democracia é a garantia de direitos de expressão, reunião e
organização, em especial, de partidos políticos para competir pelo poder.
IV - Uma condição necessária para instaurar um regime governamental
pautado na democracia é o acesso a fontes alternativas de INFORMAÇÃO
sobre a ação de governos e a política em geral.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) Somente a sentença IV está correta.

218
REFERÊNCIAS
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conteúdos éticos para o direito e seu papel na recuperação da crise do ensino
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2008. Disponível em: https://bit.ly/3l7Vbnl. Acesso em: 1º nov. 2020.

BEZERRA, F. L. de O. Ética judicial: a dignidade da pessoa humana e os valores


da verdade, justiça e amor. Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 47, n.
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promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas
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Emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/1994. 35. ed. Brasília: Edições
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BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.
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CÉSPEDES, L.; ROCHA, F. D. Vade Mecum tradicional. 29. ed. São Paulo:
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COMPARATO, F. K. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São


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DICEOLOGIA. In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. 2008. Disponível


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DINIZ, M. H. Dicionário jurídico. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio: o minidicionário da Língua portuguesa. 7. ed.


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219
GOMES, L. F. Caso Polanski: os limites entre a ética e o direito penal. Jornal Carta
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GUIMARÃES, D. T. Dicionário técnico jurídico. 19. ed. São Paulo: Rideel, 2016.

JOHNSON, A. G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica.


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LANGARO, L. L. Curso de deontologia jurídica. 6. ed. São Paulo. Saraiva, 2008.

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LOCATELLI, L. Deontologia jurídica e ética profissional. Web Artigos, 22 jun.


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MASCARENHAS, P. Manual de direito constitucional. 2008. Disponível


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NABAIS, J. C. Solidariedade social, cidadania e direito fiscal. In: GRECO, M. A.;


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NALINI, J. R. Ética geral e profissional. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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PIERITZ, V. L. H. O Código de ética médica. Indaial: Uniasselvi, 2020.

PIERITZ; V. L. H.; BONETTI, J. C. S.; FRANZMANN, N. M. Direitos humanos e


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PIERITZ, V. L. H. et al. Tópicos especiais. Indaial: Uniasselvi, 2015.

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POLIZEL, R. B. B. A ética jurídica nas relações de trabalho. Revista Científica


Semana Acadêmica, Fortaleza, n. 39, ago. 2013. Disponível em: https://bit.
ly/3qyOwnz. Acesso em: 2 nov. 2020.

220
SILVA, D. M. Qual a relação entre a ética e o direito constitucional? 2009.
Disponível em: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2033530/qual-a-relacao-entre-
a-etica-e-o-direito-constitucional-denis-manoel-da-silva. Acesso em: 1º nov. 2020.

SILVA, T. F. A deontologia jurídica e a sua aplicação no âmbito do direito


moderno. Revista Jus Navigandi, 2020. Disponível em: https://jus.com.br/
artigos/86138/a-deontologia-juridica-e-a-sua-aplicacao-no-ambito-do-direito-
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SILVEIRA, R. M. da. A importância da ética no direito e na cidadania. 2018. 37


f. TCC (Bacharelado em Direito) – Faculdade Raízes, Anápolis, 2018. Disponível
em: http://repositorio.aee.edu.br/jspui/bitstream/aee/401/1/RAFAEL%20
MACHADO%20DA%20SILVEIRA.pdf. Acesso em: 1º nov. 2020.

THEODORO JÚNIOR, H. Boa-Fé e Processo - Princípios Éticos na Repressão à


Litigância de Má-Fé - Papel do Juiz. Belo Horizonte: Academia Brasileira de
Direito Processual Civil, 2004. Disponível em: <http://www.abdpc.org.br/
artigos/artigo49.htm>. Acesso em: 25 nov. 2020.

WEBER, T. Ética, direito e moral. Dissertatio Revista de Filosofia, Pelotas, v. 41,


2015. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/dissertatio/
article/view/8511. Acesso em: 1º nov. 2020.

221
222
UNIDADE 3 —

A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL


DOS OPERADORES DO DIREITO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender a importância da ética para a formação do estudante de direito;


• compreender o código de ética e disciplina da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB);
• ampliar a percepção acerca da ética na advocacia;
• compreender as regras deontológicas fundamentais aplicadas ao direito;
• compreender as questões básicas relacionadas ao processo ético disciplinar,
concernentes ao advogado conforme a OAB;
• conhecer os pontos básicos dos operadores do direito (magistratura,
defensoria pública, promotores, entre outros).
• conhecer os conceitos de Compliance e sua aplicação.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – OAB E O ESTATUTO DA OAB

TÓPICO 2 – CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

TÓPICO 3 – TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

223
224
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

OAB E O ESTATUTO DA OAB

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, nesta última unidade, aprenderemos sobre a ética nos
meandros profissionais do advogado e dos operadores de direito, começaremos
com uma análise do Código de Ética do Advogado e também falaremos sobre a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Enquanto nas unidades anteriores o foco era filosófico e conceitual, agora


iremos nos debruçar nas análises dos ditames dos artigos que compõem o Código
de Ética do Advogado (CED), trabalhando em uma visão mais de comentário
jurídico, baseado nos exemplos de livros da área jurídica.

FIGURA 1 – LIVRO COMENTÁRIOS AO CÓDIGO CIVIL

FONTE: <https://bit.ly/3l98iEM>. Acesso em: 23 nov. 2020.

NOTA

Prezado acadêmico, quando falamos em direito e suas literaturas, é comum


ocorrer a publicação das leis puras, como exemplo temos o Vade Mecum, que é o
compêndio das leis nacionais que são atualizadas anualmente, temos também os livros que
tratam de autores comentando artigos de leis específicas, trazendo diversas correlações e
jurisprudências de suporte a sua interpretação legal.

225
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

FIGURA – VADE MECUM

FONTE:https://bit.ly/30AR0qY. Acesso em: 27 fev 2021.

*Vale lembrar que o Vade Mecum é atualizado constantemente, pelo menos uma vez
por ano. Fique ligado nas atualizações das legislações!

O estudo do direito se mostra como o pilar de diversas profissões como os


juízes em todas as instâncias, os promotores de justiça, os notariais, entre outras,
por isso, temos tão forte o estudo da ética, pois ela baseia a ação dos advogados e
dos operadores de direito.

Outro ponto importante está na própria OAB, que é o baluarte de orientação


para os advogados do Brasil e tem se mostrado um forte apoio à classe profissional.
Por isso mesmo começaremos a estudar sobre a OAB e seu estatuto.

FIGURA 2 – ÉTICA E O ADVOGADO

FONTE: <https://varginhadigital.com.br/wp-content/uploads/2019/09/estagio_direito.jpg>.
Acesso em: 23 nov. 2020.

226
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

2 OAB E SEU ESTATUTO


A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) tem uma atuação constante no
cenário nacional, representando os advogados do Brasil, assim como tem agido em
situações de comoção nacional ou questões de grande relevância para o povo brasileiro.

A história da OAB também é bastante rica de detalhes e os principais


pontos que destacamos conforme descrito em OAB (2021) são:

• A Ordem tem a sua origem no ano de1843 através da criação do Instituto dos
Advogados do Brasil.
• Getúlio Vargas, em seu Decreto nº 19.408, de 18 de novembro de 1930, cria a OAB.
• A criação da OAB, um pouco depois da Revolução de 30, tem como foco a
instituição representar os interesses dos advogados.
• Com a criação da OAB, desenvolveu-se toda a regulamentação ao exercício
profissional do advogado e a sua formação universitária.
• Atualmente, exige-se o exame de ordem da OAB para a obtenção de licença
para advogar.
• Atualmente, temos a Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994 que dispõe sobre o
Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (BRASIL, 1994).
• Sua estrutura básica, conforme estipulado pela Lei nº 8.906, de 4 de julho de
1994, é assim composta:
o Conselho Federal, com sede em Brasília, é o órgão máximo da OAB.
o Conselhos Seccionais, sediados nos estados.
o Subseções, órgãos regionais da OAB.
o Caixas de Assistência dos Advogados (Lei nº 8.906/94, Art. 45).

• Participou do processo de impeachment de Fernando Collor de Mello em


1992 e apoiou o processo de impeachment de Dilma Rousseff em 2016.

DICAS

Prezado acadêmico, se você quiser conhecer mais sobre a história da OAB,


recomendamos acessar o sítio da instituição, o qual trará detalhados os principais fatos
históricos da instituição.

FIGURA – HISTÓRIA DA OAB

227
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

FONTE: <https://www.oab.org.br/historiaoab/index_menu.htm>. Acesso em: 24 nov. 2020.

Outra dica muito importante para você que deseja fazer o exame da OAB:
Geralmente, no exame caem até oito questões relacionadas ao Estatuto da Advocacia e a
Ordem dos Advogados do Brasil, Lei nº 8.906/1994 e o Código de Ética Profissional, por isso,
adentraremos mais nesses temas durante este tópico, mas ainda assim recomendamos a leitura
completa tanto da Lei nº 8.906/1994 quanto do Código de Ética do Advogado. Na íntegra em:

Lei nº 8.906/94
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm.

Código de Ética Profissional


https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/codigodeetica.pdf.

Boa leitura!!!

Vamos, agora, conhecer a Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, que dispõe


sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
faremos uma análise dos seus principais artigos na sequência.

FIGURA 3 – LEI Nº 8.906, DE 4 DE JULHO DE 1994

FONTE: Brasil (1994)

228
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

Assim, nós temos que o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados


do Brasil, Lei nº 8.906/1994, é o documento que promulga e regulamenta todos os
ditames legais para o exercício da profissão do advogado no Brasil, apresentando
os requisitos para advogar, descreve a estrutura da OAB, versa sobre a conduta
ética profissional além de descrever os ditames relacionados aos processos
disciplinares, entre outros temas apresentados no Estatuto da Advocacia e a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) .

O Estatuto da Advocacia, também conhecido como o Estatuto da OAB,


possui como estrutura geral:
• Título I – Do Artigo 1º ao Artigo 43 o qual trata sobre assuntos
relacionados à advocacia como requisitos aos advogados, inscrição
nos quadros da OAB, sociedades de advogados, ética profissional etc.
• Título II – Do Artigo 44 ao Artigo 67 temos a descrição da estrutura
geral da OAB e da Caixa de Assistência dos Advogados, descreve
ainda sobre o Conselho Federal, Conselho Seccional e as Subseções.
• Título III – Do Artigo 68 ao Artigo 77 estão descritas as regras dos
processos na OAB e dos processos disciplinares.
• Título IV – Do Artigo 78 ao Artigo 87 temos descrito as Disposições
Gerais e Transitórias (KAGEYAMA, 2020, s.p.).

2.1 TÍTULO I – DA ADVOCACIA


Vamos, agora, conhecer os principais pontos do Estatuto da OAB.
Iniciaremos com o Art. 1º que nos apresenta:
TÍTULO I
Da Advocacia
CAPÍTULO I
Da Atividade de Advocacia
Art. 1º São atividades privativas de advocacia:
I - a postulação ao órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais;
(Vide ADIN 1.127-8)
II - as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.
§ 1º Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração de
habeas corpus em qualquer instância ou tribunal.
§ 2º Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de
nulidade, só podem ser admitidos ao registro, nos órgãos competentes,
quando visados por advogados.
§ 3º É vedada a divulgação de advocacia em conjunto com outra
atividade (BRASIL, 1994).

Nesse primeiro artigo, vimos quais são atividades privativas aos


advogados, nele, temos todas as áreas judiciais (juízes, promotores etc.), além das
atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas, mas também descreve
algumas atividades que não são de atividades privativas da advocacia como a
impetração de habeas corpus.

Em seu Art. 2º, temos:

229
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça.


§ 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e
exerce função social.
§ 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de
decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e
seus atos constituem múnus público.
§ 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e
manifestações, nos limites desta lei (BRASIL, 1994).

Pelo Art. 2º, temos claro que todo provimento legal que esteja em processo
de judicialização, necessita de atuação de um advogado.
Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a
denominação de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB).
§ 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta
lei, além do regime próprio a que se subordinem os integrantes da
Advocacia-Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional,
da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas
entidades de administração indireta e fundacional.
§ 2º O estagiário de advocacia, regularmente inscrito, pode praticar os
atos previstos no Art. 1º, na forma do regimento geral, em conjunto
com advogado e sob responsabilidade deste.
Art. 3º-A. Os serviços profissionais de advogado são, por sua natureza,
técnicos e singulares, quando comprovada sua notória especialização,
nos termos da lei. (Incluído pela Lei nº 14.039, de 2020).
Parágrafo único. Considera-se notória especialização o profissional ou a
sociedade de advogados cujo conceito no campo de sua especialidade,
decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publicações,
organização, aparelhamento, equipe técnica ou de outros requisitos
relacionados com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho
é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do
objeto do contrato. (Incluído pela Lei nº 14.039, de 2020) (BRASIL, 1994).

No Art. 3º, fica claro que não adianta cursar o curso de direito para ser
denominado de advogado, mas sim que a denominação de advogado são privativos
dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ou seja, precisa passar no
exame da ordem e ter a carteirinha para ser considerado advogado no Brasil.

Temos ainda o Art. 4º, que trata sobre os atos privativos dos advogados,
ele traz:
Art. 4º São nulos os atos privativos de advogado praticados por
pessoa não inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e
administrativas.
Parágrafo único. São também nulos os atos praticados por advogado
impedido – no âmbito do impedimento – suspenso, licenciado ou que
passar a exercer atividade incompatível com a advocacia (BRASIL, 1994).

Ressalva-se que não adianta somente ser formado no Curso de Direito para
exercer a função de advogado, pois, para desempenhar a profissão de advogado
é primordial que o bacharel em Direito seja aprovado no exame da Ordem dos
Advogados do Brasil, a OAB, tenha a posse de sua carteira de advogado inscrito da

230
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

OAB da seccional do seu Estado, como também estar em dia com as suas obrigações
junto a OAB, pois em qualquer outra situação, se atuar profissionalmente como
advogado e não ter sua inscrição junto a OAB, seus atos são passíveis de nulidade.

Os atos também são considerados nulos quando praticados por advogado


impedido – no âmbito do impedimento – suspenso, licenciado ou que passar a
exercer atividade incompatível com a advocacia.

Para encerrarmos o Capítulo I, temos ainda o Art. 5º, que nos traz:
Art. 5º O advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do
mandato.
§ 1º O advogado, afirmando urgência, pode atuar sem procuração,
obrigando-se a apresentá-la no prazo de quinze dias, prorrogável por
igual período.
§ 2º A procuração para o foro em geral habilita o advogado a praticar
todos os atos judiciais, em qualquer juízo ou instância, salvo os que
exijam poderes especiais.
§ 3º O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os dez
dias seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante,
salvo se for substituído antes do término desse prazo (BRASIL, 1994).

Esse artigo postula sobre as questões atribuídas ao mandato do advogado


para interagir a favor de seu cliente nas instâncias legais, e também descreve sobre
a sua renúncia, o qual proclama que, em caso de renúncia ao mandato, o advogado
deverá continuar atuando durante os dez dias seguintes à notificação da renúncia,
a representar o mandante, salvo se for substituído antes do término desse prazo.

A seguir, apresentamos o Capítulo II em sua íntegra, que descreve os


direitos dos advogados em seu Art. 7°:

CAPÍTULO II
Dos Direitos do Advogado

Art. 6º Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e


membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e
respeito recíprocos.
Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os serventuários da justiça
devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão, tratamento compatível
com a dignidade da advocacia e condições adequadas a seu desempenho.

Art. 7º São direitos do advogado:


I- exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;
II- ter respeitada, em nome da liberdade de defesa e do sigilo profissional, a
inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, de seus arquivos e dados,
de sua correspondência e de suas comunicações, inclusive telefônicas ou afins,
salvo caso de busca ou apreensão determinada por magistrado e acompanhada
de representante da OAB;

231
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

II- a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus


instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e
telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia; (Redação dada pela Lei
nº 11.767, de 2008)
III- comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem
procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em
estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;
IV- ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo
ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de
nulidade e, nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB;
V- não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala
de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas
pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar; (Vide ADIN 1.127-8)
VI- ingressar livremente:
a) nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que separam a
parte reservada aos magistrados;
b) nas salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios de
justiça, serviços notariais e de registro, e, no caso de delegacias e prisões, mesmo
fora da hora de expediente e independentemente da presença de seus titulares;
c) em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição judicial ou outro
serviço público onde o advogado deva praticar ato ou colher prova ou informação
útil ao exercício da atividade profissional, dentro do expediente ou fora dele, e
ser atendido, desde que se ache presente qualquer servidor ou empregado;
d) em qualquer assembleia ou reunião de que participe ou possa participar
o seu cliente, ou perante a qual este deva comparecer, desde que munido de
poderes especiais;
VII- permanecer sentado ou em pé e retirar-se de quaisquer locais indicados no
inciso anterior, independentemente de licença;
VIII- dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de trabalho,
independentemente de horário previamente marcado ou outra condição,
observando-se a ordem de chegada;
IX- sustentar oralmente as razões de qualquer recurso ou processo, nas sessões
de julgamento, após o voto do relator, em instância judicial ou administrativa,
pelo prazo de quinze minutos, salvo se prazo maior for concedido; (Vide ADIN
1.127-8) (Vide ADIN 1.105-7)
X- usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal, mediante
intervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a
fatos, documentos ou afirmações que influam no julgamento, bem como para
replicar acusação ou censura que lhe forem feitas;
XI- reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo, tribunal ou
autoridade, contra a inobservância de preceito de lei, regulamento ou regimento;
XII- falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de deliberação coletiva
da Administração Pública ou do Poder Legislativo;
XIII- examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da
Administração Pública em geral, autos de processos findos ou em andamento,
mesmo sem procuração, quando não estejam sujeitos a sigilo, assegurada a
obtenção de cópias, podendo tomar apontamentos;

232
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

XIII- examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da


Administração Pública em geral, autos de processos findos ou em andamento,
mesmo sem procuração, quando não estiverem sujeitos a sigilo ou segredo de
justiça, assegurada a obtenção de cópias, com possibilidade de tomar apontamentos;
(Redação dada pela Lei nº 13.793, de 2019)
XIV- examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos
de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à
autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos;
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação,
mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer
natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo
copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada
pela Lei nº 13.245, de 2016)
XV- ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer natureza,
em cartório ou na repartição competente, ou retirá-los pelos prazos legais;
XVI- retirar autos de processos findos, mesmo sem procuração, pelo prazo de
dez dias;
XVII- ser publicamente desagravado, quando ofendido no exercício da profissão
ou em razão dela;
XVIII- usar os símbolos privativos da profissão de advogado;
XIX- recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou
ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi
advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem
como sobre fato que constitua sigilo profissional;
XX- retirar-se do recinto onde se encontre aguardando pregão para ato judicial,
após trinta minutos do horário designado e ao qual ainda não tenha comparecido a
autoridade que deva presidir a ele, mediante comunicação protocolizada em juízo.
XXI- assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações,
sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e,
subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele
decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no
curso da respectiva apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)
a) apresentar razões e quesitos; (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)
b) (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)
§ 1º Não se aplica o disposto nos incisos XV e XVI:
1) aos processos sob regime de segredo de justiça;
2) quando existirem nos autos documentos originais de difícil restauração ou
ocorrer circunstância relevante que justifique a permanência dos autos no cartório,
secretaria ou repartição, reconhecida pela autoridade em despacho motivado,
proferido de ofício, mediante representação ou a requerimento da parte interessada;
3) até o encerramento do processo, ao advogado que houver deixado de devolver
os respectivos autos no prazo legal, e só o fizer depois de intimado.
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação
ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua
atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a
OAB, pelos excessos que cometer. (Vide ADIN 1.127-8)

233
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

§ 3º O advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo de exercício


da profissão, em caso de crime inafiançável, observado o disposto no inciso IV
deste artigo.
§ 4º O Poder Judiciário e o Poder Executivo devem instalar, em todos os juizados,
fóruns, tribunais, delegacias de polícia e presídios, salas especiais permanentes
para os advogados, com uso e controle assegurados à OAB. (Vide ADIN 1.127-8)
§ 5º No caso de ofensa a inscrito na OAB, no exercício da profissão ou de cargo
ou função de órgão da OAB, o conselho competente deve promover o desagravo
público do ofendido, sem prejuízo da responsabilidade criminal em que incorrer
o infrator.
§ 6º Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte
de advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da
inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada,
expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser
cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese,
vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a
clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho
que contenham informações sobre clientes. (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008)
§ 7º A ressalva constante do § 6º deste artigo não se estende a clientes do
advogado averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus
partícipes ou coautores pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra da
inviolabilidade. (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008)
§ 8º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008)
§ 9º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008)
§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o
exercício dos direitos de que trata o inciso XIV. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar
o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em
andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.
(Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)
§ 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento
incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de
peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal
e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do
advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do
direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz competente.
(Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)
§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se
integralmente a processos e a procedimentos eletrônicos, ressalvado o disposto
nos §§ 10 e 11 deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.793, de 2019)

Art. 7º- A. São direitos da advogada: (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
I - gestante: (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
a) entrada em tribunais sem ser submetida a detectores de metais e aparelhos
de raios X; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)

234
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

b) reserva de vaga em garagens dos fóruns dos tribunais; (Incluído pela Lei nº
13.363, de 2016)
II- lactante, adotante ou que der à luz, acesso a creche, onde houver, ou a local
adequado ao atendimento das necessidades do bebê; (Incluído pela Lei nº 13.363,
de 2016)
III- gestante, lactante, adotante ou que der à luz, preferência na ordem das
sustentações orais e das audiências a serem realizadas a cada dia, mediante
comprovação de sua condição; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
IV- adotante ou que der à luz, suspensão de prazos processuais quando for a
única patrona da causa, desde que haja notificação por escrito ao cliente.
(Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
§ 1º Os direitos previstos à advogada gestante ou lactante aplicam-se enquanto
perdurar, respectivamente, o estado gravídico ou o período de amamentação.
(Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
§ 2º Os direitos assegurados nos incisos II e III deste artigo à advogada adotante
ou que der à luz serão concedidos pelo prazo previsto no Art. 392 do Decreto-Lei
no 5.452, de 1º de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho). (Incluído
pela Lei nº 13.363, de 2016)
§ 3º O direito assegurado no inciso IV deste artigo à advogada adotante ou que der
à luz será concedido pelo prazo previsto no § 6º do Art. 313 da Lei nº 13.105, de 16
de março de 2015 (Código de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado previstos
nos incisos II, III, IV e V do caput do Art. 7º desta Lei: (Incluído pela Lei nº
13.869. de 2019)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº
13.869. de 2019)

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm>. Acesso em: 22 fev. 2021.

Como você pôde ver no material apresentado, o Art. 7º, que trata sobre
os direitos do advogado, é bastante extenso e detalhista na descrição dos direitos,
mostrando-se autoexplicativo em todo o seu contexto.

DICAS

Prezado acadêmico, releia novamente esse Capítulo II, pois é importante conhecer
profundamente os direitos que os advogados possuem, além de ser um questionamento
importante para o exame da ordem.

No Capítulo III, temos as orientações relacionadas à inscrição do formando


em direito na OAB, trazemos uma lista de atributos necessários como os
apresentados em seu Art. 8º:

235
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

I- capacidade civil;
II- diploma ou certidão de graduação em direito, obtido em instituição
de ensino oficialmente autorizada e credenciada;
III- título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro;
IV- aprovação em Exame de Ordem;
V- não exercer atividade incompatível com a advocacia;
VI- idoneidade moral;
VII- prestar compromisso perante o conselho (BRASIL, 1994).

O Capítulo III ainda trata sobre o estágio e descreve sobre o cancelamento,


licenciamento e sobre o documento de identidade funcional.

FIGURA 4 – CARTEIRA DE IDENTIDADE FUNCIONAL DO ADVOGADO

FONTE: <https://bit.ly/30CGeQZ>. Acesso em: 25 nov. 2020.

Os próximos três capítulos do Título I do Estatuto da OAB tratam da


Sociedade de Advogados (Capítulo IV), do Advogado Empregado (Capítulo V)
e dos Honorários Advocatícios (Capítulo VI), como tratam mais sobre a atuação
em relação à formação de negócios e dos honorários, recomendamos a sua leitura
no próprio estatuto que já referenciamos anteriormente.

NOTA

Prezado acadêmico, nós, advogados, precisamos cultivar o hábito da leitura


e de interpretação, pois é fundamental ao nosso ofício a atualização constante sobre a
legislação para podermos atender bem aos nossos clientes, ou para os que irão desenvolver
outros ofícios, precisam se atualizar para o seu bom juízo e operacionalização.

236
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

FIGURA – IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA A ATUALIZAÇÃO NA LEGISLAÇÃO VIGENTE

FONTE: <https://pm1.narvii.com/6237/2318ec2b5ee736ff9fc63eb829ea6869f987bf5c_
hq.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2020.

O Capítulo VII trata das incompatibilidades e impedimentos, que são


definidas no próprio Art. 27. Como sendo a incompatibilidade, determina a
proibição total e o impedimento, a proibição parcial do exercício da advocacia.
O capítulo em sua íntegra está apresentado a seguir, e é bom analisar todas as
restrições apresentadas para a sua compreensão.

CAPÍTULO VII
Das Incompatibilidades e Impedimentos

Art. 27. A incompatibilidade determina a proibição total, e o impedimento, a


proibição parcial do exercício da advocacia.

Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes


atividades:
I - chefe do Poder Executivo e membros da Mesa do Poder Legislativo e seus
substitutos legais;
II - membros de órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos tribunais e
conselhos de contas, dos juizados especiais, da justiça de paz, juízes classistas, bem
como de todos os que exerçam função de julgamento em órgãos de deliberação
coletiva da administração pública direta e indireta; (Vide ADIN 1.127-8)
III - ocupantes de cargos ou funções de direção em Órgãos da Administração
Pública direta ou indireta, em suas fundações e em suas empresas controladas
ou concessionárias de serviço público;
IV - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a qualquer
órgão do Poder Judiciário e os que exercem serviços notariais e de registro;

237
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

V - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente à


atividade policial de qualquer natureza;
VI - militares de qualquer natureza, na ativa;
VII - ocupantes de cargos ou funções que tenham competência de lançamento,
arrecadação ou fiscalização de tributos e contribuições parafiscais;
VIII - ocupantes de funções de direção e gerência em instituições financeiras,
inclusive privadas.
§ 1º A incompatibilidade permanece mesmo que o ocupante do cargo ou função
deixe de exercê-lo temporariamente.
§ 2º Não se incluem nas hipóteses do inciso III os que não detenham poder de
decisão relevante sobre interesses de terceiro, a juízo do conselho competente
da OAB, bem como a administração acadêmica diretamente relacionada ao
magistério jurídico.

Art. 29. Os Procuradores Gerais, Advogados Gerais, Defensores Gerais e


dirigentes de órgãos jurídicos da Administração Pública direta, indireta e
fundacional são exclusivamente legitimados para o exercício da advocacia
vinculada à função que exerçam, durante o período da investidura.

Art. 30. São impedidos de exercer a advocacia:


I - os servidores da administração direta, indireta e fundacional, contra a Fazenda
Pública que os remunere ou à qual seja vinculada a entidade empregadora;
II - os membros do Poder Legislativo, em seus diferentes níveis, contra ou a
favor das pessoas jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades
de economia mista, fundações públicas, entidades paraestatais ou empresas
concessionárias ou permissionárias de serviço público.
Parágrafo único. Não se incluem nas hipóteses do inciso I os docentes dos
cursos jurídicos.

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm>. Acesso em: 26 fev. 2021.

Analisando o capítulo das Incompatibilidades e Impedimentos, temos


diversos detalhes importantes a serem considerados para o exercício da profissão e
dos operadores do direito.

Ainda não acabou a análise do estatuto da OAB, mas deixaremos


para o próximo tópico as questões relacionadas à ética e às Infrações e Sanções
Disciplinares, além da organização da OAB.

238
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

3 DA ÉTICA DO ADVOGADO E TEMAS FINAIS DO ESTATUTO


DA OAB
Vamos continuar a análise do estatuto da OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil), analisando os demais artigos, com temas muito importantes à práxis
profissional do advogado.

O Capítulo VIII que trata da Ética do Advogado tem três artigos:


CAPÍTULO VIII
Da Ética do Advogado
Art. 31. O advogado deve proceder de forma que o torne merecedor
de respeito e que contribua para o prestígio da classe e da advocacia.
§ 1º O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência
em qualquer circunstância.
§ 2º Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer
autoridade, nem de incorrer em impopularidade, deve deter o
advogado no exercício da profissão.
Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício
profissional, praticar com dolo ou culpa.
Parágrafo único. Em caso de lide temerária, o advogado será
solidariamente responsável com seu cliente, desde que coligado com
este para lesar a parte contrária, o que será apurado em ação própria.
Art. 33. O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres
consignados no Código de Ética e Disciplina.
Parágrafo único. O Código de Ética e Disciplina regula os deveres do
advogado para com a comunidade, o cliente, o outro profissional e,
ainda, a publicidade, a recusa do patrocínio, o dever de assistência
jurídica, o dever geral de urbanidade e os respectivos procedimentos
disciplinares (BRASIL, 1994).

Os artigos referentes à ética são bastante práticos e diretos, porém,


referencia-se que o advogado trabalhe de forma merecedora de respeito e que
contribua para o prestígio da classe e da advocacia. Como exposto em seu Art.
33, “o advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados
no Código de Ética e Disciplina” (BRASIL, 1994), o qual estudaremos mais
detalhadamente no próximo tópico.

O capítulo IX discorre sobre as Infrações e Sanções Disciplinares:

CAPÍTULO IX
Das Infrações e Sanções Disciplinares

Art. 34. Constitui infração disciplinar:


I- exercer a profissão, quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer
meio, o seu exercício aos não inscritos, proibidos ou impedidos;
II- manter sociedade profissional fora das normas e preceitos estabelecidos nesta lei;
III- valer-se de agenciador de causas, mediante participação nos honorários a
receber;

239
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

IV- angariar ou captar causas, com ou sem a intervenção de terceiros;


V- assinar qualquer escrito destinado ao processo judicial ou para fim
extrajudicial que não tenha feito, ou em que não tenha colaborado;
VI- advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se a boa-fé
quando fundamentado na inconstitucionalidade, na injustiça da lei ou em
pronunciamento judicial anterior;
VII- violar, sem justa causa, sigilo profissional;
VIII- estabelecer entendimento com a parte adversa sem autorização do cliente
ou ciência do advogado contrário;
IX- prejudicar, por culpa grave, interesse confiado ao seu patrocínio;
X- acarretar, conscientemente, por ato próprio, a anulação ou a nulidade do
processo em que funcione;
XI- abandonar a causa sem justo motivo, ou antes de decorridos dez dias da
comunicação da renúncia;
XII- recusar-se a prestar, sem justo motivo, assistência jurídica, quando nomeado
em virtude de impossibilidade da Defensoria Pública;
XIII- fazer publicar na imprensa, desnecessária e habitualmente, alegações
forenses ou relativas à causas pendentes;
XIV- deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação doutrinária ou de julgado,
bem como de depoimentos, documentos e alegações da parte contrária, para
confundir o adversário ou iludir o juiz da causa;
XV- fazer, em nome do constituinte, sem autorização escrita deste, imputação a
terceiro de fato definido como crime;
XVI- deixar de cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do
órgão ou de autoridade da Ordem, em matéria da competência desta, depois
de regularmente notificado;
XVII- prestar concurso a clientes ou a terceiros para realização de ato contrário
à lei ou destinado a fraudá-la;
XVIII- solicitar ou receber de constituinte qualquer importância para aplicação
ilícita ou desonesta;
XIX- receber valores, da parte contrária ou de terceiro, relacionados com o
objeto do mandato, sem expressa autorização do constituinte;
XX- locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da parte adversa,
por si ou interposta pessoa;
XXI- recusar-se, injustificadamente, a prestar contas ao cliente de quantias
recebidas dele ou de terceiros por conta dele;
XXII- reter, abusivamente, ou extraviar autos recebidos com vista ou em
confiança;
XXIII- deixar de pagar as contribuições, multas e preços de serviços devidos à
OAB, depois de regularmente notificado a fazê-lo;
XXIV- incidir em erros reiterados que evidenciem inépcia profissional;
XXV- manter conduta incompatível com a advocacia;
XXVI- fazer falsa prova de qualquer dos requisitos para inscrição na OAB;
XXVII- tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da advocacia;
XXVIII- praticar crime infamante;
XXIX- praticar, o estagiário, ato excedente de sua habilitação.

240
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

Parágrafo único. Inclui-se na conduta incompatível:


a) prática reiterada de jogo de azar, não autorizado por lei;
b) incontinência pública e escandalosa;
c) embriaguez ou toxicomania habituais.

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm>. Acesso em: 26 fev. 2021.

Esse artigo é bem minucioso trazendo os diversos atos que constituem


infração disciplinar na práxis do advogado.

DICAS

Prezado acadêmico, nós, advogados, precisamos ler diversos materiais


jurídicos, assim como escrever muitas peças jurídicas em nossa vida profissional, e é
mister o surgimento de terminologias técnicas da área do direito, então é de boa prática
do advogado, mas principalmente do estudante de direito, ter consigo um dicionário de
termos jurídicos para melhor entender a sua leitura. Sugerimos os seguintes dicionários:

FIGURA – DICIONÁRIO TÉCNICO JURÍDICO

FONTE: <https://bit.ly/30wry5U>. Acesso em: 26 fev. 2021.

FONTE: GUIMARÃES, D. T. Dicionário técnico jurídico. 19. ed. São Paulo: Rideel, 2016.

FIGURA – DICIONÁRIO COMPACTO DO DIREITO

FONTE: <https://bit.ly/38vmaV8>. Acesso em: 26 fev. 2021.

241
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

FONTE: CUNHA, S. S. Dicionário compacto de direito. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

Sugerimos, ainda, a leitura e revisão do livro de Teoria da argumentação jurídica da


Professora Drª. Ivone Fernandes Morcilo Lixa, que você já estudou aqui na UNIASSELVI no
primeiro semestre deste curso.

Esta é uma dica prática que aprendemos no início de nossos estudos de direito e que
utilizamos até os dias de hoje.

No Art. 35, temos a apresentação dos tipos de sanções disciplinares que os


advogados podem sofrer.
Art. 35. As sanções disciplinares consistem em:
I- censura;
II- suspensão;
III- exclusão;
IV- multa.
Parágrafo único. As sanções devem constar dos assentamentos do
inscrito, após o trânsito em julgado da decisão, não podendo ser objeto
de publicidade a de censura (BRASIL, 1994).

Do Art. 36 ao 39 temos detalhes das sanções, o qual pedimos ao acadêmico


ler em seu original na referência apresentada em Brasil (1994), os quais são
autoexplicativos.

O Art. 40 traz os atenuantes com relação às sanções, conforme expresso a


seguir:
Art. 40. Na aplicação das sanções disciplinares, são consideradas, para
fins de atenuação, as seguintes circunstâncias, entre outras:
I - falta cometida na defesa de prerrogativa profissional;
II - ausência de punição disciplinar anterior;
III - exercício assíduo e proficiente de mandato ou cargo em qualquer
órgão da OAB;
IV - prestação de relevantes serviços à advocacia ou à causa pública.
Parágrafo único. Os antecedentes profissionais do inscrito, as
atenuantes, o grau de culpa por ele revelada, as circunstâncias e as
consequências da infração são considerados para o fim de decidir:
a) sobre a conveniência da aplicação cumulativa da multa e de outra
sanção disciplinar;
b) sobre o tempo de suspensão e o valor da multa aplicáveis (BRASIL,
1994).

Como podemos ver no Art. 40, mesmo em casos de sanções, conforme


expressados em artigos anteriores do Estatuto da OAB, ele apresenta as situações
que podem ocorrer atenuações das condenações ao advogado, os quais estão
também claramente expressados no artigo, mas lembre-se que melhor é não
cometer os atos que podem gerar as sanções. Os demais artigos desse capítulo são:
Art. 41. É permitido ao que tenha sofrido qualquer sanção disciplinar
requerer, um ano após seu cumprimento, a reabilitação, em face de
provas efetivas de bom comportamento.

242
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

Parágrafo único. Quando a sanção disciplinar resultar da prática de


crime, o pedido de reabilitação depende também da correspondente
reabilitação criminal.
Art. 42. Fica impedido de exercer o mandato o profissional a quem
forem aplicadas as sanções disciplinares de suspensão ou exclusão.
Art. 43. A pretensão à punibilidade das infrações disciplinares prescreve
em cinco anos, contados da data da constatação oficial do fato.
§ 1º Aplica-se a prescrição a todo processo disciplinar paralisado por
mais de três anos, pendente de despacho ou julgamento, devendo
ser arquivado de ofício, ou a requerimento da parte interessada, sem
prejuízo de serem apuradas as responsabilidades pela paralisação.
§ 2º A prescrição interrompe-se:
I - pela instauração de processo disciplinar ou pela notificação válida
feita diretamente ao representado;
II - pela decisão condenatória recorrível de qualquer órgão julgador da
OAB (BRASIL, 1994).

Os Arts. 41 e 43 do Capítulo IX sobre as Infrações e Sanções Disciplinares


media as questões relacionadas à solicitação de reabilitação do advogado junto a
OAB e sobre a punibilidade e a prescrição das punições.

Esse capítulo como um todo deve ser bem entendido pelo advogado e por
isso é mister a você, acadêmico, parar um pouco, voltar a reler esse material e ao
capítulo como um todo para sedimentar bem esse assunto.

O material apresentado até aqui faz parte do Título I do Estatuto da


OAB. Agora, iremos para o Título II que trata da organização da OAB no Brasil e
traremos o seu Art. 44.
TÍTULO II
Da Ordem dos Advogados do Brasil
CAPÍTULO I
Dos Fins e da Organização
Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público,
dotada de personalidade jurídica e forma federativa, tem por
finalidade:
I - defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático
de direito, os direitos humanos, a justiça social, e pugnar pela
boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo
aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas;
II - promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e
a disciplina dos advogados em toda a República Federativa do Brasil.
§ 1º A OAB não mantém com órgãos da Administração Pública
qualquer vínculo funcional ou hierárquico.
§ 2º O uso da sigla OAB é privativo da Ordem dos Advogados do
Brasil (BRASIL, 1994).

Esse artigo apresenta claramente os objetivos a que se destina a OAB, ou


seja, a defesa da Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito,
os direitos humanos, a justiça social, os advogados e a sua disciplina para o bem-
estar jurídico do país. Assim, temos, em seu Art. 45, a estrutura expressa da OAB.
Art. 45. São órgãos da OAB:
I - o Conselho Federal;

243
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

II - os Conselhos Seccionais;
III - as Subseções;
IV - as Caixas de Assistência dos Advogados.
§ 1º O Conselho Federal, dotado de personalidade jurídica própria,
com sede na capital da República, é o órgão supremo da OAB.
§ 2º Os Conselhos Seccionais, dotados de personalidade jurídica
própria, têm jurisdição sobre os respectivos territórios dos Estados-
membros, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 3º As Subseções são partes autônomas do Conselho Seccional, na
forma desta lei e de seu ato constitutivo.
§ 4º As Caixas de Assistência dos Advogados, dotadas de personalidade
jurídica própria, são criadas pelos Conselhos Seccionais, quando estes
contarem com mais de mil e quinhentos inscritos.
§ 5º A OAB, por constituir serviço público, goza de imunidade
tributária total em relação a seus bens, rendas e serviços.
§ 6º Os atos conclusivos dos órgãos da OAB, salvo quando reservados
ou de administração interna, devem ser publicados na imprensa oficial
ou afixados no fórum, na íntegra ou em resumo.
§ 6º Os atos, as notificações e as decisões dos órgãos da OAB, salvo
quando reservados ou de administração interna, serão publicados
no Diário Eletrônico da Ordem dos Advogados do Brasil, a ser
disponibilizado na internet, podendo ser afixados no fórum local, na
íntegra ou em resumo. (Redação dada Lei nº 13.688, de 2018) (Vigência)
(BRASIL, 1994).

Como vimos, essa é a estrutura da OAB, a qual hoje está capilarizada


através das seccionais por todo o Brasil.

DICAS

Prezado acadêmico, aproveite e faça uma pesquisa sobre a seccional da OAB


em sua região, as suas atividades e serviços prestados por ele.

FIGURA – LOGO DA OAB E MAIS SÍMBOLO DE 90 ANOS

FONTE: <https://www.oab.org.br/#>. Acesso em: 27 nov. 2020.

Se você quiser conhecer os demais detalhes da organização da OAB e, inclusive, sobre a


sua organização, recomendamos a leitura de todo o Título II do Estatuto da OAB que trata
desse assunto. Na íntegra em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm.

Não se esqueça que todos esses detalhes expressados no Estatuto da OAB, podem cair no
exame da ordem.

Boa leitura!!!

244
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

O terceiro título do Estatuto da OAB trata sobre os processos que um


advogado pode sofrer dentro da OAB em caso de atos contrários ao estatuto e ao
Código de Ética do Advogado.

Temos os seguintes capítulos nesse título:


• Capítulo I: Disposições Gerais.
• Capítulo II: do Processo Disciplinar.
• Capítulo III: dos Recursos.

ATENCAO

Prezado Acadêmico, a seguir, detalharemos os artigos do Capítulo II sobre o


processo disciplinar, que é muito importante ao advogado, mas se faz necessário que você leia
e entenda também os demais capítulos, pois tratam de assuntos importantes ao advogado.

Vamos analisar os artigos do Capítulo 2 do Título III do Estatuto da OAB.


CAPÍTULO II
Do Processo Disciplinar
Art. 70. O poder de punir disciplinarmente os inscritos na OAB compete
exclusivamente ao Conselho Seccional em cuja base territorial tenha
ocorrido a infração, salvo se a falta for cometida perante o Conselho
Federal.
§ 1º Cabe ao Tribunal de Ética e Disciplina, do Conselho Seccional
competente, julgar os processos disciplinares, instruídos pelas
Subseções ou por relatores do próprio conselho.
§ 2º A decisão condenatória irrecorrível deve ser imediatamente
comunicada ao Conselho Seccional onde o representado tenha
inscrição principal, para constar dos respectivos assentamentos.
§ 3º O Tribunal de Ética e Disciplina do Conselho onde o acusado tenha
inscrição principal pode suspendê-lo preventivamente, em caso de
repercussão prejudicial à dignidade da advocacia, depois de ouvi-lo em
sessão especial para a qual deve ser notificado a comparecer, salvo se
não atender à notificação. Neste caso, o processo disciplinar deve ser
concluído no prazo máximo de noventa dias (BRASIL, 1994).

O Art. 70 trata do poder de punir os advogados inscritos na OAB


principalmente disciplinarmente. A punição, conforme retratada, compete
exclusivamente ao Conselho Seccional em cuja base territorial tenha ocorrido
a infração e a exceção ocorre quando o advogado comete uma falta perante o
Conselho Federal. Nos Parágrafos 1 a 3, temos mais detalhes sobre a punição e a
sua territorialidade.

Art. 71. “A jurisdição disciplinar não exclui a comum e, quando o fato


constituir crime ou contravenção, deve ser comunicado às autoridades competentes”
(BRASIL, 1994). Esse artigo nos traz um ponto importante, pois um advogado que
está sofrendo um processo administrativo na OAB, pode pelo mesmo fato, se assim
245
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

for cabível, sofrer outros processos judiciais, ou seja, o advogado pode sofrer um
processo administrativo na OAB e ainda pode estar respondendo criminalmente
pelo mesmo ato no judiciário e os dois processos são independentes em resultados
jurídicos.
Art. 72. O processo disciplinar instaura-se de ofício ou mediante
representação de qualquer autoridade ou pessoa interessada.
§ 1º O Código de Ética e Disciplina estabelece os critérios de
admissibilidade da representação e os procedimentos disciplinares.
§ 2º O processo disciplinar tramita em sigilo, até o seu término, só tendo
acesso às suas informações as partes, seus defensores e a autoridade
judiciária competente (BRASIL, 1994).

O Art. 72 trata das formas de apresentar uma representação na OAB sobre


um advogado, que pode ser por ofício e por apresentação às autoridades na
seccional da OAB, além de tramitar em sigilo.
Art. 73. Recebida a representação, o Presidente deve designar relator,
a quem compete a instrução do processo e o oferecimento de parecer
preliminar a ser submetido ao Tribunal de Ética e Disciplina.
§ 1º Ao representado deve ser assegurado amplo direito de defesa,
podendo acompanhar o processo em todos os termos, pessoalmente
ou por intermédio de procurador, oferecendo defesa prévia após
ser notificado, razões finais após a instrução e defesa oral perante o
Tribunal de Ética e Disciplina, por ocasião do julgamento.
§ 2º Se, após a defesa prévia, o relator se manifestar pelo indeferimento
liminar da representação, este deve ser decidido pelo Presidente do
Conselho Seccional, para determinar seu arquivamento.
§ 3º O prazo para defesa prévia pode ser prorrogado por motivo
relevante, a juízo do relator.
§ 4º Se o representado não for encontrado, ou for revel, o Presidente do
Conselho ou da Subseção deve designar-lhe defensor dativo;
§ 5º É também permitida a revisão do processo disciplinar, por erro de
julgamento ou por condenação baseada em falsa prova (BRASIL, 1994).
No Art. 73, temos os detalhes sobre os trâmites processuais em relação
ao processo administrativo no que concerne ao advogado na OAB.

Art. 74. “O Conselho Seccional pode adotar as medidas administrativas


e judiciais pertinentes, objetivando a que o profissional suspenso ou excluído
devolva os documentos de identificação” (BRASIL, 1994).

E o Art. 74 simplesmente nos expõe que dependendo da punição do ato


pode inclusive ocorrer no caso de o profissional suspenso ou excluído fazer com
que ele devolva os documentos de identificação de advogado.

Reforçamos, nesse término de tópico, a sugestão de leitura de todo esse


Título III do Estatuto da OAB, pois acentuamos que ele é muito importante para
a práxis do advogado e também é bastante cobrado no exame da ordem.

O Título IV nos traz das Disposições Gerais e Transitórias referentes ao


estatuto e a OAB, o qual deixamos para você ler, pois são artigos importantes e
que trazem o fechamento legal do estatuto para que ela tenha validade legal.

246
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

DICAS

Prezado acadêmico, antes de terminarmos este tópico, gostaríamos de deixar


uma dica de leitura de um livro bem interessante sobre o tema, e o mais importante, está
disponível no site da OAB do Paraná. Na íntegra em: http://www2.oabpr.org.br/downloads/
ESTATUTO_OAB_COMENTADO.pdf.

FIGURA – ESTATUTO_OAB_COMENTADO

FONTE: <http://www2.oabpr.org.br/downloads/ESTATUTO_OAB_COMENTADO.pdf>.
Acesso em: 28 nov. 2020.

Boa leitura!!!

Estamos terminando este tópico, então, vamos apresentar o resumo do


que você aprendeu e, por fim, os exercícios de revisão.

Antes, convidamos você, acadêmico, a fazer uma sobre o tópico estudado.

GUIA COMENTADO DO ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA OAB


(LEI 8.906/94)

André Kageyama

Título III do Estatuto da Advocacia: Art. 68 ao Art. 77


Processos na OAB

O Estatuto da OAB diferencia apenas os processos ético-disciplinares


dos demais processos internos que instruem e promovem os atos da OAB.

A inscrição para concorrer às eleições, a infração ao direito da advocacia


(processo de desagravo), o pedido de inscrição, todos esses são alguns processos
que tramitam na OAB. Há também os processos ético-disciplinares, que são

247
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

os processos tendentes a responder consultas sobre a aplicação do Estatuto da


OAB e do Código de Ética e Disciplina, inclusive para apurar o cometimento de
infração ética por inscritos na OAB (advogados e estagiários, ok?).

Por determinação da lei, se o processo for ético-disciplinar se aplica


o Código de Processo Penal, a Lei do Processo Administrativo, e o Código de
Processo Civil. Sendo processo de qualquer outro tipo, então a aplicação é da Lei
do Processo Administrativo e o Código de Processo Civil.

Importante destacar para aqueles que estejam lendo este texto, que as leis
processuais (CPC, CPP) regulamentam como os processos irão tramitar. O Código
de Ética e Disciplina da OAB, no Art. 58, Parágrafo 1º, autoriza a regulamentação de
atos processuais pelas Turmas Disciplinares. Isto quer dizer que é possível que haja,
em alguma Seccional, regulamentação distinta, em relação à prática processual,
entre o que dispõem as leis processuais e alguma outra Seccional da OAB.

A dica aqui é para que o interessado em atuar em processos da OAB


verifique a regulamentação que a Seccional determinou para a classe de processo
que está o interessado trabalhando.

REPRESENTAÇÃO – PROCESSO ÉTICO-DISCIPLINAR

A representação é o meio que o cidadão possui para informar à OAB que


um inscrito seu pode ter violado o Estatuto da Advocacia ou mesmo o Código
de Ética e Disciplina. O processo que se forma é o processo ético-disciplinar.

Com a notícia de possível violação estatutária ou da ética, então o


representado (parte contra quem é promovida a representação) é notificado
para apresentar sua versão dos fatos e os documentos (fase da Defesa Prévia). Ao
processo que contém a representação se dá o nome de processo ético-disciplinar.
Leva esta nomenclatura porque julga a ética e a disciplina do inscrito na OAB,
quando do desempenho de suas funções. Ao final do andamento do processo
ético-disciplinar é proferida uma decisão, que julga se o inscrito cometeu ou
não alguma infração disciplinar, aplicando a penalidade respectiva, ou não.

As infrações éticas estão descritas no Art. 34 do Estatuto da OAB, e as


regras éticas no Código de Ética e Disciplina. Cabe a todos os inscritos nos
quadros da OAB observar as regras, sob pena de, não o fazendo, responder a
um processo ético-disciplinar.

RECURSOS

A OAB possibilita a interposição de recursos no âmbito de seus


processos, sendo que o prazo para todos os recursos é de 15 dias. Os prazos
são todos contabilizados em dias úteis por força da Resolução nº 9, de 18 de
outubro de 2016, que acabou com a contagem dos prazos em dias corridos.

248
TÓPICO 1 — OAB E O ESTATUTO DA OAB

Importante destacar para o leitor estagiário ou advogado, de que no


âmbito dos processos na OAB são admitidos Embargos de Declaração, e o
prazo para sua interposição é de 15 dias úteis e não de 5 dias úteis como no
caso do Processo Civil.

DA TURMA DEONTOLÓGICA

As Turmas Deontológicas são componentes do Tribunal de Ética e Disciplina,


mas ao contrário das Turmas Disciplinares, ela não julga notícias de possíveis
infrações éticas. A função das Turmas Deontológicas é a de responder consultas
teóricas sobre a aplicação do Estatuto da OAB, Código de Ética e Disciplina e outras
normas proferidas pela Seccional e pelo Conselho Federal da OAB.

Por exemplo, digamos que um advogado quer iniciar um canal no


YouTube para tirar dúvidas jurídicas, e o Código de Ética e Disciplina não é
suficientemente claro sobre essa possibilidade. Então, antes de subir o canal, o
advogado pode promover uma consulta perante a Turma Deontológica, que fará
uma análise hipotética da situação em abstrato, e dará sua interpretação sobre ser
possível ou não a prática do ato pretendido.

Este fluxo que a Turma Deontológica promove tem a finalidade de


garantir ao inscrito nos quadros da OAB que as regras éticas pertinentes à
profissão sejam respeitadas, antes de haver exposição do inscrito nos quadros da
OAB à sociedade, visando também preservar a ética da profissão do advogado.

Uma dúvida muito comum com relação aos limites da OAB é quando se
pensa em marketing jurídico e assuntos relacionados. [...]

CONCLUSÃO

O Estatuto da Advocacia agregou a legislação esparsa que se debruça


sobre a advocacia, compilando em um texto sóbrio, objetivo e abrangente
um norte que a advocacia necessitava após o período de sucessivos governos
militares autoritários.

A legislação continua atual e focada nos acontecimentos contemporâneos,


em que nunca foi tão necessária para combater abusos, tanto por parte do
Estado, como por iniciativa de alguns particulares.

O inscrito nos quadros da OAB deve manter o Estatuto da Advocacia como


força motriz e luz de proa para o exercício de sua profissão. Assim agindo, não que
se garanta navegar em mares calmos, mas de certo que navegará com segurança.

FONTE: Adaptado de <https://www.aurum.com.br/blog/estatuto-da-advocacia/>. Acesso em:


27 nov. 2020.

249
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tem uma atuação constante no


cenário nacional, representando os advogados do Brasil.

• A Ordem tem a sua origem no ano de 1843 através da criação do Instituto dos
Advogados do Brasil.

• Getúlio Vargas cria a OAB através do Decreto nº 19 408, de 18 de novembro de


1930.

• A lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a


Ordem dos Advogados do Brasil (BRASIL, 1994).

• O Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil, Lei nº


8.906/1994, são documentos que promulgam e regulamentam todos os ditames
legais para o exercício da profissão do advogado no Brasil, apresentando os
requisitos para advogar, descreve a estrutura da OAB, versa sobre a conduta
ética profissional além de descrever os ditames relacionados aos processos
disciplinares, entre outros temas apresentados no Estatuto da Advocacia e a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

• O Estatuto da Advocacia, também conhecido como o Estatuto da OAB, possui


como estrutura geral:
o Título I – Do Artigo 1º ao Artigo 43 o qual trata sobre assuntos relacionados
à advocacia como requisitos aos advogados, inscrição nos quadros da
OAB, sociedades de advogados, ética profissional etc.
o Título II – Do Artigo 44 ao Artigo 67 temos a descrição da estrutura geral
da OAB e da Caixa de Assistência dos Advogados, descreve ainda sobre o
Conselho Federal, Conselho Seccional e as Subseções.
o Título III – Do Artigo 68 ao Artigo 77 estão descritos as regras dos processos
na OAB e dos processos disciplinares.
o Título IV – Do Artigo 78 ao Artigo 87 temos descrito as Disposições Gerais
e Transitórias.

• O advogado é indispensável à administração da justiça.

• O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação de


advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

• São direitos do advogado:


o I- exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;
o II- ter respeitada, em nome da liberdade de defesa e do sigilo profissional,
a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, de seus arquivos
e dados, de sua correspondência e de suas comunicações, inclusive
250
telefônicas ou afins, salvo caso de busca ou apreensão determinada por
magistrado e acompanhada de representante da OAB;
o II- a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de
seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica,
telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia.
o III- comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem
procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em
estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;
o IV- ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante,
por motivo ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto
respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação
expressa à seccional da OAB;
o V- não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão
em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim
reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar.

• Para a inscrição do formando em direito na OAB é necessário:


o I- capacidade civil;
o II- diploma ou certidão de graduação em direito, obtido em instituição de
ensino oficialmente autorizada e credenciada;
o III- título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro;
o IV- aprovação em Exame de Ordem;
o V- não exercer atividade incompatível com a advocacia;
o V - idoneidade moral;
o VII- prestar compromisso perante o conselho.

• O advogado deve proceder de forma que o torne merecedor de respeito e que


contribua para o prestígio da classe e da advocacia.

• O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar


com dolo ou culpa.

• É considerado conduta incompatível ao advogado: prática reiterada de jogo


de azar; incontinência pública e escandalosa; embriaguez ou toxicomania
habituais

• São órgãos da OAB:


o o conselho Federal;
o os conselhos seccionais;
o as Subseções;
o as Caixas de assistência dos Advogados.

• O poder de punir disciplinarmente os inscritos na OAB compete exclusivamente


ao Conselho Seccional em cuja base territorial tenha ocorrido a infração, salvo
se a falta for cometida perante o Conselho Federal.

• Um advogado que está sofrendo um processo administrativo na OAB pode,


se assim for cabível, sofrer outros processos judiciais pelo mesmo fato.

251
AUTOATIVIDADE

Prezados acadêmicos, as questões desta autoatividade são questões retiradas de


diversos concursos públicos, no sentido de que voce já possa ir se apropriando
dos diversos formatos de questões que podem ter nos futuros concursos que
você possa prestar.

1 (Gabarite, c2010-2021) Com relação ao Regulamento Geral do Estatuto da


OAB, assinale a alternativa CORRETA:
FONTE: Adaptado de<https://www.gabarite.com.br/questoes-de-concursos/25902-questao>.
Acesso em: 27 nov. 2020.

a) ( ) Presidente de conselho seccional da OAB tem direito a voto nas sessões


das câmaras do Conselho Federal da OAB.
b) ( ) Suponha que Bernardo tenha sido agraciado com a medalha Rui Barbosa
em agosto de 2005. Nessa situação, a partir dessa data, Bernardo poderá
participar das sessões do Conselho Pleno, com direito a voz.
c) ( ) Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros tem direito a voto nas
sessões das câmaras e do Conselho Pleno do Conselho Federal da OAB.
d) ( ) As comissões permanentes do Conselho Federal serão integradas
exclusivamente por conselheiros federais.

2 (Gabarite, c2010-2021) Será cancelada a inscrição profissional do advogado que:


FONTE: Adaptado de <https://www.gabarite.com.br/questoes-de-concursos/25028-ques-
tao>. Acesso em: 27 nov. 2020.

a) ( ) Passar a exercer, em caráter temporário, atividade que gere


impedimento com o exercício profissional.
b) ( ) Passar a exercer, em caráter definitivo, atividade incompatível com a
advocacia.
c) ( ) Passar a exercer, temporariamente, atividade incompatível com a advocacia
em cargo público demissível ad nutum.
d) ( ) Sofrer doença mental considerada curável.

3 (FGV, 2011) Conceição promove ação possessória em face de vários réus


que ocuparam imóvel sem construção, de sua propriedade, em área urbana.
Houve a designação de audiência de conciliação, com a presença dos réus e
dos seus advogados. Na audiência, visando organizar o ato, o magistrado
proibiu que os advogados se mantivessem de pé, bem como saíssem do local
durante a sua realização.
FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-da-oab/questoes/d16d3405-3f>. Acesso
em: 27 nov. 2020.

252
Com base no que dispõe o Estatuto da Advocacia e as leis regentes, é CORRETO
afirmar que:
a) ( ) O advogado deve permanecer sentado na sala de audiências até o final
do ato.
b) ( ) Caso o advogado necessite retirar-se do local, deve postular licença à
autoridade.
c) ( ) O advogado pode permanecer sentado ou de pé nos recintos do Poder
Judiciário.
d) ( ) Pode permanecer de pé, caso autorizado pela autoridade competente.

4 (Gabarite, c2010-2021) O advogado Francisco é conhecido por sua rara


habilidade no setor de contratos empresariais, experto nas chamadas
cláusulas venenosas que dificultam a quebra imotivada de avenças. No
exercício regular da sua profissão de advogado, apresenta-se, munido dos
devidos poderes, em assembleia de sociedade anônima, cujo controlador é
seu cliente. O presidente da assembleia não acolhe a sua presença, aduzindo
falta de autorização legal.
FONTE: <https://www.gabarite.com.br/questoes-de-concursos/25439-questao>. Acesso em:
27 nov. 2020.

Nos termos do Estatuto da Advocacia, é direito do advogado:


a) ( ) Ingressar em assembleia, representando seu cliente, mesmo não
munido de mandato.
b) ( ) Representar seu cliente com procuração outorgada com poderes gerais.
c) ( ) Atuar em assembleia a que seu cliente possa comparecer, munido de
poderes especiais.
d) ( ) Atuar excepcionalmente com autorização do presidente da assembleia,
que supre o mandato.

253
254
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, acabamos de conhecer o estatuto da OAB, com ele,
aprendemos sobre diversos pontos relacionados à atuação do advogado, situações
relacionadas à ética e também sobre sanções e punições, e outros quesitos mais.

No entanto, o Capítulo VIII, que trata da Ética do Advogado, é bem curto,


apresentando somente três artigos. Em seu Art. 33, ele expressa que “O advogado
se obriga a cumprir rigorosamente os deveres consignados no Código de Ética
e Disciplina” (BRASIL, 1994), pois a OAB tem o código de ética e disciplina dos
advogados promulgado e amplamente divulgado, e é de estudo obrigatório pelos
acadêmicos de direito.

DICAS

Prezado acadêmico, voltamos a ressaltar a importância do estudo do Código


de Ética e Disciplina da OAB pelos acadêmicos de direito, pois ele é assunto certo em
questões do exame da ordem dos advogados.
Relembrando, você pode consultar o Código de Ética e Disciplina na íntegra em:
https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/codigodeetica.pdf.

Sugerimos também a leitura das obras Estatuto da advocacia e novo código de ética e
disciplina da OAB e Comentários ao novo código de ética dos advogados

FIGURA – ESTATUTO DA ADVOCACIA

FONTE: <https://bit.ly/3cmsW0p>. Acesso em: 23 fev. 2021.

GONZAGA, A.; NEVES, K. P.; BEIJATO JUNIOR, R. Estatuto da advocacia e novo código de
ética e disciplina da OAB: Comentados. Rio de Janeiro: Método, 2019.

255
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

FIGURA – COMENTÁRIOS AO NOVO CÓDIGO DE ÉTICA DOS ADVOGADOS

FONTE:<https://bit.ly/3cvcHyi>. Acesso em: 23 fev. 2021.

COÊLHO, M. V. F. Comentários ao novo código de ética dos advogados. São Paulo: Saraiva,
2016.

Boa leitura!!!

Quando falamos de ética, sempre temos a visão filosófica do termo com


relação ao nosso dia a dia, mas quando adentramos em seus meandros práticos
da práxis profissional, vimos muitos detalhes surgir, e não é diferente quando a
OAB apresenta Código de Ética e Disciplina dos advogados.

Para entendermos esses detalhes, vamos conhecer o Código de Ética e


Disciplina da OAB.

FIGURA 5 – CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

FONTE: <http://lifenroll.com.br/platform/wp-content/uploads/2017/06/duplo-caminho-595x311.jpg>.
Acesso em: 27 nov. 2020.

2 DA ÉTICA DO ADVOGADO
Prezado acadêmico, vamos, agora, começar a análise do Código de
Ética e Disciplina da OAB, o qual você poderá acessar em sua íntegra no sítio
apresentado anteriormente no quadro de UNI DICA. Estudaremos o Título I que
trata Da Ética do Advogado.
256
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

A OAB e o Conselho Federal da Ordem dos Advogados Do Brasil, ao


elaborar o Código de Ética e Disciplina, nortearam-se na boa práxis e princípios
profissionais de boa conduta do advogado, buscando sempre pelo cumprimento
da Constituição e pelo respeito à lei instituída no País.

Conforme apresentado por Gonzaga, Neves e Beijato Junior (2019),


o advogado, em seu labor, ao seguir o código de ética também exercerá a sua
função em perfeita sintonia com a verdade para poder servir à Justiça com boa-fé
em todas as suas relações profissionais e em todos os atos do seu ofício.

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, conforme as


atribuições que lhe são conferidas pelos Arts. 33 e 54, V, da Lei nº 8.906, de 4
de julho de 1994, aprova e publica o Código de Ética e Disciplina do advogado,
ficando, assim, definido que os advogados brasileiros devem ser fiéis em sua
observância e em sua conduta (BRASIL, 1994).
Assim, nós temos a promulgação do Código de Ética e Princípios do
advogado, no dia 13 de fevereiro de 1995, pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil. A Resolução nº 02/2015, que aprova o Código de Ética e
Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), foi publicada no Diário
Oficial da União, DOU, S.1, 04.11.2015, p. 77.

Vamos, agora, conhecê-lo e estudá-lo mais a fundo. Assim, temos em seu


caput:
CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA OAB
O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO
BRASIL, ao instituir o Código de Ética e Disciplina, norteou-se por
princípios que formam a consciência profissional do advogado e
representam imperativos de sua conduta, tais como: os de lutar
sem receio pelo primado da Justiça; pugnar pelo cumprimento
da Constituição e pelo respeito à Lei, fazendo com que esta seja
interpretada com retidão, em perfeita sintonia com os fins sociais
a que se dirige e as exigências do bem comum; ser fiel à verdade
para poder servir à Justiça como um de seus elementos essenciais;
proceder com lealdade e boa-fé em suas relações profissionais e
em todos os atos do seu ofício; empenhar-se na defesa das causas
confiadas ao seu patrocínio, dando ao constituinte o amparo do
Direito, e proporcionando-lhe a realização prática de seus legítimos
interesses; comportar-se, nesse mister, com independência e altivez,
defendendo com o mesmo denodo humildes e poderosos; exercer a
advocacia com o indispensável senso profissional, mas também com
desprendimento, jamais permitindo que o anseio de ganho material
sobreleve à finalidade social do seu trabalho; aprimorar-se no culto dos
princípios éticos e no domínio da ciência jurídica, de modo a tornar-se
merecedor da confiança do cliente e da sociedade como um todo, pelos
atributos intelectuais e pela probidade pessoal; agir, em suma, com
a dignidade das pessoas de bem e a correção dos profissionais que
honram e engrandecem a sua classe.
Inspirado nesses postulados é que o Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil, no uso das atribuições que lhe são conferidas
pelos Arts. 33 e 54, V, da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, aprova
e edita este Código, exortando os advogados brasileiros à sua fiel
observância (OAB, 1995, p. 1).

257
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

Como você pôde ver no preâmbulo do Código de Ética e Princípios, o


Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil descreve todos os princípios
que norteou a sua execução e que também devem nortear a sua vida profissional.

Vamos à análise e interpretação do primeiro título do código de ética:


TÍTULO I
DA ÉTICA DO ADVOGADO
CAPÍTULO I
DAS REGRAS DEONTOLÓGICAS FUNDAMENTAIS
Art. 1º O exercício da advocacia exige conduta compatível com os
preceitos deste Código, do Estatuto, do Regulamento Geral, dos
Provimentos e com os demais princípios da moral individual, social e
profissional (OAB, 1995, p. 1).

A mensagem desse primeiro artigo é simples, ou seja, o advogado deve


seguir a sua conduta profissional sempre tendo como base o Código de Ética e
Princípios dos advogados e aos princípios da moral individual, social e profissional.
Art. 2º O advogado, indispensável à administração da Justiça, é
defensor do Estado democrático de direito, da cidadania, da moralidade
pública, da Justiça e da paz social, subordinando a atividade do seu
Ministério Privado à elevada função pública que exerce.
Parágrafo único. São deveres do advogado:
I – preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade
da profissão, zelando pelo seu caráter de essencialidade e
indispensabilidade;
II – atuar com destemor, independência, honestidade, decoro,
veracidade, lealdade, dignidade e boa-fé;
III – velar por sua reputação pessoal e profissional;
IV – empenhar-se, permanentemente, em seu aperfeiçoamento pessoal
e profissional;
V – contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das leis;
VI – estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre
que possível, a instauração de litígios;
VII – aconselhar o cliente a não ingressar em aventura judicial;
VIII – abster-se de:
a) utilizar de influência indevida, em seu benefício ou do cliente;
b) patrocinar interesses ligados a outras atividades estranhas à
advocacia, em que também atue;
c) vincular o seu nome a empreendimentos de cunho manifestamente
duvidoso;
d) emprestar concurso aos que atentem contra a ética, a moral, a
honestidade e a dignidade da pessoa humana;
e) entender-se diretamente com a parte adversa que tenha patrono
constituído, sem o assentimento deste.
IX – pugnar pela solução dos problemas da cidadania e pela efetivação
dos seus direitos individuais, coletivos e difusos, no âmbito da
comunidade (OAB, 1995, p. 1-2).

Conforme apresentado no Art. 2º, o advogado tem função primordial e,


portanto, indispensável à administração da Justiça, isso é bastante importante frisar,
pois, nas funções jurídicas, é a formação de direito que é obrigatório aos cargos
de juízes, promotores e outros baluartes da administração da justiça, além de ser
defensor do Estado democrático de direito, da cidadania e da moralidade pública.

258
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

Detalha-se, ainda, no Inciso VIII que o advogado deve abster-se de


diversas situações que podem denegrir a sua imagem e a práxis da categoria.

Art. 3º “O advogado deve ter consciência de que o Direito é um meio


de mitigar as desigualdades para o encontro de soluções justas e que a lei é um
instrumento para garantir a igualdade de todos” (OAB, 1995, p. 2).

Conforme expressado por Coêlho (2020, p. 26-27):


O Art. 3º ressalta a teleologia do Direito, instando os advogados a
atuarem segundo a compreensão do papel instrumental do Direito e
da lei, os quais existem como meios de se alcançar a construção de uma
sociedade justa, livre e solidária, conforme disposto pela Constituição
Federal (Art. 3º, I).
O advogado deve atuar tendo consciência de que a lei é um instrumento
que visa garantir a igualdade de todos. Aqui, a expressão compreende
tanto a igualdade formal, perante a lei, como a igualdade material,
que exige ações afirmativas e discriminações positivas a fim de tratar
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.

Gonzaga, Neves e Beijato Junior (2019) escrevem que, no Art. 4º, temos
a presunção de preservar a independência do advogado quando ele atua como
empregado, empregatícia ou por contrato de prestação permanente de serviços,
integrante de departamento jurídico, ou órgão de assessoria jurídica, público ou
privado.
Art. 4º O advogado vinculado ao cliente ou constituinte, mediante
relação empregatícia ou por contrato de prestação permanente de
serviços, integrante de departamento jurídico, ou órgão de assessoria
jurídica, público ou privado, deve zelar pela sua liberdade e
independência.
Parágrafo único. É legítima a recusa, pelo advogado, do patrocínio de
pretensão concernente à lei ou direito que também lhe seja aplicável,
ou contrarie expressa orientação sua manifestada anteriormente
(OAB, 1995, p. 2).

Não importa a relação existente entre o advogado e o cliente, fica


assegurado a sua independência e autonomia técnica para desenvolver as
estratégias jurídicas necessárias e a adotá-las nas causas em que trabalha.

Art. 5º “O exercício da advocacia é incompatível com qualquer procedimento


de mercantilização” (OAB, 1995, p. 2).

O Artigo 5º do Código de Ética e Disciplina versa que a práxis da advocacia


é incompatível com qualquer procedimento de mercantilização, pois ele deve se
atentar a sua função na sociedade e do grande caráter de confiança que a sua ação de
tratativa pessoal com os seus clientes, proíbe a incompatibilidade da profissão com
procedimentos de mercantilização, pois “ele não é uma máquina de atendimento
em massa”.

Assim, nós temos em Coêlho (2020, p. 27-28) que:

259
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

A captação de clientela, a publicidade ostensiva, como outdoors,


panfletagem, a divulgação da advocacia em conjunto com outra
atividade, oferta de consultas jurídicas pelo telefone ou pela internet,
todas práticas vedadas, são manifestações da mercantilização da
advocacia. O serviço do advogado deve ser individualizado, fundado
na relação de confiança entre advogado e cliente. Não há que se realizar
advocacia em “esteira de produção”, com atendimento em série. Essa
prática desvaloriza o serviço do advogado e prejudica sua principal
finalidade: a defesa dos direitos e interesses do cliente.
A advocacia não é obrigação de fim, mas de meio. A mercantilização
dos serviços jurídicos tende a “vender” ganhos de causa, promessa que
é incompatível com a atuação honesta e correta do advogado, que deve
se comprometer com o seu cliente e realizar todos os meios cabíveis
para garantir o direito reivindicado sem, no entanto, assegurar-lhe o
êxito na demanda (COÊLHO, 2020, p. 27-28).

Art. 6º “É defeso ao advogado expor os fatos em Juízo falseando


deliberadamente a verdade ou estribando-se na má-fé” (OAB, 1995, p. 2). O
Art. 6º apresenta que o advogado tem o dever ético de agir com honestidade e
a veracidade dos fatos deve ser caminho em seu trabalho, seja em juízo ou em
questões administrativas (perante a OAB). O advogado deve agir com lealdade
processual em toda a sua atuação profissional.

NOTA

Prezado acadêmico, vale ressaltar aquela máxima de “vender a alma para o


diabo”, tão comumente utilizada na advocacia, pois nada vale mais ao advogado do que
poder chegar de noite e dormir tranquilo, sabendo que ele cumpriu seus afazeres com
ética e zelo aos seus clientes. Por essa consciência ética, muitos escritórios de advocacia
têm selecionado melhor os seus clientes para evitar esses conflitos morais e éticos.

FIGURA – CONFLITOS

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3conkTd>. Acesso em 30 nov. 2020.

260
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

A atividade advocatícia precisa manter seus escrúpulos, não se pode querer


vencer a demanda judicial a qualquer custo, pois, na advocacia, os fins não justificam
os meios. O advogado em sua lide deve agir com coerência e verdade em suas
alegações, devendo sempre agir com boa-fé e honestidade para, como já colocamos,
poder chegar à noite e encostar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo, sempre
pautados nos princípios orientadores da conduta ética.

Art. 7º “É vedado o oferecimento de serviços profissionais que impliquem,


direta ou indiretamente, inculcação ou captação de clientela” (OAB, 1995, p. 2).

Aqui, ressaltamos que o advogado deve agir eticamente e nunca deve


afirmar que a questão está ganha, só para ganhar o cliente, pois esse fato não pode
ser afirmado até que a sentença seja promulgada, pois nunca se sabe das provas
contrárias e outras intempestividades do processo.

2.1 DAS RELAÇÕES COM O CLIENTE


O Capítulo II do Código de Ética do Advogado trata sobre as relações
profissionais entre o advogado e o consumidor. “Capítulo II - Das relações com o
cliente – Art. 8º O advogado deve informar o cliente, de forma clara e inequívoca,
quanto a eventuais riscos da sua pretensão, e das consequências que poderão advir
da demanda” (OAB,1995, p. 2, grifo nosso).

Toda comunicação entre cliente e advogado precisa ser clara, devendo o


profissional deixar claro todos os elementos e as consequências relacionadas que
poderão advir da demanda.

NOTA

Prezado acadêmico, novamente reforçamos que o advogado não pode


garantir que a demanda está ganha pelo cliente, pois são muitos os fatores que poderão
influenciar o processo e o seu resultado final.

Art. 9º A conclusão ou desistência da causa, com ou sem a extinção


do mandato, obriga o advogado à devolução de bens, valores e
documentos recebidos no exercício do mandato, e à pormenorizada
prestação de contas, não excluindo outras prestações solicitadas, pelo
cliente, a qualquer momento (OAB, 1995, p. 2).

É da boa práxis o exigido nesse artigo, pois é dever do advogado na


conclusão ou desistência da causa, com ou sem a extinção do mandato, a devolução
de bens, valores e documentos recebidos no exercício do mandato.

261
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

“Art. 10. Concluída a causa ou arquivado o processo, presumem-se o


cumprimento e a cessação do mandato” (OAB, 1995, p. 2). Conclusos os serviços
advocatícios, considera-se a cessação do contrato e, por consequência, seu mandato
de trabalho.

Na sequência, apresentaremos os demais artigos deste capítulo na sequência,


pois eles tratam de detalhes do relacionamento entre o advogado e seu cliente, os
quais estão claramente apresentados.
Art. 15. O mandado judicial ou extrajudicial deve ser outorgado
individualmente aos advogados que integrem sociedade de que façam
parte, e será exercido no interesse do cliente, respeitada a liberdade de
defesa.
Art. 16. O mandato judicial ou extrajudicial não se extingue pelo
decurso de tempo, desde que permaneça a confiança recíproca entre o
outorgante e o seu patrono no interesse da causa.
Art. 17. Os advogados integrantes da mesma sociedade profissional,
ou reunidos em caráter permanente para cooperação recíproca, não
podem representar em juízo clientes com interesses opostos.
Art. 18. Sobrevindo conflitos de interesse entre seus constituintes,
e não estando acordes os interessados, com a devida prudência e
discernimento, optará o advogado por um dos mandatos, renunciando
aos demais, resguardado o sigilo profissional.
Art. 19. O advogado, ao postular em nome de terceiros, contra ex-cliente
ou ex-empregador, judicial e extrajudicialmente, deve resguardar o
segredo profissional e as informações reservadas ou privilegiadas que
lhe tenham sido confiadas.
Art. 20. O advogado deve abster-se de patrocinar causa contrária à ética,
à moral ou à validade de ato jurídico em que tenha colaborado, orientado
ou conhecido em consulta; da mesma forma, deve declinar seu
impedimento ético quando tenha sido convidado pela outra parte, se
esta lhe houver revelado segredos ou obtido seu parecer.
Art. 21. É direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem
considerar sua própria opinião sobre a culpa do acusado.
Art. 22. O advogado não é obrigado a aceitar a imposição de seu cliente
que pretenda ver com ele atuando outros advogados, nem aceitara
indicação de outro profissional para com ele trabalhar no processo.
Art. 23. É defeso ao advogado funcionar no mesmo processo,
simultaneamente, como patrono e preposto do empregador ou cliente.
Art. 24. O substabelecimento do mandato, com reserva de poderes, é ato
pessoal do advogado da causa.
§ 1º O substabelecimento do mandato sem reservas de poderes exige o
prévio e inequívoco conhecimento do cliente.
§ 2º O substabelecido com reserva de poderes deve ajustar antecipadamente
seus honorários com o substabelecente (OAB, 1995, p. 3-4).

Gostaríamos de ressaltar somente o artigo Art. 21, que descreve que “É


direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem considerar sua própria
opinião sobre a culpa do acusado” (OAB,1995, p. 4), pois todos precisam de
advogados para a sua defesa e representá-los em juízo, devendo esse ser entendido
como uma práxis que precisa obedecer às regras de conduta expressas no código
de ética da profissão.

262
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

DICAS

Prezado acadêmico, gostaríamos de deixar a dica de leitura do capítulo do livro


de Coêlho (1996) que trata sobre o tema: As relações entre o advogado e o cliente, que traz
comentários muito interessantes sobre essa relação.

FONTE: COÊLHO, M. V. F. Comentários ao novo código de ética dos advogados. São Paulo:
Saraiva, 2016.

2.2 DO SIGILO PROFISSIONAL


O cliente, ao buscar uma advocacia para expor o seu problema, antes de
mais nada o faz na segurança de ser garantido o sigilo entre profissional e cliente
como fator deontológico fundamental, e inclusive já fundamentado anteriormente
neste caderno.

Conforme podemos ler em Gonzaga, Neves e Beijato Junior (2019) e


Coêlho (2016), analisando o sigilo profissional do advogado temos que os fatores
relacionados ao sigilo têm haver com a confiança depositada nele, pois sem
confiança essa relação esmaece.

Assim, nós temos no Código de Ética:


CAPÍTULO III - DO SIGILO PROFISSIONAL
Art. 25. O sigilo profissional é inerente à profissão, impondo-se o seu
respeito, salvo grave ameaça ao direito à vida, à honra, ou quando o
advogado se veja afrontado pelo próprio cliente e, em defesa própria,
tenha que revelar segredo, porém sempre restrito ao interesse da causa
(OAB, 1995, p. 4).

Os limites do sigilo profissional são bastante discutidos, mas o Art. 25 do


Código de Ética do Advogado é muito restrito sobre a sua quebra, como nos casos
apresentados de salvo grave ameaça ao direito à vida, à honra ou quando o
advogado se veja afrontado pelo próprio cliente e, em defesa própria, tenha que
revelar segredo, mesmo nessa condição, é reforçada a questão de que tal situação
deve sempre estar restrito ao interesse da causa.
Art. 26. O advogado deve guardar sigilo, mesmo em depoimento
judicial, sobre o que saiba em razão de seu ofício, cabendo-lhe recusar-
se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva
funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou tenha
sido advogado, mesmo que autorizado ou solicitado pelo constituinte
(OAB, 1995, p. 4).

Conforme Coêlho (1996) versa sobre o tema de sigilo profissional:

263
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

O advogado possui o dever de manter a reserva para proteger o direito


de seu cliente. Em decorrência, possui o direito de exigir o cumprimento
de tal garantia por parte de todos, inclusive, e principalmente, das
autoridades e do poder público.
A conversa entre o advogado e seu cliente, bem assim as comunicações
existentes nessa relação, não podem ser apropriadas por terceiros,
menos ainda servir como prova contra o cidadão. A defesa não pode ser
transmudada em acusação, sob pena de violação ao devido processo
legal e à segurança jurídica. A essencialidade do sigilo reside no fato
de ele exercer dupla função: a de proteção do direito do cliente e a de
prerrogativa do advogado. A relação cliente e advogado é permeada
pela confiança. E essa confiança necessita ser tutelada pelo código
de conduta profissional. Inconstitucional e antijurídica a situação do
cliente confiar os fatos ao advogado, quando este é obrigado a divulgá-
los no processo ou em depoimento testemunhal. É o caráter de sigilo
existente nas comunicações entre advogado e cliente que faz com que
o último tenha tranquilidade e segurança para expor integralmente
os fatos ao seu defensor para que este elabore a melhor estratégia na
defesa do direito pleiteado.
A inviolabilidade das comunicações entre cliente e advogado,
prerrogativa de status constitucional (Art. 133), é essencial à defesa
do constituinte sob o manto do Estado Democrático de Direito. Se, em
uma ação penal, por exemplo, o Ministério Público puder ter acesso
às comunicações entre o advogado e seu cliente e usá-las na acusação
deste, derrotado está o princípio da paridade de armas e da ampla
defesa (COÊLHO, 1996, p. 50).

O sigilo profissional entre o advogado e o cliente está difundido em diversos


pontos legais na legislação.

DICAS

Prezado acadêmico, segue sugestão de leitura de um artigo jurídico intitulado Da


importância do sigilo profissional na advocacia, o qual está disponível na íntegra em: https://
ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-104/da-importancia-do-sigilo-profissional-na-advocacia/.

Os seus principais temas trabalhados são: 1. Introdução. 2. Das exceções ao sigilo. 3. Da


extensão do sigilo. 4. Confidências utilizadas na defesa e outros esclarecimentos. 5. Conclusão

Um artigo legal para a leitura é este da OAB: Sigilo profissional do advogado é base do
direito de defesa do cidadão. Disponível em: https://www.oabsp.org.br/noticias/2017/10/
sigilo-profissional-do-advogado-e-base-do-direito-de-defesa-do-cidadao.12000.

Leia também este parecer da OAB: Tribunal de Ética e Disciplina / Pareceres / E-3.965/2010.
Acesse o link https://www.oabsp.org.br/tribunal-de-etica-e-disciplina/pareceres/e-3-965-2010.

São assuntos bem pertinentes ao que você está estudando.

Boa leitura!!!

264
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

Art. 27. As confidências feitas ao advogado pelo cliente podem ser


utilizadas nos limites da necessidade da defesa, desde que autorizado
aquele pelo constituinte.
Parágrafo único. Presumem-se confidenciais as comunicações epistolares
entre advogado e cliente, as quais não podem ser reveladas a terceiro
(OAB, 1995, p. 4).

As falas entre advogado e clientes não podem ser reveladas a terceiros ou


serem utilizadas em defesas se não forem autorizadas pelo cliente.

FIGURA 6 – SIGILO PROFISSIONAL DO ADVOGADO

FONTE:<https://bit.ly/38tdezt>. Acesso em: 1º dez. 2020.

Este é um capítulo bem curto mesmo, contendo somente três artigos com
uma mensagem bem clara, o sigilo entre advogado e cliente é inviolável, salvo raras
situações também explicitadas no capítulo.

2.3 DA PUBLICIDADE, DOS HONORÁRIOS PROFISSIONAIS E


OUTROS ASSUNTOS
Os Capítulos IV a VII tratam dos assuntos respectivamente Da publicidade,
dos honorários profissionais, do dever de urbanidade e das disposições gerais,
são os últimos capítulos referentes ao Código de Ética Profissional do Advogado.
Não delongaremos maiores explicações sobre eles, mas os deixaremos em sua
íntegra na sequência para o seu conhecimento.

2.3.1 Capítulo IV – da publicidade


Apresentaremos, a seguir, a íntegra do capítulo e a principal mensagem
passada é que não se recomenda ao advogado realizar campanhas de publicidade
em massa, nem se vangloriar de seus feitos por nenhum meio de comunicação, seja
impresso, televisivo ou, mais recentemente, pelos meios de mídias de relacionamento.

Vamos ao texto completo.

265
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

CAPÍTULO IV
DA PUBLICIDADE

Art. 28. O advogado pode anunciar os seus serviços profissionais, individual


ou coletivamente, com discrição e moderação, para finalidade exclusivamente
informativa, vedada a divulgação em conjunto com outra atividade.

Art. 29. O anúncio deve mencionar o nome completo do advogado e o número


da inscrição na OAB, podendo fazer referência a títulos ou qualificações
profissionais, especialização técnico-científica e associações culturais e
científicas, endereços, horário do expediente e meios de comunicação, vedadas
a sua veiculação pelo rádio e televisão e a denominação de fantasia.
§ 1º Títulos ou qualificações profissionais são os relativos à profissão de
advogado, conferidos por universidades ou instituições de ensino superior,
reconhecidas.
§ 2º Especialidades são os ramos do Direito, assim entendidos pelos
doutrinadores ou legalmente reconhecidos.
§ 3º Correspondências, comunicados e publicações, versando sobre constituição,
colaboração, composição e qualificação de componentes de escritório e
especificação de especialidades profissionais, bem como boletins informativos e
comentários sobre legislação, somente podem ser fornecidos a colegas, clientes
ou pessoas que os solicitem ou os autorizem previamente.
§ 4º O anúncio de advogado não deve mencionar, direta ou indiretamente,
qualquer cargo, função pública ou relação de emprego e patrocínio que tenha
exercido, passível de captar clientela.
§ 5º O uso das expressões “escritório de advocacia” ou “sociedade de advogados”
deve estar acompanhado da indicação de número de registro na OAB ou do
nome e do número de inscrição dos advogados que o integrem.
§ 6º O anúncio, no Brasil, deve adotar o idioma português, e, quando em idioma
estrangeiro, deve estar acompanhado da respectiva tradução.

Art. 30. O anúncio sob a forma de placas, na sede profissional ou na residência


do advogado, deve observar discrição quanto ao conteúdo, forma e dimensões,
sem qualquer aspecto mercantilista, vedada a utilização de outdoor ou
equivalente.

Art. 31. O anúncio não deve conter fotografias, ilustrações, cores, figuras,
desenhos, logotipos, marcas ou símbolos incompatíveis com a sobriedade da
advocacia, sendo proibido o uso dos símbolos oficiais e dos que sejam utilizados
pela Ordem dos Advogados do Brasil.
§ 1º São vedadas referências a valores dos serviços, tabelas, gratuidade ou
forma de pagamento, termos ou expressões que possam iludir ou confundir
o público, informações de serviços jurídicos suscetíveis de implicar, direta ou
indiretamente, captação de causa ou clientes, bem como menção ao tamanho,
qualidade e estrutura da sede profissional.

266
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

§ 2º Considera-se imoderado o anúncio profissional do advogado mediante


remessa de correspondência a uma coletividade, salvo para comunicar a clientes
e colegas a instalação ou mudança de endereço, a indicação expressa do seu
nome e escritório em partes externas de veículo, ou a inserção de seu nome em
anúncio relativo a outras atividades não advocatícias, faça delas parte ou não.

Art. 32. O advogado que eventualmente participar de programa de televisão


ou de rádio, de entrevista na imprensa, de reportagem televisionada ou de
qualquer outro meio, para manifestação profissional, deve visar a objetivos
exclusivamente ilustrativos, educacionais e instrutivos, sem propósito de
promoção pessoal ou profissional, vedados pronunciamentos sobre métodos
de trabalho usados por seus colegas de profissão.
Parágrafo único. Quando convidado para manifestação pública, por qualquer
modo e forma, visando ao esclarecimento de tema jurídico de interesse geral,
deve o advogado evitar insinuações a promoção pessoal ou profissional, bem
como o debate de caráter sensacionalista.

Art. 33. O advogado deve abster-se de:


I– responder com habitualidade consulta sobre matéria jurídica, nos meios de
comunicação social, com intuito de promover-se profissionalmente;
II– debater, em qualquer veículo de divulgação, causa sob seu patrocínio ou
patrocínio de colega;
III– abordar tema de modo a comprometer a dignidade da profissão e da
instituição que o congrega;
IV– divulgar ou deixar que seja divulgada a lista de clientes e demandas;
V– insinuar-se para reportagens e declarações públicas.

Art. 34. A divulgação pública, pelo advogado, de assuntos técnicos ou jurídicos


de que tenha ciência em razão do exercício profissional como advogado
constituído, assessor jurídico ou parecerista, deve limitar-se a aspectos que não
quebrem ou violem o segredo ou o sigilo profissional.

• Ver Arts. 7º, II e XIX, 34, VII, e 72, § 2º, do Estatuto.


• Ver Arts. 1º, § 3º, 14, Parágrafo único, 33, Parágrafo único, 34, XIII, e 35,
Parágrafo único, do Estatuto e Provimento nº 94/2000.

FONTE: <https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/codigodeetica.pdf>. Acesso em:


24 nov. 2020.

267
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

DICAS

Prezado acadêmico, sugerimos a você uma leitura atenta deste capítulo, pois é um
dos que mais geram processos administrativos na OAB, pois somos tentados diversas vezes em
nossas vidas profissionais a fazer uma ação de comunicação para angariarmos mais clientes ou
comunicar as nossas conquistas judiciais. Tome muito cuidado com esse assunto!!!

2.3.2 Capítulo V – Dos honorários profissionais


A seguir, apresentaremos a íntegra do Capítulo V, e quando tratamos de
honorários é um assunto bem melindroso, pois depende de muitas variáveis e,
por isso, temos a tabela da OAB que pode nos orientar sobre o tema.

Vamos conhecer o capítulo que fala sobre os honorários advocatícios.

CAPÍTULO V
DOS HONORÁRIOS PROFISSIONAIS

Art. 35. Os honorários advocatícios e sua eventual correção, bem como sua majoração
decorrente do aumento dos atos judiciais que advierem como necessários, devem
ser previstos em contrato escrito, qualquer que seja o objeto e o meio da prestação
do serviço profissional, contendo todas as especificações e forma de pagamento,
inclusive no caso de acordo.
§ 1º Os honorários da sucumbência não excluem os contratados, porém devem
ser levados em conta no acerto final com o cliente ou constituinte, tendo sempre
presente o que foi ajustado na aceitação da causa.
§2º A compensação ou o desconto dos honorários contratados e de valores que
devam ser entregues ao constituinte ou cliente só podem ocorrer se houver
prévia autorização ou previsão contratual.
§ 3º A forma e as condições de resgate dos encargos gerais, judiciais e extrajudiciais,
inclusive eventual remuneração de outro profissional, advogado ou não, para
desempenho de serviço auxiliar ou complementar técnico e especializado, ou
com incumbência pertinente fora da Comarca, devem integrar as condições
gerais do contrato.

Art. 36. Os honorários profissionais devem ser fixados com moderação,


atendidos os elementos seguintes:
I– a relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade das questões versadas;
II– o trabalho e o tempo necessários;
III– a possibilidade de ficar o advogado impedido de intervir em outros casos,
ou de se desavir com outros clientes ou terceiros;

268
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

IV– o valor da causa, a condição econômica do cliente e o proveito para ele


resultante do serviço profissional;
V– o caráter da intervenção, conforme se trate de serviço a cliente avulso,
habitual ou permanente;
VI– o lugar da prestação dos serviços, fora ou não do domicílio do advogado;
VII –a competência e o renome do profissional;
VIII– a praxe do foro sobre trabalhos análogos.

Art. 37. Em face da imprevisibilidade do prazo de tramitação da demanda,


devem ser delimitados os serviços profissionais a se prestarem nos
procedimentos preliminares, judiciais ou conciliatórios, a fim de que outras
medidas, solicitadas ou necessárias, incidentais ou não, diretas ou indiretas,
decorrentes da causa, possam ter novos honorários estimados, e da mesma
forma receber do constituinte ou cliente a concordância hábil.

Art. 38. Na hipótese da adoção de cláusula quota litis, os honorários devem


ser necessariamente representados por pecúnia e, quando acrescidos dos de
honorários da sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advindas
em favor do constituinte ou do cliente.
Parágrafo único. A participação do advogado em bens particulares de cliente,
comprovadamente sem condições pecuniárias, só é tolerada em caráter
excepcional, e desde que contratada por escrito.

Art. 39. A celebração de convênios para prestação de serviços jurídicos com


redução dos valores estabelecidos na Tabela de Honorários implica captação
de clientes ou causa, salvo se as condições peculiares da necessidade e dos
carentes puderem ser demonstradas com a devida antecedência ao respectivo
Tribunal de Ética e Disciplina, que deve analisar a sua oportunidade.

Art. 40. Os honorários advocatícios devidos ou fixados em tabelas no regime da


assistência judiciária não podem ser alterados no quantum estabelecido; mas a
verba honorária decorrente da sucumbência pertence ao advogado.

Art. 41. O advogado deve evitar o aviltamento de valores dos serviços


profissionais, não os fixando de forma irrisória ou inferior ao mínimo fixado
pela Tabela de Honorários, salvo motivo plenamente justificável.

Art. 42. O crédito por honorários advocatícios, seja do advogado autônomo, seja
de sociedade de advogados, não autoriza o saque de duplicatas ou qualquer
outro título de crédito de natureza mercantil, exceto a emissão de fatura, desde
que constitua exigência do constituinte ou assistido, decorrente de contrato
escrito, vedada a tiragem de protesto.

Art. 43. Havendo necessidade de arbitramento e cobrança judicial dos honorários


advocatícios, deve o advogado renunciar ao patrocínio da causa, fazendo-se
representar por um colega.

269
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

• Ver Arts. 21 a 26 e 34, III, da Lei nº 8.906/94 e Arts. 14 e 111 do Regulamento Geral.

FONTE: <https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/codigodeetica.pdf>. Acesso em:


24 nov. 2020.

NOTA

Prezado acadêmico, a tabela de honorários advocatícios é definida por estado,


apresentamos algumas referências para a sua consulta, a seguir:

• Santa Catarina: https://www.oab-sc.org.br/tabela-honorarios.


• Paraná: https://honorarios.oabpr.org.br/tabela-de-honorarios.
• São Paulo: https://www.oabsp.org.br/servicos/tabelas
• Rio de Janeiro: https://www.oabrj.org.br/sites/default/files/tabela_01_2020_site.pdf.
• Minas Gerais: https://bit.ly/3r4UBt2.
• Bahia: https://www.oab-ba.org.br/advogado/tabela-de-honorarios.
• Amazonas: https://www.oabam.org.br/diretorio/Tabela_2020.pdf.

Se o seu estado não apareceu aqui nessa referência, procure na internet.

Boa pesquisa!

2.3.3 Capítulo VI – Do dever de urbanidade


Apresentaremos, a seguir, a íntegra do capítulo sobre a urbanidade que
trata do comportamento e o uso de linguajar adequado em todas as instâncias.
CAPÍTULO VI – DO DEVER DE URBANIDADE
Art. 44. Deve o advogado tratar o público, os colegas, as autoridades
e os funcionários do Juízo com respeito, discrição e independência,
exigindo igual tratamento e zelando pelas prerrogativas a que tem
direito.
Art. 45. Impõe-se ao advogado lhaneza, emprego de linguagem
escorreita e polida, esmero e disciplina na execução dos serviços.
Art. 46. O advogado, na condição de defensor nomeado, conveniado ou
dativo, deve comportar-se com zelo, empenhando-se para que o cliente
se sinta amparado e tenha a expectativa de regular desenvolvimento
da demanda (OAB, 1995, p. 7).

2.3.4 Capítulo VII – Das disposições gerais


Esse capítulo possui dois artigos, os quais são:

270
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

CAPÍTULO VII - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS


Art. 47. A falta ou inexistência, neste Código, de definição ou orientação
sobre questão de ética profissional, que seja relevante para o exercício da
advocacia ou dele advenha, enseja consulta e manifestação do Tribunal
de Ética e Disciplina ou do Conselho Federal (OAB, 1995, p. 7).

O Art. 47 descreve que qualquer situação especial não apresentada no


Código de Ética do Advogado será analisada pelo Tribunal de Ética e Disciplina
ou do Conselho Federal, quando houver manifestação para tal fato.
Art. 48. Sempre que tenha conhecimento de transgressão das normas
deste Código, do Estatuto, do Regulamento Geral e dos Provimentos,
o Presidente do Conselho Seccional, da Subseção, ou do Tribunal
de Ética e Disciplina deve chamar a atenção do responsável para o
dispositivo violado, sem prejuízo da instauração do competente
procedimento para apuração das infrações e aplicação das penalidades
cominadas (OAB, 1995, p. 7).

Havendo alguma transgressão das normas desse Código, do Estatuto,


do Regulamento Geral e dos Provimentos e a OAB tomar conhecimento de tal
fato, o Presidente do Conselho Seccional, da Subseção ou do Tribunal de Ética
e Disciplina deve chamar a atenção do responsável, mesmo não sendo aberta
nenhuma queixa por terceiros.

Ufa!!! Terminamos aqui a análise do Código de Ética da OAB, vimos


os principais pontos, mas por mais que procuramos detalhar, sugerimos o seu
aprofundamento acadêmico, pois ele é base para o seu futuro profissional além
de ser assunto que cai no exame da ordem.

3 DO PROCESSO DISCIPLINAR
Prezado acadêmico, quando apresentamos um código de ética profissional,
devemos supor que alguém poderá agir de forma a contrariá-lo, por isso, a OAB
também definiu os procedimentos ligados ao processo disciplinar do advogado
que transgrida às regras.

TÍTULO II
DO PROCESSO DISCIPLINAR
CAPÍTULO I
DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA
Art. 49. O Tribunal de Ética e Disciplina é competente para orientar
e aconselhar sobre ética profissional, respondendo às consultas em
tese, e julgar os processos disciplinares.
Parágrafo único. O Tribunal reunir-se-á mensalmente ou em menor
período, se necessário, e todas as sessões serão plenárias.
Art. 50. Compete também ao Tribunal de Ética e Disciplina:
I– instaurar, de ofício, processo competente sobre ato ou matéria
que considere passível de configurar, em tese, infração a princípio
ou norma de ética profissional;

271
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

II– organizar, promover e desenvolver cursos, palestras, seminários


e discussões a respeito de ética profissional, inclusive junto aos
Cursos Jurídicos, visando à formação da consciência dos futuros
profissionais para os problemas fundamentais da ética;
III– expedir provisões ou resoluções sobre o modo de proceder em
casos previstos nos regulamentos e costumes do foro;
IV– mediar e conciliar nas questões que envolvam:
a) dúvidas e pendências entre advogados;
b) partilha de honorários contratados em conjunto ou mediante
substabelecimento, ou decorrente de sucumbência;
c) controvérsias surgidas quando da dissolução de sociedade de
advogados (OAB, 1995, p. 8-9).

O Capítulo I trata das competências do tribunal de ética e disciplina da


OAB, sendo que, no Art. 51, temos descrito as competências deste tribunal, sendo
autoexplicativas no artigo em si.

Já o Capítulo II - Do processo disciplinar, descreve todo o processo disciplinar


a que um advogado pode incorrer quando ele for citado por algum decoro com relação
a sua ação ou em contrassenso ao código de ética da OAB.

Novamente, apresentaremos o capítulo em sua íntegra, pois ele foi escrito


de forma clara e concisa, facilmente entendível a você, acadêmico.

CAPÍTULO II
DOS PROCEDIMENTOS

Art. 51. O processo disciplinar instaura-se de ofício ou mediante representação


dos interessados, que não pode ser anônima.
§ 1º Recebida a representação, o Presidente do Conselho Seccional ou da
Subseção, quando esta dispuser de Conselho, designa relator um de seus
integrantes, para presidir a instrução processual.
§ 2º O relator pode propor ao Presidente do Conselho Seccional ou da
Subseção o arquivamento da representação, quando estiver desconstituída dos
pressupostos de admissibilidade.
§ 3º A representação contra membros do Conselho Federal e Presidentes dos
Conselhos Seccionais é processada e julgada pelo Conselho Federal.

Art. 52. Compete ao relator do processo disciplinar determinar a notificação dos


interessados para esclarecimentos, ou do representado para a defesa prévia, em
qualquer caso no prazo de 15 (quinze) dias.
§ 1º Se o representado não for encontrado ou for revel, o Presidente do Conselho
ou da Subseção deve designar-lhe defensor dativo.
§ 2º Oferecida a defesa prévia, que deve estar acompanhada de todos os documentos
e o rol de testemunhas, até o máximo de cinco, é proferido o despacho saneador
e, ressalvada a hipótese do § 2º do Art. 73 do Estatuto, designada, se reputada

272
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

necessária, a audiência para oitiva do interessado do representado e das testemunhas.


O interessado e o representado deverão incumbir-se do comparecimento de suas
testemunhas, a não ser que prefiram suas intimações pessoais, o que deverá ser
requerido na representação e na defesa prévia. As intimações pessoais não serão
renovadas em caso de não-comparecimento, facultada a substituição de testemunhas,
se presente a substituta na audiência. NR 6
§ 3º O relator pode determinar a realização de diligências que julgar convenientes.
§ 4º Concluída a instrução, será aberto o prazo sucessivo de 15 (quinze) dias
para a apresentação de razões finais pelo interessado e pelo representado, após
a juntada da última intimação.
§ 5º Extinto o prazo das razões finais, o relator profere parecer preliminar, a ser
submetido ao Tribunal.

Art. 53. O Presidente do Tribunal, após o recebimento do processo devidamente


instruído, designa relator para proferir o voto.
§ 1º O processo é inserido automaticamente na pauta da primeira sessão de
julgamento, após o prazo de 20 (vinte) dias de seu recebimento pelo Tribunal,
salvo se o relator determinar diligências.
§ 2º O representado é intimado pela Secretaria do Tribunal para a defesa oral na
sessão, com 15 (quinze) dias de antecedência.
§ 3º A defesa oral é produzida na sessão de julgamento perante o Tribunal, após
o voto do relator, no prazo de 15 (quinze) minutos, pelo representado ou por
seu advogado.

Art. 54. Ocorrendo a hipótese do Art. 70, § 3º, do Estatuto, na sessão especial
designada pelo Presidente do Tribunal, são facultadas ao representado ou ao
seu defensor a apresentação de defesa, a produção de prova e a sustentação
oral, restritas, entretanto, à questão do cabimento, ou não, da suspensão
preventiva.

Art. 55. O expediente submetido à apreciação do Tribunal é autuado pela


Secretaria, registrado em livro próprio e distribuído às Seções ou Turmas
julgadoras, quando houver.

Art. 56. As consultas formuladas recebem autuação em apartado, e a esse


processo são designados relator e revisor, pelo Presidente.
§ 1º O relator e o revisor têm prazo de dez (10) dias, cada um, para elaboração de
seus pareceres, apresentando-os na primeira sessão seguinte, para julgamento.
§ 2º Qualquer dos membros pode pedir vista do processo pelo prazo de uma
sessão e desde que a matéria não seja urgente, caso em que o exame deve ser
procedido durante a mesma sessão. Sendo vários os pedidos, a Secretaria
providencia a distribuição do prazo, proporcionalmente, entre os interessados.
§ 3º Durante o julgamento e para dirimir dúvidas, o relator e o revisor, nessa
ordem, têm preferência na manifestação.
§ 4º O relator permitirá aos interessados produzir provas, alegações e arrazoados,
respeitado o rito sumário atribuído por este Código.

273
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

§ 5º Após o julgamento, os autos vão ao relator designado ou ao membro


que tiver parecer vencedor para lavratura de acórdão, contendo ementa a ser
publicada no órgão oficial do Conselho Seccional.

Art. 57. Aplica-se ao funcionamento das sessões do Tribunal o procedimento


adotado no Regimento Interno do Conselho Seccional.

Art. 58. Comprovado que os interessados no processo nele tenham intervindo


de modo temerário, com sentido de emulação ou procrastinação, tal fato
caracteriza falta de ética passível de punição.

Art. 59. Considerada a natureza da infração ética cometida, o Tribunal pode


suspender temporariamente a aplicação das penas de advertência e censura
impostas, desde que o infrator primário, dentro do prazo de 120 dias, passe
a frequentar e conclua, comprovadamente, curso, simpósio, seminário ou
atividade equivalente, sobre Ética Profissional do Advogado, realizado por
entidade de notória idoneidade.

Art. 60. Os recursos contra decisões do Tribunal de Ética e Disciplina, ao


Conselho Seccional, regem-se pelas disposições do Estatuto, do Regulamento
Geral e do Regimento Interno do Conselho Seccional.
Parágrafo único. O Tribunal dará conhecimento de todas as suas decisões ao
Conselho Seccional, para que determine periodicamente a publicação de seus
julgados.

Art. 61. Cabe revisão do processo disciplinar, na forma prescrita no Art. 73, §
5º, do Estatuto.

• Ver Arts. 43, 58, III, 61, Parágrafo único, “c”, 68, e 70 a 74, da Lei nº 8.906/94,
Arts. 89, V e VII, 120, § 3º, 137-A e seguintes do Regulamento Geral e
Provimento nº 83/96.
• Ver Provimento nº 83/96 e o Manual de Procedimentos do Processo Ético-
Disciplinar, editado pela Segunda Câmara do Conselho Federal.
• Ver Proposição nº 0042/2002/COP (DJ, 03.02.2003, p. 574, S.1).

FONTE: <https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/codigodeetica.pdf> Acesso em:


24 fev. 2021.

Como você leu, temos todo o processo descrito, desde o seu encaminhamento,
procedimentos internos e a sua execução quando for o caso.

274
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

DICAS

Prezado acadêmico, a própria OAB apresenta um manual de procedimentos sobre


os processos disciplinares, o qual recomendamos a leitura para o seu melhor aprofundamento
sobre o tema: Manual de procedimentos do processo ético-disciplinar – OAB. Na íntegra em:
https://www.oab.org.br/Content/pdf/AnexoUnicoResolucaon022018SCA.pdf.

FIGURA – MANUAL DE PROCEDIMENTOS DO PROCESSO ÉTICO-DISCIPLINAR

FONTE: <https://www.oab.org.br/Content/pdf/AnexoUnicoResolucaon022018SCA.pdf>.
Acesso Em: 24 fev. 2021.

Boa leitura!!!

Para encerrar, temos o Capítulo III, que apresenta as questões finais e


disposições gerais e transitórias sobre o Código de Ética e Disciplina da OAB,
conforme apresentado a seguir.
CAPÍTULO III - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 62. O Conselho Seccional deve oferecer os meios e suporte
imprescindíveis para o desenvolvimento das atividades do Tribunal.
Art. 63. O Tribunal de Ética e Disciplina deve organizar seu Regimento
Interno, a ser submetido ao Conselho Seccional e, após, ao Conselho
Federal.
Art. 64. A pauta de julgamentos do Tribunal é publicada em órgão
oficial e no quadro de avisos gerais, na sede do Conselho Seccional,
com antecedência de 7 (sete) dias, devendo ser dada prioridade nos
julgamentos para os interessados que estiverem presentes.

275
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

Art. 65. As regras deste Código obrigam igualmente as sociedades de


advogados e os estagiários, no que lhes forem aplicáveis.
Art. 66. Este Código entra em vigor, em todo o território nacional, na
data de sua publicação, cabendo aos Conselhos Federal e Seccionais e
às Subseções da OAB promover a sua ampla divulgação, revogadas as
disposições em contrário.
Brasília-DF, 13 de fevereiro de 1995 (OAB, 1995, p. 10).

Esperamos que você tenha aprendido mais sobre esse ponto tão importante
da vida profissional do advogado, pois a ética e o profissionalismo é a base para
ser um bom advogado, e o Brasil precisa de bons advogados para garantir a
legalidade judicial no País.

Vamos fechar este tópico, com uma leitura, o resumo e as questões de


revisão.

APONTAMENTOS SOBRE O PROCESSO DISCIPLINAR NA ORDEM


DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB)

Celso Augusto Coccaro Filho

As questões relativas ao processo destinado à apuração de infrações e


aplicação de sanções disciplinares aos advogados, a princípio de rara incidência
nos Exames de Ordem, têm se tornado frequentes.

No último Exame (124º) realizado pelo Conselho Seccional de São Paulo,


5, entre 10 questões, abordaram a matéria, o que recomenda o delineamento
dos seguintes apontamentos:

1. O processo disciplinar é objeto do Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/1994),


do Código de Ética e Disciplina, do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia
e a OAB, de Provimentos do Conselho Federal e dos Conselhos Seccionais e dos
Regimentos Internos dos Tribunais de Ética.

O candidato ao Exame de Ordem não deve restringir seu estudo


ao Estatuto, induzido pela ideia de que aquele diploma concentra normas
principais ou gerais, de forma suficiente e exauriente. Questões procedimentais
relevantes são tratadas pelo Código de Ética; o Regulamento Geral se aprofunda
nas notificações e nos recursos, pouco abordados nos outros diplomas.

2. Prevê o Estatuto, no Art. 68, a aplicação subsidiária, ao processo


disciplinar, das normas da legislação processual penal. As normas relativas a
procedimentos administrativos e da legislação processual civil, nessa ordem,
são subsidiariamente aplicadas aos demais processos previstos no Estatuto, isto
é, aqueles que não se destinam à apuração e aplicação de sanções disciplinares,
tais quais pedidos de inscrição suplementar, cancelamento de inscrição,
licenciamento do advogado, relativos a eleições e inúmeros outros.

276
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

Exemplo recorrente da integração normativa é a inspiração suscitada


pela mutatio libelli do Art. 384 do Código de Processo Penal.

Ao analisar a representação e a defesa prévia, o relator poderá propor


o seu arquivamento (Art. 73, § 2.º, do Estatuto e Art. 51, § 2.º, do Código de
Ética) ou a instauração do procedimento (Art. 52, § 2.º, do Código de Ética).
Nesse momento, aponta o dispositivo legal que permite a subsunção e que
deverá gizar à instrução processual, em decisão que o Código de Ética chama
de “despacho saneador”.

As representações, porém, são usualmente formuladas por leigos, sem


qualquer apuro técnico; as defesas, diante de imputação imprecisa, tendem
ao laconismo, à oposição genérica ou à desqualificação ofensiva da parte
representante. Diante desse quadro, que ainda não lhe permite visão precisa
dos fatos, o “advogado assessor” procede à capitulação da conduta.

A instrução costuma descortinar outro panorama, às vezes, mais grave,


outras dando ensejo à conclusão de inexistência de infração. Estará o julgamento
adstrito à capitulação consignada no despacho que redundou na instauração
do processo?

O Conselho Federal não entende dessa maneira: “Assim, é possível


durante a instrução processual, ou até mesmo na fase recursal, ocorrer novo
enquadramento jurídico da conduta infracional do representado, aplicando-
se pena diversa daquela inicialmente prevista, desde que os fatos sejam os
mesmos” (Ementa nº 102/2003/SCA, Recurso nº 0089/2003/SCA/SP, DJ de
2.10.2003, p. 516). “O representado se defende do fato que lhe é imputado, e não
da capitulação jurídica que lhe é atribuída” (Ementa nº 014/2004/SCA, Recurso
nº 0270/2003/SCA/PR, DJ de 1º.4.2004, p. 409).

Observado o contraditório, concedida ao representado a possibilidade


de se opor aos fatos que lhe são imputados, o julgamento não se restringe à
infração capitulada na promoção que antecede a instauração.

Tendo conhecimento, porém, de fato hábil a constituir violação


disciplinar, verificado no curso do processo, em torno do qual não se constituiu
a controvérsia, restará ao advogado relator a promoção de representação ex-
ofício, que poderá dar ensejo à instrução de outro processo disciplinar, vedado
o julgamento naqueles autos, por inquestionável lesão ao due process of law.

3. Os prazos processuais são, invariavelmente, de 15 dias: apresentação


de defesa, manifestações nos autos, interposição de recursos. O prazo para
apresentação de defesa prévia poderá ser prorrogado, a juízo do relator,
quando exposto motivo relevante (coleta de elementos, desarquivamento de
autos processuais etc.).

[...]

277
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

7. Quais os recursos cabíveis?

Os recursos não são nominados, com exceção dos embargos de declaração;


ostentam, tão-somente, a designação genérica que exalta sua finalidade. Não há
previsão de recursos contra decisões interlocutórias. São recorríveis apenas as
decisões terminativas, de mérito ou não.

Os recursos têm efeito devolutivo e suspensivo, exceto aquele interposto


contra a decisão que aplica a suspensão preventiva (Art. 77 do Estatuto; as demais
hipóteses nele mencionadas não dizem respeito ao processo disciplinar). O prazo
para interposição é uniforme: 15 dias, inclusive para os embargos de declaração.

A modalidade por último referida não é prevista no Estatuto ou no Código


de Ética, mas no Regulamento Geral (Art. 138), e destina-se a sanar omissões
e lacunas, além de corrigir contradições. A decisão que os admite ou rejeita é
irrecorrível.

Das decisões proferidas pelos Tribunais de Ética, unânimes ou não,


cabe recurso ao Conselho Seccional (Art. 76 do Estatuto), que será julgado pelo
plenário ou órgão especial equivalente (Art. 144 do Regulamento Geral).

Das decisões proferidas pelo Conselho Seccional cabe recurso ao


Conselho Federal, nas seguintes hipóteses: a) quando não unânimes, tenham
ou não alterado a decisão de primeiro grau; b) quando unânimes, contrariarem
o Estatuto, o Regulamento Geral, o Código de Ética, os Provimentos e decisão
do Conselho Federal ou de outro Conselho Seccional. Têm legitimidade recursal
tanto o representante quanto os representados, desde que demonstrem o interesse
processual.

8. O Estatuto também prevê a revisão dos processos disciplinares (Art. 73,


§ 5º; no Código de Ética, Art. 61), quando a decisão condenatória (e apenas ela):

a) decorre de erro de julgamento (dois exemplos, da casuística: “Há


erro de julgamento quando o Conselho Federal, pretendendo manter a decisão
do Conselho Seccional, fixa pena diversa e mais gravosa do que a penitência
estabelecida em primeiro grau” (Proc. n. 1.493/94/SC, DJ de 25.9.1995, p. 31387);
“Julgamento proferido em processo disciplinar, quando a prescrição da pretensão
punitiva já se consumara, considera-se eivado de falha, caracterizando erro de
julgamento e ensejando, portanto, pedido de revisão” (Proc. n. 0188/2003/SCA/
DF, DJ de 16.7.2003, p. 48, s. 1);

b) é calcada em falsa prova.

A figura análoga dos Arts. 621 a 627 do Código de Processo Penal (que
se aplica subsidiariamente ao processo disciplinar, como já mencionado) permite
extrair algumas conclusões: a) apenas detém legitimidade o advogado punido; b)

278
TÓPICO 2 — CÓDIGO DE ÉTICA DO ADVOGADO

revisão não é recurso; pressupõe o trânsito em julgado da decisão condenatória;


c) pode ser parcial, com redução da pena, ou total, resultando na absolvição.

FONTE: <https://www.sedep.com.br/artigos/apontamentos-sobre-o-processo-disciplinar-na-
-ordem-dos-advogados-do-brasil-oab/>. Acesso em: 1º dez. 2020.

279
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A ética nos remete a uma visão filosófica do termo em relação ao nosso dia a
dia, mas quando adentramos em seus meandros práticos da práxis profissional,
vimos muitos detalhes práticos surgirem.

• Código de Ética e Disciplina da OAB norteia-se na boa práxis e princípios


profissionais de boa conduta do advogado, buscando sempre pelo cumprimento
da Constituição e pelo respeito à lei instituída no País.

• O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, conforme as atribuições


que lhe são conferidas pelos Art. 33 e 54, V, da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994,
aprova e publica o Código de Ética e Disciplina do advogado (BRASIL,1994).

• Segundo o Art. 1º, “o exercício da advocacia exige conduta compatível com os


preceitos deste Código, do Estatuto, do Regulamento Geral, dos Provimentos e
com os demais princípios da moral individual, social e profissional” (OAB, 1994).

• O advogado é indispensável à administração da Justiça.

• São deveres do advogado:


o I- preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profissão,
zelando pelo seu caráter de essencialidade e indispensabilidade;
o II- atuar com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade,
lealdade, dignidade e boa-fé;
o III- velar por sua reputação pessoal e profissional;
o IV- empenhar-se, permanentemente, em seu aperfeiçoamento pessoal e
profissional;
o V- contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das leis;
o VI- estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que
possível, a instauração de litígios;
o VII- aconselhar o cliente a não ingressar em aventura judicial;
o VIII- abster-se de: utilizar de influência indevida, em seu benefício ou
do cliente; patrocinar interesses ligados a outras atividades estranhas à
advocacia, em que também atue; vincular o seu nome a empreendimentos
de cunho manifestamente duvidoso; emprestar concurso aos que atentem
contra a ética, a moral, a honestidade e a dignidade da pessoa humana;
entender-se diretamente com a parte adversa que tenha patrono constituído,
sem o assentimento deste.
o IX- pugnar pela solução dos problemas da cidadania e pela efetivação dos
seus direitos individuais, coletivos e difusos, no âmbito da comunidade.

• O exercício da advocacia é incompatível com qualquer procedimento de


mercantilização.
280
• De acordo com o Art. 8º, “o advogado deve informar ao cliente, de forma clara
e inequívoca, quanto a eventuais riscos da sua pretensão, e das consequências
que poderão advir da demanda” (OAB, 1994).

• O cliente, ao buscar uma advocacia para expor o seu problema, antes de mais
nada o faz na segurança de ser garantido o sigilo entre profissional e cliente
como fator deontológico fundamental.

• O sigilo profissional é inerente à profissão de advogado.

• O sigilo profissional entre o advogado e o cliente está difundido em diversos


pontos legais na legislação Brasileira.

• O advogado pode anunciar os seus serviços profissionais, individual ou


coletivamente, com discrição e moderação, para finalidade exclusivamente
informativa, vedada a divulgação em conjunto com outra atividade.

• Os honorários profissionais devem ser fixados com moderação.

• O capítulo sobre a urbanidade trata sobre comportamento e uso de linguajar


adequado em todas as instâncias.

• O processo disciplinar descreve todo o processo disciplinar a que um


advogado pode incorrer quando ele for citado por algum decoro em relação a
sua ação ou em contrassenso ao código de ética da OAB.

281
AUTOATIVIDADE

Prezados acadêmicos, as questões desta autoatividade são questões retiradas de


diversos concursos públicos, no sentido de que voce já possa ir se apropriando
dos diversos formatos de questões que podem ter nos futuros concursos que
você possa prestar.

1 (Gabarite, c2010-2021) Quanto à publicidade na advocacia, assinale a


alternativa CORRETA:
FONTE: Adaptado de <https://www.gabarite.com.br/questoes-de-concursos/26347-questao>.
Acesso em: 30 nov. 2020.

a) ( ) O advogado em entrevista à imprensa pode mencionar seus clientes e


demandas sob seu patrocínio.
b) ( ) É permitida a divulgação de informações sobre as dimensões, qualidade
ou estrutura do escritório de advocacia.
c) ( ) É permitida a ampla divulgação de valores dos serviços advocatícios.
d) ( ) É permitido o anúncio em forma de placa de identificação do escritório
apenas no local onde este esteja instalado.

2 (Gabarite, c2010-2021)
FONTE: Adaptado de <https://www.gabarite.com.br/questoes-de-concursos/25783-questao>.
Acesso em: 30 nov. 2020.

I- A incompatibilidade pode tanto importar no cancelamento, quanto no


licenciamento da inscrição do advogado.
II- O Advogado Geral da União, por ocupar cargo de direção na estrutura da
administração federal, mas, ao mesmo tempo, por ter a função de representar
judicialmente o ente público a que está vinculado, possui incompatibilidade
especial sendo autorizado a advogar de modo exclusivamente vinculado à
função que exerce.
III- Os professores das universidades públicas, não têm impedimento para a
advocacia.
IV- Os delegados de polícia não podem advogar contra a pessoa jurídica que
os remunera; assim, delegado da Polícia Federal poderá advogar contra o
estado-membro ou município, mas não contra a União.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Todas as sentenças estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.

3 Compete ao Conselho Federal da OAB punir o advogado infrator quando:


FONTE: Adaptado de <https://www.gabarite.com.br/questoes-de-concursos/6320-questao>.
Acesso em: 30 nov. 2020.

282
a) ( ) A infração ética revestir-se de gravidade de âmbito nacional.
b) ( ) A infração ética for cometida no âmbito do Conselho Federal.
c) ( ) A infração ética for praticada em detrimento de Presidente de Conselhos
Seccionais.
d) ( ) A infração ética for praticada em detrimento de membros do Conselho
Federal.

4 Joana procurou o advogado Cesar em razão de estar insatisfeita com seu


casamento. Pretendendo divorciar-se de seu marido, confidenciou ao advogado
que, há quase 4 anos, não mantinha qualquer relação sexual com seu consorte,
estando extremamente infeliz. Na petição inicial de divórcio, o advogado,
dentre outras alegações, informou ao juiz a longa “dieta sexual” de sua cliente e,
portanto, a impossibilidade de ser mantido o vínculo conjugal. À luz do Código
de Ética e Disciplina:
FONTE: <https://www.gabarite.com.br/questoes-de-concursos/6320-questao>. Acesso em:
30 nov. 2020.

a) ( ) As confidências feitas ao advogado pelo cliente somente podem


ser reveladas se autorizadas por ele, e desde que nos limites das
necessidades da defesa.
b) ( ) Nenhuma confidência, por mais relevante que seja para o deslinde do
processo, poderá ser revelada pelo advogado, mesmo que autorizada
pelo cliente.
c) ( ) O advogado somente pode revelar confidências que o cliente lhe tenha
feito em caso de determinação judicial.
d) ( ) O advogado pode revelar qualquer confidência que o cliente lhe tenha
feito, desde que repute relevante para a defesa dos interesses da parte
assistida.

283
284
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, estamos entrando no último tópico de seu livro didático,
onde trataremos de ética, mas de situações especiais, voltadas especificamente
para as carreiras jurídicas dos operadores do direito. Abordaremos a ética dos
estudantes de direito, dos magistrados entre outros, e traremos também sobre o
tema compliance.

Como são assuntos extensos, disponibilizaremos, aqui, leituras


complementares e legislações especificas sobre esses assuntos de modo a
complementar o seu conhecimento.

Ressalva-se que atualmente, temos visto muitos questionamentos na


televisão e na internet sobre questões éticas relacionadas aos operadores do
direito, principalmente nas posturas profissionais dos magistrados, mas é
importante frisar que precisamos analisar estes comportamentos éticos e morais,
na frieza da legislação, para verificarmos as questões do decoro dos profissionais
do âmbito jurídico, pois se a lei permite tal atitude e comportamento ético-moral,
não tem o que discutir, pois é um direito do magistrado, do defensor público ou
qualquer pessoa que faça parte desse rol de profissionais da carreira jurídica.

Vamos aos temas! Começaremos sobre a ética dos estudantes de direito e


dos operadores de direito.

FIGURA 7 – MAGISTRADO

FONTE: <https://bit.ly/38ymqT9>. Acesso em: 27 nov. 2020.

285
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

2 CÓDIGO DE ÉTICA DO ESTUDANTE DE DIREITO E DOS


OPERADORES DE DIREITO
A ética é um dos pilares de sustentação da vida profissional de um
advogado ou operador de direito, por isso, deve ser um baluarte no ensino
de direito, e um dos pontos que os professores precisam reforçar em todos os
instantes do seu curso.

Assim, vamos iniciar os nossos estudos falando sobre a ética para os


estudantes de direito.

2.1 ÉTICA PARA OS ESTUDANTES DE DIREITO


Uma das mais importantes fases da vida do operador de direito está na
sua fase de estudante, cujas instituições universitárias tentam passar, através
de seus professores, todo um compêndio de questões legais, éticas e da prática
profissional para preparar os acadêmicos para a sua jornada profissional.

Não é possível, durante um curso, não importa a área, aqui estamos falando
do curso de direito, que por mais detalhada que seja a grade curricular, versar
sobre todos os detalhes possíveis para a profissionalização do estudante, mas é
fundamental que se apresente ao acadêmico os principais pontos da legis, prática
e ética, devendo, sim, o acadêmico, também assumir a sua responsabilidade no
processo.

Um dos primeiros pontos a serem aprendidos pelo acadêmico de direito


é que existe uma relação intrínseca entre Ética e Direito, perpassando o sentido
deontológico e assumindo uma relação prática com todos os players, operadores
de direito e a sociedade, e deve ser ensinada e assumida pelo acadêmico desde o
primeiro instante de seu ingresso na academia.

Os principais pontos a serem trabalhados pelo acadêmico nas questões de


deveres éticos do estudante de direito são:

• O agir ético: um dos primeiros pontos que o acadêmico de direito deve assumir
é o de agir eticamente em todas as situações, pois como poderemos implantar
uma cultura de ética e responsabilidade senão agirmos desta forma.
• Deveres para consigo mesmo: um dos deveres fundamentais está em um agir
ético para consigo mesmo, isso se torna importante, inclusive para o futuro
profissional, para que o acadêmico possa entender já sobre as suas próprias
decisões, inclusive para que em futuro o mesmo possa estar seguro em suas
causas.
• Relacionamento com os colegas: durante o período de estudo já é valiosa a
ética no relacionamento com seus colegas, pois é importante na atualidade e
no futuro como profissionais da área de direito.

286
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

• Relacionamento com docentes: entender que os mestres estão aí para auxiliá-


los em sua jornada de conhecimento. Na área de direito é fundamental, pois
eles precisam avaliar, corrigir e incitar o debate para o aperfeiçoamento de
todos os acadêmicos.
• Deveres éticos no atendimento à sociedade (no NPJ – Núcleo de Práticas
Jurídicas): quando ainda somos estudantes, muitas vezes estagiamos ou
participamos de atendimento ao público nos NPJ e precisamos entender que
é necessário manter o sigilo nos atendimentos e agir em consonância ética,
norteando-se no Código de Ética da categoria.
• Deveres éticos no estágio: não se esqueça que o estágio é um momento de
aprendizado prático orientado, assim você, em seu afazer, deve seguir as
orientações de seus tutores e seguir o Código de Ética dos Advogados.

FIGURA 8 – ESTUDANTES E A ÉTICA

FONTE: <https://www.diariodolitoral.c om.br/santos/covid-19-estudantes-entram-na-justica-pa-


ra-baixar-mensalidades/133826/>. Acesso em: 2 nov. 2020.

O tema é bastante extenso, e temos sim aqueles momentos da vida de


estudante, mas no estudo e no atendimento à sociedade nos NPJ e nos estágios
precisamos nos comportar como futuros profissionais e seguir o Código de Ética
e Disciplina da OAB.

2.2 ÉTICA PARA OS MAGISTRADOS


Muitos acadêmicos que se formam em direito buscam a magistratura para
a sua realização profissional.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou o Código de Ética da


Magistratura Nacional em agosto de 2008, sendo que buscaram, no documento,
realçar os princípios que devem nortear as ações do Poder Judiciário nacional.

287
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

Apresentaremos o Código de Ética da Magistratura Nacional em sua íntegra


na sequência, o qual postula sobre os seguintes temas importantes relacionados
às questões éticas dos magistrados; independência, imparcialidade, transparência,
integridade pessoal e profissional, diligência e dedicação, cortesia, prudência, sigilo
profissional, conhecimento e capacitação, dignidade, honra e decoro, devendo estes
quesitos ser buscados por todos em seu labor.

Não podemos esquecer que o magistrado deve primar pelo respeito à


Constituição da República e às leis do País, buscando o fortalecimento das instituições
e a plena realização dos valores democráticos do País, além de buscar um modo
de garantir e fomentar a dignidade da pessoa humana, objetivando assegurar e
promover a solidariedade e a justiça na relação entre as pessoas através de sua práxis.

Vamos conhecer o Código de ética da magistratura nacional.

CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA NACIONAL

(Aprovado na 68ª Sessão Ordinária do Conselho Nacional de Justiça, do dia 6


de agosto de 2008, nos autos do Processo nº 200820000007337)

O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no exercício da competência que


lhe atribuíram a Constituição Federal (Art. 103-B, § 4º, I e II), a Lei Orgânica da
Magistratura Nacional (Art. 60 da LC nº 35/79) e seu Regimento Interno (Art.
19, incisos I e II);

Considerando que a adoção de Código de Ética da Magistratura é instrumento


essencial para os juízes incrementarem a confiança da sociedade em sua
autoridade moral;

Considerando que o Código de Ética da Magistratura traduz compromisso


institucional com a excelência na prestação do serviço público de distribuir
Justiça e, assim, mecanismo para fortalecer a legitimidade do Poder Judiciário;

Considerando que é fundamental para a magistratura brasileira cultivar


princípios éticos, pois lhe cabe também função educativa e exemplar de
cidadania em face dos demais grupos sociais;

Considerando que a Lei veda ao magistrado “procedimento incompatível


com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções” e comete-lhe o dever de
“manter conduta irrepreensível na vida pública e particular” (LC nº 35/79, Arts.
35, inciso VIII, e 56, inciso II); e

Considerando a necessidade de minudenciar os princípios erigidos nas aludidas


normas jurídicas;

288
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

RESOLVE aprovar e editar o presente CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA


NACIONAL, exortando todos os juízes brasileiros à sua fiel observância.

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º O exercício da magistratura exige conduta compatível com os preceitos


deste Código e do Estatuto da Magistratura, norteando-se pelos princípios da
independência, da imparcialidade, do conhecimento e capacitação, da cortesia,
da transparência, do segredo profissional, da prudência, da diligência, da
integridade profissional e pessoal, da dignidade, da honra e do decoro.

Art. 2º Ao magistrado impõe-se primar pelo respeito à Constituição da República


e às leis do País, buscando o fortalecimento das instituições e a plena realização
dos valores democráticos.

Art. 3º A atividade judicial deve desenvolver-se de modo a garantir e fomentar a


dignidade da pessoa humana, objetivando assegurar e promover a solidariedade
e a justiça na relação entre as pessoas.

CAPÍTULO II

INDEPENDÊNCIA

Art. 4º Exige-se do magistrado que seja eticamente independente e que não


interfira, de qualquer modo, na atuação jurisdicional de outro colega, exceto em
respeito às normas legais.

Art. 5º Impõe-se ao magistrado pautar-se no desempenho de suas atividades


sem receber indevidas influências externas e estranhas à justa convicção que
deve formar para a solução dos casos que lhe sejam submetidos.

Art. 6º É dever do magistrado denunciar qualquer interferência que vise a


limitar sua independência.

Art. 7º A independência judicial implica que ao magistrado é vedado participar


de atividade político-partidária.

CAPÍTULO III

IMPARCIALIDADE

Art. 8º O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade dos
fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o processo
uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de comportamento
que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito.

289
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

Art. 9º Ao magistrado, no desempenho de sua atividade, cumpre dispensar


às partes igualdade de tratamento, vedada qualquer espécie de injustificada
discriminação.

Parágrafo único. Não se considera tratamento discriminatório injustificado:

I– a audiência concedida a apenas uma das partes ou seu advogado, contanto


que se assegure igual direito à parte contrária, caso seja solicitado;
II– o tratamento diferenciado resultante de lei.

CAPÍTULO IV

TRANSPARÊNCIA

Art. 10. A atuação do magistrado deve ser transparente, documentando-se seus


atos, sempre que possível, mesmo quando não legalmente previsto, de modo a
favorecer sua publicidade, exceto nos casos de sigilo contemplado em lei.

Art. 11. O magistrado, obedecido o segredo de justiça, tem o dever de


informar ou mandar informar aos interessados acerca dos processos sob sua
responsabilidade, de forma útil, compreensível e clara.

Art. 12. Cumpre ao magistrado, na sua relação com os meios de comunicação


social, comportar-se de forma prudente e equitativa, e cuidar especialmente:

I – para que não sejam prejudicados direitos e interesses legítimos de partes e


seus procuradores;
II – de abster-se de emitir opinião sobre processo pendente de julgamento,
seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos, sentenças ou
acórdãos, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos, doutrinária ou no
exercício do magistério.

Art. 13. O magistrado deve evitar comportamentos que impliquem a


busca injustificada e desmesurada por reconhecimento social, mormente a
autopromoção em publicação de qualquer natureza.

Art. 14. Cumpre ao magistrado ostentar conduta positiva e de colaboração para


com os órgãos de controle e de aferição de seu desempenho profissional.

CAPÍTULO V

INTEGRIDADE PESSOAL E PROFISSIONAL

Art. 15. A integridade de conduta do magistrado fora do âmbito estrito da


atividade jurisdicional contribui para uma fundada confiança dos cidadãos na
judicatura.

290
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

Art. 16. O magistrado deve comportar-se na vida privada de modo a dignificar


a função, cônscio de que o exercício da atividade jurisdicional impõe restrições
e exigências pessoais distintas das acometidas aos cidadãos em geral.

Art. 17. É dever do magistrado recusar benefícios ou vantagens de ente


público, de empresa privada ou de pessoa física que possam comprometer sua
independência funcional.

Art. 18. Ao magistrado é vedado usar para fins privados, sem autorização, os
bens públicos ou os meios disponibilizados para o exercício de suas funções.

Art. 19. Cumpre ao magistrado adotar as medidas necessárias para evitar que
possa surgir qualquer dúvida razoável sobre a legitimidade de suas receitas e
de sua situação econômico-patrimonial.

CAPÍTULO VI

DILIGÊNCIA E DEDICAÇÃO

Art. 20. Cumpre ao magistrado velar para que os atos processuais se celebrem
com a máxima pontualidade e para que os processos a seu cargo sejam
solucionados em um prazo razoável, reprimindo toda e qualquer iniciativa
dilatória ou atentatória à boa-fé processual.

Art. 21. O magistrado não deve assumir encargos ou contrair obrigações que
perturbem ou impeçam o cumprimento apropriado de suas funções específicas,
ressalvadas as acumulações permitidas constitucionalmente.

§ 1º O magistrado que acumular, de conformidade com a Constituição Federal,


o exercício da judicatura com o magistério deve sempre priorizar a atividade
judicial, dispensando-lhe efetiva disponibilidade e dedicação.

§ 2º O magistrado, no exercício do magistério, deve observar conduta adequada


à sua condição de juiz, tendo em vista que, aos olhos de alunos e da sociedade,
o magistério e a magistratura são indissociáveis, e faltas éticas na área do ensino
refletirão necessariamente no respeito à função judicial.

CAPÍTULO VII

CORTESIA

Art. 22. O magistrado tem o dever de cortesia para com os colegas, os membros
do Ministério Público, os advogados, os servidores, as partes, as testemunhas e
todos quantos se relacionem com a administração da Justiça.

Parágrafo único. Impõe-se ao magistrado a utilização de linguagem escorreita,


polida, respeitosa e compreensível.

291
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

Art. 23. A atividade disciplinar, de correição e de fiscalização será exercida sem


infringência ao devido respeito e consideração pelos correicionados.

CAPÍTULO VIII

PRUDÊNCIA

Art. 24. O magistrado prudente é o que busca adotar comportamentos e decisões


que sejam o resultado de juízo justificado racionalmente, após haver meditado e
valorado os argumentos e contra-argumentos disponíveis, à luz do Direito aplicável.

Art. 25. Especialmente ao proferir decisões, incumbe ao magistrado atuar de


forma cautelosa, atento às consequências que pode provocar.

Art. 26. O magistrado deve manter atitude aberta e paciente para receber
argumentos ou críticas lançados de forma cortês e respeitosa, podendo confirmar
ou retificar posições anteriormente assumidas nos processos em que atua.

CAPÍTULO IX

SIGILO PROFISSIONAL

Art. 27. O magistrado tem o dever de guardar absoluta reserva, na vida pública
e privada, sobre dados ou fatos pessoais de que haja tomado conhecimento no
exercício de sua atividade.

Art. 28. Aos juízes integrantes de órgãos colegiados impõe-se preservar o sigilo
de votos que ainda não hajam sido proferidos e daqueles de cujo teor tomem
conhecimento, eventualmente, antes do julgamento.

CAPÍTULO X

Conhecimento e capacitação

Art. 29. A exigência de conhecimento e de capacitação permanente dos


magistrados tem como fundamento o direito dos jurisdicionados e da sociedade
em geral à obtenção de um serviço de qualidade na administração de Justiça.

Art. 30. O magistrado bem formado é o que conhece o Direito vigente e desenvolveu
as capacidades técnicas e as atitudes éticas adequadas para aplicá-lo corretamente.

Art. 31. A obrigação de formação contínua dos magistrados estende-se tanto às


matérias especificamente jurídicas quanto no que se refere aos conhecimentos
e técnicas que possam favorecer o melhor cumprimento das funções judiciais.

292
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

Art. 32. O conhecimento e a capacitação dos magistrados adquirem uma


intensidade especial no que se relaciona com as matérias, as técnicas e as atitudes
que levem à máxima proteção dos direitos humanos e ao desenvolvimento dos
valores constitucionais.

Art. 33. O magistrado deve facilitar e promover, na medida do possível, a


formação dos outros membros do órgão judicial.

Art. 34. O magistrado deve manter uma atitude de colaboração ativa em todas
as atividades que conduzem à formação judicial.

Art. 35. O magistrado deve esforçar-se para contribuir com os seus conhecimentos
teóricos e práticos ao melhor desenvolvimento do Direito e à administração da
Justiça.

Art. 36. É dever do magistrado atuar no sentido de que a instituição de que faz
parte ofereça os meios para que sua formação seja permanente.

CAPÍTULO XI

DIGNIDADE, HONRA E DECORO

Art. 37. Ao magistrado é vedado procedimento incompatível com a dignidade,


a honra e o decoro de suas funções.

Art. 38. O magistrado não deve exercer atividade empresarial, exceto na


condição de acionista ou cotista e desde que não exerça o controle ou gerência.

Art. 39. É atentatório à dignidade do cargo qualquer ato ou comportamento do


magistrado, no exercício profissional, que implique discriminação injusta ou
arbitrária de qualquer pessoa ou instituição.

CAPÍTULO XII

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 40. Os preceitos do presente Código complementam os deveres funcionais


dos juízes que emanam da Constituição Federal, do Estatuto da Magistratura e
das demais disposições legais.

Art. 41. Os Tribunais brasileiros, por ocasião da posse de todo Juiz, entregar-
lhe-ão um exemplar do Código de Ética da Magistratura Nacional, para fiel
observância durante todo o tempo de exercício da judicatura.

Art. 42. Este Código entra em vigor, em todo o território nacional, na data de
sua publicação, cabendo ao Conselho Nacional de Justiça promover-lhe ampla
divulgação.

293
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

Brasília, 26 de agosto de 2008.

FONTE: Adaptado de https://www.cnj.jus.br/codigo-de-etica-da-magistratura/. Acesso em: 24


fev. 2021.

Como você pôde ler, o código mostra um perfil de conduta ético e


respeitoso o qual deve ser o norte a ser buscado pelos magistrados brasileiros.

DICAS

Prezado acadêmico, para você se aprofundar sobre o assunto, recomendamos


a leitura do material que está à disposição na íntegra em: https://ww2.stj.jus.br/
publicacaoinstitucional/index.php/Cotemajur/article/view/3281/3223.

FIGURA – TEMAS E TEMÁTICAS JURÍDICAS

FONTE: <https://bit.ly/3bGAFra>. Acesso em: 24 fev. 2020.

Fica também a dica do site do Código de ética da magistratura nacional. Na íntegra em:
https://www.cnj.jus.br/codigo-de-etica-da-magistratura/.

Boa Leitura!!!

2.3 ÉTICA PARA OS DEFENSORES PÚBLICOS


Outro caminho, muitas vezes seguido pelos formandos em direito, é atuar na
defensoria pública, o qual é criado de forma estadual, e por isso mesmo, até o presente
momento, não existe um código de ética nacional para os defensores públicos.

É mister que, além das condições de ofício estipuladas no Código de Ética


e disciplina da OAB, temos questões específicas apresentadas nos códigos de ética
dos defensores públicos, os quais são adaptados às realidades regionais e, por isso,
é importante você pesquisar em seu estado sobre ele.
294
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

DICAS

Prezado acadêmico, a seguir alguns sites que apresentam o Código de Ética da


defensoria Pública de alguns estados:

• Santa Catarina: https://bit.ly/2PjCMIJ.

FIGURA – DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

FONTE: <https://bit.ly/3vlezlQ>. Acesso em: 24 fev. 2021.

• Pará: https://bit.ly/3aYP5lU.
• Pernambuco: http://defensoria.pe.def.br/defensoria/?x=conteudo&cod_conteudo=6407.
• Mato Grosso: https://bit.ly/3r0v3Nl.

Boa pesquisa!!!

Muitos estados estão tomando como base o Código de Ética editado e


aprovado pelo Colégio Nacional de Estados, do Distrito Federal e da União para
utilizarem como código de ética em seus estados, como vimos no Código de Ética
apresentado por Pernambuco.

DICAS

Prezado acadêmico, apresentamos, ainda, a sugestão para leitura do seguinte


livro: Defensoria Pública, Assessoria Jurídica Popular e Movimentos Sociais e Populares:
novos caminhos traçados na concretização do direito de acesso à justiça.

295
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

FIGURA – DEFENSORIA PÚBLICA, ASSESSORIA JURÍDICA POPULAR E MOVIMENTOS


SOCIAIS E POPULARES

FONTE: <https://www.anadep.org.br/wtksite/LIVRO_ID6.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2021.

FONTE: ROCHA, A. et al. Defensoria pública, assessoria jurídica popular e movimentos


sociais e populares: novos caminhos traçados na concretização do direito de acesso
à justiça. Fortaleza: Dedo de Moças Editora e Comunicação Ltda.: 2013. Disponível em:
https://www.anadep.org.br/wtksite/LIVRO_ID6.pdf. Acesso em: 26 fev. 2021.

Boa leitura!!!!

Você pode ler mais de um Código de Ética da defensoria pública, mas verá
que eles são muito similares entre si, às vezes aparecendo um detalhe diferencial
entre si, mas os princípios são todos eles muito parecidos.

NOTA

Prezado acadêmico, vamos ao conceito de defensoria pública:

O que é Defensoria Pública?

Segundo a Constituição da República, "a Defensoria Pública é instituição permanente,


essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento
do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos
humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e
coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados" (Art. 134,caput).

Em outras palavras, é dever do Estado, através da Defensoria Pública, garantir assistência jurídica
integral e gratuita àqueles que não podem custeá-la. Isso significa muito mais do que o direito
a assistência judicial, abrangendo a defesa, em todas as esferas, dos direitos dos necessitados.

Desde a Emenda Constitucional nº 45/2004, as Defensorias Públicas Estaduais passaram a contar


com autonomia administrativa e funcional (Art. 134, §2º, CF), bem como financeira (Art. 168, CF),
estando fora, portanto, da estrutura do Poder Executivo. A Defensoria Pública presta atendimento
jurídico em sentido amplo, de natureza judicial e extrajudicial, de educação em direitos, e tem
legitimidade para atuar não só individualmente, mas também por meio da tutela coletiva.

296
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

[...]

Os membros da Defensoria Pública – os Defensores Públicos – devem ser aprovados em


Concurso Público de Provas e Títulos e precisam ter, no mínimo, três anos de experiência
jurídica. O Defensor Público tem independência funcional para atuar na defesa dos
interesses dos assistidos, prestando-lhe assistência jurídica integral, inclusive quando a
parte contrária é o próprio Estado.

FONTE: Adaptado de <http://www.defensoriapublica.pr.def.br/pagina-27.html>. Acesso em:


1º dez. 2020.

Agora, vamos ao nosso último tema do presente livro, do qual trataremos


sobre Compliance.

3 COMPLIANCE E DIREITO
Compliance tem a sua origem no termo em inglês to comply, que é um verbo
e significa, de forma geral, a estar de acordo com uma regra, agir conforme uma
regra definida, ou a uma norma interna, ou um comando ou, ainda, com uma
instrução que foi passada.

Conforme Endeavor Brasil (2017, s.p.), podemos entender compliance como:


Compliance, em termos didáticos, significa estar absolutamente em
linha com normas, controles internos e externos, além de todas as
políticas e diretrizes estabelecidas para o seu negócio. É a atividade de
assegurar que a empresa está cumprindo à risca todas as imposições
dos órgãos de regulamentação, dentro de todos os padrões exigidos
de seu segmento. E isso vale para as esferas trabalhista, fiscal, contábil,
financeira, ambiental, jurídica, previdenciária, ética etc.

Como podemos ler nas definições, as instituições devem seguir à risca o


que preza a legislação, agindo com ética em todas as instâncias.

297
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

DICAS

Prezado acadêmico, gostaríamos de deixar como sugestão de leitura um livro,


Estudo Transversal – Compliance, que traz um material bem completo sobre o tema. Você
pode acessá-lo através de seu AVA na Biblioteca Virtual:

FIGURA – COMPLIANCE

FONTE: PIERITZ, V. L. H. Compliance. Indaial: Uniasselvi, 2020.

A Lei nº 12.846/2013, também conhecida como a Lei Anticorrupção


Empresarial ou simplesmente de LAC, faz levantar a bandeira sobre o termo
Compliance, fazendo com que nós brasileiros utilizássemos mais o termo Compliance,
principalmente associando-o às questões relacionadas à corrupção.

A Lei nº 12.846/2013, trata especificamente, conforme Pieritz (2020, p. 20),


sobre o tema da “corrupção e da aplicação de sanções administrativas e judiciais
com relação às entidades jurídicas (empresariais), além de tratar de formas a
gerar concessão de benefício às empresas que possuem um setor de compliance
estruturado e funcionando”. Daí, parte-se uma maior demanda de advogados
especializados na área, para atuação dentro das instituições.

DICAS

Prezado acadêmico, sugerimos a você pesquisar as respectivas leis:

• Lei nº 12.846/2013 – Lei Anticorrupção Empresarial ou LAC. Na íntegra em: http://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm
• Lei nº 13.709/2018 – Lei Geral de Proteção de dados (LGPD). Na íntegra em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm.

298
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

Os principais pontos trabalhados na compliance, conforme Endeavor Brasil


(2017), Pieritz (2020) e Febraban (2018), em algumas frentes de trabalho são:
• código de Conduta;
• código de Ética;
• corrupção;
• fraude;
• privacidade;
• monitoramentos internos e externos;
• treinamentos;
• prevenção à lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo;
• avaliação de riscos internos e externos;
• identificação de erros internos e externos;
• canais de denúncia.
• Lei Geral de Proteção de dados (LGPD, Lei nº 13.709/2018).

DICAS

Prezado acadêmico, a seguir, seguem alguns artigos para lhe auxiliar a


entender mais o tema Compliance. Os artigos estão disponíveis em:

• Compliance: o guia essencial – https://www.direitoprofissional.com/compliance/.


• LGPD e compliance: principais desafios e como vencê-los – https://www.direitoprofissional.
com/lgpd-e-complice/.
• Prevenindo com o compliance para não remediar com o caixa – https://endeavor.org.
br/pessoas/compliance/.
• Compliance – https://capitalaberto.com.br/secoes/explicando/o-que-e-compliance/.

Como última dica, queremos indicar o material da Febraban (2018), o qual trata do tema em
detalhes. https://cmsportal.febraban.org.br/Arquivos/documentos/PDF/febraban_manual_
compliance_2018_2web.pdf. ou https://portal.febraban.org.br/pagina/3228/52/pt-br/guia-
compliance.

FIGURA – BOAS PRÁTICAS DE COMPLIANCE

FONTE: <https://bit.ly/3rFSPyM>. Acesso em: 24 fev. 2021.

Boa leitura!!!

299
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

Compliance tem assumido cada vez mais um ponto diferencial para as


instituições brasileiras. Temos, assim, visto o crescimento da atuação de advogados
especialistas nessa área, principalmente onde existem vultuosas negociações entre
governos e empresas privadas.

A importância do direito, o agir ético, está cada vez mais despontando


no mercado e, consequentemente, surge um novo limiar ético profissional que
precisa ser o foco de busca constante da sociedade, das empresas e governos para
termos um mundo mais ético e justo para todos.

DICAS

Prezado acadêmico, deixaremos uma última dica para você entender a evolução
da compliance no Brasil, é um e-book que traz os resultados de uma pesquisa mostrando
os dados levantados sobre o grau de aplicação do Compliance no Brasil. Você pode acessar
o e-book na íntegra em: https://portaldecompliance.com.br/assets/pdf/Ebook_Pesquisa_
Maturidade_2018.pdf.

FIGURA – NÍVEL DE MATURIDADE EM COMPLIANCE

FONTE: <https://portaldecompliance.com.br/assets/pdf/Ebook_Pesquisa_Maturidade_2018.pdf>.
Acesso em: 24 fev. 2021.

Compliance não é um modismo, é algo que veio para moralizar o mercado de


uma forma geral e o advogado tem o dever de ser um dos principais instrumentos
para que isso ocorra.

Estamos terminando este livro didático. Agora, convidamos você,


acadêmico, a fazer a uma leitura complementar, seguido de um resumo dos
principais pontos estudados e para encerrar, apresentamos os exercícios de revisão.
Vamos lá!

300
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

LEITURA COMPLEMENTAR

ÉTICA: INDISPENSÁVEL AOS OPERADORES DO DIREITO

Fabíola Dantas

1 INTRODUÇÃO

Diante da situação reinante no mundo atual, verifica-se que há um


desvirtuamento da conduta humana, refletido na violência, no egoísmo e na
indiferença pelo outro, assentando-se na perda de valores morais, o que torna
imprescindível a abordagem da Ética. Sendo assim, para uma convivência
harmônica do indivíduo em sociedade, é preciso que haja uma reformulação dos
conceitos norteadores do comportamento humano. Através da Ética, o homem usa
sua consciência para apoiar e direcionar suas ações, almejando o fortalecimento
de uma sociedade mais justa.

A razão de nossa reflexão, fundamentada na Ética e no papel que ela


desempenha na área jurídica, faz-se necessária para ressaltar a sua importância no
exercício das atividades dos operadores jurídicos, buscando, assim, o alcance de
uma sociedade mais democrática; afinal, para que haja democracia, o cidadão tem
de possuir consciência, o que garante acesso mais amplo aos seus direitos, e não
excluindo os seus deveres. Haja vista que um profissional bem orientado tornar-
se-á não apenas competente, mas, sobretudo, ético. Sendo, dessa forma, oportuno
convocar os protagonistas da área jurídica – estudantes de Direito, advogados,
promotores, magistrados – para refletirem sobre os seus atos profissionais.

[...]

4 OPERADORES JURÍDICOS

4.1 O ESTUDANTE DE DIREITO

É no meio acadêmico que se formam e se fortalecem os ideais de honestidade


e de melhor conduta, os quais servirão de base aos futuros operadores técnicos
da ciência jurídica.

É fundamental ao estudante de Direito, para se transformar num profissional


competente e ético, saber utilizar adequadamente as instalações da universidade,
respeitar os professores e os colegas, espelhar-se nos melhores exemplos de
conduta profissional e empenhar-se para enriquecer seus conhecimentos jurídicos,
preocupando-se sempre em discernir o que é moralmente certo do que é eticamente
reprovável.

São, portanto, alicerces essenciais para a construção de uma carreira


promissora, tomando-se como base uma formação técnica e moral das mais sólidas.
301
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

4.2 O ADVOGADO

A Constituição Federal Brasileira, em seu Art. 133, institui que “o


advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus
atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.

É patente que a profissão de advogado representa um múnus social, isto


é, esse profissional do Direito tem um elevado grau de compromisso para com a
sociedade, como prestar assistência jurídica gratuita, defender os indivíduos sem
levar em conta sua opinião isolada sobre o caso e, acima de tudo, agir com bases
argumentativas fundadas na verdade.

Os deveres do advogado estão estabelecidos no Código de Ética e Disciplina,


dado por um ato administrativo do Conselho Federal da OAB, norteado por
princípios formadores da consciência profissional do advogado e que representam
imperativos de sua conduta, a seguir: lutar sem receio pelo primado da justiça;
pugnar pelo cumprimento da Constituição e pelo respeito à lei; ser fiel à verdade
para poder servir à Justiça como um de seus elementos essenciais; proceder com
lealdade e boa fé em suas relações profissionais; empenhar-se na defesa das causas
confiadas ao seu patrocínio; comportar-se com independência e altivez, defendendo
com o mesmo denodo humildes e poderosos; aprimorar-se no culto dos princípios
éticos e no domínio da ciência jurídica; exercer a advocacia com senso profissional,
jamais permitindo que o anseio de ganho material sobreleve à finalidade social do
seu trabalho; agir, em suma, com a dignidade das pessoas de bem e com a correção
dos profissionais que honram e engrandecem a sua classe, resultando, portanto,
numa maneira íntegra de agir.

Desse modo, a Ética é uma das maiores armas do advogado, pois o


protege e guia no caminho da dignidade profissional, ficando cristalizado o
sentimento ético como algo indissociável do exercício do Direito, a ponto deste
não ser entendido apenas como o simples dever de respeitar o Código, mas sim
como uma imposição da consciência e do novo padrão inteligível e evolutivo da
sociedade, que faz da advocacia uma das mais respeitadas profissões.

4.3 O PROMOTOR

O promotor “é o mais independente dentre os operadores jurídicos”


(NALINI, 1999, p. 247). Isso se dá porque ele tem o poder de iniciativa, ou seja, de
impulsionar a Justiça, estando sob sua responsabilidade aperfeiçoar a prestação
jurisdicional, transformar a sociedade e realizar a sua pacificação.

A Constituição Federal, no Art. 127, atribui “a defesa da ordem jurídica, do


regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” aos agentes
do Ministério Público, apresentando-se como atitudes eticamente reprováveis,
condenáveis aos promotores: a adoção de posturas indiscretas, deixando-se seduzir
pelos holofotes da mídia e a utilização, de forma abusiva, do poder que dispõe.

302
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS DE ÉTICA NA CARREIRA JURÍDICA

Portanto, a função essencial do Ministério Público está relacionada à


preservação dos valores fundamentais do Estado enquanto comunidade, sendo
responsável pela dedução em juízo da pretensão punitiva desse Estado, postulando,
desse modo, a repressão ao crime. Estando, assim, o seu compromisso ético relacionado
à proteção dos órgãos e negócios públicos, não esquecendo das liberdades individuais
dos cidadãos vinculados à figura do Estado.

4.4 O MAGISTRADO

Compete ao juiz respeitar a lei, interpretando-a de forma imparcial


e honesta, analisando sempre todas as partes que compõem um conflito de
interesses, o que garante, assim, o princípio do contraditório. Devendo também o
mesmo possuir um alto grau de dever e um evidente senso de justiça.

Tem como função primordial a manutenção da harmonia social, já que


assume o papel do Estado na resolução dos conflitos. O juiz tem a obrigação de
respeitar a lei genérica, podendo adequá-la ao caso concreto pelo princípio da
equidade, não se esquivando do princípio maior, que é o da justiça.

O magistrado jamais poderá abster-se de julgar um caso, alegando lacuna


ou obscuridade da lei, sendo permitido a ele recorrer, nesses casos, à analogia,
aos costumes e aos princípios gerais do Direito.

Um dos compromissos éticos conferidos ao magistrado é não se deixar


corromper pelo poder que lhe é conferido, prezando constantemente pela
humildade e deixando de lado todas as suas volições, para que isso não interfira
na sua atividade julgadora.

Preceitua o artigo 35 da Lei Orgânica de Magistratura Nacional que cabe


ao juiz “cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, os
dispositivos legais e os atos de ofício”. Podendo-se, então, dizer que somente com
estabilidade, equilíbrio psicológico e resguardo ético, terá o magistrado condições
de exercer bem suas funções judicantes.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, constata-se que a Ética e o Direito caminham, ou pelo


menos, devem caminhar, juntos, sempre na tentativa de encontrar a harmonia e a
pacificação sociais, sendo necessário para essa persecução a contribuição de cada
indivíduo que se insere na sociedade.

É desse modo que os profissionais do Direito, agindo segundo preceitos


éticos e pautando a sua vida pessoal de forma coerente com a sua vida profissional,
participará ativamente da construção de uma sociedade mais democrática. Haja
vista que os operadores do Direito, enquanto estiverem desprovidos do devido
cuidado ético, estarão relegando a sua profissão, gerando conflitos e causando
prejuízos à categoria em que estão inseridos, devendo, portanto, sofrerem sanções
disciplinares.
303
UNIDADE 3 — A ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS OPERADORES DO DIREITO

Sendo válido ressaltar que, para cumprir o seu papel com dignidade,
honestidade e presteza, um jurisconsulto põe em prática seu saber aliado, e isso é
o mais importante, a preceitos éticos, deixando evidente o seu compromisso com
a justiça social.

FONTE: <https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/1813/Etica-indispensavel-aos-operadores-do-
-Direito>. Acesso em: 2 nov. 2020.

304
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A ética é um dos pilares de sustentação da vida profissional de um advogado


ou operador de direito e deve ser um baluarte no ensino de direito.

• Um dos primeiros pontos a serem aprendidos pelo acadêmico de direito é


que existe uma relação intrínseca entre Ética e Direito.

• Os principais pontos a serem trabalhados pelo acadêmico nas questões


deveres éticos do estudante de direito são:
o o agir ético;
o deveres para consigo mesmo;
o relacionamento com os colegas;
o relacionamento com docentes;
o deveres éticos no atendimento à sociedade (no NPJ – Núcleo de Práticas
Jurídicas);
o deveres éticos no estágio.

• O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou o Código de Ética da


Magistratura Nacional em agosto de 2008.

• O Código de Ética da Magistratura Nacional postula sobre as questões éticas com


relação aos magistrados que devem trabalhar com independência, imparcialidade,
transparência, integridade pessoal e profissional, diligência e dedicação, cortesia,
prudência, sigilo profissional, conhecimento e capacitação, dignidade, honra e
decoro, devendo estes quesitos ser buscados por todos em seu labor.

• O magistrado deve primar pelo respeito à Constituição da República e às leis


do País, buscando o fortalecimento das instituições e a plena realização dos
valores democráticos do País.

• Muitos estados estão tomando como base o Código de Ética editado e


aprovado pelo Colégio Nacional de Estados, do Distrito Federal e da União
para utilizarem como código de ética em seus estados.

• O Compliance significa estar absolutamente em linha com normas, controles


internos e externos, além de todas as políticas e diretrizes estabelecidas para
o seu negócio.

• O Compliance é a atividade que busca assegurar que a empresa está cumprindo


à risca todas as imposições dos órgãos de regulamentação, dentro de todos
os padrões exigidos de seu segmento. E isso vale para as esferas trabalhista,
fiscal, contábil, financeira, ambiental, jurídica, previdenciária, ética etc.

305
• Estudamos a Lei nº 12.846/2013 – Lei Anticorrupção Empresarial ou
simplesmente de LAC, que trata sobre as regras e normas relativas à corrupção
e à aplicação de sanções administrativas e judiciais às instituições empresarias.

• Os principais pontos trabalhados na compliance são:


o código de Conduta;
o código de Ética;
o corrupção (Lei nº 12.846/2013 – Lei Anticorrupção Empresarial ou
simplesmente de LAC);
o fraude;
o privacidade;
o monitoramentos internos e externos;
o treinamentos;
o prevenção à lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo;
o avaliação de riscos internos e externos;
o identificação de erros internos e externos;
o canais de denúncia;
o Lei Geral de Proteção de dados (LGPD, Lei nº 13.709/18).

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

306
AUTOATIVIDADE

1 Um dos primeiros pontos a serem aprendidos pelo acadêmico de direito


é que existe uma relação intrínseca entre Ética e Direito perpassando o
sentido deontológico e assumindo uma relação prática com todos os players,
operadores de direito e a sociedade, e ela deve ser ensinada e assumida pelo
acadêmico desde o primeiro instante de seu ingresso na academia. Por isso,
temos que valorizar o ensino sobre o tema Ética em todas as suas alusões
desde a parte filosófica, deontológica em direito e do Código de Ética e
Disciplina da OAB. Com relação à ética ensinada aos acadêmicos de direito,
analise as sentenças a seguir:

I - Um dos primeiros pontos a serem aprendidos pelo acadêmico de direito


é que existe uma relação intrínseca entre Ética e Direito perpassando o
sentido deontológico e assumindo uma relação pratica com todos os players,
operadores de direito e a sociedade, e ela deve ser ensinada e assumida
pelo acadêmico desde o primeiro instante de seu ingresso na academia.
II - A ética perpassa a fronteira do ensino, devendo ser aprendida na prática
com a práxis do advogado.
III - Um dos primeiros pontos que o acadêmico de direito deve assumir é o de
agir eticamente em todas as situações, pois como poderemos implantar
uma cultura de ética e responsabilidade senão agirmos desta forma.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença I está correta.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

2 Compliance é a atividade que busca assegurar que a empresa está cumprindo


à risca todas as imposições dos órgãos de regulamentação, dentro de todos
os padrões exigidos de seu segmento. E isso vale para as esferas trabalhista,
fiscal, contábil, financeira, ambiental, jurídica, previdenciária, ética etc., e
dessa forma age de maneira ética para a sociedade como um todo e todos os
seus players. Com relação aos principais pontos trabalhados em compliance,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Trabalha-se a fraude; privacidade; a magistratura; identificação de


erros gramaticais. Em propostas comerciais; monitoramentos internos
e externos da produção e seus produtos.
b) ( ) Trabalha-se o Código de Conduta; Código de Ética; Corrupção (Lei
nº 12.846/2013 – Lei Anticorrupção Empresarial ou simplesmente de
LAC); Lei Geral de Proteção de dados (LGPD, Lei nº 13.709/18).

307
c) ( ) Trabalha-se treinamentos operacionais da produção, prevenção à
lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo; avaliação de riscos
internos e externos; canais de comunicação e marketing; Lei Geral de
Proteção aos funcionários (LGPF, Lei nº 13.709/18).
d) ( ) Trabalha-se os impostos federais e estaduais para redução de custos,
treinamentos operacionais da produção; prevenção ao excesso de
lucro pela empresa; avaliação de riscos internos e externos; canais de
comunicação e marketing; Lei Geral de Proteção aos Fornecedores
(LGPF, Lei nº 13.709/18).

3 A magistratura é uma das áreas de trabalho do advogado e temos verificado
a sua importância para a sociedade moderna em suas ações para mitigar a
criminalidade e os atos contra a sociedade em todas as instâncias de atuação.
O código de ética dos magistrados versa sobre a sua práxis, deixando claro
a sua ação principalmente com relação à sociedade. Sobre a práxis dos
magistrados e o seu código de ética, analise as sentenças a seguir:

I - O magistrado não deve assumir encargos ou contrair obrigações que


perturbem ou impeçam o cumprimento apropriado de suas funções
específicas, ressalvadas as acumulações permitidas constitucionalmente.
II - O magistrado que acumular, de conformidade com a Constituição
Federal, o exercício da judicatura com o magistério deve sempre priorizar
a atividade judicial, dispensando-lhe efetiva disponibilidade e dedicação.
III - O magistrado, no exercício do magistério, deve observar conduta adequada
a sua condição de juiz, tendo em vista que, aos olhos de alunos e da
sociedade, o magistério e a magistratura são indissociáveis, e faltas éticas
na área do ensino refletirão necessariamente no respeito à função judicial.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) Somente a sentença II está correta.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

308
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia
e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm. Acesso em: 23 nov. 2020.

COÊLHO, M. V. F. Comentários ao novo código de ética dos advogados. São


Paulo: Saraiva, 2016.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Código de Ética da Magistratura


Nacional. CNJ, Brasília, 18 set. 2008. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/
codigo-de-etica-da-magistratura/. Acesso em: 1 dez. 2020.

CUNHA, S. S. Dicionário compacto de direito. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

DANTAS, F. Ética: indispensável aos operadores do direito. 2004. Disponível


em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/1813/Etica-indispensavel-aos-
operadores-do-Direito. Acesso em: 2 nov. 2020.

ENDEAVOR BRASIL. Prevenindo com o compliance para não remediar com o


caixa. 2017. Disponível em: https://endeavor.org.br/pessoas/compliance/. Acesso
em: 30 nov. 2020.

FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS (FEBRABAN). Guia de boas


práticas de compliance. 2018. Disponível em: https://cmsportal.febraban.org.
br/Arquivos/documentos/PDF/febraban_manual_compliance_2018_2web.pdf.
Acesso em: 1º dez. 2020.

GUIMARÃES, D. T. Dicionário técnico jurídico. 19. ed. São Paulo: Rideel, 2016.

GONZAGA, A.; NEVES, K. P.; BEIJATO JUNIOR, R. Estatuto da advocacia e novo


código de ética e disciplina da OAB: Comentados. Rio de Janeiro: Método. 2019.

KAGEYAMA, A. Guia comentado do estatuto da advocacia e da OAB (Lei


8.906/94). Disponível em: https://www.aurum.com.br/blog/estatuto-da-advocacia/.
Acesso em: 27 nov. 2020.

HISTÓRIA da OAB. OAB Nacional, Brasília, DF, c2021. Disponível em: https://
www.oab.org.br/historiaoab/index_menu.htm. Acesso em: 24 nov. 2020.

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB). Código de ética e disciplina


da OAB. 1995. Disponível em: https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/
codigodeetica.pdf. Acesso em: 24 nov. 2020.

309
PIERITZ, V. L. H. Compliance. Indaial: Uniasselvi, 2020.

PIOVEZAN, G. C.; FREITAS, G. T. O. Estatuto da advocacia e da OAB


comentado. Curitiba: OABPR, 2015. Disponível em: http://www2.oabpr.org.br/
downloads/ESTATUTO_OAB_COMENTADO.pdf. Acesso em: 28 nov. 2020.

310

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