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Manual de Curso de Licenciatura em Ensino de História

HO166 - HISTÓRIA DAS


SOCIEDADES I
Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância
CED
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gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Católica de
Moçambique  Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a
processos judiciais.

Elaborado Por dr Jacinto Música,

Licenciado em ensino de História pela UP,

Colaborador do Curso de Licenciatura em ensino de História no Centro de Ensino à


Distância (CED) da Universidade Católica de Moçambique – UCM.

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância-CED
Rua Correira de Brito No 613-Ponta-Gêa·
Moçambique-Beira
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Cel: 82 50 18 44 0

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Website: www. ucm.ac.mz
Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual,
dr. Jacinto Jacinto Música, gostaria de agradecer a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições
na elaboração deste manual:

Pela Coordenação e edição dra.Georgina Nicolau


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV i

Índice
Visão geral 1
Benvindo a HISTÓRIA DAS SOCIEDADES II. A Colocação do Homem no centro da
atenção e o Renascimento Cultural ................................................................................ 1
Objectivos da cadeira .................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 2
Como está estruturado este módulo................................................................................ 3
Ícones de actividade ...................................................................................................... 3
Acerca dos ícones ........................................................................................ 4
Habilidades de estudo .................................................................................................... 4
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 5
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 6
Avaliação ...................................................................................................................... 6

Unidade I 9
Introdução ao Estudo da História das Sociedades........................................................... 9
Introdução ..................................................................................................................... 9
1.1. Conceito de Sociedade e de Cultura............................................................ 9
1.2. Noção de Grupo Social e sua Natureza ........................................................ 11
1.3. Características dos Grupos ........................................................................... 12
1.4. As Categorias do Social ............................................................................... 13
Sumário ....................................................................................................................... 14
Exercícios.................................................................................................................... 14

Unidade II 16
Padrões Culturais......................................................................................................... 16
Introdução .......................................................................................................... 16
2.1. Os Tipos de Padrões Culturais ..................................................................... 16
2.2. Os Vários Conceitos de Cultura ................................................................... 17
2.3. Dinâmica da Cultura – algumas considerações importantes.......................... 20
2.4. Conceitos básicos dentro do Contexto Cultural ............................................ 20
2. 4.1. Os Níveis da Cultura ................................................................................ 24
2.4.2. Aprendendo Conceitos: ............................................................................. 27
Sumário ....................................................................................................................... 29
Exercícios.................................................................................................................... 30

Unidade III 31
A Exaltação de uma Nova Época ................................................................................. 31
Introdução .......................................................................................................... 31
3.1. Processo de Surgimento do Homem............................................................. 32
3.2. A Expansão ................................................................................................. 33
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV ii

Sumário ....................................................................................................................... 34
Exercícios.................................................................................................................... 34

Unidade IV 36
O Facto Social, a Unicidade do social e a Politicidade do social. ................................. 36
Introdução .......................................................................................................... 36
4.1. O facto social: definição, natureza e identificação. ....................................... 36
4.2. Características do facto social ...................................................................... 37
4.3. A Unicidade do social e a politicidade do social .......................................... 39
4.4. Implicações Antropológicas da Sociabilidade do ser Humano ...................... 41
Sumário ....................................................................................................................... 42
Exercícios.................................................................................................................... 42

Unidade V 44
O Lugar da História Social e Cultural nas Ciências Sociais .......................................... 44
Introdução .......................................................................................................... 44
5.1. A História Social e a Demografia ................................................................. 44
5.2. A História Social e a Geografia Humana...................................................... 45
5.3. A História Social com a Etnologia ............................................................... 45
5.4. História social e a economia ........................................................................ 45
5.5. História social com a sociologia................................................................... 46
5.6. História social com ciências políticas ........................................................... 46
5.7. A Interdisciplinaridade das Ciências Sociais ................................................ 47
Sumário ....................................................................................................................... 49
Exercícios.................................................................................................................... 49

Unidade VI 51
Organização Social das Comunidades de Caçadores e Recolectores ............................ 51
Introdução .......................................................................................................... 51
6.1. Organização Social das Comunidades de Caçadores e Recolectores ............. 51
Sumário ....................................................................................................................... 54
Exercícios.................................................................................................................... 54

Unidade VII 56
As Primeiras Representações dos Padrões Sócio - Culturais ........................................ 56
Introdução .......................................................................................................... 56
7.1. As Primeiras Representações dos Padrões Sócio-Culturais........................... 56
Sumário ....................................................................................................................... 58
Exercícios.................................................................................................................... 58

Unidade VIII 60
A Hierarquização das Sociedades e a Formação de Classes Sociais ............................. 60
Introdução .......................................................................................................... 60
8.1. A Hierarquização das Sociedades e a Formação de Classes Sociais no
Nordeste de África: ............................................................................................ 60
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV iii

8.1.1. O Egipto ................................................................................................... 60


8.1.2. O Méroe ................................................................................................... 62
8.1.2.1 Organização político-social ..................................................................... 62
8.1.3. O Reino de Axum ..................................................................................... 62
8.1.4. Suméria .................................................................................................... 65
Sumário ....................................................................................................................... 68
Exercícios.................................................................................................................... 68

Unidade IX 70
O Processo Dinástico na China Antiga ........................................................................ 70
Introdução .......................................................................................................... 70
9.1. O Processo Dinástico na China Antiga ......................................................... 70
9.2. Condições Naturais da China Antiga............................................................ 70
9.3. O Poder do Estado e a Estratificação Social ................................................. 71
9.4. Classes sociais ............................................................................................. 72
9.5. A Religião ................................................................................................... 73
Sumário ....................................................................................................................... 73
Exercícios.................................................................................................................... 73

Unidade X 75
O Sistema de Castas na Índia na Índia Antiga .............................................................. 75
Introdução .......................................................................................................... 75
10. As Sociedades Fluviais Antigas .................................................................... 75
O Vale do Indo e a Índia Antiga ......................................................................... 75
10.1. Situação Geográfica ................................................................................... 75
10.2. Condições Naturais: ................................................................................... 76
10.3. População e a Conquista Ariana ................................................................. 76
10.4. A Sociedade e a Estratificação Social: ....................................................... 77
10.5. A Formação de Estados e a Unificação da Índia ......................................... 78
10.6. O Império Mauria ...................................................................................... 78
10.7. A Dinastia Gupta ....................................................................................... 80
10.8. A Religião ................................................................................................. 81
10.8.1 A Religião dos Brâmanes (O Bramanismo ou o Hinduismo) .................... 81
10.9. A Arte e Literatura..................................................................................... 82
10.10. Ciências ................................................................................................... 83
Sumário ....................................................................................................................... 83
Exercícios.................................................................................................................... 83

Unidade XI 85
Desenvolvimento e Diferenciação das Sociedades de Agricultores em Moçambique: as
comunidades aldeãs e a formação das estruturas sociais na África Austral e em
Moçambique................................................................................................................ 85
Introdução .......................................................................................................... 85
11.1. As Comunidades Aldeãs e a Formação das Estruturas Sociais na África
Austral ............................................................................................................... 85
11.2. As principais características das primeiras sociedades região Austral de
Africa ................................................................................................................. 88
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV iv

11.3. As Principais Diferenças Sócio-Políticas entre o Norte e o Sul de


Moçambique ...................................................................................................... 92
Sumário ....................................................................................................................... 95
Exercícios.................................................................................................................... 95

Unidade XII 97
As Civilizações Ameríndias ......................................................................................... 97
Introdução .......................................................................................................... 97
12.1. As Civilizações Ameríndias ....................................................................... 97
12.2. Organização Social .................................................................................... 98
12.3. O Desenvolvimento Socio-Económico do Império Inca ............................. 99
12.4. Decadência do Império Inca..................................................................... 100
12.4.1 Causas da Decadência do Império Inca .................................................. 100
Sumário ..................................................................................................................... 101
Exercícios.................................................................................................................. 101

Unidade XIII 102


Valores Culturais das Sociedades Pré-Clássicas ......................................................... 102
Introdução ........................................................................................................ 102
13.1. Valores Culturais das Sociedades Pré-Clássicas ....................................... 102
13.2. O desenvolvimento da escrita no nordeste, no próximo e no médio oriente104
13.2.1. O desenvolvimento da escrita no nordeste de África (Egípto)................ 104
13.2.2.- A decifração do hieroglífico ................................................................ 105
13.3. O Cuxe-Méroe ......................................................................................... 106
Sumário ..................................................................................................................... 107
Exercícios.................................................................................................................. 108

Unidade XIV 109


Expressões sócio-econímicas e culturais das civilizações pré-clássicas da mesopotâmia109
Introdução ........................................................................................................ 109
14.1. A Sociedade e Economia ......................................................................... 109
14.2. A Decifração da Escrita das Civilizações Mesopotâmicas (a Escrita
Cuneiforme) ..................................................................................................... 111
14.3.1. Hamurabi, o fundador do Império Babilónico ....................................... 113
14.3.2. Era Assíria ............................................................................................ 115
Sumário ..................................................................................................................... 116
Exercícios.................................................................................................................. 117

Unidade XV 118
Outras Expressões Culturais Pré-Clássicas no Médio e no Próximo Oriente............... 118
Introdução ........................................................................................................ 118
15.1. A fenícia .................................................................................................. 118
15.2. A Pérsia ................................................................................................... 119
15.3. As manifestações culturais da China antiga .............................................. 120
15.4. Manifestações culturais da civilização indiana ......................................... 121
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV v

Sumário ..................................................................................................................... 121


Exercícios.................................................................................................................. 121

Unidade XVI 123


A formação de sociedades escravocratas no mediterrâneo: As civilizações Grega e
Romana ..................................................................................................................... 123
Introdução ........................................................................................................ 123
16.1. A civilização grega .................................................................................. 124
16.1.1. A cidade de Atenas ............................................................................... 127
16.2.1. Historial ................................................................................................ 127
16.3. Períodos Históricos .................................................................................. 128
16.5. A decadência da Grécia ........................................................................... 130
Sumário ..................................................................................................................... 130
Exercícios.................................................................................................................. 131

Unidade XVII 132


A Civilização Romana ............................................................................................... 132
Introdução ........................................................................................................ 132
17.1. Fundação de Roma .................................................................................. 132
17.2. Períodos da civilização romana ................................................................ 133
17.4. As guerras púnicas (264 – 146 a.n.e.) ....................................................... 135
17.5. Decadência de Roma ............................................................................... 136
Sumário ..................................................................................................................... 137
Exercícios.................................................................................................................. 137

Unidade XVIII 138


A Idade Média e a formação do Sistema Servil na Europa – caso da França .............. 138
Introdução ........................................................................................................ 138
18.1. O Absolutismo Francês ............................................................................ 138
18.2. A Dinastia Bourbon ................................................................................. 139
18.3. O Teocratismo Francês. ........................................................................... 142
Sumário ..................................................................................................................... 143
Exercícios.................................................................................................................. 143
Referências Bibliográficas ......................................................................................... 145
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 1

Visão geral
Benvindo a HISTÓRIA DAS
SOCIEDADES II. A Colocação do
Homem no centro da atenção e o
Renascimento Cultural

Objectivos da cadeira
Quando terminar o estudo de História das sociedades II – A colocação do
homem no centro da atenção e o renascimento cultural; o cursante será
capaz de:

 Identificar os factores da variabilidade da cultura humana;


 Explicar a natureza e identificação do facto social;
 Descrevern o processo de socialização e politicidade nas comunidades
Objectivos
humanas;

 posicionar a história social e cultural no contexto das outras ciências


sociais;

 Explicar a interdisciplinaridade das ciências sociais;


 Explicar a organização social das comunidades de caçadores e
recolectores;

 Identificar as primeiras representações dos padrões sócio-culturais;

 Explicar a hierarquização das sociedades;

 Descrever o Processo Dinástico na China Antiga;

 Explicar a formação das estruturas sociais na África Austral e em


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 2

Moçambique;

 Caracterizar as Civilizações Ameríndias;

 Explicar os Valores Culturais das Sociedades Pré-Clássicas

 Identificar os valores culturais das sociedades pré-clássicas;

 Relacionar as civilizações da mesopotâmia com as do vale do Nilo;


A formação de sociedades escravocratas no mediterrâneo;

 Identificar as expressões sócio-econímicas e culturais das civilizações


pré-clássicas da mesopotâmia;

 Outras expressões culturais pré-clássicas no médio e no próximo


oriente;

 Identificar as manifestações culturais que marcaram a presença de


agricultores na zona austral de África;

 Caracterizar a civilização grega;

 Descrever a organização político-social da cidade de Atenas;

 Identificar o mérito romano no desenvolvimento político-social e


económico;

 Destacar a Idade Média e a formação do Sistema Servil na Europa –


caso da França.

Quem deveria estudar este


módulo
Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser
professores da disciplina de História, que estão a frequentar o curso de
Licenciatura em Ensino de História, do Centro de Ensino a Distancia.
Estendese a todos que queiram consolidar os seus conhecimentos sobre
a História das sociedades.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 3

Como está estruturado este


módulo
Todos os módulos dos cursos produzidos por Universidade Católica de
Moçambique - Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados
da seguinte maneira:

Páginas introdutórias
 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo


O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um summary da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.

Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista
de recursos adicionais para você explorer. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


Tarefas de avaliação para este módulo encontram-seno final de cada
unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do modulo.

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / modulo.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 4

Acerca dos ícones


Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por
adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África
Ocidental, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia.

Habilidades de estudo
Durante a formação, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores
resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os
bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficazes e por isso é
importante saber como estudar. Apresento algumas sugestões para que
possa maximizar o tempo dedicado aos estudos:

Antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente


de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em
casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de
tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com
música/num sítio sossegado/num sítio barulhento? Preciso de um intervalo
de 30 em 30 minutos/de hora a hora/de duas em duas horas/sem
interrupção?

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da
matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já
domina bem o anterior. É preferível saber bem algumas partes da matéria
do que saber pouco sobre muitas partes.

Deve evitar-se estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque,
devido à falta de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a
ter-se dificuldades de concentração e de memorização para organizar toda
a informação estudada. Para isso torna-se necessário que: Organize na sua
agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar
durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 5

utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e


a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma


necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A
colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de
modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode
escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode
também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados
com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a
seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
desconhece;

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o
material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza,
alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de
clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone,
escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacteo pessoalmente.

Os tutores tem por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o


estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.

Todos os tutores tem por obrigação facilitar a interacção, em caso de


problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase
posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for de natureza
geral. Contacte a direcção do CED, pelo número 825018440.

Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de


expediente.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 6

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem


a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode
apresentar duvidas, tratar questões administrativas, entre outras.

O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque


apoio com os colegas, discutam juntos, apoiemse mutuamente, reflictam
sobre estratégias de superação, mas produza de forma independente o seu
próprio saber e desenvolva suas competências.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e
autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do
período presencial.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem
ser dirigidos ao tutor\docentes. Podem ser utilizadas diferentes fontes e
materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente
referenciados, respeitando os direitos do autor.

O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito)


palavras de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade,
humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem marcar a
realização dos trabalhos.

Avaliação
Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o
período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com
base no chamado regulamento de avaliação. Os trabalhos de campo por ti
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 7

desenvolvidos, durante o estudo individual, concorrem para os 25% do


cálculo da média de frequência da cadeira.

Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões


presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de
frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a
cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da
cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar 3 (três) trabalhos, 2
(dois) teste e 1 (um) exame. Não estão previstas quaisquer avaliação oral.

Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como


ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações,
os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência
textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referencias utilizadas, o respeito pelos
direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação estão
indicados no manual. Consulte-os.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 9

Unidade I
Introdução ao Estudo da História
das Sociedades

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam o que é sociedade e
cultura, formas de organização social e categorias dos grupos.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir sociedade e cultura;


 Enumerar as formas de organização social;
Objectivos  Explicar a natureza de grupo Social;
 Caracterizar os grupos sociais.

1.1. Conceito de Sociedade e de Cultura


Sociedade: conjunto de pessoas que vivem em estado gregário, ou
é o conjunto de indivíduos unidos pelas leis comuns para atingir um fim
determinado.

Cultura: é um sistema complexo de códigos e padrões partilhados


por uma sociedade ou um grupo social e que se manifesta nas normas,
crenças, valores, criações e instituições que fazem parte da vida
individual e colectiva dessa sociedade ou grupo. (In Dicionário da Língua
Portuguesa, 2004, p.458).

Sociedade humana: é o conjunto de grupos sociais, compostos de


pessoas unidas por laços de interdependência e sociabilidade, cujo
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 10

comportamento predominante é regulado por uma estrutura social


dinâmica resultante das acções dos vários agrupamentos que a
constituem, especialmente dos mais poderosos ou influentes.

A própria natureza humana exige que os Homens se agrupem. A vida em


sociedade é condição necessária à sobrevivência da espécie humana. É
neste sentido que os seres humanos organizam-se de muitas maneiras
para poderem viver e trabalhar juntos dentro da sociedade. Segundo Karl
Maunheim, os contactos e processos sociais que aproximam ou afastam
os indivíduos, provocam o surgimento de formas diversas de
agrupamentos sociais. Tais formas são os grupos sociais e os agregados
sociais.

Formas de organização social

Grupos sociais Agregados sociais

*Multidão

* Público

* Massa
Primários Secundários

* Permanentes * Permanentes

* Estáveis * Transitórios

* Instáveis

Os grupos sociais são mais duradouros, resultam em formas mais estáveis


de integração social. Nos grupos sociais há normas, hábitos e costumes
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 11

próprios, divisão de funções e posições sociais bem definidas. Por


exemplo, na família, na escola, na igreja, no clube, no estado, etc.

Muitos grupos sociais formam-se a partir do próprio lugar geográfico


onde as pessoas existem. Outros grupos têm um número reduzido de
membros e possuem um objectivo bastante específico, sendo que outros
possuem uma grande variedade de metas. Em geral, os grupos que
normalmente as pessoas fazem parte, já existiam antes que elas entrassem
e continuam existindo mesmo depois de elas se retirarem dos mesmos.

Grupo e indivíduo.

O grupo é uma realidade vital com profundo efeito sobre o


comportamento dos indivíduos em todas as situações sociais. Se
afastássemos um Homem de todas os laços de grupo em breve ficaria
doente e possivelmente morreria; e se o integrássemos na lealdade de
grupo, sua resistência e sacrifício seriam quase inacreditáveis.

Podemos então admitir que o comportamento do indivíduo é controlado


pelas experiências de grupo.

1.2. Noção de Grupo Social e sua Natureza


Geralmente quando falamos de grupo, automaticamente queremos indicar
uma junção de pessoas que ocupam determinado lugar. Esta definição
seria muito limitada para o grupo social em termos concretos e apelando
a análise de vários sociólogos; pelo que podemos dizer que o grupo
social é a reunião de duas ou mais pessoas associadas pela interacção e,
por isso capazes de realização de acção conjunta visando atingir um
objectivo comum. Ao longo da vida o indivíduo participa de vários
grupos sociais.

Segundo Fichter, os grupos sociais formam uma colectividade


identificável, estruturada, contínua de pessoas sociais que desempenham
papeis recíprocos, segundo determinadas normas, interesses e valores
sociais, para a consecução de objectivos comuns. O que quer dizer que
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 12

não é somente um termo aplicado à mera colecção de pessoas que


espontaneamente se encontram em determinado lugar sem que estejam
relacionadas entre si, mas sim a uma colecção de pessoas que respondem
a certos critérios.

1.3. Características dos Grupos


Os grupos apresentam diversidades entre si, não só na forma de
recrutamento como também na organização, finalidade e objectivos. A
maioria dos autores destacam como características dos grupos sociais as
seguintes: identificação, estrutura social, papeis individuais, relações
recíprocas, normas comportamentais, interesses e valores comuns,
finalidade social e permanência.

Identificação: o grupo deve ser identificado como tal pelos seus


membros e pelos elementos de fora. As pessoas envolvidas devem ter
consciência de que são membros do grupo. Os grupos sociais são
superiores ao indivíduo, isto é, quando uma pessoa entra no grupo, ela já
existe; ao mesmo tempo o grupo é exterior ao indivíduo, quer dizer
quando a pessoa sai do ele continua a existir;

Estrutura social: No grupo cada componente ocupa uma posição


relacionada com a posição dos demais.

Papeis individuais: constituem a condição essencial para a existência do


grupo e sua permanência como tal, pois cada um dos seus membros tem
uma participação determinada;

Relações recíprocas: As pessoas que constituem um grupo devem


interagir mutuamente de modo directo e indirecto;

Normas comportamentais: são certos padrões, escritos ou não que


orientam a acção dos componentes do grupo e determinam a forma de
desempenho do seu papel;
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 13

Interesses e valores comuns: o que é considerado bom, desejável, aceite


e compartilhado pelos membros do grupo. Os membros unem-se em
torno de certos princípios e valores, para atingir um objectivo de todo o
grupo. Existe de algum modo uma interdependência – o que acontece
para um afecta o outro. Os indivíduos envolvidos em um grupo devem
procurar alcançar os objectivos estabelecidos;

Finalidade social: é a razão de ser e do objectivo do grupo (ex.


económica, religiosa, cultural, filantrópica, corporativa, etc.);

Permanência: Para que um grupo seja considerado como tal, é


necessário que a interacção entre os membros se prolongue durante
determinado período de tempo (semanas, meses ou anos). As interacções
passageiras não chegam a formar grupos sociais organizados, forma sim
os chamados (agregados sociais – público, multidão, massa), que se
podem reunir em eventos de pouca duração. Ex. comícios, espectáculos,
greves, etc.

1.4. As Categorias do Social


Os dados estatísticos, principalmente os obtidos através dos censos,
constituem fontes para o estabelecimento de categorias sociais. Essa
formação é um processo mental, apesar de as categorias não serem
imaginárias: “Uma categoria social é uma pluralidade de pessoas que são
consideradas como uma unidade social pelo facto de serem efectivamente
semelhantes em um ou mais aspectos” (Fichter, 1973:85) – Não há
necessidade de proximidade ou contacto mútuo para as pessoas
pertencerem a uma mesma categoria social, exemplo: adolescente,
operários, soldados, analfabetos, etc. Um destes grupos corresponde a
uma categoria social. Em relação aos aspectos semelhantes entre as
pessoas, só nos interessam aquelas que têm significação sociológica,
mesmo estas, variam de acordo com o objectivo do estudo, exemplo: se
quisermos analisar os padrões de comportamento religioso, a
classificação abrangeria as categorias de ateus, crentes, cristãos, judeus,
budistas e outras; homens, mulheres, jovens, adultos e idosos. As
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 14

categorias estudadas pela sociologia são as que implicam valores sociais:


parentesco, riqueza, ocupação, educação, religião, factores biológicos.

Sumário
Sociedade, conjunto de pessoas que vivem em estado gregário, ou é o
conjunto de indivíduos unidos pelas leis comuns para atingir um fim
determinado.

Cultura, é um sistema complexo de códigos e padrões partilhados por


uma sociedade ou um grupo social e que se manifesta nas normas,
crenças, valores, criações e instituições que fazem parte da vida
individual e colectiva dessa sociedade ou grupo.

Sociedade humana, é o conjunto de grupos sociais, compostos de pessoas


unidas por laços de interdependência e sociabilidade, cujo
comportamento predominante é regulado por uma estrutura social
dinâmica resultante das acções dos vários agrupamentos que a
constituem, especialmente dos mais poderosos ou influentes.

grupo social, é a reunião de duas ou mais pessoas associadas pela


interacção e, por isso capazes de realização de acção conjunta visando
atingir um objectivo comum. Ao longo da vida o indivíduo participa de
vários grupos sociais.

Exercícios
1. O que é a sociedade humana?

R: Sociedade humana: é o conjunto de grupos sociais,


compostos de pessoas unidas por laços de interdependência e
sociabilidade, cujo comportamento predominante é regulado por uma
estrutura social dinâmica resultante das acções dos vários agrupamentos
que a constituem, especialmente dos mais poderosos ou influentes.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 15

2. a) Quais são as principais formas de organização social?

b) Dentro da organização social das sociedades primitivas,


detalha a diferenciação entre os homens e as mulheres.

3. Que diferença encontra entre grupo e indivíduo?

4. Defina grupos socais segundo Fichter.

5. Mencione as principais características dos grupos sociais e


caracterize dois.

6. Os grupos sociais subdividem-se em primários, intermédios e


secundários.

- Caracterize os primários.

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 2 e 6.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 16

Unidade II
Padrões Culturais

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes conheçam os padrões
culturais, saibam conceitualizar a cultura e compreendam a dinâmica da
Cultura.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir padrões culturais;


 Conceitualizar a cultura;
Objectivos  Explicar a dinâmica da Cultura;
 Identificar os factores da variabilidade da cultura humana.

2.1. Os Tipos de Padrões Culturais


Quando se fala de cultura, a tendência tem sido de modo geral pensar nas
grandes artes ou em alto conhecimento intelectual, como a literatura,
pintura, esculturas, etc.

Não falamos aqui de cultura neste sentido, mas sim cultura num termo
inclusivo. Cultura não é sinónimo de perfeição, erudição, alfabetização
ou estudos universitários. Também os analfabetos são sujeitos de cultura.
Todos os povos ou grupos sociais são cultos segundo seus padrões
culturais – se pensarmos que o outro não tem cultura ou se considerarmos
que a sua cultura é inferior como se processaria a inculturação? Ninguém
aceita ser racista, mas todos se acham culturalmente superior.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 17

2.2. Os Vários Conceitos de Cultura


- Cultura: é um conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças,
arte moral, leis e costumes e qualquer outras capacidades ou hábitos
adquiridos pelo indivíduo como membro da sociedade (E.B. Taylor –
1871)

- Segundo Alex Inkeles – 1964, cultura é o total de todos os objectos,


ideias, conhecimentos, maneira de fazer as coisas, hábitos, valores e
atitudes que cada geração na sociedade transmite a outra.

- C. Geertz – 1973, define a cultura como um modelo de significados


incorporado em símbolos (...) sistema de conceitos expressados através
de formas simbólicas pelos quais as pessoas se comunicam, perpetuam e
desenvolvem (...), atitudes em relação a vida.

- Toynbee – 1961, define a cultura como um conjunto de símbolos,


estórias, mitos e normas que conduzem e orientam uma sociedade ou
grupo cognitivamente, afectivamente e comportamentalmente no mundo
na qual existe.

Nas várias definições acima citadas, um dos elementos indispensáveis foi


a sociedade. Esta é o critério ou resultado da cultura. Também é correcto
dizer que a cultura é aprendida pelo indivíduo como membro da
sociedade e que esta é consequência da partilha que o indivíduo faz de
sua cultura.

Uma coisa, porém, é fundamental. Para se criar a cultura necessitamos do


trabalho. Será somente através do trabalho que as pessoas irão realizar
cultura? Pode-se perguntar: se numa sociedade escravocrata o trabalho é
injusto, é uma forma de exploração, como então o trabalho poderá ser
fonte de cultura? É importante lembrar que uma cultura não é
necessariamente boa ou justa. Se uma sociedade se baseia num trabalho
de dominação, a cultura também pode ser de dominação.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 18

Se existe várias culturas, pode haver aquelas que sejam superiores ou


inferiores? Não! Uma cultura não pode ser inferior nem superior a outra.
Elas são apenas diferentes. A cultura urbana, por exemplo, não é inferior
nem superior da cultura da zona rural, porque são dois modos de vida
diferentes, cada uma tem seus valores, com suas necessidades e sua
lógica.

Qualquer cultura ou subcultura contém três elementos: o símbolo, mitos e


rituais.

- Símbolo: é qualquer realidade que pelo seu próprio dinamismo ou força


conduz ou guia em direcção, isto é, faz a pessoa pensar em imaginar,
entrar em contacto com, (ou a alcançar algo) ao mais profundo e
frequentemente mais misterioso dentro da realidade através da comunhão
com o que o símbolo oferece e não somente pela mera explicação verbal.
O símbolo tem duas qualidades particulares: de dar um sentindo porque o
símbolo transmite uma mensagem a respeito de algo; este pode causar
uma reacção de sentimentos positivos ou negativos;

- Mito: são símbolos na forma narrativa – por exemplo, a estória da


criação no livro Génesis. Estas são estórias ou tradições que buscam de
maneira imaginativa e simbólica, apresentar uma verdade fundamental
sobre o mundo e a vida humana;

- Rituais: são as maneiras visíveis de representar ou dramatizar o mito e


estes são muitos e variáveis, assim como as necessidades humanas.

O termo MITO vem do grego e etimologicamente significa fábula, lenda,


palavra, fala ou dizer. (A ciência que estuda os mitos é a MITOLOGIA).
Os mitos não são pura invenção da imaginação, mas reflectem sim o
ponto de vista dos homens dos tempos antigos sobre a natureza, a vida, as
crenças religiosas, as ideias morais da sociedade primitiva; são, portanto
rudimentos do conhecimento pré-científico, reunindo imagens fantásticas
e elementos cognitivos. Os mitos despertavam a energia da colectividade
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 19

e foram instrumentos de desenvolvimento cultural. O “material” dos


mitos era as imagens (o do pensamento racional são as noções e
conceitos). O objecto do mito são as forças sobrenaturais e os produtos da
fantasia em geral (o objecto do pensamento racional é o mundo real). É a
diferença entre a lógica simbólica ou figurada e a lógica abstracta.

Detalhando diríamos que o mito é um sistema total de interpretação da


realidade, cuja base eram duas abordagens interligadas: a mitológica e a
mágica. A primeira ocupava-se da esfera sobrenatural e da sua influência
sobre o homem e a sociedade, constituindo uma história sagrada,
explicativa e normativa. A segunda abordagem, a mágica, elaborava o
"modelo" sobre o mundo (macro e microcosmo). Ao nível mitológico
pertenciam os deuses, os heróis, os ídolos, os espíritos e as outras forças
sobrenaturais actuando no cosmo. Ao nível mágico pertenciam a
natureza, o espaço, os outros seres humanos e os meios e os símbolos
mágicos (gestos, exorcismos, amuletos etc.). Este nível constituía quase
toda a esfera espiritual do mundo de então. Era acessível a cada um,
enquanto que os mitos eram "exercidos" só pelos mais velhos. Por
MAGIA entende o homem comum (sentido corrente) a manipulação das
propriedades das coisas, o uso do meio de influência de um homem sobre
outro ou a provocação de certos fenómenos e acontecimentos.

Mas no sentido científico significa aquilo que era o antigo modelo


integrado do mundo, que actuava segundo normas, era uma visão do
mundo e uma tentativa de toma consciência sobre as leis do cosmo. O
mito explicava a origem das coisas e exercício a influência espiritual no
mundo, enquanto que a magia explicava o funcionamento desse mundo,
as linhas força espirituais, as interpretações dentro da realidade, e
também constituía as interpretações e as ideias "educativas", era a rede ou
teia que unia os fenómenos no mundo. A magia era mais constante e
estável e era uma solução definitiva dos problemas, embora do ponto de
vista actual a classifiquemos como fenómeno anacrónico e extraordinário
de âmbito religioso, contrario às leis da natureza. Historicamente ela teve,
porém uma razão de ser e uma função no avanço da Humanidade.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 20

2.3. Dinâmica da Cultura – algumas considerações importantes


1. Cultura é orgânica e supra orgânica

Orgânica: porque não há cultura sem os seres humanos e supra


orgânica, porque cultura vai além fora do indivíduo e para além dos
tempos.

2. Cultura é aberta e coberta: Aberta quando consideramos os artefactos


como casas, roupas e formas de linguagem que podem ser observados
diariamente.

Coberta, quando consideramos atitudes em relação ao mundo e a


interpretação do mesmo.

3. Cultura é explícita e implícita;

É explicita quando consideramos aquelas acções que podem ser


explicadas ou descritas facilmente por aqueles que a produzem. Implícita
quando consideramos as coisas que fazemos, mas não somos capazes de
explicá-las a pesar de acreditarmos nelas.

A cultura é ideal e manifesta, pois é ideal porque envolve a maneira como


as pessoas deveriam se comportar ou o que deveriam acreditar de fazer; e
manifesta as coisas que realmente são feitas e reconhecidas pelos outros;
isto é, o que é visto pelos outros.

2.4. Conceitos básicos dentro do Contexto Cultural


Subcultura: são as diferenças significativas que aparecem no interior da
cultura (grupos que se distinguem no interior de uma sociedade, jovens
que apresentam costumes diferentes dos da população adulta, afirma-se
que criam uma Subcultura). O uso do termo Subcultura não significa que
se trata de uma cultura inferior. Esta não tem uma conotação valorativa.

Também devemos dizer que não está unida ao problema de espaço. A


Subcultura que sempre se identifica com a cultura regional ou com parte
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 21

da cultura nacional. A Subcultura pode estar ligada a certas castas ou


classes sociais. As Subculturas são partes constitutivas da cultura global
considerada Subcultura, portanto, é um segmento da sociedade que no
seu interior é constituída de modos específicos de comportamentos,
normas e valores que diferem da grande sociedade.

Enculturação: é um conceito sociológico que refere-se ao processo de


aprendizagem cultural. Processo pelo qual o indivíduo é inserido em sua
cultura. É um conceito que está relacionado com a socialização da cultura
ou endoculturação. Enculturação inclui um processo formal de ensino –
aprendizagem. Porém, em sua compreensão geral, este é largamente
informal e mesmo uma experiência inconsciente. Em geral um indivíduo
ensina a si próprio de um processo adaptativo da aprendizagem, de regras
que são dadas por uma sociedade. As imagens ou símbolos de uma
cultura são em si mesmas didácticas. Elas ensinam ao indivíduo a
construir suas próprias categorias ou mesmo transcende-las no acto
próprio de construi-las. Portanto, o modo em que um indivíduo aprende a
experiência, é essencialmente ligado com a cultura “(DAN Sperber –
Epidemiologia de Representações); John Henry New Man – Gramática
Cultural)” In Curso de Sociologia e Política.

Aculturação: entende-se como o encontro de uma cultura com a outra ou


encontro de culturas. Talvez este seja a principal causa da mudança
cultural. É um processo que está necessariamente ligado com a própria
cultura. Os seres humanos possuem a liberdade colectiva de modificar
sua tradição particular através de contactos com pessoas de outras
culturas.

Naturalmente, é um contacto entre diferentes conjuntos de signos e


concepções, diferentes interpretações de experiências, diferentes
identidades sociais. Aculturação é um processo histórico. Portanto,
encontro de culturas é um fenómeno dinâmico e diacrónico e não estático
ou sem mudanças.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 22

Dominação cultural: tem várias designações – transculturação,


imperialismo cultural, alienação cultural. Todos estes termos expressam a
ideia de uma cultura dominando outra ou várias culturas. Dominação
significa a hostil transferência dos elementos da cultura estrangeira:
símbolos, significados, comportamentos de uma cultura para outra. Esta
transferência pode ocorrer pelo simples facto de uma cultura sufocar a
outra: tecnologia superior, ideias atraentes, meios de comunicação, etc.

Inculturação: podemos definir a Inculturação como um diálogo contínuo


entre fé e cultura ou culturas. Mais profundamente esta é a relação
dinâmica entre a mensagem cristã e outra cultura ou culturas (Pe. Pedro
Arrupe S. J) define a Inculturação como sendo encarnação da vida cristã e
da mensagem cristã num contexto cultural particular, de tal forma que
esta experiência encontra expressão não somente através de elementos
próprios da cultura, mas que se tornem o princípio que anima, dirige e
unifica a cultura, transforma-a e remodelando-a para que uma “nova
criação aconteça”.

Choque cultural: é quando imerso numa cultura ou ambiente diferente o


indivíduo poderá se sentir desorientado, incerto, fora do lugar e até
mesmo em pânico. Estas podem ser indicações que alguém pode
experimentar que um sociólogo poderá interpretar como choque cultural.

Etnocentrismo: William Grahan Summer (1906), refere que “muito do


que dizemos diariamente reflecte a atitude de que nossa cultura é a
melhor. Diz ainda, que usamos termos como subdesenvolvido, atrasado
ou primitivo quando referimos a outras sociedades”. (“nós acreditamos na
religião; eles acreditam em superstição”).

William usa o termo Etnocentrismo para referir-se a tendência de assumir


que a própria cultura ou modo de viver é superior a de outras.

O Etnocentrismo vê seu próprio grupo como centro e ponto de definição


de cultura.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 23

Pluralismo cultural: a dificuldade de definir cultura acaba gerando a


descoberta do pluralismo cultural, onde a diferentes maneiras de servir-
se, das coisas, de expressar-se, de praticar a religião, de estabelecer as leis
e instituições jurídicas, de cultivar as artes e a beleza. Onde cada povo
tem seu estilo característico de vida – conhecer o pluralismo cultural e
dizer que não há culturas superiores.

São profundamente questionados os conceitos de “civilização”, de


“culturas avançadas”. Posicionar-se em frente a uma cultura como
superior é uma atitude de arrogância e tal atitude carrega consigo com um
desejo de uniformismo cultural. A observarmos a história perceberemos o
quanto esse desejo de uniformismo cultural atrapalhou a caminhada de
diferentes povos, quanta destruição semeou ou continua semeando. O
pluralismo cultural remete-nos a outra realidade: as diferentes atitudes
tomadas pelos povos no choque de relação entre culturas. Os
deslocamentos geográficos, imigrações, etc., colocam culturas frente a
outras culturas. Quais as atitudes daí decorrentes:

Como podemos notar, a aproximação cultural tem vários níveis. Não


existe cultura modelo ou cultura pura. Quem quer construir cultura pura
si tornará destrutor da cultura.

* A endoculturação ou socialização cultural, por exemplo, é o


aprendizado da própria cultura. A primeira aproximação cultural acontece
no aprendizado da nossa própria cultura em casa, na rua e na escola.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 24

2. 4.1. Os Níveis da Cultura

Nível superficial da cultura

1 Esfera pratica da cultura

4 Áreas dos valores


3

Esfera interior - cognitiva

A Variabilidade da Cultural Humana

A cultura é no sentido sociológico uma criação humana formada por todo


um conjunto de elementos de ordem material (ciência, técnica, arte, etc.)
e mental (costumes, leis, crenças, ideologias, etc.) e que se mantém em
determinadas condições sociais.

No que concerne a variabilidade cultural, tem-se por afirmar que, este


facto deve-se a vários elementos como: o pensamento humano e o meio
ambiente.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 25

O pensamento

No tocante ao factor pensamento, este inclui na medida em que torna-se


base para a existência ou surgimento de uma cultura que possa ser
diferente de uma outra segundo o poder inventivo do Homem.

O Homem tem a capacidade de inventar, criar, modificar o meio cultural


em que se encontra, fazendo-se diferente dos outros. A variabilidade
cultural humana deve-se aos seguintes aspectos que podem ser
sistematizados em:

Cognitivos: linguagem, conhecimento e crenças;

Normativos: valores, normas, leis;

Afectivos: sentimentos e realidade;

Estéticos: beleza e diversão;

Comportamentais: Costumes, estilo de vida, padrões de comportamento.

Cada um destes factores admite variações discretas entre as diversas


culturas, de tal forma que, o mundo tem uma diversidade cultural difícil
de abarcar.

Mas, não se julgue que basta introduzir uma inovação para que a cultura
se modifique automaticamente. Torna-se necessário, efectivamente, que
essa inovação seja aceite, não por um grupo restrito de indivíduos, mas
por toda a colectividade.

É ainda evidente que uma colectividade aceitará as inovações mais ou


menos facilmente, de acordo, não só com as características da própria
inovação.

O meio ambiente

O meio ambiente é um dos factores determinante na variabilidade da


cultura humana, na medida em que força o homem a pensar e agir de
acordo com as condições do meio em que se encontra, de modo a que se
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 26

possa adequá-lo. O modo de vestir, de se abrir, depende maioritariamente


da questão ambiental em que o homem se insere e que, o torna diferente
do outro, num meio em que as condições climáticas são antagónicas.

Portanto, ao que se refere a distinção do clima, pode-se verificar nas


diferentes sociedades uma cultura de produção agrária e outra diferente
de acordo com as condições da região. Segundo Ki-Zerbo (pp. 26-27),
“em etnologia ou antropologia, o método consiste em nos basearmos nos
traços culturais para seguir a evolução da sociedade e as relações entre
elas. Com efeito, o caso de parentesco das formas, há apenas três
hipóteses: dupla invenção automática, origem comum ou transmissão”

A existência de subculturas impõe-se também ao observar que verifica-se


a coexistência numa mesma sociedade global (nação), variações culturais
importantes de região para região, de uma camada social para a outra, de
uma grande cidade para uma pequena cidade, da cidade para o campo,
etc., por vezes com um certo grau de incomunicabilidade. Deve então,
falar-se pelo menos de subculturas.

A estas variações culturais dentro da mesma sociedade global que se


traduzem em padrões sociais de comportamento vividos por certos grupos
que se acham, assim separados em termos culturais, gerais, ao resto da
sociedade dão-se o nome de subculturas.

Podemos ainda afirmar que a cultura evolui quer por acréscimo de


elementos novos, quer por substituições de uns elementos por outros, e
que toda a criação cultural (uma lei, por exemplo) não é obra de um só
indivíduo, mas é resultante da aglutinação de vários tipos de mentalidade
e interesses, de acções, de reacções e de reivindicações diversas, de
concepções científicas e técnicas, de influências doutrinais e ideológicas.

Seguindo de perto a linha de pensamento expressa por A. Sedas (pp. 184-


IBIDEM) “há em todas as sociedades um ritmo de evolução mais ou
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 27

menos rápido que abarca não apenas as transformações de culturas, mas


também, de estruturas, de organização e de vida social”.

A variabilidade da cultura deve-se aos factores já citados, surgindo neste


contexto a cultura africana, europeia, asiática, americana e outras.

2.4.2. Aprendendo Conceitos:


1. Cultura material e não material

1.1. Cultura material: consiste em todo o tipo de utensílios, ferramentas,


instrumentos, máquinas, etc., utilizados por um grupo social. Por
exemplo: a grande maioria do povo moçambicano come farinha de milho
como alimento básico, e grande parte das pessoas dormem em esteiras e
muitas das suas casas são construídas em material local (estacas, barro,
caniço ou palmeiras)

1.2. Cultura não material: abrange todos os aspectos não materiais da


sociedade, tais como: regras morais, religião, costumes, ideologias,
ciências, etc. Por exemplo: a maioria da população moçambicana faz
cerimónias em respeito aos seus antepassados falecidos, não há pena de
morte na legislação moçambicana e embora proibido por lei, o
regionalismo é bastante evidente no país. Existe uma interdependência
entre cultura material e não material. Por exemplo: a apresentação duma
orquestra, as músicas são o produto da criatividade de um ou mais
músicos (cultura não material). Entretanto, para comunicar a sua música
aos outros, os artistas (músicos) valem-se de instrumentos musicais
(cultura material). Da mesma forma as religiões de modo geral
necessitam de templos, altares e outros elementos materiais para que
possam ser praticadas.

2. Elementos da cultura: a cultura é um sistema, um todo, um conjunto


de elementos ligados uns aos outros. Esses podem ser decompostos em
partes. Os mais simples são os traços culturais, as unidades de cultura.
Por exemplo: uma ideia, uma crença, um carro, um lápis, uma capa, uma
pulseira, um anel, etc. Os traços culturais só têm significado dentro de
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 28

uma cultura específica. Por exemplo, um colar pode ser simples adorno
para determinado grupo e para outro ter um significado mágico ou
religioso.

2.1. Complexo cultural: o futebol, por exemplo, é um complexo cultural


que pode ser decomposto em vários traços culturais: o campo, a bola, o
juiz, os jogadores, a torcida, as regras do jogo, o técnico, etc.

3. Padrão cultural: é uma norma de comportamento estabelecido pela


sociedade. Os indivíduos normalmente agem de acordo com padrões
estabelecidos pela sociedade em que vivem> Quando os membros de uma
sociedade agem da mesma forma estão a expressando os padrões
culturais do grupo.

3.1. Área cultural: é uma região em que predomina determinados


complexos culturais. É a área geográfica por onde se distribui uma
cultura.

4. Crescimento do património cultural: cada geração passa por um


processo de aprendizagem, no qual assimila a cultura do seu tempo e se
torna apta a enriquecer o património cultural das gerações futuras. Isso se
faz por dois processos: a inovação e a difusão.

5. Retardamento cultural: as mudanças dos diversos elementos culturais


não acontecem ao mesmo ritmo: alguns se transformam mais rapidamente
que os outros. As invenções, por exemplo, trazem mudanças mais
aceleradas na cultura material que na cultura não material. É o exemplo
da mudança nas máquinas em relação a mudanças na religião.

6. Marginalidade cultural: quando duas culturas entram em contacto


podem correr-se além da aculturação uma série de conflitos mentais nos
indivíduos pertencentes a essas culturas. Esses conflitos têm origem na
insegurança que as pessoas sentem diante de uma cultura diferente da
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 29

sua. Aqueles que não conseguem se integrar completamente em nenhuma


das culturas que os redeiam, ficam a margem da sociedade (índios
Caingangues de Tupã – mansa e tristes).

7. Contracultura: Nas sociedades contemporâneas encontramos pessoas


que contestam certos valores culturais vigentes, opondo-se radicalmente a
eles num movimento chamado contracultura.

8. Socialização ou inculturação: processo através do qual o ser humano


cresce no interior da cultura da sua comunidade de origem.

9. Integração social: mecanismos através dos quais um grupo ou uma


sociedade recebe um novo membro ou é o processo vivido por uma
pessoa que quer vir a aceder à condição de participação pela numa
sociedade ou numa organização.

10. Adoptação social: entende-se os mecanismos através dos quais o


indivíduo se torna apto a pertencer a um grupo.

Sumário
A cultura é um sistema, um todo, um conjunto de elementos ligados uns
aos outros. Esses podem ser decompostos em partes. Os mais simples são
os traços culturais, as unidades de cultura.

Alguns dos conceitos básicos dentro do Contexto Cultural são a


Subcultura; Enculturação; Aculturação; Domínio cultural; Inculturação;
Choque cultural; Etnocentrismo e Pluralismo cultural.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 30

Exercícios

1. Dentro das categorias do social Diferencie: dinamismo, progresso,


diversidade e complexidade.

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 7.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 31

Unidade III
A Exaltação de uma Nova Época

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes conheçam o surgimento da
humanidade e da sociedade. Como é sabido, a História do ser humano é
marcada por uma luta constante para manter-se como espécie e assegurar
sua reprodução.

Na arena científica as teses fixistas sobre o processo de hominização1


foram sendo cada vez mais abandonadas. Em seu lugar, ganharam
aceitação àquelas que apresentam o Homem como fruto de um processo
metamorfósico milenar.

A África é tida como Berço da Humanidade, na medida em que, por um


lado, registos fósseis indicam que o primeiro hominídeo –
australopithecus2 – surgiu na África há cerca de um milhão de anos; alias,
as condições de então apresentavam-se mais favoráveis relativamente às
outras regiões; foi em África onde, com a prospecção arqueológica, se
descobriu a mais numerosa, mais completa e mais contínua série de
vestígios pré-históricos; é em África, sobretudo nos planaltos orientais e
meridionais, que se encontram todos os elos que ligam aos mais
longínquos “antepassados” ou “parentes” presumíveis do Homem (os
grandes macacos de África: o gorila e o chimpanzé). Por estas razões,
Darwin declarou que “é provável que os nossos antepassados tenham
vivido em África, em vez de qualquer outra parte” e Chardin escreveu
que “deve ter sido no coração de África que o Homem emergiu pela
primeira vez”.

1
Tal como a de Teilhard Chardin que acredita na criação do Homem por (Deus)
2
Australopithecus – do latim australis (sul) e pithecus (macaco)
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 32

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Explicar o surgimento da humanidade e da sociedade;


 Diferenciar a teoria fixista ou criacionista da evolucionista ou
Objectivos transformista;
 Explicar a importância que teve a libertação das mãos e o
domínio do fogo para o Homem pré-histórico.

3.1. Processo de Surgimento do Homem


O processo de surgimento do Homem terá provavelmente começado
durante a Era Primária, quando certos vertebrados, tendo desenvolvido
pulmões, abandonaram o seu habitat – o mar – e deslocaram-se para a
terra firme, onde deram origem a animais mais complexos, como os
répteis e as aves. Na Era Secundária predominaram na Terra os anfíbios e
os répteis, alguns enormes, como os dinossauros. Possivelmente, os
répteis de dimensões menores e de sangue quente deram origem os
mamíferos propriamente ditos, que predominavam na natureza durante a
Era Terciária.

Entre os mamíferos primitivos encontram-se os primeiros representantes


dos primatas que, no curso da evolução, adquiriram maior capacidade de
mover os membros, de fazer uso do dedo polegar e de manter o tronco
erecto e desenvolveram o cérebro, o que levaria ao aparecimento de
formas superiores como a dos antropóides e posteriormente dos
Australopithecus (durante a Era Quaternária). Estes desenvolveram
algumas características, como um cérebro mais desenvolvido, uma
dentição semelhante a do Homem actual, o andar bípede, postura erecta e
a capacidade de uso de instrumentos rudimentares que os diferenciavam
de outros ramos dos primatas.

Vestígios fósseis indicam a existência, há cerca de 500 mil anos, do


Homo erectus, a partir do qual evoluiu o Homem actual. A sua evolução
física contribuiu para que houvesse mudanças de comportamento, as
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 33

quais levaram a alterações anatómicas, num lento processo que culminou


no Homo sapiens, espécie a que pertencemos.

A primeira transformação decisiva que o hominídeo sofreu foi a


possibilidade de se manter permanentemente erecto nos membros
posteriores, o que permitiu à libertação das mãos da marcha. Com a
libertação da mão, o homem pré-histórico desenvolveu os centros
sensitivo motores e, portanto, o volume do cérebro, sobretudo na parte
anterior do córtice, a libertação das cordas vocais, possibilitando a
linguagem.

A libertação da mão possibilitou igualmente o fabrico de utensílios que


materializavam a inteligência, do mesmo modo que a inteligência deu
forma aos utensílios. Outro passo importante foi o domínio do fogo. O
fogo não só servia para alumiar a caverna e aquecer os seus ocupantes,
como também servia para a defesa. Com o fogo o homem dissipava o
medo e, durante o aquecimento, estimulava a vida social, importante para
o progresso e eclosão da inteligência e da linguagem ao mesmo tempo
que desenvolvia a vontade de comando.

3.2. A Expansão
Por volta de 100 000 a.n.e, com o fim da última era glacial ocorreram
profundas alterações climáticas e ambientais que estimularam a migração
de animais e seres humanos. Foi assim que os homens primitivos,
surgidos em África, foram ocupando, ainda que de maneira dispersa, as
diversas regiões do Globo: da África à Europa, da Ásia à Austrália.

Tais transformações ambientais favoreceram também a sedentarização


dos grupos humanos, ou seja, a sua fixação ao solo. Esta ocorreu,
especialmente de 10 000 a.n.e., quando as condições se reuniram para que
o Homem descobrisse a agricultura e aprende-se a dominar animais.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 34

Sumário
Vestígios fósseis indicam a existência, há cerca de 500 mil anos, do
Homo erectus, a partir do qual evoluiu o Homem actual. A sua evolução
física contribuiu para que houvesse mudanças de comportamento, as
quais levaram a alterações anatómicas, num lento processo que culminou
no Homo sapiens, espécie a que pertencemos.

O fim da última era glacial, por volta de 100 000 a.n.e, trouxe profundas
alterações climáticas e ambientais que estimularam a migração de
animais e seres humanos. Possibilitando que os homens primitivos,
surgidos em África, foram ocupando, ainda que de maneira dispersa, as
diversas regiões do Globo: da África à Europa, da Ásia à Austrália.

Exercícios
1. Como explicas que os primeiros achados humanos tenham sido em
África?

2. Quais os aspectos a considerar quando se fala do aparecimento do


Homem?

3. Fale da importância da libertação das mãos e do domínio do fogo para


o Homem pré-histórico.

4. Justifica a seguinte afirmação: «O bipedismo e a verticalidade foram


dois elementos fundamentais da hominização»

5. Relaciona a Arqueologia com o conhecimento das origens do Homem.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 35

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.


Auto-avaliação
Entregar o exercício: 3 e 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 36

Unidade IV
O Facto Social, a Unicidade do
social e a Politicidade do social.

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes conheçam a natureza,
identificação, características de um facto social e o processo de
socialização e politicidade nas comunidades humanas incluindo as
implicações antropologicas da sociabilidade do ser humano.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir facto social


 Explicar a natureza e identificação do facto social
Objectivos  Mencionar as características do facto social
 Diferenciar socialização da politicidade;
 Explicar as implicações antropológicas da sociabilidade do ser
humano.

4.1. O facto social: definição, natureza e identificação.


Segundo E. Durkheim é facto social toda a maneira de fazer, fixada ou
não, susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é
geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência
própria, independente das manifestações individuais que possam ter
(1966:12)

Em Lakatos, p. 42, são os modos de pensar e agir de um grupo social;


embora existam na mente do indivíduo, são exteriores a ele e exercem
sobre ele um poder coercivo, exemplo: usar uniforme escolar, içar a
bandeira em sentido, etc.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 37

A noção de coerção está, pois, segundo o autor, intimamente ligada à


noção de facto social. Com efeito, um facto social reconhece-se «pelo
poder de coerção externa que exerce ou é susceptível de exercer sobre os
indivíduos; e a presença desse poder reconhece-se, por sua vez, pela
existência de uma sanção determinada ou pela resistência que o facto
opõe a qualquer iniciativa individual que tende a violá-lo».

Viver em sociedade é assumir um conjunto complexo de obrigações


sociais. Mas tudo o que ela (obrigação social) implica é que as maneiras
colectivas de agir ou de pensar têm uma realidade exterior aos indivíduos
que, em cada momento do tempo, a elas se conformam.

A causa determinante de um facto social deve ser procurada entre os


factos sociais anteriores e não nos estados de consciência individual.

Assim, a função de um facto social deve ser sempre procurada na relação


existente entre ele e um determinado fim social. Não basta, pois, explicar
as causas de um fenómeno social. E. Durkheim afirma explicitamente que
«quando tentamos explicar um fenómeno social, devemos investigar
separadamente a causa eficiente que o produz e a função que ele
desempenha». Mas a explicação funcional de um facto social deve
examinar a sua utilidade para a sociedade, e não para os indivíduos. Deve
determinar a forma pela qual serve «as necessidades gerais do organismo
social», e não os objectivos ou necessidades dos indivíduos. O que é
relevante é considerar o contributo de cada fenómeno social para a
manutenção da ordem e da estabilidade social.

4.2. Características do facto social


a) Exterioridade – em relação as consciências individuais;

b) Coercitividade – a coerção que o facto social exerce ou


susceptível de exercer sobre os indivíduos;

c) Generalidade – generalidade – em virtude de ser comum ao


grupo ou a sociedade.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 38

 O conceito de exterioridade dos factos sociais baseia-se


na concepção Durkheimiana da consciência colectiva por
ele definida como conjunto das maneiras de agir, de
pensar e de sentir com um à medida dos membros de
determinada sociedade e que compõe a herança própria
dessa sociedade. Essa herança persiste no tempo
transcendendo de geração para geração. As maneiras de
agir, pensar e de sentir são exteriores às pessoas porque
as precedem, transcendem e a elas sobrevivem. Exemplo,
quando desempenhamos o nosso papel de cidadãos, de
filhos, de adeptos de determinadas regiões ou de
comerciantes, estamos participando em deveres definidos
fora de nós e de nossos hábitos individuais no direito e
nos costumes. É como cumprir deveres para com o
estado que é anterior e independente da nossa existência
particular. Com a nossa morte essas instituições
continuarão a existir. Essas características de
anterioridade e posterioridade levam à conclusão de que
os factos sociais transcendem os indivíduos e estão acima
e fora deles sendo, portanto independentes do indivíduo
em particular.

 Coercitividade – as normas de conduta ou de


pensamento são além de externas aos indivíduos dotados
de poder coercitivo (ou coercivo) porque se impõe aos
indivíduos independentemente de suas vontades (usando
medidas punitivas em certos casos)

 Generalidade – A consciência colectiva, isto é, o


conjunto das maneiras de agir, de pensar e de sentir, é
característica geral de determinado grupo ou sociedade;
dará feição particular a uma sociedade e permitirá
distinguir, por exemplo, um brasileiro de um boliviano,
um moçambicano de um zimbabweano; De acordo com a
pessoa, essa consciência individual pode ser mais
desenvolvida. Entretanto, o que interessa ao analisar a
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 39

característica da generalidade do facto social é que a


consciências colectiva que é geral, pode impor-se as
pessoas com maior ou menor força. Isto é, deixando as
consciências individuais com variados graus de
autonomia. Nas sociedades primitivas a generalidade do
facto social é vista com maior clareza, em virtude da
homogeneidade dos seus grupos componentes e do facto
da consciência colectiva dominar quase totalmente as
consciências individuais.

4.3. A Unicidade do social e a politicidade do social


A pertença de uma pessoa a uma sociedade ou a uma organização não é
algo que esteja assegurado à partida, antes se obtém após processos
complexos.

O ser humano não nasce membro de uma sociedade. A infância, a


adolescência e a juventude são etapas de socialização e de maturação do
ser humano que só podem ser compreendidos em referência ao contexto
social em que são vividas.

A sociabilidade é a propensão do Homem para viver junto com os outros


e comunicar-se com eles, torná-los participantes das próprias experiências
e dos próprios desejos, conviver com as mesmas emoções e os mesmos
bens.

Com efeito, a sociedade actual, o processo de socialização nunca está


acabado e mesmo aqueles que a sociedade considera adultos vivem vários
processos de socialização. Muitos dos adultos actuais foram educados
para uma sociedade que, entretanto evoluiu muito, o que os obriga a viver
outros tantos processos de socialização para poderem sobreviver no seio
destas mudanças.

Podemos assim dizer que existe socialização desde que existem


comunidades humanas, apesar da evolução que essa socialização foi
revestindo. Com efeito, o processo através do qual o ser humano vai
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 40

tendo acesso a etapas sucessivas da sua autonomia é fortemente marcado


pelas características culturais da sociedade em que vive (Erickson, 1972).

Assim, podemos dizer que a socialização é um processo universalmente


experimentado com as particularidades de cada contexto.

Desde há muito que comunidades diferentes se têm preocupado em


organizar formas adequadas de socialização. Os ritos iniciáticos de
sociedades sem escrita são um exemplo cabal deste facto.

Estudos antropológicos sobre os ritos iniciáticos de tribos africanas e


australianas mostram como estas sociedades se preocupavam com a
iniciação dos novos membros na cultura específica dessa comunidade. Na
sociedade ocidental, de matriz cristã, podemos reconhecer que os ritos
que conduziam os catecúmenos a uma plena integração na Igreja são
outro exemplo de socialização organizada de forma bastante sistemática.

A politicidade é o conjunto de relações que o indivíduo mantém com os


outros enquanto parte de um grupo.

A sociabilidade e a politicidade são, então dois aspectos correlativos de


um único fenómeno.

Homem é sociável e, por isso, tende a entrar em contacto com os seus


semelhantes e a formar com eles certas associações estáveis.

Acontece, porém, que ao fazer parte de grupos organizados o ser humano


torna-se um ser político, ou seja, membro de uma Polis de uma cidade, de
um estado, de uma nação, adquirindo certos direitos e assumindo certos
deveres.

Assim, o fundamento da própria sociedade é a sociabilidade do ser


humano. Já dizia Aristóteles que “O Homem é, por natureza, um animal
político (e então também sociável) ”. Aquele que por natureza não possui
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 41

estado é superior ou inferior ao homem, quer dizer, ou um Deus ou


mesmo um animal.

O ser humano sente uma necessidade imprescindível de encontrar-se em


relação com os outros seres da sua própria espécie e quando realiza essa
disposição, sente um sentimento de grande satisfação. O ser humano é
essencialmente sociável, sozinho não pode vir a este mundo, não pode
crescer, não pode educar-se; sozinho não pode nem mesmo satisfazer
suas necessidades mais elementares nem realizar as suas aspirações mais
elevadas. Ele só pode obter tudo em companhia dos outros. Desde o
início o ser humano é visto em grupos (família, clã, tribo, aldeia, cidade,
sociedade global, tomando proporções planetárias). Os meios de
comunicação encurtam distâncias unindo a humanidade numa autêntica
“aldeia global”.

4.4. Implicações Antropológicas da Sociabilidade do ser Humano


Podemos resumir as implicações antropológicas da sociabilidade do ser
humano no seguinte:

1. O fenómeno da sociabilidade é inato no ser humano e não uma


manifestação causal e passageira. Assim, os que queriam fazer do ser
humano um ser auto-suficiente e impermeável não conseguiram sustento
para as suas ideias.

2. A sociabilidade nos distingue dos animais que no máximo se agrupam


por instinto. A sociabilidade humana supera infinitamente a dos animais
pela sua capacidade cognitiva, afectiva, linguística. O ser humano
organiza instituições.

3. Pela sociabilidade o ser humano se enriquece dependendo da sociedade


para sobreviver. Por outro lado a sociedade não constitui uma realidade
superior ao indivíduo, mas está ao seu serviço para que cada qual se
realize plenamente. “A pessoa como tal é um todo. Dizer que a sociedade
é um todo composto de pessoas quer dizer que a sociedade é um todo
composto de muitos todos”.

4. O fenómeno da sociabilidade torna evidente autotranscendência. Este é


um aspecto essencialmente conexo a sociabilidade, significa expansão em
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 42

direcção ao outro, comunicação, associação (com a natureza e com


outro).

Nascemos dentro duma sociedade e consciente ou inconscientemente


estamos sempre num processo de análise e avaliação das relações sociais
em que estamos envolvidos.

Sumário
Facto social, é toda a maneira de fazer, fixada ou não, susceptível de
exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão
de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria,
independente das manifestações individuais que possam ter. E a função
de um facto social deve ser sempre procurada na relação existente entre
ele e um determinado fim social.

A politicidade é o conjunto de relações que o indivíduo mantém com os


outros enquanto parte de um grupo. A sociabilidade e a politicidade são,
então dois aspectos correlativos de um único fenómeno.

Homem é sociável e, por isso, tende a entrar em contacto com os seus


semelhantes e a formar com eles certas associações estáveis. E ao fazer
parte de grupos organizados o ser humano torna-se um ser político, ou
seja, membro de uma Polis de uma cidade, de um estado, de uma nação,
adquirindo certos direitos e assumindo certos deveres.

Exercícios
1. O que é um facto social?

2. A explicação funcional de um facto social deve examinar a sua


utilidade para a sociedade, e não para os indivíduos. Comente
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 43

3. Mencione as principais características de um facto social e


caracterize uma.

4. Porquê afirmamos que a socialização é um processo universalmente


experimentado?

5. Como podemos resumir as implicações antropológicas da sociabilidade


do ser humano?

6 - O sistema cultural africano, particularmente o da África propriamente


dita, inicia e se consolida a partir da época em que o ferro chega na região
das grandes florestas e a dos grandes lagos, vindo a atingir a África sub-
sariana no século III d.c. - Sustenta esta afirmação a partir do teu
conhecimento sobre a história dos bantu.

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 2 e 6.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.

Fazer os exercícios constantes na auto-avaliação.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 44

Unidade V
O Lugar da História Social e
Cultural nas Ciências Sociais

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante saiba posicionar a história
social e cultural no contexto das outras ciências sociais. E Sumariamente,
apresentam-se algumas relações de interdisciplinaridade das ciências
sociais, cabendo ao caro estudante a tarefa de ver as restantes
possibilidades da relação que a História possa ter.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Explicar o posicionamento da história social e cultural em relação


as outras ciências sociais.
Objectivos
 Explicar a interdisciplinaridade das ciências sociais;
 Mostrar como esta relação efectivamente se efectua;
 Demonstrar o impacto que os novos conceitos representam no
aprendizado da história.

5.1. A História Social e a Demografia


Se olharmos agora para a revolução industrial com os olhos da
demografia, rapidamente verificaremos que ao contrário de que Malthus
profetizava, a mecanização e modernização da agricultura fizeram com
que a produção aumentasse exponencialmente e não aritmeticamente
(como previa Malthus), o que teve como consequências a melhoria dos
hábitos alimentares, a redução das taxas de mortalidade e o aumento do
ritmo de crescimento da população mundial.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 45

5.2. A História Social e a Geografia Humana


A interdependência destas duas ciências dá-nos a visão de como foram
importantes para a consolidação do capitalismo, a profunda restauração
do regime e a distribuição da propriedade rústica das quais resultam, o
aumento da produtividade agrícola a um ritmo e a uma escala até então
desconhecidos, o despovoamento dos campos e a consequente
aglomeração urbana, que é o mesmo que dizer mão-de-obra abundante
nas cidades.

5.3. A História Social com a Etnologia


A etnologia cultural estuda os usos e costumes dos povos ou etnias
integradas no seu contexto natural; dá-nos a conhecer que outras
sociedades ou etnias teriam solucionado problemas idênticos dos nossos
de maneiras diferentes, provocando assim que as nossas soluções não são
únicas nem provavelmente são as melhores. Desta feita, o método
comparativo no estudo da busca de soluções para problemas que afectam
uma determinada sociedade ou etnia a partir do seu modos-vivend, seria
de recomendar aos investigadores de uma sociedade humana, pois
embora afastados da sua, com o conhecimento da história do homem e
dos seus hábitos, poderá interpretar e compreender aspectos da crise que
escapam muitas vezes aos outros investigadores.

5.4. História social e a economia


Se o nosso ângulo de visão for a economia, podemos constatar que o
poderio marítimo da Inglaterra (ou Grã-Bretanha se quisermos ser
abrangentes) era enorme no século XVIII e possibilitou a circulação de
capitais que gerou uma classe média significativa, acelerou a revolução
agrícola, criou a Banca e companhias de seguros a níveis únicos a escala
mundial; em suma, algum dos factores determinantes da revolução
industrial. A revolução agrícola viria a ter como consequências, o
emparcelamento de terras, leis de vedação, anexação dos baldios, etc.;
criaram um êxodo rural e um exponencial crescimento das cidades, logo
de mão-de-obra abundante. Por sua vez o domínio do comércio marítimo
e as muitas colónias e feitorias davam a Grã-Bretanha um amplo mercado
para a colocação dos produtos manufacturados no seu próprio solo,
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 46

mercado esse que não era único, dado que se deu também a construção de
estradas e canais o que possibilitou o desenvolvimento do comércio
interno. Para além do extenso mercado já referido, o domínio dos mares
possibilitou uma fonte inesgotável de matérias-primas para a Grã-
Bretanha.

5.5. História social com a sociologia


A sociologia mostra-nos que o facto de o capital se encontrar
maioritariamente nas mãos de grupos de negociantes e fabricantes, a
quem uma longa experiência tinha dotado de sólidos hábitos de
investimento e risco, foi determinante para o êxito da revolução
industrial. Mas não foram somente estes grupos os importantes para o
sucesso da industrialização. Outro grupo da classe média identificado
com reforma social e religiosa (Spencer, pertencia a esse grupo) também
foi vital para o desenvolvimento da sociedade capitalista. Este grupo
devido ao elevado nível educacional e a um forte desejo de ascendência
social, foi não só o construtor e divulgador da ideologia que deu suporte a
sociedade industrial, mas também terá sido a sua face visível.

5.6. História social com ciências políticas


Do exemplo da Grã-Bretanha com a revolução de 1688, a política de
consolidação da unidade nacional e o papel do parlamento. Este era
constituído pela nobreza, grandes proprietários e alta burguesia; mas a
ideologia dominante era a burguesia. Assim foi possível ao parlamento
determinar o regime de patentes decisivo na inovação técnica, dinamizar
a construção de estradas, canais, emparcelamento agrícola, a vedação das
terras. Por último, destruiu os principais obstáculos à livre iniciativa
capitalista ao eliminar o que restava aos organismos corporativos
(corporações de artes e ofícios), por estes serem verdadeiros entraves ao
progresso. Em resumo, foi sob a acção do parlamento que se deu a
organização económica da sociedade britânica com particular destaque
para o apoio a invenção técnica e a difusão da cultura inglesa, levando
professores e investigadores universitários a colaborarem com
fabricantes; (nesta fase ainda não se lhes pode chamar de industriais),
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 47

criando uma nova mentalidade inovadora da ciência e das suas aplicações


práticas.

5.7. A Interdisciplinaridade das Ciências Sociais


A aplicação das técnicas quantitativas à História revela as possibilidades
que a interdisciplinaridade pode oferecer à ciência. Ao utilizar métodos e
conceitos de outras Ciências Sociais a História pode alargar
significativamente o seu campo de acção, ao mesmo tempo que, mercê de
recursos provenientes da Economia, Sociologia, Geografia, Antropologia,
Linguistica, Psicanálise ou Informática entre outras, pode ampliar o seu
corpo de conceitos de forma a elaborar novos modelos de interpretação.

Nesta relação técnica entre a História e as outras disciplinas tem-se


verificado uma contribuição e influência mútuas. Se a História tem
recolhido importantes subsídios de outras Ciências Sociais, também tem
enriquecido os seus modelos de análise formal e estrutural com uma
melhor compreensão do tempo ou da singularidade.

Contudo, este diálogo entre a História e as outras Ciências Humanas


ainda terá um longo caminho a percorrer, já que, apesar dos esforços
feitos nesse sentido, nem sempre tem produzido um intercâmbio muito
fecundo. As maiores dificuldades parecem residir nas relações com a
Sociologia e a Economia onde, apesar do longo caminho já percorrido,
tem sido difícil encontrar uma linguagem comum. No caso da Sociologia,
é difícil para os historiadores aplicarem o seu discurso dogmático,
filosófico e abstracto, enquanto que por seu turno os sociólogos
continuam a considerar a História como uma ciência muito pouco
conceptual. As dificuldades com a economia não surgem tanto a nível da
conceptualização, mas mais na problemática do tempo, porque os estudos
económicos têm tendência a manter-se no domínio da curta e média
duração. Todavia, estas ciências continuam a revelar-se indispensáveis à
História.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 48

Os recentes estudos de Geografia com uma nova problematização do


espaço e uma melhor integração do tempo no estudo dos fenómenos
espaciais deixam antever novas e mais fecundas relações da História com
esta ciência.

Não é de mais lembrar que a abertura da História ao diálogo com outras


ciências foi forjada na grande renovação levada a efeito pela equipa dos
“Annales” e em torno desta revista. Por isso, além da Economia,
Sociologia e Geografia, interlocutoras privilegiadas na óptica dos
“Annales”, outras disciplinas passaram a ocupar posição destacada na
colaboração entre a História e as Ciências Humanas. A Antropologia que
pouco peso tinha de início, passou a exercer uma considerável influência
sobre os historiadores mostrando-lhes que, por vezes, se pode prescindir
de documentos escritos, fornecendo assim instrumentos aos historiadores
que se interessam por regiões, como a África, onde este tipo de fontes são
raras ou inexistentes. Por sua vez, também no estudo de determinadas
instituições como a realeza ou de outros aspectos da vida social, desde o
casamento e divórcio, às revoltas e aos movimentos milenaristas, se
podem revelar de extrema importância os conhecimentos da
Antropologia. De igual modo, os estudos antropológicos sobre as
mentalidades primitivas podem fornecer preciosas indicações aos
medievalistas.

Neste sentido, embora a Antropologia e as outras Ciências Sociais


possam contribuir para uma maior precisão científica da História, nunca
poderão substituí-la já que ao possuírem objectos diferentes se
perspectivam em ordem a fins diversos.

No caso da Linguística, essa relação tem-se mostrado bastante frutuosa,


pois os progressos da Linguística levaram outros historiadores à
constatação da necessidade de tirar partido das possibilidades de
aplicação de métodos de investigação que permitam explorar de um
modo muito mais profundo os documentos escritos. Georges Duby tem
focado a necessidade de não se limitar o contributo da Linguística apenas
ao aspecto lexical sugerindo que se utilize a análise de campos
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 49

semânticos, o exame dos vocábulos na sua evolução secular de modo a


descobrir e localizar as modificações do seu significado e as
possibilidades de captar e pôr em evidência os termos mais significantes
de determinada estrutura social.

Assim, ao longo da aproximação que se tem vindo a efectuar entre a


História e a Linguística é indispensável ter em conta que a aplicação de
métodos linguísticos, só por si, não nos pode dar a resposta a qualquer
questão ideológica ou mental porque a análise da produção de qualquer
discurso e da sua poderosa rede de inter-relações é, necessariamente,
extra-linguística e entra no domínio da análise histórica.

Sumário
O posicionamento da história social e cultural em relação as outras
ciências sociais, mafifesta-se pela interdependência destas ciências ao
dar-nos uma visão mais amplas da sociedade humana nos multiplos
aspectos e particularidade. Sem querermos excluir as outras disciplinas
ora mencionadas nessa relação queiram nos permitir concluir que a
interdisciplinaridade tem proporcionado à história um novo corpo de
conceitos que lhe têm permitido criar novos modelos de interpretação.
Cabe ao professor estar atento aos seus alunos e às possibilidades do
meio, para determinar até que ponto, o seu ensino, poderá utilizar na
explicação histórica, os contributos de outros ramos do saber.

Exercícios
1. A partir de exemplos concretos, tente exercitar essa relação.

2. Quais novos caminhos que se abrem à História nos


nossos dias?
3. Poderá a nova historiografia reflectir-se no ensino da
história.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 50

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar o exercício: 1 e 3.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 51

Unidade VI
Organização Social das
Comunidades de Caçadores e
Recolectores

Introdução
Com esta unidade pretende-se que o estudante saiba como era o modo de
vida das comunidades primitivas para, de seguida, perceber da sua
organização social.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Caracterizar o modo de vida dos homens do paleolítico ou


primitivo;
Objectivos
 Explicar a organização social das comunidades de caçadores e
recolectores.

6.1. Organização Social das Comunidades de Caçadores e Recolectores


É costume designar por paleolítico a primeira e a mais longa divisão da
pré-história: é a época da pedra antiga, ou seja, da pedra lascada. Mas o
que verdadeiramente caracteriza o paleolítico e o define é, sobretudo, o
modo de vida dos homens desse período. Muito dependentes dos rigores
e variações do clima, os homens do paleolítico travaram uma luta
constante contra dois inimigos mortais: o frio e a fome.

A caça, a recolha de vegetais (frutos, raízes, folhas e sementes) e a pesca


constituíram, sem dúvida, os recursos alimentares dos homens do
paleolítico. Neste sentido, eles praticavam uma economia recolectora.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 52

De facto, o homem ainda não produzia os alimentos de que necessitava.


Limitava-se a apanhar (ou colher) os que a natureza lhe oferecia;
deslocando-se para seguir a caça através de áreas mais ou menos
extensas, eles iam apanhando de acordo com as estações do ano os frutos,
as raízes, os rebentos, o mel e os ovos de algumas aves. Quando os locais
o permitiam, dedicavam-se também a pesca e a apanha de mariscos.

Este género de vida exigia um apurado conhecimento da evolução das


plantas e do comportamento dos animais, dos pontos de água que
frequentavam, dos caminhos que a eles conduziam. Assim, devido a
prática de uma economia recolectora e ainda as condições de
modificações de clima o homem do paleolítico era obrigado a deslocar-se
de região para região a procura de alimentos: por isso se diz que era
nómada.

No entanto, essas deslocações faziam-se dentro de uma determinada área


territorial e não eram tão frequentes como se possa pensar. Essas
deslocações frequentes determinavam também que os grupos não se
fizessem acompanhar por muitos objectos. Para sobreviver

em condições tão adversas, a espécie humana teve que fazer um


maravilhoso esforço de adaptação. Sobreviver significava (alimentar-se,
proteger-se do frio e defender-se dos animais).

Nos períodos mais quentes, o homem vivia no ar livre em cabanas feitas


com ramos entrançados. Nas épocas mais frias disputava com as feras nas
grutas ou nas cavernas e cobria-se com as peles dos animais que caçava.

A utilização do fogo provocou alterações físicas, demográficas e sociais


na vida das primeiras comunidades.

O convívio à volta da fogueira terá proporcionado um forte sentimento de


união entre os elementos do grupo, contribuindo para a organização
social e para o desenvolvimento da própria linguagem.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 53

As tarefas eram partilhadas, cada grupo constituía um clã, ou seja, um


agregado social, ligado por laços de parentesco.

O homem recolector–caçador vivia em bandos, em actividades de


sobrevivência bem distintas das nossas. Embora com características de
organização idênticas, o povo primitivo também tinha características
próprias: O tamanho dos bandos, as relações entre si, a solidariedade
entre os seus membros; as guerras e as rivalidades entre os bandos devido
as terras ricas.

Estas comunidades ditas rudimentares ou primitivas, o trabalho era


colectivo, dividido em sexo e idade, e o produto era partilhado por igual.
O que identifica de facto, estas comunidades é a sua economia
recolectora, nomadismo e uso de instrumento de trabalho – a pedra.

Na fase primitiva não houve escravatura, mas não por as relações entre os
homens primitivos terem sido exemplares, de perfeita comunhão ou
harmónicas, como defende a corrente marxista. A guerra entre os bandos
era vulgar, como indicam as pinturas rupestres e a pesquisa etnográfica
sobre os primitivos actuais.

E, se nos primitivos não houve escravatura, como sublinha Eduardo J.


Costa Reizinho, tal se deve às condições concretas em que viviam os
homens de então, como por exemplo, o nomadismo, a instabilidade do
quotidiano, a extrema penúria, impediam-no. Dentro do grupo, ninguém
tinha meios materiais para escravizar os outros membros. As autoridades
tinham um poder delegado pelo grupo. Os chefes eram um fruto da
necessidade de o grupo ter um centro regulador e coordenador da sua
vida colectiva. Estas as razões objectivas da não existência de exploração
social.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 54

Sumário
Os homens do paleolítico praticavam uma economia recolectora. Pois
ainda não produzia os alimentos de que necessitava. Limitava-se a
apanhar (ou colher) os que a natureza lhe oferecia; Quando os locais o
permitiam, dedicavam-se também a pesca e a apanha de mariscos.

Este género de vida exigia um apurado conhecimento da evolução das


plantas e do comportamento dos animais, dos pontos de água que
frequentavam, dos caminhos que a eles conduziam. Assim sendo, a
prática de uma economia recolectora e ainda as condições de
modificações de clima o homem do paleolítico era obrigado a deslocar-se
de região para região a procura de alimentos: por isso se diz que era
nómada.

Exercícios
1. Imagina-te um caçador do Paleolítico. Descreve um dia de caça,
indicando as armas e as técnicas utilizadas e os animais capturados.

2. Todas as actividades exigiam a cooperação de todos.

- Como eram dividas as tarefas?

3. A utilização do fogo provocou alterações físicas, demográficas e


sociais na vida das primeiras comunidades.

- Comente

4. Para o Homem primitivo o que significava sobreviver?

5. Como estava organizada esta comunidade?


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 55

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 3 e 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 56

Unidade VII
As Primeiras Representações dos
Padrões Sócio - Culturais

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante conheça as primeiras
representações dos padrões sócio-culturais, nomeadamente: a arte
rupestre, os dolmens (antas), menires e as estatuetas.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Demonstrar as primeiras representações dos padrões sócio-


culturais;
Objectivos
 Caracterizar essas representações.
 Explicar a influência dessas representações na vida dessas
comunidades.

7.1. As Primeiras Representações dos Padrões Sócio-Culturais


As primeiras manifestações artísticas do Homo Sapiens Sapiens
remontam a cerca de 35 000 a.C. e estendem-se por vários continentes:
América, Ásia e Europa.

Existem dois tipos de arte do Paleolítico: a arte rupestre ou parietal


(pinturas e gravação nas paredes, tanto em grutas como ao ar livre) e a
arte móvel (pintura, gravação e escultura de objectos portáteis, com fins
utilitários ou religiosos)

As mais importantes e ricas manifestações de arte, encontradas até hoje,


concentram-se no sudeste da actual França e na região cantábrica Ibérica.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 57

As gravuras rupestres ao ar livre recentemente descobertas no Vale do


Côa depressa se tornaram um conjunto dos mais célebres conjuntos de
todo o mundo.

Os principais motivos pintados são os grandes animais: bisontes, renas e


bois selvagens, entre outros. A figura humana é rara. Quando aparece, é
sob a forma de homens mascarados ou camuflados com peles. Surgem
também elementos abstractos acompanhando as figuras: marcas, cunhas,
ou mesmo impressões realçando os contornos da mão humana. Muitos
arqueólogos encaram estes elementos como símbolos da natureza
masculina ou feminina. Pensam também que junto às pinturas se
realizavam ritos mágicos: rituais de iniciação propiciadores de boas
caçadas e de culto da fertilidade; as próprias pinturas teriam valor
religioso e mágico.

As pinturas eram executadas com tintas feitas com pigmentos coloridos:


o ocre (para fazer vermelho, castanho e amarelo) e os óxidos de
manganésio (para produzir preto e violeta). Às tintas era adicionada uma
mistura de seivas vegetais, gorduras animais ou mesmo gemas de ovos
para ganharem consistência; depois, eram aplicadas na parede com os
dedos ou pincéis fabricados com fibras vegetais.

Quanto a arte móvel, os seus melhores exemplos encontram-se em


utensílios de uso quotidiano, como nos arpões e nas zagaias, em que o
artesão gravava motivos animais ou abstractos com valor decorativo.
Porém, as peças que mais atraíram a atenção dos arqueólogos foram
estatuetas femininas esculpidas em pedra, osso e marfim. Conhecidas
entre os arqueólogos como Vénus, as estatuetas poderiam estar ligadas ao
culto da fertilidade.

Nos finais de Neolítico, surgiram na Europa numerosas construções


ligadas a práticas religiosas e funerárias. Todas elas eram feitas com
grandes blocos de pedra; por essa razão, os historiadores chamaram-lhes
megálitos.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 58

Existem dois tipos de monumentos megalíticos: os Menires e os


dólmenes ou antas. Vejamos as características de cada um deles.

Os menires são grandes pedras colocadas ao alto que aparecem ora


isolados, ora agrupados em longas filas ou em círculos (Cromeleques).
Pensa-se que tais monumentos estavam relacionados com cultos de
fertilidade ou dos astros. Junto a eles efectuavam-se, decerto, cerimónias
religiosas. Por exemplo, em Stonehenge, na Inglaterra, existe uma
formação de menires que parece ter sido feita tendo em conta a posição
do Sol, da Lua e das estrelas.

Por sua vez, os dólmes ou antas eram destinadas ao enterro dos mortos.
Em geral, são constituídos por um corredor feito com lajes e uma ou duas
salas cobertas, utilizadas como câmaras funerárias. Estas construções,
depois de lá terem sido depositados os defuntos e efectuados os rituais
religiosos, eram cobertas com pedras e terra. A entrada era fechada com
uma laje.

Sumário
As primeiras manifestações artísticas do Homo Sapiens Sapiens
remontam a cerca de 35 000 a.C. e estendem-se por vários continentes:
América, Ásia e Europa.

Existem dois tipos de arte do Paleolítico: a arte rupestre ou parietal


(pinturas e gravação nas paredes, tanto em grutas como ao ar livre) e a
arte móvel (pintura, gravação e escultura de objectos portáteis, com fins
utilitários ou religiosos).

Exercícios

1. Existem dois tipos de arte do paleolítico. Diferencie-os


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 59

2. Indique dois locais onde é possível encontrar vestígios da arte rupestre


no nosso pais.

3. Como eram executadas as pinturas?

4. O que são megálitos?

5. Diz qual a finalidade da construção de um dólmen.

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Entregar os exercícios: 2 e 5.
Auto-avaliação
Investigando:

- Faz uma pequena investigação sobre povos de África que ainda sejam
recolectores. Procure saber as actividades a que se dedicam, os
instrumentos que utilizam, como é o seu vestuário e a sua alimentação, se
têm alguma forma de arte ou culto religioso. Elabora um dossier com os
dados recolhidos.

- Procure informar-te se existe algum monumento megalítico na tua


zona/localidade. Em caso afirmativo, visita-o e tire uma imagem e junte
ao se dossier.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 60

Unidade VIII
A Hierarquização das Sociedades
e a Formação de Classes Sociais

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante conheça a hierarquização das
sociedades e a formação de classes sociais no Nordeste da África, no
Médio e Extremo Oriente.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Explicar a organização político-social do Egipto;


 Descrever a estrutura político-social de Méroe e Axum;
Objectivos
 Caracterizar as condições naturais e a ocupação humana na
Suméria;
 Descrever a estratificação da sociedade Suméria.

8.1. A Hierarquização das Sociedades e a Formação de Classes Sociais


no Nordeste de África:
8.1.1. O Egipto
Os antigos habitantes do Egipto se estabeleceram no vale do Nilo, a
nordeste do continente africano onde dedicavam a actividade agrícola.

O processo de unificação entre o norte e o sul levou ao aparecimento do


1º Estado Egípcio, tendo o Faraó como rei do Estado Unificado.

Portanto, a civilização egípcia é das mais brilhantes criações do espírito e


da vontade do Homem. Muitas são as evidências que mostram a sua
grandeza, mas nós cingir-nos - emos numa.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 61

Do ponto de vista sociológico, o Egipto distingue-se de outras


civilizações pelo carácter hierárquico da sua sociedade: na base,
encontrava-se o povo anónimo dos camponeses, com uma vida dura; no
topo, estavam os Faraós, com uma vida requintada e dourada. Eles
distinguiam-se dos homens comuns pela sua participação na divindade,
com direito de vida e de morte.

Entre os dois extremos existiam várias classes, como os numerosos


artesãos (sapateiros, ferreiros, ourives e joalheiros, padeiros, etc.) que se
azafamavam em torno do povo; o Clero, classe devotada unicamente ao
serviço dos deuses, vigilantes e cioso dos ritos e crenças; o Exercito,
composto de unidades de piqueiros e arqueiros; os Escribas que eram
cobradores de impostos e os homens das contas. Assim, o Faraó e a sua
família, os altos funcionários, sacerdotes, escribas e guerreiros, eram o
grupo privilegiado, beneficiando de riqueza e leis especiais. Mas a grande
maioria da população egípcia era constituída por artesãos, pastores e
agricultores, sem privilégios e responsáveis pela produção da riqueza. Os
primeiros viviam, sobretudo, nas cidades, onde exerciam os seus ofícios;
de entre eles, os que trabalhavam no Palácio e nos templos tinham uma
posição social mais favorecida.

Por sua vez, a vida dos agricultores e dos pastores era muito dura. Uns e
outros trabalhavam nas terras dos poderosos e, anualmente, tinham de
pagar pesados impostos. Durante o período das cheias, trabalhavam para
o Faraó, construindo grandes obras públicas, como as pirâmides, os
templos ou palácios.

Na base da sociedade egípcia estavam os escravos, geralmente


prisioneiros de guerra. A estes, estavam reservados os ofícios domésticos,
os trabalhos de exploração mineira e, de uma forma geral, todo o tipo de
trabalhos duros e pesados. Eram considerados, não como seres humanos,
mas como mercadoria. Apesar disso, o Egipto reservou-lhes o direito de
apelar à justiça, sempre que fossem objecto de maus tratos por parte dos
donos.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 62

Como verificaste, a sociedade egípcia estava organizada em estratos


sociais diferenciados e hierarquizados. Os privilegiados, que detinham o
poder e a riqueza, e os não privilegiados, que produziam essa riqueza.

8.1.2. O Méroe
O reino de Méroe desenvolveu-se depois do declínio do império novo no
Egipto e tinha como principais actividades económicas a agricultura,
criação de gado, artesanato e o comércio.

Grande parte da cultura meroita teve a marca da civilização egípcia,


embora tenha algo de original, como são os casos da criação do Deus
local Leão Apedemak que, juntamente com Amon, era o Deus principal
em Méroe.

8.1.2.1 Organização político-social


A sociedade meroita estava dividida em duas classes sociais: a
dominante, composta pelo rei, família real, clero e a nobreza. Estes
grupos sociais desempenhavam importantes funções na corte e exerciam
também funções de governadores provinciais.

A classe dominada formada pelos artesãos, comerciantes, camponeses e


escravos, tinha como obrigações pagar impostos e prestar serviços a
classe dominante.

8.1.3. O Reino de Axum


1.3.1 Localização geográfica de Axum

O reino de Axum situava-se na área planáltica da actual Etiópia, limitado


pelo mar vermelho a leste, região sudanesa a ocidente e pelo reino de
Méroe a noroeste.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 63

1.3.2 A Fundação do Reino de Axum

O reino de Axum, que mais tarde se tornou império da Etiópia, começou


a crescer na sombra. As suas origens são pouco claras.

Desde o primeiro milénio a.C., tribos árabes do Íemen entravam no mar


vermelho pelo estreito de Bab-el-Mandeb e instalavam-se nas encostas
das montanhas próximas. Um dos seus clãs, os Habashats, deu nome de
Abissínia a este reino.

Estes árabes encontraram na Etiópia, bem como em toda costa do corno


de África, negroides de língua hamita, com os quais se misturaram
intimamente dando origem a grupos negros-semiticos tão originais que
são os etíopes e os somalis.

Na fundação do reino de Axum, contribuiriam, entre outros factores, o


declínio do reino de Méroe e o controlo de rotas comerciais pelos
axumitas.

Diz a lenda que Menelique, filho da rainha Makeba de Saba e de Salomão


de Juda, foi o fundador do reino de Axum.

1.3.3 Principais Actividades Económicas do Reino de Axum

O território de Axum, situado num grande e elevado planalto, era sulcado


por vários rios, o que tornava o solo favorável a prática agrícola. Para
melhor aproveitamento das condições naturais da região, construíram
canais de irrigação, diques e tanques.

Produziam trigo, vinha e outros cereais. Nos trabalhos agrícolas, os


camponeses utilizavam arado puxado por bois. O povo de Axum
dedicava-se, também a criação de gado (bois, carneiros e cabras),
domesticavam ainda elefante (reservado ao uso da família real).
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 64

O artesanato e o comércio foram outras actividades económicas


importantes. Graças a sua localização geográfica, Axum passou a
constituir um ponto de encontro de rotas marítimas e de caravanas que
ligavam o Egipto à Arábia.

No séc. d.C., Axum já era um importante entreposto comercial. O tráfego


marítimo no mar vermelho intensificou, tornando Adulis no centro de
cruzamento de várias rotas que ligavam o mediterrâneo à Índia.

Entre os produtos em circulação, destaque vai para as exportações de


marfim, chifres de rinoceronte, ouro, esmeraldas, perfumes, entre outros
produtos. Importavam artigos de vidros, tecidos jóias e produtos
alimentares.

Toda esta intensa e dinâmica actividade comercial apoiava-se no uso da


moeda que ostentava a face dos reis. Foi a partir destas moedas que se
conheceram os nomes dos primeiros dezoito reis de Axum, entre eles
Ezana e Caleb.

1.3.4 A Estrutura Político-social de Axum

A sociedade Axumita estava estratificada em várias camadas sociais, que


se resumiam em duas: classe dominante e classe dominada.

A classe dominante eram composta pelo rei dos reis ou imperador,


sacerdotes e a nobreza (grande parte parentes do rei). Eram os nobres que
administravam os negócios públicos, cobravam impostos, faziam cumprir
as leis, chefiavam o exército, entre outras actividades.

A classe dominada era composta por artesãos, comerciantes, camponeses


(grupo social maioritário) e escravos.

1.3.5 Manifestações Culturais


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 65

As manifestações artísticas e culturais estavam ligadas a evolução da vida


económica e política de Axum.

Constituem principais manifestações culturais, as inscrições em blocos de


pedra consagradas aos deuses, em especial a Mahren (deus da guerra e da
monarquia), inscrições reais em grandes monólitos que relatavam as
vitórias alcançadas pelo rei, as estrelas colossais que se supõe terem
carácter religioso, os palácios reais, etc.

Para além da originalidade da arte, a cultura de Axum também teve


influência de outros povos, tais como de Méroe, Arábia, Índia e do
Império Romano de Oriente.

Conclusão

O reino de Axum, que se supõem ter sido fundado pelo Menelique no séc.
a.C., conheceu grande desenvolvimento graças a sua localização
geográfica que o tornou num importante entreposto comercial.

8.1.4. Suméria
A mais antiga das primeiras civilizações surgiu na Suméria, na zona sul
do vale da Mesopotâmia3, actual Iraque. Sumariamente, vejamos então as
condições geográficas desta região.

A Mesopotâmia era uma extensa faixa de terra banhada por dois rios:
Eufrates e o Tigre. Delimitando-os a oeste temos o deserto arábico e a
leste uma cordilheira montanhosa: ao montes Zagros.

Os rios Eufrates (2850Km de extensão) e Tigre (1050Km) nascem nas


montanhas do Taurus, atravessam o planalto iraniano, percorrem as
planícies mesopotânicas e desaguam no Golfo Pérsico.

3
Mesopotâmia: significa “entre rios”
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 66

Da nascente das montanhas da Anatólia, o Eufrates vai descendo


precipitadamente para o vale, carregando na sua corrente neves derretidas
e sedimentos orgânicos misturados com calcário. Chegado à planície, as
suas águas transbordam facilmente, inundando as margens onde
depositam os sedimentos (aluviões), irrigando e adubando as terras.

Os aluviões deram à Suméria uma paisagem natural muito característica.


Abundavam os pântanos com canaviais onde se multiplicava uma fauna
variada: búfalos, patos, pelicanos, gansos, flamingos-rosados e peixes.

Assim, desde o Neolítico, a fertilidade das margens do Eufrates e do


Tigre, atraiu populações que aí se fixaram em aldeamentos; dedicavam-se
à agricultura, à pecuária, à pesca e ao fabrico da cerâmica. A pouco e
pouco, estes povoados foram crescendo e deram origem a cidades. Por
volta de 3500 a.C., os mais importantes centros urbanos da região eram:
Uruk, Ur e Kish.

Grande parte da população Suméria vivia nos campos, dedicando-se à


agricultura e à pecuária. Na agricultura produziam, sobretudo cereais
(trigo e cevada); também cultivavam árvores de fruto e palmeiras-
tamareiras.

No domínio da pecuária, os sumérios produziam, sobretudo gado bovino,


criado nos pântanos que existiam nas margens do Eufrates e do Tigre.

Os Sumérios possuíam também uma bem organizada e próspera


actividade artesanal. Nas cidades, os artesãos dedicavam-se à cestaria, à
cerâmica, à tecelagem, à metalurgia do bronze e ao trabalho da pedra e da
madeira; a maioria deles trabalhava em oficinas pertencentes aos templos
ou ao palácio.

Na Suméria praticava-se o comércio, tanto interno como externo. Como o


país era pobre em recursos naturais, tais como a pedra, a madeira e os
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 67

metais (cobre, estanho, prata, ouro e lápis-lazuli), os Sumérios tinham de


os importar de regiões distantes. Em troca, ofereciam os seus excedentes
agrícolas (trigo e cevada) e produtos artesanais.

1.4.1 Estratificação da sociedade

Por volta de 3500 a.C., existiam na Suméria cerca de doze grandes


cidades-estado – eram cidades independentes, com governo próprio, e
exerciam domínio sobre uma vasta região rural circundante. Em termos
físicos, as cidades eram cercadas por fortes e maciças muralhas; no
espaço urbano abundavam as habitações de adobe e as ruelas eram
apertadas e sinuosas. No centro situavam-se os edifícios públicos: o
palácio real e os templos. Neles estavam concentradas as mais
importantes funções da cidade: a administrativa, a religiosa e a
económica.

Nos primeiros tempos da civilização Suméria, as cidades parecem ter sido


governadas por assembleias de anciãos; com o decorrer dos tempos, estes
órgãos de poder perderam influência e foram substituídos por chefes
individuais (monarcas), com origem na aristocracia guerreira. A estes
monarcas os Sumérios chamavam En, Ensi ou Lugal. As suas funções
mais importantes eram: administrar e defender a cidade e aplicar a
justiça. Para os ajudar no cumprimento destas terefas possuíam uma
autêntica corte de funcionários.

Por outro lado, os monarcas das cidades Sumérias eram também


encarados como representantes terrenos das divindades – tinham um
poder sacralizado. Daí que tivessem a seu cargo a direcção dos
sacerdotes. Assim, para além das suas funções administrativas, tinham
igualmente funções religiosas: orientavam os principais rituais religiosos
e ordenavam a construção de templos.

Junto ao monarca, no palácio, viviam os mais poderosos aristocratas da


cidade; estes, para além de possuírem propriedades agrícolas, dirigiam o
exército.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 68

As guerras constantes entre as cidades-estado Sumérias favoreceram o


crescimento de vastos exércitos, organizados e comandados por
guerreiros profissionais.

No interior de cada templo vivia uma comunidade de sacerdotes, que se


encarregava de executar rituais e sacrifícios à divindade.

Para além destas funções, os templos detinham e administravam


propriedades e bens – tanto rurais como urbanos. Junto aos santuários e
na sua dependência havia espaços reservados ao artesanato e ao
comércio; ai trabalhavam imensos artífices e comerciantes.

Sumário
Como se pode verificar, a hierarquização das sociedades e a formação de
classes sociais é uma prática bastante antiga. Pois a sociedade no
Nordeste da África, no Médio e Extremo Oriente remo estava organizada
em estratos sociais diferenciados e hierarquizados. Os privilegiados, que
detinham o poder e a riqueza, e os não privilegiados, que produziam essa
riqueza.

Exercícios
1. Constrói um esquema em que agrupes os vários elementos que
formavam a sociedade egípcia, distinguindo os privilegiados e os não
privilegiados.

2. Se vivesses no Egipto durante a época que estás a estudar, a que grupo


social gostarias de pertencer. Justifica.

3. Na primeira metade do séc. IV n.e., o rei de Axum, Ezana, e a família


real converteram-se ao cristianismo. Que implicações isto teve?

4. Quais foram as causas que contribuíram para a decadência do império


Axumita.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 69

5. «Altas águas o Tigre espalha sobre os campos, E eis que então tudo na
terra se regozija; Os campos produziram grão abundante, a vinha e o
pomar deram os seus frutos, as colheitas foram armazenadas nos celeiros,
o Senhor fez desaparecer o luto da terra, e encheu os espíritos de alegria.»

a) Lido o trecho, explica a importância do rio Tigre para a


sobrevivência dos Sumérios.

6. Explica a ligação entre a produção de excedentes agrícolas e o


desenvolvimento das actividades artesanais nestas civilizações.

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 1, 3, 4 e 6.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 70

Unidade IX
O Processo Dinástico na China
Antiga

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar as grandes
causas que concorreram para o desenvolvimento da brilhante civilização
da China antiga.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar as condições naturais que permitiram o nascimento da


civilização da China antiga;
Objectivos
 Explicar como nasceram as cidades-palácio e a proveniência do
termo china;
 Identificar as principais dinastias da China Antiga.

9.1. O Processo Dinástico na China Antiga


A China Antiga estava localizada entre os rios Yang-Tse-Kiang e Hoang-
Ho ou Amarelo. É uma extensão que compreendia as montanhas de
Tibete e a zona de Mongólia até ao deserto de Gobi.

9.2. Condições Naturais da China Antiga


Os primeiros habitantes da China estabeleceram-se na grande planície
que se estende pelos vales dos rios Hoang-Ho (rio amarelo) e Yang-tse-
kiang (rio azul). Estes rios desempenharam na vida dos antigos chineses
um importante papel como aquele que o rio Nilo, Tigre e Eufrates
tiveram em relação as populações que junto deles viveram.

A agricultura desenvolveu-se, sobretudo nas margens do rio amarelo, que


durante as cheias do verão a sua corrente arrasta um limo expeço e
fertilizante de cor amarela (loas), que proporciona abundantes colheitas.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 71

As mais antigas comunidades rurais cultivavam cereais em pequenos


campos de forma quadrada e redonda de canais de irrigação. Nos terrenos
mais elevados plantavam cânhamo. Eram também criadores de gado
bovino.

9.3. O Poder do Estado e a Estratificação Social


No início do segundo milénio a.C., existiam inúmeras comunidades
aldeãs organizadas em clãs. A comunidade dos Chang, estabelecida na
região de honão, dominou todas as outras e estendeu o seu domínio às
regiões centrais e inferiores do rio amarelo.

A dinastia Chang dominou entre (1600 a1122 a.C.). Nos finais do século
doze, a comunidade Tchen, um povo que se localizava em chensi, invadiu
o estado Chang e anexou-o. Contudo, o poder da dinastia Tchen não
abrangeu todo o território, pois, alguns clãs organizaram-se em cidades-
palácio (conjunto de cidades amuralhadas e centros militares e religiosos
de poder autónomo em relação ao governo central); e constituíram reinos
independentes. Daí, lutas constantes e uma longa época de anarquia
conhecida por período dos reinos combatentes (500 a 221 a.C.). A
dinastia Tchen dominou no período entre (122 a 247 a.C.).

Entre estes reinos destacou-se o reino do Tsin, (palavra de que deriva o


termo China), que dominou toda a região desde as estepes mongois até a
região montanhosa (rio azul). Com a dinastia Tsin, a coroa tomou várias
medidas para modificar o estado chinês:

1º - Dividiu o reino em circunscrições administrativas direitamente


dependentes do governo central;

2º - Impôs uma moeda e escrita única em todo o país;

3º - Construiu grandes estradas, edifícios e fortificações como a grande


muralha;

4º - Reorganizou a sociedade em duas categorias (os nobres e os homens


do povo).

Assim, nos finais do século III a.C., os Tsin conseguiram tornar a China
num estado unitário e centralizado. O seu monarca Qin ou Huang-Ti, em
221 a.C. proclamou-se no primeiro imperador da China. Adoptou uma
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 72

política expansionista anexando o Vietname. Apesar das medidas


tomadas, o império Tsin teve uma curta duração.

Á dinastia Tsin, sucedeu a dinastia Han (206 a.C. à 220 d. C.). Menos
autoritário, que a anterior lançou a China a um período de grande
desenvolvimento económico, urbano e militar, com carácter
expansionista. As actividades económicas consistiam no desenvolvimento
do comércio a longa distância com o resto da Ásia e o mediterrâneo;
existiam propriedades fundeais, e havia monopólio do estado sobre
algumas actividades económicas e alto desenvolvimento urbano.

Nos dois primeiros séculos da nossa era verifica-se um declínio do poder


central: crise, sublevações, greves, aparecimento de vários territórios
dirigidos por grandes latifundiários, os quais passaram a organizar a sua
própria defesa com construções de muralhas e a criação de milícias
privadas e armadas.

9.4. Classes sociais


A estrutura de classes sociais foi modificada ao longo do
desenvolvimento da China antiga. Na dinastia Han a classe dominante era
composta pelo:

1º - o imperador;

2º - nobres;

3º - latifundiários;

4º - grandes comerciantes.

A classe dominada era constituída por:

1º - camponeses;

2º - artesãos e pequenos mercadores; e

3º - escravos.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 73

9.5. A Religião
Os chineses como todos os povos da antiguidade, veneravam a natureza e
a diferentes espécies de espíritos (politeísmo). O culto dos antepassados
ocupava lugar de destaque na religião. Para os chineses, os antepassados
vivem invisíveis a volta dos seus descendentes a quem auxiliam no dia-
a- dia.

A moral e a religião chinesa foram muito marcadas pela influência de


determinados pensadores como: Confúcio (551-479 a.C.) e Lao-Tsu
(cerca de570-490 a.C.). Confúcio, defensor do culto dos antepassados,
criou um sistema de moral e de conduta dos homens assente no respeito
pelos mais velhos e no cumprimento dos deveres sociais de cada um: que
o rei seja rei; o pai seja pai; o filho seja filho. A doutrina de Lao-Tsu (o
taoísmo) defendia a necessidade de o homem viver em harmonia com a
natureza (Tau) a fim de conseguir a salvação.

Sumário
A estrutura de classes sociais foi modificada ao longo do
desenvolvimento da China antiga. Na dinastia Han a classe dominante era
composta pelo: 1º - o imperador; 2º - nobres e 3º - latifundiários; 4º -
grandes comerciantes.

A classe dominada era constituída por: 1º - camponeses; 2º - artesãos e


pequenos mercadores; e 3º - escravos.

Exercícios
1- Faça uma descrição sobre a fundação da China antiga.
2- A partir dos acontecimentos da fase dos reinos combatentes,
explique como surgiu o termo china.
3- Faça uma retrospectiva sobre as filosofias de Lao-Tsu e
Confúcio.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 74

4. Segundo a religião da antiguidade chinesa, ”os antepassados vivem


invisíveis a volta dos seus descendentes a quem auxiliam no seu dia a
dia”. Como moçambicano explique segundo a tradição local.

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar o exercício: 2 e 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 75

Unidade X
O Sistema de Castas na Índia na
Índia Antiga

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante conheça a civilização indiana
e como esta estava organizada.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Situar geograficamente a Índia Antiga;


 Identificar os povos que fundaram a antiga civilização indiana;
 Descrever o papel desempenhado pelos arianos aquando da sua
Objectivos
invasão à Índia;
 Caracterizar as classes sociais da Índia;
 Identificar as causas da decadência do império Máuria.

10. As Sociedades Fluviais Antigas


O Vale do Indo e a Índia Antiga

10.1. Situação Geográfica


O vale do Indo está localizado na Ásia meridional, na região que é hoje a
Índia. A norte a região é dominada pela cordilheira dos Himalaia
(cordilheira mais alta do mundo cujo ponto mais alto é o monte
Chilomungma no Evereste). A sudeste e sudoeste é percorrido por uma
costa de cerca de quinhentos e quarenta e sete quilómetros entre o golfo
de Bengala e o mar arábico que se convergem a sul desta grande
península.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 76

10.2. Condições Naturais:


Três grandes regiões se distinguem na península do Indostão:

1ª - A região das planícies Indogangéticas, altamente férteis devido as


inundações regulares dos rios Indo e Ganges;

2ª - A região do planalto do Decão no centro.

3ª - A região sul peninsular.

A planície indogangética sofre modificações periódicas, o que lhe


proporciona vegetação abundante e um solo fértil. Foi nesta região, nas
margens dos rios Indo e Ganges, que nasceu e se desenvolveu a
civilização indiana antiga – A civilização do Indo.

10.3. População e a Conquista Ariana


Os habitantes mais antigos da Índia são os drávidas; povo de pele escura,
agricultores e criadores de gado. Os drávidas desenvolveram no vale do
Indo uma brilhante civilização, sobressaindo as cidades de Mohenjo-garo
e Harappa.

Cerca de quatro mil a.n.e., bandos de Indo-europeus de pele clara


principiaram migrações da Ásia central para o sudeste alcançando o
Indostão. Eles chamavam a si próprios de arianos ou nobres.

Até mil e duzentos a.n.e., os arianos tinham esmagado a civilização do


vale do Indo e reduzido a escravidão os seus fundadores (os drávidas),
devido a sua superioridade militar (uso de armas de bronze e carros de
guerra puxados de cavalos). Os invasores ocuparam tão rapidamente as
férteis planícies do norte e, daí, vieram a fundar a civilização de toda a
Índia.

De princípio eram pastores nómadas vivendo em tribos. A sua principal


fonte de riqueza era o gado de que utilizavam como valor de troca.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 77

Entretanto, os arianos passaram gradualmente a assimilar a superior


cultura drávida e se tornaram agricultores sedentários. Da população
drávida uma parte foi eliminada, a outra reduzida a escravidão e era
tratada com estrema crueldade...

Durante o primeiro milénio, os arianos avançaram até as regiões do sul da


Índia e conquistaram as populações locais. Contudo, vários conflitos se
registaram pela posse de pastagens, minando a unidade entre as tribos.

10.4. A Sociedade e a Estratificação Social:


A base da sociedade indiana era o sistema de castas. Segundo os
(vedas)4, havia quatro categorias sociais ligadas a divisão social do
trabalho, designadas por varnas:

A primeira varna era composta por sacerdotes e veio a formar a casta dos
brâmanes. A segunda varna era constituída por guerreiros, chefes (rajás) e
reis. Veio a formar a casta dos xatrias. A terceira varna era composta por
comerciantes, artesãos e camponeses. Veio a formar a casta dos vaixias.
A quarta varna era composta por servidores e pela maioria da população
local submetida e formava a casta de sudras. Fora deste sistema social, e
por não pertencerem a nenhum dos grupos mencionados, encontravam-se
(os párias ou os intocáveis) – grupo formado por criminosos, escravos e
marginais.

Progressivamente as varnas foram-se transformando em castas. Isto é, em


grupos fechados sem possibilidade de casamentos entre si, regidos por
leis de conduta muito rígidas. A casta passou a ser hereditária: O filho de
um brâmane é um brâmane e dum xatria, vaixia, sudra necessariamente
um sudra. Cada casta a sua própria administração e exercia uma profissão
bem determinada. Os seus membros obrigavam-se a uma solidariedade;
executavam em comum o culto religioso, observavam as normas
estabelecidas pela lei.

4
Vedas: Livros sagrados Indos escritos em sãnscritos (antiga língua dos
Brâmanes)
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 78

Progressivamente as castas transformaram-se por sua vez em classes


sociais, a partir do momento em que as castas superiores da sociedade
hindu (brâmanes e xatrias),passaram a viver na base do trabalho
produtivo das massas(vaixias e sudras). Os sudras estavam subdivididos
em vários grupos. O sub-grupo mais desfavorecido de todos eram os
chamados párias descendentes dos drávidas, a quem os membros das
outras castas nem podiam tocar.

A escravatura indiana era doméstica. Os arianos escravos por dívidas,


cumpriam a escravatura temporária e podiam se casar com mulheres
livres da sua casta.

10.5. A Formação de Estados e a Unificação da Índia


No decorrer do primeiro milénio a.n.e, os chefes das aldeias foram
adquirindo mais poderes passando viver dos tributos pagos pelos
camponeses e dos despojos de guerras. Certos chefes mais poderosos
transformaram-se em príncipes ou rajás que organizavam destacamentos
armados para conquistar novas regiões. Assim se formaram vários
estados que lutavam uns com os outros para conquistar a hegemonia.

No século VI a.n.e. a Índia era constituída por vários estados os maiores


dos quais eram Magadha e Koçala, situados nos troços centrais do Gange
e a noroeste respectivamente. A luta entre estes dois estados terminou no
século V a.n.e com a vitória de Magadha. Nos meados do séc. IV, o poder
dos reis de Magadha estendia-se por todo o vale do Gange e por uma
parte da Índia central. Magadha tornou-se assim o estado principal da
Índia.

10.6. O Império Mauria


No século IV a.n.e, a parte noroeste da Índia foi conquistada por
Alexandre Magno (o grande) da Macedónia. Depois da retirada deste da
Índia, surgiu um movimento de libertação sob a chefia de Chandragupta
Máuria (321-297 a.n.e). Chandragupta fundou um poderoso estado que
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 79

teve o seu nome depois duma vitoriosa campanha militar contra um dos
comandantes de Alexandre Magno (Seleuco Nicator) que foi obrigado a
entregar-lhe uma grande parte do seu território. Mais tarde, Chandragupta
conquista o reino de Kalinga, conseguindo assim unir quase toda a Índia.

Na Índia unificada num estado centralizado. O rei passou controlar quase


todas as actividades económicas: comércio, estabelecimento de preços
dos produtos, fabrico de tecidos, extracção mineira, bosques e pastos.
Todas as infra-estruturas para actividades económicas tornaram-se
propriedade do estado. A construção de obras hidráulicas e abertura de
caminhos eram de direito exclusivo do estado.

Para garantir a nova fonte de rendimentos, o rei cria funcionários locais:


peritos em geometria que mediam terras para a agricultura
(agrimensores); cobradores de impostos que iam desde moedas pedras
preciosas, arroz, cabras etc. e escribas que escreviam e faziam cálculos e
registavam os pagamentos de impostos com símbolos semelhantes aos
nossos números árabes.

Deste modo Chandragupta dominou facilmente e governou o seu império


através de conselhos pessoais e funcionários com ajuda dum exército
profissional e um serviço secreto. Empreendeu a construção de uma vasta
rede de estradas que facilitavam a comunicação na administração do seu
vasto território.

Além disso, soube conquistar a massa de agricultores ao mandar construir


represas, poços com vista a irrigação dos campos. Com este governo
estável, intensificou-se a actividade comercial que passou para actividade
principal e maior fonte de riqueza do império.

O império Máuria atingiu o seu apogeu no reinado de Açoka seu neto.


Açoka destacou-se pelo seu governo tolerante. Assustado pelo
derramamento de sangue provocado por uma guerra vitoriosa no
princípio do seu reinado, Açoka não fez quaisquer novo esforço para
alargar o seu império pelas armas. Açoka nunca forçou os seus súbditos
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 80

brâmanes a seguirem a sua fé budista. Esforçou-se por consolidar a


unidade territorial pregando um código moral chamado Dharma (lei de
piedade), exaltando a verdade, tolerância de todas as crenças religiosas, o
respeito pelos pais e por todas as coisas vivas.

Contudo, os éditos de Açoka unir os povos no sentido que ele esperava.


Depois da sua morte, cerca de 236 a.n.e, uma administração cada vez
mais deficiente acabou por afundar o governo centralizado. Cerca de 180
a.n.e, um oficial rebelde assassinou o último rei mauriano. Assim, a Índia
entrava num período de desagregação política que durou cinco séculos.

10.7. A Dinastia Gupta


Das muitas pequenas nações nascidas das ruínas do império mauriano,
destacou-se uma grande família dirigente. Conhecida por dinastia Guta,
forjou o segundo império indiano, tendo sido nele que a cultura hindu
atingiu o apogeu. A dinastia guta começa em 330 com Chandragupta I.

No espaço de um século, os seus sucessores tinham conquistado uma


extensa faixa de terras que se estendiam na direcção este-oeste através do
Indo e parte do Decão. Os guptas para administrarem o território que era
extenso, eram auxiliados por oficiais imperiais formados por príncipes
feudais chamados Samantas, cujos territórios oscilavam em extensão.

O principal dever dos Samantas para com o seu imperador era o


pagamento parcial dos impostos que eram pagos pelos camponeses, de
acordo com a sua qualidade agrícola e produção. A terra representava
uma maior fonte de rendimento. As áreas férteis multiplicaram-se com o
auxílio de machados de ferro cada vez mais vulgar, e uso de arado com a
ponta de ferro. Assim, a agricultura florescente estimulou o crescimento
do comércio e as cidades. Entretanto, a dinastia guta desaparecia por
volta do ano 500 em consequência dos vigorosos ataques das tribos
normandas vindas de noroeste.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 81

10.8. A Religião
Como outros povos no mesmo grau de desenvolvimento, os habitantes
mais antigos da Índia acreditavam em deuses ligados aos fenómenos
naturais que eles não conseguiam explicar. Entre outros deuses,
destacavam-se os deuses como varuna (deus do mar); suria (deus do sol)
Indra (deus da chuva) e Agni (deus do fogo).

Estas crenças dos arianos foram mais tarde fixadas em textos sagrados
vedas que significa saber. O desenvolvimento destas crenças
acompanhou a consolidação do poder da casta dos sacerdotes brâmanes,
os únicos que tinham direitos de interpretar livros sagrados vedas.

10.8.1 A Religião dos Brâmanes (O Bramanismo ou o Hinduismo)


Desempenhou um papel muito importante na vida do povo. Os deuses
eram considerados os protectores do rei e da nobreza. Assim, os
brâmanes servindo-se da religião deixavam de trabalhar no campo,
fazendo crer ao povo que a religião não lhes permitia manejar ardo ou
abrir um poço. Todo o conjunto das ideias religiosas brâmanes
justificavam a divisão da sociedade em castas, como algo estabelecido
pelos deuses.

Para os brâmanes o homem morria e a sua alma a outro corpo humano ou


animal. Para atingir o paraíso, junto do brama, era necessário viver várias
vidas virtuosas. A este processo de purificação através de reincarnação
chamava-se metempsicose. Embora a maioria dos arianos aceitasse o
bramanismo, alguns sentiam que o seu dogma deixava sem resposta
grandes questões morais e filosóficas. É o caso de Siadharta Gautama
filho do rei do norte.

Este príncipe meditou sobre a causa da infelicidade humana e concluiu


que a mesma provem do desejo egoísta de grande variedade de objectivos
desde a riqueza á imortalidade. Ele proclamou que o homem só podia
encontrar a felicidade desde que renunciasse a seus desejos e tivesse uma
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 82

vida moderada (livre de perturbações ambiciosas, assim cada ser humano


podia entrar no grande todo universo...).

Gautama atraiu muitos que se puseram ao seu lado pela simplicidade da


sua doutrina que não obrigava a qualquer crença em deuses invisíveis, a
quaisquer complexos rituais ou a qualquer rígido sistema de casta. Os
seus discípulos chamaram-lhe de Buda ou iluminado. Foi assim que
nasceu na Índia outra tendência religiosa que se opunha ao bramanismo
ou ao hinduismo o Budismo.

Os brâmanes odiavam e temiam o budismo porque lhes parecia ameaçar o


seu poder e as crenças tradicionais. Oficializado no reinado de Açoka no
século III a .n. e ., o budismo veio a ser aproveitado pelas classes
dominantes pois, as ideias e princípios, levavam os homens a
conformarem-se com a sua sorte e não lutarem contra as classes
dominantes.

10.9. A Arte e Literatura


Tal como na mesopotâmia, na Índia a arquitectura produziu belos templos
e estátuas ricamente esculpidas. Trabalhavam grandes templos na rocha
sólida e cobriam as suas superfícies com belas e inspiradas cenas das
vidas tradicionais de Buda e dos deuses hindus, e desenvolveram as artes
plásticas, sobretudo a escultura e pintura a fresco. Inventaram o alfabeto
com 50 letras e, cada uma representando um som diferente.

Quanto a literatura, no século I da nossa da nossa era, foram redigidos em


sãnscrito (língua literária da Índia antiga) o Mahabarata e o Ramayana
poemas épicos, que relatam feitos heróicos e contem lendas que inspirara.
Poetas e artistas de gerações posteriores. Das obras literárias destaca-se a
obra do dramaturgo Kalidasa que escreveu no século V a formosa
Sakuntala uma Peça romântica que ainda figura em primeiro lugar entre
todas as obras teatrais indianas.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 83

10.10. Ciências
Os antigos indianos também tinham conhecimentos básicos. Neste campo
inventaram a forma de contar mediante dez algarismos. Sabiam extrair a
raiz quadrada e cúbica e tinham conhecimentos de geometria. Na
astronomia elaboraram um calendário que dividia o ano em doze meses
de trinta dias e acrescentavam mais um mês no fim de cinco anos. No
campo da medicina alcançaram um grande avanço no que diz respeito às
técnicas utilizadas na cirurgia, na anatomia humana e fabrico de produtos
farmacêuticos.

Por seu turno, nasceu na Índia uma filosofia materialista que combatia a
teologia e o idealismo. Os seus partidários afirmavam a realidade do
mundo e negavam a imortalidade da alma (a metempsicose e a vida
extraterrestre), pondo em questão os ritos e os sacrifícios sagrados.

Sumário
A base da sociedade indiana era o sistema de castas. Segundo os vedas,
havia quatro categorias sociais ligadas a divisão social do trabalho,
designadas por varnas. E fora deste sistema social, e por não pertencerem
a nenhum dos grupos mencionados, encontravam-se (os párias ou os
intocáveis) – grupo formado por criminosos, escravos e marginais.

Progressivamente as varnas foram-se transformando em castas. Isto é, em


grupos fechados sem possibilidade de casamentos entre si, regidos por
leis de conduta muito rígidas. A casta passou a ser hereditária.

Exercícios
1- Identifique os primeiros habitantes da Índia antiga.
2- O que entende por bramanismo?
3- Identifique os princípios negativos do bramanismo.
4- Identifique as castas de que a sociedade indiana estava dividida e
a constituição de cada uma delas.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 84

5- Qual era a casta mais desfavorecida e quem a constituía?


6- Faça um pequeno resumo sobre a formação do império Máuria.
7- Todo o conjunto das ideias religiosas brâmanes justificavam a
divisão da sociedade em castas, como algo estabelecido pelos
deuses. Comente.
8- O que entende por metempsicose?
9- Explique como surgiu o Budismo.

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar os exercícios: 3, 7 e 8.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 85

Unidade XI
Desenvolvimento e Diferenciação
das Sociedades de Agricultores
em Moçambique: as comunidades
aldeãs e a formação das
estruturas sociais na África
Austral e em Moçambique.

Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante conheça o processo que
conduziu ao desenvolvimento e diferenciação das sociedades de
agricultores em Moçambique, ou seja, as comunidades aldeãs e a
formação das estruturas sociais na África Austral e em Moçambique e
que saibam caracterizar a sociedade de agricultores de Moçãmbique e
diferenciá-los da anterior pastoril.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar as principais três rotas que levaram a introdução da


técnica da metalurgia de ferro do próximo oriente até a austral;
 Identificar as razões da migração bantu em direcção ao sul e não
Objectivos
para o norte;
 Explicar as diferenças da estrutura sócio-políticas entre o norte e
o sul de Moçambique.

11.1. As Comunidades Aldeãs e a Formação das Estruturas Sociais na


África Austral
Os primeiros habitantes da África Austral ou a população mais antiga da
África austral foram provavelmente os falantes da língua koisan, cujos
sobreviventes são os koi-koi ou (hotentotes) de pequena estatura e pele
amarelada, e os bosquimanos (San). A distinção entre ambos situa-se
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 86

basicamente no nível cultural. Segundo Fage p:121, os koi-koi ou


hotentotes eram pastores e dominavam as técnicas da olaria, cestaria,
tecelagem e metalurgia, enquanto isso os San (bosquímanos) eram
caçadores recolectores nómadas na idade de pedra.

É possível que fosse genericamente este o estado cultural dos koisan


quando os bantus entraram em cena.”O termo koisan deve sem dúvida ser
preferido, pois resulta das designações que os hotentotes e bosquímanos
se atribuíam a si próprios – koi e San respectivamente.” (Fage,1995,
p:20).

Assim sendo, a sua densidade populacional teria sido inferior à densidade


até então alcançada pela comunidade de agricultores bantus, tendo como
consequência a sua incapacidade de resistir ao avanço destes últimos.
Terão sido exterminados, influenciados ou assimilados pela sociedade e
pela cultura dos grupos bantu, ou empurrados para zonas que não
interessavam aos bantu.

“Os bantu não estavam nada interessados em colonizar terras onde a


agricultura não assegurasse a subsistência, o que era corrente, em virtude
de um índice de pluviosidade anual inadequada ou insuficiente”. (Fage
1995, p:121). Para efeitos de constituição de núcleos próprios, certos
grupos koisans foram se fixar na região cada vez mais árida no extremo
sudoeste do continente, que culmina no deserto da Namíbia e no deserto
vizinho do calaari.

Hoje em dia, quase todos os sobreviventes se encontram distribuídos em


redor das franjas desta região e é no próprio calaari que os poucos San
que sobreviveram caçam e colhem. “A sul dos 20º de latitude sul, mais de
metade das terras do interior recebe em média menos de 400mm de
precipitação por ano, sendo por conseguinte, pouco propícias para a
agricultura”.(Fage, 1995, p:122).
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 87

Deste modo e muito embora existam bons vestígios arqueológicos de os


agricultores da idade do ferro haviam atravessado o Limpopo e se
começaram a se instalar no Transvaal, Suazilândia e Natal a partir do
século IV, o seu subsequente avanço na África meridional foi
relativamente lento.

O gado passou a ter uma importância cada vez maior na sua economia e
sociedade, e a colonização centrou-se nas planícies costeiras melhor
irrigadas, antes de avançar para o interior. A sedentarização nas terras
altas de pastagens da savana só se terá iniciado cerca de 1300, e no litoral
os bantos podem só ter alcançado o rio kei próximo do século XVI (altura
em que dispomos de fortes indícios da sua presença através das narrativas
dos marinheiros portugueses naufragados).

É por esta razão que as línguas bantu localizadas a mais sueste terão
sofrido uma influência tão significativa do discurso koisan; pois, a sua
expansão final teria se registado num processo lento e experimental por
parte de pequenos grupos de pessoas, e grande parte desse avanço se ter
processado através da absorção de muitos habitantes que falavam koisan
nas suas próprias estruturas sociais.

Civilizações que floresceram pelo domínio da técnica da metalurgia de


ferro e prática da agricultura e pastorícia

África herdou a técnica da metalurgia de ferro a partir do próximo


oriente, donde foi difundido há mais ou menos antes de cristo (1200 a
.c.); mais tarde chegou ao Egipto e, no século seguinte espalhou-se pelo
norte do nosso continente.

Do Sudão (termo etnográfica aplicado a todo o conjunto do s territórios


de uma estreita faixa ao sul do Saara, que os primeiros geógrafos árabes
considerava terra habitada por povos negros), o ferro subdividiu-se em
dois ramais: o primeiro ramal dirigiu-se a região dos grandes lagos e o
segundo para a região das grandes florestas equatorial.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 88

Em seguida as rotas unificaram-se e tomaram rumo sul a partir dos


núcleos proto-bantu-um, proto-bantu-dois e proto-bantu-três. Já na região
Austral de África, o ferro teria dado lugar ao surgimento de novas
formações políticas e etnolinguísticas.”O povoamento banto da África
austral teria sido iniciado num processo de expansão encetado na orla
noroeste das grandes florestas congolesas há cerca de três mil anos para a
bacia do Congo e África oriental, e de uma migração relativamente rápida
para o sul. A difusão quase simultânea da nova tecnologia de ferro na
zona dos grandes lagos e África austral (...) teria acelerado o processo
(...)”.(J.H. Greenherg, In Serra 2000,p:12).

O conhecimento e difusão da técnica da metalurgia de ferro; o aumento


da produção e da população levando a expandir as terras de agricultura e
pastagens; as disputas territoriais pela posse de terras férteis; são
mencionadas como principais causas da expansão dos bantos para o sul
de África.

11.2. As principais características das primeiras sociedades região


Austral de Africa
- No âmbito da produção

É claro que a prática da agricultura requeria relações de produção e


práticas organizadas com certa sistematização e permanência. Se por um
lado o parentesco constituía um sistema das relações de produção, por
outro ele era o conjunto de laços que uniam geneticamente (por filiação
ou descendência ou ainda, voluntariamente por aliança ou pacto de
sangue) um certo número de indivíduos.

O parentesco é essencialmente uma relação e nunca coincide


completamente com consanguinidade, isto porque, com o parentesco
biológico, cada indivíduo teria efectivamente um número muito elevado
de parentes.

No fundo desde que se rebuscasse, de forma profunda, as raízes de cada


um dos membros de uma sociedade, em particular nas sociedades
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 89

pequenas, chegar-se-ia a conclusão de que todas as pessoas são parentes.


Pois, na prática, o número de parentes de um indivíduo duplicaria em
cada geração e todos aqueles que descendem de um ramo ou de outro
destes múltiplos pares de avós seriam parentes, o que não é verdade.

Assim deluido, indiferenciado e generalizado, o parentesco não poderia


ser uma base de classificação dos indivíduos no sentido de grupos de
parentesco diferentes e até opostos e, consequentemente, o parentesco
não poderia ser um princípio de organização social.

Para que o parentesco possa ser um princípio lógico de classificação quer


de uns indivíduos em relação aos outros, quer dentro de cada grupo de
parentes e de um grupo de parentes em relação a outro grupo no seio da
sociedade, é necessário que nem todos os consanguíneos sejam
conhecidos como tal.

Certas categorias destes devem ser excluídos do parentesco. Assim pode-


se considerar uma linha de ascendência com a exclusão das outras, isto é,
uma filiação unilinear em linha paterna ou materna. Também podem ser
consideradas as duas linhas atribuindo-lhes funções distintas, resultando a
dupla filiação unilinear ou filiação bilinear. Também pode reconhecer-se
ao mesmo tempo o parentesco do lado paterno e do lado materno
constituindo filiação indiferenciada ou bilateral ou ainda cognática.

(Considerava-se linhagem um grupo de parentes que descendiam de um


antepassado comum através de uma filiação paterna ou filiação materna).
Faziam parte da linhagem também os parentes que entravam por
casamento e que constituam elementos indispensáveis para a população e
reprodução biológica.

A linhagem era conhecida como entidade autónoma na sociedade. Cada


linhagem era dirigida por um chefe com poderes político, jurídico e
religioso. O chefe da linhagem era coadjuvado por um conselho de
anciãos. O conjunto dos chefes das linhagens e dos clãs formava a
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 90

aristocracia dominante, enquanto que as comunidades aldeãs


(camponeses, e artífices) constituíam a classe dos subjugados e súbditos.
Não obstante, a diferença de linhagem matrilinear ou patrilinear, em
ambas as comunidades aldeãs, as funções políticas eram (e ainda são até
hoje) exercidas pelos homens; razão pela qual são consideradas ambas de
machistas.

Em Moçambique, na definição de parentesco, o princípio mais


generalizado é o da filiação unilinear, isto é, privilegia-se uma única
linha, podendo ser paterna (no sul) ou materna (no norte de
Moçambique). É importante referir que não existe uma filiação unilinear
pura; todas as sociedades admitem de certo modo, o parentesco nas duas
linhas.

Contudo, em regime de filiação unilinear, a tónica é posta numas duas


linhas de modo que, neste aspecto, a exclusão do parentesco é muito
importante. Os parentes do lado materno num sistema patrilinear, ou os
parentes do lado paterno num sistema matrilinear embora não constituam
um grupo em si, não deixam de exercer um papel importante nas relações
entre grupos de filiação unilinear.

O parentesco do lado não predominante influi no estatuto dos indivíduos


no que diz respeito a herança de bens, transmissão de funções,
valorização do estatuto dos filhos etc. Face a natureza polémica desta
classificação, alguns autores preferem de sociedade com predominância
patrilinear ou sociedade com predominância matrilinear.

Partindo deste sistema de parentesco, surge nestas sociedades um sistema


de organização da produção, a terra é tida como património da sociedade
e não uma propriedade e produziam essencialmente cereais (milho e
mexoeira) para a alimentação das comunidades. A agricultura era
fundamentalmente uma actividade feminina; a recolecção caça e pesca
era praticada pelos homens e que serviam como complemento da dieta
alimentar. Também se praticava a pastorícia (criação de gado bovino),
excepcionalmente a sul do Save. Outras actividades eram a olaria, a
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 91

metalurgia e produção têxtil com o fim de suprir as necessidades


domésticas e os excedentes entrava no circuito de trocas.

- Organização política, social e económica.

Verifica-se que dentro das linhagens e das famílias alargadas nas


primeiras sociedades, cristalizavam-se as políticas das relações de
produção. Á frente de cada linhagem ou família alargada estava um chefe
com poderes políticos, jurídicos e religiosos e com um conselho de
anciãos. As funções políticas eram exercidas pelos homens. Sendo a terra
património da linhagem ou da família, cabia ao chefe a sua distribuição e
estabelecer relações e alianças de matrimónio (pelo lobolo no sul de
Moçambique).

Particularmente em Moçambique, uma linhagem comportava um grupo


de parentes que descendiam de um antepassado comum através de uma
filiação materna (no norte) e paterna (no sul). Esta realidade conferiu o
surgimento consuetudinário dos órgãos de poder e da hierarquia política
nas antigas sociedades da África Austral e de Moçambique em particular.

- Ideologia

As crenças mágico-religiosas e outros aspectos ideológicos


desempenharam nessas sociedades um papel muito importante,
constituindo uma arma fundamental do poder, da coesão e de aparente
imobilidade. Os chefes das linhagens e os chefes territoriais imploravam
aos antepassados para si e para o seu povo, as chuvas, saúde, protecção,
etc. Para tal existiam cultos como: mhondoro, que era o culto territorial
desenvolvido nas regiões de Tete, Manica e Sofala; e mwari, entre os
karanga-shona. Tais cultos eram assistidos por especialistas como os
swikiro que deviam conhecer profundamente a história genealógica dos
Mwenemutapas (caso do centro de Moçambique); estes contavam a
história do império e memorizavam os acontecimentos relativos a história
dos familiares dos chefes e a sua sucessão.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 92

O ancião mais velho das mushas era conhecido por mukuru ou


(mwenemusha). As residências desses chefes constituíam-se em centros
com funções centrais; (Zimbabwe) entre os shonas; (mandlakazi ou
manjacaze) entre os ngunes. Estes centros resumiam-se em residências
dos chefes ou fortificados ou ainda capitais.

11.3. As Principais Diferenças Sócio-Políticas entre o Norte e o Sul de


Moçambique
As diferenças sócio-políticas entre o norte e o sul de Moçambique
surgiram através das condições naturais das comunidades. Ao norte do
Zambeze, as florestas com mosca tsé-tsé, dificultaram o desenvolvimento
da actividade pecuária (actividade essencialmente masculina),
privilegiando a agricultura dedicada a actividade feminina. Partindo do
princípio segundo o qual o poder económico é basilar para o poder sócio-
político, o grupo parentesco no norte do Zambeze passou a ser
matrilinear. Enquanto isso, no sul do Zambeze a criação de gado teve
mais peso e, sendo actividade essencialmente masculina, surgiu pelas
razões acima referidas uma comunidade patrilinear.

- Os primeiros centros urbanos em Moçambique

- Noção: Centros urbanos são povoações com uma população mais


numerosa do que é comum para aldeias da população rural e com funções
centrais.

Características de centros urbanos:

 Existência de uma administração pública com funções tributárias;


 Possibilidades mais amplas dos habitantes na participação na
vida política e social;
 Beneficiação directa ou indirecta da redistribuição dos impostos e
tributos;
 Participação mais directa dos habitantes na vida social e
económica de elite;
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 93

 Como centro comercial, administrativo e religioso, exerce


funções para a área circundante.

Desde os tempos remotos os grandes centro de Moçambique foram:

a) A capital do Zimbabwe, que foi permanente por mais de um a dois


séculos.

b) A capital dos Mutapas, que permaneceram por mais ou menos um


reino.

c) A capital de Gaza e Mataca, que duravam por mais ou menos cinco


anos.

d) Os vários centros costeiros e junto dos rios, que eram mais


permanentes.

Antes da chegada dos portugueses existiam centros como: Chibuene (sul


de Vilanculos); Sofala; Ilha de Moçambique; Quirimbas; Ilha de Vamizi
(sul de Cabo Delgado); e Somana (na baia de Nacala). Os portugueses
continuaram a utilizar alguns destes centros. Depois da separação
administrativa de Moçambique da Índia, em 1752, foi introduzido o
municipalismo em sete povoações entre 1762 e 1764: Inhambane, Sofala,
Tete Sena, Quelimane, Moçambique e Ibo. Em 1818 a Ilha de
Moçambique foi elevado a cidade com cinco mil habitantes

11.4. As primeiras sistematizações culturais entre agricultores em Moçambique


Segundo Serra, desde cercade 1700 anos, novos grupos etnolinguísticos
(Bantos), começaram a povoar a região austral de África. Desses novos
grupos fazem parte os actuais habitantes de Moçambique.

Contrariamente aos anteriores habitantes da região (hotentotes e


bosquímanos) que eram recolectores e caçadores, os bantos praticavam a
agricultura de itinerância e a pastorícia.

O trabalho e especialização nos objectos de metais principalmente o


ferro, constituiu o maior factor que os levou a dominar facilmente as
ntigas populações que encontraram.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 94

O grande Zimbabwe e particularmente as estações arqueológicas de


Manhiquene, Matola, Xaixai, Vilanculos, Bajone, Monapo e outras que
ainda requerem trabalho de campo, demonstram de forma viva o alto
nível de civilização a que essas comunidades tinham atingido.

A maior parte dessas estações, tiveram na altura funções centrais de um


conjunto de populações que escolheram os planaltos e principalmente as
planícies costeiras para a sua gradual progressão em direcção ao sul,
atingindo a baía do Maputo por volta do ano 200 n.e. Nestas sociedades
de classes em Moçambique, a prática da agricultura requria relações de
produção e práticas organizadas em certa sistematização e permanência.

Se por um lado o parentesco constituia um sistema de relações e


produção, por outro ele era o conjunto de laços que uniam geneticamente
(por filiação ou descendência ou ainda voluntariamente por aliança ou
pacto de sangue) um certo número de indivíduos, formando linhagens isto
é grupo de parentes descendentes de um antepassado comum através de
uma filiação paterna no sul do zambeze e materna no norte deste rio.

A linhagem era uma entidade autónoma na sociedade e era dirigida por


um chefe com poderes políticos, jurídico e religioso. As manifestações
mágico-religiosas nos váriosgrupos etnolinguísticos de Moçambique
quer no sul, centro e quer no norte, revelaram e revelam até hoje questões
similares ao politeísmo, venerando a vários deuses, simbolizados por
diferentes animais que identificam a cada linhagem: os njovos, veneram a
elefante; os ngonhamos assim como os inhamundas veneram a leões; os
simangos assim como dhalacamas veneram a macacos ou mapossas,
veneram a porco espinho; os muchangas ou dubes, veneram a zebra, os
moianes, a ovelha ou cordeiro. Sendo seus deuses são proibidos de os
consumir. Pela mestiçagem de linhagens, triboes e diversas culturas
rássicas essas tradições são hoje pouco respeitadas...

Apesar dessas várias divindades, cada unidade política sempre venerou


de forma colectiva os deuses venerados pela a aristocracia dominante da
sua unidade política pois foi sempre ao chefe a quem coube suplicar aos
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 95

deuses pedindo para si e para o seu povo as chuvas, a abumdância das


colheitas etc. Por exemplo, o chefe tradicional da Beira Zingombe, ou (a
grande vaca), é junto a este que o povo da beira venera ao zingombe
pedindo as chuvas, o fim de tempestade etc.

Sumário
Desde cercade 1700 anos, novos grupos etnolinguísticos (Bantos),
começaram a povoar a região austral de África. Desses novos grupos
fazem parte os actuais habitantes de Moçambique.

Contrariamente aos anteriores habitantes da região (hotentotes e


bosquímanos) que eram recolectores e caçadores, os bantos praticavam a
agricultura de itinerância e a pastorícia.

Os primeiros habitantes da África Austral ou a população mais antiga da


África austral foram provavelmente os falantes da língua koisan, cujos
sobreviventes são os koi-koi ou (hotentotes) de pequena estatura e pele
amarelada, e os bosquimanos (San). A distinção entre ambos situa-se
basicamente no nível cultural.

Em Moçambique, na definição de parentesco, o princípio mais


generalizado é o da filiação unilinear, isto é, privilegia-se uma única
linha, podendo ser paterna (no sul) ou materna (no norte de
Moçambique). É importante referir que não existe uma filiação unilinear
pura; todas as sociedades admitem de certo modo, o parentesco nas duas
linhas.

Exercícios
1. Segundo Serra. A partir do ano 200 n.e., a região austral de África foi
envadida por povos de origem banto. Indica três características dessas
comunidades.

2. Qual foi a grnde razão que permitiu a dominar facilmente os antigos


habitantes da região?

Quais são as principais manifestações culturais dos bantos no campo:


sócio-político; económico e religioso.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 96

4. Porque razão o uso de ferro é tido como a causa da formação de


unidades política e etnolinguísticas na África austral?
5. O que são centros urbanos e quais são as suas características?
6. Explica as diferenças da estrutura sócio-políticas entre o norte e o
sul de Moçambique

Fazer actividades constantes na auto-avaliação


Auto-avaliação
Entregar o exercício: 3 e 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 97

Unidade XII
As Civilizações Ameríndias

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam que antes da chegada
dos europeus os povos americanos tinham alcançado um nível de
evolução socio-política, económica e organizacional bastante elevado.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar as regiões onde se desenvolveram as principais


civilizações ameríndias.
Objectivos
 Identificar as principais estratégias usadas pelos imperadores
incas para a submissão dos seus inimigos.

 Mostrar as causas que levaram à decadência do império inca.

 Mostrar as semelhanças das práticas mágico-religiosas entre os


estados da África (Egipto e Monomotapa) e o império inca.

12.1. As Civilizações Ameríndias


Quando em 1492, Colombo, representando a monarquia espanhola,
descobriu o novo mundo (mais tarde América), teve contacto com uma
população indígena que recebeu o nome de índios, porque erradamente,
os primeiros espanhóis que desembarcaram na América julgaram ter
chegado ás índias. Uma parte dessa população formava pequenas tribos
dispersas, mas no México e no Peru chegaram a atingir um estado de
civilização bastante adiantado, tal como aconteceu com Astecas (no
actual território do México), a dos Maias (na actual península do Lucatão
na América central), a dos Incas (na actual cordilheira dos Andes).
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 98

É sobre esta última civilização cujos vestígios materiais nos lembram a


sua existência, sua organização política e social que interessam o
conhecimento da humanidade. Até a descoberta dos Incas, este povo
constituía-se num grande império situado no planalto dos Andes,
sensivelmente no território hoje ocupado pelos estados do Equador, Peru,
Bolívia e norte do Chile.

Os Quíchuas eram a classe dominante, a que pertencia a dinastia inca,


que era reinante. Inicialmente o nome inca abrangia um grupo de tribos
que vivia na vizinhança de Cuzco, antes do século XV e que foi usado de
várias maneiras. Calcula-se que o início da dinastia inca em Cuzco
tivesse tido lugar por volta de 1200 da nossa era.

Tal como a maioria dos povos da América, os incas viviam em regiões


montanhosas de difícil acesso, e, segundo as fontes disponíveis, a
civilização inca teria surgido da fusão de várias tribos formando assim
um vasto império. As grandes conquistas incas começaram após a
corporação de Panchacuti, como se crê, em 1438.

Entretanto, as conquistas incas nem sempre precisaram de lutas. As


estratégias usadas pelos incas foram geralmente a diplomacia, as
promessas e as ameaças através de um exército altamente organizado.
Esta estratégia bastou frequentemente para conseguir a submissão dos
seus inimigos, e se tornar num grande império cuja civilização foi
admirada.

12.2. Organização Social


O império inca tinha uma organização social piramidal hierarquicamente
estratificada: Á cabeça estava o imperador, monarca absoluto chamado
Sapa inca o que significa (único inca). O imperador tinha para além do
cognome Sapa inca, outros cognomes como intip cori (filho do sol), em
homenagem a sua suposta descendência directa do sol; pelo que o
adoravam como um Deus a semelhança dos Faraós egípcios em África do
nordeste que por sua vez eram intitulados de filhos do sol.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 99

Sapa inca tinha uma esposa principal (a coya). A semelhança dos


monomotapas na África austral que, na altura do seu empoçamento para o
cargo de imperador praticavam o incesto com sua familiar próxima ou
mesmo com uma sua irmã que passava posteriormente a ser a sua
principal esposa, e para além dos monomotapas também serem
considerados de origem divina, coya era a irmã germana do Sapa inca.

Sapa inca podia como também se reporta entre os monomotapas, possuir


várias outras mulheres secundárias que davam vários filhos. Para
conseguir a maior perfeição em todas as actividades civis, o imperador
exercia sobre os súbditos uma autoridade depóstica.

Para além do monarca (imperador), a classe dominante era constituída


por sacerdotes e sacerdotisas (asa virgens do sol), mais um grupo
aristocrático de guerreiros, cujas actividades eram os serviços religiosos,
militares, intelectuais e burocráticos. A grande maioria constituída por
camponeses, artesãos, pastores e outros, faziam parte da classe dominada.
A sua função principal era trabalhar para sustentar a classe dominante.

A forma normal de tributação era o trabalho agrícola; mas havia também


um imposto especial de trabalho (o mit”a)- no exército nas estradas, nas
minas e noutros trabalhos públicos. O poder estava centralizado nas mãos
do monarca. Este governava o império a partir de Cuzco, a capital, por
meio de funcionários reais.

12.3. O Desenvolvimento Socio-Económico do Império Inca


Dedicava-se a várias actividades económicas:

Agricultura - Cultivavam milho, feijões, abóbora etc. A terra era uma


propriedade colectiva e o produto do trabalho era familiar com a mesma
descendência. Auxiliavam-se mutuamente no cultivo da terra e
trabalhavam nas terras de viuvas, idosos e de pastores ausentes.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 100

Artesanato - produzia objectos de cerâmica. Tal como acontecia nas


sociedades africanas e asiáticas, os incas dedicavam-se também a
construção de canais de irrigação para a agricultura a construção de
templos, palácios, túneis e de vasta rede de estradas que ligava as
diferentes partes do império, facilitando a administração do vasto
império.

12.4. Decadência do Império Inca


Com a chegada dos colonizadores europeus, a partir dos finais do século
XV, as civilizações da América entrara em declínio. A política dos
espanhóis para a conquista foi o saque, pilhagem e extermínio dos povos
autóctones. Os colonizadores destruíram tudo o que simbolizava estas
civilizações: Templos, palácios etc. Grandes quantidades de objectos de
valor em ouro, prata foram roubados. O império inca estava ainda em
evolução quando o fim chegou...

12.4.1 Causas da Decadência do Império Inca


O império sofria de duas grandes debilidades:

1º - Falta de método fixo para a designação do sucessor do imperador.


Quando Huayna Capac morreu subitamente sem deixar designado o seu
sucessor, surgiu o conflito de sucessão entre dois príncipes cada um
apoiado por uma facção poderosa, o que deixou o império enfraquecido.
Esse enfraquecimento foi aproveitado pelos espanhóis na sua chegada.

2º - A excessiva centralização do poder no imperador e pouca unidade


entre os altos funcionários da mesma graduação. Por motivos destas duas
debilidades Cuzco ( a capital) foi destruída pelos espanhóis em 1534, e
grande parte da sua população foi decapitada. Os espanhóis ganharam
força rapidamente e as antigas civilizações dos Andes centrais
desapareceram para sempre...
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 101

Sumário
O império inca tinha uma organização social piramidal hierarquicamente
estratificada: Á cabeça estava o imperador, monarca absoluto chamado
Sapa inca o que significa (único inca). O imperador tinha para além do
cognome Sapa inca, outros cognomes como intip cori (filho do sol), em
homenagem a sua suposta descendência directa do sol; pelo que o
adoravam como um Deus a semelhança dos Faraós egípcios em África do
nordeste que por sua vez eram intitulados de filhos do sol.

Exercícios
1. Qual é razão que levou Colombo a chamar os americanos de
índios?
2. Porque é que aquelas regiões ocidentais acabaram sendo
chamadas de América?
3. Quais são as grades semelhanças no contexto de organização
político-social entre o império Ínca com os monomotapas e o
estado egípcio?

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar o exercício: 3.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 102

Unidade XIII
Valores Culturais das Sociedades
Pré-Clássicas

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam o que são sociedades
baseadas no regime de servidão.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar as regiões onde se desenvolveram as sociedades


baseadas no regime de servidão;
Objectivos
 Enumerar as civilizações que praticaram este tipo de regime;

 Caracterizar as sociedades baseadas no regime da servidão.


13.1. Valores Culturais das Sociedades Pré-Clássicas


Na antiguidade, a dissolução das comunidades primitivas resultou na
criação de duas formas principais de organização sócio-económicas: As
sociedades baseadas no regime de servidão colectiva (sociedades
asiáticas); e as sociedades escravocratas (especialmente as sociedades
clássicas gregas e romanas). As aldeias, as vilas neolíticas especialmente
onde havia a agricultura intensiva, evoluíram para formação de cidades, e
resultaram na formação das primeiras grandes civilizações da
humanidade.

Nos vales de importantes rios, floresceram estas primeiras culturas como


na mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates; a egípcia, no rio Nilo; a
indiana, nos rios Indo e Gange; e a chinesa, nos rios Amarelo e Azul.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 103

Essas sociedades orientais da antiguidade, especialmente a egípcia, e a


mesopotâmia, desenvolveram-se em regiões semi-áridas que
necessitavam de grandes obras hidráulicas para o cultivo agrícola. Assim
a organização político-social, acabou-se estruturando em torno da terra e
dos canais de irrigação. O estado organizava a produção comunitária das
aldeias, controlando diques e canais; aproximava-se por meio da
tributação dos escedentes produzidos e realizavam obras públicas e
serviços administrativos.

Segundo CLÁUDIO 2002:19-20, nessas sociedades onde predominava a


servidão colectiva, o indivíduo explorava a terra como membro da
comunidade e servia ao estado, proprietário absoluto dessa terra,
personificado no Egípto pelo faraó e, na Mesopotâmia pelo imperador.

Nessas comunidades o comércio e o artesanato tinham função secundária,


apresentando-se pouco dinâmicos. A essa estrutura sócio-económica
baseada no estado despótico e no controlo da produção agrícola
comunitária, sustentada por grandes obras hidráulicas, dá-se o nome
de (modo de produção asiática ou sistema de servidão colectiva). Este
sistema identifica sociedades a que denominamos de pré-clássica.

Ao contrário dessas sociedades da antiguidade oriental, nas sociedades


clássicas como a grega e romana em que a metalurgia tivera grande
desenvolvimento, a superação das comunidades colectivistas do neolítico
levou ao surgimento da propriedade privada e consequentemente, a
utilização da mão-de-obra escrava.

O estado constituía nessas sociedades o principal instrumento de poder do


grupo privilegiado, assegurando e ampliando seu predomínio. Neste
período (na antiguidade clássica) em que se desenvolveram as sociedades
grega e romana, as cidades tornaram-se grandes centros de prosperidade
material e intelectual, além de importantes núcleos políticos.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 104

As bases desse progresso encontravam-se no campo, cujas actividades


económicas principalmente a produção de trigo, azeite e vinho
enriqueciam os proprietários agrários e impulsionavam as actividades
urbanas como as trocas comerciais e o artesanato. O comércio inter-
regional de produtos agrícolas e objectos artesanais como vasos, ânforas,
estátuas, tornou-se muito dinâmico.

A navegação por consequência adquiriu grande importância, passando o


mediterrâneo a constituír o mais importante canal de comunicação da
antiguidade. A produção de excedentes necessária para intensificação das
trocas comerciais era garantida pela ampla utilização da mão-de-obra
escrava. O desenvolvimento do modo da produção escravista, que atingiu
sua plenitude em Roma, está intimamente relacionado ao carácter
expancionista das sociedades-estados gregas e do estado romano.

“ Foi a conquista permanente de outros territórios e a escravização dos


povos vencidos que posibilitou a manutenção do modo de produção
escravista.” (CLÁUDIO, 2003:20).

13.2. O desenvolvimento da escrita no nordeste, no próximo e no médio


oriente
13.2.1. O desenvolvimento da escrita no nordeste de África (Egípto)
O Egípto antigo desenvolveu três tipos de escritas:

a) – A sagrada chamada hieroglífica, inventada no período pré-dinástico


(altura da unificação do Egípto cerca de 3200 a.n.e., e que possuía mais
de 600 sinais). Cada sinal tinha uma explicação enigmática de carácter
religiosa para a invocação aos deuses.

b) – A hierática; mais usada para documentos e era uma forma mais


símples e derivada da anterior.

c) – Por fim existia a demótica, a escrita popular nascida bem mais tarde
e constitui a simplificação da hierática com cerca de 350 sinais.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 105

13.2.2.- A decifração do hieroglífico


A partir do séc. XVIII, em 1799, conscidindo com a expedição de
Nampoleão Bonaparte ao Egípto (1798-1799), foi encontrada em Roseta
à 70km de Alexandria, por um jovem oficial de engenharia (Bouchard),
uma estala com uma longa inscrição em três tipos de escritas e duas
línguas entre as quais o grego. O interesse e a curiosidade pela descoberta
são enormes. De facto, a partir daquele momento tornou-se possível
decifrar a escrita dos antigos egípcios, a escrita hierogláfica.

Resurge assim um mundo que tinha praticamente desaparecido no séc. IV


a.n.e., de facto em 391, o imperador romano Teodósio tinha descoberto o
encerramento de todos os tempos não cristãos do império. A escrita
hieroglífica ainda em uso no Egípto pelos seguidores de alguns cultos foi
rapidamente e, por fim deixou de ser compreendida.

Do Egípto, tinham por isso, ficado as descrições que dele tinham deixado
na idade clássica, historiadores e viajantes gregos e romanos: o
historiador Heródoto, tinha feito um relato da sua viajem ao Egípto
efectuada por volta do ano 450 a.n.e., a este pode-se recordar por
exemplo o de Estrabão (romano) que escreveu em grego a cerca da sua
viajem efectuada em 30 d.c., num Egípto agora dominedo pelos romanos
ou o de Plutarco historiador grego que viveu entre 46 e 125 d.c., que nos
deixa notícias de de um dos cultos mais conhecidos o de Ísis e Osiris. Na
antiguidade, portanto, o Egípto é visitado e contado, depois, a partir do
séc. IV d.c., tem como um eclípse. Em 641, com a chegada dos árabes o
Egípto tornou-se muçulmano e difícil aos europeus visitá-lo, e, seja como
for, as inscrições hieroglíficas naqueles momentos já não são
compreendidos.

Os viajantes da baixa idade média (séc.: XI a XV) e no renascimento


(séc. XVI), espalha-se quando muito pela zona mais próxima do
mediterrâneo que, todavia, não é para senão uma etapa em direcção aos
lugares de peregrinação na palestina. No entanto, porque se fala do
Egípto na bíblia, sobretudo no antigo testamento, estando a sua história
ligada à dos hebreus, a partir do segundo milénio a.n.e., com os séculos
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 106

XVII e XVIII, são sobretudo os missionários católicos a deslocar-se ao


Egípto e a contá-lo.

Não faltam, todavia, viajantes como Barão Francês Vivant Denon (1747-
1825), que visita o país na sequência da expedição de Nampoleão
Bonaparte. O Barão leva para sua pátria muitas obras egípcias e no fim
deixa um livro bem ilustrado, que conheceu uma difusão e êxito em toda
a Europa, contribuíndo bastante para a renascente paixão para o Egípto.

Ela concretiza-se numa obra monomental (a descríption de 1’Egípto),


publicada em 24 volumes em 1809. Coube ao Francês Jean-françois
Champolion (1790-1832) que em 1822, com os seus trabalhos veio a
decifrar a escrita hieroglífica. As inscrições misteriosas tornaram-se
compreensíveis e a egiptologia (ciência do Egípto) afirma-se
defitivamente...

No séc.XVIII o Egípto é estudado e saquiado. Belíssimas obras são


levadas para Europa para serem examinadas e exposta em muséus mais
importantes. O Francês Augusto Mariette (1821-1881), consegue pôr
travam à fuga das obras e, estimulando campanhas de buscas e escavação,
funda no cairo um museu inteiramente ao antigo Egípto.

Em 1992, a descoberta do túmulo do faraó Tuntakhamon pelo inglês


Haward Carter, com o apoio financeiro de Lord Carnavon, é de certo um
dos achados mais famosos e mais fascinantes da arqueologia do séc. XX.

13.3. O Cuxe-Méroe
A partir do ano 1.100 a.n.e., começou no Egípto uma fase de pertubarções
e de guerras civis em que os líbios interviram formando mais tarde uma
dinastia Líbia. Devido a este caos, que ameaçava o Egípto, os vice-reis de
Cuxe apoiados pelas forças núbis e pelos sacerdotes tebanos tomaram a
maior parte do Egípto a partir de 1068 a.n.e.

Com o aparecimento da dinastia Líbia em 950 a.n.e., dinastia mal vista


pelos sacerdotes de teba, Cuxe tornou-se praticamente refúgio da
legitimidade egípcia perante os estrangeiros do norte; e a partir da década
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 107

de 660 a.n.e., os reis de Cuxe intitularam-se reis do Alto e Baixo Egípto,


chegando em 500 a.n.e. a transferir a capital do reino de Napata para
Méroe, mais a sul, devido a pressão, ao agravamento do clima e ao facto
de as rainhas vindas de sul preferirem viver e ser sepultadas na sua terra
natal.

O reino de Cuxe encontrava-se na primeira catarata e foi povoado por um


fluxo de povos que fugiam das zonas em vias de desertificação. Porém
este paí era menos favorecido pela natureza devido a maior seca e
numerosas catarata por causa do relevo ocidental e pedregoso.

Daí, que a Núbia se toenou num teritório de exploração permitindo que


mais tarde com o declínio egípcio, viesse a impôr o seu domínio em todo
o vale do Nilo.

Sumário
Na antiguidade, a dissolução das comunidades primitivas resultou na
criação de duas formas principais de organização sócio-económicas: As
sociedades baseadas no regime de servidão colectiva (sociedades
asiáticas); e as sociedades escravocratas (especialmente as sociedades
clássicas gregas e romanas). As aldeias, as vilas neolíticas especialmente
onde havia a agricultura intensiva, evoluíram para formação de cidades, e
resultaram na formação das primeiras grandes civilizações da
humanidade.

Nessas comunidades o comércio e o artesanato tinham função secundária,


apresentando-se pouco dinâmicos. A essa estrutura sócio-económica
baseada no estado despótico e no controlo da produção agrícola
comunitária, sustentada por grandes obras hidráulicas, dá-se o nome
de (modo de produção asiática ou sistema de servidão colectiva). Este
sistema identifica sociedades a que denominamos de pré-clássica.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 108

Exercícios
1- O continente asiático foi o timoneiro do regime de servidão. Fala
das características desse regime.

2- Identifique as regiões de África onde se desenvolveu o regime de


servidão.

3- O que entendes por civilizações fluviais antigas e em que regiões


se desenvolveram?

4- O Egípto foi uma civilização altamente esclavagista. O Egípto


não foi uma civilização altamente esclavagista – escolha a frase
verdadeira e justifique.

5- O Cuxe chegou a ser o refúgio da legitimidade egípcia. Justifique


porquê?

6- O Egípto constituíu referência no desenvolvimento de


civilizações a ele visinhas. Indica essas civilizações e em que
campos ele tanto influenciou?

7- Identifica o tipo de escrita desenvolvida pelos egípcios, fale do


processo que levou a sua decifração.

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar o exercício: 1,3,4 e 7.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 109

Unidade XIV
Expressões sócio-econímicas e
culturais das civilizações pré-
clássicas da mesopotâmia

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam descrever o tipo de
vida das civilizações da mesopotâmia e sua relações com os outros povos
e descrever as contradições surgidas na mesopotâmia e o processo que
levou a fundação do império babilónico.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Caracterizar uma cidade-estado;

 Explicar o mito sobre a torre de Bubel;

Objectivos  Relacionar as civilizações da mesopotâmia com as do vale do


Nilo;

 Descrever as tradições dos povos da mesopotâmia.

 Enumerar as causas que levaram união das cidades-estados


sumerianas e fundação do império babilónico;

 Identificar os principais feitos do rei hamurabi;

 justificar as vantagens da lei de hamurabi para os mesopotâmicos


e para as sociedades posteriores.

14.1. A Sociedade e Economia


A estrutura produtiva mesopotâmica, tal como a do Egípto, inseria-se no
modo de produção asiática, tendo a agricultura como actividade principal
e a população submetida ao sistema de servidão colectiva. A unidade
económica da cidade-estado ou do império dependia do templo, (eixo da
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 110

religião entre a população e a autoridade política, - o patesi ou o


imperador).

Como as terras pertenciam aos deuses, os seus representantes (políticos e


religiosos), administravam essas terras e dominavam camponeses,
artesãos (padeiros, oleiros, tecelões, ferreiros etc.), soldados e serviçais
menores, obrigados a produzir, defender e a trabalhar nas obras públicas.

Uma aristocracia de governantes, socerdotes e funcionários públicos,


através do estado, controlava a construção de reservatórios de água,
diques, canais de irrigação, estradas e depósitos de alimentos, além de
impôr tributos sobre quase tudo o que era produzido.

Também contavam com a mão-de-obra escrava, constituída dos vencidos


nas guerras.

Nos celeiros públicos, os conhecidos estoques, definia-se o critério, de


distribuição dos excedentes agrícolas obtidos da população. Oartesanato e
o comércio mesopotâmico atingiram um alto grau de desenvolvimento,
com seus negociantes, organizando caravanas que iam da Arábia à Índia,
buscando ou levando produtos como lã, tecidos, cevada, e minerais entre
outras mercadorias.

Quando utilizavam os rios Tigre e Eufrates ou o mar alcançado através do


golfo pérsico, frequentemente contavam com navios tripulados por
marinheiros fenícios. A intensidade das actividades económicas da
mesopotâmia chegou a transformar muitas das suas cidades em grandes
entrepostos comerciais, destacando-se a Babilónia.

A estrutura social mesopotâmica também assemelhava-se a do Egípto,


tendo no topo uma pequena elite poderosa concentradora de previlégio e
da força sustentada pela esmagadora maioria da população submetida a
servidão imposta por um governo depótico e teocrático. A cultura
mesopotâmica descendia em grande parte dos sumérios destacando-se
especialmentea escrita cuneiforme.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 111

14.2. A Decifração da Escrita das Civilizações Mesopotâmicas (a Escrita


Cuneiforme)
Foram os sumérios, povo da mesopotâmia, que inventaram a primeira
escrita no quarto milénio antes da nossa era. A escrita mesopotâmica,
denominada (cuneiforme), era grafada da esquerda para a direita e foi
uma das mais importantes do mundo antigo composta de vogais e
consoantes.

A sua decifração foi possível a partir do século dezoito, quando o alemão


Georg Friederich Grotefend, com genial intuição lançou as bases com que
ela seria decifrada, partindo de incrições copiadas em 1765 em persépole
pelo alemão Niebuhr.

Grotefend formulou os princípios da decifração, apresentando os seus


resultados à academia de Gottingen em 1802 onde estudava a filosofia.

As pesquisas que Grotefend compreendera e que tinha sido escolhidas de


início com algum cepticismo, foram a seguir retomadas por diferentes
especialistas entre os quais se destaca o inglês Henry Creswicke Rawlson.
Rawlsion nasceu em 1810.

Enviado como cadete à Índia e depois ao Irão, encarregado de orgizar as


tropas do chá, começou então a interessar-se pelas escritas cuneiformes,
empenhando-se em copiar a célebre incrição que se encontra no baixo
relevo do Dário I, chamado Beistum no território iraniano, na via que liga
Bagdá à Teerão.

Foi aí que Rawlson, com risco de vida copiou as inscrições para depois
decifrá-las. Em 1846 publicou um livro de grande valor “A inscrição
pérsica cuneiforme de Beistum .”
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 112

Religião – a religião mesopotâmica foi herdade dos sumérios e ampliada


pelos seus sucessores. Tinha inúmeros deuses que representavam
fenómenos da natureza.

Actualmente são conhecidos cerca de 3000 deuses. A religião era vista


como meio de obter recompensas terrenas imediatas pois, ao contrário
dos egípcios, os mesopotâmicos não acreditavam na vida após morte.

Mesmo assim, na Assíri e na Babilónia, a religião evoluiu para a crença


de que os mortos deveriam receber boas sepulturas para nunca
abandonarem o seu mundo de sombras. Do contrário, eles achavam que a
alma não encontraria a paz e ficaria vagando etrnamente e provocaria
desgraças.

Para alcançar as vantagens terrenas, os mesopotâmicos submetiam-se aos


rituais religiosos, comandados pelos sacerdotes, o que fazia dos templos o
centro de toda a religiosidade. Estes templos podiam abrigar també o
celeiro e as oficinas integrando inclusive a torre do ziguarta.

Arte – os mesopotâmicos sobressaíram-se nas ciências, na arquitetura e


na literatura.

Observando o céu, especialmente a partir das suas torres e buscando


decifrar a vontade dos deuses, os sacerdotes desemvolveram a astrologia
e a astronomia, conseguindo atingir um amplo conhecimento sobre os
fenómenos celestes como o movimento de planetas e strelas e a previsão
de eclípses.

Apriorando o conhecimento de astronomia, avançaram no domínio da


matemática que também servia às necessidades da vida económica.
Foram os inventores da álgebra, desenvolvendo cálculos de divisão e
multiplicação, incluindo a criação da raíz quadrada e raíz cúbica.
Também dividiram o círculo em 360 graus e criaram um calendário com
o ano de doze meses, dividido em semanas de sete dias e estes em
período de doze horas.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 113

Na arquitetura, os mesopotâmicos foram inovadores com aplicação de


arcos; na escultura e pintura, enfatizaram a estatuário e elaboração dos
baixos-relevos com sentido decorativo, especialmente para templos e
palácios. Na literatura, constituída principalmente de poemas e narrativas
épicas, destacam-se duas obras sumerianas: a epopeia de Gilgamés, a
mais antiga narrativa sobre o dilúvio e o mito da criação.

Na primeira, Gilgamés é apresentado como rei de uruk que busca a


imortabilidade acompanhado em suas aventuras por enkidu. E uma de
suas passagens, o poema assemelha-se intensamente à posterior descrição
do delúvio no antigo testamento não deixando dúvida de que os autores
do génesis alí se inspiraram. No poema sumeriano o herói é
Utanapishtim, enquanto no Génesis é Noé.

14.3. A Mesopotâmia e o Império Babilónico

14.3.1. Hamurabi, o fundador do Império Babilónico


No final do período neolítico, os povos sumerianos, vindos do planalto do
Irão, fixaram-se na Caldeia (média e baixa mesopotâmia) e fundaram
diversas cidades autónomas, verdadeiros estados independentes, como
Ur, Uruk, Nipur e Lagash. Cada uma delas era governada por um patesi,
supremo sacerdote e chefe militar absoluto.

Pela influência sumeriana, os deuses eram considerados os proprietários


de todas as terras a quem os homens sempre deviam servir, sendo as
cidade suas moradas terrenas. Junto aos templos das cidades
homenageando o seu deus patrono, não raramente eram erigidas
ziguartes- pirâmides de tijolos maçios que serviam de santuários acesso
dos deuses quando desciam até seu ao povo.

Diferentemente do Egípto, os governantes mesopotâmicos, salvo rars


excepções só depois de mortos, não eram tidos como deuses mas sim seus
intermediários e representantes. Empreendedores e criativos os sumérios,
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 114

como vimos anteriorimente inventaram a escrita cuneiforme que foi


utilizada por todas as civilizações vizinhas.

Enquanto cidades-estados sumerianas viviam constantemente em guerras


pela supremacia na região, os acadinos, povo de origem semita,
ocupavam a região central da mesopotâmia. Por volta do ano 2300 a.c., o
rei acadiano Sargão I politicamente o centro e o sul da mesopotâmia
dominando os sumérios, tornando-se conhecido como o soberano dos
quatro cantos da terra.

Ao mesmo tempo, o império acadino incorporou a cultura sumeriana com


destaque para os registos da nova língua semitica em carácteres
cuneiformes. Devido as revoltas, internas e as invasões estrangeiras, o
império enfraqueceu-se por volta de 2100 a.c., permitindo o breve
reerguimento de algumas cidades-estados sumerianas como Ur.

Dos invasores que destruíram o império acadiano, destacam-se os


amoritas vindos do deserto da Arábia e fundaram a cidade da Babilónia.
A disputa da babilónia com demais cidades-estados para além de
invasões levou a lutas quase ininterruptas até ao início do século XVII
a.c., quando o rei hamurabi rei da babilónia realizou a completa
unificação da mesopotâmia, ao ter dominado toda a região desde a
Assíria ao norte até a Acádia no sul, fundando o primeiro império
babilónico.

Rapidamente a capital babilónica transformou-se num dos principais


centroos urbanos da antiguidade, convertendo-se no eixo cultural e
económico da região do crescente fértil...hamurabi também elaborou o
primeiro código de leis completo de que se tem notícia assentando nas
antigas tradiçcões sumérias. O código de hamurabi apresenta uma
diversidade de procedimentos jurídicos e determinação de penas para
uma vasta gama de crimes partindo a maior parte delas do princípio (olho
por olho, e dente por dente).
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 115

O código de hamurabi decorria da lei de Tailão que preconizava que as


punições fossem idénticas ao délito cometido. O códigoabarca
praticamente todos os aspectos da vida babilónica, passando pelo
comércio, propriedade, herança, direitos da mulher, família, adultéerio,
falsas acusações, e escravidão. As punições variavam de acordo com a
posição social da vítima e do infractor.

Hamurabi também empreendeu uma ampla reforma religiosa,


transformando o deus Marduk da Babilónia no primeiro deus da
Mesopotâmia. Á Marduk levantou-se um templo junto ao qual foi erguido
o o ziguarte de Babel citado no livro do génesis bíblia como uma
torre para se chegar ao céu.

Com a morte de hamurabi, várias rebiliões e sucessivas invasões levaram


a sua decedência e a ascensão dos assírios em 1300 a.c.

14.3.2. Era Assíria


Os assírios teriam chegado na Mesopotâmia por volta de 2500 a.c. . O
domínio e o uso de armas de ferro com carros de guerra, permitiu o seu
avanço expancionista tendo conquistado várias regiões vizinhas incluindo
a média mesopotâmia e boa parte da Síria e Palestina.

Os assírios ficaram famosos pela crueldade com que tratavam os


vencidos: cortavam suas orelhas, órgãos genitais e narizes ou mesmo
esfolamento vivo daqueles que ousassem ameaçar o seu domínio,
buscando assim a total intimidação dos conquistados.

No reinado de Sergão II dominaram Israel e, no reinado de Tiglat


Falasar, a cidade da Babilónia. Atingiu o seu auge no séc. VII a.c., com
Senaqueribe e Assurbanipal, dominando uma área que ia desde ogolfo
pérsico à Ásia menor, e do Tigre ao Egípto.

Senaqueribe transferiu a capital para Nínive. Assurbanipal, para além de


grande guerreiro, era um entusiasta da ciência e literatura o que a criação
de uma grande biblioteca na nova capital assíria (a bibliotecade Nínive)
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 116

que reuniu um amplo acervo cultural de toda a região formada por


dezenas de milhares de tijolos de argila.

Sumário
A estrutura produtiva mesopotâmica, tal como a do Egípto, inseria-se no
modo de produção asiática, tendo a agricultura como actividade principal
e a população submetida ao sistema de servidão colectiva. A unidade
económica da cidade-estado ou do império dependia do templo. As terras
pertenciam aos deuses, os seus representantes (políticos e religiosos).

Existia uma aristocracia de governantes, socerdotes e funcionários


públicos, através do estado, que controlava a construção de reservatórios
de água, diques, canais de irrigação, estradas e depósitos de alimentos,
além de impôr tributos sobre quase tudo o que era produzido.

Também contavam com a mão-de-obra escrava, constituída dos vencidos


nas guerras.

No final do período neolítico, os povos sumerianos, vindos do planalto do


Irão, fixaram-se na Caldeia (média e baixa mesopotâmia) e fundaram
diversas cidades autónomas, verdadeiros estados independentes, como
Ur, Uruk, Nipur e Lagash.

Os governantes mesopotâmicos, salvo raras excepções só depois de


mortos, não eram tidos como deuses mas sim seus intermediários e
representantes.

Dos invasores que destruíram o império acadiano, destacam-se os


amoritas vindos do deserto da Arábia que fundaram a cidade da
Babilónia. E o rei hamurabi, rei da babilónia realizou uma completa
unificação da mesopotâmia, ao ter dominado toda a região desde a
Assíria ao norte até a Acádia no sul, fundando o primeiro império
babilónico. Transformando-se rapidamente a capital babilónica num dos
principais centros urbanos da antiguidade, convertendo-se no eixo
cultural e económico da região do crescente fértil.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 117

Exercícios
1- um dos méritos dos povos da mesopotâmia foi o
desenvolvimento da escrita.
a) diferencie a escrita mesopotâmica e egípcia

2- O que significa a palavra mesopotâmia?

3- Indica as grandes descobertas dos mesopotâmicos no campo das


artes e ciências.

4- Indica as funções económicas e religiosas dum ziguarte.

5- Assurbanipal para além de ser guerreiro era entusiasta a ciência.


Qual é a razão desta afirmação?

6- O mito religioso sobre as diversidades das línguas está ligado a


hamurabi. Justifique a afirmação.

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar o exercício: 1, 3,5 e 6.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 118

Unidade XV
Outras Expressões Culturais Pré-
Clássicas no Médio e no Próximo
Oriente

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam interpretar a
brilhante vida marítima dos fenícios povos que dominou o mediterrâneo.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar a região da fenícia e a Pérsia;

Objectivos  Identificar as actividades desenvolvidas pelos fenícios;

 Mencionar as causas que levaram a sua prosperidade.

15.1. A fenícia
Os fenícios acreditavam em várias divindades identificadas com forças da
natureza, especialmente as que servião de orientação aos navegadores e
as que garantiam a fecundidade da terra.

Em cada cidade-estado cultivava-se uma divindade principal além de


outras comuns a todos fenícios, e também divindades estrangeiras. A
principal em cada cidade era geralmente chamada de Baal, representando
o sol, e a deusa estartéia, a (fecundidade), muitas vezes representada pela
lua.

Outras deusas a exemplo de Dagon, o deus do trigo, revelavam as


primitivas origens agrárias da Fenícia. Em seus cultos religiosos não
raramente realizavam sacrifícios humanos. O templos fenícios como era
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 119

comum durante a antiguidade oriental controlavam vastas propriedades e


domínios e os sacerdotes formavam uma elite associada á cúpula
governamental da cidade.

A agricultura e especialmente o progresso da navegação, permitiu o


desenvolvimento da astrnomia e da matemática, ligadas ao cálculo do
movimento dos astros. A matemática serviu as actividades comerciais,
base do desenvolvimento económico fenício.

Contudo, foi a elaboração de um sistema de escrita símples e prático,


fundamentado num alfabeto de vinte e duas letras que constituiu o seu
maior legado para as civilizações posteriores. Adoptado e apropriado por
gregos e romanos, este alfabeto é a matriz da nossa escrita actual. As
artes apresentaram grandes desenvolvimento. A escultura tinha uma
funçãodecorativa sobressaindo-se os baixos revelos.

A arquitetura destacou-se com a construção de palácios reais, como os de


Susa e Persépolis, contando com forte influência dos povos dominados, a
exemplo dos egípcios e mesopotâmicos. Na época de Dário ficaram
famosos os parisidaeses, (jardins murados e protegidos dos fortes ventos
e da areia do deserto, que frente a beleza e contraste com as restante da
paisagem, serviu de matriz para o significado da palavra paraíso.).

Os fenícios devido a sua localização e devido a pobreza do seu solo,


desenvolveram uma cultura ligada ao mar, tendo se destcado como os
melhores navegadores da idade pré-clássica.

15.2. A Pérsia
Com um território mais vasto que as anteriores civilizações, supõe-se que
os persas por se terem surgido mais tarde na arena civilizacional, não
puderam elaborar algo de vulto com sua originalidade senão na religião
terem inventado os seus próprios deuses: o deus do bem (Ahura-Mazda)
e deus do mal (Arimã).
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 120

Os persas viam o rei o representante do bem a quem adoravam para evitar


o triunfo das trevas. Os cultos religiosos não requeriam templos.
Esperavam pela vinda de um messias que um dia salvariaos homens
justos. Os persas desenvolveram várias setas religiosas que tiveram
influentes quer no oriente quer no ocidente. É o caso do Matrismo que
supervalorizava o bem e a vida pós-morte e repugnava a mentira. Os
seguidores já comemoravam o nascimento do mitra antes donascimento
de cristo.

A outra ceita era o gnosticismo do gnose-conhecimento que buscava o


conhecimento total através da iluminação da graça divina e não pela
reflexão. Ainda outra foi o maniqueismo que sobrevalorizava a luz e o
bem contra as trevas.

As artes representavam grandes desenvolvimento como herança dos


fenícios e outras civilizações que precederam a civilização persa.

15.3. As manifestações culturais da China antiga


Na comunidade da China antiga, havia uma divisão sexual do trabalho.
Os tecidos de talo, cânhamo ou seda, eram a principal riqueza das
populações. A história da china antiga divide-se em períodos a que se dá
o nome de dinastias. As constantes lutas dinásticas, levaram ao
surgimento de grandes latifundiários os quais passaram a organizar a sua
própria defesa por amuralhados e a criação de milícias privadas e
armadas. As lutas constantes entre as dinastias por hegemonia política
levou mais tarde a unificação e posterior criação do império chinês.

Já na dinastia Hang, o império chinês era um estado bem hierarquizado


existindo a classe dominante composta por imperador, nobres,
latifundiários, e grandes comerciantes. E a classe dominada composta por
camponeses, artesãos e escravos.

Quanto as obras públicas, escultura, arquitetura e escultura, são


conhecidos como os construtores da muralha mais comprida do mundo,
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 121

construtores de magníficos palácios, esculpiram estátuas diversas em


obras de ferro, marfim, pedras preciosas etc. Na escrita usaram
hieroglífico como no Egípto, descobriram o papel através de usos de
trapos, cortiça e bambu. Nas ciências, as obras de pensadores chineses
constituem-se em doutrinas idealistas.

15.4. Manifestações culturais da civilização indiana


Os indianos foram grandes escultores de vales de irrigação se
notabilizaram na agricultura e pastorícia, construtores de grandes celeiros
e se notabilizaram também na tecelagem, foram grandes comerciantes,
particularmente o comércio á distância com a Mesopotâmia e
Afeganistão.

Sumário
Os fenícios acreditavam em várias divindades identificadas com forças da
natureza, especialmente as que servião de orientação aos navegadores e
as que garantiam a fecundidade da terra.

Os persas viam o rei o representante do bem a quem adoravam para evitar


o triunfo das trevas. Os cultos religiosos não requeriam templos.
Esperavam pela vinda de um messias que um dia salvariaos homens
justos.

Na comunidade da China antiga, havia uma divisão sexual do trabalho.


Os tecidos de talo, cânhamo ou seda, eram a principal riqueza das
populações.

Exercícios
1- Descreva as condições naturais da região onde surgiu a Fenícia.

2- Porque razão a Fenícia se tornou numa civilização próspera?

3- Identifica a principal razão que levou a Pérsia a não ter grandes


invensões.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 122

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar o exercício: 2 e 3.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 123

Unidade XVI
A formação de sociedades
escravocratas no mediterrâneo:
As civilizações Grega e Romana

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam explicar o processo
que permitiu o desenvolvimento duma civilização tão brilhante numa
região tão montanhosa e de solo infértil. E que saibam descrever o
processo da fundação da cidade de Atenas e o tipo da sua organização
político-social.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Caracterizar a civilização grega;

Objectivos  Descrever o processo da ocupação da Grécia por vários povos


indo-europeus;

 Descrever o papel dos dórios no desenvolvimento da brilhante


civilização grega;

 Identificar o grande papel dos gregos no desenvolvimento das


ciências, artes e obras públicas;

 Reconhecer as influências do talento dos gregos à todas as


civilizações posteriores.

 Identificar os povos que fundaram a cidade;

 Diferenciar as cidade de Atenas da cidade de Esparta;

 Caracterizar a sua estrutura político-social.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 124

16.1. A civilização grega


Provavelmente os primeiros povos da Grécia foram os pélagos ou
pelágicos. Ao que tudo indica, por volta de 2000 a.c., esses povos
organizados em comunidades colectivas ocupavam a zona litorânea e
mais alguns pontos isolados da Grécia continental. Foi aproximadamente
nessa época que teve início na Grécia, um grande período de invasões que
se prolongam até 1200 a.c.

Povos indo-europeus provenientes das planícies euro-asiáticas chegaram


em pequenos grupos subjugando lentamente os pelágicos. Os primeiros
invasores foram os aqueus (200-1700 a.c.). Foram os fundadores do
Micenas o berço da civilização creta-micénica.

Entre 1700-1400 a.c., outros povos (eólios) atingiram a Grécia ocupando


Tessália e outras regiões. Oterceiro grupo foi o dos jónicos que se
fixaram na Ática onde viriam a fundar a cidade de Atenas. A partir de
1400 a.c., com a decadência da civilização cretense Micenas viveu grande
desenvolvimento até 1200 a.c., quando se iniciaram as invasões dos
dórios.

Os últimos invasores indo-europeus à Grécia foram os dórios povo


essencialmente guerreiro. Ao que parece, foram eles os responsáveis da
destruição da civilização micénica e pelo consequente deslocamento de
grupos humanos para o continente e para as diversas ilhas do Egeu e
costa da Ásia menor. (Esse processo de dispersão foi conhecido por
primeira diáspora).

Após o esplendor da civilização micénica seguiu-se o processo de


regressão a uma fase primitiva e rural. As cidades foram saqueadas, a
escrita desapareceu e a vida política e económica enfraqueceu.

Desse período (XII a VIII a.c.), nada se tem em registro excepto os


poemas de Homero.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 125

Por esta razão este período das invasões dos dórios é denominada de
(tempos homéricos); enquanto o período anterior a este, a 1200 a.c., é
denominado de (tempos pré-homérico).

O período homérico foi também conhecido por período das comunidades


gentílicas pois a divisão das comunidades em genos ou famílias
colectivas no período pré-homérico, nessa altura os genos já constituíam
a forma predominante de organização social. Por sua vez o geno
constituía uma unidade económica, política e religiosa e era liderada por
um patriarca (o pater).

A propriedade não tinha carácter individual (a terra, sementes, objectos,


alimenros) eram colectivos. O pater era a autoridade máxima (juíz, chefe
religioso e militar). A posição dos indivíduos na comunidade era defenida
pelo seu grau de parentesco com o pater. No final dos tempos helénicos
séc. VIII, devido ao crescimento populacional e ao aumento do consumo,
iniciou-se o processo de dissolução dos genos.

A falta de terras férteis levou a luta entre os genos. Para enfrentar o


inimigo comum, alguns genos se uniram formando uma fratia. Reunidas
as fratias constituíam uma tribo a qual se submetia à autoridade do
Fiobasileu, o supremo comandante do exército. A união de várias tribos
deu origem ao demos povo ou povoado que reconhecia como seu líder o
Basileu.

A crise da sociedade gentílica alterou prondamente a estrutura interna dos


gregos. A terra deixou de constituir propriedade colectiva sendo dividida
de forma desigual. As melhores terras foram tomadas pelos parentes mais
próximos do pater (os eupatridas ou bem nascidos). As restantes foram
divididas entre os georgois (agricultores), e nada restou para os thetas
(marginais).

Essas transformações levaram a várias tensões e conflitos que resultaram


numa nova dispersão a segunda diáspora. Foi assim que os menos
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 126

beneficiados na sua dispersão foram fundar várias colónias ao longo da


costa mediterrânea e, por questões de segurança várias trbos se uniram
formando comunidades independentes que deram a polis ou cidade-
estados.

A contínua transformação da sociedade levou a passagem de economia


doméstica para a economia de mercado local e mais tarde virada para o
exterior. A partir daí a riqueza determinava a posição dos indivíduos na
sociedade. No âmbito político a monarquia substituiu-se pela oligarquia
(governo de poucos).

A Grécia possuiu mais de cem cidades-estados; dessas iremos tratar de


duas as mais evoluídas: Esparta e Atenas _ a cidade de Esparta _
localizada na península do Peloponeso, na planície da licónia foi fundada
no século IX a.n.e., nas margens do rio Eurotas. Até mais ou menos séc.
VII parece ter seguido a evolução semelhante as demais cidades dórias.
Nesse período conquistou a região da messênia, solidificou o seu carácter
guerreiro vindo a desenvolver-se deforma peculiar e distinta das de mais
Polis gregas.

Estrutura social_ existiam três classes sociais principais: 1- Espartanos –


descendentes dos conquistadores dórios, eram os únicos detentores da
cidadania e com direitos políticos, religiosos e militares: 2- Periecos –
eram habitantes dos aredores da cidade provavelmente descendentes das
populações nativas que se submeteram pacificamente aos dórios (eram
livres). 3- Hilotas – servos pertencentes ao estado, prováveis
descendentes da população conquistada pelos dórios, eram mantidos em
obediência pelo terror.

A legislação espartana baseava-se num código de leis atribuídos a


licurgo. Essa legislação preservava a sociedade guerreira (espartanos),
totais direitos, e, politicamente Esparta organizava-se sob uma diraquia
(dois reis) que tinham funções religiosos e guerreiras. As funções
executivas eram exercidas pelo eforato composto por cinco eleitos
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 127

anualmente que administravam negócios públicos e fiscalizavam a vida


dos cidadãos.

Havia ainda gerúsia composta por vinte e oito membros de aristocracia


com idade superior a sessenta anos com funções legislativos e de corte
suprema que controlava a actividade das diarcas. Ao contrário doutras
polis gregas, Esparta manteve-se oligárquia. Não se admitia debilidade
física. As crianças depois dos sete anos eram entregues aos cuidados do
estado.

16.1.1. A cidade de Atenas


16.2.1. Historial
Localizada na Ática, foi ocupada inicialmente por aqueus e depoi por
eólicos e jónicos.

Fundada principalmente por jónicos, foi poupada a ocupação dória graças


a sua localização natural (cercada de montanha e mar). No final da época
homérica sofreu como Esparta profundas transformações. “ Na cidade de
Atenas foi instituída a democracia sob acção de Clistones, que moldou
um sistema político do qual participavam todos os cidadãos atenienses
(homens adultos, filhos de pai e mãe ateniense)”.

No entanto a democracia ateniense é considerada limitada pois estavam


exluídos os escravos, os estrangeiros e as mulheres. “(história univarsal
1991:104)”.

Atenas atingiu o seu auge de desenvolvimento económico, político


militar e cultural no período compreendindo entre 461 e 429 na altura do
governo de Péricles, tendo se tornado na cidade mais importante da
Grécia. Nã obstante, o desenvolvimento da democracia em Atenas
praticava-se o ostracismo, isto é, pena da cidade que se constitui no exílio
por um período de dez anos a todos os que pusessem em perigo a
democracia de Atenas.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 128

16.3. Períodos Históricos


Período clássico V a IV a.c.

Foi um período caracterizado pelos persas a enveredarem pela política


expancionista lutando contra os gregos (guerras púnicas, isto é, guerras
levadas a cabo com descendentes dos fenícios).

Período helenístico IV a II a.c.

É o período caracterizado pela expansão da pequena cidade grega da


macedónia por toda a Grécia e Ásia menor e Egípto, onde se funda a
alexandria pela acção de Alexandre Magno. (helenismo: expansão
cultural da antiga Grécia fruto da fusão da cultura grega com a orienta
pela acção e campanhas de Alexandre Magno).

O helenismo trouxe grande impulso às ciências. Na astronomia Ptolomeu


defendeu a tese do sistema geocêntrico, segundo a qual o sol girava a
volta da terra apesar de errada, esta tese já dava indícios de que a terra é
um corpo que habita no espaço.

Na matemática e na física destacaram-se Euclides que criou as bases da


geometria e Arquimedes que deu os princípios básicos da alavanca e da
roldana e formulou leis da flutuação dos corpos. Na geografia,
Erastóstenes calculou a medida da circunferência da terra. Na filosofia,
criaram-se novas doutrinas. O estocismo fundado por Zenão que
propunha que a felicidade estava na obtenção de um perfeito equilíbrio
interior, capaz de permitir ao homem aceitar com a mesma serenidade a
dor e o prazer, a aventura e o infortúnio e o epicurismo criado por
Epicuro, que sustentava que a felicidade do homem consistia apenas na
busca de obtenção do prazer, enquanto tranquilidade da alma.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 129

16.4. A cultura na Grecia


Cultura grega: Teatro – era basicamente dividida em tragédia e comédia e
era acessível a toda a população, sendo de grande importância para a
educação dos jovens. Destacaram-se como grandes teatrólogos o Esquilo;
e Eurípedes.

História: os gregos são considerados como os primeiros a tratarem da


história com espírito científico, separando as lendas dos factos, tendo se
destacado Heródoto de halicarnasso (o chamado pai da história); prosador
das guerras médias Xenofonte e Tucídides; o autor (de guerra do
Peloponeso).

Poesia – desataram-se os poemas de Homero, que permitiram a


reconstrução da história grega anterior VII a.n.e.,; Píndaro, que enalteceu
os jogos olímpicos; Hesíodo, que ecreveu o trabalho e os dias.

Filosofia – neste campo os gregos buscavam respostas às questões mais


diversas e os filósofos (phileo – amigo e sofia - saber) portanto, amigos
da sabedoria. Com espírito crítico, destruíram crenças, mitos e
construíram teorias e as suas linhas de pensamento que influenciaram
correntes filosóficas dos séculos seguintes. Destacaram-se os filósofos
como Tale de mileto, que considerava a água como origem de todas as
coisas; Anaxímenes e Anaximandro, Pitágora, Heráclito, que defendia o
devir; os sofistas, grupo que valorizava o argumento sendo um dos seus
protagonistas Protágora autor da fase – o homem é a medida de todas as
coisas; Sócrates, Platão, defensor da virtude pela justiça; Aristóteles pai
da lógica e autor da política...

Religião – os gregos eram politeístas e os seus deuses eram


antropomorfos (deuses que se asselhavam aos homens) pois, os gregos
possuíam franqueza, paixões e virtudes humanas. Deus grego Zeus era o
senhor de todos os deuses do mundo, Hera, esposa de Zeus era a
protectora da família; Hades era deus do mundo dos mortos; Atenas, filha
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 130

de Zeus, era a deusa da sabedoria; Apolo era deus da luz; Dionísio era
deus do vinho; Afrodite era deusa do amor e da beleza femenina; Pesídon
era deus dos mares e da guerra.

16.5. A decadência da Grécia


Nos fins do século V e, durante o século IV a.n.e., a história grega foi
caracterizada por conflitos armados entre cidades mais importantes,
especialmente Esparta e Atenas. Tais conflitos como (a guerra do
Peloponeso), arrastou para a crise económica a maior parte dos estados
gregos e, consequentemente, a divisão interna entre os gregos. Essa
divisão e debilidade económica, possibilitou a sua conquista por parte de
Roma.

Sumário
O período homérico foi também conhecido por período das comunidades
gentílicas pois a divisão das comunidades em genos ou famílias
colectivas no período pré-homérico, nessa altura os genos já constituíam
a forma predominante de organização social. Por sua vez o geno
constituía uma unidade económica, política e religiosa e era liderada por
um patriarca (o pater).

Fundada principalmente por jónicos, foi poupada a ocupação dória graças


a sua localização natural (cercada de montanha e mar). No final da época
homérica sofreu como Esparta profundas transformações. “ Na cidade de
Atenas foi instituída a democracia sob acção de Clistones, que moldou
um sistema político do qual participavam todos os cidadãos atenienses
(homens adultos, filhos de pai e mãe ateniense)”.

No entanto a democracia ateniense é considerada limitada pois estavam


exluídos os escravos, os estrangeiros e as mulheres.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 131

Exercícios
1. Os gregos foram umpovo cuja civilização é reconhecida com
admiração até aos nossos dias. Diga porque razão se diz que a história
tem as suas raízes na Grécia?

2. Mencione os grandes feitos dos gregos no campo das ciências e artes.

3. Indica duas diferenças existentes entre os tempos pré-homéricos e


homéricos.

4. Como outros povos da antiguidade, os gregos veneravam a vários


deuses. Identifique os principais deuses gregos e sua importância.

5.O que entende por período helénico?

6. Identifique alguns filósofos gregos que conheces e o seu mérito.

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar o exercício: 1 e 4.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 132

Unidade XVII
A Civilização Romana

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam descrever as razões
que levaram Roma a se tornar num grndioso império da antiguidade.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Caracterizar o império romano;

Objectivos  Identificar as razões e causas da expansão romana;

 Identificar o mérito romano no desenvolvimento político-social e


económico.

17.1. Fundação de Roma


roma fica situado no mediterrâneo oriental. Três mares banha as costas
desta península: a oriente o mar Adriático; a sul o mar Jónico e a ocinte, o
mar Tirreno. Ao norte a península separa-se do resto da Europa pelos
montes Alpes.

Fundação de Roma

A lenda que os romanos orgulhosamente contavam sobre a sua cidade


refere que seu fundador foi Rómulo, filho de Deus Marte, em 753 a.n.e,
após ter escapado m

miraculosamente com seu irmão gémeo Romeo por terem sido


amamentados por uma loba.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 133

“Roma foi fundada no lácio junto do rio tibre por volta do ano 1000 a.
n.e., contudo a

lenda contada na obra Eneida do poeta Virgílio refere que Eneas; príncipe
troiano filho de Vénus fugindo da sua cidade destruida pelos gregos
chegou ao Lácio e se casou com uma filha de um rei latino. Os seu
descendentes Rómulo e Remo, foram lançados ao tibre por ordem de
Amúlo, rei de Alba longa; mas foram salvos por uma loba que os
amamentou,tendo em seguida encontrados por camponeses.

Quando adulto os dois irmãos voltaram a Alba longa, depuseram Amúlio


e fundaramRoma em 753 a.n. e. Após desenvolvimentos. Rómulo matou
o irmão e se transformou no primeiro rei de Roma”. (VICENTINO,1991,
in história universal: 109). Segundo Fernando e Reis, a data tradicional da
fundação de Roma 753 não é data real.

17.2. Períodos da civilização romana


1- O período monárquico - da fundação até 509 a.n,e. – durante o
período monárquico

o rei acumulavam as funções executivos, jurídicas e religiosas embora os


poderes fossem limitados nas funçãos legislativas, reservadas ao senado
(conjunto de chefes das gemas ou ao conselho de anciãos), que tinham
odireito de veto e de sanções das leis apresentadas pelo rei.

2- O período da república - De 509 a 27 a. n. e.-Em 509 foi derrubado


o rei Traquino que governava de forma despótico. Deu-se assim o fim da
realeza romana, e entra o poder do senado que se sobrepunha aos demais.
O senado transformou-se no orgão máximo da república controlando toda
a administração, finanças e decidindo sobre a guerra ou a paz.

A grande maioria da sociedade romana era constituida pelos plebeus .


Devido as exigéncias e revoltas da plebe, em 450 elaborou-se a lei das 12
tábuas. Ainda no periódo da república assistiu-se aos triunviratos
(governo de 3 reis). No período da transição para o império ( do século
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 134

XII ao século I a. n. e), graças ao exércitos hábil e discplinado, Roma


lançou-se a conquista do Mediterrâneo ocidental:

Conquistou oCartago e a Cicília em três longas guerras ( as guerras


púnicas). Anexou a norte e estendeu a sua dominação à Espanha. A Grã-
Bretanha e a gália.

3 - O período imperial - de 27 a. n. e a 476 n. e .

Com o império, reorganizou-se a estrutura política romana, encontrando


se toda a autoridade nas mãos do imperador. Este período divide se em
alto império e baixo império.

Alto império - do século I a. n. e , a século III n. e. –durante este período


Roma lança o seu apogeu devido ao seu modo produção assente no
esclavagismo e nas conquistas territorias, alcançando riquezas e poder
como a nenhuma outra civilização.

4 - Baixo império – do séc. III n.e. ao séc. V n.e., foi marcado pela
decadência do império, pelas grandes crises e pela anarquia devido
principalmente pela interrupção das conquistas o que arruinou a
economia imperial baseada no trabalho esclavagista.

Durante este período, o império constantino através do edil de Milão,


concedeu liberdades de culto aos cristãos já importantes em número e
influência e fundou uma segunda capital do império situado no oriente
(Constantinopla antes bizânica).

O primeiro imparador foi Otávio César Augusto (27 a.n.e, a 14 n.e.).


Durante o seu governo, nasceu Jesus Cristo, em Belém de Judá, o
fundador de uma nova religião o cristianismo.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 135

17.3. Acultura Romana


Cultura romana – o código de leis foi o mais importante legado romano
às civilizações posteriores. Este código dividia-se em: Jús naturales
(direito natural) – compêndio de filosofia jurídica; Jus gentium (direito
das genes) – compilação das leis abrangentes, isto é, que não levam em
conta as nacionalidades; jus civile (direito civil) – conjunto de leis
aplicáveis aos cidadãos de Roma.

Literatura – na literatura destacam-se Cícero, o maior orador romano;


Virgílio, o autor de Eneida; Tito Lívio, autor de arte de amor.

Religião – essencialmente politeísta, era uma adaptação dos mitos e


crenças gregas: Júpiter, o principal deus dos romanos, correspondia a
Zeus dos gregos; Juno, deus protectora da família, correspondia a Hera;
Baco, deus do vinho, correspondia a Dionísio; Vénus, deusa da beleza
correspondia a Afrodite...

Resumindo causas e razões da expansão romana

Roma no tempos mais primitivosestava rodeada de povos aguerridos que


esperavam uma ocasião para a dominar, por issoteve de se antecipar,
submetendo os vizinhos.

Outras causas:o interesse económico de vários grupos sociais e ambição


dos chefes romanos (principalmente sobre a Sicília e suas terras férteis, a
rica Cartago com o seu ouro, marfim, estanho, e interesses de todos em
viver dos bens provenientes das terras conquistadas. A grande razão das
vitórias romanas foi a existência de um exército numeroso, bem organido
e disciplinado e que tinha por base a legião.

17.4. As guerras púnicas (264 – 146 a.n.e.)


São as três guerras travadas em Rom e Cartago pela hegemonia do
comércio no Mediterrâneo. Este conflito estendeu-se por mais de cem
anos de 246 a 146 a.n.e. O termo púnico ou punicus vem da palavra poeni
nome que os romanos davam aos cartagineses descendentes dos fenícios
(em latim phoníciu).

As guerras terminaram com a destruição de Cartago e a venda dos


sobreviventes como escravos. Esta guerra é caracterizada em três etapas:
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 136

1o de 246 a 241 a.n.e. – Nesta fase a Sicília, Sardenha e Córsega foram


anexados por Roma e restringida a influência cartaginesa ao norte de
África.

2o durou de 218 a 201 a.n.e. – Nesta fase Cartago tomou Sagutum, cidade
espanhola aliada de Roma e consequentemente cidades do norte da Itália
chegando até as portas de Roma mas por falta de reforços cercados e
derrotados tendo passado para a defensiva.

3o de 149 a 146 a.n.e., comandado por Cipião (o africano), terminou com


a destruição de Cartago.

17.5. Decadência de Roma


Foram diversos os factores determinantes para a decadência do império
romano:

O imperialismo romano e as guerras civis – geraram corrupções,


descontrolo político, queda de valores tradicionais;

A anarquia militar – as legiões entronavam e destronavam os imperadores


segundo interesses imediatos, o que contribuía para o acirramento de
crises;

A crise do esclavagismo – ocasionada pelo fim das guerras de conquistas


que fez escassear os prisioneiros escravizados que se tornou obstáculo da
produção;

A difusão do cristianismo – que se opunha a estrutura militar e


esclavagista sustentáculo do império romano;

A crise económica – advinda da crise esclavagista resultando na


diminuição de receitas para cobrir os gastos com a manutenção da
burocracia e do exército;

O retorno a uma economia rural de subsistência – o que provocou


isolamento da população rural em vilas autónomas auto-suficientes e
autónomas para enfrentar a crise;

As invasões bárbaras – que vieram minar as forças imperiais já


agonizantes, tomando pouco a pouco os seus territórios, pondo fim ao
império romano em 476 d.c.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 137

Sumário
A civilização Romana contem 4 períodos destintos, respectivamente:

1- O período monárquico - da fundação até 509 a.n,e.

2- O período da república - De 509 a 27 a. n. E.

3 - O período imperial - de 27 a. n. e a 476 n. e .

4 - Baixo império – do séc. III n.e. ao séc. V n.e.,

Exercícios
1- Roma foi fundada por Rómulo irmão de Remo em 753. Roma foi
fundada a mais ou menos 100 anos a.n.e.- Justifique as duas
afirmações.

2- O que entende por legião?

3- Jesus Cristo nasceu no império romano e contribuiu deveras na


decadência desteimpério. Explique como? E em que reinado ele
nasceu?

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar o exercício: 1 e 3.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 138

Unidade XVIII
A Idade Média e a formação do
Sistema Servil na Europa – caso
da França

Introdução
Nesta unidade pretende-se que os estudantes saibam identificar e explicar
o período do início da centralização política na França. A Idade Média e a
formação do Sistema Servil na Europa – caso da França: A formação do
sistema servil na França e a estrutura social.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar o período da centralização política da França;

 Destacar as dinastias que reinaram nesta época e as suas


respectivas políticas;

Objectivos  Explicar de forma convincente as contradições havidas nas


épocas entre a nobreza com a burguesia e a religião.

18.1. O Absolutismo Francês


O início de centralização na França remota ao período dos capetíngeos,
na baixa idade média, tendo se acelerado depoi da guerra dos cem anos
(1337 - 1453), com a dinastia seguinte a dos Valois. O apogeu do
absolutismo, entretanto, só se configuraria com a dinastia dos Borbons.

Na época dos Valois, o cenário político francês foi dominado pelas


guerras de religião destacadamente durante o século XVI, dificultando a
completa centralização política.

Burgueses, nobres e populares, uns sob a bandeira e outros sob a católica,


disputava espaços na sociedade e na política, envolvendo os próprios
soberanos Valois
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 139

Além das questões religisas, católicas e protestantes discordavam quanto


a limitar ou apoiar as prerrogativas do rei e quanto a manter ou conquistar
libardades. Durante o governo de Carlos IX (1560 - 1574), acirrou-se a
luta entre católicos uguenotes e protestantes calvanistas.

A facção católica liderada pela família Guise, que tinha o apoio de


Catarina de Medicis mãe do rei, e a buguenote dirigida pelos bourbon,
colocaram em confronto a nobreza católica defensora dos antigos
privilégios feudais e a burguesia mercantil calvanista.

O ponto máximo dessa luta foi a noite de São Bartolomeu; (24 de agosto
de 1572), em que foram massacrados milhares de protestantes. Dentre os
seus líderes hugunotes mortos nesse massacre estava o almirante Coligny,
que foi decapitado e seu corpo arrastado pelas ruas de París.

Dois anos depois da morte de Carlos IX, subiu ao trono seu


irmãoHenrique III, que governou até 1589. Durante o seu governo, o
católico Henrique Guise disputou a hegemonia política com o próprio
Henrique III, que era apoiado pelo protestante de Navarra Bourbon.

Essas disputas conhecidas como guerra dos três Henrique terminaram


com o assassinato de Henrique Guise e vitória do protestante Henrique de
Navarra, definido como herdeiro e sucessor de Henrique III. Começava a
dinastia bourbon, durante a qual o absolutismo francêss alcançaria o seu
auge.

18.2. A Dinastia Bourbon


Henrique de Navarra protestante teve de enfrentar a oposição dos
católicos para ser coroado rei da França. Os conflitos armados
estenderam por todo o país, e Henrique e seus adeptos conseguiram tomar
Pris. Contudo, os católicos obtiveram ajuda militar de Filipe II de
Espanha e Henrique teve de abandonar a capital sofrendo sucessivas
derrotas.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 140

Buscando compor-se com os católicos e conseguir transformar-se no rei


dos franceses, Henrique abandonou o protestanismo, proferindo a frase
“Paris bem vale a missa”. As portas de Paris foram abertas a Henrique e
ele subiu da ao trono da França em 1589, com o título de Henrique IV,
reinando até 1610.

Em 1598, para encerrar a quase secular divergência religiosa na França,


promulgou o edito de Nantes que concedialiberdades de culto aos
protestantes. Com a pacificação do paísfoi possível a consolidação do
absolutismo na França.

Após a morte de Henrique IV, assume o trono francês aos nove anos de
idade Luís XIII (1610 - 1643), ficando a regência com sua mãe Maria de
Médicis. Em 1612, foi convocado estados gerais, o que indicaria que os
bourbon, absolutistas por excelência dispensavam as influências dos
deputados dos estados gerais.

Durante o reinado de Luís XIII, destacou-se a actuaçõ do ministro de


estado cardeal Richelieu (1624 - 1642). Buscando enfraquecer a
influência política da nobreza cassou direitos dos que se opunham ao rei,
chegando mesmo a atacar seus castelos.

De outro lado, possibilitou o acesso da burguesia a cargos da


administração pública e, apesar de garantir liberdade religiosa, perseguiu
protestantes, limitando seu poderio. No plano internacional a acção de
Richelieu também foi marcante tornando a França uma das grandes
potências da época. Visando a hegemonia política na Europa, Richelieu
levou a França a intervir na guerra dos trinta anos (1618 - 1648).

Defrontaram-se católicos habsburgos (Áustria-Espanha) e protestantes da


Boémia, Dinamarca, Suécia, Holanda e principados alemães. A França
interveio na guerra lutando contra os católicos a fim de enfraquecer os
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 141

habsbugos. A guerra terminou em 1648, já no reinado de Luís XIV, com


a vitória da França.

Com a vitória, a França recebia Alsácia e lorena, além dos bispados de


Metz, Toul e Verdum. O absolutismo francês se deu no reinado de Luís
XIV (1643 - 1715) “o rei sol”, tendo o ministro cardeal Mazarino.
Aplicando uma eficiente política centralizadora, Mazarino eliminou
frondas (associações de nobres e burgueses opositores do absolutismo) e
especialmente revoltados com os crentes tributos para recuperar o tesouro
público francês após a guerra dos trinta anos.

A vitória de Mazarino representou o fim da última ameaça à consolidação


do absolutismo. E a partir de 1660, quando Luís XIV assumiu
pessoalmente o comando político passou a aplicar a sua máxima “L etat
cest moi”. Com morte de Mazarino em 1664 Luís XIV entregou o
ministério das finanças a Jean Baptise Clbert que desenvolver a
basemercantilista do absolutismofrancês que fez prosperar a burguesia e
dotou o govrno de recursos que garantiam seu poderio.

Promoveu-se o desenvolvimento das manufactras e navegação


conquistando territóris na Ásia e América, criando-se companhias de
comércio incentivadas pela coroa, espalhando a grandiosidade económica
e política do estado. Luís XIV transferiu sua corte para Versalhes; um
grande conjunto arquitectónico constrído entre 1661 e 1674 atraiu as
atenções de toda Europa.

Esse período foi de maior efervescência cultural na frança destacando-se


importantes pensadores e artistas como Descartes, Pascal, La fontaine,
Racine e moliere. Na políltica externa, buscando garantir sua hegermonia
territorial, Luis XIV envolveu-se em conflitos militares que abalaram as
finanças do estado.
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 142

Para solucionar suas dificuldades financeiras, mantinha a politica de


aumento da impostos, descontentando a burguesia e atraindo críticas e
oposiçõa.

Em 1685, fiel ao seu caracter despótico e fundamentalmentem no


princípio (um rei uma lei, uma fé). Luis XIV reformulou a política
religiosa nacional, revogando o edito de Nantes.

A perseguição religiosa desencadeada levou milhares de huguentos em


geral burgueses a emigrar, arruinando a economia mercantil e abrindo
espaço `as primeiras criticas ao regime absolutista. A supramacia
françesa na europa começava a se fragmentar dando lugar a hegermonia
inglesa.

Esse processo acerelou-se durante os governos de Luis XV (1717-1774) e


de Luis XVI (1774-1792), nos quais a asfixia financeira do estado e da
nação agravou-se devido aos gastos excessivos da corte, aos ilimitados
impostos sobre a burguesia e a população e aos fracassos militares. A
guerra dos sete anos (1756-1763) e a guerra de independência dos
Estados unidos da América (1776-1781) ajudaram a acerelar a
decandência do estado absulutista francês.

18.3. O Teocratismo Francês.


A igreja cristã tornou-se a maior instituição feudal do ocidente europeu.
A sua incalculavel riqueza, a sólida organização hieráquica e a herança
cultural greco-romanoa permitiram-lhe exercer a hegermonia ideológica e
cultural da época, caracterizada pelo teocentrimo.

Actuando em todos os níves da vida social, a igreja estabeleceu normas,


orientou comportamentos e, sobretudo imprimiu nos ideais do homem
medieval os valores teológicos, isto é, a cultura religiosa. Envolto pelo
idealismo religioso, o clero transmitiua a população uma visão do mundo
que lhe era conveniente e adequado ao período: um mundo divididoem
estamentos necessariamente desiguais. “ Deus quis que entre os homens
uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira que os senhores
HO166 - HISTÓRIA DAS SOCIEDADES I Cultura, Da origem das sociedades pré-clássicas até ao século XV 143

estejamobrigados a venerar e amar a Deus, e que os servos estejam


obrigados a amar e venerar seu senhor ...”(ANGER; St. Loud de . In
Freitas Gustavo de. 900 textos e documentos de história. Lisboa plântano
1975).

Coube assim ao clero, forjar a mentalidade da época, reforçando


predomínio dos senhores feudais (clero obreza), justificando os
privílegios estabelecidos e oferecendo ao povo em troca a promessa do
paraíso celestial. Embora tenhamos visto que os aspestos economicos e
socias articularam-se aos aspectos culturais e ideológicos, é preciso
considerar que o modo de produção feudal não existiu de maneira
estanque e homogénea em todas as regiões da europa, tendo sido na
realidade, um processo contínuoda ascensão à decandência.

Sumário
O início de centralização na França remota ao período dos capetíngeos,
na baixa idade média, tendo se acelerado depoi da guerra dos cem anos
(1337 - 1453), com a dinastia seguinte a dos Valois. O apogeu do
absolutismo, entretanto, só se configuraria com a dinastia dos Borbons.

Na época dos Valois, o cenário político francês foi dominado pelas


guerras de religião destacadamente durante o século XVI, dificultando a
completa centralização política.

A igreja cristã tornou-se a maior instituição feudal do ocidente europeu.


A sua incalculavel riqueza, a sólida organização hieráquica e a herança
cultural greco-romanoa permitiram-lhe exercer a hegermonia ideológica e
cultural da época, caracterizada pelo teocentrimo.

Exercícios
1- Explica por tuas palavras como surgiu o feudalismo na Europa?

2- Na época dos volois o cenário político foi dificultado por guerras.


indica as causas dessas guerras.
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3- Justifique por tuas palavras o surgimento da noite de são


Bartolomeu.

4- Na dinastia dos Bourbon, Henrique IV enfrentou dificuldades


para ser eleito rei de frança. Explique as causas e o processo que
o levou a chegar ao poder.

5- Explique as razões segundo as quais se afirma que a religião


cristã se tornou na maior instituição feudal da Europa ocidental?

6- O absolutismo francês consolidou-se no reinado de Luis XIV.


Cite a expressão desse monarca que demostra a sua máxima.

Fazer actividades constantes na auto-avaliação

Auto-avaliação Entregar o exercício: 1, 2, 3, 4 e 6.

Em quatro páginas faça um breve resumo da unidade em estudo.


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