Este documento apresenta uma série de questões sobre sistemas endócrino e renal, com respostas detalhadas sobre diagnósticos e tratamentos de doenças como caxumba, doença de Crohn, doença hepática gordurosa não alcoólica.
Descrição original:
Título original
Ciências Morfofuncionais do Sistema Endócrino e Renal
Este documento apresenta uma série de questões sobre sistemas endócrino e renal, com respostas detalhadas sobre diagnósticos e tratamentos de doenças como caxumba, doença de Crohn, doença hepática gordurosa não alcoólica.
Este documento apresenta uma série de questões sobre sistemas endócrino e renal, com respostas detalhadas sobre diagnósticos e tratamentos de doenças como caxumba, doença de Crohn, doença hepática gordurosa não alcoólica.
1- Rita tem 14 anos, é estudante do 3º ano do ensino médio e
há dois dias vem sentindo um mal-estar, anorexia e dores de cabeça. Hoje pela manhã, ela acordou com febre (39° C), com muita dor ao engolir os alimentos e percebeu que atrás da orelha e abaixo da mandíbula está bem inchando e sensível. Sua mãe, preocupada, achou melhor ela não ir para a escola e levou-a até a UBS mais próxima para uma consulta. Com base nos sintomas, qual é o diagnóstico da Rita? O que pode estar acontecendo com ela, que faz com que tenha dificuldades de engolir os alimentos? R: De acordo com os sintomas e a condição clínica de Rita, ela está com caxumba. A caxumba é uma doença infecciosa, causada pelo vírus da família Paramixovírus, que resulta na inflamação das glândulas parótidas, ocasionando um aumento delas, assim como febre moderada, mal-estar e dor na garganta, principalmente, ao engolir alimentos. Devido à inflamação das glândulas, ocorre um inchaço em um ou ambos os lados da face, atrás das orelhas e abaixo da mandíbula. É uma doença altamente contagiosa, que é transmitida através das gotículas pelas vias aéreas, ou por contato direto com a saliva da pessoa doente. Hoje em dia, temos vacinas disponíveis para a prevenção da caxumba e que fazem parte da imunização básica da população como, a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela).
2- Os últimos meses têm sido muito cansativos e estressantes
para Carla. Ela mudou de cidade, começou um novo emprego e está se adaptando à nova faculdade. Há uns 60 dias, vem apresentando diarreia, em média, quatro vezes ao dia, muita cólica intestinal e observou que perdeu peso nos últimos dias. Como sua vida estava passando por várias mudanças ao mesmo tempo e não estava se alimento corretamente, ela achou que esses sintomas eram devidos ao estresse e aos maus hábitos alimentares. Tomava escopolamina quando tinha cólicas e começou a se alimentar melhor, aumentando a ingestão de frutas, legumes e cereais integrais e diminuindo o consumo de fast-food. No entanto, chegou um momento que Carla começou a sentir fraqueza, e a perda de peso persistia, mesmo ela tendo melhorado sua alimentação, então resolveu procurar um médico. Depois de todos os exames clínicos, laboratoriais e de imagens, o diagnóstico foi que Carla tinha uma doença inflamatória intestinal, chamada de Doença de Crohn. A princípio, ela ficou assustada e começou a fazer algumas perguntas ao médico: o que eu posso ter comido que ocasionou essa doença? Que tipo de tratamento eu posso fazer para me curar? R: A Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa são doenças inflamatórias intestinais crônicas, autoimunes, ocasionadas por uma tríade que envolve causas genéticas, ambientais e imunológicas, cujo sistema imunológico gera uma resposta inflamatória no trato gastrointestinal. Doença de Crohn pode acometer todas as camadas da parede intestinal, começando pela mucosa, estendendo-se para outras camadas, como a submucosa, a muscular e, por fim, a serosa, podendo evoluir para perfuração do órgão e maiores complicações, além de acometer qualquer parte do trato gastrointestinal (da boca ao ânus), no entanto o íleo é o seguimento mais acometido pela inflamação. Como essa doença não tem cura por ser autoimune, o objetivo do tratamento das doenças inflamatórias intestinais é manter a doença em fase de remissão (sem sintomas) e evitar a fase de exacerbações (aparecimento dos sintomas), ou seja, é manter a doença sob controle sem os sintomas, como diarreia intensa, cólicas, etc.
3- Suponha que você tenha sido convidado para apresentar um
estudo clínico aos seus colegas de trabalho, todos da área de saúde. O caso clínico é: R. L. M., gênero feminino, 52 anos, obesa, hipertensa, diabética tipo 2 e com um quadro de dislipidemia. Nos últimos dois meses, sente fraqueza e falta de apetite. Devido a esses sintomas, ela procura a UBS para uma consulta com o clínico geral, o qual solicita vários exames laboratoriais. Após o resultado, verificaram-se alterações nos marcadores hepáticos associados aos sintomas clínicos, então Regina foi encaminhada ao hepatologista para exames mais detalhados e, a partir daí, foi constatado que ela está com doença hepática gordurosa não alcoólica. Diante desse diagnóstico, como você explicaria o que é doença hepática gordurosa não alcoólica? Quais são as causas e os fatores de risco para esta doença que você deverá considerar na sua explicação? R: A doença hepática gordurosa não alcoólica é uma das formas mais comuns de doença hepática, caracterizada por um acúmulo de lipídeos nos hepatócitos (esteatose hepática). A patogênese dessa doença ainda não foi totalmente elucidada, mas a teoria mais apoiada implica a resistência à insulina como o mecanismo principal que leva à esteatose hepática. A resistência à insulina é uma condição inicial para o acúmulo de ácidos graxos no hepatócito, uma vez que favorece a lipogênese e inibe a lipólise até mesmo no fígado, aumentando excessivamente o aporte de ácidos graxos a esse órgão. A doença hepática gordurosa não alcoólica está fortemente associada a fatores de risco metabólicos, como obesidade, dislipidemia, resistência à insulina e diabetes tipo 2, e a incidência dessa doença acompanha as taxas crescentes de obesidade no mundo todo.
4- Marcelo foi ao médico endocrinologista, pois apresentou
Hiperdislipidemia e Diabete Mellitus. Além disso, nos últimos tempos, ele ganhou peso, apresentando diagnóstico de sobrepeso. Com uma alimentação desregrada e com sobrecarga no trabalho, sedentarismo e quadro de ansiedade, apresenta tendência ao aparecimento de quadro de obesidade. A ansiedade na fase em que o paciente se encontra causa aumento da sensação de fome, sendo necessário um acompanhamento psicológico e nutricional, com o intuito de melhorar a alimentação e estimular a prática de exercícios físicos. R: Neste caso, são várias frentes de trabalho, o qual deve ser multidisciplinar, com a atuação de um nutricionista, cuidando da alimentação, que deve ter foco na redução das dislipidemias e no controle da glicemia; de um psicólogo, para identificar as causas das crises de ansiedade que Marcelo está sofrendo; de um educador físico, para melhorar a capacidade física e evitar lesões por conta do sobrepeso em que se encontra. Para o controle da glicemia, será prescrito insulina regular de uso diário.
5- Você comprou um aparelho medidor de glicose na Black
Friday e ele demorou um pouco para chegar, por conta da greve que estava acontecendo na empresa de entregas, o que te deixou muito ansioso. A chegada do aparelho coincidiu com o conteúdo que você estava estudando na graduação a respeito do Diabetes Mellitus, então já se planejou para fazer o exame no outro dia ao acordar. No dia seguinte, depois de oito horas de jejum, o resultado da glicemia foi de 100 mg/dL. Durante a semana, os resultados foram: 89 mg/dL; 110 mg/dL; 100 mg/dL; 99 mg/dL. E agora, qual sua conduta diante desse cenário? R: Analisando os resultados da glicemia de jejum e os valores do quadro, é possível identificar que os seus resultados estão entre a faixa de normalidade e pré-diabetes, uma situação preocupante. No entanto, será preciso investigar melhor seu estado de saúde geral para estabelecer o diagnóstico e verificar qual a conduta que será estabelecida, mas é claro que isso será realizado com o acompanhamento de um médico.
6- Suponha que você tenha sido convidado para apresentar um
estudo clínico aos seus colegas de trabalho, todos da área de saúde. O caso clínico é: R. L. M., gênero feminino, 52 anos, obesa, hipertensa, diabética tipo 2 e com um quadro de dislipidemia. Nos últimos dois meses, sente fraqueza e falta de apetite. Devido a esses sintomas, ela procura a UBS para uma consulta com o clínico geral, o qual solicita vários exames laboratoriais. Após o resultado, verificaram-se alterações nos marcadores hepáticos associados aos sintomas clínicos, então Regina foi encaminhada ao hepatologista para exames mais detalhados e, a partir daí, foi constatado que ela está com doença hepática gordurosa não alcoólica. Diante desse diagnóstico, como você explicaria o que é doença hepática gordurosa não alcoólica? Quais são as causas e os fatores de risco para esta doença que você deverá considerar na sua explicação? R: A doença hepática gordurosa não alcoólica é uma das formas mais comuns de doença hepática, caracterizada por um acúmulo de lipídeos nos hepatócitos (esteatose hepática). A patogênese dessa doença ainda não foi totalmente elucidada, mas a teoria mais apoiada implica a resistência à insulina como o mecanismo principal que leva à esteatose hepática. A resistência à insulina é uma condição inicial para o acúmulo de ácidos graxos no hepatócito, uma vez que favorece a lipogênese e inibe a lipólise até mesmo no fígado, aumentando excessivamente o aporte de ácidos graxos a esse órgão. A doença hepática gordurosa não alcoólica está fortemente associada a fatores de risco metabólicos, como obesidade, dislipidemia, resistência à insulina e diabetes tipo 2, e a incidência dessa doença acompanha as taxas crescentes de obesidade no mundo todo.
7- Nesta semana, como parte das atividades práticas de um
curso da área da saúde, um grupo de alunos acompanhará a rotina do Banco de Leite Humano de sua universidade. Assim, durante esse período, ele poderá participar de atividades, como atendimento às mães, execução das coletas do leite materno, além do processamento, da estocagem e do controle de qualidade do leite humano ordenhado. No primeiro dia de atividades no Banco de Leite, uma das alunas do grupo acompanhou o caso de Maria, que teve o seu bebê há duas semanas e não estava conseguindo produzir leite suficiente para garantir a amamentação do recém-nascido. Como ela apresentava fissuras nos mamilos, que doíam muito, resolveu procurar seu médico, que a orientou a procurar o Banco de Leite, para que pudesse ser instruída e acompanhada na realização correta da amamentação. Ao ser atendida, Maria foi instruída sobre a importância da amamentação e como deveria ser realizada a pega adequada da mama pelo bebê. A enfermeira que a acompanhava comentou que sua produção insuficiente de leite, provavelmente, estaria relacionada com a realização de uma pega inadequada da mama pelo bebê e pela diminuição da frequência de mamada devido às dores nos mamilos lesionados no momento da amamentação. Assim, para que ela tivesse sucesso na amamentação, o bebê deveria ser colocado com maior frequência para mamar e da forma correta. Quando o acompanhamento de Maria terminou, a enfermeira perguntou à aluna se ela saberia explicar qual seria a relação da realização da sucção mamilar adequada e a produção do leite. Por que a frequência das mamadas auxiliaria no aumento da produção do leite? Suponha que você seja essa aluna. Como você responderia a esses questionamentos? R: A amamentação depende da produção do leite (lactogênese) pelas células dos alvéolos mamários e por sua ejeção, permitindo que o leite seja disponibilizado para o neonato. O hormônio responsável pela lactogênese é a prolactina, cuja secreção é estimulada pela sucção mamilar. Além de induzir a secreção de prolactina, garantindo a lactogênese, a sucção mamilar também apresenta efeito estimulatório sobre a secreção de ocitocina, hormônio responsável pela ejeção do leite. A sucção dos mamilos ativa mecanorreceptores locais, originando sinais sensoriais, que trafegam pelos nervos torácicos e entram no sistema nervoso central pela raiz dorsal da medula espinal. Desse local, os sinais ascendem pela coluna anterolateral até o tronco encefálico e, depois, para o hipotálamo, inibindo os neurônios dopaminérgicos do núcleo arqueado e, consequentemente, a diminuição da secreção de dopamina. Como a dopamina é o principal fator inibitório sobre a secreção de prolactina, a redução na liberação de dopamina acarreta aumento na secreção de prolactina, induzindo o aumento da produção do leite. No hipotálamo, os sinais sensoriais gerados pela sucção mamilar também estimulam os neurônios magnocelulares dos núcleos supraóptico e paraventricular a produzirem e secretarem a ocitocina, que atua promovendo a contração das células mioepiteliais, presentes ao redor dos alvéolos mamários, levando à ejeção do leite. Embora a sucção mamilar seja o principal estimulador para a liberação de ocitocina e consequente ejeção do leite, a liberação de ocitocina também pode ser influenciada por fatores emocionais maternos, como pensar no bebê (aumenta a liberação), ou por momentos de ansiedade ou estresse (diminui a liberação), diferente do que se observa para a secreção de prolactina, que necessita do estímulo mecânico da sucção. Assim, para garantir o sucesso da amamentação, são necessárias a sucção do complexo mamilo-areolar realizada de forma correta, por meio da pega adequada, e a manutenção da frequência das mamadas.
8- Nessa semana, um grupo de estudantes da área da saúde
acompanhará a rotina do ambulatório do hospital de sua universidade. Uma das atividades a ser realizada durante esse período será o acompanhamento de alguns casos clínicos de pacientes atendidos pelo local. No primeiro dia de atividades, os alunos acompanharam o caso da paciente M.G.L., 60 anos. Ela procurou o ambulatório queixando-se de perda involuntária de urina há cerca de um ano, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, gotejamento pós- miccional e incapacidade de interromper o jato de urina. A paciente comentou ter perda considerável de urina ao tossir, espirrar, gargalhar e agachar, necessitando do uso constante de absorvente feminino, o que acaba prejudicando sua vida social, uma vez que é bastante ativa. Relatou também a presença de infecções repetidas do trato urinário. Após exame clínico, constatou-se que a paciente apresentava boa saúde geral, sendo solicitados alguns exames complementares, nos quais se observou que ela não apresentava infecção no trato urinário. Diante dos achados, a paciente foi diagnosticada com incontinência urinária. Para incentivar as discussões a respeito do caso apresentado, o supervisor da equipe sugeriu que a incontinência urinária na paciente parecia ser uma consequência do envelhecimento do sistema urinário. Ele também levantou os seguintes questionamentos aos alunos de graduação: vocês saberiam explicar que alterações ocorrem no sistema urinário com o envelhecimento? Existem outras patologias, além da incontinência urinária, que podem surgir com o envelhecimento desse sistema? Você, no lugar desses alunos, como responderia a esses questionamentos? R: Você já viu vários conceitos importantes a respeito do sistema urinário e sabe que ele é responsável por diversas funções cruciais para o nosso organismo, como a manutenção do meio interno. Sabe também que alterações no funcionamento das estruturas que compõem esse sistema resultam em diferentes efeitos fisiológicos, que podem ser prejudiciais ao nosso corpo. E assim como os demais sistemas corporais, o sistema urinário também envelhece. Dentre as alterações observadas com o envelhecimento dele, temos a diminuição do número de néfrons, das unidades funcionais dos rins e do fluxo sanguíneo renal, acarretando uma diminuição no tamanho dos rins e da função renal. Ocorre o enfraquecimento da musculatura pélvica e, desse modo, os esfíncteres perdem o tono muscular, tornando-se menos efetivos para atuar na retenção voluntária da urina. A uretra atrofia, perdendo sua elasticidade. Ocorrem também alterações vesicais, como redução no tamanho e na capacidade da bexiga que, junto ao enfraquecimento da musculatura pélvica e da atrofia uretral, colaboram para o aparecimento da incontinência urinária, assim como para o aumento da frequência e urgência urinária. Com o envelhecimento do sistema urinário, as infecções tornam-se mais comuns, bem como a disúria, poliúria e hematúria. Nos homens, pode ocorrer retenção urinária como consequência de hiperplasia prostática benigna, bastante comum em homens a partir dos 50 anos de idade. Nesse caso, o edema e a deformação dos tecidos da próstata causam obstrução do fluxo urinário ao comprimirem a parte prostática da uretra, impedindo o fluxo da urina. O edema e a deformação tecidual também alteram significativamente o trato urinário inferior, causando, por exemplo, a instabilidade do músculo detrusor.
9- Nessa semana, um grupo de estudantes da área da saúde
acompanhará a rotina do ambulatório do hospital de sua universidade. Uma das atividades a ser realizada durante esse período será o acompanhamento de alguns casos clínicos de pacientes atendidos no local. No primeiro dia de atividades, um dos alunos do grupo acompanhou o caso do paciente S. W. T., 45 anos. O paciente chegou ao ambulatório apresentando crise hipertensiva, taquicardia, palidez e cefaleia. Negou tabagismo e etilismo e não fazia uso de medicamentos. O paciente possuía histórico de várias internações prévias por crise hipertensiva, mas sem um diagnóstico conclusivo. Os exames laboratoriais mostraram concentrações urinárias elevadas de catecolaminas e seus metabólitos. Na ressonância magnética, foram encontradas lesões nodulares na topografia das glândulas adrenais direita e esquerda. Devido às grandes proporções das massas nodulares, optou-se pela remoção cirúrgica das adrenais. A análise anatomopatológica das glândulas removidas evidenciou a presença de neoplasias compatíveis com feocromocitoma, diagnóstico que foi conclusivo diante dos demais achados clínicos e laboratoriais. Para incentivar as discussões a respeito do caso apresentado, o supervisor da equipe sugeriu que os estagiários iniciassem relembrando alguns conceitos anatômicos e funcionais das glândulas suprarrenais. Para tal, ele levantou os seguintes questionamentos aos alunos de graduação: você saberia explicar o que é feocromocitoma? Qual seria a relação entre os sintomas apresentados pelo paciente e as glândulas adrenais? Você, no lugar desses alunos, como responderia a todos esses questionamentos? R: Você já viu vários conceitos importantes a respeito das glândulas adrenais e sabe que essas glândulas são responsáveis pela produção de diferentes hormônios esteroides. A porção cortical da glândula produz mineralocorticoides, glicocorticoides e androgênios, enquanto a porção medular é responsável pela produção de catecolaminas. Ainda, você já sabe que alterações no funcionamento dessas estruturas resultam em diferentes efeitos fisiológicos, que podem ser deletérios ao organismo. Dentre as patologias associadas às glândulas adrenais, temos os feocromocitomas. Estes são tumores que se originam nas células cromafins e podem ou não estar restritos à porção medular da adrenal. Esses tumores secretam grandes quantidades de catecolaminas, levando a vários efeitos metabólicos, sendo a principal manifestação clínica a presença de hipertensão arterial. Outros sintomas, como taquicardia, cefaleia, episódios de sudorese excessiva, ansiedade, tremores e intolerância à glicose, também podem estar presentes. De fato, as catecolaminas aumentam a frequência cardíaca (taquicardia), promovem vasoconstrição e aumentam a resistência periférica total, determinando a elevação do débito cardíaco e o aumento da pressão arterial. O diagnóstico do feocromocitoma é realizado por meio da história clínica, evidenciando sinais de tônus adrenérgico aumentado, detecção laboratorial de quantidades aumentadas de catecolaminas e seus metabólitos na urina, bem como uso de exames de imagem para detecção da presença de massas tumorais. O tratamento dessa patologia, geralmente, é cirúrgico, com remoção das glândulas adrenais, associada à prescrição de glicocorticoides e mineralocorticoides sintéticos. Por não serem vitais ao organismo, as catecolaminas não são repostas no tratamento, contudo a não reposição das catecolaminas pode resultar, em alguns indivíduos, em uma resposta adaptativa a estímulos estressores agudos menos eficaz.
10- Nessa semana, como parte das atividades práticas de
um curso da área da saúde, um grupo de alunos acompanhará a rotina do ambulatório do hospital de sua universidade. Durante esse período, eles poderão acompanhar o atendimento a pacientes da comunidade realizado pela equipe multidisciplinar do hospital. No primeiro dia de atividades, os estudantes acompanharam o caso da paciente V.S.N., 59 anos. Ela era hipertensa e fazia seu acompanhamento há dez anos nesse local. Segundo a paciente, seus medicamentos estavam sendo efetivos no controle da pressão arterial, porém, nas últimas semanas, ela começou a se sentir cansada, com fraqueza e câimbras musculares. No exame clínico, observou-se uma pressão arterial de 140 mmHg/102mmHg. A avaliação laboratorial mostrou concentração plasmática normal de sódio e baixa de potássio, levando à suspeita de uma disfunção da secreção de aldosterona. Assim, foram realizados novos exames, que mostraram um aumento da concentração plasmática de aldosterona e baixa de renina. Diante dos achados, a paciente foi diagnosticada com hiperaldosteronismo primário. Ela já utilizava um bloqueador do receptor de angiotensina e o diurético furosemida, sendo indicada a associação da espironolactona para o tratamento inicial, até que se achasse a causa do hiperaldosteronismo primário. Para incentivar as discussões a respeito do caso apresentado, o supervisor da equipe sugeriu que a hipertensão arterial refratária na paciente parecia ser uma consequência do aumento da secreção de aldosterona. Ele também levantou os seguintes questionamentos aos alunos de graduação: vocês saberiam explicar qual a relação entre a aldosterona e a hipertensão arterial? Por que foi associada a espironolactona ao tratamento da paciente? Qual a ação desse fármaco? Você, no lugar desses alunos, como responderia a esses questionamentos? R: Você já viu que os néfrons são responsáveis pela manutenção do meio interno, e que alterações no seu funcionamento resultam em diferentes efeitos fisiológicos, os quais podem ser prejudiciais ao nosso organismo, acarretando o aparecimento de patologias. Você já sabe que alguns fármacos agem nos diferentes segmentos dos néfrons, atenuando ou revertendo alterações no volume dos líquidos e eletrólitos corporais, como os diuréticos. Na situação-problema, a paciente apresentava uma hipertensão refratária, ocasionada por um aumento na produção de aldosterona, resultado do hiperaldosteronismo primário. De fato, a aldosterona é um mineralocorticoide produzido e secretado, principalmente, pela zona glomerulosa do córtex da glândula adrenal. Esse mineralocorticoide atua na regulação do volume corporal, no equilíbrio eletrolítico, na pressão arterial e no pH dos líquidos corporais. Interessantemente, essas funções da aldosterona estão relacionadas ao seu efeito estimulatório exercido, sobretudo, sobre as células principais do túbulo distal convoluto e ducto coletor renal, promovendo um aumento na reabsorção de sódio e na secreção de potássio e hidrogênio nesse local. O principal fator fisiológico estimulatório para a secreção de aldosterona é a angiotensina II (ANG II). Assim, baixas quantidades de Na+ que chegam ao aparelho justaglomerular estimulam a secreção de renina e, consequentemente, ANG II. Esta atua nas adrenais, promovendo a secreção de aldosterona e, dessa forma, completa o sistema renina- angiotensina-aldosterona, que participa da regulação do volume corporal por controlar a retenção renal de Na+. Como consequência, a aldosterona acarreta o aumento do volume do líquido extracelular e da pressão sanguínea. No caso do hiperaldosteronismo primário apresentado pela paciente, mesmo com baixa concentração plasmática de renina, há o aumento da secreção de aldosterona, indicando que esse aumento de secreção não parece estar envolvido com a ação da ANG II, o que também é reforçado pela ausência de correção na concentração de aldosterona quando utilizado o bloqueador do receptor de aniotensina. A furosemida, utilizada no tratamento da paciente, diminui a reabsorção de NaCl, por promover inibição da atividade do cotransportador 1Na+-1K+-2Cl-, localizado na membrana apical das células epiteliais do ramo ascendente espesso da alça de Henle, sem que haja aumento simultâneo na secreção de K+. Devido ao quadro de hiperaldosteronismo, a paciente apresenta diminuição das concentrações plasmáticas de potássio (hipocalemia). Essa redução da concentração de K+ extracelular diminui a excitabilidade dos neurônios, das células cardíacas e das células musculares e, se a hipocalemia for grave, pode acarretar paralisia, arritmias cardíacas e morte. Na situação-problema, a paciente apresenta hipocalemia decorrente da ação realizada pela aldosterona. Nos rins, a ação da aldosterona envolve a estimulação da expressão gênica de proteínas responsáveis por aumentar a atividade ou o número de canais do tipo ENac, na membrana apical das células epiteliais do túbulo distal convoluto e ducto coletor, e as bombas Na+-K+-ATPase na membrana basolateral das dessas células, o que promove aumento da reabsorção de Na+ e da secreção de K+. Assim, a espironolactona, um diurético poupador de potássio que atua inibindo a aldosterona no ducto coletor cortical, foi indicado no tratamento da paciente, uma vez que promove, simultaneamente, a redução da reabsorção de Na+ e da secreção de K+ no ducto coletor cortical e, consequentemente, causa o aumento das concentrações plasmáticas de potássio e a diminuição de sódio, auxiliando na manutenção da pressão arterial e revertendo o quadro de hipocalemia.