1. Compreender a estrutura dos BAAR O modo exato de transmissão do bacilo da
e o mecanismo de ação e a sua hanseníase é incerto, mas os pacientes com resposta imune gerada pelo bacilo. hanseníase lepromatosa liberam grandes quantidades do bacilo em suas secreções nasais e nos exsudatos (material de Micobactérias ácido resistentes exsudação) de suas lesões. As micobactérias são bacilos (bastonetes) A maioria das pessoas provavelmente aeróbios acidorresistentes. Esses adquire a infecção quando as secreções microrganismos não são gram-positivos contendo o patógeno entram em contato nem gram-negativos (i.e., são fracamente com suas mucosas nasais. Entretanto, a corados pelos corantes utilizados na hanseníase não é muito contagiosa, sendo coloração de Gram). muitas vezes transmissível apenas entre pessoas que têm um contato prolongado ou As micobactérias são, praticamente, as íntimo. O tempo desde a infecção até o únicas bactérias acidorresistentes. aparecimento dos sintomas geralmente é O termo acidorresistente refere-se à medido em anos, embora as crianças capacidade de um organismo reter o possam apresentar um período menor de corante carbolfucsina, apesar do incubação. A morte geralmente não é tratamento subsequente com uma mistura decorrente da hanseníase em si, mas sim de etanol-ácido clorídrico. complicações, como a tuberculose.
O elevado teor lipídico (aproximadamente
60%) de sua parede celular torna as A infecção é adquirida por contato micobactérias acidorresistentes. prolongado com pacientes acometidos por hanseníase lepromatosa, que expelem grande número de M. leprae nas secreções CARACTERÍSTICAS GERAIS nasais e a partir das lesões cutâneas. N
Os principais patógenos são
Mycobacterium tuberculosis, a causa da 2. Entender a relação dos sintomas tuberculose, e Mycobacterium leprae, o com o sistema imune e SNP agente da hanseníase O microrganismo replica-se A temperatura ótima de crescimento (30°C) intracelularmente, em geral no interior de do M. leprae é mais baixa do que a histiócitos cutâneos, células endoteliais e temperatura corpórea, de forma que a bac- células de Schwann. O dano nervoso na téria se multiplica preferencialmente na hanseníase é o resultado de dois processos: pele e em nervos superficiais. Cresce muito dano causado pelo contato direto com a lentamente, apresentando um tempo de bactéria ou geração de 14 dias. Isso o torna o patógeno dano causado pela resposta imune celular bacteriano de seres humanos de (CMI, cell-mediated immune) nos nervos. crescimento mais lento. Como consequência, a tera- pia antibiótica deve ser mantida por um longo período, em geral, por vários anos. Há duas formas distintas de hanseníase – Há evidências de que pacientes com a tuberculoide e lepromatosa – com várias hanseníase lepromatosa produzem formas intermediárias entre os dois interferon b (interferon de atividade extremos. antiviral) em resposta à infecção pelo M. leprae, ao passo que indivíduos que • Hanseníase tuberculoide apresentam a forma tuberculoide da (também conhecida como hanseníase hanseníase produzem interferon g. A paucibacilar), a resposta CMI ao organismo presença de interferon b inibe a síntese de limita o seu crescimento, raros bacilos interferon g e, portanto, diminui a resposta acidorresistentes são encontrados e os CMI necessária para conter a infecção. granulomas contêm formas celulares gigantes. Parece provável que a lesão do Observa-se que, na hanseníase nervo seja causada pela imunidade celular, lepromatosa, apenas a resposta celular uma vez que existem poucos contra M. leprae é defectiva (i.e., o paciente microrganismos e a resposta CMI é forte. é ané rg ico a M. leprae ).
A resposta celular contra outros microrga-
A resposta CMI consiste principalmente em nismos não é afetada, e a resposta humoral células CD4-positivas e um perfil Th-1 de contra M. leprae envontra-se intacta. citocinas, ou seja, interferon g, interleucina Entretanto, esses anticorpos não são 2 e interleucina 12. A resposta CMI é protetores. A resposta de células T consiste responsável pelos danos aos nervos principalmente em células Th-2. observados na hanseníase tuberculoide. O resultado do teste cutâneo da lepromina INTERAÇÃO DO MYCOBACTERIUM é positivo. O teste cutâneo da lepromina é LEPRAE COM O SISTEMA NERVOSO similar ao teste da tuberculina (ver PERIFÉRICO anteriormente). Um extrato de M. leprae é Estudos demonstram a ligação injetado intradermicamente, sendo do Mycobacterium leprae às células de observada a induração após 48 horas nos Schwann, de tal modo que induz à indivíduos em que a resposta imune celular desmielinização. contra o microrganismo encontra-se presente. As células de Schwann do sistema nervoso periférico apresentam 2 fenótipos: mielinizadas e nãomielinizadas, que • Hanseníase lepromatosa manifestam resposta diferente ao Mycobacterium leprae. (também conhecida como hanseníase multibacilar), a resposta celular contra a Embora esse se ligue a ambos os fenótipos bactéria é parca, a pele e as membranas da célula de Schwann, as ligações às células mucosas apresentam grandes quantidades não-mielinizadas são as mais fortes. de organismos, histiócitos esponjosos em vez de grânulos, mas são encontrados e o As células, do segundo fenótipo, são o nicho resultado do teste cutâneo da lepromina é natural para multiplicação da bactéria, negativo. A lesão do nervo parece ser permitindo ao micro-organismo a proteção de respostas imunes do hospedeiro, causada pelo contato direto, uma vez que sobretudo, fornecendo um local existem muitos microrganismos e a extremamente favorável à sua proliferação resposta celular é pequena. e sobrevivência, no sistema nervoso periférico. Há evidências de que a ligação entre poucos microrganismos e o aparecimento o Mycobacterium leprae e a célula de de granulomas típicos é suficiente para o Schwann ocorre na lâmina basal da matriz diagnóstico. extracelular.
Portanto, no caso da hanseníase, a lâmina
basal, de nenhum modo, representa O teste diagnóstico padrão para a barreira protetora à entrada da hanseníase consiste em uma amostra de micobactéria. Pelo contrário, é através de biópsia de pele retirada da margem de uma seus componentes estruturais que ocorre a lesão ativa. A interpretação dessa amostra invasão. Existem estudos "in vivo" e "in de forma confiável, o reconhecimento de vitro" demonstrando a ligação danos teciduais característicos e a identifi- da Mycobacterium leprae com a célula de cação do bacilo acidorresistente dentro dos Schwann, em nível molecular, através da nervos requerem um patologista laminina. experiente. Procedimentos associados, como o esfregaço de raspado intradérmico Realmente, a parede celular do Mycobacterium leprae possui uma (slit-skin), podem ser usados para enumerar camada externa eletron-transparente as bactérias acidorresistentes na pele composta, na sua maior parte, por ácido infectada. fitiocerol dimerocerósico e glicolípides, A dapsona (sulfona), a rifampicina e a fundamentalmente o glicolipío fenólico-1 clofazimina, corante solúvel em gordura, (PGL-1). É específico desta micobactéria, já que contém um trissacarídeo específico, são os principais fármacos utilizados para o não encontrado na parede de nenhuma tratamento, geralmente em combinação. O outra micobactéria. 58,60 Como foi regime de tratamen- to do OMS para a mostrado, em estudos com o PGL-1 hanseníase paucibacilar exige 6 meses; para purificado, o glicolipídio liga-se a forma multibacilar, o tratamento é especificamente à cadeia α2 da laminina-2. estendido a 24 meses. Uma vacina tornou- se comercialmente disponível na Índia, em 1998. Ela é usada como suplemento à 3. Identificar o microrganismo quimioterapia. Outras vacinas que através dos sintomas e sinais poderiam ser úteis na prevenção estão clínicos e método de diagnóstico sendo testadas. Uma descoberta encorajadora é que a vacina Bacillus MYCOBACTERIUM LEPRAE Calmete-Guérin (BCG) para a tuberculose Esse microrganismo causa lepra (também causada por uma espécie de (hanseníase). Mycobacterium) oferece alguma proteção contra a hanseníase. DIAGNÓSTICO Na hanseníase lepromatosa, a presença dos Referências bacilos pode ser facilmente demonstrada realizando-se uma coloração 1. Microbiologia Tortora acidorresistente das lesões de pele ou dos 2. Microbiologia Médica e Imunologia raspados nasais. Macrófagos repletos de – Warren Levinson lipídeos, denominados “células 3. Artigo – Sistema nervoso periférico esponjosas”, que contêm muitos bacilos e pressupostos da agressão neural acidorresistentes, são observados na pele. na hanseníase - Anais Brasileiros de Na forma tuberculoide, são observados Dermatologia.