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TUTORIAL 4 TRANSMISSÃO

1. Compreender a estrutura dos BAAR O modo exato de transmissão do bacilo da


e o mecanismo de ação e a sua hanseníase é incerto, mas os pacientes com
resposta imune gerada pelo bacilo. hanseníase lepromatosa liberam grandes
quantidades do bacilo em suas secreções
nasais e nos exsudatos (material de
Micobactérias ácido resistentes exsudação) de suas lesões.
As micobactérias são bacilos (bastonetes) A maioria das pessoas provavelmente
aeróbios acidorresistentes. Esses adquire a infecção quando as secreções
microrganismos não são gram-positivos contendo o patógeno entram em contato
nem gram-negativos (i.e., são fracamente com suas mucosas nasais. Entretanto, a
corados pelos corantes utilizados na hanseníase não é muito contagiosa, sendo
coloração de Gram). muitas vezes transmissível apenas entre
pessoas que têm um contato prolongado ou
As micobactérias são, praticamente, as
íntimo. O tempo desde a infecção até o
únicas bactérias acidorresistentes.
aparecimento dos sintomas geralmente é
O termo acidorresistente refere-se à medido em anos, embora as crianças
capacidade de um organismo reter o possam apresentar um período menor de
corante carbolfucsina, apesar do incubação. A morte geralmente não é
tratamento subsequente com uma mistura decorrente da hanseníase em si, mas sim de
etanol-ácido clorídrico. complicações, como a tuberculose.

O elevado teor lipídico (aproximadamente


60%) de sua parede celular torna as A infecção é adquirida por contato
micobactérias acidorresistentes. prolongado com pacientes acometidos por
hanseníase lepromatosa, que expelem
grande número de M. leprae nas secreções
CARACTERÍSTICAS GERAIS nasais e a partir das lesões cutâneas. N

Os principais patógenos são


Mycobacterium tuberculosis, a causa da
2. Entender a relação dos sintomas
tuberculose, e Mycobacterium leprae, o
com o sistema imune e SNP
agente da hanseníase
O microrganismo replica-se
A temperatura ótima de crescimento (30°C)
intracelularmente, em geral no interior de
do M. leprae é mais baixa do que a
histiócitos cutâneos, células endoteliais e
temperatura corpórea, de forma que a bac-
células de Schwann. O dano nervoso na
téria se multiplica preferencialmente na
hanseníase é o resultado de dois processos:
pele e em nervos superficiais. Cresce muito
dano causado pelo contato direto com a
lentamente, apresentando um tempo de
bactéria ou
geração de 14 dias. Isso o torna o patógeno
dano causado pela resposta imune celular
bacteriano de seres humanos de
(CMI, cell-mediated immune) nos nervos.
crescimento mais lento. Como
consequência, a tera- pia antibiótica deve
ser mantida por um longo período, em
geral, por vários anos.
Há duas formas distintas de hanseníase – Há evidências de que pacientes com a
tuberculoide e lepromatosa – com várias hanseníase lepromatosa produzem
formas intermediárias entre os dois interferon b (interferon de atividade
extremos. antiviral) em resposta à infecção pelo M.
leprae, ao passo que indivíduos que
• Hanseníase tuberculoide
apresentam a forma tuberculoide da
(também conhecida como hanseníase hanseníase produzem interferon g. A
paucibacilar), a resposta CMI ao organismo presença de interferon b inibe a síntese de
limita o seu crescimento, raros bacilos interferon g e, portanto, diminui a resposta
acidorresistentes são encontrados e os CMI necessária para conter a infecção.
granulomas contêm formas celulares
gigantes. Parece provável que a lesão do
Observa-se que, na hanseníase
nervo seja causada pela imunidade celular,
lepromatosa, apenas a resposta celular
uma vez que existem poucos
contra M. leprae é defectiva (i.e., o paciente
microrganismos e a resposta CMI é forte.
é ané rg ico a M. leprae ).

A resposta celular contra outros microrga-


A resposta CMI consiste principalmente em
nismos não é afetada, e a resposta humoral
células CD4-positivas e um perfil Th-1 de
contra M. leprae envontra-se intacta.
citocinas, ou seja, interferon g, interleucina
Entretanto, esses anticorpos não são
2 e interleucina 12. A resposta CMI é
protetores. A resposta de células T consiste
responsável pelos danos aos nervos
principalmente em células Th-2.
observados na hanseníase tuberculoide.
O resultado do teste cutâneo da lepromina INTERAÇÃO DO MYCOBACTERIUM
é positivo. O teste cutâneo da lepromina é LEPRAE COM O SISTEMA NERVOSO
similar ao teste da tuberculina (ver PERIFÉRICO
anteriormente). Um extrato de M. leprae é
Estudos demonstram a ligação
injetado intradermicamente, sendo
do Mycobacterium leprae às células de
observada a induração após 48 horas nos Schwann, de tal modo que induz à
indivíduos em que a resposta imune celular desmielinização.
contra o microrganismo encontra-se
presente. As células de Schwann do sistema nervoso
periférico apresentam 2 fenótipos:
mielinizadas e nãomielinizadas, que
• Hanseníase lepromatosa manifestam resposta diferente
ao Mycobacterium leprae.
(também conhecida como hanseníase
multibacilar), a resposta celular contra a Embora esse se ligue a ambos os fenótipos
bactéria é parca, a pele e as membranas da célula de Schwann, as ligações às células
mucosas apresentam grandes quantidades não-mielinizadas são as mais fortes.
de organismos, histiócitos esponjosos em
vez de grânulos, mas são encontrados e o As células, do segundo fenótipo, são o nicho
resultado do teste cutâneo da lepromina é natural para multiplicação da bactéria,
negativo. A lesão do nervo parece ser permitindo ao micro-organismo a proteção
de respostas imunes do hospedeiro,
causada pelo contato direto, uma vez que
sobretudo, fornecendo um local
existem muitos microrganismos e a
extremamente favorável à sua proliferação
resposta celular é pequena. e sobrevivência, no sistema nervoso
periférico.
Há evidências de que a ligação entre poucos microrganismos e o aparecimento
o Mycobacterium leprae e a célula de de granulomas típicos é suficiente para o
Schwann ocorre na lâmina basal da matriz diagnóstico.
extracelular.

Portanto, no caso da hanseníase, a lâmina


basal, de nenhum modo, representa O teste diagnóstico padrão para a
barreira protetora à entrada da hanseníase consiste em uma amostra de
micobactéria. Pelo contrário, é através de biópsia de pele retirada da margem de uma
seus componentes estruturais que ocorre a lesão ativa. A interpretação dessa amostra
invasão. Existem estudos "in vivo" e "in de forma confiável, o reconhecimento de
vitro" demonstrando a ligação danos teciduais característicos e a identifi-
da Mycobacterium leprae com a célula de cação do bacilo acidorresistente dentro dos
Schwann, em nível molecular, através da nervos requerem um patologista
laminina. experiente. Procedimentos associados,
como o esfregaço de raspado intradérmico
Realmente, a parede celular
do Mycobacterium leprae possui uma (slit-skin), podem ser usados para enumerar
camada externa eletron-transparente as bactérias acidorresistentes na pele
composta, na sua maior parte, por ácido infectada.
fitiocerol dimerocerósico e glicolípides,
A dapsona (sulfona), a rifampicina e a
fundamentalmente o glicolipío fenólico-1
clofazimina, corante solúvel em gordura,
(PGL-1). É específico desta micobactéria, já
que contém um trissacarídeo específico, são os principais fármacos utilizados para o
não encontrado na parede de nenhuma tratamento, geralmente em combinação. O
outra micobactéria. 58,60 Como foi regime de tratamen- to do OMS para a
mostrado, em estudos com o PGL-1 hanseníase paucibacilar exige 6 meses; para
purificado, o glicolipídio liga-se a forma multibacilar, o tratamento é
especificamente à cadeia α2 da laminina-2. estendido a 24 meses. Uma vacina tornou-
se comercialmente disponível na Índia, em
1998. Ela é usada como suplemento à
3. Identificar o microrganismo quimioterapia. Outras vacinas que
através dos sintomas e sinais poderiam ser úteis na prevenção estão
clínicos e método de diagnóstico sendo testadas. Uma descoberta
encorajadora é que a vacina Bacillus
MYCOBACTERIUM LEPRAE
Calmete-Guérin (BCG) para a tuberculose
Esse microrganismo causa lepra
(também causada por uma espécie de
(hanseníase).
Mycobacterium) oferece alguma proteção
contra a hanseníase.
DIAGNÓSTICO
Na hanseníase lepromatosa, a presença dos Referências
bacilos pode ser facilmente demonstrada
realizando-se uma coloração 1. Microbiologia Tortora
acidorresistente das lesões de pele ou dos 2. Microbiologia Médica e Imunologia
raspados nasais. Macrófagos repletos de – Warren Levinson
lipídeos, denominados “células 3. Artigo – Sistema nervoso periférico
esponjosas”, que contêm muitos bacilos e pressupostos da agressão neural
acidorresistentes, são observados na pele. na hanseníase - Anais Brasileiros de
Na forma tuberculoide, são observados Dermatologia.

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