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(UNESP)
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS, DEPARTAMENTO DE
HISTÓRIA – câmpus de Assis
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA (LICENCIATURA)
4) Conclusões
Castigos derivados do sistema de pesquisa e visita às igrejas diocesanas,
juntamente com os processos judiciais abertos pelos bispos e cabido de Burgos no
séc. XV oferece uma imagem de uma instituição e clero diocesano que
compartilhava a dureza cotidiano do resto da sociedade baixo medieval (violência
física, verbal e indisciplina) (p.811);
Por uma visão angular, os 282 casos de delitos e faltas nas atas de Burgos entre
1418 e finais do século XV confirmam o fato, ainda que a análise da normativa
sinodal e capitular em conjunto com os casos penalizados para cada falta e delito
(e sanções aplicadas) distorça a primeira visão: Las penas económicas más
elevadas que son las mayoritarias y complementarias a veces de la pena de
cárcel y la de destierro, se aplican a los delitos de injuria, juego y hurto. La
injuria es el delito documentado con mayor frecuencia pero el juego y el hurto
los son bastante menos de lo que cabría esperar de la permanente regulación de
que fueron objeto en los sínodos bajomedievales y en los estatutos del cabildo
burgalés desde mediados del siglo XV (Injúria, delito mais comentado, enquanto
jogatina e furtos foram o menos documentados. O mesmo se aplica aos crimes de
moral sexual e aparência externa dos clérigos); p.811
Variabilidade das quantias de sanções econômicas por faltas e delitos semelhantes,
abuso de penas de excomunhão, assim como casos de absolvição por falta de
provas e casos nos quais a sentença não foi registrada, demonstra uma aparente
desproporção entre norma e aplicação. A regulação das condutas através de
estatutos (Estatuto de corrección y punición) e normas pontuais foi constante. De
modo que fica o questionamento por parte de GONZÁLEZ se estaríamos ante um sistema
penal tolerante às práticas e limitado quanto ao número de faltas e delitos que foram
processados. Afirmar tal fato sem sombra de dúvidas seria errôneo, pois
significaria negligenciar as características definidoras da justiça medieval
eclesiástica, que podem ser observadas no caso de Burgos (p.811-812);
Primeiramente, com relação ao número de casos processados e a variabilidade na
severidade das penas impostas, não se pode ignorar a oralidade do sistema
processual imperante no séc. XV e sua flexibilidade. De modo que estamos ante
uma justiça na qual o tramitar do processo penal era compatível com a negociação
prévia entre as partes e práticas de arbitragem. Os acordos e práticas e reinserção
de infratores na comunidade (missas de paz), depois de restituir o dano realizado,
minoravam o efeito do escândalo e favoreciam o fim último da justiça eclesiástica:
assegurar a paz e ordem social de acordo com a disciplina da Igreja (p.812);
Precisamente as sanções econômicas ou de outro tipo se aplicaram a determinadas
condutas ou atos quando alcançavam notoriedade pública. Porém, o contrário
também ocorria, visto que as consequências de lançar a luz possíveis faltas e
delitos foram utilizadas como argumento para evitar o processo penal em favor de
práticas negociadoras (p.812);
Em segundo lugar, em relação a flexibilidade da aplicação da justiça eclesiástica,
é preciso sublinhar o papel determinante que teve o status e a reputação (fama) da
pessoa. Esse é um fator diretamente vinculado ao peso das redes clientelares
tiveram na estrutura hierárquica e social do clero. Ao mesmo tempo, é um fator
que ajuda a compreender o protagonismo que a injúria alcançou entre os delitos e
faltas dos clérigos de Burgos. As injúrias verbais e agressões físicas não são outra
coisa se não a ponta do iceberg de conflitos de interesses provocados pelos
diferentes status e capacidade econômica entre membros maiores (dignidades e
canônicos) e beneficiados menores (racioneros, capelães do Número), bem como
outras categorias (p.812);
De modo que para conter as injúrias, o cabido elaborou regulamentos e uma
prática judicial, assim como para prevenir e detectar adultérios, jogatina e
descumprimentos da norma eclesiástica. De modo que o desenvolvimento das
práticas judiciais pelo Bispo e cabido de Burgo durante o séc. XV foi bastante
intenso, porém a eficácia limitada, a julgar pela aparente desproporção entre
norma e aplicação. Aparente, visto que a desproporção seria um efeito da
distorção produzida na prática penal pela flexibilidade e característica
concorrente própria da natureza da justiça eclesiástica (812-813);
De qualquer modo, é indubitável que o uso de práticas judiciais para modelar as
condutas dos clérigos e laicos de acordo com a doutrina da disciplina clerical
colidiu com as resistências geradas pelos laços de parentesco e clientelismo, assim
como os costumes fortemente arraigados no clero castelhano medieval (p.813);