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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

(UNESP)
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS, DEPARTAMENTO DE
HISTÓRIA – câmpus de Assis
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA (LICENCIATURA)

Disciplina: História Medieval


Professor Responsável: Leandro Alves Teodoro

ALUNO: Thiago Pereira Camargo Comelli

GONZÁLEZ, Susana Guijarro, Justicia Eclesiástica y Control Social em


Burgos Durante el Siglo XV: El Castigo de las Faltas Y los delitos de Clero em
la Castilla Bajomedieval. Universidad de Cantabria, Anuario de Studios
Medievales, 46/2, pp. 787-818 julio-diciembre 2016~

 Burgos, capital de Castela no séc. XI. 1038, Fernando I coroado rei


de Leão, Reino de Castela é formado e Burgos se torna a capital;
 1074, Alfonso VI (após o falecimento de Sancho II), cede seu palácio
para a construção da catedral de Santa Maria;
 1080, Alfonso VI convoca um concílio geral de seus reinos na cidade e
declara oficialmente a abolição da liturgia hispânica, substituída pela
romana;

 Intensa regulamentação sobre as condutas e atos estabelecida pelos
capítulos catedráticos e bispos de Burgos e seu reflexo na prática penal
do séc. XV. Autora analisa as penas de 282 casos de delitos e crimes
extraídos de atas capitulares burgonesas; (GONZÁLEZ, 788)
 Inicialmente, se faz uma tipologia dos delitos e faltas cometidas por
clérigos e laicos, bem como a terminologia empregada pela fonte
para defini-los. Por conseguinte, se classificam as penas aplicadas às
diferentes faltas e delitos, levando em conta sua frequência e
variabilidade, para então chegar no grau de implicação dos clérigos
e laicos nos delitos penalizados, de modo a determinar se havia uma
distância entre a norma e a sua aplicação;
 Práticas judiciais eclesiásticas nas dioceses hispânico-medievais,
fontes generosas de doutrina e legislação canônico-penal da Igreja,
porém é insuficiente quanto aos detalhes dos procedimentos
inquisitivos e punitivos/processuais na hora da aplicação da justiça
eclesiástica; (GONZÁLEZ, 788-789);
 Abandono da oralidade para a escrita na prática judicial não se
fez na realidade das dioceses castelhano-leonesas. IV Concílio de
Latrão decretando a protocolização das atas processuais em forma
escrita, fator que não se deu da mesma forma que nas dioceses de
Barcelona, que acatou melhor a ordem (permanece a oralidade
processual e os acordos entre as partes, anteriores ao processo);
 Desde o séc. XIII adiante, a doutrina da penitência e o sistema
processual imposto pelo direito canônico contribuíam a fomentar a
culpabilidade e arrependimento (GONZÁLEZ, 789); (foco na
correção, não na mera punição. Semelhante a ideia presente nas
Partidas de Afonso X)
 Dificuldade metodológicas e enfoques teóricos: História da violência e
delinquência em sua tradição jurídico-institucional e estudos sobre
conflitos sociais e regulação da convivência. Compromisso precoce
com a interdisciplinaridade levou a historiografia hodierna a cunhar a
expressão “disciplinaridade social” para nomear discursos e práticas
intimamente ligadas ao poder e controle social (Schilling 2002, pp. 27-
30). De modo que é inegável a dívida do conceito com o ideal cristão
de harmonia, traduzido pelos eclesiásticos como disciplina da alma e
do corpo. Toda uma pedagogia moral que fora transmitida aos
laicos e que inspiraria nos séculos baixo medievais a configuração
de valores compreendida como civilitas (p.789); (Knox 1994 pp. 64-
77. Un análisis del origen monástico del ideal de disciplina que el
clero adaptó y convirtió en fuente de inspiración para la creación de
modelos de conducta social puede verse en Guijarro 2013) (a
Humanitas civil e laica tomando empréstimos da pedagogia moral
cristã, desde as escolas catedralícias do séc. X-XI na França e
Alemanha. Posteriormente atinge terreno espanhol)
 3° dificuldade citada pela autora, superposição de jurisdições
eclesiásticas, regias e senhoriais num mesmo território, fonte de
numerosos conflitos. Competência do bispado em matéria de
jurisdições civis e criminais, bem como o papel dos sínodos
promovidos pelos prelados do século XV delegando aos
arquidiáconos, arciprestes, abadas de Igrejas colegiais e vicários
como encarregados da justiça episcopal em suas diferentes
circunscrições. Estes deveriam anualmente prestar informes das
faltas graves dos laicos e clérigos das paroquias diocesanas (p.790);
(fenômeno destacado por QUESADA, superposição de funções e
divisas pouco sólidas entre determinados ofícios, tais como na
Casa y Corte real)
 Capítulo catedralício participou através de alguns membros na justiça
episcopal, ainda que mantendo uma férrea defesa de sua isenção desta,
fator que levaria a conflitos recorrentes entre Bispos e o capítulo na
baixa idade média; (autonomia dos capítulos catedralícios que se
impunha)
 As normas concretas que ordenavam a conduta dos clérigos
catedralícios dentro da instituição se cristalizaram em 1452 com a
redação do Estatuto de Injurias e Estatuto de Corrección y Punicion,
especialmente preocupados com injúrias verbais (advogados, crimes
da língua, fica a questão se tiveram efeito sobre o ofício) e agressões
físicas que ocorriam dentro e fora do espaço catedralício. Tanto
sínodos quanto as reformas empreendidas ao longo do episcopado
do bispo Luis de Acunã (1456-1495) promulgaram normas para
pacificar a convivência entre os clérigos e entre os lacios (p.790)
(López 1961, pp. 185-317.)
 Sanções espirituais e materiais que foram aplicadas às faltas e delitos
protagonizados por clérigos e por laicos da diocese de Burgos durante
o século XV. Notícias fragmentárias registradas nas Actas
capitulares e livros de registro do séc. XV, que se referem a correção
de conduta do clero paroquial e dos fiéis derivada de pesquisas
efetuadas em visitas pastorais (p.790);
 282 casos pesquisados, 68,4% (193) se acharam testemunhos da
sentencia e penas imposta aos demandados pelo bispo ou o capítulo
catedralício. De resto, as informações se limitam ao início do processo
de demanda e pesquisa dos hechos (fatos, vide MADERO).
Geralmente, trata-se da fase processual na qual o juiz ou o
delegado do bispo estabelecem um prazo para que o demandante
apresente provas (p.791);
 Aspectos da vida clerical e dos fiéis que mais incidia nas práticas
judiciais, e o papel que essas práticas persecutórias desempenharam
como mecanismos de controle social e difusão da disciplina
eclesiástica (p.791);
 Dados sobre litigantes e litigados permitindo analisar a implicação dos
clérigos e laicos nas condutas e atos sancionados como um reflexo da
sociabilidade cotidiana na diocese de Burgos (p.791);         

 1) Ruptura na Disciplina Eclesiástica: Faltas e Delitos Perseguidos


 Princípio da Disciplina clerical: meios de correção às sanções
impostas para determinadas condutas de clérigos e laicos que
transgrediam a harmonia entre corpo e alma;
 Tipologia das faltas e delitos perseguidos pelo bispo e pelo capítulo
(cabido) de Burgos no séc. XV. Segundo GONZÁLES, para os
clérigos/cônegos catedralícios e paroquiais, aceitar os valores
monásticos de moderação e autocontrole (gestos, palavras e
continência sexual) era uma tarefa árdua (p.791). Exigência de uma
vida exemplar que ia de encontro com sujeitos imersos em conflitos e
interesses seculares, relações determinadas pelo clientelismo,
patronato e parentesco;
 Segundo CARRASCO, dificuldade que implicava aos juristas e
teólogos baixo-medievais em distinguir o lícito do ilícito, o pecado
do delito (PETERS, Peters, Edward (2001), The reordering of Law
and the Illicit in Eleventh and Twelfth-Century Europe, en Mazo
Carras, Ruth; Kaye, Joel; Matter, E. Ann (eds.), Law and the Illicit in
Medieval Europe, Filadelfi a, University of Pennsylvania Press, p.1-
14);
 Ainda que o direito canônico diferenciasse entre faltas internas
(consciência do indivíduo) das externas (repercussão pública), o
certo é que ambas se diluíam na prática, tal como as noções de
pecado e delito. Em teoria, a intervenção da justiça convertia o
pecado em delito (CARRASCO, Manchado, Ana Isabel , Sentido
del pecado y clasifi cación de los vicios, en López Ojeda, Esther
(coord.), Los caminos de la exclusión en la sociedad medieval:
pecado, delito y represión, Logroño, Instituto de Estudios Riojanos,
pp. 66-99).     
 Dificuldade na tipologia das fontes e delitos em discernir a
ambiguidade no uso das três categorias mais reiteradas entre 1418-
1499: Sacrilégio, injúria e excesso. Se são um capricho do escrivão ou
há algum elemento diferenciador (p.793). Bom número de casos que
não se pode precisar no que consistiu os delitos, de modo que a autora
prefere respeitar a literalidade empregada na descrição do delito;
 De modo que de 128 casos qualificados como sacrilégios, injúrias e
excessos, nota-se um elemento comum: a desmesura do uso da
palavra (pecados da língua, palavras excessivas), que em alguns
casos se acompanha do uso da violência física (manos airadas,
mãos iradas);
 O termo excesso se utiliza como sinônimo tanto de sacrilégio quanto
de injúria. Pelo contrário, o termo injúria (salvo 5 casos em que se
utilizam armas) implica violência verbal e determinados gestos
produzidos em lugares públicos (catedral ou procissões religiosas)
(p.793);
 15 casos nos quais se utilizou o termo insulto para qualificar palavras
injuriosas ou ofensivas, e 11 destas com as mesmas consequências
penais da injuria. Consistem em inultos comuns na literatura medieval
castelhana àqueles que afetavam a moral sexual, bem como aos
status/fama da pessoa (p.793). Segundo GONZÁLEZ, a injúria era
uma manifestação da dureza da sociabilidade cotidiana que
alcançou também aos ambientes clericais. Materializada como
agressão verbal (as vezes física) a injuria supunha um atentado contra
a honra da pessoa que se estendia ao corpo, status social e de sua
família;
 Maculava assim a fama, capital simbólico que os sujeitos desfrutavam
por meio de seu comportamento, mas que derivava da opinião dos
demais (MADERO 1992, Marta, p. 21-25 Manos violentas, palabras
vedadas. La injuria em Castilla y León (siglos XIII-XV), Madrid,
Taurus, 1992)
 Para que determinadas palavras e gestos se convertessem em
injúria, deveria haver uma intenção premeditada de provocá-la,
bem como ser produzida em lugares públicos. Se o injuriado era
uma pessoa de alta hierarquia, a injuria transpassava a rivalidade
pessoal e punha em dúvida a autoridade (HOREAU DODINAU
2002, p. 11(ed.) Dieu et le Roi. La répression de blasphéme et de la
injure au Roi à la fi n du Moyen Age, Limoges, Presses
universitaires de Limoges (Cahiers de l’Institut d’Anthropologie
juridique);
 Advogados difamados e criticados pela sua língua, prevaricação e
pleitos longos, injúrias que provavelmente colocava em dúvida sua
autoridade no ofício (e, fica o questionamento, até que ponto
afetavam seus ganhos financeiros e adesão aos pleitos? 1) ou
perdiam; 2) ou conseguiam se manter devido a clientes poderosos,
de alta patente política); (p.793)
 No contexto dos cabidos, a sala capitular (onde se reuniam os
monges e cônegos com seus superiores, priores, abades e deãos) e o
Coral eram os espaços do cenário hierárquico eclesiástico nos quais
mais ocorriam as violências verbais e conflitos (p.793). Ainda que o
Coro devesse ser regido pelo silêncio, existem diversos testemunhos
derivados das relações de autoridade e obediência entre beneficiários
maiores e menores do Coro, assim como os status dos canônicos
(p.793)
 Dos 48 casos julgados como sacrilégios implicaram agressão física
(exceto em 7) e o uso de armas, e somente em 7 ocasiões ocorrem em
solo sagrado, ainda que tivessem clérigos como protagonistas. Nada
parece diferenciar esses comportamentos de 23 agressões que
descrevem detalhadamente o dano físico causado, evidenciando assim
o peso significativo da violência física tivera no clero burgalês
durante o séc. XV (35,8% do total dos delitos e faltas
documentados) (p.793-794);
 No que toca ao sacrilégio e excesso, foram tratados também os casos
relacionados a moralidade sexual (concubinato clerical e adultério),
dos quais preocupava sobremaneira sua transcendência pública;
 Análise das penas e castigos impostos ao clero recortado pela autora
permite uma valoração entre a norma e sua aplicabilidade (p.794).
Até que ponto os métodos de pesquisa sobre as condutas do clero
diocesano e catedralício, bem como as práticas judiciais criadas
para os delitos foram eficazes na hora de corrigir e castigar as
faltas e delitos. Qual o grau de intolerância e tolerância ante tais
condutas e situações;

 2) Correção e Castigo das Faltas e Delitos do Clero burgalês:


 As Decretales de Inocêncio III (1198-1216) serviram de modelo ao
procedimento judicial que prevaleceria durante a Baixa Idade Média.
Nelas foi desenvolvido o procedimento de pesquisa (inquisitivo),
iniciada pelo juiz por ofício. Como finalidade última do procedimento
ex officio, o restabelecimento da harmonia da Igreja, bem como a
credibilidade dos clérigos. Porém, para que a pesquisa fosse colocada
em vigor, era necessária a existência de um clamor para investir
alguém, que sua fama fosse posta em dúvida (p. 794);
 No capítulo de Burgos, a pesquisa se revelou um instrumento idôneo
(até certo ponto) para defesa das instituições dos desvios de seus
ministros e fiéis. O conjunto de castigos e penas aplicados, um total de
193 casos de 282 (cujo testemunho fora registrado) demonstra que as
penalidades econômicas (94 casos) superam as de exílio (14 casos) e
cárcere (35 casos) p. 795. Porém, deve-se ter em vista que a sanção
econômica podia acompanhar as outras duas;
 Absolvição por falta de provas ou acordo entre as partes (25 casos)
demonstra um dígito importante quando cotejado com as três penas
anteriores;
 Quanto aos 89 casos nos quais não há rastro documental de sua
resolução, GONZÁLEZ considera que não seria longe de
realidade interpretá-los como acordos entre as partes do qual não
se deixou registro. Aceitar essa hipótese seria confirmar a tese de
BAZÁN da crescente importância que tiveram os sistemas de
negociações e arbitragens no sistema processual penal baixo-
medieval (BÁZAN Díaz, Iñaki (2012), La utilidad social del castigo
del delito en la sociedade medieval. “para esemplo, terror e castygo
de los que ovyesen”, en López Ojeda, Esther (coord.), Los caminos de
la exclusión en la sociedad medieval: pecado, delito y represión, XXII
Semana de Estudios medievales de Nájera (Agosto de 2011), Logroño,
Instituto de Estudios Riojanos, pp. 470, 2012) p.795
 Por outro lado, nove das penas pecuniárias combinaram o pagamento
de uma quantia com a prisão, ou um período mais ou menos
prologando de exílio (de uns dias a alguns anos), conforme a quase
metade das 14 penas de exílio aplicadas. De modo que a pena principal
de cárcere ou exílio era acompanhada de uma sanção financeira como
complemento (p.796);
 Apenas 7% dos 193 casos foram punidos com o exílio dos casos nos
quais se conhece a sentença ou a penalização de determinadas
condutas no séc. XV. Evidencia-se a função exemplar e preventiva
na comunidade de que novas altercações ocorressem por parte do
réu (GONZÁLEZ, p.797);
 No entanto, nos casos delitivos de injúria não se pode afirmar com
ênfase que a pena de desterro era acompanhada por lesões físicas
graves, diferentemente do que ocorria com penalizados por roubo
ou falsidade documental, em geral duramente penalizados (p.797);
 Segundo GONZÁLEZ, tal como as sanções financeiras, a missa de paz
acompanhava as sanções. De modo que o arrecadada pela multa seria
destinada à realização da missa de paz (ACB, 24/01/1449, Reg. 13,
f.12v: condena a algunos benefi ciados de 1.500 marav. destinados a
una misa de paz por insultarse en el coro: “fue ordenado por cabildo
que por quanto fue dada e echada pena a algunos benefi çiados que
fesieron insulto e delinquieron en iglesia a la ora de los maitines, la
qual pena fue tassada en mill e quinientos maravedíes, los quales
fueron para dar a una misa de pas que fue dicha. E por quanto la tales
penas se suelen comer en yantar e las dignidades levaron doble, que
de aquí adelante sean conservadas las penas en yantar”. ACB,
18/12/1452, Reg. 13, f. 81r: por el mismo motivo y con el mismo
destino fueron sancionados el racionero Fernández de Oña y el
canónigo Pedro Guerra con 700 y 300 marav. Respectivamente);
 1452, Estatuto de Injurias o Estatuo de correción y punición, crimes
da língua, palavras injuriosas no coro, na missa ou em reuniões
capitulares e as respectivas penalizações (1.000mrs, 3.000 mrs
quando com manos airadas e 6.000mrs com armas) p.797;
 A instituição capitular decidia a majoração ou diminuição das sanções
“segund la qualidad de las personas”, conforme suas posições
hierárquicas e sociais. Ao mesmo tempo, a reputação ou fama do réu
servia de critério de autenticidade das declarações testemunhais e
provas apresentadas nos processos judiciais abertos. A legislação
afonsina (Siete Partidas, especificamente) tem como critério de
mesura da gravidade da injuria o local onde fora cometida e a pessoa
ofendida, se distinguindo as injurias cometidas contra ascendentes e
patronos. De modo que não há lesão processual quando a pena
imposta ao infrator é proferida por um “superior” (PÉREZ, 1991,
p.128 La protección del honor y la fama en el derecho
histórico español, “Anales de Derecho);
 A missa de paz simbolizava o arrependimento e a restituição do dano
causado pelo membro do cabido e sua reincorporação à comunidade
clerical, projetando para além dos muros catedralícios a recuperação
da harmonia que fora posta em risco (p.797-798);
 Penas de maior monta (entre 1500 e 1200 mrs) se concentrando no que
GONZÁLEZ cataloga como delitos e faltas contra a honra da pessoa,
documentados com injúrias, insultos, brigas. Ambiguidade do termo
“injuria”, Em alguns casos refere-se a violência verbal, outros
verbal e física ao mesmo tempo, ou ainda não especificar seu
conteúdo. Ainda com o uso de armas, as penas pecuniárias aplicadas
nesses delitos raramente alcançaram 6.000 mrs, conforme estipulava o
estatuo de 1452 (p.798). Quatro exceções superam essa quantia (1.000
florins e outro entre 9.000 e 10.000 mrs). Em dois desses casos, as
atuações de um grupo de criados armados de um capelão do abade de
Covarrubias e de um canônico de Burgos, respectivamente respostas às
obrigações derivadas das relações de clientela, explicariam a
severidade das penas (p.798-799);
 Em ambos os casos, violência física provocada por um grupo de
homens com agravantes (o primeiro entra sem licença na casa de um
bispo, o segundo profere insultos que atentam contra o código de
honra que sustenta o status social no baixo medievo). Ainda que a
primazia fossem casos de injúrias verbais, em alguns casos
acompanhadas de violência física, a casuística das multas oscilava
entre 1.000 e 2.000 mrs, se estendendo ao roubo, desobedecia na
indumentaria e jogo (p.799);
 Sacrilégio, categoria especificamente contemplada pelo direito
canônico, da qual não havia intervenção de autoridades laicas (ainda
que faltem estudos sistemáticos similares para comprovação). Pena
que girava em torno de 600 mrs no século XV, o resto sem aplicação
de sanções pecuniárias (2 casos de 48 analisados pela autora);
 No que toca ao roubo, parece ter sido um delito minoritário no
clero de Burgos, visto seu escasso registro. Dois casos documentados
de furtos, com implicação de prisão e uma sanção econômica não
muito alta, quando comparada à justiça civil. Ao contrário, o jogo com
apostas consistia num espaço de atração para brigas e injúrias que
expunha as fraquezas do estabelecimento clerical ao produzir-se
fora do espaço eclesiástico (p.800); Pedro de Cuéllar deixava claro
que a dupla natureza de pecado (infâmia ao jogador) e delito (atentava
à ordem pública);
 Faltas que receberam as sanções mais elevadas (entre 1.000 a 2.000
mrs). A regulamentação do cabido de 1472, ainda que reconhecendo
que os jogos de dados e tabuleiro estavam vedados aos eclesiásticos,
tolerava as ganâncias até certa quantia (100 mrs, 300 pela santíssima
trindade) e deixava à consciência dos clérigos (segundo o tipo de jogo
e seu status dentro da hierarquia eclesiástica das pessoas que jogavam)
os limites de benefício econômico (ACB, 16/11/1472, Reg. 18, f. 459v)
 Evidencia-se que a preocupação do cabido de Burgos pela
regulamentação do jogo não era proporcional ao número de casos
(5 com sanção econômica). Possivelmente, não era fácil descobrir a
realização das apostas feitas acima dos limites impostos, salvo casos
de denúncia, consequência do desacordo entre jogadores (p.801);
 A aparência exterior foi outra constante preocupação das
regulamentações da vida social do clero. Tanto o penteado quanto a
indumentária eram fatores de diferenciação na sociedade medieval,
evidenciando status socioprofissionais e econômicos, bem como
grupos étnicos. Segundo GONZÁLEZ, se convertiam definitivamente
num instrumento para fazer visível a honra da pessoa (p.801);
 Consonante a sua política de reformas, o bispo Luis de Acuña (1459-
1495) promoveu na segunda metade do séc. XV o cuidado na
indumentária e no penteado do clero catedralício conforme sua
posição. Escapar ao controle que o cabido exercia sobre a aparência
externa se provava mais difícil para o clero catedralício que ao
paroquial, em virtude dos juízes nomeados no cabido tinham uma
função de vigilância nas formas de usar o hábito, penteados
(capitular de 1486); p.802;
 Celibato clerical e matrimônio, tema que ocuparam lugar central no
empenho de reforma da vida clerical, iniciada na reforma gregoriana,
sendo tema recorrente nos concílios sinodais e do baixo-medievo e
estatutos de cabidos catedralícios. Objetos de permanente vigilância e
regulação por parte do cabido burgalês (p.803);
 Apenas no Concílio de Basiléia (1431-1448) que a Igreja impulsiona o
celibato clerical como norma de cumprimento (Catalán Martínez,
Elena (2013), De curas, frailes y monjas: disciplina y regulación del
comportamiento del clero en el obispado de Calahorra, “Hispania
Sacra” 65, pp. 229-253). Pesquisas dirigidas contra clérigos com
concubinas, vigilância que se intensificaria com o zelo reformador do
bispado de Acuña, nas três últimas décadas do séc. XV (p.803-804);
 Tal zelo de reforma não reflete com a realidade das penalidades
documentadas (28, nas quais se incluía faltas sobre a moral sexual,
matrimônio e afins). O fato de que a legislação civil não considerar
infamante a barraganía explicaria o fato, bem como emblemáticas
advertências de Martin Pérez em seu Libro de Las Confesiones,
buscando indagar profundamente sobre a conduta sexual do
penitente (união legal entre casais solteiros) explica Córdoba de la
Llave, Ricardo (2012), Los caminos de la exclusión en la sociedade
medieval: pecado, delito y represión. La Península Ibérica, en López
Ojeda, Esther (coord.), Los caminos de la exclusión en la sociedad
medieval: pecado, delito y represión, Logroño, Instituto de Estudios
Riojanos, pp. 13-50) (p.804)
 Dos 15 casos denunciados, apenas 4 foram condenados. Um acabou
em acordo entre as partes, absolvido por falta de provas. Nove das
mulheres implicadas estavam casadas ou possuíam algum grau de
parentesco com o clérigo acusado. Dentre os condenados, as penas
consistiram em encarceramento com correntes, multas não
especificadas e excomunhão (p.804);
 Deduz-se que somente casos de grande notoriedade pública (como do
canônico Pedro Sánchez de Oteo) ocorriam privações de benefícios
eclesiásticos, haja visto a dificuldade de se apresentar provas e a
ausência quase total de penas pecuniárias, somada a norma de 1455, na
qual os clérigos beneficiados de Burgos, acusados de concubinato
seriam admoestados 3 vezes para depor sua conduta (p.804). Essa
notoriedade decorria do dano causado ao matrimônio canônico e os
limites impostos pelo parentesco, de modo que não eram estranhas
denuncias falsas de adultério e concubinato contra clérigos,
decorrentes de inimizades (p.804);
 Adultério considerado como delito grave pelos bispos do cabido
catedralício, ainda que menor que a fornicação, condenável
unicamente sy fuere muy contynuada o desonesta commo sy fuese a la
mançeba o muger pública ramera de día, criminalizada pela legislação
civil, porém o castigo paulatinamente foi se suavizando (Mendoza,
Garrido, José Manuel (2008), Mujeres adúlteras en la Castilla
medieval: delincuentes y víctimas, “Clío & Crimen” 5, pp. 151-186)
p.804;
 De modo que a maior defesa do matrimônio canônico reflete as
demandas do incumprimento de acordos matrimoniais. Nos casos
de violência à mulher, somente se condenam dois ao cárcere, em
virtude do escândalo público (p.805);
 Os delitos relacionados a moral sexual e injúria entraram desde a
segunda metade de do séc. XV nos processos que impunham a pena de
infâmia nas fontes normativas. Segundo GONZÁLEZ, os canonistas
medievais insistiam que o delito ou falta cometidos por uma pessoa
deveria ser conhecido por toda a comunidade para que o acusado fosse
coberto de infâmia e apartado, evitando-se assim o escândalo
(Mansferrer Domingo, Aniceto (2001), La pena de infamia en
Cataluña y Castilla, Madrid, Dykinson);
 Noção de escândalo como a chave para interpretar determinadas
lacunas entre norma e aplicação. Ao tratar das dioceses inglesas,
HELMHOLZ considera ambivalente a noção de escândalo, visto que
sua invocação servia tanto para motivar a correção de clérigos e laicos,
como pelo contrário, para renunciar a persecução de determinado
delito, para evitar o escândalo. O segundo caso se traduzia, muitas
vezes, numa tolerância para com os costumes que a Igreja tardo-
medieval deseja eliminar (Helmholz, Richard H. (2010), Scandalum in
the Medieval Canon Law and in the English Ecclesiastical Courts,
“Zeitschrift der Savigny-Stiftung für Rechtsgeschichte Kanonistische
Abteilung” 127, pp. 258-274)
 No que toca a excomunhão, pena espiritual que apartava o
acusado da comunidade de crentes que constituía a Igreja, aparece
apenas uma vez associada a uma pena pecuniária. Em última
instância, a gravidade da falta estava determinada pelo dano
econômico produzido. Dos 11 casos documentados, surge uma
tipologia variada de faltas e delitos: violência física, dívidas e
propriedades, concubinato clerical/descumprimento de acordos
matrimoniais (pp. 805-806);
 Número escasso quando relacionado com o costume denunciado pelo
bispo Acuña em suas constituições, segundo o qual os vicários
abusariam das penas de excomunhão ao aplica-las para faltas
leves. De todo modo, deve se levar em consideração a distinção que o
direito canônico estabeleceu entre excomunhão maior e menor,
tampouco que a excomunhão era doutrinalmente uma sanção espiritual
que buscava a emenda do réu pelo arrependimento, reversível
mediante a absolvição e uma quantia que se restituía (p. 805); (El
castigo del pecado: excomunión, purgatorio, infierno, en Esther López
Ojeda (coord.), Los caminos de la exclusión en la sociedad medieval:
pecado, delito y represión, XXII Semana de Estudios medievales
(Nájera, 2011), Logroño, Instituto de Estudios Riojanos, pp. 245-307)
 3) Clérigos e Laicos implicados em denúncias e delitos
 En el conjunto de los 282 casos de delitos y faltas estudiados, la mitad
tuvieron como protagonistas a personas de condición clerical (152
casos);
 casos en los que estuvieron implicados clérigos frente a laicos (109
casos), en su mayor parte éstos derivaron de faltas de los fieles
denunciadas por los clérigos de las iglesias de la diócesis aunque
hubo ejemplos también de lo contrario [...] (28 casos) tuvieron como
protagonistas a personas de condición seglar, cuyos conflictos
alcanzaron a la justicia eclesiástica (p.806)
 hechos sucedieron en espacios sagrados o que intervinieron en los
mismos personas vinculadas a los membros del clero por lazos de
parentesco y relaciones clientelares

 papel que jugaba el cabildo en el funcionamiento de la justicia


diocesana, centralizada en la Audiencia del obispo, era decisivo. [...]el
cabildo catedralicio ejercía la jurisdicción sobre sus miembros de
forma autónoma [...] Miembros del cabildo catedralicio eran
designados como jueces y fi scales de la Audiencia episcopal.
Arcedianos los encargados de perseguir y castigar los delitos en
sus respectivas circunscripciones diocesanas o arcedianatos
(p.807);
 A su vez, los clérigos con cura de almas debían rendir cuentas
tanto al arcediano como al obispo o a sus oficiales de justicia de las
faltas y los delitos cometidos o que se habían de corregir entre los fi
eles de sus iglesias [...]
 O clero vinculado ao cabido exerceu um notável protagonismo, tanto
como gerador de tensões quanto controlando e corrigindo condutas.
Beneficiados maiores como focos de tensão ou alvo de correções,
seguido dos beneficiados menores. De modo que os canônicos
parecem ter mantido conflitos tanto com outras dignidades e
representantes episcopais quanto beneficiados inferiores (racioneros,
médios racioneros y capelães) bem como contra os laicos (mercadores,
oficiais de justiça, comerciantes) p.807-808
 Do mesmo modo, não se pode esquecer dos castigos impostos pelo
cabido pelo descumprimento de normativas referentes à indumentária,
jogo e moral sexual [...] Entre os beneficiados menores que
protagonizaram algum tipo de enfrentamento com a legislação,
destacam-se os racioneros, médios racioneros e capelães que serviam
nas diferentes capelas da catedral. Membros de ambos setores
representaram na mesma medida enfrentamentos contra dignidades ou
canônicos e penalizações relativas à normas e condutas impostas pelo
cabido (p.808);
 Não obstante, que alguns dos beneficiados podia pertencer ao círculo
de dependentes das dignidade e do bispo [...] Porém, destacam-se as
rivalidades entre os servidores de algumas capelas, especialmente
àqueles que tocam os beneficiados menores e capelães do Número e as
rixas que mantinham contra os capelães da Catedral de Burgos,
quando o bispo Alonso de Cartagena, em 1449, os equiparou após a
fundação da Capela de la Visitación. Os primeiro alegavam possuir
mais direitos pela sua antiguidade, de modo que a disputa se
prolongaria durante a segunda metade do século XV, explicando em
grande medida a tensa atmosfera das injúrias e reações violentas
(p.809);
 Capelães desfrutando do mesmo status que os médios racioneros: “El capellán del
Número, Juan Alonso el Rojo, protagonizó um enfrentamiento con el capellán
Juan Martínez de Pampliega que reavivó el debate sobre la capacidad del cabildo
para juzgar y castigar a los capellanes del Número” ACB, 03/11/1458, Reg. 16, f.
54r.
 Por outro lado, as violências verbais ou físicas protagonizadas pelos racioneros e
médios não podem ser desvinculadas de sua diferença de status para com os
beneficiados maiores, tanto na capacidade econômica quanto no que toca o poder
de decisão. Em 1430 os médio racioneros iniciaram um processo de reclamação
do direito à voto nos cabidos, que se prolongaria além do séc. XV.
 Dignidades e canônicos aproveitaram-se do fato de que os beneficiados inferiores
não estavam obrigados a ordenar-se in sacris, estando desse modo excluído da
tomadas de decisões os racioneros e médios, disfrutando apenas de ordens
menores (p.809);
 Clero das igrejas e paróquias da dioceses de Burgos foi objeto frequente de
denúncias por parte dos fiéis, e ao mesmo tempo alvo do sistema inquisitivo que
desde a sede episcopal e catedralícia se projetava nos arcedianatos com a
finalidade de detectar desvios da norma. Fruto do labor de inspeção realizado
pelos arcedianos são as listas de faltas que marcaram os atos capitulares em datas
específicas (1418 e 1423). Em ambos, 55 das faltas e delitos registrados
implicaram em denúncias de fiéis laicos aos clérigos de suas paróquias e igrejas
locais, frente a 25 casos nos quais estavam implicados casos de clérigos contra
clérigos da diocese (p.810)    
 Denúncias que se centravam na violência física e verbal, consequência final de
tensões latentes; concubinato clerical (ainda que muitas falsas, desvelando uma
estratégia de descrédito dos clérigos, em virtude de hostilidades prévias);
descumprimento de deveres e falta de honestidade (simonia) Segundo
GONZÁLEZ, conclui-se que o clero paroquial era o menos formado e o que
recebia menos ingressos, ainda que seus delitos e denúncias formulados não
diferiam significantemente das dirigidas contra o clero catedralício (p.810);
 Documentação catedralícia oferecendo informações sobre os delitos de seculares
(30 casos). A razão para que conflitos laicos fossem perseguidos pela justiça
eclesiástica, segundo GONZÁLEZ, reside no fato de que muitas derivassem de
redes clientelares eclesiásticas [...] Ainda que não especificado na demanda inicial,
o resto dos casos derivados de violência verbal e física entre laicos, supõe-se que
tenha ocorrido em espaços sujeitos a jurisdição eclesiástica (p.810-811);

 4) Conclusões
 Castigos derivados do sistema de pesquisa e visita às igrejas diocesanas,
juntamente com os processos judiciais abertos pelos bispos e cabido de Burgos no
séc. XV oferece uma imagem de uma instituição e clero diocesano que
compartilhava a dureza cotidiano do resto da sociedade baixo medieval (violência
física, verbal e indisciplina) (p.811);
 Por uma visão angular, os 282 casos de delitos e faltas nas atas de Burgos entre
1418 e finais do século XV confirmam o fato, ainda que a análise da normativa
sinodal e capitular em conjunto com os casos penalizados para cada falta e delito
(e sanções aplicadas) distorça a primeira visão: Las penas económicas más
elevadas que son las mayoritarias y complementarias a veces de la pena de
cárcel y la de destierro, se aplican a los delitos de injuria, juego y hurto. La
injuria es el delito documentado con mayor frecuencia pero el juego y el hurto
los son bastante menos de lo que cabría esperar de la permanente regulación de
que fueron objeto en los sínodos bajomedievales y en los estatutos del cabildo
burgalés desde mediados del siglo XV (Injúria, delito mais comentado, enquanto
jogatina e furtos foram o menos documentados. O mesmo se aplica aos crimes de
moral sexual e aparência externa dos clérigos); p.811
 Variabilidade das quantias de sanções econômicas por faltas e delitos semelhantes,
abuso de penas de excomunhão, assim como casos de absolvição por falta de
provas e casos nos quais a sentença não foi registrada, demonstra uma aparente
desproporção entre norma e aplicação. A regulação das condutas através de
estatutos (Estatuto de corrección y punición) e normas pontuais foi constante. De
modo que fica o questionamento por parte de GONZÁLEZ se estaríamos ante um sistema
penal tolerante às práticas e limitado quanto ao número de faltas e delitos que foram
processados. Afirmar tal fato sem sombra de dúvidas seria errôneo, pois
significaria negligenciar as características definidoras da justiça medieval
eclesiástica, que podem ser observadas no caso de Burgos (p.811-812);
 Primeiramente, com relação ao número de casos processados e a variabilidade na
severidade das penas impostas, não se pode ignorar a oralidade do sistema
processual imperante no séc. XV e sua flexibilidade. De modo que estamos ante
uma justiça na qual o tramitar do processo penal era compatível com a negociação
prévia entre as partes e práticas de arbitragem. Os acordos e práticas e reinserção
de infratores na comunidade (missas de paz), depois de restituir o dano realizado,
minoravam o efeito do escândalo e favoreciam o fim último da justiça eclesiástica:
assegurar a paz e ordem social de acordo com a disciplina da Igreja (p.812);
 Precisamente as sanções econômicas ou de outro tipo se aplicaram a determinadas
condutas ou atos quando alcançavam notoriedade pública. Porém, o contrário
também ocorria, visto que as consequências de lançar a luz possíveis faltas e
delitos foram utilizadas como argumento para evitar o processo penal em favor de
práticas negociadoras (p.812);
 Em segundo lugar, em relação a flexibilidade da aplicação da justiça eclesiástica,
é preciso sublinhar o papel determinante que teve o status e a reputação (fama) da
pessoa. Esse é um fator diretamente vinculado ao peso das redes clientelares
tiveram na estrutura hierárquica e social do clero. Ao mesmo tempo, é um fator
que ajuda a compreender o protagonismo que a injúria alcançou entre os delitos e
faltas dos clérigos de Burgos. As injúrias verbais e agressões físicas não são outra
coisa se não a ponta do iceberg de conflitos de interesses provocados pelos
diferentes status e capacidade econômica entre membros maiores (dignidades e
canônicos) e beneficiados menores (racioneros, capelães do Número), bem como
outras categorias (p.812);
 De modo que para conter as injúrias, o cabido elaborou regulamentos e uma
prática judicial, assim como para prevenir e detectar adultérios, jogatina e
descumprimentos da norma eclesiástica. De modo que o desenvolvimento das
práticas judiciais pelo Bispo e cabido de Burgo durante o séc. XV foi bastante
intenso, porém a eficácia limitada, a julgar pela aparente desproporção entre
norma e aplicação. Aparente, visto que a desproporção seria um efeito da
distorção produzida na prática penal pela flexibilidade e característica
concorrente própria da natureza da justiça eclesiástica (812-813);
 De qualquer modo, é indubitável que o uso de práticas judiciais para modelar as
condutas dos clérigos e laicos de acordo com a doutrina da disciplina clerical
colidiu com as resistências geradas pelos laços de parentesco e clientelismo, assim
como os costumes fortemente arraigados no clero castelhano medieval (p.813);

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