Você está na página 1de 2

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

(UNESP)
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS, DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA –
câmpus de Assis
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA (LICENCIATURA)

Disciplina: História Medieval


Professor Responsável: Leandro Alves Teodoro

ALUNO: Thiago Pereira Camargo Comelli

Nessa pesquisa, busco demonstrar como a correção da conduta dos advogados pôde
ajudar a combater o pecado da prevaricação, bem como a representação jurídica nas
Ordenanzas como um quadro institucional jurídico de emenda deontológica, tributária
da edificação moral eclesiástica em língua vernacular e de legislações precedentes, em
especial as Siete Partidas de Alfonso X. Ao analisar a atuação desses letrados na tramitação
dos pleitos e na construção do hecho, bem como a emenda da atuação advocatícia pelos
corpos documentais trabalhados no que toca o pecado linguístico da prevaricação, tentarei
demonstrar a existência de uma correção teológica vernacular do que denominarei como
“exemplas jurídicos” num contexto de humanismo cristão castelhano. Na mesma toada,
tratarei de pensar a voz do advogado ideal como a divulgação da lex positiva e justa, clara e
sintética, sem delongas desnecessárias visando ganhos materiais, e sobretudo consciente de
seu papel como intermediário da justiça, esclarecendo a lide de maneira impessoal e
honrosa.
Tanto as Ordenanzas as los abogados e procuradores de 1495 e a Confessionale
“Defecerunt” de 1492 consistem num suporte escrito documental que registram o intuito
de emendar dois sentidos, o da fala (o exercício da oralidade nos pleitos construindo um
hecho) e da audição (a mensagem recebida e seu efeito na tessitura da crença do ouvinte,
que será convencido, corrigido ou emendado pelo dito, bem como o peso do status de
exterioridade santa ou digna daquele que transmite a mensagem). Em suma, no decorrer da
pesquisa tratarei das críticas às falas dos advogados e procuradores no pleito e a
introjeção de um pensamento presente nas prédicas vernaculares, que consideravam o
conhecimento, a sabedoria, como uma dádiva divina, cedida pela Graça divina, que se
tornariam ainda mais viáveis graças ao projeto linguístico castelhano de Antonio de
Nebrija.
Portanto, a emenda da língua dos procuradores e advogados e de sua atuação são
impensáveis sem levar em consideração a produção vernacular penitencial castelhana e os
diferentes enfoques conforme as condições e estamentos nas décadas finais do século XV,
bem como o reformismo institucional impetrado pelos monarcas católicos. Juntamente com
sua corte, evidencia-se o zênite das tentativas de regulação profissional dos advogados e
procuradores, ofício com posição estamental relativamente flexível, graças às relações
privadas de patronato e clientelismo. Portanto, a Corte de Fernando e Isabel demonstram
um novo contrapeso frente as liberdades políticas e burocráticas da alta nobreza castelhana
de Enrique IV, limitadas agora por uma monarquia centralizadora e reformista

Você também pode gostar