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Promoção à Saúde do Idoso

Dr. Rafael Saad


Graduação em Medicina pela FMUSP
Residência em Clínica Médica e ano adicional em Clínica Médica
pela FMUSP
Extensão universitária em Geriatria e Promoção à Saúde pela USP
Doutor em Ciências pela USP – área de Educação e Saúde
Docente do curso de Medicina do UniSalesiano
Supervisor Residência em Clínica Médica da Santa Casa Araçatuba
PROMOÇÃO À SAÚDE DO IDOSO

- RASTREAMENTO

- ACONSELHAMENTO

- QUIMIOPROFILAXIA
RASTREAMENTO
Níveis de prevenção
Prevenção de doenças

Fase pré-patogênica
Fatores de risco

PREVENÇÃO Fase inicial da doença


PRIMÁRIA Rastreamento precoce

PREVENÇÃO Fase de doença franca


SECUNDÁRIA Tratamento e reabilitação

PREVENÇÃO
TERCIÁRIA
Rastreamento na população geriátrica

 Heterogeneidade da população:
1. Estimar a expectativa de vida do indivíduo
2. Estimar o risco de morrer por aquela condição
3. Determinar o benefício potencial do
rastreamento
4. Pesar os danos diretos e indiretos do
rastreamento
5. Avaliar os valores e preferências do paciente
Rastreamento – princípios
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/webview
Viéses dos estudos de rastreamento
 Viés de seleção:
 amostras (grupos) que serão comparadas durante
o estudo possuem características diferentes que
podem influenciar o desfecho.
 voluntários → tende a aderir mais às orientações,
a ser mais saudável e preocupada com a saúde e a
ter baixas taxas de mortalidade não somente para
a doença específica.
Víes de duração da doença
Viés em rastreamento
lenght time bias
Viés em rastreamento
lead time bias – viés de tempo de antecipação
Viés em rastreamento - lead time bias, viés de
tempo ganho, viés de tempo de antecipação
Viés em rastreamento
overdiagnosis - sobrediagnóstico
FMUSP 2018 - Um estudo populacional na Coréia do Sul avaliou a
incidência de neoplasia de tireoide ao longo de vários anos, assim como
a mortalidade por neoplasia de tireoide no mesmo período. A figura
abaixo resume os achados do estudo.
FMUSP 2018 - Um estudo populacional na Coréia do Sul avaliou a
incidência de neoplasia de tireoide ao longo de vários anos, assim como
a mortalidade por neoplasia de tireoide no mesmo período. A figura
abaixo resume os achados do estudo.

 Baseado neste estudo, assinale a


alternativa correta:
(A) O rastreamento não foi
acompanhado do viés de tempo de
duração.
(B) O rastreamento não se
acompanhou de maior mortalidade
devido ao viés de tempo ganho.
(C) Houve sobrediagnóstico da doença.
(D) O rastreamento desta neoplasia é
justificável com base nesses dados.
Rastreamento de Depressão
 No último mês, você com frequência perdeu o
interesse ou o prazer de fazer alguma coisa?
 No último mês, você com frequência se sentiu
triste, deprimido ou desesperançoso?

 Geriatric Depression Scale (GDS)


ESCALA DE DEPRESSÃO GERIÁTRICA - GDS
 1. Está satisfeito (a) com sua vida? (não =1) (sim = 0)
 2. Diminuiu a maior parte de suas atividades e interesses? (sim = 1) (não = 0)
 3. Sente que a vida está vazia? (sim=1) (não = 0)

 4. Aborrece-se com frequência? (sim=1) (não = 0)


 5. Sente-se de bem com a vida na maior parte do tempo? (não=1) (sim = 0)

 6. Teme que algo ruim possa lhe acontecer? (sim=1) (não = 0)

 7. Sente-se feliz a maior parte do tempo? (não=1) (sim = 0)


 8. Sente-se frequentemente desamparado (a)? (sim=1) (não = 0)

 9. Prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas? (sim=1) (não = 0)

 10. Acha que tem mais problemas de memória que a maioria? (sim=1) (não = 0)

 11. Acha que é maravilhoso estar vivo agora? (não=1) (sim = 0)

 12. Vale a pena viver como vive agora? (não=1) (sim = 0)

 13. Sente-se cheio(a) de energia? (não=1) (sim = 0)


 14. Acha que sua situação tem solução? (não=1) (sim = 0)

 15. Acha que tem muita gente em situação melhor? (sim=1) (não = 0)
Total ≥ 5 = suspeita de depressão
Risco de quedas
 Perguntar sobre quedas nos últimos anos
 Teste de levantar e sair (Time Get Up and Go Test)
Visão
 Evidências insuficientes
para redução de desfechos
ruins pelo rastreio
 Tabela de Snellen
Audição
 “Você diria que tem alguma dificuldade em ouvir?”
 Teste audiométrico

 Auxílios/aparelhos auditivos
 Evidências insuficientes para rastreio (baixa taxa
de adesão aos aparelhos após 1 ano)
Comprometimento cognitivo
 Sem recomendação pela USPSTF
- Evidência limitada de terapias farmacológicas e
comportamentais
- Rotulado – “demência”

 Escalas úteis (mais para diagnóstico de queixa


cognitiva do que rastreamento em assintomático):
- Mini-exame estado mental (MEEM)
- Montreal Cognitive Assesssment (MOCA)
Osteoporose
 Densitometria óssea coluna lombar e fêmur
proximal
 Mulher maior que 65 anos (B-USPSTF)

 Mulher pós-menopausa menor que 65 anos com

fatores de risco - fratura quadril em pais,


tabagismo, etilismo, baixo peso (B-USPSTF) →
utilizar calculadora de risco:
FRAX > que mulher 65 anos sem fatores de risco
https://www.sheffield.ac.uk/FRAX/tool.aspx?country=55
 Homem maior que 70 anos? (I-USPSTF)
Aneurisma Aorta Abdominal
 Ultrassonografia – única vez
 Homens 65-75 anos com histórico de tabagismo
(B-USPSTF)

 Aneurisma > 5,5cm


 Rever condições clínicas para cirurgia aberta ou
endovascular
Doenças infecciosas – pessoas em risco

 Hepatite B (B)
 Hepatite C (B)
 HIV (A)
 Sífilis (A)
HAS / DM / DLP / Obesidade
Rastreamento de câncer
 Mama
Mulheres 50 – 69 anos bienal (B) - cada 2 anos
 Colorretal

50 a 75 anos (A); 45 a 49 anos (B); 76 a 85 anos (C)


- Pesquisa sangue oculto nas fezes (anual)
- Colonoscopia (cada 10 anos)
 Cervical (colo de útero)

21 até 65 anos a cada 3 anos (A)


 Pulmão

TC de baixa dose radiação, anual dos 50 aos 80 anos,


TBG>20maços/ano, cessaram há menos de 15 anos (B)
ACONSELHAMENTO
Modelo Transteórico
 Este modelo sustenta o que segue:
- A mudança de comportamento dá-se de maneira
gradual, em etapas e a recaída é uma delas (fases
de motivação);
- O questionamento sobre os prós e os contras da
mudança (balanço decisório) permanecem durante
todo o processo;
- Quanto maior for a percepção que a pessoa tem
de sua capacidade de mudar, maiores serão suas
chances de sucesso (auto-eficácia).
Fases Motivacionais (estágios de mudança)
 Pré-contemplação – resistência
 Contemplação – ambivalência
 Preparação – determinação
 Ação – concretização (atingiu meta saudável para
hábito)
 Manutenção – permanência (>6 meses)

 Recaída
Aconselhamento
 Atividade física
 Alimentação
 Estresse
 Higiene Bucal
 Tabagismo
 Álcool
 Drogas
 Comportamento sexual
 Risco de Acidente de Trabalho, Trânsito, Doméstico
 Exposição a raios UV
 Sono
Aconselhamento atividade física
 30 minutos atividade física moderada na maioria
dos dias da semana (150 min/sem)
Aconselhamento nutricional
 Reduzir gorduras e sal
 Aumentar frutas, vegetais e grãos contendo fibras
 Avaliar peso nas consultas periodicamente
Tabagismo
 Dependência química
- Fagerström

 Dependência
comportamental

 Dependência psíquica
Aconselhamento tabagismo
Tabagismo – terapia farmacológica
 Vareniclina

 Terapia de reposição de nicotina (TRN)


- Adesivo (21 mg → 14 mg → 7 mg)
- Goma (2 ou 4 mg)
- Pastilha
 Bupropiona

Segunda linha:
 Nortriptilina
QUIMIOPROFILAXIA
Quimioprofilaxia
 AAS (controverso atualmente)
 Vacinas (Calendário de vacinação do Idoso - Recomendações da
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) – 2022/2023):
- Covid-19
- Influenza
- Pneumocócicas
- Dupla Adulto (tétano)
- Herpes zoster
- Hepatite B
- Sarampo, Caxumba, Rubéola
- Febre Amarela (viagem para áreas de risco)
- Meningocóccica conjugada (áreas de risco e surto)
Influenza
 Dose única anual.
 Os maiores de 55 anos fazem parte do grupo de
risco aumentado para as complicações e óbitos
por influenza.
 Vacina influenza 4V (rede privada)
 Vacina influenza 3V (SUS)
Pneumocócica
 VPC13 (rede privada) e VPP23 (SUS)
 Uma dose da VPC13 → uma dose de VPP23 seis a
12 meses depois → segunda dose de VPP23 cinco
anos após a primeira.
 Se a segunda dose de VPP23 foi aplicada antes
dos 60 anos, está recomendada uma terceira dose
depois dessa idade, com intervalo mínimo de cinco
anos da última dose.
Dupla adulto (difteria e tétano)
 Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (difteria,
tétano e coqueluche) – dTpa – especialmente para
idosos contactantes de lactentes
 Dupla adulto (difteria e tétano) – dT – cada 10 anos
 Com esquema de vacinação básico incompleto: uma
dose de dTpa a qualquer momento e completar a
vacinação básica com uma ou duas doses de dT
(dupla bacteriana do tipo adulto) de forma a
totalizar três doses de vacina contendo o
componente tetânico. 0 - 2 - 4 a 8 meses.
Herpes zóster
 Rotina a partir de 50 anos.
 Esquemas:

▪ Vacina herpes-zóster atenuada (VZA - Zostavax©)

– dose única
▪ Vacina inativada recombinante (VZR - Shingrix©) –

duas doses com intervalo de dois meses (0-2)


• A VZR é preferível pela maior eficácia e duração da
proteção.
• A vacinação está recomendada mesmo para
aqueles que já desenvolveram a doença.
Herpes zóster
 Intervalo entre quadro de HZ e vacinação:
VZA - 1 ano.
VZR - 6 meses ou após resolução do quadro,
considerando a perda de oportunidade vacinal.
• VZR recomendada para vacinados previamente
com VZA, respeitando intervalo mínimo de dois
meses entre elas.
• Uso em imunodeprimidos: VZA é contraindicada;
VZR é recomendada (consulte os Calendários de
vacinação SBIm pacientes especiais)
Febre amarela
 Para idosos não previamente vacinados e
residentes em áreas de vacinação, após avaliação
de risco/ benefício.
 Dose única.

• Embora raro, está descrito risco aumentado de


eventos adversos graves na primovacinação de
indivíduos maiores de 60 anos. Nessa situação,
avaliar risco/benefício.
• O uso em imunodeprimidos deve ser avaliado pelo
médico
Hepatite A e B
 Hepatite A - duas doses, no esquema 0 - 6 meses.
- Na população com mais de 60 anos é incomum
encontrar indivíduos suscetíveis. Para esse grupo,
portanto, a vacinação não é prioritária.
- A sorologia pode ser solicitada para definição da
necessidade ou não de vacinar. Em contactantes
de doentes com hepatite A, ou durante surto da
doença, a vacinação deve ser recomendada.
 Hepatite B - três doses, no esquema 0 - 1 - 6
meses.
Meningocócicas
 Meningocócicas conjugadas ACWY
 Meningocócicas C
 Surtos e viagens para áreas de risco.
 Uma dose.
Tríplice viral - sarampo, caxumba e rubéola

 Situações de risco aumentado (surtos, viagens,


entre outros).
 Uma dose.
 A indicação da vacina dependerá de risco
epidemiológico e da situação individual de
suscetibilidade.
 Na população com mais de 60 anos é incomum
encontrar indivíduos suscetíveis ao sarampo,
caxumba e rubéola → vacinação não é rotineira.
 Contraindicada para imunodeprimidos.
Bibliografia
 Manual do residente de clínica médica / Mílton de
Arruda Martins. 3. ed. Santana de Parnaiba, SP :
Manole, 2023.
Seção 2 – Promoção da Saúde.
 Current: Geriatria – Diagnóstico e Tratamento. 2015.
Brie A. Williams. McGrawHill.
 https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/
Acessado em 08/03/2023
 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Rastreamento. Brasília, 2010.
 Calendário da SBIm de Vacinação do Idoso 2022/23
https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-idoso.pdf

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