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Licenciatura em Ciências Empresariais

Análise Financeira

IV ANÁLISE DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO


4.1 Abordagens tradicional e funcional

Noção de equilíbrio financeiro

 Abordagem tradicional:
O estudo do equilíbrio financeiro faz-se através da confrontação
temporal da exigibilidade das responsabilidades com a liquidez dos
ativos, utilizando o fundo de maneio como indicador.

Para promover este equilíbrio:


• A aquisição de Ativos Não Correntes deve ser financiada com
Capital Permanente (Capital Próprio ou Passivo Não
Corrente);
• A aquisição de bens e serviços destinados a serem
incorporados no processo de produção (Ativo Corrente) deve
fazer-se com recurso a financiamentos de curto prazo
(Passivo Corrente).

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Noção de equilíbrio financeiro

Regra do equilíbrio financeiro mínimo

“Os capitais utilizados por uma empresa para financiar um


investimento, um inventário ou outro elemento do ativo devem
ficar à disposição da empresa durante um período de tempo que
corresponda, pelo menos, ao da duração do investimento, do
inventário ou outro elemento do ativo.” (Silva, 2011, p.75)

Ou seja, a cumprir-se sempre estas regras, o Ativo Corrente


seria de igual montante ao Passivo Corrente e o ativo Não
Corrente de igual montante aos Capitais Permanentes.

Noção de equilíbrio financeiro

Constrangimentos que põem em causa a regra do equilíbrio financeiro mínimo:

O grau de liquidez dos AC é, regra geral, inferior ao de exigibilidade dos PC. Por
exemplo, normalmente o ciclo de transformação dos inventários em dinheiro é mais
longo do que o do crédito concedido pelos fornecedores;

Parte dos AC têm caráter de permanência devido ao processo de renovação contínua,


impondo-se, assim, o uso de capitais com as mesmas características;

A duração do ciclo de exploração pode influenciar o montante das NFM. Normalmente,


o setor industrial é mais exigente do que o comercial, sendo necessário para o primeiro
considerar o tempo de transformação da matérias-primas em produto acabado;

A fase do ciclo de vida da empresa. Momentos de expansão podem traduzir-se em


necessidade de maiores volumes de inventários e de créditos concedidos a clientes;

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Noção de equilíbrio financeiro

Risco ciclo das origens e ciclo das aplicações:

• O ciclo das origens de fundos reflete-se no crédito obtido por parte do


fornecedor (fonte de financiamento) e torna-se como certo (ou seja, sem
risco) no o prazo de pagamento da respetiva fatura,

• No ciclo das aplicações a mesma operação representa um investimento em


termos de aquisição de stock, cuja venda está sujeita a pedidos por parte
dos clientes e respetivo recebimento. Ou seja, o ciclo das aplicações
envolve algum risco, dado que:
• Nem todos os stocks são vendidos pelos preços previstos e nos
prazos estimados;
• Nem todos os Clientes liquidam as suas dívidas nos prazos devidos.

Noção de equilíbrio financeiro

Há a necessidade de garantir uma margem de segurança para


fazer face a contingências que afetem o equilíbrio financeiro (ex.
rotação lenta dos inventários, atrasos nos recebimentos)

Assim, os capitais permanentes devem satisfazer, não só, os ativos


não correntes, como também, parte das necessidades correntes

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Noção de equilíbrio financeiro

 Abordagem funcional:
O estudo do equilíbrio financeiro faz-se pela abordagem temporal
dos ativos e passivos, considerando os vários ciclos empresariais,
privilegiando-se a análise dos fluxos monetários e utilizando a
tesouraria líquida como principal indicador.

Isto é, para a obtenção do equilíbrio financeiro é


necessário garantir uma margem de segurança capaz de
garantir o ajustamento decorrente do ciclo de
transformação dos ativos em dinheiro face ao grau de
exigibilidade dos passivos, considerando riscos específicos
e de mercado (ex. risco de crédito e de taxa de juro)

Balanço para a análise do equilíbrio financeiro

Ativo económico Capital de financiamento


Necessidades de fundo de Endividamento de curto
maneio temporário prazo
Temporário (variações sazonais em Curto prazo
clientes e stocks)

Necessidades de fundo de Capitais estáveis


maneio permanente e ativo
Permanente não corrente Permanente

Fonte: Silva (2011, p.79)

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IV ANÁLISE DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO


4.2 Fundo de maneio, necessidade de fundo maneio e
tesouraria líquida
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Noção de fundo de maneio

O Fundo de Maneio (FM) pode ser entendido de duas formas:

• FM = excedente dos capitais permanentes s/ o valor dos


investimentos (na ótica estrutural)

FM Financiamento = (CP+PNC) - ANC

•FM = excedente dos valores correntes s/ as dívidas de CP (na


ótica da liquidez)

FM Funcionamento = AC- PC

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Noção de fundo de maneio

FM = 0, indica que os fundos estáveis igualam os ANC pelo


que não financiam o ciclo de exploração – FM nulo

FM >0, indica que parte dos fundos estáveis financiam o ciclo


de exploração – FM superavitário

FM<0 significa que parte dos fundos não estáveis (passivo de


curto prazo) financiam os ANC (fator de risco) – fundo de
maneio deficitário.

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Noção de fundo de maneio

Causas para alterações significativas no FM, na ótica estrutural:


Alterações nos Capitais Permanentes:
• Aumentos e diminuições de Capital;
• Pedidos e reembolsos de Financiamentos a Médio Longo Prazo;
• Distribuição de Resultados;
• Cobertura de Prejuízos pelos Sócios / Suprimentos;
• Ajustamentos em Ativos Financeiros;
• Excedentes de Revalorização de Ativos Fixos Tangíveis e Intangíveis
• Obtenção de Resultado Líquido do Período anual.

Alterações no Ativo Não Corrente:


• Realização de novos Investimentos;
• Alienações;
• Imparidade de Investimentos;
• Aumentos e Reduções de Justo Valor.

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Necessidades
de fundo de maneio

Necessidade de fundo de maneio (NFM) = Necessidades Cíclicas


(NC) – recursos Cíclicos (RC)

As necessidades de fundo de maneio dependem geralmente:


• Do ciclo de exploração, nomeadamente do nível de rotação dos
stocks);
• Dos prazos médios dos recebimentos dos créditos concedidos
aos clientes;
• Dos prazos médios de pagamento obtidos dos fornecedores
• Nível de atividade (aumento do volume de negócios ou
diminuição).

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Necessidades
de fundo de maneio

O valor das NFM varia muito consoante o setor.


• Na grande distribuição é usual ser negativo devido à elevada
rotação dos stocks, de receber dos clientes a pronto e pagar aos
fornecedores em prazos longos (ciclo de exploração é negativo);
• No setor da construção ou no setor industrial as NFM tendem a
ser elevados por ter um ciclo de exploração longo (PMR >PMP e
baixa rotação dos inventários).

NFM > 0 implicam geralmente um FM >0, ou seja uma maior


pressão em termos de necessidades de financiar a empresa com
capitais permanentes e uma maior pressão ao nível da tesouraria.

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Necessidades
de fundo de maneio

NFM = Necessidades de exploração (NE) – PMP

•Dias de rotação de stocks


• Duração do ciclo de exploração
• PMR

Ex. Suponha uma empresa com as seguintes condições:

• Crédito concedido a clientes: 50.000€;


• Stocks: 20.000€;
• Crédito negociado com fornecedores: 30.000€.

NFM = 50.000 + 20.000 – 30.000 = 40.000€


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Tesouraria Líquida

A Tesouraria Líquida pode ser calculada de duas formas:

• Tesouraria Líquida (TL) = Tesouraria Ativa (TA) – Tesouraria


Passiva (TP)

• Tesouraria Líquida (TL) = Fundo de Maneio (FM) –


Necessidades de Fundo de Maneio (NFM)

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NFM vs FM

Tesouraria Capitais
permanentes

Se NFM > FM Deficitária Insuficientes

Se NFM < FM Excessiva Excessivos

Se NFM = FM Equilibrada Estrutura ótima

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Tesouraria Líquida

Tesouraria Deficitária (com saldo negativo), ou seja, FM < NFM:


• Políticas incorretas em termos de Investimentos e de
Financiamentos;
• Excesso de Ativos Não Correntes;
• Fraco ritmo das Depreciações e Amortizações anuais;
• Fracos níveis de rendibilidade (essencialmente a nível do Resultado
Líquido do Período);
• Excessiva distribuição de lucros;
• Elevados níveis de NFM;
• Elevados montantes ou prazos de créditos concedidos;
• Elevados níveis de stocks (por motivos de sazonalidade, por
exemplo);
• Baixos montantes ou prazos de créditos obtidos.
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Tesouraria Líquida

Tesouraria Excedentária (com saldo positivo), ou seja, FM > NFM:


• Elevados níveis de auto-financiamento e/ou rendibilidade;
• Fraco ritmo de realização de novos Investimentos;
• Excessivas Depreciações e Amortizações anuais;
• Políticas de Financiamento muito conservadoras (por via da
sistemática retenção de lucros ou do excessivo recurso a Créditos
a Médio Longo Prazo);
• Capitais Permanentes demasiado elevados. Os Capitais
Permanentes devem ter um nível e estrutura equilibrados, de forma
a não comprometer a rendibilidade da empresa ou a sua
capacidade de endividamento.

Esta situação, embora desejável. pode dar origem as situações que


comprometem o crescimento sustentável da empresa a médio longo
prazo.

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Análise Financeira

ANÁLISE DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO


Balanço funcional

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Perspetivas do balanço

 Perspetiva patrimonial
Balanço encarado como um conjunto de ativos (bens e direitos) e
passivos (obrigações), sendo a diferença entre estas duas
grandezas o património líquido, o qual representa a propriedade
dos sócios ou acionistas.

Fonte: adaptado de Neves (2012, p.145)

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Perspetivas do balanço

 Perspetiva financeira
Balanço encarado como origem e aplicações de fundos ou capitais,
em que o ativo representa estas últimas e o passivo as origens de
fundos.

Fonte: Neves (2012, p.146)

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Perspetivas do balanço

 Perspetiva contabilística
Balanço encarado como um documento contabilístico que expressa
a situação económico/financeira duma entidade num dado
momento, ordenando as aplicações de fundos por grau de liquidez
e as origens por grau de exigibilidade no passivo.

Fonte: Neves (2012, p.93)


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Balanço: terminologia contabilística vs financeira

Fonte: Neves (2012, p.148)

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Balanço: terminologia financeira

 Ativo fixo
Aplicações de fundos com duração superior a 12 meses.

 Ativo circulante
Aplicações de fundos que são liquidez ou se transformam em
liquidez até 12 meses após a data do balanço.

 Passivo m/l prazo


Dívidas a pagar de montante conhecido ou contingente, num prazo
expectável superior a 12 meses após a data do balanço.

Passivo circulante
Dívidas a pagar de montante conhecido ou estimado, num prazo
expectável até 12 meses após a data do balanço.
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Ciclos Financeiros

 Ciclo de Investimento
Engloba o conjunto de atividades e decisões relativas à análise e
seleção de investimentos ou desinvestimentos, das quais resulta o
volume de ativo fixo.

A generalidade dos investimentos e desinvestimentos devem estar


relacionados com as necessidades de exploração, podendo existir
investimentos ou desinvestimentos de oportunidade não,
necessariamente, afetos à operacionalidade duma entidade.

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Ciclos Financeiros

 Ciclo de exploração
Engloba o conjunto de atividades e decisões no âmbito do
aprovisionamento, produção e comercialização

As operações deste ciclo conduzem aos consumos e à obtenção


de recursos, os quais vão gerar contribuintes para a formação do
resultado operacional, isto é, gastos e rendimentos,
respetivamente.

Provoca necessidades de recursos para financiar clientes e


inventários, obtendo, automaticamente, alguns recursos, como é o
caso do crédito dos fornecedores.

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Ciclos Financeiros

 Ciclo das operações financeiras


Engloba o conjunto de atividades de obtenção de fundos
adequados aos investimentos e às necessidades de financiamento
do ciclo de exploração.

No ciclo das operações financeiras distinguem-se, ainda:

 Ciclo de operações de capital: obtenção de fundos estáveis


para o financiamento dos ativos estáveis e sua gestão otimizada;

 Ciclo de operações de tesouraria: gestão de caixa e


equivalentes, bem como assegurar a cobertura financeira a curto
prazo, através de financiamentos, caso se verifique insuficiência
de caixa.
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Balanço funcional

O balanço patrimonial carece de alguma sistematização útil para o


analista financeiro. Uma análise mais na ótica da liquidez e menos na
ótica patrimonial, permite-lhe determinar numa perspetiva funcional as
origens e aplicações financeiras, que determinam, em função da sua
liquidez, o equilíbrio (ou desequilíbrio) financeiro da empresa. Assim, o
balanço funcional,

• Resulta duma visão diferente do balanço patrimonial


colocando a ênfase nos ciclos financeiros;

• É um instrumento que melhora a compreensão da forma


como as empresas obtêm e utilizam os recursos
financeiros.
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Balanço funcional

Fonte: adaptado de Moreira (1999, p.146)


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Balanço funcional

Fonte: Silva (2011, p.84) 31

Balanço funcional

 Aplicações de investimento ou ativo não corrente ou ativo fixo


Ativos não correntes com características de investimento
necessário à exploração, como sejam:

 Ativos fixos tangíveis;


 Propriedades de investimento;
 Ativos intangíveis (pode justificar-se a dedução aos capitais próprios,
numa perspetiva de não recuperabilidade);
 O goodwill;
 Investimentos financeiros;
 Dívidas de terceiros a m/l prazo;
 Bens adquiridos em regime de leasing;
 Empréstimos intragrupo e a outros participantes, quando possuem
tendência de estabilidade;
 Outros direitos que não figurem no balanço (off-balance sheet) de m/l
prazo. 32

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Balanço funcional

Os valores devem ser considerados em termos brutos. Ao utilizar-


se o ativo fixo bruto nas aplicações, deve-se considerar as
amortizações, depreciações e imparidades nos recursos próprios
com uma noção que pode ser identificada do seguinte modo:

Capital social realizado + Autofinanciamento acumulado

Em que,

Autofinanciamento acumulado = resultados líquidos + resultados


transitados + reservas (inclui as que forem incorporadas no capital)
+ amortizações e depreciações acumuladas + provisões+ perdas
por imparidade.

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Balanço funcional

 Necessidades cíclicas (ou ativo cíclico)


Nesta rubrica incluem-se as contas que têm subjacente operações
ligadas ao ciclo de exploração pelos valores brutos (sem
consideração dos ajustamentos):

 Inventários de produtos, mercadorias e matérias;


 Crédito a clientes;
 Adiantamentos a fornecedores;
 Estado e outros entes públicos;
 Outras contas a receber até 1 ano;
 Diferimentos até 1 ano.

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Balanço funcional

Inventários:

•Os inventários devem corresponder exclusivamente ao necessário


para o normal funcionamento do ciclo de exploração;

•Inventários adquiridos com o objetivo de especulação não devem


ser considerados (devem ser equiparados a ativo não corrente,
como se de uma aplicação financeira se tratasse);

•Os adiantamentos por conta de vendas não devem ser


considerados, pois são recursos cíclicos; (considerar que se
trata de adiantamento de clientes)

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Balanço funcional

Clientes:

•Clientes conta corrente;

•Clientes com títulos a receber;

•Clientes de cobrança duvidosa (os clientes devem ser


considerados independentemente da sua situação de
incumprimento);

•Letras descontadas e não vencidas (darão lugar a uma correção,


por adição às rubricas de clientes conta corrente e de
empréstimos bancários de curto prazo (tesouraria passiva);

•Na eventualidade de existir outras formas de desconto (p.ex.,


factoring) deve-se proceder de igual modo (correção em clientes
conta corrente e em empréstimos de curto prazo). 36

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Balanço funcional

Adiantamentos a fornecedores:

•Devem ser incluídos quer os adiantamentos por conta de compras,


quer os adiantamentos a fornecedores, independentemente do
preço ter sido ou não fixado.

Estado:

• Há que separar as componentes devedoras das credoras.


Tendencialmente esta rubrica apresenta saldos credores, no
entanto em empresas exportadoras (IVA) e com pagamentos por
conta (IRC) pode-se encontrar situações em que os saldos
devedores são significativos.

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Balanço funcional

Outras contas a receber, devedores por acréscimo de rendimentos


e diferimentos até 1 ano:

•Devem ser incluídos os valores relativos ao ciclo de exploração


(prémios de seguros pagos antecipadamente; gastos diferidos e
reporte de bónus; outras contas a receber/ devedores por
acréscimos de rendimentos).

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Balanço funcional

 Tesouraria ativa
Nesta rubrica incluem-se os ativos líquidos ou quase líquidos:

 Caixa;

 Depósitos Bancários;

 Títulos negociáveis, desde que sejam facilmente convertíveis em


dinheiro (doutro modo serão classificados em ativo fixo);

Outras contas a receber e diferimentos cujo prazo de reembolso


é expectável que ocorra no prazo de dias e que não estejam
ligados ao ciclo de exploração (necessidades cíclicas) ou ao ciclo
de investimento (ativo fixo).

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Balanço funcional

 Capitais permanentes
Dividem-se em:

Capitais Próprios ou, em termos mais latos, Fundos Próprios.


Nesta última aceção, há que considerar, para além das rubricas
do CP, as amortizações, as depreciações, as provisões e as
perdas por imparidade acumuladas. Trata-se de rubricas
referentes ao autofinanciamento acumulado;

Capitais Alheios Estáveis;

Outras contas do passivo com características de MLP.

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Balanço funcional

 Recursos cíclicos (ou passivo cíclico)


Incluem as dívidas a terceiros de curto prazo que resultam das
decisões do ciclo de exploração e que geram origens de fundos. As
dívidas em mora devem ser consideradas como tesouraria passiva.
Os recursos cíclicos podem decompor-se da seguinte forma:
Adiantamentos de clientes com/sem preço fixado;
Fornecedores conta corrente;
Fornecedores com títulos a pagar;
Estado e outros entes públicos - resultante do ciclo de exploração
(IVA, IRS/IRC, Seg. Social, ...);
Outras contas a pagar (consultores, intermediários, sindicatos,
credores por acréscimo de gastos (remunerações, rendas, ...);
Diferimentos ligados à exploração.
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Balanço funcional

 Tesouraria passiva
Refere-se ao passivo imediato ou quase imediato que resulte de
decisões de financiamento. Deve englobar todas as contas a pagar,
num prazo até 12 meses após a data do balanço, que não estejam
afetas à exploração, tais como:
Financiamentos obtidos;
Outras contas a pagar e diferimentos (se forem de curto prazo e
não afetos à exploração);
Recursos cíclicos em mora;
Letras descontadas e não vencidas;
Rendas imediatas referentes a reembolsos de capital dos
contratos de locação financeira. A parte restante da prestação
deve ser tratada como gasto financeiro.
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Balanço funcional: cálculo da TL

ANÁLISE DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO Ano n Ano n-1 Ano n-3

1 Fundo de maneio (2-3)

2 Capitais permanentes

3 Ativo fixo

4 Necessidades de fundo de maneio (5-6)

5 Necessidades cíclicas

6 Recursos cíclicos

7 Tesouraria Líquida (1-4) ou (8-9)

8 Tesouraria ativa

9 Tesouraria passiva
Fonte: adaptado de Neves (2012, p.152) 43

Limitações do balanço funcional

 O balanço funcional está dependente da qualidade da informação


contabilística e do modo como esta é relatada para o exterior;

 Por vezes, é difícil perceber como devem ser classificadas algumas


rubricas do balanço contabilístico em função do ciclo de gestão e,
também, em termos de prazos;

 Há reclassificações que estão dependentes das intenções da gestão,


as quais raramente aparecem nas contas das empresas (ex.
empréstimos de sócios/acionistas de curto prazo com intenção de
renovação regular);

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Limitações do balanço funcional

 As operações fora do balanço (off-balance sheet) não são facilmente


detetáveis quando não existe obrigatoriedade de as apresentar nas
demonstrações financeiras ou em notas explicativas;
 O balanço contabilístico está dependente das políticas contabilísticas,
nomeadamente das bases de mensuração, relativamente às quais
existem diferentes alternativas ao dispor dos agentes económicos.
Logo, não é adequado efetuar comparações sem proceder a
ajustamentos dos critérios contabilísticos, pelo que o analista
financeiro precisa ter este facto em consideração.

Apesar das limitações, o balanço funcional tem uma estrutura


mais adequada para a análise financeira, pois está ajustado e
fundamentado na teoria financeira.

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Exemplo do balanço funcional

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Análise Financeira

ANÁLISE DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO


Situações Financeiras Típicas

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Situações financeiras típicas

A partir dos valores* de FM, NFM e TL é possível identificar seis


estruturas financeiras básicas:
Fonte: Neves (2012, p.268)

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Situações financeiras típicas

Tipo I: FM positivo, NFM positivas e TL positiva.

Situação financeira considerada em equilíbrio, por isso a desejável


para os credores pois oferece uma certa segurança.

Tipo II: FM positivo, NFM positivas e TL negativa.

Situação financeira que se encontra com bastante frequência na


prática. A empresa financia parte das suas necessidades cíclicas
de caráter permanente com operações de tesouraria, logo
evidência desequilíbrio financeiro, apesar de existir fundo de
maneio positivo.

Esta situação é frequente em empresas com ciclos de exploração


longos, como, por exemplo, a construção civil e a construção naval.
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Situações financeiras típicas

Uma TL excessivamente negativa pode anunciar debilidade na


estrutura financeira e a necessidade de se alterar a estrutura de
capitais da empresa.

Tipo III: FM negativo, NFM positivas e TL negativa.

Situação financeira delicada, pois os capitais permanentes não


cobrem sequer o ativo fixo.

A situação será tanto mais grave, quanto maior for défice de


tesouraria.

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Situações financeiras típicas

Tipo IV: FM negativo, NFM negativas TL negativa.

Situações de risco, visto que representa falta de liquidez. Esta


situação pode ser encontrada em empresas com um crescimento
exagerado face aos capitais permanentes que detém.

Tipo V: FM negativo, NFM negativas TL positiva.

Situação muito frequente em atividades com elevada rotação dos


stocks, como, por exemplo, os supermercados.

O risco nesta situação é o da redução da atividade para níveis que


não garantam a libertação de meios suficientes para a exigibilidade
dos compromissos. Em geral, a ausência de FM não garante
condições de segurança.
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Situações financeiras típicas

Tipo VI: FM positivo, NFM negativas TL positiva.

As NFM negativas resultam dum ciclo de exploração favorável:


rápida rotação de stocks e menores TMR face aos TMP.

Nesta situação há que avaliar se o FM é exagerado. Se sim, deve


ser equacionada a possibilidade de aplicar parte a m/l prazo,
captando, assim, melhores rendibilidades.

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Bibliografia Cap. IV

• Brandão, E. (2001). Finanças. Porto: Porto Editora.

• Gonçalves, C., Santos, D. Rodrigo, J. e Fernandes, S. (2016) Relato Financeiro-Interpretação


e análise, 3ª Edição, Porto: Vida Económica

• Lochard, J. (1988). Compreender a gestão em schemacolor. Lisboa: Ediprisma.


• Menezes, H. C. (2010). Princípios de Gestão Financeira (12ª ed.). Lisboa: Editorial Presença.

• Mota, A. G. & Custódio, C. (2008). Finanças da Empresa (4ª ed.). Lisboa: Bnomics.

• Moreira, J. (1999). Análise Financeira de Empresas (2ª ed.). Porto: Associação da Bolsa de
Derivados do Porto.

• Neves, J. C. (2012). Análise e Relato Financeiro – Uma visão integrada de gestão. Alfragide:
Texto Editores.

• Silva, E. (2011). Gestão Financeira – Análise de Fluxos Financeiros (5ª ed.). Porto: Vida
Económica.

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