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Gestão e Análise Financeira

Capítulo IV – Estudo do Equilíbrio Financeiro a Curto


Prazo e a Médio/Longo Prazo

4.1. Da regra do equilíbrio financeiro mínimo à análise funcional


do equilíbrio

4.1.1. A regra do equilíbrio financeiro mínimo

4.1.2. A liquidez

4.1.3. O fundo de maneio

4.1.4. As necessidades de fundo de maneio

4.1.5. A relação fundamental de tesouraria


Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 1
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Capítulo IV – Estudo do Equilíbrio Financeiro a Curto


Prazo e a Médio/Longo Prazo (Cont.)
4.2. O equilíbrio estrutural de tesouraria
4.2.1. O balanço funcional
4.3. A análise dos fluxos monetários
4.3.1. A demonstração dos fluxos de caixa
4.4. Condições para a manutenção de equilíbrio financeiro a
médio/longo prazo
4.5. Conceito de solvabilidade. Sua avaliação
4.6. Perda e recuperação de solvabilidade

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4.1. Da regra do equilíbrio financeiro mínimo à análise


funcional do equilíbrio

 O que é o equilíbrio financeiro ?

 Quando e em que condições posso afirmar que uma empresa está, ou


não, equilibrada financeiramente ?

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4.1.1. A regra do equilíbrio financeiro mínimo

- A Abordagem estática do equilíbrio financeiro assenta na seguinte


regra:

“Os capitais utilizados por uma empresa para financiar uma


imobilização, um stock ou outro elemento do seu activo, devem
poder ficar à sua disposição durante o período que corresponde,
pelo menos, ao da duração da imobilização, do stock ou outro
elemento adquirido com esses mesmos capitais”

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- Esta definição sobre a regra do equilíbrio financeiro mínimo diz que:

 O activo fixo deve ser igual aos capitais permanentes;

 O activo circulante deve ser igual ao exigível a curto prazo.

Activos Capitais
Imobilizados Permanentes

Activos Capitais Alheios


Circulantes de CP

Crítica: - Perspectiva estática da análise


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4.1.2. A liquidez

- A liquidez consiste na adequação, a todo o tempo, entre aplicações e


origens, decorrentes do funcionamento normal da empresa, numa óptica
de financiamento global

4.1.3. O fundo de maneio

Definição estática ou tradicional

- Existem várias definições para o Fundo de Maneio, das quais se


destacam:
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 Diferença entre os capitais circulantes e o exigível a curto prazo, ou seja,


parte do activo circulante que, estando fora da exigência imediata dos
credores, aparece ligada à exploração, podendo nela considerar-se
comprometida de forma duradoura;

Ou

 Diferença entre os capitais permanentes e as imobilizações líquidas, ou


seja, excedente de capitais permanentes sobre as imobilizações líquidas.

Nota: O fundo de maneio pode assumir valor positivo, negativo ou nulo.

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- Contudo, na análise do equilíbrio financeiro de curto prazo


devemos ter em consideração o prazo de realização dos activos
circulantes (PRA) e o prazo de exigibilidade dos débitos de curto
prazo (PED), pois:

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Sinal do FM PRA / PED Situação financeira da empresa

FM = 0 PRA = PED solvabilidade instável, devido à assimetria


do risco inerente aos activos circulantes
e aos passivos exigíveis. À minima falha no
prazo de transformação dos activos em liquidez
a empresa enfrenta dificuldades de tesouraria

PRA > PED solvabilidade desfavorável. Esperar dificuldades


financeiras para a empresa.

PRA < PED solvabilidade instável. A maior rotação dos activos


é passível de compensar a falta da "reserva
de liquidez".

FM > 0 PRA = PED solvabilidade favorável

PRA > PED solvabilidade incerta. A "reserva de liquidez"


pode não ser suficiente para compensar a menor
rotação dos activos.

PRA < PED solvabilidade francamente favorável.

FM < 0 PRA = PED solvabilidade desfavorável. Esperar dificuldades


financeiras para a empresa.

PRA > PED solvabilidade francamente desfavorável.

PRA < PED solvabilidade passível de não ocasionar dificuldades


financeiras à empresa. Conseguindo dilatar
os prazos de pagamento e encurtar os prazos de
recebimento de clientes poder-se-ão evitar
dificuldades de maior.

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Definição Dinâmica

- Fundo de Maneio é o conjunto de valores submetidos às transformações


cíclicas de período curto, e cujo o destino normal no fim da cada ciclo de
exploração é serem rentabilizados no circuito de exploração seguinte.

- O ciclo de exploração consiste no número de dias que decorre entre o


momento em que se compra a matéria prima, passando pela fase de
aprovisionamento, pelo processo de transformação dessas matérias primas,
pelo aprovisionamento dos produtos acabados, pelo momento em que se
vende o produto final e se cobra aos clientes.

Conclusão: Quanto maior a duração do ciclo de exploração maior terá


que ser o investimento, pelo que maior terá que ser o Fundo de Maneio.
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Cálculo do Ciclo de Caixa (C.C.)

Empresa Comercial:

C.C. = PME mercadorias + PMR clientes – PMP fornecedores

Empresa Industrial:

CC = PME matérias primas + PME produtos acabados + PMR clientes – PMP fornecedores

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4.1.4. As necessidades de fundo de maneio

Método de cálculo das Necessidades de Fundo de Maneio

- Este método tem em consideração os vários prazos médios que


constituem o ciclo de exploração, principalmente o ciclo de caixa (C.C.),
mas devidamente ponderados em função de um único factor de
ponderação. O factor de ponderação normalmente utilizado é o volume de
vendas anual.

- Vamos proceder a este cálculo das Necessidades de Fundo de Maneio


seguindo 4 passos:

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1º passo: calculo dos prazos que constituem o ciclo de caixa (C.C.)

PME matérias = Saldo de matérias * 365


Consumo anual

(prazo expresso em termos de dias de consumo)

PME produtos acabados = Saldo de produtos acabados *365


Custo das mercadorias vendidas

(prazo expresso em termos de dias de vendas)

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PMR = Saldo de clientes *365
Vendas anuais

(prazo expresso em termos de dias de vendas)

PMP = Saldo de fornecedores *365


Compras anuais

(prazo expresso em termos de dias de compras)

- Em rigor, este cálculo não está de todo correcto, pois estamos a calcular
prazos em dias de vendas, dias de consumo e dias de compras. Para
resolver isto temos o 2º passo.

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2º passo: conversão dos prazos do ciclo de caixa (C.C.) em dias de


vendas ao preço de venda (implica utilizar como factor de ponderação as
vendas liquidas);

3º passo: Soma dos prazos (em dias de vendas), o que nos vai dar o
chamado Prazo Médio das Necessidades de Fundo de Maneio
(PMNFM) – número de dias de venda em que a empresa tem que
financiar o seu ciclo de exploração;

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4º passo: Cálculo do valor das necessidades de fundo de maneio (NFM),


que vem:

Necessidades de Fundo de Maneio = PMNFM * Vendas diárias

- Este método designa-se por método indirecto de cálculo das


necessidades de fundo de maneio, pois estamos a recorrer aos prazos do
ciclo de caixa (C.C.) para calcular as necessidades de fundo de maneio.

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4.1.5. A relação fundamental de tesouraria

- O saldo de tesouraria obtém-se da seguinte forma:

Tesouraria Líquida = Fundo de Maneio – Necessidades de Fundo de Maneio

Se: Fundo Necessidades de Tesouraria Líquida


 
de Maneio Fundo de Maneio Positiva ou Activa

Se: Fundo Necessidades de Tesouraria Líquida


< 
de Maneio Fundo de Maneio Negativa ou Passiva

Se: Fundo Necessidades de Tesouraria Líquida


= 
de Maneio Fundo de Maneio Nula
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4.2. O equilíbrio estrutural de tesouraria

- O Balanço Funcional procura “fotografar”, em determinada data, as


aplicações e recursos relacionados com os ciclos financeiros da empresa;

- O Balanço Funcional utilizado para análise do equilíbrio financeiro


apresenta a seguinte estrutura:

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O Balanço Funcional utilizado para análise do equilíbrio financeiro

N-1 N
(1) Capital Próprio
(2) Capital Alheio Estável
(3) CAPITAIS PERMANENTES (1+2)
(4) ACTIVO NÃO CORRENTE
(5) FUNDO DE MANEIO (3-4)
(6) Clientes
(7) Inventários
(8) Adiantamentos a Fornecedores
(9) Estado e Out. Entes Públicos (a receber)
(10) Outros Devedores de Exploração
(11) NECESSIDADES CÍCLICAS (6+7+8+9+10)

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O Balanço Funcional utilizado para análise do equilíbrio financeiro

N-1 N
(12) Fornecedores
(13) Adiantamentos de Clientes
(14) Estado e Out. Entes Públicos (a pagar)
(15) Outros Credores de Exploração
(16) RECURSOS CÍCLICOS (12+13+14+15)
(17) NECESSIDADES EM FUNDO DE MANEIO (11-16)

(18) TESOURARIA LÍQUIDA (5 – 17)

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CAPITAL ALHEIO ESTÁVEL

Inclui:
- Financiamentos bancários de médio e longo prazo;
- Fornecedores de imobilizado;
- Empréstimos por obrigações;
- Rendas de médio e longo prazo dos contratos de locação
financeira referente ao reembolso de capital;
- Dividas contingências registas na conta Provisões para Riscos e
Encargos.

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ACTIVO NÃO CORRENTE

- Corresponde aos activos com permanência prevista na empresa


superior a um ano. Compreende:
- Activos Fixos Tangíveis;
- Activos Intangíveis;
- Dívidas de terceiros a médio e longo prazo (apenas as
decorrentes de decisões de carácter financeiro e estratégico);
- Adiantamentos a fornecedores de imobilizado;
- Acréscimos e diferimentos a mais de um ano;

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NECESSIDADES CÍCLICAS

- Compreende as contas resultantes das decisões tomadas no ciclo de


exploração que implicam necessidades de financiamento.
Podem decompor-se em:
- Inventários, apenas as normais de exploração;
- Adiantamentos a fornecedores;
- Clientes (incluir letras descontadas ainda não vencidas);
- Estado e outros entes públicos (apenas o respeitante à
exploração. Ex: IVA);
- Outras dívidas de exploração a receber (inclui a componente de
acréscimos e diferimentos)

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RECURSOS CÍCLICOS

- Compreendem as contas resultantes das decisões enquadradas no ciclo


de exploração, que geram de forma automática recursos financeiros.
Podem decompor-se em:
- Adiantamento de clientes;
- Fornecedores;
- Estado e outros entes públicos (apenas o respeitante à exploração.
Ex: IVA);
- Outros credores de exploração.

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4.3. A análise dos fluxos monetários

- Os fluxos financeiros podem ser de duas naturezas:


1) Fluxo financeiros de contrapartida
2) Fluxos Financeiros autónomos

1) Fluxo financeiros de contrapartida

- Os fluxos financeiros de contrapartida são fluxos monetários que


surgem como consequência dos fluxos reais. Podem ser:
1.a) Imediatos
1.b) Escalonados
1.c) Múltiplos
Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 25
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1.a) Imediatos

- O fluxo financeiro é a contrapartida imediata do fluxo real.

1.b) Escalonados

- O fluxo físico ocorre no momento t1 e o correspondente fluxo financeiro


ocorre no momento t2.

1.c) Múltiplos

- Para compensar os efeitos dos desfasamentos, existentes nos fluxos


escalonados, a empresa pode trocar o seu crédito por dinheiro. Para tal
recorre a um terceiro, geralmente um intermediário financeiro.
Ex: Desconto de letras; Factoring

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2) Fluxo financeiros autónomos

- Nem todos os fluxos são contrapartida directa, diferida ou indirecta de


um fluxo real. Existem fluxos financeiros denominados autónomos que
resultam das operações financeiras de empréstimo.

4.3.1. A demonstração dos fluxos de caixa

- A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é:

 um documento de natureza financeira;

 que aborda os pagamentos (saídas de caixa e equivalentes) e


recebimentos ( entradas de caixa e equivalentes) de uma entidade;
Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 27
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 ocorridos num determinado exercício económico;

 devidamente ordenados e agrupados por categorias ou tipos de


actividades (actividades operacionais, de investimento e de financiamento)

 permitindo obter informação acerca das movimentações financeiras


efectivamente ocorridas no período em causa, assim como informa sobre a
variação de tesouraria ocorrida do início para o fim do período.

- A DFC pode ser elaborada:

- pelo método directo

- pelo método indirecto


Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 28
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- A DFC assume a sua importância devido a um certo esvaziamento da


utilidade da Demonstração de Origem e Aplicação de Fundos (DOAF).

- A DFC pelo método directo tem a seguinte configuração:

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Demonstração dos Fluxos de Caixa elaborada pelo método


directo:

ACTIVIDADES OPERACIONAIS:
Recebimentos de clientes
(-) Pagamentos a fornecedores
(-) Pagamentos ao pessoal
(=) Fluxos gerados pelas operações
(-) Pagamento / recebimento do imposto sobre o rendimento
(+/-) Outros recebimentos/ pagamentos relativos à actividade
operacional

(=) Fluxos das actividades operacionais [1]

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ACTIVIDADES DE INVESTIMENTO:
(+) Recebimentos provenientes de:
Investimentos financeiros
Activos fixos tangíveis
Activos intangíveis
Subsídios de investimento
Juros e rendimentos similares
Dividendos
……
(-) Pagamentos respeitantes a:
Investimentos financeiros
Activos fixos tangíveis
Activos intangíveis
……….
(=) Fluxos das actividades de investimento [2]

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ACTIVIDADES DE FINANCIAMENTO:

(+) Recebimentos provenientes de:


Financiamentos obtidos
Realizações de capital e de outros instrumentos de capital próprio
Cobertura de prejuízos
Subsídios e doações
……..

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ACTIVIDADES DE FINANCIAMENTO:
(-) Pagamentos respeitantes a:
Financiamentos obtidos
Juros e gastos similares
Dividendos
Reduções do capital e de outros instrumentos de capital próprio
……….
(=) Fluxos das actividades de financiamento [3]
Variação de caixa e seus equivalentes [4] = [1] + [2] + [3]
(+/-) Efeito das diferenças de câmbio
Caixa e seus equivalentes no início do período
Caixa e seus equivalentes no fim do período

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4.4. Condições para a manutenção de equilíbrio financeiro


a médio/longo prazo
- Tem que estar garantido
Adequação entre
que os activos se devem
a liquidabilidade
transformar em meios
e a exigibilidade
Empresa equilibrada líquidos á medida que os
do passivo
Financeiramente a passivos se tornam exigíveis
Curto Prazo

Capacidade para solver Para fazer face a


- Tem que haver uma
os seus compromissos potenciais riscos
margem de segurança
a curto prazo de actividade

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 34


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- Uma empresa está equilibrada financeiramente a longo prazo se


conseguir solver os seus compromissos ano após ano.

- A existência de equilíbrio financeiro a médio longo prazo assenta,


prioritariamente, nas seguintes condições:

 a margem de segurança deve ser essencialmente constituída por


capitais próprios;

 a empresa deve ter uma exploração rentável.

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 35


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4.5. Conceito de solvabilidade. Sua avaliação

- Solvabilidade – consiste na capacidade que a empresa tem para solver


os seus compromissos a médio longo prazo.

- Solvabilidade final – Uma empresa possui solvabilidade final se o seu


activo após venda é suficiente para satisfazer todo o passivo.

- A existência de solvabilidade depende essencialmente de dois factores:


 do nível de capitais próprios;

 da rentabilidade da empresa.

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 36


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- O rácio de solvabilidade calcula-se da seguintes forma:

Solvabilidade = Capitais Próprios/ Passivo Total

4.6. Perda e recuperação de solvabilidade

- A perda de solvabilidade é geralmente gradual e acompanha em regra a


diminuição de valor do rácio de solvabilidade. À medida que o valor do
rácio de solvabilidade diminui a empresa vai tendo cada vez mais
dificuldades de solvência dos seus compromissos, e vai-se tornado cada
vez mais dependente dos credores.

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 37


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- Normalmente, quando uma empresa deixar de ter solvabilidade o seu


futuro fica seriamente ameaçado e fica técnicamente falida.

Recuperação da Solvabilidade

- Uma empresa insolvente nem sempre é um caso perdido, para a sua


recuperação existe a necessidade de determinar as causas que estão na
origem da degradação em que se encontra e a forma de as ultrapassar.

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 38


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- Algumas das medidas que permitem recuperar a solvabilidade são:

 Converter bens não essenciais em dinheiro;

 Cortar ou adiar todos os pagamentos respeitantes a credores, que


não incomodem muito o funcionamento da empresa;

 Novas entradas de capital realizadas pelos sócios;

 Conseguir a dilatação dos prazos de pagamento através da


negociação com os credores.

Estas medidas traduzem-se no saneamento financeiro da empresa.


Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 39
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- Existem, em alguns países, programas específicos de apoio a empresas


em crise, cuja manutenção interessa salvaguardar por razões de carácter
político ou macro-económico.

- Em suma, para uma empresa ser considerada recuperável, tem que se


prever que após a resolução dos problemas que afectam a empresa, pela
colocação em prática das medidas de recuperação da empresa, esta seja
rentável, e que seja rentável de uma forma satisfatória, que permita pagar
as dividas com que a empresa se encontra na actualidade.

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 40


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Medidas de Saneamento Financeiro

- O saneamento financeiro consiste no conjunto de operações ou medidas


que visam restituir à empresa o equilíbrio financeiro perdido, isto é, dar-lhe
uma nova forma ou estrutura financeira equilibrada. Isto passa, pois, pela
alteração e transformação da empresa que é realizada através de concursos
de credores ou com entradas de novos capitais.

1) Saneamento através da negociação com os credores

- Este tipo de saneamento implica, desde logo, que os credores estejam


interessados em resolver os problemas da empresa e implica
transformações qualitativas apenas no 2º membro do balanço.

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 41


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- Pode assumir várias formas, tais como:

1.1) Consolidação do Passivo - Corresponde à transformação do passivo


de curto prazo em passivo a médio longo prazo.
Exemplo:
Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)
Activo Capital Próprio + Passivo
Activo Não Corrente 350.000 Capital realizado 100.000
Activo Corrente 150.000 Reservas 75.000
Resultados 25.000
Passivo Corrente 300.000
Total do Activo 500.000 500.000

- Se a empresa, para resolver o problema do desequilíbrio financeiro,


negociar com os credores a passagem de 70% das dividas de curto prazo
para médio longo prazo.
Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 42
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- O novo balanço viria:


Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)
Activo Capital Próprio + Passivo
Activo Não Corrente 350.000 Capital realizado 100.000
Activo Corrente 150.000 Reservas 75.000
Resultados 25.000
Passivo Não Corrente 210.000
Passivo Corrente 9 0.000
Total do Activo 500.000 500.000

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 43


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1.2) Transformação das dividas em capital - Consiste em os credores


aceitarem passar de credores para accionistas da empresa.

Exemplo:
Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)
Activo Capital Próprio + Passivo
Activo Não Corrente 350.000 Capital realizado 100.000
Activo Corrente 150.000 Reservas 75.000
Resultados 25.000
Passivo Corrente 300.000
Total do Activo 500.000 Total Cap. Próprio e Passivo 500.000
- Se a empresa, para resolver o problema do desequilíbrio financeiro,
negociar com os credores a passagem de 70% das dividas de curto prazo
em participação em capital da empresa.
Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 44
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- O novo balanço viria:

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)


Activo Capital Próprio + Passivo
Activo Não Corrente 350.000 Capital realizado 31 0.000
Activo Corrente 150.000 Reservas 75.000
Resultados 25.000
Passivo Corrente 90.000
Total do Activo 500.000 500.000

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 45


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1.3) Perdão parcial da divida - trata-se, para a empresa, de uma medida


melhor que as anteriores, mas de mais difícil aceitação para os credores.
Este perdão parcial da dividas nunca vai além dos 50%.

Exemplo:
Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)
Activo Capital Próprio + Passivo
Activo Não Corrente 350.000 Capital realizado 100.000
Activo Corrente 150.000 Reservas 75.000
Resultados 25.000
Passivo Corrente 300.000

Total do Activo 500.000 Total Cap. Próprio e Passivo 500.000

- Supondo que os credores da empresa aceitam perdoar 50% das dividas.

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 46


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- O novo balanço viria:
Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)
Activo Capital Próprio + Passivo
Activo Não Corrente 350.000 Capital realizado 100.000
Activo Corrente 150.000 Reservas 75.000
Resultados 175.000
Passivo Corrente 150.000

Total do Activo 500.000 Total Cap. Próprio e Passivo 500.000

- De salientar:
 A recuperação é um processo muito moroso, pois envolve muitas
pessoas e interesses;

 O grande problema destas medidas é que é preciso efectuar reuniões


com os credores e que existem uns que concordam e outros não, sendo
muitas vezes difícil chegar a um consenso.
Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 47
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2) Saneamento com entrada de novos capitais

- Esta forma de saneamento financeiro da empresa traduz-se num método


mais rápido e eficaz, visto que provoca transformações quantitativas nos
dois membros do balanço.

2.1) Contracção de um empréstimo a médio longo prazo - Para que


esta medida seja possível a empresa tem que provar à instituição de
crédito que esta poderá ser novamente rentável.

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 48


Gestão e Análise Financeira

Exemplo:

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)

Activo Capital Próprio + Passivo


Activo Não Corrente 350.000 Capital realizado 100.000
Activo Corrente 150.000 Reservas 75.000
Resultados 25.000
Passivo Corrente 300.000
Total do Activo 500.000 Total Cap. Próprio e Passivo 500.000

- Vamos supor que a empresa obtém um empréstimo bancário de médio


longo prazo no valor de 250.000 Euros.

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 49


Gestão e Análise Financeira
- O novo balanço viria:
Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)
Activo Capital Próprio + Passivo
Activo Não Corrente 350.000 Capital realizado 100.000
Activo Corrente 400.000 Reservas 75.000
Resultados 25.000
Passivo Não Corrente 250.000
Passivo Corrente 300.000
Total do Activo 750.000 Total Cap. Próprio e Passivo 750.000

2.2) Aumento do capital social em dinheiro - Consiste no aumento do


capital social da empresa conseguido através de novas entradas em
dinheiro realizadas pelos sócios da empresa.

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 50


Gestão e Análise Financeira
Exemplo:

Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)


Activo Capital Próprio + Passivo
Activo Não Corrente 350.000 Capital realizado 100.000
Activo Corrente 150.000 Reservas 75.000
Resultados 25.000
Passivo Corrente 300.000

Total do Activo 500.000 Total Cap. Próprio e Passivo 500.000

- Supondo que se verifica um aumento do capital social da empresa com


entradas em dinheiro dos sócios em 250.000 Euros

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 51


Gestão e Análise Financeira
- O novo balanço viria:
Balanço da empresa “ESG, Lda” em 31/12/n (Valores em Euros)
Activo Capital Próprio + Passivo
Activo Não Corrente 350.000 Capital realizado 350.000
Activo Corrente 400.000 Reservas 75.000
Resultados 25.000
Passivo Corrente 300.000
Total do Activo 750.000 Total Cap. Próprio e Passivo 750.000

Conclusão

- Todas estas medidas podem ser combinadas, no entanto, muitas


vezes torna-se difícil a recuperação da empresa pois existem muitos
interesses em jogo.
Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 52
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Modelos de avaliação de Risco de Insolvência


1) Modelo Z-score de Altman

- O modelo Z-score é utilizado para prever a probabilidade de uma


empresa entrar em situação de falência no período de 2 anos da data de
análise;

- Utiliza 5 medidas de rentabilidade e risco combinados sob a forma de


uma função linear;

- Permite discriminar empresas falidas de empresas não falidas com


elevada percentagem de sucesso (cerca de 95% a um ano de previsão e de
70% a dois anos de previsão);
Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 53
Gestão e Análise Financeira

- Divide-se em 3 modelos, de acordo com o tipo de empresa:

- Empresas cotadas

- Empresas não cotadas

- Empresas não industriais e oriundas de mercados emergentes

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 54


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Empresas cotadas

Z-score = 1,2 * X1 + 1,4 * X2 + 3,3 * X3 + 0,6 * X4 + X5

X1 = Fundo de Maneio/ Ativo Total

X2 = Lucros retidos/ Ativo Total

X3 = Resultados Operacionais/ Ativo Total

X4 = Capitalização Bolsista/ Passivo Total

X5 = Vendas/ Ativo Total

Capitalização Bolsista = Preço de mercado das ações * nº de ações em bolsa

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 55


Gestão e Análise Financeira

Empresas cotadas

Intervalos de interpretação sobre o risco de falência das empresas

Z-score Interpretação

Z-score < 1,80 Probabilidade elevada de falência


(Risco elevado)

1,80 ≤ Z-score ≤ 3,00 Incerteza da probabilidade de falência


(Zona cinzenta)

Z-score > 3,00 Probabilidade reduzida de falência


(Risco reduzido)

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 56


Gestão e Análise Financeira
Empresas não cotadas

Z-score = 0,717 * X1 + 0,847 * X2 + 3,107 * X3 + 0,420 * X4 + 0,998 * X5

X1 = Fundo de Maneio/ Ativo Total

X2 = Lucros retidos/ Ativo Total

X3 = Resultados Operacionais/ Ativo Total

X4 = Capital Próprio/ Passivo Total

X5 = Vendas/ Ativo Total

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 57


Gestão e Análise Financeira

Empresas não cotadas

Intervalos de interpretação sobre o risco de falência das empresas

Z-score Interpretação

Z-score < 1,23 Probabilidade elevada de falência


(Risco elevado)

1,23 ≤ Z-score ≤ 2,90 Incerteza da probabilidade de falência


(Zona cinzenta)

Z-score > 2,90 Probabilidade reduzida de falência


(Risco reduzido)

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 58


Gestão e Análise Financeira

Empresas não industriais e oriundas de mercados emergentes

Z-score = 6,56 * X1 + 3,26 * X2 + 6,72 * X3 + 1,05 * X4

X1 = Fundo de Maneio/ Ativo Total

X2 = Lucros retidos/ Ativo Total

X3 = Resultados Operacionais/ Ativo Total

X4 = Capital Próprio/ Passivo Total

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 59


Gestão e Análise Financeira

Empresas não industriais e oriundas de mercados emergentes

Intervalos de interpretação sobre o risco de falência das empresas

Z-score Interpretação

Z-score < 1,1 Probabilidade elevada de falência


(Risco elevado)

1,1 ≤ Z-score ≤ 2,60 Incerteza da probabilidade de falência


(Zona cinzenta)

Z-score > 2,60 Probabilidade reduzida de falência


(Risco reduzido)

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 60


Gestão e Análise Financeira

Exemplos práticos

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 61


Gestão e Análise Financeira
2) Fator de Insolvência de Kanitz

- O indicador de Kanitz, designado por Fator de Insolvência (FI) ou


Termómetro de Kanitz, é utilizado para prever a probabilidade de uma
empresa entrar em situação de falência;

- Utiliza 5 medidas de rentabilidade e risco combinados sob a forma de


uma função linear;

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 62


Gestão e Análise Financeira
Fator de Insolvência ou Termómetro de Kanitz

FI = 0,05 * X1 + 1,65 * X2 + 3,55 * X3 – 1,06 * X4 – 0,33 * X5

X1 = Rentabilidade do Capital Próprio

X2 = (Ativo corrente + Realizável de MLP)/ (Passivo Corrente + Exigível MLP)

X3 = Liquidez Reduzida

X4 = Liquidez Geral

X5 = Passivo/ Capital Próprio

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 63


Gestão e Análise Financeira

Intervalos de interpretação sobre o risco de falência das empresas

FI Interpretação

FI > 0 A empresa encontra-se numa zona de


solvência (Risco reduzido)

-3 ≤ FI ≤ 0 O Fator Insolvência não é suficiente para


determinar a situação da empresa (Zona de
penumbra)
FI < -3 A empresa encontra-se numa zona de
insolvência (Risco elevado)

Capítulo IV Alexandrino Ribeiro 64

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