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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000166343

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1001712-79.2018.8.26.0615, da Comarca de Tanabi, em que é apelante JOÃO
ARTUR VIOLIN MICHELINI (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado
PASCHOALOTTO SERVIÇOS FINANCEIROS LTDA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 20ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ROBERTO MAIA


(Presidente sem voto), ÁLVARO TORRES JÚNIOR E LUIS CARLOS DE
BARROS.

São Paulo, 6 de março de 2023.

ALEXANDRE DAVID MALFATTI


Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 5830


APEL. Nº: 1001712-79.2018.8.26.0615
COMARCA: Tanabi (1ª Vara Cível)
APTE.: João Artur Violin Michelini (A)
APDO.: Paschoalotto Serviços Financeiros Ltda. (R)

PROCESSUAL CIVIL Ação de obrigação de fazer


c.c. indenização por dano moral Imutabilidade do
capítulo da r. sentença que condenou a ré em
obrigação de não fazer sob pena de multa
cominatória Alegada cobrança indevida realizada
pela ré consistente no envio de correspondência para
endereço diverso do autor Carta corretamente
endereçada ao autor, com erro apenas no tocante a
um dígito do numeral do endereço Violação de
correspondência por terceiro, que poderia ter sido
evitada com a adequada leitura do destinatário
constante da correspondência Dano moral não
comprovado Situação que não ultrapassa o mero
aborrecimento Sentença mantida Recurso
improvido.

VISTOS.

1. Trata-se de ação ordinária de obrigação de fazer


c.c. indenização por dano moral (envio de correspondência de
cobrança ao autor em endereço diverso de sua residência, fls. 11/12)
intentada por João Artur Violin Michelini em face de Paschoalotto
Serviços Financeiros Ltda., julgada procedente em parte pela r.
sentença de fls. 211/213, de relatório a este integrado, para
condenar a requerida na obrigação de não fazer consistente em não
mais enviar correspondências destinadas ao requerente para o
endereço Rua Francisco José Vargas, nº 363, Centro, Tanabi-SP e
fixar multa cominatória por cada evento danoso no valor de
R$200,00, limitado ao teto de R$10.000,00 e, diante da sucumbência
Apelação Cível nº 1001712-79.2018.8.26.0615 -Voto nº 5830 2
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recíproca, cada parte arcará com custas e despesas processuais na


proporção de 50% para cada, condenando a requerida ao pagamento
de honorários advocatícios fixados em R$800,00, observada a
gratuidade deferida ao autor.

Apelou o autor em busca da reforma aduzindo, em


síntese, que (1) o recebimento de envio de cobrança por terceiro
acarretou dano moral ao autor e (2) a conduta da ré constitui prática
abusiva prevista no art. 39, inciso VII do CDC (fls. 216/221).

A insurgência é tempestiva, foi respondida e é


isenta de preparo (fls. 22).

Feito redistribuído na forma do artigo 70, § 2º


do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo.

É o relatório.

2. O recurso não comporta provimento.

3. Ab initio, insta consignar a imutabilidade do


capítulo da r. sentença vergastada que condenou a ré na obrigação
de não fazer consistente em se abster de enviar novas
correspondências destinadas ao autor sob pena de multa
cominatória.

A lide recursal reside tão somente em aferir a


ocorrência de dano moral.

Em que pese tenha ocorrido o envio de


correspondência para endereço diverso do apelante, não é
possível afirmar que se trata de fato maliciosamente realizado
pela apelada com o intuito de impingir ofensa moral ao autor.

A correspondência estava devidamente endereçada


ao apelante, como se vê a fls. 11, e foi aberta indevidamente por
terceiro, com infração ao sigilo de correspondência, o que restou
comprovado a fls. 13.

Apelação Cível nº 1001712-79.2018.8.26.0615 -Voto nº 5830 3


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Assim, bastava ao terceiro a leitura do destinatário


constante da correspondência (fls. 11) para que verificasse que se
tratava de carta enviada a vizinho por ele conhecido.

Daí que não há como se imputar à apelada, ainda


que tenha enviado a correspondência a endereço diverso do apelante,
a culpa pela abertura indevida da carta por terceiro.

Também há se considerar que o apelante não


comprovou que tenha suportado algum tipo de dor, vexame ou
humilhação que acarretasse reflexos profundos na sua esfera
psicológica, tratando-se, pois, de mero dissabor ou aborrecimento
momentâneo.

No caso em testilha, justamente levando-se em


conta o critério da lógica do razoável, a conduta da apelada não se
mostrou apta a causar dano na esfera moral da apelante, eis que a
correspondência foi aberta indevidamente por terceiro estranho a lide
e que não causou qualquer abalo em sua na dignidade como pessoa
humana.

4. Isto posto nega-se provimento ao


recurso. Os honorários de advogado devidos pelo autor
apelante ficam elevados para 15% do valor postulado
como indenização por danos morais (atualizado, desde
o ajuizamento). Honorários de advogado fixados naquele
patamar, diante da complexidade da causa, tempo do
processo e proveito econômico.

ALEXANDRE DAVID MALFATTI


Relator(a)
Assinatura Eletrônica

Apelação Cível nº 1001712-79.2018.8.26.0615 -Voto nº 5830 4

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