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Danos Morais Correios STJ
Danos Morais Correios STJ
266 - PB (2008/0222166-4)
ACÓRDÃO
Documento: 1208161 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/08/2013 Página 1 de 6
RECURSO ESPECIAL Nº 1.097.266 - PB (2008/0222166-4)
RELATÓRIO
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Opostos embargos de declaração, foram rejeitados.
Interpôs o réu Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos recurso especial,
com fundamento no artigo 105, inciso III, da Constituição Federal, sustentando divergência
jurisprudencial e violação aos artigos 17 e 33 da Lei Postal.
Alega que o dano a ensejar indenização deve ser verossímil, real e efetivo, não
pairando dúvidas sobre sua existência.
Argumenta que, para a configuração da obrigação de reparar, deve existir ato
contrário ao direito, um dano e relação de causalidade entre o ato e o dano, não havendo
quaisquer indícios de haver o autor sofrido constrangimento, ofensa à honra ou imagem, por
isso o pleito é improcedente.
Sustenta que o recorrido não fez declaração de valor do conteúdo postado,
propiciando fosse apurado o prejuízo efetivamente suportado, embora existisse campo
específico para isso. Argumenta que não houve danos morais na utilização do serviço postal,
na modalidade "sem declaração de valor" e que não é cabível o arbitramento do pagamento
por extravio da carta, além dos valores fixados na norma da empresa.
Acena que o artigo 33, § 2º, da Lei Postal prevê que os prêmios são fixados
com base no valor declarado nos objetos postais.
Não houve oferecimento de contrarrazões.
O recurso especial foi admitido.
É o relatório.
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artigo 333, inciso I, do CPC.
[...]
ISTO POSTO, julgo improcedente o pedido.
Condeno o Autor ao pagamento em favor da ECT da quantia de R$
3.500,00 correspondente a 10% (dez por cento) do valor atribuído à causa
(R$ 35.000,00), ficando sobrestada a execução dos honorários, pelo prazo
de 5 (cinco) anos, enquanto persistir a condição de hipossuficiência do
Autor como beneficiário da gratuidade judiciária... (fls. 53-58)
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aborrecimento, contratempo, mágoa - inerentes à vida em sociedade -, ou excesso de
sensibilidade por aquele que afirma dano moral são insuficientes à caracterização do abalo
moral, tendo em vista que esta depende da constatação, por meio de exame objetivo e
prudente arbítrio do magistrado, da real lesão a direito da personalidade daquele que se diz
ofendido:
O que configura e o que não configura o dano moral? Na falta de critérios
objetivos, essa questão vem se tornando tormentosa na doutrina e na
jurisprudência, levando o julgador a situação de perplexidade.
Ultrapassadas as fases da irreparabilidade do dano moral e da sua
inacumulabilidade com o dano material, corremos, agora, o risco de
ingressar na fase da sua industrialização, onde o aborrecimento banal ou
mera sensibilidade são apresentados como dano moral, em busca de
indenizações milionárias.
Este é um dos domínios onde mais necessárias se tornam as regras da boa
prudência, do bom-senso prático, da justa medida das coisas, da criteriosa
ponderação das realidades da vida. Tenho entendido que, na solução
dessa questão, cumpre ao juiz seguir a trilha da lógica do razoável, em
busca da concepção ético-jurídica dominante na sociedade. Deve tomar por
paradigma o cidadão que se coloca a igual distância do homem frio,
insensível, e o homem de extrema sensibilidade.
"A gravidade do dano - pondera Antunes Varela - há de medir-se por um
padrão objetivo (conquanto a apreciação deva ter em linha de conta as
circunstâncias de cada caso), e não a luz de fatores subjetivos (de uma
sensibilidade particulamente embotada ou especialmente requintada). Por
outro lado, a gravidade apreciar-se-á em função da tutela do direito: o dano
deve ser de tal modo grave que justifique a concessão de uma satisfação
de ordem pecuniária do lesado" (Das obrigações em geral, 8ª ed., Almedina,
p. 617).
Dissemos linhas atrás que dano moral, à luz da Constituição vigente,
nada mais é do que agressão à dignidade humana. Que consequências
podem ser extraídas daí? A primeira diz respeito à própria configuração do
dano moral. Se dano moral é agressão à dignidade humana, não basta para
configurá-lo qualquer contrariedade.
Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral, a
dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade,
interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo,
causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar.
Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade
exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de
fazerem parte do nosso dia a dia, no trabalho, no trânsito, entre os
amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e
duradouras a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo.
Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral,
ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais
triviais aborrecimentos.
Dor, vexame, sofrimento e humilhação são consequência e não causa.
Assim como a febre é o efeito de uma agressão orgânica, dor, vexame e
sofrimento só poderão ser considerados dano moral quando tiverem por
uma causa uma agressão à dignidade de alguém.
Como julgador, há mais de 35 anos, tenho utilizado como critério aferidor do
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dano moral se, no caso concreto, houve alguma agressão à dignidade
daquele que se diz ofendido (dano moral em sentido estrito e, por isso, o
mais grave) ou, pelo menos, se houve alguma agressão, mínima que seja, a
um bem integrante da sua personalidade (nome, honra, imagem, reputação
etc). Sem que isso tenha ocorrido, não haverá que se falar em dano moral,
por mais triste e aborrecido que alega estar aquele que pleiteia a
indenização. (CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabildiade
Civil. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2010, ps. 86-87)
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De maneira mais ampla, pode-se afirmar que são danos morais que são
danos morais os ocorridos na esfera da subjetividade, ou no plano
valorativo da pessoa na sociedade, alcançando os aspectos mais íntimos da
personalidade humana... Derivam, portanto, de "práticas atentatórias à
personalidade humana" (STJ, 3ª T., voto do Relator EDUARDO
RIBEIRO, no REsp 4.326, in BUSSADA, Súmulas do Superior Tribunal de
Justiça, São Paulo, Jurídica Brasileira, 1995, vol. I, p. 680). Traduzem-se em
"um sentimento de pesar íntimo da pessoa ofendida" (STF, RE 69.754/SP,
RT 485/230) capaz de gerar "alterações psíquicas" ou "prejuízo à parte
social ou afetiva do patrimônio moral" do ofendido (STF, RE 116.381 - RJ,
BUSSADA, ob. cit., p. 6.873). (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Dano
Moral.7 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010, ps. 2 e 3)
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O dano moral não é a dor, a angústia, o desgosto, a aflição espiritual, a
humilhação, o complexo que sofre a vítima do evento danoso, pois esses
estados de espírito constituem o conteúdo, ou melhor, a consequência do
dano.
[...]
O direito não repara qualquer padecimento, dor ou aflição, mas aqueles que
forem decorrentes da privação de um bem jurídico sobre o qual a vítima
teria interesse reconhecido juridicamente. Por exemplo: se vemos alguém
atropelar outrem, não estamos legitimados para reclamar indenização,
mesmo quando esse fato nos provoque grande dor. Mas, se houver relação
de parentesco próximo entre nós e a vítima, seremos lesados indiretos.
Logo, os lesados indiretos e a vítima poderão reclamar a reparação
pecuniária em razão de dano moral, embora não peçam um preço para a
dor que sentem ou sentiram, mas tão somente, que se lhes outorgue um
meio de atenuar, em parte, as consequênias da lesão jurídica por eles
sofrida (Eduardo Zannoni, El dano en la responsabilidade civil, Buenos
Aires, Ed. Astrea, 1982, p. 234 e 235).
[...]
Para evitar excessos e abusos, recomenda Sérgio Cavalieri, com razão, que
só se deve reputar como dano moral "a dor, vexame, sofrimento ou
humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e
desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral,
porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no
trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais
situações não são tão intensas e duradouras, a ponto de romper o
equilíbrio psicológico do indivíduo" (Programa, cit., p. 78).
[...]
Exemplar o art. 496 do Código Civil português, verbis: "Na fixação da
indenização deve atender-se aos danos não patrimoniais que, pela sua
gravidade, mereçam tutela do direito". Assim, somente o dano moral
razoavelmente grave deve ser indenizado. "O que se há de exigir como
pressuposto comum da reparabilidade do dano não patrimonial, incluído,
pois, o moral, é a gravidade, além da ilicitude. Se não teve gravidade o
dano, não se há pensar em indenização. De minimis non curat praetor"
(Pontes de Miranda, Tratado, cit., t. 26, p. 34-5, § 3.108, n. 2).
A propósito, decidiu o Superior Tribunal de Justiça que incômodos ou
dissabores limitados à indignação da pessoa e sem qualquer repercussão
no mundo exterior não configuram dano moral. (GONÇALVES, Carlos
Roberto. Responsabilidade Civil. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2011, ps.
650-652)
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Processual Civil. Recurso Especial. Ação de reparação por danos materiais
e compensação por danos morais. Inadimplemento de contrato. Cláusula
penal. Danos morais. Ausência de prequestionamento. Reexame de fatos e
interpretação de cláusulas contratuais. Inadmissibilidade.
[...]
- O mero inadimplemento contratual não acarreta danos morais.
Precedentes.
[...]
Recurso especial não provido.
Documento: 1208161 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/08/2013 Página 10 de 6
(REsp 803.950/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 20/05/2010, DJe 18/06/2010)
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Documento: 1208161 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/08/2013 Página 11 de 6
1. A alegação de que a correspondência extraviada continha objeto de valor
deve ser provada pelo autor, ainda que seja objetiva a responsabilidade
dos Correios.
2. À falta da prova de existência do dano, é improcedente o pedido de
indenização.
(REsp 730.855/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro
HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em
20/04/2006, DJ 20/11/2006, p. 304)
Documento: 1208161 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/08/2013 Página 13 de 6
RECURSO ESPECIAL Nº 1.097.266 - PB (2008/0222166-4)
VOTO VENCEDOR
Cabe lembrar que, às vezes, leva-se horas escrevendo uma carta de conteúdo
meramente pessoal, sem valor econômico algum, mas de imenso valor sentimental. A pessoa
destinatária de tal missiva jamais saberá o lhe fora escrito e o missivista dificilmente conseguirá
Documento: 1208161 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/08/2013 Página 14 de 6
reproduzir fielmente o que antes escreveu.
Desse modo, se o consumidor escolhe enviar a carta registrada, os Correios têm que
apresentar o aviso de recebimento para quem fez a postagem, de maneira que o simples fato da
perda da correspondência, nessa hipótese, acarreta dano moral.
Destarte, o dano moral decorre do próprio fato de extravio de carta registrada, sendo
certo que o montante indenizatório deve ser avaliado em cada oportunidade, conforme as alegações
do consumidor promovente da ação.
Entende-se que, no caso em exame, a instância local não exacerbou, porque fixou
em R$ 1.000,00 (mil reais) a indenização por danos morais, algo perfeitamente suportável e
compatível com o objeto da lide.
É como voto.
Documento: 1208161 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/08/2013 Página 15 de 6
RECURSO ESPECIAL Nº 1.097.266 - PB (2008/0222166-4)
VOTO
Documento: 1208161 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/08/2013 Página 16 de 6
RECURSO ESPECIAL Nº 1.097.266 - PB (2008/0222166-4)
VOTO-VENCIDO
Documento: 1208161 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/08/2013 Página 17 de 6
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. LUCIANO MARIZ MAIA
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS
ADVOGADO : KELLY NASCIMENTO DE LUNA E OUTRO(S)
RECORRIDO : HILDOBERTO SANTIAGO DA SILVA
ADVOGADO : VALTER DE MELO E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por marioria, negou provimento ao recurso especial, nos termos do
voto divergente do Ministro Raul Araújo. Vencido o relator, Ministro Luis Felipe Salomão e o
Ministro Antonio Carlos Ferreira, que davam provimento ao recurso especial. Lavrará o acórdão o
Ministro Raul Araújo.
Votaram vencidos os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão e Antonio Carlos Ferreira.
Votaram com o Sr. Ministro Raul Araújo Filho os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti e
Marco Buzzi.
Documento: 1208161 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/08/2013 Página 18 de 6