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Contexto, Legislação e

Tecnologia em Endoscopia

Brasília-DF.
Elaboração

Cecília Angelita dos Santos

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA.................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
A EVOLUÇÃO DO ENDOSCÓPIO............................................................................................... 9

CAPÍTULO 2
A HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA ................................................................................................. 17

UNIDADE II
FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO DE ENDOSCOPIA................................................................................ 33

CAPÍTULO 1
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO............................................................................................... 33

UNIDADE III
SEGURANÇA DO PACIENTE................................................................................................................... 41

CAPÍTULO 1
PRINCIPAIS EVENTOS E COMO EVITÁ-LOS ................................................................................ 41

UNIDADE IV
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA............................ 51

CAPÍTULO 1
AS NORMAS TÉCNICAS DO PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM
ENDOSCOPIA DIGESTIVA ........................................................................................................ 51

UNIDADE V
A EVOLUÇÃO E TECNOLOGIA NA ENDOSCOPIA................................................................................... 96

CAPÍTULO 1
EVOLUÇÃO TÉCNICA DA ENDOSCOPIA MÉDICA..................................................................... 96

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 102
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução

Em algumas décadas, a endoscopia substituiu os métodos abertos, em praticamente


todos os aspectos, da medicina e cirurgia de procedimento. Os benefícios de cicatrizes
menores, ou sem cicatrizes, excelente visualização do close up, menos morbidade e
recuperação mais rápidas do paciente são universalmente aceitas. A lente de vidro e o
chip CCD, combinados com a criação de ferramentas intuitivas que podem atravessar
orifícios de pequeno diâmetro, são as principais descobertas que tornaram a endoscopia
viável e, eventualmente, uma alternativa melhor para muitos métodos cirúrgicos
abertos.

Não há dúvida de que o campo da endoscopia – usando o máximo de orifícios naturais


– continuará crescendo e se expandindo, em particular devido à incorporação da
miniaturização, sistemas integrais de direção e estabilização, controle sem fio,
automação e inteligência artificial.

Este caderno, portanto, objetiva proporcionar informações acerca da evolução da


endoscopia digestiva e seu funcionamento, discutir o cumprimento de protocolos
de reprocessamento, a estrutura das unidades de endoscopia e a recomendação de
condições de segurança na busca da qualidade no reprocessamento endoscópico,
com o compromisso de orientar os profissionais da área da saúde, para que possam
desempenhar suas atividades com eficiência e eficácia.

Objetivos
»» Descrever o funcionamento da endoscopia.

»» Descrever aspectos da segurança do paciente.

»» Identificar os principais processamentos e produtos médicos utilizados


em endoscopia digestiva.

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HISTÓRIA DA
ENDOSCOPIA UNIDADE I
DIGESTIVA

CAPÍTULO 1
A evolução do endoscópio

O endoscópio é um instrumento tubular flexível ou rígido tubular, geralmente


iluminado, para visualizar o interior de um órgão oco ou parte dele (como a bexiga ou
o esôfago), para fins diagnósticos ou terapêuticos, que normalmente tem um ou mais
canais para permitir a passagem de instrumentos (como pinça ou tesoura). Pode ser
inserido através de uma passagem natural (por exemplo, através do nariz ou abaixo do
esôfago) ou um pequeno corte na pele. Uma minúscula câmera com uma luz no final
do cabo envia de volta imagens para uma tela, e o cirurgião usa instrumentos especiais
que funcionam através de um tubo ao lado do cabo. Existem agora tipos especializados
de endoscópios para cada parte do corpo, os quais podem colher amostras de tecido,
cortar pequenos crescimentos ou remover objetos estranhos.

O prefixo grego endo significa “dentro” e foi usado já nos antigos períodos gregos e
romanos. O material considerado um protótipo dos endoscópios foi evidenciado e
descoberto nas ruínas de Pompeia. Foi Fhilip Bozzini que, em 1805, fez a primeira
tentativa de observar o corpo humano vivo diretamente através de um tubo que ele
criou conhecido como Lichtleiter (instrumento guia de luz) para examinar o trato
urinário, reto e faringe. Em 1853, Antoine Jean Desormeaux, da França, desenvolveu
um instrumento especialmente projetado para examinar o trato urinário e a bexiga. Ele
o chamou de “endoscópio” e foi a primeira vez que esse termo foi usado na história

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UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

Figura 1. Lichtleiter inventado por Bozzini.

Fonte: <https://www.olympus-global.com/technology/museum/endo/?page=technology_museum>. Acesso em: 4/7/2019.

Figura 2. Endoscópio inventado por Desormeaux.

Fonte: <https://www.olympus-global.com/technology/museum/endo/?page=technology_museum>. Acesso em: 4/7/2019.

Depois de uma série de tentativas, o Dr. Adolph Kussmaul, da Alemanha, conseguiu


dar uma olhada no interior do estômago de um corpo humano vivo pela primeira vez,
em 1868. Isso foi testado com um engolidor de espadas, que conseguia engolir uma
sequência de 47 espadas, um tubo de metal longo com um diâmetro de 13 milímetros.
Dez anos depois, médicos chamados Max Nitze e Josef Leiter inventaram um
cistouretroscópio e, em 1881, Johan von Mikulicz e seus associados criaram o primeiro
gastroscópio rígidos para aplicações práticas. Esses gastroscópios não eram flexíveis,
mas finalmente, em 1932, o Dr. Rudolph Schindler inventou um gastroscópio flexível –
uma versão modificada dos anteriores – que permitia exames mesmo quando o tubo era
dobrado. Este tubo tinha 75 centímetros de comprimento e 11 milímetros de diâmetro.
Cerca de 1/3 de todo o comprimento do tubo em direção à ponta podia dobrar até certo
ponto. Rudolph Schindler examinou o interior de um estômago através de várias lentes
posicionadas ao longo do tubo com uma lâmpada em miniatura (SHAH, 2002).

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HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE I

Figura 3. Gastroscópio idealizado por Schindler.

Fonte: <https://www.olympus-global.com/technology/museum/endo/?page=technology_museum>. Acesso em: 4/7/2019.

Figura 4. Detalhe de sua ponta com uma lâmpada anexada.

Fonte: <https://www.olympus-global.com/technology/museum/endo/?page=technology_museum>. Acesso em: 4/7/2019.

As primeiras tentativas de desenvolver uma gastrocâmera foram feitas por Lange e


Meltzing, da Alemanha, em 1898, mas não conseguiram desenvolver um dispositivo
para uso prático. Em 1949, um médico que trabalhava no Centro Médico da
Universidade de Tóquio solicitou à Olympus Optical Co., Ltd. (atualmente Olympus
Corporation) para desenvolver uma câmera que pudesse fotografar e examinar o
interior do estômago de um paciente. A Olympus realizou este difícil desafio, e o
desenvolvimento histórico das gastrocâmaras começou. Houve muitas dificuldades,
incluindo: produzir lentes extremamente pequenas, descobrir fontes fortes de
iluminação, procurar materiais para tubos flexíveis e os filmes mais apropriados,
bem como medidas de prevenção contra vazamentos de água. Os pesquisadores
tiveram que descobrir seu próprio caminho e superar os obstáculos por meio de
muitas tentativas e erros fúteis. Em 1950, os pesquisadores, tendo passado por
algumas provações tremendas, finalmente revelaram o primeiro protótipo. O
instrumento foi equipado com uma lente fotográfica localizada na ponta do tubo
flexível. As imagens foram capturadas em filme monocromático por fotoflashing

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UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

lâmpada miniatura in vitro, ativada manualmente. O filme teve que ser enrolado
puxando um fio. Este dispositivo, no entanto, ainda era muito primitivo para uso clínico
adequado (SHAH, 2002).

Figura 5. Um dos primeiros protótipos da gastrocâmera.

Fonte: <https://www.olympus-global.com/technology/museum/endo/?page=technology_museum>. Acesso em: 4/7/2019.

A equipe de desenvolvimento da Olympus e os médicos do Centro Médico da


Universidade de Tóquio continuaram trabalhando para superar muitos desafios e
dificuldades. Olympus consistentemente trabalhou em uma câmera que não apresentou
nenhum perigo ao paciente, criou o desconforto mínimo, permitiu fotografar de
qualquer parte de um estômago em um curto período do tempo, e entregou imagens
nítidas para diagnóstico mais fácil. O desenvolvimento e a perfeição da gastrocâmera
progrediram rapidamente, e o dispositivo foi amplamente aceito por muitos médicos
(REUTER; ENGEL; REUTER, 1999).

Um novo material chamado fibra de vidro, desenvolvido nos Estados Unidos,


na década de 1960, atraiu muita atenção em vários setores industriais. Os
desenvolvedores de endoscópios estavam entre os primeiros a usar a fibra de vidro.
Basil Hirschowitz e seus associados, por exemplo, usavam fibra de vidro em seus
endoscópios para aproveitar a característica da fibra de vidro de transmitir luz
de uma extremidade à outra, mesmo quando ela é dobrada. Os seus endoscópios
permitiram a observação direta do interior de um estômago. Depois de todos esses
anos, os médicos tornaram-se capazes de realizar a observação em tempo real
do interior do estômago pela primeira vez. O dispositivo, no entanto, não estava
equipado para tirar uma fotografia. Esta característica não se tornou disponível até
1964, quando a primeira gastrocâmara com um fibroscópio – a tão esperada câmara
com um “olho” – foi inventada (REUTER; ENGEL; REUTER, 1999).

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HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE I

Figura 6. Gastrocâmara com um fibroscópio.

Fonte: <https://www.olympus-global.com/technology/museum/endo/?page=technology_museum>. Acesso em: 4/7/2019

A gastrocâmara com um fibroscópio eliminou as fraquezas associadas às gastrocâmaras


“sem olhos” de uma só vez. Foi muito bem recebido como um produto inovador que
abriu portas para maior sofisticação no diagnóstico, uma vez que permitiu observações
diretas dos tecidos do estômago para análises dinâmicas. Outras tentativas se seguiram
em busca de novas abordagens, novas tecnologias e novos materiais. Para a função
fotográfica, uma câmera foi anexada à ocular. A era das gastrocâmaras terminou por
volta de 1975, quando foram completamente substituídas por fibroscópios. Além disso,
os endoscópios encontraram aplicações mais amplas para exames de outras partes do
corpo, incluindo o esôfago, duodeno, intestino grosso, brônquios e vesícula biliar. Além
das aplicações de diagnósticos clínicos, os endoscópios são agora usados para fins de
tratamento, auxiliados pelo progresso feito nos tratamentos auxiliados por endoscópios.
Assim, os endoscópios se estabeleceram como um instrumento indispensável na
comunidade médica (REUTER; ENGEL; REUTER, 1999).

Um videoscópio (escopo eletrônico) é um endoscópio com uma câmara de vídeo


embutida usando CCD (dispositivo de carga acoplada). Converte imagens em sinal
elétrico para exibição em um monitor de TV. Enquanto apenas um médico hábil
consegue observar a condição interna de um órgão com o instrumento convencional,
o novo dispositivo permite que vários médicos e enfermeiros examinem a condição
simultaneamente enquanto assistem à tela. A segurança também foi bastante
aprimorada, com menos chances de supervisão, além de melhorar drasticamente a
precisão do diagnóstico. Além disso, o recurso de processamento de imagem pode
fazer ajustes de nitidez por meio de controle de sinal elétrico para destacar a lesão,
aumentando os sinais de cor específicos para facilitar a visualização. Novos recursos
como esses expandiram ainda mais os horizontes das possibilidades endoscópicas
(REUTER; ENGEL; REUTER, 1999).

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UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

Figura 7. Sistema endoscópio de vídeo protótipo inicial.

Fonte: <https://www.olympus-global.com/technology/museum/endo/?page=technology_museum>. Acesso em: 4/7/2019.

Esforços para desenvolver endoscópios ultrassônicos – endoscópios com um transdutor


na ponta – foram lançados ao mesmo tempo que o desenvolvimento de videoscópios.
Os endoscópios ultrassônicos suportam o exame da superfície do trato gastrintestinal,
assim como as camadas abaixo dela, permitindo que os médicos determinem até
que ponto uma lesão ou úlcera penetrou na parede do estômago ou do intestino e
se houve metástase linfonodal. Assim, o endoscópio começou a assumir um papel
mais importante como instrumento de tratamento clínico do que apenas como exame
convencional e ferramenta diagnóstica (EDMONSON, 1991).

Figura 8. Sistema endoscópico ultrassônico protótipo precoce.

Fonte: <https://www.olympus-global.com/technology/museum/endo/video.html?page=technology_museum>. Acesso em:


4/7/2019.

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HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE I

Em novembro de 2002, foi lançado o primeiro sistema endoscópico do mundo baseado


na tecnologia HDTV, que mudou radicalmente o conceito de endoscópios. O sistema
aproveitou ao máximo a tecnologia de ponta de imagem capaz de fornecer imagens
mais nítidas para diagnósticos extremamente precisos, de forma que até mesmo uma
lesão minúscula não pode ser perdida.

Figura 9. Sistema HDTV.

Fonte: <https://www.olympus-global.com/technology/museum/endo/?page=technology_museum>. Acesso em: 4/7/2019.

O desenvolvimento de um sistema de HDTV resultou em um aumento exponencial


na quantidade de informação a ser apresentada na tela, aumentando a qualidade e o
grau de imagens para visualização. Com um número significativamente maior de linhas
de varredura e pixels horizontais do que os sistemas convencionais, o novo sistema
permite observações mais realistas de detalhes minuciosos, incluindo vasos sanguíneos
extremamente finos e a estrutura da superfície do tecido. Ele apresenta um realce de
cor IHb que destaca pequenas variações de cores de um tecido e uma exibição em
cores simulada da distribuição de IHb que facilita a descoberta de lesões difíceis de
detectar, o que de outra forma seria impossível. Esses recursos, combinados com o
zoom eletrônico de filmes e imagens estáticas, bem como melhorias feitas para facilitar
a inserção e capacidades de exame e diagnóstico mais eficientes, levaram a comunidade
médica a prestar séria atenção ao sistema como um dispositivo de nova geração. Ao
mesmo tempo, espera-se que o sistema faça contribuições ainda mais significativas,
reduzindo o tempo necessário para diagnósticos médicos e diminuindo o desconforto
físico dos pacientes. Endoscópios baseados em HDTV definitivamente se tornarão o
sistema endoscópico convencional.

Um endoscópio é um pouco como um telescópio flexível que um médico pode usar


para ver dentro de uma das cavidades do corpo. Ao contrário de um telescópio, que

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UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

é um tubo muito rígido, a parte de um endoscópio que entra no corpo de uma pessoa
é relativamente flexível. Ele consiste em dois ou três cabos ópticos principais, cada
um com até 50.000 fibras ópticas separadas (feitas de vidro ou plástico de qualidade
óptica). Um ou dois dos cabos levam a luz para o corpo do paciente; outro transporta
a luz refletida (a imagem do corpo do paciente) de volta para a ocular do médico (ou
em uma câmera, que pode exibi-lo em um monitor de TV). A ótica de um endoscópio é
semelhante àquela de um telescópio. No extremo remoto (distal), há uma lente objetiva,
que liga a uma ou mais seções flexíveis de cabo de fibra ótica (às vezes chamados de
relés) que transportam a luz de volta do corpo do paciente para uma segunda lente na
ocular (ou para um monitor ou CCD), que pode ser girado de lado a lado para ajustar o
foco (muito parecido com as oculares em binóculos). Normalmente, as lentes e os cabos
têm cerca de 0,5 cm (1/5 pol.) de diâmetro (às vezes um pouco maiores, às vezes um
pouco menores).

A maioria dos endoscópios modernos não se limita à entrada e saída de luz do corpo
do paciente: eles também podem ser usados para realizar pequenas cirurgias e outros
procedimentos médicos menores. Normalmente, a extremidade remota do endoscópio
pode ser movida girando os botões ou puxando os cabos, que giram e dobram de um
lado para o outro. Um tubo secundário, ligado aos cabos ópticos principais, pode
ser usado para aspirar material obstrutivo (por exemplo, obstáculos que bloqueiam
os tubos brônquicos nos pulmões) ou para realizar biópsias (remoção de pequenas
amostras de tecido para teste) com uma pequena pinça. Os cirurgiões também podem
fazer lasers de precisão poderosos para baixo para endoscópios para destruir tecidos
doentes, fazer incisões precisas ou curar feridas, observando o tempo todo o que estão
fazendo através da ocular ou no monitor da TV. Este tipo de procedimento é chamado
cirurgia minimamente invasiva e é mais simples, mais rápido, menos caro e muito
menos traumático do que as operações convencionais. No entanto, geralmente ainda
precisa que o paciente tenha um anestésico e nem sempre é sem inconvenientes e
complicações.

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CAPÍTULO 2
A história da endoscopia

A endoscopia é uma técnica que permite a inspeção, a manipulação e o tratamento


de órgãos internos usando dispositivos para melhorar a visualização à distância dos
órgãos-alvo, sem a necessidade de uma incisão grande o suficiente para permitir que
a mão ou os dedos do cirurgião entrem no campo cirúrgico. Como é de se esperar, a
endoscopia se desenvolveu em áreas onde órgãos ocos eram conectados ao exterior
através de orifícios naturais: a uretra, a vagina, o reto, o canal auditivo, a garganta e a
faringe. A entrada de orifícios naturais era segura, desprovida de feridas e, portanto, com
pouco risco de infecção e morte. Como também se pode esperar em uma era com pouca
ou nenhuma tecnologia, numerosos médicos e cientistas inventaram contribuições
menores ou maiores para o campo, às vezes ao mesmo tempo inconscientes das
invenções de outros. Nem todos os que contribuíram publicaram suas invenções ou a
aplicação de suas invenções e, para outros registros, foram perdidos ou destruídos em
tempos de guerra. Como resultado, a história da endoscopia não é uma ciência exata em
que cada avanço pode ser colocado em uma linha de tempo respeitável e atribuído com
confiança a um único inventor.

A definição de endoscopia passou por uma série de desafios que precisaram ser
superados para que a endoscopia seja segura e bem-sucedida.

»» Primeiro, é necessário um método seguro de acesso ao corpo: orifícios e


tubos naturais ou pequenas incisões em cavidades existentes em locais
seguros, sem risco significativo de perfuração ou infecção.

»» Segundo, orifícios naturais e estruturas tubulares são relativamente


seguros, mas requerem pequeno diâmetro e flexibilidade de instrumentos.

»» Terceiro, quando as imagens são transmitidas através de instrumentos, a


qualidade da imagem pode ser corroída.

»» Quarto, há muito pouca luz dentro do corpo humano, então uma fonte de
luz externa é necessária para a iluminação.

»» Quinto, o equipamento e a luz precisam ser neutros em energia; em


particular, uma fonte de luz não pode aquecer excessivamente os órgãos
internos ou causar queimaduras externas, e a eletricidade não pode
causar outros efeitos além daqueles pretendidos.

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UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

»» Em sexto, muitos “espaços” humanos estão em colapso em seu estado


natural; assim, um método para preencher temporariamente esses
espaços para permitir a inspeção e muito mais é necessário.

»» Sétimo, embora a capacidade de obter um diagnóstico sem cirurgia


invasiva seja um avanço em relação ao diagnóstico obtido por meio
de cirurgia aberta, o objetivo da endoscopia é realizar não apenas
procedimentos terapêuticos diagnósticos, mas também definitivos. Isso
requer uma configuração muito mais complicada, a capacidade de muitos
(operador principal e assistentes) de ver o campo cirúrgico e uma vasta
gama de instrumentos acessórios que permitem manipulação remota,
corte, coagulação, injeção, sutura e recuperação de órgãos.

Como já foi mencionado anteriormente, a maioria dos historiadores nomeou Philip


Bozzini, um médico italiano-alemão, como o inventor do campo da endoscopia. Em
1806, ele desenvolveu um dispositivo tubular simples que ele chamou de “Lichtleiter”
(traduzido: condutor de luz); utilizou luz de velas e espelhos para iluminação do tecido
alvo. Com o seu Lichtleiter, Bozzini pode inspecionar a uretra feminina e a vagina com
o colo do útero em pacientes reais. A terapia, no entanto, não era realmente possível
com o Lichtleiter. Um redesenho usando a chamada lâmpada gasogênica (uma chama
produzida por uma mistura de álcool e terebintina), inventada por Antônio Jean
Desormeaux, tornou os procedimentos operatórios endoscópicos uma realidade pela
primeira vez em 1853. Desormeaux também cunhou o termo “endoscopia” no mesmo
ano: é derivado do grego “endo” que significa “dentro de” e “skopein”, “ver ou observar”.

A primeira imagem endoscópica provavelmente foi tirada em 1858 pelo tchecoslovaco


Johan Nepomuk Czermak. A natureza tubular rígida dos endoscópios na época fazia a
inspeção do esôfago e do estômago essencialmente impossível. Adolf Kussmaul adaptou
seu paciente para a tarefa e realizou a primeira esofagoscopia direta em um engolidor de
espadas em 1868 em Freiburg, Alemanha. Johann Mikulicz é creditado com o desenho
do primeiro esofagoscópio em 1881; Ele fez isso junto com o conhecido fabricante de
instrumentos Joseph Leiter, de Viena. Juntos, eles projetaram uma fonte de luz de
arame galvanizado envolta em um tubo de vidro de cano duplo para resfriamento de
água dentro do paciente, diminuiu o diâmetro do endoscópio e introduziu um design
modular. Mikulicz também usou anestésicos durante o procedimento e investigou
a melhor posição do paciente usando uma mulher capaz de engolir instrumentos –
tudo isso para melhorar a experiência do paciente. Mais ou menos na mesma época,
em 1873, a Trouve na França criou uma fonte de luz a partir de fios de platina muito
finos e galvanizados que não necessitavam de resfriamento com água e usavam um

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HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE I

instrumento com essa fonte de luz para endoscopia da uretra e da bexiga, do reto e do
esôfago (NEZHAT, 2005).

Um grande avanço na endoscopia foi o uso de uma melhor ótica. O alemão Maximilian
Carl-Friedrich A Nitze adaptou a tecnologia de microscopia óptica à endoscopia,
por volta de 1877, e a aplicou ao campo da urologia. Como Mikulicz ele trabalhou
com Joseph Leiter e foi o primeiro a incluir como uma solução prática e funcional a
lâmpada elétrica (inventada em 1880 por Edison) em um formato miniaturizado em
um endoscópio em 1888. Ele também desenvolveu dispositivos de eletrocautério e
relatou sua experiência pessoal. em 150 tumores de bexiga, ele removeu: 20 recidivas
e uma morte, um resultado verdadeiramente notável para aqueles dias (NITZE, 1879).

No momento em que a endoscopia entrou no século XX, os fundamentos da maioria das


tecnologias atuais de endoscópios estavam em vigor: quando possível, o uso de orifícios
naturais para a entrada do endoscópio, fonte de luz para iluminação, um sistema de
lentes para melhorar a visualização, um endoscópio de pequeno diâmetro, a capacidade
de tratar e remover tecidos e uma capacidade rudimentar de documentar descobertas
com imagens. No entanto, ficou claro que muitas melhorias foram necessárias antes que
a endoscopia se tornasse uma tecnologia geral e amplamente aplicada. Especificamente,
as imagens ainda são pequenas e se beneficiarão de uma melhor ampliação, o campo
de visão é estreito e precisa ser mais amplo, a quantidade de luz pode ser aprimorada
ainda mais, a área de trabalho dentro das cavidades humanas requer expansão e,
por último mas não menos importante, a capacidade de documentar descobertas e
resultados de tratamento sob a forma de imagens requer grandes melhorias. Tudo isso
será alcançado no próximo século de forma tão bem-sucedida que, na última parte
do século XX, muitos procedimentos cirúrgicos estão sendo convertidos de cirurgias
abertas para laparoscópicas ou assistidas por laparoscopia (MODLIN, 2000).

Tudo isso começa com o alemão Georg Kelling, que, em 1901, realizou a primeira
laparoscopia – em um cachorro. Ele usa o ar para insuflar a cavidade abdominal para
melhorar a visualização e, entre 1901 e 1910, parece ter usado o mesmo método em
alguns pacientes. Seu trabalho é notável por várias razões: ele acredita que a endoscopia
é mais segura e barata do que a cirurgia aberta convencional. Este último aplica-se
especificamente à Alemanha após a guerra de 1914-1918. Ele usa um gastroscópio
flexível, feito de segmentos vertebrados de tubos ocos cobertos com borracha da Índia.
Ele defende a preparação do paciente, incluindo a purga antes da laparoscopia ou
endoscopia gastrointestinal, a fim de reduzir as complicações em caso de perfuração. E,
por último, ele pode ser o primeiro a tratar hemorragias na cavidade abdominal causadas
por tuberculose. Infelizmente, pouco mais se sabe sobre este verdadeiro inovador
quando ele morreu e seus pertences foram destruídos durante a guerra de 1939-1945.

19
UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

Mais ou menos na mesma época, Hans Christian Jacobaeus, médico em Estocolmo,


realizou um grande número de laparoscopias em humanos e, ao contrário de Kelling,
documentou isso em publicações. Sua primeira laparoscopia ocorreu em 1910 – um
homem com cirrose – e é o primeiro caso publicado de laparoscopia. Posteriormente,
ele descreveu uma variedade de patologias de cerca de 100 laparoscopias em 1912. Ele
também cunhou o termo laparoscopia (MODLIN, 2000).

A primeira artroscopia é atribuída a Severin Nordentoeft da Dinamarca; ele usou


solução salina para visualização. Nordentoeft também recebeu o primeiro procedimento
terapêutico de toracotomia em 1910. O uso de CO2 para insuflação – com vantagem
de reabsorção espontânea e diminuição da chance de incêndio ou explosão – foi feito
primeiramente por Richard Zollikofer, da Suíça, em 1924. O problema do campo de
visão foi abordado pelo gastroenterologista alemão Heinz Kalk, em 1929, quando ele
introduziu um endoscópio de visão frontal com um campo de visão de aproximadamente
135 ° que era prático em seu uso. Ele usou isso com considerável sucesso e, em
1939, relatou uma série de 2000 laparoscopias sob anestesia local sem uma única
mortalidade. O ginecologista francês nascido na Suécia Raoul Palmer não contribuiu
com grandes avanços tecnológicos, mas foi fundamental no desenvolvimento de
mudanças processuais para laparoscopia ginecológica durante a década de 1950, que
teve efeitos de longo alcance em toda a endoscopia: medidas de segurança, incluindo
posição de Trendelenburg para facilitar a endoscopia, abdome superior, uso rotineiro
de CO2, monitoramento da pressão abdominal durante a insuflação e introdução de
fórceps eletro cauterizador para reduzir a hemorragia. O endoscópio rígido mostrou-se
muito perigoso para gastroscopia regular devido a perfurações esofágicas e gástricas.
Isso estimulou Rudolf Schindler com a ajuda do fabricante de instrumentos Georg Wolf
para projetar uma série de instrumentos semirrígidos; a versão final de 1932 consistia
em uma parte rígida de 34 cm da boca ao esôfago distal e uma parte de 44 cm de certa
forma flexível de lentes convexas de foco curto e espaçamento curto em uma manga de
borracha com um diâmetro máximo de 12 mm. O fim dos instrumentos semi-flexíveis,
semirrígidos e grandes foi o gastroscópio introduzido pelo americano Edward Benedict,
em 1948. Seu gastroscópio operatório permitia biópsias, mas esse recurso exigia um
diâmetro de 14 mm que não era aceitável para a maioria dos pacientes e endoscopistas
(MODLIN, 2000).

Na década de 1960, vários desenvolvimentos importantes ocorreram. No campo


da laparoscopia rígida, as contribuições do cientista britânico Harold Hopkins e do
engenheiro de instrumentos alemão Karl Storz transformaram completamente o campo
e criaram a base para a moderna tecnologia e cirurgia laparoscópica: a combinação,
em 1967, do sistema óptico de haste com um pacote de fibra ótica reprojetado para
iluminação de luz soberba e fria, criou a melhor, mais detalhada e imagens jamais

20
HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE I

vistas, mesmo quando se utilizam instrumentos com um diâmetro de apenas alguns


milímetros. Outro alemão, Kurt Semm, foi um verdadeiro pioneiro na criação de
técnicas-chave de acessórios para laparoscopia, como a formação de nós intracorpóreos,
aplicador de alça e equipamentos de alto volume de irrigação e sucção. Ao mesmo
tempo, ele avançou no campo da laparoscopia cirúrgica e foi o primeiro a realizar uma
apendicectomia laparoscópica em 1980. E, ainda, outro cirurgião alemão, Erich Muhet,
realizou a primeira colecistectomia laparoscópica em 1985, embora muitos artigos
declarem incorretamente que o médico francês Mouret foi o primeiro a fazê-lo, em
1987 (REYNOLDS, 2001).

Hopkins também contribuiu para um avanço na endoscopia gastrointestinal: a criação


de um feixe de fibras coerente para permitir a visualização. As melhorias para evitar
o vazamento de sinais, por Larry Curtis e Wilbur Peters, foram incorporadas no
primeiro endoscópio flexível verdadeiramente funcional criado por Basil Hirschowitz
e disponibilizado comercialmente no outono de 1960 pela ACMI. No final da década
de 1960, os fabricantes de instrumentos japoneses Olympus e Machida também
começaram a produzir endoscópios. No início de 1971, o comprimento do instrumento
ultrapassava os 100 cm, era introduzido o controle da ponta de quatro vias, possível
deflexão de até 180 ° (permitindo retroflexão), canais para sucção e infusão ar/água e
limpeza de lentes. O maior comprimento dos gastroscópios permitiu a visualização do
duodeno; uma lente de visualização lateral e a alavanca do instrumento possibilitou
a canulação da papila duodenal e a técnica de colangiopancreotomia retrógrada
endoscópica (CPRE) nasceu com as primeiras séries de casos relatadas do Japão
em 1970 e dos Estados Unidos em 1972. Na mesma época, as mesmas empresas
começaram a produzir endoscópios especificamente direcionado para a inspeção do
cólon. As primeiras polipectomias de armadilha usando colonoscópios foram feitas
por Hiromi Shinya e William Wolff, em 1971. O endoscópio de fibra óptica também foi
usado para inspecionar e tratar as vias aéreas: em 1967, Machida introduziu o primeiro
broncoscópio (EDMONSON, 1991).

Provavelmente, o avanço mais importante para a endoscopia usando instrumentos


flexíveis foi a invenção do dispositivo de carga acoplada (CCD), em 1969, na AT & T
Bell Labs. O CCD foi usado pela primeira vez para captura de imagem em uma câmera
de imagem estática Kodak 100 × 100 pixels, em 1975.

A fabricante americana de instrumentos médicos Welch Allyn introduziu o primeiro


endoscópio de vídeo baseado em CCD, em 1983; no Japão, Fujinon, Olympus e Pentax
logo a seguiram. Um sensor CCD na ponta do endoscópio converte a imagem óptica
em um sinal digital que pode ser transferido através do eixo do endoscópio para um
processador de imagem, onde um sinal de vídeo de formato padrão é gerado e exibido

21
UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

em um monitor. Os benefícios de tal sistema são óbvios: todas as questões relacionadas


a um conjunto coerente de fibras (imagem fraca, perda progressiva de fibras devido à
quebra no tempo de uso, volume de feixe de fibra dentro do eixo do endoscópio etc.)
desapareceram. Há mais espaço para outras funções dentro do eixo do endoscópio, são
possíveis desvios de ponta mais extremos, e os mecanismos de controle de ponta já
desenvolvidos não exigem modificações essenciais. A equipe multidisciplinar pode ver
a mesma imagem de alta qualidade. A ergonomia de assistir a um monitor com os dois
olhos em vez de olhar com um olho em uma lente acoplada a um feixe de fibras coerente
favoreceu o uso do videoendoscópio.

Desde o endoscópio de vídeo inicial, a tecnologia CCD melhorou muito e tem a


qualidade do sinal do videoendoscópio. Os sensores de imagem CCD estão ficando
menores e o número de pixels e as taxas de captura de imagem estão aumentando
constantemente. O resultado é que todos os fabricantes de endoscópios atualmente
disponíveis fornecem imagens de alta definição (a maioria oferece pelo menos um sinal
de saída versão 1.0 da interface multimídia de alta). Os sensores CCD não geram um
sinal de cor: a cor tem que ser gerada pela combinação de sinais vermelhos, verdes e
azuis (RGB). Em geral, isso é obtido usando um dos dois métodos. O primeiro deles é a
imagem sequencial RGB: usando um filtro rotativo, a luz RGB é usada alternativamente
para iluminar o tecido, e o sinal resultante capturado pelo sensor CCD. Com uma
imagem de 60 Hz, uma roda de filtro com filtros RGB gira 20 vezes por segundo, o que
alguns endoscopistas experimentam como um sinal intermitente de cintilação, com
separação de cores, especialmente durante o movimento da ponta. O segundo método
usa um chip CCD de cor, no qual a separação de RGB ocorre pelo uso de um filtro
de padrão de mosaico entre a lente e o CCD. A vantagem deste método é que uma
fonte de luz de Xenon não estroboscópica, de aparência mais natural, pode ser usada
e que a frequência de captura para toda a imagem. As hastes de vidro no telescópio
Hopkins fornecem uma imagem maior, maior transmissão de luz e melhor clareza de
visão. Portanto, os chips CCD coloridos têm uma resolução menor. No entanto, quando
levadas em consideração, todas as considerações, o chip colorido pode ser uma solução
melhor para endoscopia do que a imagem sequencial RGB, devido ao uso de luz mais
natural, a ausência de flicker e trailing durante o movimento rápido da ponta do
endoscópio frequência de captura.

Apesar das grandes mudanças na largura de visão e qualidade de imagem e a prova


de princípio, por Semm e Muhe, que mostrou que a cirurgia invasiva mínima ou
laparoscópica foi possível, a cirurgia laparoscópica foi principalmente um procedimento
ginecológico para inspeção dos órgãos femininos e ligadura tubária até última década
do século XX.

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HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE I

Tudo isso mudou em 1990 com a introdução de um aplicador de clipes laparoscópicos


com clipes automaticamente avançados. Esse dispositivo permitiu que os cirurgiões
colocassem todos os grampos necessários durante a colecistectomia em uma única
sessão, em vez da remoção, carregamento e reinserção repetidos de um aplicador de
clipes ou do método ainda mais lento de suturar e amarrar manualmente os nós. A
cirurgia laparoscópica realmente decolou e novos dispositivos, como grampeadores,
permitindo uma ou duas fileiras de grampos posicionados lineares, curvos ou circulares,
com ou sem um corte divisor, facilitaram cirurgias laparoscópicas mais complexas. Quase
todos os tipos de ressecções de órgãos para doenças benignas ou malignas agora podem
ser realizados usando técnicas laparoscópicas, incluindo cirurgia de bypass gástrico,
colectomia total e duodenopancreatectomia. De fato, a cirurgia laparoscópica substituiu
muitos procedimentos cirúrgicos abertos comumente realizados com resultado igual ou
melhor a longo prazo, menor morbidade do paciente devido a incisões menores, menor
tempo de hospitalização e menor tempo de recuperação do paciente. Atualmente, as
técnicas laparoscópicas são aplicadas em quase todos os campos da cirurgia, às vezes,
substituindo completamente os procedimentos abertos, e às vezes substituindo parte
do procedimento aberto convencional.

Os instrumentos atuais usados em cirurgia laparoscópica são rígidos: um sistema de


lentes com haste telescópica desenvolvido por Hopkins e Storz, conectado a uma câmera
de vídeo digital. Rigidez é necessária na prática clínica, pois permite manipulação
laparoscópio muito fácil e precisa. Embora existam laparoscópios digitais com um
CCD colocado em sua ponta, os laparoscópios baseados em lentes de haste têm uma
melhor resolução óptica e qualidade de imagem geral e, portanto, compõem a maioria
dos instrumentos usados atualmente. A luz fria agora é uma característica padrão,
assim como o uso de CO2 para distensão luminal; o último porque é não inflamável,
facilmente absorvido pelo tecido e exalado pelos pulmões.

Em 2000, a maioria dos órgãos humanos ocos, não cheios de sangue, era
rotineiramente inspecionada usando endoscópios: nariz, faringe, laringe, esôfago,
estômago, duodeno, cólon, bexiga, cavidade abdominal, espaço pleural, brônquios,
canal auditivo externo e cavidades articulares. Notavelmente ausente foi o intestino
delgado. Embora endoscópios muito longos tenham sido desenvolvidos, seu uso era
incômodo, exigia muitas horas de avanço do escopo e não permitia prontamente o
tratamento. Uma equipe de cientistas de Israel e do Reino Unido criou um endoscópio
em miniatura na forma de uma cápsula grande: consistia de uma lente, um sensor de
imagem CCD, um conjunto de LEDs em miniatura para iluminação, o hardware para
transmitir sem fio as imagens a um receptor externo e uma bateria para alimentar o
dispositivo. Uma vez que a cápsula de vídeo é ativada, os LEDs começam a piscar a
uma taxa de duas vezes por segundo e, ao mesmo tempo, o CCD captura uma imagem

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UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

que é transmitida sem fio. O paciente engole a cápsula e um dispositivo equipado com
antena localizado sobre o abdome do paciente recebe e registra as imagens. A bateria
de uma cápsula de vídeo dura cerca de 8h; portanto, há cerca de 8h de movimento da
cápsula através do esôfago, estômago, duodeno, intestino delgado e cólon disponíveis,
o suficiente para ver imagens de todo o intestino delgado na maioria dos pacientes.
Os resultados são gratificantes: a cápsula endoscópica vídeo, agora oferecida por
vários fabricantes, tornou-se uma técnica vital para a inspeção do intestino delgado,
em particular para pacientes com perda de sangue gastrintestinal crônica sem achados
superiores (esôfago, estômago e duodeno) ou inferiores (cólon) endoscopia. Como é de
se esperar, a cápsula endoscópica em vídeo está evoluindo: câmeras CCD de visualização
frontal e traseira em uma única cápsula, criação de imagem em 360° de múltiplos CCDs
organizados circunferencialmente em uma cápsula e a captura completa de todas as
imagens dentro da memória da cápsula sem a necessidade de um dispositivo receptor,
mas, em vez disso, requer a recuperação da cápsula após a passagem anal (IDDAN,
2004).

Com a cirurgia laparoscópica, as mãos e os dedos da equipe cirúrgica não estão mais
dentro do paciente, mas ainda estão manuseando o equipamento cirúrgico. Isso significa
que todos os movimentos do instrumento são um resultado direto dos movimentos
da mão da equipe cirúrgica. Em 1994, o primeiro equipamento cirúrgico robótico
foi aprovado pelo FDA: o Sistema Endoscópico Automatizado para Posicionamento
Ótimo (AESOP). A função da AESOP era manobrar um endoscópio dentro do corpo
do paciente durante a cirurgia, com base em comandos de voz dados pelo cirurgião
(UNGER, 1994). Em 2000, os primeiros sistemas de cirurgia robótica geral passaram
a ser aprovados pela FDA. Com os atuais sistemas robóticos, os cirurgiões operam
através de pequenas incisões, observam um sistema de visão 3D de alta definição
ampliado e usam minúsculos instrumentos de pulso que se dobram e giram muito
mais que a mão humana, permitindo visão, precisão e controle aprimorados. A
cirurgia robótica tem sido aplicada em muitas áreas cirúrgicas: cirurgia cardíaca,
colorretal, geral, ginecológica, de cabeça e pescoço, cerebral, torácica e urológica (DI
LEVA, 2014).

Quanto ao equipamento laparoscópico rígido, inúmeras melhorias e novas tecnologias


acessórias têm impulsionado o crescimento de procedimentos que agora são possíveis
usando endoscópios flexíveis. O principal desafio para os dispositivos mais utilizados é o
diâmetro do canal de trabalho de um endoscópio flexível. Em geral, o diâmetro máximo
é entre 3 e 3,7 mm. Médicos e engenheiros têm sido inventivos e, essencialmente,
todas as técnicas possíveis foram reduzidas ou modificadas para permitir a entrega
por meio dessa restrição física: inúmeras tipos de instrumentos de corte, grampos ou
pinças, laços, ligaduras, sondas de ultrassom, dispositivos térmicos, aplicadores de

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HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE I

pulverização a frio, raios laser para destruição de tecidos, controles de ligadura elástica,
plasma de argônio ionizado para ablação de tecidos e dilatação e balões de ablação por
radiofrequência. Dispositivos mais complexos ou maiores para aplicações específicas
também foram projetados e estão sendo usados em mãos de especialistas: dispositivos
de sutura que podem ser conectados à ponta de um endoscópio, instrumentação de
dissecação submucosa, câmeras adicionais de visualização lateral com clip e sobre
o endoscópio clipes para fechamento de perfurações. Na colonoscopia, o uso de
água em vez de ar ou CO2 durante a inserção tem várias vantagens. Com efeito, o
crescimento do número e a complexidade dos procedimentos endoscópicos durante
a última década é principalmente o resultado de novas tecnologias acessórias, em
vez de novas características dos principais instrumentos endoscópicos. No entanto,
novos endoscópios continuam a ser desenvolvidos: endoscópios com mais de uma
câmera (visão lateral ou visão de 360º ao redor do eixo longitudinal), endoscópios
autopropulsores e de auto navegação que usam pressão de gás para avançar e um
endoscópio baseado em manga invertida tecnologia eliminando o atrito entre o
endoscópio e a mucosa. Endoscópios descartáveis estão sendo desenvolvidos para
prevenir o risco de infecção; esse é um risco conhecido durante procedimentos
endoscópicos superiores e inferiores com o reuso de instrumentos flexíveis complexos
que são desinfetados entre os procedimentos, mas não podem ser esterilizados
(GROEN, 2017).

A excelente visão possível com os mais recentes endoscópios flexíveis baseados em


CCD e o constante aumento do número de dispositivos acessórios capazes de injetar,
cortar, dilatar, coagular, costurar, prender, conectar e visualizar imagens permitiram
que os gastroenterologistas realizassem cada vez mais procedimentos que formalmente
eram feitos por cirurgiões e radiologistas. De fato, a ultrassonografia endoscópica
agora é usada para drenar abscessos intra-abdominais, cistos de amostras, biópsias
suspeitas de lesões em massa e realizar o bloqueio do plexo celíaco. Varizes esofágicas
podem ser obliteradas endoscopicamente por injeção com agentes esclerosantes ou
ligadura de banda. E grandes pólipos ou malignidades da mucosa são agora removidos
endoscopicamente usando ressecção endoscópica da mucosa ou dissecção submucosa
endoscópica. A mucosa esofágica aberrante pode ser ressecada ou destruída usando
ablação por radiofrequência; estenoses podem ser dilatadas ou temporariamente
ou permanentemente stented. A fundoplicatura gástrica para o refluxo pode agora
ser feita endoscopicamente, e métodos endoscópicos para reduzir o volume gástrico
como tratamento para a obesidade têm sido desenvolvidos. Tudo isso mais ou menos
naturalmente levou à questão de saber se a cirurgia fora do trato gastrointestinal usando
orifícios naturais é possível. O procedimento mais comum por gastroenterologistas é a
miotomia endoscópica para aliviar a obstrução do esôfago inferior devido à acalasia.

O campo da endoscopia ainda está em expansão, em particular na gastroenterologia


e cirurgia. Nós agora temos endoscopistas, aqueles especializados em CPRE, aqueles
25
UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

especializados em ultrassonografia endoscópica e, logo, os especializados em outros


procedimentos endoscópicos avançados. Está se tornando impossível para um
único endoscopista dominar todos os aspectos da endoscopia flexível. Os acessórios
continuarão a crescer em número e variedade com instrumentos específicos para
um único tipo de procedimento e indicação específica; por exemplo, um dispositivo
para achatar as dobras do cólon só pode ser usado para aqueles que se submetem à
colonoscopia para prevenção do câncer colorretal. Novos endoscópios serão projetados
para permitir um desempenho mais fácil dos procedimentos existentes ou para permitir
procedimentos totalmente novos.

A visão tridimensional com profundidade de visão natural pode ser introduzida na


prática endoscópica geral. Na cirurgia laparoscópica, sistemas de portal único estão
sendo desenvolvidos com o objetivo de reduzir o número de pequenas cicatrizes de
três ou quatro para apenas um, idealmente em um local onde ele é pouco ou nada
notado, como o umbigo. Instrumentos de porta única vêm em três configurações –
instrumentos rígidos padrão, como foram usados ​​nos últimos 30 anos, e instrumentos
que permitem uma melhor triangulação por um design rígido articulado ou pré-rígido.
Para os sistemas endoscópicos flexíveis e rígidos, o futuro provavelmente incluirá vídeo
de alta definição estereoscópico apresentado por meio de um monitor head-up para
todos os membros da equipe operacional (GROEN, 2017).

Vários grupos estão estudando maneiras de ajudar o endoscopista gastrointestinal


a alcançar o melhor resultado possível, fornecendo informações sobre o tempo
gasto durante as fases específicas do procedimento, a clareza de visão, a velocidade
do movimento do endoscópio, a natureza de uma lesão polipoide e a configuração
do intestino. A maior parte deste trabalho é feita para colonoscopia. Outros estão
desenvolvendo ferramentas que facilitam a inspeção, como dispositivos de plástico ou
balões que achatam dobras a permitir a inspeção de uma grande parte da superfície da
mucosa (GROEN, 2010).

Outra maneira de melhorar a qualidade da endoscopia é treinar endoscopistas em


todos os aspectos dos procedimentos, incluindo planejamento pré-procedimento
comunicações, e gestão de complicações, usando um ambiente simulado. De fato,
dada a crescente complexidade do equipamento endoscópico, a natureza invasiva das
técnicas endoscópicas mais recentes, a endoscopia em vez da abordagem endoscópica
única e a população envelhecida de pacientes com múltiplas comorbidades, treinamento
e reciclagem utilizando simulação estão se tornando um componente essencial da
endoscopia. Inicialmente, simulação significava um pequeno simulador para um
propósito específico; no entanto, procedimentos endoscópicos complexos realizados por
equipes exigem uma infraestrutura de simulação formal. Numerosos centros médicos

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HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE I

acadêmicos, bem como organizações profissionais, perceberam isso e, em resposta,


criaram centros de simulação que permitem a simulação de um número crescente de
procedimentos endoscópicos simples e complexos.

A endoscopia ainda é principalmente tecnologia dependente do operador. De certa


forma, o manuseio de um endoscópio é semelhante a dirigir um carro: você pode ir para
frente e para trás, devagar e rápido, e idealmente você olha ao seu redor em busca de
perigos iminentes. De fato, a qualidade da colonoscopia, o procedimento endoscópico
mais frequentemente realizado e avaliado, está diretamente relacionada à atitude e às
habilidades de “dirigir” do endoscopista. O endoscopista não está com pressa e tem
o conjunto de habilidades certas, do que a remoção de todos os pólipos é altamente
provável. No entanto, logo, dirigindo um carro, pode ser algo do passado como veículos
autônomos que estão em estágios avançados de desenvolvimento. Da mesma forma,
pode-se esperar que a condução do endoscópio também seja automatizada. Não há
dúvida de que os sistemas de inteligência artificial serão gradualmente introduzidos na
endoscopia e o intestino delgado pode ser a primeira área onde isso acontecerá. De fato,
automação, miniaturização, mecanismos de autopropulsão, estabilização e sistemas de
segmentação de tecidos e capacidades de corte ou destruição de tecidos em teoria podem
ser combinadas em uma cápsula descartável, flexível ou multicompartimentada, que
pode entrar em um paciente através de um sistema natural. Movimentar-se através dos
intestinos, enquanto examina a superfície da mucosa e remove, ou destrói as lesões que
são prontamente reconhecidas como anormais. Todos os mecanismos no manuseio de
endoscópios flexíveis atuais (por exemplo, navegação, limpeza de lentes, manipulação
de instrumentos) precisam ser controlados eletronicamente. Instrumentos precisam
ser embalados dentro do corpo do dispositivo, mas a inteligência artificial que direciona
o “escopo” pode residir fora o corpo onde ele controla o escopo e instrumentos usando
comunicação sem fio.

Endoscópios especialmente projetados são usados para realizar procedimentos


cirúrgicos simples, como:

»» Localizar, amostrar ou remover de tumores dos pulmões e do trato


digestivo.

»» Localizar e remover objetos estranhos dos pulmões e do trato digestivo.

»» Tomar pequenas amostras de tecido para fins de diagnóstico (biópsia).

»» Remover pedras do ducto biliar.

27
UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

»» Colocar tubos (stents) através de bloqueios no ducto biliar, esôfago,


duodeno ou cólon.

Foram desenvolvidos para muitas partes do corpo. Cada um tem seu próprio nome,
dependendo da parte do corpo que se pretende investigar, como:

»» Artroscópio: articulações.

»» Broncoscópio: inserido abaixo da traqueia (traqueia) para examinar o


pulmão;

»» Cisteo-uretroscópio: bexiga e uretra.

»» Citoscópio: bexiga.

»» Colonoscópio: inserido através do ânus para examinar o cólon (intestino).

»» Coloscópio: vagina e colo do útero.

»» Duodenoscópio: inserido através do estômago no duodeno para


inspecionar e realizar procedimentos no ducto biliar e/ou no ducto
pancreático, denominado Colangio-Pancreatograma retrógrado
endoscópico (CPRE).

»» Esofagogastroduodenoscópio: esôfago, estômago e intestino delgado.

»» Fetoscópio: ventre.

»» Gastroscópio: inserido no esôfago para examinar o estômago.

»» Histeroscópio: inserido através do colo do útero para examinar o útero.

»» Laparoscópio: abdômen.

»» Laringoscópio: laringe.

»» Peritoneoscópio: peritônio.

»» Proctosigmoidoscópio: parte inferior do intestino grosso.

»» Sigmoidoscópio: intestino grosso.

»» Toracoscópio: tórax.

»» Ureteroscópio: pélvis e ureter.

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HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE I

Funcionamento do procedimento da
endoscopia
»» Um dos dois cabos principais do endoscópio transporta luz de uma
lâmpada brilhante na sala de cirurgia para o corpo, iluminando a cavidade
onde o endoscópio foi inserido.

»» A luz salta ao longo das paredes do cabo na cavidade do corpo do paciente.

»» A parte doente ou ferida do corpo do paciente é iluminada pela luz que


brilha.

»» A luz refletida da parte do corpo percorre um cabo de fibra ótica separado,


saltando pelas paredes de vidro.

»» A luz brilha na ocular do médico para que ele ou ela possa ver o que está
acontecendo dentro do corpo do paciente. Às vezes, o cabo de fibra óptica é
direcionado para uma câmera de vídeo (que exibe o que está acontecendo
em um monitor de televisão) ou um CCD (que pode capturar imagens
como uma câmera digital ou alimentá-las em um computador para vários
tipos de aprimoramento de imagem).

Endoscopia digestiva alta e baixa

A endoscopia trata-se de um procedimento dividido em dois tipos de intervenções:


Endoscopia Digestiva Alta (EDA) e Endoscopia Digestiva Baixa (EDB). A primeira
é realizada através da boca e serve para visualizar se há alguma doença em nível de
esôfago, estômago ou na 1ª porção do duodeno, intestino delgado. Ela é também
utilizada para diagnósticos de gastrite, úlcera péptica, esofagite, hérnia de hiato, câncer
gástrico, varizes esofagianas, dentre outros.

Consideram-se indicações para a realização da EDA a dor abdominal alta persistente, dor
abdominal alta associada a sinais e sintomas sugestivos de doença orgânica séria, como
anorexia e perda de peso; disfagia e odinofagia; sintomas de refluxo gastroesofágico que
persistem ou recorrem apesar de terapêutica apropriada; vômitos persistentes de causa
desconhecida; sangramento gastrointestinal oculto; acompanhamento de malignidade;
biópsia de intestino delgado; e avaliação de lesão aguda após ingesta de cáusticos. As
contraindicações para realização da EDA consideram o custo benefício do procedimento,
ou seja, quando os riscos à saúde e à vida do paciente superam os benefícios do exame;
a suspeita ou a evidência de víscera perfurada; a presença de divertículo de Zenker;
doença cardiopulmonar descompensada; pacientes que apresentem coagulopatia

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UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

(principalmente se planejada biópsia ou procedimento terapêutico). Decorrente


do exposto, o enfermeiro, de modo geral, intermedia junto à equipe de enfermagem
a legislação vigente, de maneira a garantir a continuidade da assistência, no melhor
sentido de promover a segurança do paciente e dos profissionais, além de favorecer o
ensino e a pesquisa. Para tal, necessário se faz conhecer o processo que deu início ao
conceito mundial da segurança do paciente e das boas práticas em saúde.

Procedimentos de enfermagem na endoscopia

Na sala de exame, o profissional da enfermagem posiciona o paciente adequadamente


sobre o decúbito de lado esquerdo, em seguida, uma cânula plástica (“chupeta”) será
introduzida na cavidade oral do paciente – para manter a sua boca aberta durante o
procedimento, a aplicação de um anestésico tópico (spray) será “borrifado” pelo médico
endoscopista na garganta, permitindo a passagem do aparelho sem provocar dor ou
náuseas – através do lúmen da cânula plástica se introduz um tubo flexível, fino, a
partir do esôfago, passando pelo estomago e chegando ao duodeno. Por meio dessa
haste flexível, composta por uma câmera, o médico será capaz de identificar qualquer
anormalidade, inclusive coletar amostras de tecido (biópsias) durante o exame, para
análise laboratorial detalhada.

Alguns tratamentos podem ser realizados por meio da realização da EDA. Estes incluem
a dilatação de uma área estreitada do esôfago, estômago e duodeno, remoção de pólipos,
objetos deglutidos e tratamento de vasos sangrantes e úlceras por injeção interna
ou aplicação de calor (usando corrente elétrica diatermal, laser argônio ou heater
probe). Em alguns casos, pode ser utilizada uma medicação para relaxar, ou mesmo
um anestésico poderá ser aplicado na veia momentos antes de iniciar o procedimento,
essa medicação provoca sono e esquecimento por algum tempo. Assim, uma das
recomendações da enfermagem é solicitar que o paciente venha acompanhado, pois não
se deve dirigir após o procedimento ou realizar tarefas que necessitem de atenção, como
operar máquinas ou tomar decisões importantes, já que a sedação diminui reflexos e
o raciocínio. O procedimento dura, em média, 20 minutos e tende a cursar de forma
indolor. Após o procedimento, o paciente deverá permanecer no setor de endoscopia
em torno de 30 minutos, até a neutralização completa dos efeitos do sedativo e/ou
anestésico. A garganta pode ficar adormecida ou levemente irritada, e, por isso, não
se deve oferecer alimento ou água até que o reflexo de deglutição esteja normalizado.
Após a completa recuperação, caso seja indicação médica, o paciente submetido à EDA
poderá retornar à sua dieta regular, a menos que seja aconselhado do contrário. O
paciente poderá apresentar gases ou uma pequena distensão abdominal em razão do ar
que foi introduzido através do endoscópio; contudo, tais desconfortos tendem a passar

30
HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE I

rapidamente. Como em quase todos os procedimentos, podem ocorrer complicações


que se mostram como eventos raros: menos de 1 para 1.000 procedimentos. Dentre
as complicações relatadas na literatura, encontram-se as reações aos medicamentos;
estimulação vagal, perfurações (rasgos) e sangramentos, que necessitam de tratamento
ou de cirurgia. Tais complicações estão mais relacionadas aos procedimentos
terapêuticos realizados via EDA.

A sistematização de assistência de enfermagem contribui para uma prática assistencial


organizada e segura, que pode ser entendida como uma das grandes buscas da
enfermagem pelo saber científico da profissão e da melhoria da qualidade do cuidado
prestado. Toda a equipe de Enfermagem deve trabalhar com medidas que possam aliviar
a ansiedade e o estresse do paciente, geralmente presente, antes e durante a realização
do exame. Dentre essas atribuições, ressaltam-se o preparo e a administração de
medicações, a limpeza do endoscópio e o acompanhamento do exame para posicionar
a chupeta.

A atuação de toda a equipe de enfermagem neste setor inclui cuidados executados nos
atendimentos, exigindo do enfermeiro conhecimento das tecnologias especializadas,
habilidade, competência e tomada de decisão nas situações problema, para orientar
de forma adequada a equipe sob sua responsabilidade. A competência dos enfermeiros
em serviços por imagem foi estabelecida pela Resolução do Conselho Federal de
Enfermagem (COFEN) no 211/1998, em que se destaca, dentre outas funções do
enfermeiro, planejar, organizar, supervisionar, executar e avaliar todas as atividades de
enfermagem em pacientes submetidos aos exames endoscópicos.

A visão holística do enfermeiro costuma se materializar nas ações de cuidado que a


equipe de enfermagem disponibiliza aos pacientes/clientes nos variados cenários
assistenciais; nesse cenário, instrumentos como a SAE e o Processo de Enfermagem
conferem maior autonomia ao enfermeiro, o que tende a estreitar ainda mais a relação
entre profissionais, clientes e familiares, nas diversas abordagens que a enfermagem
executa no setor de endoscopia. A monitorização dos sinais vitais deve ser cuidadosa,
atentando para sinais iniciais de arritmias cardíacas; a avaliação de sinais de perfurações
e hemorragias durante a realização do exame também é fundamental para o bom
andamento do mesmo e para o bem-estar do paciente ao seu término. Após a realização
do exame, o enfermeiro deve instruir sua equipe para que não seja administrado
quaisquer tipos de líquidos ao paciente até que se restabeleça o reflexo de deglutição; é
importante também orientar os familiares ou acompanhantes do paciente quanto a este
cuidado. Quanto ao desconforto existente na região orofaríngea, após o exame, a equipe
pode utilizar pastilhas que ajudam a aliviar, porém, as condições físicas do paciente,
bem como o seu estado, devem ser avaliados para evitar a possível broncoaspiração.

31
UNIDADE I │ HISTÓRIA DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

A equipe de Enfermagem deve avaliar, também, a presença de sangramento ativo de


grande quantidade, que se estiver presente a ingestão oral é cancelada e só permitida
novamente após a cessação do sangramento. Se acaso o sangramento se intensificar,
o paciente é preparado para outros procedimentos diagnósticos e terapêuticos a
fim de solucionar o problema. Outro fator que envolve a equipe de enfermagem é a
manutenção do aparelho utilizado no exame e sua limpeza, o cumprimento das regras
de assepsia deve ser realizado pela equipe de enfermagem. Os endoscópios digestivos
flexíveis são aparelhos caros e frágeis que necessitam de manutenção rigorosa e
desinfecção específica. Estes aparelhos não podem ser esterilizados pelos métodos
clássicos. Atualmente, todos os aparelhos são imersíveis em água e permitem um
tratamento adequado de desinfecção. Por sua complexidade, o processo de limpeza e
de desinfecção de endoscópios não é somente uma preocupação da enfermagem, ela se
tornou multidisciplinar, pois exige discussão sobre riscos físicos, biológicos e químicos,
tanto para o paciente quanto para a equipe de saúde.

32
FUNCIONAMENTO
DO SERVIÇO DE UNIDADE II
ENDOSCOPIA

CAPÍTULO 1
Estrutura e funcionamento

A qualidade da endoscopia gastrointestinal é importante para os pacientes. Sabe-se


que há considerável variação na qualidade e segurança da endoscopia, indicando
significativo espaço para melhora. Historicamente, o foco de qualidade e segurança tem
sido o desempenho de endoscopistas individuais, com a definição e medição de métricas
de desempenho, e o uso destes para direcionar intervenções projetadas para melhorar o
desempenho. Tem havido menos foco no ambiente em que os endoscopistas trabalham
e o papel ou responsabilidade de um serviço de endoscopia no ciclo de melhoria da
qualidade.

Uma endoscopia faz parte da jornada diagnóstica ou terapêutica de um paciente. O


que acontece antes e depois do procedimento afeta sua experiência e segurança. Um
endoscopista realiza o procedimento, mas ele ou ela depende de uma equipe para
realizar bem o procedimento e com segurança. Assim, a qualidade e a segurança da
endoscopia dependem do ambiente em que os endoscopistas trabalham (incluindo
as instalações e os equipamentos) e da equipe que trabalha nesse ambiente. Os
endoscopistas individuais e seus funcionários precisam estar cientes de que há espaço
para melhorias, acreditar que a melhoria fará diferença, motivar-se para melhorar,
participar de mais desenvolvimento e, finalmente, auditar essa melhoria para garantir
que o nível necessário tenha sido atingido.

O serviço de endoscopia tem um papel fundamental a desempenhar no fornecimento


de endoscopia de alta qualidade, segura e centrada no paciente. A coleta de dados de
desempenho e a sua alimentação aos endoscopistas fornecem métricas que podem
ser usadas para direcionar intervenções projetadas para melhorar o desempenho; por
exemplo, motivando os endoscopistas a mudar sua prática; proporcionando tempo e
oportunidade para melhorar; possivelmente por treinamento interno; e, finalmente,
aplicando restrições se o indivíduo não atingir os níveis necessários de desempenho.

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UNIDADE II │ FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO DE ENDOSCOPIA

Tal monitoramento contínuo, no contexto de um entendimento das funções e


responsabilidades que um serviço de endoscopia tem no ciclo de melhoria da qualidade,
deve levar a melhorias contínuas.

A unidade de endoscopia é um setor composto de várias áreas, nas quais são realizados
procedimentos endoscópicos, em condições de segurança, para os pacientes e equipe
multiprofissional. Seu planejamento e sua organização devem seguir as regulamentações
da RDC/ANVISA. Este regulamenta que a infraestrutura deve ser adequada às operações
desenvolvidas, para assegurar a qualidade dos procedimentos. A área física deve
ser planejada de acordo com o número de atendimentos previstos (ambulatorial ou
unidade inserida em ambiente hospitalar), tipo de procedimento realizado, quantidade
de profissionais envolvidos, fluxo do artigo para o reprocessamento e a tecnologia
utilizada (MUNHÓZ; SOARES, 2000).

É necessário o uso de ar condicionado, do tipo central, nas unidades de endoscopia,


principalmente pela toxicidade e volatilidade do glutaraldeído. Outro ponto preocupante,
que oferece risco à saúde do trabalhador é a limpeza dos endoscópios realizada de
forma manual, gerando aerossóis, implicando em risco biológico (MUNHÓZ; SOARES,
2000).

A aquisição de equipamentos mais modernos e complexos, o conhecimento acerca


dos problemas ligados à desinfecção passíveis de serem provocadas por aparelhos
endoscópicos, as exigências legais decorrentes destes riscos, as mudanças no perfil do
usuário do serviço, que aumenta em termos de complexidade e gravidade, indicam a
necessidade de planejar a assistência de enfermagem de forma mais individualizada e
segura (SILVA, 2010).

A RDC, no 6 de março de 2013, dispõe sobre os requisitos de Boas Práticas de


Funcionamento para os serviços de endoscopia com via de acesso ao organismo por
orifícios exclusivamente naturais. Neste contexto, baseado na estrutura organizacional,
temos:

Art. 4o Para cumprimento desta Resolução os serviços de endoscopia


passam a ser classificados da seguinte forma:

I- Serviço de endoscopia tipo I: é aquele que realiza procedimentos


endoscópicos sem sedação, com ou sem anestesia tópica;

II- Serviço de endoscopia tipo II: é aquele que, além dos procedimentos
descritos no inciso I do Art. 4o, realiza ainda procedimentos endoscópicos
sob sedação consciente, com medicação passível de reversão com uso
de antagonistas;

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FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO DE ENDOSCOPIA │ UNIDADE II

III- serviço de endoscopia tipo III: serviço de endoscopia que, além


dos procedimentos descritos nos incisos I e II do Art. 4o, realiza
procedimentos endoscópicos sob qualquer tipo de sedação ou anestesia.

Parágrafo único. Quando não especificada a classificação, as


determinações desta Resolução aplicam-se aos três tipos de serviços de
endoscopia.

Art. 5o As atividades realizadas nos serviços de endoscopia autônomos


e não autônomos devem estar sob responsabilidade de um profissional
legalmente habilitado.

Art. 6o Todo serviço de endoscopia deve possuir:

I - Registro diário dos procedimentos endoscópicos realizados, contendo


data e horário do exame, nome do paciente, data de nascimento,
sexo, procedimento realizado, nome do profissional que executou o
procedimento e identificação do equipamento;

II - Registro de intercorrências e eventos adversos, contendo data


e horário do exame, nome do paciente, data de nascimento, sexo,
identificação do equipamento, procedimento realizado, profissional que
executou o procedimento e tipo de intercorrência ou evento adverso,
além das medidas de suporte prestadas ao paciente;

III - registro de controle das substâncias e medicamentos sujeitos a


controle especial (entorpecentes e psicotrópicos) utilizados durante
o procedimento endoscópico; de acordo com as normas específicas
vigentes; e

IV - Registro de acidentes ocupacionais.

Parágrafo único. As exigências determinadas nos incisos I e II podem


ser anotadas diretamente no prontuário para unidades tipo I.

Art. 7o Os registros de que trata este Resolução devem ser arquivados


de forma a permitir a sua rastreabilidade, na ausência de legislação
específica, o prazo de guarda mínimo é de cinco anos, para efeitos de
inspeção sanitária.

Art. 8o Os requisitos para aquisição, guarda e controle dos medicamentos


sujeitos a controle especial devem seguir normas específicas vigentes.

Art. 9o Deve estar disponível no serviço de endoscopia a documentação


relativa às características técnicas, especificações de desempenho,

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UNIDADE II │ FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO DE ENDOSCOPIA

instruções de operação e manutenção dos equipamentos e seus


acessórios.

Art. 10. Em situações emergenciais, o serviço de endoscopia deve estar


preparado para garantir a estabilização do paciente até que seja possível
a sua remoção em condições de segurança ou a sua liberação para o
domicílio.

Parágrafo único. Em situações que impliquem risco de vida, a


transferência do paciente para um serviço de saúde de atendimento a
urgências deve ser feita obrigatoriamente com o acompanhamento de
um profissional legalmente habilitado.

Art. 11. O serviço de endoscopia deve prestar esclarecimentos a seus


pacientes, de forma verbal e escrita, sobre os procedimentos propostos,
expondo objetivos, evolução esperada, riscos e complicações mais
frequentes.

Art. 12. O paciente submetido à endoscopia, nos serviços tipo II e III, sob
qualquer tipo de sedação ou anestesia não tópica, só pode ser liberado
na presença de um acompanhante adulto.

Art. 13. O serviço de endoscopia deve exigir que o paciente com idade
inferior a dezoito anos e não emancipado ou que tenha sido considerado
legalmente incapaz esteja acompanhado pelo responsável legal.

Quanto a estrutura física e materiais, destaca-se:

Art. 18. O serviço de endoscopia deve possuir, no mínimo, os seguintes


ambientes:

I - Sala de recepção de pacientes;

II - Sala de consulta/procedimento;

III - sala para recuperação, exceto para serviços de endoscopia tipo I; e

IV - Sala para processamento de equipamentos, acessórios e outros


produtos para a saúde, exceto para serviços de endoscopia tipo I.

Parágrafo único. Caso o serviço de endoscopia utilize no processamento


produtos químicos para desinfecção de alto nível, independente da
classificação do tipo de serviço, a limpeza e desinfecção devem ser
realizadas obrigatoriamente na sala de processamento.

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FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO DE ENDOSCOPIA │ UNIDADE II

Art. 19. As dimensões das salas descritas nos incisos de I a IV devem


ser compatíveis com o número de pacientes atendidos e com o tipo de
procedimento realizado no local, preservando o fluxo de trabalho, o
espaço reservado para circulação e a área ocupada para equipamentos
e mobiliários.

Art. 20. O serviço de endoscopia tipo II deve possuir, no mínimo, os


seguintes itens:

I - Termômetro;

II - Esfigmomanômetro;

III - estetoscópio;

IV - Oxímetro de pulso com alarme;

V - Oxigênio a 100% (cem por cento);

VI - Aspirador;

VII - suporte para fluido endovenoso; e

VIII - carro ou maleta para atendimento de emergência


cardiorrespiratória, contendo:

a) ressuscitador manual do tipo balão auto-inflável com reservatório e


máscara;

b) cânulas nasogástricas e orofaríngeas;

c) laringoscópio com lâminas;

d) tubos endotraqueais;

e) sondas para aspiração;

f) materiais e medicamentos emergenciais; e

g) desfibrilador.

Art. 21. O serviço de endoscopia tipo III deve possuir, no mínimo, além
dos itens discriminados no Artigo 20 desta Resolução, equipamentos,
instrumental, materiais e medicamentos que permitam a realização do
ato anestésico e recuperação pós-anestésica com segurança.

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UNIDADE II │ FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO DE ENDOSCOPIA

Art. 22. A sala de recuperação dos serviços de endoscopia tipo II e tipo


III deve oferecer condições de acomodação com segurança e conforto
durante o reestabelecimento do paciente.

Art. 23. É proibida a recuperação de pacientes submetidos à sedação ou


anestesia não tópica fora da sala de recuperação.

Art. 24. A sala de processamento dos serviços de endoscopia deve


possuir:

I - Cuba para lavagem com profundidade suficiente para evitar respingos


em suas laterais, no piso e no profissional;

II - Bancada lisa e impermeável com dimensões compatíveis para a


acomodação dos equipamentos, acessórios e outros produtos para a
saúde a serem processados;

III - ponto de água que atenda os padrões de potabilidade conforme


normatização vigente; e

IV- Sistema de climatização.

Art. 25. Os serviços de endoscopia tipo I, que não utilizam no


processamento produtos químicos para desinfecção de alto nível devem
possuir uma área para processamento de equipamentos, acessórios e
outros produtos para a saúde com os seguintes itens:

I - Cuba para lavagem com profundidade suficiente para evitar respingos


em suas laterais, no piso e no profissional;

II - Bancada lisa e impermeável com dimensões compatíveis para a


acomodação dos equipamentos, acessórios e outros produtos para a
saúde a serem processados; e

III - ponto de água que atenda os padrões de potabilidade conforme


normatização vigente.

Art. 26. O sistema de climatização da sala de processamento dos serviços


de endoscopia deve atender aos seguintes requisitos:

I - Garantir vazão mínima de ar total de 18,00 m3/h/m²;

II - Manter um diferencial de pressão negativa entre os ambientes


adjacentes, com pressão diferencial mínima de 2,5 Pa;

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FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO DE ENDOSCOPIA │ UNIDADE II

III - prover exaustão forçada de todo ar da sala com descarga para o


exterior da edificação; e

IV - O ar de reposição pode ser proveniente dos ambientes vizinhos.

Art. 27. Caso o serviço utilize processo automatizado de limpeza,


desinfecção e esterilização, a área física deve atender aos requisitos
técnicos necessários para instalação do equipamento conforme
indicação do fabricante e legislação vigente.

Art. 28. Para a secagem dos equipamentos com canais, os serviços


devem dispor de ar comprimido medicinal, gás inerte ou ar filtrado,
seco e isento de óleo.

Os exames endoscópicos são fundamentais para auxiliar no diagnóstico, evidenciando


a causa da doença e possibilitando a indicação do tratamento mais efetivo ao paciente.
Além disso, podem ser utilizados como procedimentos terapêuticos para algumas
patologias e para acompanhar pacientes crônicos, como nos casos de Doença de Crohn,
doenças inflamatórias do aparelho digestivo, hepatopatias ou com histórico familiar de
doenças do trato digestivo. Os exames diagnósticos e procedimentos terapêuticos são
realizados com o acompanhamento do anestesiologista, garantindo uma sedação com
maior segurança para o paciente e para o ato médico.

Indicadores de qualidade pré-procedimento impactam na equipe e no procedimento a


ser realizado, tais como:

»» Indicação adequada: endoscopia é indicada quando as informações


obtidas ou a terapia desde irá ajudar o paciente.

»» Consentimento informado: consentimento deve ser obtido e documentado


para o procedimento e qualquer sedação ou analgesia, exceto em
emergências. O consentimento deve abordar todas as complicações
comuns, incluindo hemorragia, perfuração, diagnósticos não atendidos,
sedação e complicações relacionadas.

»» Preparação: documentação clara da qualidade do preparo é essencial


para a eficácia do exame.

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UNIDADE II │ FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO DE ENDOSCOPIA

Figura 10. Sala de endoscopia.

Fonte: <https://www.gentside.com.br/endoscopia/endoscopia-como-e-feito-preparo-o-que-e-o-exame-de-endoscopia_
art6314.html>. Acesso em: 5/7/2019.

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SEGURANÇA DO UNIDADE III
PACIENTE

CAPÍTULO 1
Principais eventos e como evitá-los

A segurança do paciente e a melhoria da qualidade são cada vez mais priorizadas em todas
as áreas da saúde. Erros na endoscopia são comuns, mas muitas vezes são irrelevantes e,
portanto, não são corrigidos. Uma série de pequenos erros, no entanto, pode culminar
em um evento adverso significativo. Isso não é surpreendente, dado o volume crescente
e a complexidade dos casos, combinados com padrões de trabalho por turnos. Há um
crescente corpo de evidências que sugerem que as listas de verificação de segurança
cirúrgica podem prevenir erros e, portanto, impactar positivamente na morbidade e
mortalidade dos pacientes. Consequentemente, listas de verificação cirúrgicas são
obrigatórias para todos os procedimentos. Muitos hospitais estão exigindo o uso de
listas de verificação semelhantes para endoscopia. Não há orientação sobre a melhor
forma de implementar listas de verificação de endoscopia nem qualquer medida de sua
utilidade na endoscopia (TOSO et al., 2016).

Desde o final da década de 1970, houve relatos esporádicos de infecções nosocomiais


relacionadas a procedimentos endoscópicos. A maioria dos casos documentados foi
causada pelo descumprimento de diretrizes nacionais e internacionais (incluindo
reprocessamento, secagem ou armazenamento inadequado de endoscópios e
acessórios endoscópicos). Danos, limitações de projeto, água contaminada e lavadoras
desinfetadoras de endoscópios contaminados também foram relatadas. As infecções
relacionadas à endoscopia são categorizadas da seguinte forma:

»» Infecções endógenas da flora microbiana do paciente.

»» Infecções exógenas causadas por equipamento reprocessado


inadequadamente. Endoscópios, componentes endoscópicos e acessórios
endoscópicos reutilizáveis podem ser veículos para microrganismos
patogênicos ou oportunistas que são transmitidos de pacientes anteriores
ou água.

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UNIDADE III │ SEGURANÇA DO PACIENTE

Vários fatores aumentam, cada vez mais, o risco de os procedimentos endoscópicos


causarem eventos adversos e danos ao paciente. Primeiro, o rastreamento do câncer
de intestino com base na população expõe indivíduos saudáveis e assintomáticos ao
preparo intestinal, sedação, bem como um procedimento endoscópico invasivo, que
também pode envolver terapia de alto risco. Em segundo lugar, nossa capacidade
de realizar procedimentos terapêuticos mais numerosos e mais avançados ao longo
do trato gastrointestinal desenvolveu o campo em muito mais de uma especialidade
cirúrgica com os riscos e as complicações inerentes associados. As especialidades
cirúrgicas foram identificadas na base de evidências como as áreas clínicas de maior
risco para o dano ao paciente – o que talvez não seja surpreendente, dada a invasividade
e a complexidade dos procedimentos. Outros fatores que aumentam a demanda por
procedimentos endoscópicos estimados em 10-15% por ano incluem o envelhecimento
da população; um aumento nas condições que requerem endoscopia, como doença
hepática e tecnologia avançada, permitindo que os endoscopistas realizem soluções
endo-cirúrgicas cada vez mais invasivas.

Em 2008, a Agência Nacional de Segurança do Paciente do Departamento de Saúde


emitiu orientações sobre uma série de “eventos” definidos como “incidentes sérios mas
evitáveis de segurança do paciente”. Esta lista começou como oito incidentes graves que
resultaram em danos significativos aos pacientes e se expandiram para 25, em 2012.
A notificação dos eventos é obrigatória para incentivar o aprendizado e implementar
estratégias preventivas. Alguns dos 25 eventos são diretamente relevantes para a
endoscopia:

»» Overdose de benzodiazepínicos durante sedação consciente.

»» Falha em monitorar e responder a saturações de oxigênio durante um


procedimento sedado.

»» Identificação incorreta do paciente.

»» Cirurgia errada no local (ou procedimento endoscópico incorreto).

»» Colocação incorreta de uma sonda nasogástrica em segurança a nível


nacional.

Qualidade e segurança não podem ser comprometidos. É preciso buscar medidas


especiais e proativas para manter e melhorar a segurança. A maioria das tarefas médicas
é complexa e qualquer intervenção envolve numerosas etapas nas quais um erro pode
ocorrer. Na grande maioria dos casos, esses erros são corrigidos ou compensados e os
pacientes não sofrem nenhum dano. No entanto, se os erros se alinharem e não forem

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SEGURANÇA DO PACIENTE │ UNIDADE III

capturados à medida que o paciente passa pelo processo de tratamento, podem ocorrer
danos significativos. Assim, os erros podem ser “com ou sem consequências” e os quase
acidentes podem ser uma oportunidade para intervir, evitando assim um evento mais
sério no futuro.

Na década passada, a base de evidências sobre como evitar que erros ocorram na área
da saúde expandiu-se drasticamente. Sabemos agora que os erros podem ser evitados
por meio de um melhor trabalho em equipe e cultura de segurança na área da saúde, e
que o treinamento da equipe e liderança organizacional para iniciativas de segurança
e melhoria de qualidade são fatores importantes. A intervenção de segurança que
capturou a atenção de todos os cirurgiões e intervencionistas. Em 2009, um documento
de referência descreveu o desenvolvimento e aplicação em oito hospitais mundiais
da lista de verificação da Organização Mundial da Saúde. Essa ferramenta simples,
uma lista de verificação, demonstrou a capacidade de reduzir significativamente
a mortalidade de 1,5% antes da introdução do checklist a 0,8% após a sua aplicação
(RANNI; SHOJANIA, 2008).

A premissa de uma lista de verificação é fornecer uma oportunidade momentos antes de


um procedimento começar a verificar se as informações vitais são compartilhadas com
toda a equipe. Assim como na cirurgia, um paciente geralmente será admitido por uma
equipe, profissional de saúde (geralmente uma enfermeira) fora da sala de endoscopia.
Em alguns casos, o consentimento pode ter sido completado ou parcialmente concluído
por um membro diferente da equipe. Em quase todos os casos, haverá profissionais
dentro da sala que não têm conhecimento prévio do paciente. Uma lista de verificação
permite compartilhar informações pertinentes ao paciente individual. Não é para ser
uma repetição de todo o documento de admissão. As principais características de uma
lista de verificação endoscópica a ser preenchida imediatamente antes do início do
procedimento (ou seja, o equivalente à lista de verificação cirúrgica da OMS “Tempo
limite”)

1. Verifique a identidade do paciente O paciente deve ser solicitado a


indicar seu nome e data de nascimento. Isso deve ser verificado em
relação à faixa de nomes do paciente e contra qualquer documentação
dentro da sala, por exemplo, as anotações, os adesivos de identificação do
paciente, o formulário de consentimento e a tela do sistema de relatórios
de endoscopia. Isso é sempre importante, mas especialmente quando a
ordem da lista pode ter mudado; o consentimento pode ter sido feito por
outro endoscopista; os pacientes estão confusos.

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UNIDADE III │ SEGURANÇA DO PACIENTE

2. A equipe principal de endoscopia deve se apresentar ao paciente, não


apenas tranquiliza o paciente, mas também quebra os limites profissionais
e garante que todos os membros da equipe se conheçam pelo nome. Isso
facilita a comunicação, particularmente em momentos de dificuldade ou
crise. Outras unidades podem preferir adotar um quadro branco com os
nomes de membros da equipe listados, que são atualizados no início de
cada lista.

3. A indicação correta e consentimento são confirmados. O formulário


de consentimento deve ser verificado para assinaturas do paciente,
profissional de saúde (referendado, se necessário). Isso serve para
garantir que toda a equipe esteja ciente de qual procedimento deve ser
executado e facilita a preparação do caso.

4. Confirmação da preferência do paciente pela sedação. Deve-se verificar e


confirmar se o paciente está sendo adequadamente monitorado antes da
administração de medicamentos sedativos (acesso intravenoso funcional
e oximetria de pulso de oxigênio).

5. Comorbidades relevantes são compartilhadas: não se pretende que seja


uma repetição de toda a história médica, mas uma história importante e
pertinente que possa ser relevante deve ser verbalizada.

6. Medicamento anticoagulante: a confirmação do tipo e da última dose


de anticoagulantes é fundamental, particularmente para procedimentos
terapêuticos.

7. Equipamento funcionando corretamente: finalmente, a equipe deve


confirmar que possui todo o equipamento necessário para o qual cada
procedimento é planejado, incluindo o kit necessário no caso de uma
complicação, por exemplo, sangramento.

Estas não são exaustivas nem obrigatórias e todas as unidade de endoscopia devem
desenvolver um que eles se sentem melhor funciona para sua equipe. No entanto, listas
de verificação eficazes devem ser tão concisas e amigáveis quanto possível, cobrindo as
principais questões que podem dar origem a um evento adverso. Em relação à aplicação
prática de uma lista de verificação de endoscopia, é de vital importância que um
indivíduo assuma a liderança para a conclusão da lista de verificação e seja responsável
por garantir que ocorra. Isto não precisa necessariamente ser o endoscopista e pode
igualmente ser a enfermeira responsável. Quem lidera, no entanto, deve garantir que
toda a equipe esteja engajada no processo.

44
SEGURANÇA DO PACIENTE │ UNIDADE III

8. Verifique as amostras histológicas: duas pessoas devem verificar se a (s)


amostra (s) correta (s) na (s) cuba (s) estão rotuladas corretamente e se a
documentação anexa corresponde.

9. Verifique o relatório de endoscopia: o relatório deve ser um reflexo preciso


do procedimento (nome do endoscopista/supervisor; procedimento
executado; instruções pós-procedimento, quando relevante).

10. Plano claro de acompanhamento: recomendações claras para intervalo


de vigilância, investigações adicionais ou duração do tratamento.

Cada unidade de endoscopia terá suas próprias ideias sobre a melhor maneira de
incorporar uma lista de verificação em seus protocolos. Alguns podem optar por ter uma
versão em papel, seja como parte do livreto de admissão ou de um formulário dedicado
separado. Outros podem incorporá-lo ao sistema de relatórios de endoscopia eletrônica,
alguns dos quais têm a facilidade de incluir todos os itens da lista de verificação em seu
programa ou de personalizar campos para incluir uma lista de verificação. Uma vez que
o modelo de checklist tenha sido acordado pelos usuários da endoscopia, um período
de treinamento e implementação deve ser planejado. Um programa de implementação
cuidadosamente planejado com notificação adequada é um pré-requisito para a adoção
e sustentabilidade, a longo prazo, de uma lista. Uma abordagem multifacetada ajudará
e isso pode ser alcançado apresentando as evidências de sua utilidade. Simplesmente
lançar a lista de verificação sem treinamento e familiarização provavelmente não será
bem-sucedida, se os membros da equipe não entenderem a lógica por trás de seu uso.
Idealmente, recomenda-se que vários funcionários sejam convidados a defender o
uso da lista de verificação e que atuem como líderes na implementação da mudança.
Isso pode incluir uma enfermeira-chefe, endoscopista e até mesmo trainees. Se
possível, alguns ou todos eles podem ter um tempo dedicado para dar suporte aos
usuários durante a primeira semana de sua introdução, a fim de ajudar na solução de
problemas, lembrar as equipes e facilitar o uso. É necessária uma forte liderança dentro
da equipe de enfermagem e médica, inclusive dos diretores médicos e de enfermagem
da instituição para estabelecer uma mudança na prática. Se mal feito, as evidências
sugerem que o paciente pode estar em maior risco, especialmente se todos pressupõem
que outra pessoa tenha concluído as verificações necessárias. O feedback interino (por
exemplo, cerca de 4 a 6 semanas), após a introdução da lista de verificação, permitirá
que a equipe contribua com ideias sobre como melhorar e adaptar a lista de verificação.
Compartilhar exemplos clínicos “internos” de onde a lista de verificação mitigou um
erro também pode facilitar a captação, como por exemplo:

»» Paciente em sala de procedimentos sem identificação.

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UNIDADE III │ SEGURANÇA DO PACIENTE

»» Detalhes incorretos do paciente no software de relatórios de endoscopia.

»» Paciente em sala de procedimentos com alergia medicamentosa


conhecida – selecionado durante a lista de verificação – sem pulso de
alerta de alergia.

»» Formulário de consentimento incorreto.

»» Detalhes incorretos do paciente no pote de amostra de histologia.

A auditoria da conclusão da lista de verificação também é aconselhada para que todos


compreendam os desafios, alcancem a compreensão e apoiem aqueles que não parecem
engajados ou que não percebem sua relevância. Estratégias podem ser utilizadas para
melhorias no processo.

Uma lista de verificação não impedirá todos os erros na endoscopia – ela não pode
alcançar isso, nem deve ser planejada para isso. Se, no entanto, puder evitar um
pequeno número de erros e promover uma cultura aprimorada de segurança por meio
de um melhor trabalho em equipe na sala de endoscopia, seu uso será justificado. Nos
casos em que o erro ocorre e uma lista de verificação não foi usada, é provável que haja
espaço para críticas. A lista de verificação é uma ferramenta simples, barata e eficaz
que tem o potencial de promover endoscopia segura e confiável, em parte por meio de
um sistema de verificações robustas, mas também pelo aprimoramento do trabalho em
equipe na endoscopia.

Endoscopia na gravidez
A realização de exames endoscópicos durante a gravidez levanta o problema da
segurança para o feto no útero devido ao risco de indução de parto prematuro. Como
é evidente, a realização de endoscopia durante a gravidez pode ser particularmente
importante, já que estudos radiológicos estão contraindicados devido à teratogenese
por radiações. Terapêuticas medicamentosas empíricas sem diagnóstico endoscópico
definitivo são indesejáveis devido à possibilidade de teratogenese medicamentosa e
terapêutica cirúrgica, por exemplo, por hemorragia digestiva é indesejável pelo risco de
morte fetal. As vantagens da endoscopia devem ser ponderadas em função do risco para
o feto, pela medicação utilizada durante a endoscopia, possibilidade de descolamento
da placenta ou de traumatismo fetal durante a endoscopia, de lesão fetal devido a
arritmias, hipotensão, hipertensão ou hipóxia transitória. Na endoscopia alta, os quais
sugerem que os benefícios desta técnica, quando realizada por hemorragia digestiva alta
evidente excedem os riscos, uma vez que tem uma elevada sensibilidade diagnóstica

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SEGURANÇA DO PACIENTE │ UNIDADE III

e possibilidade de hemostase endoscópica. Outras indicações como náuseas,


vômitos e dor abdominal constituem indicações menos prementes para a realização da
endoscopia alta durante a gravidez, devendo a sua realização ser ponderada caso a caso.
A endoscopia deve ser realizada em doentes estáveis, com prévia consulta obstétrica,
com monitorização eletrocardiográfica e oximetria, após normalização de sinais vitais.
A monitorização cardíaca fetal poderá tornar a endoscopia mais segura ao detectar
sofrimento fetal durante a endoscopia. Há pouca informação sobre o risco de hemostase
endoscópica durante a gravidez, já que foi utilizada apenas em casos isolados, nos quais
não se registaram complicações (GENZLINGER et al., 1999).

Complicações pós-procedimento de
endoscopia
As complicações infecciosas são consequências raras da endoscopia gastrointestinal.
Podemos dividi-las em três áreas principais: as complicações infecciosas resultantes
da própria flora microbiana do doente; infecções transmitidas de doente para doente
através do endoscópio; infecções transmitidas entre o doente e o pessoal de saúde.

A endoscopia é um procedimento seguro. No entanto, apresenta um pequeno risco de


complicações. As complicações raras que podem ocorrer incluem:

»» Reações adversas à sedação endovenosa (complicações


cardiopulmonares).

»» Hemorragia: o risco de hemorragia aumenta quando são efetuados


procedimentos diagnósticos ou terapêuticos, como a colheita de biopsias,
a excisão de pólipos ou a dilatação esofágica.

»» Laceração e perfuração do tubo digestivo superior: embora rara, a


laceração pode ocorrer em qualquer parte do tubo digestivo, sendo
mais frequente a nível esofágico, podendo necessitar de internamento.
A perfuração é uma complicação rara e está geralmente associada a
procedimentos adicionais como a dilatação esofágica ou a resseção de
pólipos de grandes dimensões. Apesar dos avanços verificados em vários
aspectos da endoscopia, como o aperfeiçoamento dos endoscópios
e acessórios, atenção ao treino durante o período de aprendizagem,
entre outros, continuam a registar-se perfurações relacionadas com a
realização dos vários tipos de endoscopia, mesmo nos melhores centros.
As perfurações relacionadas com a endoscopia alta ocorrem sobretudo
após dilatação de estenoses, particularmente em estenoses malignas. O

47
UNIDADE III │ SEGURANÇA DO PACIENTE

risco de perfuração aumenta em determinadas situações, como estenoses


complexas (mais estreitas ou mais anguladas), estenoses malignas com
lúmen muito reduzido e estenoses cáusticas. Também deve ser referido
que a dilatação esofágica é um dos procedimentos mais dependentes do
endoscopista, sendo que a taxa de complicações varia inversamente com
a experiência do endoscopista.

»» Infeção: a maioria das endoscopias são diagnósticas, com ou sem


realização de biopsias, o que implica um baixo risco de infeção. O risco
aumenta quando são efetuados procedimentos adicionais. Os casos de
infeção são habitualmente facilmente tratados com antibióticos. Em
algumas situações, que impliquem alto risco de infeção, os antibióticos
podem ser prescritos antes do procedimento.

Em relação a sedação, são necessárias algumas colocações. Usado como sedativo, o


propofol, o agente mais popular usado para esses procedimentos, possui uma janela
terapêutica estreita que transita da sedação leve para a anestesia geral profunda
rapidamente. Os procedimentos endoscópicos gastrointestinais são, em grande parte,
realizados em centros de endoscopia, e a qualidade da ajuda e do suporte disponíveis
pode não ser o mesmo padrão de um conjunto operacional. A rotatividade de pacientes
e procedimentos é alta, exigindo que o efeito residual do anestésico desapareça
rapidamente. Com os avanços da tecnologia, a duração e a complexidade dos
procedimentos aumentaram; assim, aumentando a necessidade de maior profundidade
de anestesia. Os desafios enfrentados pelo anestesiologista durante a sedação desses
pacientes são únicos, tanto para a endoscopia digestiva alta quanto para a colonoscopia.
Embora a manutenção da permeabilidade da via aérea superior, a preservação da
ventilação espontânea e a supressão do reflexo da tosse sejam importantes para
a endoscopia digestiva alta, a preservação do reflexo da deglutição é vital durante a
colonoscopia. A maioria das complicações relacionadas à sedação durante a endoscopia
digestiva alta são relacionadas às vias aéreas. A incidência relatada de hipoxemia
depende do procedimento, da comorbidade do paciente e da técnica de manejo das vias
aéreas. Não surpreendentemente, a frequência de parada cardíaca durante a endoscopia
digestiva alta tem sido relatada como sendo maior do que a anestesia regional ou a
anestesia geral. Durante a colonoscopia, a aspiração do conteúdo gástrico parece ser a
complicação mais importante relacionada à sedação, embora tanto a perfuração como
o sangramento sejam mais comuns durante a sedação com propofol.

Finalmente, os provedores de anestesia desenvolveram uma infinidade de técnicas


usando drogas e dispositivos existentes para enfrentar esses desafios. O propofol,
administrado em bolus seguido de uma infusão, é a técnica mais comum. A adição de um

48
SEGURANÇA DO PACIENTE │ UNIDADE III

opioide de ação curta suprime a tosse; no entanto, pode aumentar o risco de apneia. Na
balança, a titulação cuidadosa de propofol com um opioide de ação curta como fentanil
ou remifentanil é preferível. A pré-oxigenação é muito importante, especialmente para
endoscopias superiores, incluindo a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica.
Ele pode fornecer “tempo de apneia seguro” estendido, em caso de dificuldades nas
vias aéreas. O propofol deve ser administrado após o endoscopista estar pronto para
introduzir o endoscópio. O tempo de dosagem deve ser tal que o efeito clínico máximo
coincida com a inserção do endoscópio. Esta prática restabelece a ventilação espontânea
se o paciente for apneico. A inserção de uma via aérea nasal para administrar oxigênio
suplementar através de um sistema de respiração mapleson é prática rotineira em
alguns centros e contribuiu para uma redução significativa nas taxas de hipoxemia.

Monitoramento contínuo e cuidadoso é primordial. O monitoramento do dióxido de


carbono expirado não é confiável durante a endoscopia digestiva alta. Dispositivos de
amostragem de gás adequado estão indisponíveis no momento. A observação cuidadosa
do movimento do tórax e o uso de meios alternativos de monitoramento da ventilação,
como monitor respiratório acústico ou pneumograma por impedância, melhorarão a
segurança. Devido à forma da curva de dissociação de oxigênio, minutos valiosos podem
ser perdidos colocando-se dependência excessiva do oxímetro de pulso. O paciente
pode estar com apneia, mas o oxímetro de pulso pode exibir 100% de saturação. Muitos
procedimentos endoscópicos avançados podem ser realizados com segurança com
essa técnica; entretanto, a intubação endotraqueal pode ser uma opção mais segura
nas mãos de inexperientes, especialmente para procedimentos mais complexos. Os
pacientes precisam ser alertados sobre os riscos da aspiração.

A prevenção das complicações depende muito do cumprimento de regras simples,


já bem estabelecidas, e da utilização do bom senso. Antes da realização de qualquer
técnica endoscópica, é necessário assegurarmo-nos de que estão reunidas as seguintes
condições.

Instalações adequadas

Uma Unidade de Endoscopia moderna assemelha-se na sua complexidade a um


Bloco Operatório. Da mesma forma, devem ser respeitadas as suas necessidades em
espaço físico, que incluem: salas de exames com dimensões adequadas aos exames
que aí se realizam (p. ex. a realização de ecoendoscopia ou a utilização de laser ou
a realização de CPRE pressupõem salas de maiores dimensões do que a endoscopia
ou a fibrossigmoidoscopia diagnósticas); sala de desinfecção corretamente ventilada;
recobro com capacidade adequada ao número/complexidade de exames efetuados,
particularmente se é utilizada sedação por rotina, ponderando a necessidade de

49
UNIDADE III │ SEGURANÇA DO PACIENTE

vigilância por enfermeira permanente; salas de ensino, de preparação, de médicos, de


enfermeiros, armazém, de sujos, pausa de pessoal, vestiário, sala de espera, recepção.

Equipamento endoscópico e acessórios adequados

Não se podem efetuar exames endoscópicos sem se assegurar que os aparelhos estejam
em boas condições, o que obriga ao cumprimento de normas de desinfecção e à revisão
periódica dos aparelhos. Isso se aplica aos acessórios. A crescente complexidade
das técnicas efetuadas atualmente obriga ao conhecimento de uma série crescente
de acessórios, que devem estar disponíveis para resolver situações tecnicamente
complicadas ou mesmo para resolver complicações. Não é boa prática médica realizar
certos procedimentos sem dispor dos acessórios necessários para resolver os problemas
que possam ocorrer, obrigando a internamentos prolongados e/ou intervenções
cirúrgicas com maior morbimortalidade.

Equipe treinada

A realização de exames endoscópicos diagnósticos pode ser efetuada com um médico


e uma enfermeira apenas. Contudo, este não se aplica a exames terapêuticos, como
a CPRE ou a colocação de PEG ou a exames com sedação. Nesses casos, poderá ser
necessária a presença de 2 médicos com experiência e/ou de 2 enfermeiras. Caso se
trate de fazer um exame num doente com doenças graves associadas, ou num doente
instável, com perturbações da consciência, ou hemodinamicamente instável, por uma
hemorragia digestiva alta e, sobretudo, se o exame for urgente, não se deve iniciar sem
antes se pedir a presença quer do médico de urgência interna. Pelo menos, deverão ser
avisados pessoalmente do que se vai passar e prevenidos da eventual necessidade de
serem chamados com carácter de urgência à Unidade de Endoscopia.

50
PROCESSAMENTO
DE PRODUTOS
MÉDICOS UNIDADE IV
UTILIZADOS EM
ENDOSCOPIA
DIGESTIVA

CAPÍTULO 1
As normas técnicas do processamento
de produtos médicos utilizados em
endoscopia digestiva

A endoscopia mudou significativamente nos últimos 30 anos, pois os


desenvolvimentos tecnológicos estabeleceram uma enorme variedade de opções
diagnósticas e terapêuticas. O crescente número de procedimentos invasivos envolve
infraestrutura substancial e pessoal especializado, treinado e competente. Os
endoscópios flexíveis são dispositivos médicos sofisticados reutilizáveis com múltiplos
lúmens e canais estreitos. Sua natureza termolábil e design complexo exigem uma
abordagem especializada para a descontaminação. O reprocessamento adequado de
endoscópios flexíveis e acessórios endoscópicos é uma parte essencial da segurança do
paciente e da garantia da qualidade na endoscopia gastrointestinal (SGNA, 2016).

As unidades de saúde devem ter um sistema confiável e de alta qualidade para o


reprocessamento do endoscópio, o que minimiza os riscos de infecção. Para atingir esse
objetivo, todos os programas de reprocessamento devem ter uma infraestrutura que
suporte treinamentos e competências, medição de qualidade e gerenciamento.

A maioria das recomendações sobre o reprocessamento de endoscópios baseia-se em


opiniões de especialistas, por sua vez, baseadas na avaliação de diretrizes nacionais
disponíveis em inglês, alemão e francês. Recomendações também são estabelecidas
com base em estudos microbiológicos, revisões ou conclusões de relatos de casos. Os
ensaios clínicos, no campo da descontaminação do endoscópio, são escassos por causa

51
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

da relutância em expor qualquer paciente do braço de controle a um risco potencial de


infecção (SGNA, 2016).

O reprocessamento endoscópico é um processo de várias etapas que torna um


endoscópio contaminado seguro para reutilização. Os endoscópios são considerados
itens semicríticos porque são projetados para entrar em contato com a mucosa sem
penetrar no tecido. A segurança dos procedimentos endoscópicos tem sido uma questão
importante na última década, devido à possibilidade de transmissão de microrganismos.
A incidência de infecção associada ao uso do endoscópio é baixa e estima-se que ocorra
em aproximadamente 1 de 1,8 milhão de procedimentos, tornando-se um evento raro.
A maioria dos casos documentados de transmissão de microrganismos é mediada por
bactérias. Os episódios publicados de transmissão de patógenos têm sido associados ao
não cumprimento das diretrizes estabelecidas de limpeza e desinfecção (BARBOSA et
al., 2010).

O risco de transmissão de patógenos potenciais depende de três fatores principais:


exposição do endoscópio ao microrganismo, limpeza e desinfecção inadequadas, design
dos endoscópios, que apresentam lumens estreitos, longos e são feitos de material
delicado. O risco de infecção para pacientes submetidos a esses procedimentos tem sido
progressivamente reduzido pela implementação de políticas aumentadas para controlar
a infecção hospitalar e o treinamento adequado de pessoal. Em 1999, o primeiro passo
da padronização nacional para a limpeza e desinfecção de endoscópios e acessórios
no Brasil foi estabelecido para enfermeiros. A Sociedade Brasileira de Endoscopia
Digestiva em Enfermagem (SOBEEG), com a Sociedade Brasileira de Endoscopia
Digestiva (SOBED), publicou protocolo para reprocessamento de limpeza e desinfecção
de dispositivos e acessórios endoscópicos. A limpeza meticulosa deve preceder qualquer
esterilização ou desinfecção de alto nível desses instrumentos. Os endoscópios têm uma
alta carga de microrganismos após o uso, e a limpeza pode reduzir drasticamente isso.
O método de reprocessamento escolhido na maioria dos serviços é a desinfecção de alto
nível. No entanto, deve haver um tempo específico alocado para o reprocessamento do
endoscópio, e todas as etapas químicas e físicas devem ser realizadas por um profissional
capacitado (MULLER; GRAZIANO; HOEFEL, 2006).

O desempenho da enfermagem é reconhecido como fator fundamental na efetivação


da descontaminação do endoscópio e é amplamente reconhecido como essencial
às qualificações específicas dos profissionais de saúde que atuam em serviços de
endoscopia.

O reprocessamento de endoscópios envolve três fases: etapa pré-desinfecção que


engloba a pré-lavagem, limpeza, enxágue e secagem; a etapa desinfecção que é a

52
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

imersão no glutaraldeído; e a etapa pós-desinfecção que abrange o enxágue, secagem e


estocagem. São muitos os fatores determinantes para o sucesso desse reprocessamento
dos endoscópios, entre eles a estrutura física da unidade de endoscopia que deve
oferecer condições, para a execução deste procedimento. Contudo, a prática cotidiana
mostra que os serviços de endoscopia não atendem às recomendações estabelecidas
pelos órgãos normativos, tanto no que se refere ao atendimento direto ao usuário,
quanto aos aspectos relacionados à estrutura física da área de reprocessamento dos
artigos.

Vale ressaltar que as diretrizes do Ministério da Saúde, quanto ao regulamento técnico


para funcionamento de um serviço de endoscopia, são recentes no país, a partir de
2013. Segue:

Art. 29. O serviço de endoscopia deve dispor de equipamentos e


acessórios em quantidade suficiente para o número de pacientes
atendidos, respeitando o tipo de procedimento e o tempo necessário
para os respectivos processamentos.

Art. 30. Deve ser elaborado Procedimento Operacional Padrão (POP)


no qual sejam detalhadas todas as etapas do processamento de
equipamentos e acessórios utilizados nos procedimentos endoscópicos,
respeitando a legislação referente ao uso dos agentes saneantes e as
orientações contidas nos manuais de processamento do fabricante.

Parágrafo único. O POP deve ser aprovado pelo responsável técnico do


serviço autônomo ou médico responsável do serviço não autônomo de
endoscopia e estar disponível na sala de processamento para consulta
pela equipe de saúde e pela autoridade sanitária competente.

Art. 31. A pré-limpeza do endoscópio deve ser realizada imediatamente


após a finalização do procedimento com remoção da sujidade da
superfície externa.

Parágrafo único. Sempre que o equipamento possuir canais deve haver


a introdução de detergente sob pressão nestes, conforme orientação do
fabricante.

Art. 32. A limpeza de equipamentos endoscópicos deve ser realizada no


menor intervalo de tempo possível após a pré-limpeza, de acordo com a
orientação do fabricante.

Art. 33. O processo de limpeza de todos os canais, válvulas e conectores


devem incluir escovação e irrigação de todos os componentes externos

53
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

e internos com utilização de detergente, conforme orientação do


fabricante.

Art. 34. Após o processo de limpeza, os equipamentos endoscópicos


e seus acessórios devem ser submetidos à secagem antes de qualquer
método de desinfecção ou esterilização.

Art. 35. As escovas utilizadas na limpeza dos canais endoscópicos,


quando passíveis de processamento, devem ser submetidas à limpeza e
desinfecção a cada turno de trabalho.

Art. 36. O processo de desinfecção deve respeitar o tempo mínimo


de exposição do equipamento ao produto utilizado, de acordo com a
recomendação do fabricante e a legislação vigente.

Art. 37. É obrigatório realizar a monitorização dos parâmetros


indicadores de efetividade dos agentes saneantes que possuem ação
antimicrobiana como concentração, pH ou outros indicados pelo
fabricante, no mínimo uma vez ao dia antes do início das atividades.

§1o Não podem ser utilizados saneantes que estejam com os parâmetros
divergentes daqueles constantes do rótulo do produto.

§2o Os parâmetros monitorados (iniciais e subsequentes) devem


ser registrados e arquivados pelo prazo mínimo de cinco anos e
disponibilizados para consulta da autoridade sanitária.

Art. 38. Os endoscópios flexíveis, após serem submetidos a


processamento, devem ser mantidos em posição vertical com
preservação de alinhamento entre as duas extremidades até a sua
utilização.

Art. 39. Quando for necessário o transporte do endoscópio entre a sala


de procedimento e a sala de processamento, os endoscópios devem
estar acondicionados em recipientes laváveis e com tampas diferentes
para material sujo e limpo.

Parágrafo único. Quando a sala de processamento estiver contígua à


sala de procedimento, o acondicionamento pode ser dispensado.

Art. 40. Quando o endoscópio for transportado para outro serviço de


saúde, o processamento deve ser novamente realizado antes da sua
utilização.

54
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

Art. 41. A limpeza dos produtos para a saúde com conformações


complexas deve ser precedida de limpeza manual e complementada por
limpeza automatizada em lavadora ultrassônica ou outro equipamento
de eficiência comprovada.

Art. 42. Os acessórios e outros produtos para a saúde classificados como


críticos devem ser submetidos à esterilização antes da sua utilização.

§1o O serviço de endoscopia poderá utilizar para esterilização de


acessórios críticos e outros produtos para a saúde, o centro de material
e esterilização do serviço de saúde no qual está fisicamente inserido
ou empresa processadora devidamente licenciada pelo órgão sanitário
competente.

§2o Para os casos referidos no parágrafo acima, os produtos para saúde


devem ser encaminhados, após serem submetidos à limpeza no serviço
de saúde, conforme Procedimento Operacional Padrão (POP), definido
entre as partes envolvidas.

Art. 43. O serviço de endoscopia e a empresa processadora devem


utilizar embalagens que garantam a manutenção da esterilidade do
conteúdo, bem como a sua transferência sob técnica asséptica.

Art. 44. As embalagens utilizadas para a esterilização de produtos para


saúde devem estar regularizadas junto à Anvisa, para uso específico em
esterilização.

Art. 45. A selagem de embalagens tipo envelope deve ser feito por
termoseladora ou conforme orientação do fabricante.

Art. 46. Não é permitido o uso de caixas metálicas sem furos para
esterilização de produtos para saúde.

Art. 47. É obrigatória a identificação nas embalagens dos produtos para


saúde submetidos à esterilização por meio de rótulos ou etiquetas.

Art. 48. O rótulo de identificação da embalagem deve conter:

I - nome do produto;

II - data da esterilização;

III - data limite de uso;

IV - método de esterilização; e

55
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

V - nome do responsável pelo preparo.

Art. 49. Para a utilização de acessórios submetidos à esterilização,


deverá ser obedecida a data limite de uso do produto esterilizado pelo
serviço que a executou.

Art. 50. Não é permitido o uso de estufas para a esterilização de produtos


para saúde.

Art. 51. Os produtos esterilizados devem ser armazenados em local limpo


e seco, sob proteção da luz solar direta e submetidos à manipulação
mínima.

Art. 52. É proibida a utilização de método manual de imersão em


desinfetantes líquidos para fins de esterilização de produtos para a
saúde.

Art. 53. Produtos para saúde utilizados na assistência ventilatória e


anestésica não poderão ser submetidos à desinfecção por métodos
de imersão química líquida com a utilização de saneantes à base de
aldeídos”. (BRASIL, 2013).

O tamanho e o design da área de reprocessamento dependem de vários fatores. Alguns


deles são:

»» Carga de trabalho (número de pacientes e procedimentos gerenciados).

»» Número e tipos de endoscópios reprocessados nessa área.

»» Número e tipos de lavadoras/desinfetadoras, armários de armazenamento


e/ou secagem.

Independentemente do tamanho e do design da área de reprocessamento, e


dependendo da configuração do fluxo de trabalho de reprocessamento, o seguinte
deve estar presente:

»» Equipamento de proteção individual (EPI).

»» Bacias dedicadas à lavagem de mãos e as instalações de desinfecção das


mãos em áreas de trabalho sujas e limpas.

»» Pias separadas de tamanho adequado para limpeza, desinfecção e


enxágue, idealmente ajustáveis em altura.

56
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

»» Tampas de proteção nas pias e instalações de extração de fumo projetadas


para o propósito, a fim de minimizar os riscos de vapores químicos.

»» Equipamento adequado para etapas de limpeza manual (por exemplo,


escovas, adaptadores de limpeza, unidades de teste de vazamento do
endoscópio).

»» Armazenamento adequado de produtos químicos de processo.

»» Ar comprimido com especificações técnicas adequadas, para secagem.

»» Instalações de armazenamento para endoscópios, idealmente armários


de armazenamento com/sem função de secagem.

»» Instalações de transporte entre áreas clínicas e reprocessamento, e vice-


versa, para endoscópios em recipientes fechados.

»» Equipamentos de documentação e rastreabilidade. Há uma tendência de


conceitos de reprocessamento de um quarto para dois ambientes com
salas separadas para zonas de trabalho sujas e limpas.

A separação em salas de reprocessamento sujas e limpas reduz os riscos de


recontaminação de equipamentos reprocessados e reduz os riscos de contaminação
ambiental. A dispersão de aerossóis, gotículas e partículas de poeira contaminados
pode ser minimizada com o uso de ventilação com pressão negativa.

Os produtos químicos de processo usados para reprocessamento de endoscópios são


projetados, testados e fabricados de acordo com diretrizes. Testes de compatibilidade
de materiais são realizados em peças de teste ou em endoscópios completos usando
o detergente e o desinfetante isolados e em combinação. Os fabricantes de produtos
químicos de processo e endoscópios devem fornecer informações sobre compatibilidade
de materiais. Pequenas mudanças cosméticas sem impacto negativo na funcionalidade
dos endoscópios podem ser aceitas. Qualquer tipo de deposição pode ser motivo de
preocupação para o crescimento microbiológico. Os detergentes podem ser divididos
em dois grupos principais: aqueles com um reforço enzimático e/ou alcalino e os que
contêm substâncias ativas antimicrobianas. Os detergentes que contêm substâncias
ativas antimicrobianas são usados apenas para a beira do leito e para as etapas de
limpeza manual.

A norma ISO exige padrões adicionais em condições de uso (por exemplo, temperatura
e tempo) para demonstrar que não há efeito negativo da transferência de resíduos
de ciclos anteriores (resíduos da carga ou do detergente). Desinfetantes contendo

57
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

substâncias oxidantes ou aldeídos agem por reações químicas com microrganismos e


são amplamente eficazes contra eles. Álcoois, fenóis e compostos de amônia quaternária
não são recomendados para a infecção endoscópica se não houver demonstração de
eficácia contra microrganismos.

A combinação de diferentes grupos de produtos para limpeza e desinfecção pode causar


problemas de compatibilidade. Portanto, as recomendações dos fabricantes devem ser
seguidas em todos os momentos. As interações podem causar uma mudança na cor
das superfícies do endoscópio e nas deposições ou sedimentação nas superfícies dos
endoscópios. Por exemplo, a combinação de glutaraldeído com detergentes contendo
substâncias antimicrobianas baseadas em compostos de amina pode causar resíduos
coloridos como resultado da interação química. Qualquer tipo de deposição pode ser
motivo de preocupação em relação ao crescimento microbiológico.

Desinfetantes gerados eletroliticamente são produzidos no local por eletrólise de


soluções de cloreto de sódio. A eficácia do desinfetante é influenciada pela concentração
e proporção de constituintes oxidantes regidos pelo valor do pH. Uma vantagem desses
desinfetantes é que os sistemas comercialmente disponíveis em diferentes níveis de
pH são muito mais eficazes que o glutaraldeído. Além disso, desinfetantes gerados
eletroliticamente têm excelentes perfis de segurança do usuário e do paciente.

Uma desvantagem destes desinfetantes é que o efeito biocida é diminuído na presença


de carga no solo. Para garantir um efeito microbicida completo, é essencial realizar
uma limpeza completa. A eficácia antimicrobiana e a compatibilidade do material são
fortemente influenciadas pelo valor do pH e pela concentração do oxidante. Da mesma
forma que alguns produtos baseados em PAA, os desinfetantes gerados eletronicamente
são capazes de remover as camadas orgânicas e o biofilme das superfícies.

O desenvolvimento de resistência a microrganismos não foi relatado e o amplo espectro


de reatividade química sugere que é improvável que microrganismos desenvolvam
resistência a ele. Os sistemas de água ácida eletrolisada operam com pH 2,7, potencial
de redução de oxidação (ORP)> 1000 mV e concentração de cloro livre liberada
(FRCC) 10 ± 2 ppm. A geração e o uso de MDE devem ocorrer ao mesmo tempo no
mesmo dispositivo. Como o pH e o potencial de oxidação-redução são constantemente
monitorados, este método minimiza a grande desvantagem da água ácida eletrolisada,
ou seja, sua instabilidade.

Apesar de sua forte acidez, o MDE raramente apresenta efeitos adversos na pele e
mucosa humana, ao contrário do ácido clorídrico e de outras soluções com a mesma
acidez. Sistemas de ácido hipocloroso gerados eletrolicamente operam com pH 5.75 –
6.75 e ≥ 180 ppm de cloro livre disponível. Normalmente, o desinfetante é produzido

58
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

e fornecido no local por meio de um gerador externo que fornece diretamente o EWD.
O gerador controla a produção de desinfetantes utilizando o monitoramento do
sistema validado que garante que apenas o produto “na especificação” seja entregue. O
gerador controla o pH, a condutividade, a potência e a taxa de fluxo da célula, com cada
parâmetro tendo uma faixa de tolerância específica que é continuamente verificada
pelo sistema de monitoramento. O desinfetante é seguro para manusear, exigindo o
mínimo de equipamento de proteção individual. É não tóxico, não sensibilizante, não
irritante e não mutagênico.

Se um departamento de endoscopia planeja trocar detergentes e/ou desinfetantes,


o usuário deve consultar o departamento responsável pelo controle de infecção e
saúde ocupacional, bem como o pessoal relevante do prestador de serviços clínicos.
Fabricantes de endoscópios e produtos químicos de processos devem fornecer evidências
de compatibilidade. Qualquer necessidade de requalificação do procedimento de
reprocessamento deve ser esclarecida. O pessoal deve ser treinado no procedimento
de reprocessamento alterado, levando em conta os novos produtos. Antes do uso de
diferentes processos químicos, é fortemente recomendado que uma requalificação do
processo seja realizada para demonstrar a eficácia. O uso não autorizado de produtos
químicos pode invalidar garantias e/ou contratos de serviço. O treinamento do pessoal
deve incluir informações sobre o tempo de contato, concentração de produtos e medidas
de proteção pessoal.

Os endoscópios gastrointestinais podem ter uma carga bacteriana normal de 108-


10 (8-10log10). Os ciclos de reprocessamento automatizados padronizados levam a
uma redução de 8-12 log10 nos microrganismos. Consequentemente, a margem de
segurança é muito baixa, em 0-2 log10. Portanto, é essencial aderir aos protocolos
padronizados. A eficácia do reprocessamento do endoscópio depende do conhecimento
abrangente da equipe de reprocessamento da construção e da função do equipamento.
Portanto, é essencial ter protocolos detalhados descrevendo as diferentes etapas
de reprocessamento necessárias para cada tipo de endoscópio. Os protocolos de
reprocessamento precisam ser atualizados regularmente, levando em conta, por
exemplo, novos equipamentos, modificações técnicas e diretrizes e leis/regulamentos
atualizados. A equipe de reprocessamento deve ser informada sobre essas mudanças.
O fluxo de trabalho de reprocessamento consiste em quatro fases diferentes: limpeza
à beira do leito; limpeza manual na área de reprocessamento (incluindo teste de
vazamento e escovação dos canais do endoscópio); limpeza e desinfecção; secagem e
armazenamento (se necessário).

Para um reprocessamento seguro e eficaz, é essencial seguir todas as etapas do


fluxo de trabalho de reprocessamento de maneira completa e oportuna. O prestador

59
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

de serviços clínicos deve documentar e explicar qualquer desvio de seu fluxo de


trabalho específico de reprocessamento. A limpeza é o passo mais importante no
reprocessamento. É impossível desinfetar ou esterilizar com eficácia um instrumento
limpo inadequadamente. A limpeza à beira do leito e as etapas de limpeza manual com
lavagem e escovação de todos os sistemas de canal são as etapas mais importantes para a
remoção de detritos, sangue e fluidos corporais. Restos proteicos remanescentes podem
ser fixados por secagem ou pelo uso de produtos químicos inapropriados. A formação
de biofilme é possível se as etapas de limpeza e enxágue não tiverem sido executadas
corretamente. Como algumas bactérias gram-negativas podem sofrer divisão celular
a cada 20 a 30 minutos, é essencial completar todas as etapas de reprocessamento
rapidamente, antes que o crescimento bacteriano e os detritos comecem a secar nas
superfícies. Microrganismos incorporados em biofilmes são 10 a 100 vezes mais
resistentes a produtos químicos de processo do que microrganismos planctônicos
(flutuantes) e são frequentemente liberados de biofilmes. Portanto, é importante seguir
as instruções do fabricante do endoscópio e as diretrizes nacionais. Algumas diretrizes
nacionais recomendam o desempenho de todas as etapas de reprocessamento manual
dentro de 30 minutos após finalização do exame do paciente. Se o reprocessamento do
endoscópio estiver atrasado, as etapas de limpeza podem ser aumentadas. Endoscópios
que são imersos em soluções detergentes ou desinfetantes por várias horas podem ser
danificados.

O tubo de inserção e os componentes críticos (por exemplo, a extremidade distal dos


duodenoscópios e ecosendoscópios) devem ser limpos externamente com solução de
limpeza, usando um pano/esponja descartável macio e verificados quanto a qualquer
dano macroscópico. Antes que o endoscópio seja desconectado da fonte de luz e do
processador de vídeo, a solução de detergente deve ser sugada pelo canal de aspiração/
instrumento. As diretrizes europeias e nacionais recomendam a lavagem com um
volume de 200-250 mL ou por um período de 10-20 segundos como referência. A
lavagem deve ser continuada até que o líquido de sucção transparente demonstre a
limpeza do sistema de canais. Canais adicionais devem ser lavados de acordo com
as recomendações do fabricante. A presença de quaisquer falhas, como bloqueios ou
defeitos, deve ser comunicada ao pessoal de reprocessamento para que eles possam ser
tratados apropriadamente. Normalmente, os canais de ar/água devem ser lavados com
água potável. É importante considerar o uso de válvulas de limpeza para o canal de ar/
água, de acordo com as instruções do fabricante.

Escovas de uso único garantem uma qualidade de limpeza padronizada, pois estas
têm cerdas não danificadas, sem nenhum tecido remanescente de exames anteriores.
Consequentemente, as diretrizes europeias e nacionais recomendam apenas o uso
de escovas de uso único. Danos nos componentes frágeis do endoscópio podem ser

60
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

causados por escovas de limpeza danificadas. Escovas reutilizáveis podem acarretar


riscos de cerdas insuficientemente limpas e de torções que podem danificar as
superfícies internas dos endoscópios. Para evitar qualquer contaminação cruzada,
as escovas reutilizáveis devem ser reprocessadas entre o reprocessamento de cada
endoscópio. Vários tipos de escovas estão disponíveis para diferentes diâmetros de
canal e para componentes especiais do endoscópio, como válvulas, portas ou pontas
distais. Os diferentes canais e componentes do endoscópio devem ser reprocessados de
acordo com as orientações do fabricante. Todos os tipos de duodenoscópios requerem
limpeza manual meticulosa, uma vez que as fendas atrás do elevador não podem ser
facilmente alcançadas com escovas convencionais. Os fabricantes fornecem pequenas
escovas e recomendações de reprocessamento concebidas para o efeito, que devem ser
incorporadas nos protocolos de reprocessamento específicos do departamento. Além
disso, vários aprimoramentos de design para endoscópios foram desenvolvidos nos
últimos anos, incluindo componentes de uso único para pontas distais e mecanismos de
elevador removíveis que podem ser autoclavados. Todos os endoscópios são fornecidos
com os adaptadores de limpeza apropriados que garantem o acesso adequado e o
enxágue de todos os canais de endoscópios acessíveis. Esses adaptadores de limpeza
devem ser usados em etapas de limpeza manual de acordo com o fabricante.

A limpeza manual completa com detergente é a etapa mais importante do


procedimento de reprocessamento do endoscópio, uma vez que qualquer fragmento
remanescente pode prejudicar a eficácia dos passos subsequentes de reprocessamento
e pode apoiar a formação de biofilmes. Etapas de limpeza para o endoscópio incluem:
imersão total do endoscópio em solução detergente, limpeza de todas as superfícies
externas, portas de válvulas, canal aberto e pontas distais (incluindo o mecanismo
de elevador dos duodenoscópios ou o balão de ecoendoscópios), usando um pano
descartável macio, esponjas e/ou escovas de propósito específico, escovação de todos
os canais acessíveis usando projeto ou escovas de uso único, até que não haja detritos
visíveis. A direção e a ordem da escovação devem ser consideradas, de acordo com as
orientações do fabricante, lavagem de todos os lúmens para remover material orgânico
(sangue, tecido, fezes etc.) após a escovação.

Adaptadores de limpeza específicos do tipo endoscópio devem ser usados para


acessar todos os canais, mesmo que não tenham sido usados durante o procedimento
endoscópico. Todos os canais auxiliares de água, canais de fio e canais de balão (em
ecoendoscópios e sondas) devem ser lavados com detergentes. Por causa do efeito
capilar, todos os canais do endoscópio ficam contaminados e parcialmente cheios
de fluidos/detritos, mesmo quando não foram usados diretamente no procedimento
endoscópico.

61
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

Existe uma clara tendência em direção aos componentes endoscópicos de uso único
(por exemplo, portas de biópsia, válvulas, cápsulas distais). Se esses componentes
do endoscópio destacáveis forem reutilizáveis, eles devem ser limpos com escovas
dedicadas, de acordo com orientações do fabricante. Durante a limpeza manual,
é importante seguir o tempo de contato, a temperatura e a concentração, conforme
recomendado pelo fabricante, para garantir a eficácia do detergente. O enxágue dos
canais do endoscópio pode ser feito manualmente ou pode ser suportado por dispositivos
automatizados de lavagem/enxágue. Todas as diretrizes enfatizam a limpeza completa
dos canais de endoscópios.

O tempo de armazenamento de endoscópios reprocessados (shelf-life) tem sido objeto


de debate e interpretações divergentes em muitos países. Se os endoscópios forem
armazenados verticalmente em caixas fechadas, as diretrizes britânicas, holandesas e
francesas definem um limite de tempo até o momento em que o endoscópio pode ser
usado. Este limite de tempo difere entre 3 a 12 horas. Se este limite de tempo for excedido,
todo o ciclo de reprocessamento deve ser repetido. Estudos com números pequenos
mostraram contaminação após 5 a 7 dias e até 14 dias, identificando principalmente
organismos comuns da pele, em vez de patógenos significativos. As diretrizes americanas
e as diretrizes alemãs classificaram os dados como não significativos o suficiente para
definir qualquer prazo de validade máximo. Eles enfatizam que o prazo de validade
depende da qualidade microbiológica do enxágue final, da eficácia da secagem e,
possivelmente, do risco de contaminação.

Por causa de suas restrições de material e design, a maioria dos endoscópios flexíveis
não são resistentes à temperatura. Portanto, processos de esterilização a vapor em
temperaturas elevadas não podem ser aplicados para esterilização de endoscópios
flexíveis. Os seguintes processos alternativos de baixa temperatura estão disponíveis:
esterilização por gás de óxido de etileno; esterilização de gás peróxido de hidrogênio
com e sem plasma; esterilização a vapor e formaldeído a baixa temperatura. Deve-
se reconhecer que os processos de esterilização a baixa temperatura só são eficazes
se a limpeza completa já tiver sido feita. O reprocessamento manual e o uso de um
EWD antes de enviar o endoscópio a um CME para esterilização serão importantes
para proteger o pessoal de reprocessamento. A maioria dos países europeus não aceita
imersão de endoscópios em esterilizantes químicos líquidos, porque os dispositivos não
são embrulhados em embalagens estéreis até o próximo uso. Um ponto crítico é também
a qualidade da água final de enxágue que pode prejudicar o efeito de esterilização.
Atualmente, a esterilização com gás peróxido de hidrogênio usada em alguns
endoscópios gastrintestinais tem limitações técnicas. Gastroscópios, as colonoscopias
e os duodenoscópios têm de três a sete longos canais separados e, portanto, excedem
a capacidade do lúmen dos esterilizadores existentes. O transporte em contêineres

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PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

fechados reduz o risco de recontaminação e evita danos ao endoscópio durante a fase


de transporte.

A complacência da higiene das mãos na endoscopia é um ponto crucial. Os


endoscópios reprocessados podem ser recontaminados se a higiene das mãos for
insuficiente. Se vários endoscópios forem usados durante um procedimento, cada
endoscópio deve ser transportado em um recipiente separado para evitar danos.

Os acessórios endoscópicos estão disponíveis como dispositivos reutilizáveis e de uso


único. Produtos médicos descartáveis estão disponíveis em muitos casos. A tendência
para dispositivos de uso único está aumentando em muitos países da Europa Ocidental,
como seu uso: previne a infecção cruzada tanto para pacientes como para funcionários;
evita possíveis ferimentos na equipe durante as etapas de limpeza; garante um acessório
totalmente funcional a cada vez. Acessórios endoscópicos reutilizáveis exigem o mesmo
nível de segurança que o equipamento cirúrgico; e o reprocessamento automatizado
tem várias vantagens. Alguns EWDs oferecem programas separados para reprocessar
equipamentos usáveis.

Microrganismos podem ser disseminados por equipamentos inadequadamente


reprocessados de um paciente para outro, ou de pacientes para membros da equipe.
Há uma série de deficiências e deficiências potenciais na assistência ao paciente na
periendoscopia e no reprocessamento endoscópico. Estes incluem erros humanos e
características técnicas que podem ser fontes de contaminação microbiana e transmissão
de material infeccioso.

Infecções bacterianas foram adquiridas durante a endoscopia, causada, por exemplo,


por Salmonella spp, Helicobacter pylori e Pseudomonas spp. Fontes de bactérias
gram-negativas como P. aeruginosa e K. pneumoniae não se restringem aos intestinos
colonizados dos pacientes. A bactéria pode se originar do meio ambiente. A limpeza,
desinfecção e secagem inadequadas do canal do fio do elevador dos duodenoscópios
podem resultar em infecções relacionadas.

As infecções por organismos multirresistentes se tornaram cada vez mais


problemáticas para os sistemas de saúde em todo o mundo. Desde 2010, infecções
nosocomiais graves devido a organismos multirresistentes também foram associadas.
Enterobacteriaceae resistente a fármacos, incluindo K. pneumoniae, E. coli e
Enterobacter spp., bem como P. Aeruginosa, foram encontrados nos duodenoscópios,
especialmente na extremidade distal e em torno do mecanismo elevador de pinça.
Pequenas fissuras, bem como desgaste, que exigiam manutenção e reparos, apesar
da falta de defeitos óbvios, foram observadas em vários dos cálculos, mais uma vez
especialmente na extremidade distal e ao redor dos mecanismos elevadores do elevador.

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UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

Esses pequenos defeitos se tornaram o reservatório de detritos e microorganismos.


Em alguns casos, os surtos ocorreram apesar do uso de protocolos aparentemente
adequados de reprocessamento. Em outros casos, a limpeza e a secagem insuficientes
permitiram o surto.

A higiene inadequada das mãos também foi identificada como um fator que facilitou
a transmissão de um paciente para outro. Organismos oficiais europeus, americanos
e australianos, bem como sociedades profissionais, publicaram declarações para
conscientizar os profissionais de saúde de que o design complexo, especialmente
dos duodenoscópios, pode impedir a reprocessamento eficaz. Eles iniciaram ações
apropriadas e publicaram recomendações para melhorar o reprocessamento do
endoscópio.

Apenas três casos de transmissão do vírus da hepatite B de endoscópios


inadequadamente desinfetados foram relatados. Casos de transmissão do vírus da
hepatite C têm sido relacionados à limpeza e desinfecção inadequadas de endoscópios
e acessórios e ao uso de frascos ou seringas anestésicas contaminadas. Nem o
reprocessamento inadequado nem o reuso de frascos ou seringas de anestésico são
identificados como a causa real da infecção. A transmissão de hepatites B e C não foi
associada à endoscopia quando procedimentos apropriados de desinfecção foram
realizados. Nenhum caso de transmissão de vírus da imunodeficiência humana (HIV)
atribuído à endoscopia foi relatado até o momento.

Pacientes com síndrome de imunodeficiência ou neutrenia grave, aqueles submetidos


a quimioterapia imunossupressora e aqueles com válvulas cardíacas artificiais, têm um
risco aumentado de infecção. Portanto, procedimentos terapêuticos apresentam maior
risco de infecção. Pacientes portadores de infecções clinicamente latentes (por exemplo,
hepatite, tuberculose, salmonelose, infecções causadas por H. pylori ou HIV) podem
não estar cientes de seu status de portador e, portanto, todos os pacientes devem ser
considerados potencialmente infecciosos. Além disso, os fungos podem ser transmitidos
por meio de procedimentos endoscópicos. A infecção por microbactérias está se
tornando mais comum. O surgimento de cepas multirresistentes de Mycobacterium
tuberculosis e a alta incidência de infecções por M. avium intracelulares entre
pacientes infectados pelo HIV levaram a uma maior conscientização do risco de
transmissão de microbactérias durante a broncoscopia. A maioria dos relatos sobre
surtos de microbactérias descreve a colonização do endoscópio na ausência de infecção
em pacientes imunocomprometidos com histórico de câncer de pulmão, HIV, AIDS
ou neoplasias hematológicas. As microbactérias, em geral, e especialmente algumas
transmitidos pela água (como M. chelonae), apresentam resistência ao glutaraldeído. A

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PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

infecção por Clostridium difficile é um problema crescente nas unidades de saúde. Até
hoje, a endoscopia não foi considerada um fator de risco para a transmissão.

A inobservância das normas mínimas requeridas para a estrutura e o funcionamento


da área de reprocessamento interfere diretamente na qualidade e segurança dos
equipamentos disponibilizados para a realização dos exames endoscópicos e,
consequentemente, na qualidade do atendimento. Conhecer a estrutura da área física
destinada ao reprocessamento de artigos nos serviços de endoscopia é uma etapa
importante, pois contribui para o planejamento de uma estrutura adequada, que
contemple os parâmetros necessários para garantir uma qualidade e um reprocessamento
seguro ao usuário, bem como minimizar os riscos ocupacionais existentes no ambiente
de trabalho (BEILENHOFF U et al., 2018).

Endoscópios flexíveis usados em cavidades corporais estéreis, como endoscópios


laparoscópicos, devem ser estéreis no ponto de uso. Os endoscópios inseridos por meio
de orifícios naturais em cavidades estéreis (por exemplo, durante a cirurgia endoscópica
transluminal por orifício natural, a miotomia peroralendoscópica, a coledocoscopia oral)
entram por meio de cavidades corporais naturalmente colonizadas. Os endoscópios
utilizados durante a colangioscopia percutânea entram no sistema biliar através de
uma via estável previamente estabelecida durante uma colangiografia trans-hepática
percutânea. Atualmente, o requisito mínimo é que os endoscópios reprocessados sejam
usados para esses fins. A questão de se esses endoscópios devem ser esterilizados ainda
não foi respondida. Regulamentos nacionais devem ser seguidos (BEILENHOFF U et
al., 2018)

Quadro 1. Fraquezas e deficiências potenciais no tratamento periendoscópico de pacientes e no

reprocessamento de endoscópios que podem facilitar infecções relacionadas à endoscopia.

Falhas Possíveis causas


»» Falta de conhecimento, experiência, treinamento e conscientização sobre reprocessamento
de endoscópios e controle de infecções.
»» Escassez de pessoal, pressão de tempo.
Fatores de pessoal
»» Desempenho incompleto ou interrupções dos ciclos de reprocessamento.
»» Atalhos devido ao número insuficiente de endoscópios e/ou recursos de reprocessamento
para a carga de trabalho clínica.

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UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

»» Higiene das mãos inadequada (por exemplo, em contato com os pacientes, antes de
manusear um endoscópio reprocessado).
»» Manuseio inadequado de dispositivos médicos antes, durante e após procedimentos
endoscópicos.

Higiene insuficiente nos cuidados com o paciente »» Uso de acessórios não esterilizados em diagnóstico invasivo e terapia (por exemplo, pinça de
e no reprocessamento biópsia não estéril, armadilhas de polipectomia).
»» Manejo inadequado de medicação intravenosa (por exemplo, seringas, tubos ou
medicamentos contaminados e expirados no tempo).
»» Limpeza insuficiente e descontaminação do ambiente do paciente.
»» Sem separação estrita entre áreas de trabalho e fluxos de trabalho limpos e contaminados.
»» Projeto de endoscópios e seus componentes (por exemplo, válvulas) que dificultam a
limpeza.
Limitações de design e danos em relação aos
»» Pequenos e estreitos lumens e canais ramificados, não acessíveis a escovas de limpeza (risco
endoscópios e seus componentes
de biofilmes).
»» Danos invisíveis às superfícies do endoscópio (interno e externo).
»» Limpeza inadequada (por exemplo, escovação insuficiente dos canais do endoscópio,
extremidades distais, sistemas de elevador, portas da válvula).
»» Limpeza e desinfecção incompletas dos endoscópios devido à falta de canais únicos e não
limpos e desinfectados (por exemplo, canal auxiliar, canal do elevador).
»» Acessórios de limpeza contaminados (por exemplo, escovas de limpeza, adaptadores).
»» Uso de detergentes e desinfetantes inadequados ou incompatíveis.
»» Concentrações inadequadas, durações de contato e temperaturas de produtos químicos de
processo.
»» Soluções contaminadas ou expiradas no tempo.
»» Tubos contaminados, recipientes, água de enxaguamento final, filtros, sistema de dosagem
Reprocessamento inadequado de endoscópios e
etc.
acessórios
»» Biofilme em EWD ou ADD, tubagens de água, contentores etc.
»» Reprocessamento inadequado de garrafas de água e sistemas de enxágue (por exemplo,
limpeza insuficiente, não esterilização).
»» Uso de água contaminada no reprocessamento de endoscópios.
»» Defeitos mecânicos/eletrônicos de EWD ou ADD.
»» Uso incorreto do EWD (por exemplo, conexões erradas).
»» Carga errada ou inadequada.
»» Falta de manutenção regular de EWD ou ADD.
»» Nenhum desempenho do ciclo de autodesinfecção, conforme recomendado pelo fabricante.
»» Secagem insuficiente antes do armazenamento (por exemplo, ligado a Pseudomonas spp.).
»» Condições de armazenamento inadequado e tempo de armazenamento.
Endoscópio contaminado ou defeituoso, Água
»» Armários de secagem/armazenamento contaminados.
contaminada usada na unidade de endoscopia
»» Transporte inadequado de endoscópios reprocessados (risco de recontaminação).
»» Uso de qualidade do ar inadequada durante a secagem ou armazenamento.

Fonte: Adaptado de Beilenhoff et al., (2018).

O risco de infecção é representado por uma ampla gama de endoscópios comumente


usados para espiar profundamente o corpo. Ele sinaliza uma falta de progresso por parte
dos fabricantes, hospitais e órgãos reguladores na redução da contaminação, apesar dos
inúmeros relatos de surtos de superbactérias e mortes de pacientes. Para profissionais

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PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

em controle de infecção e epidemiologia, “São equipamentos muito complicados e,


mesmo quando os hospitais fazem tudo certo, ainda temos um risco associado a esses
dispositivos. Nenhum de nós tem a resposta agora.” O estudo encontrou problemas
em escopos usados para colonoscopias, procedimentos pulmonares, remoção de pedras
nos rins e outras operações de rotina. Os pesquisadores disseram que as descobertas
nos hospitais, que não foram nomeadas, confirmam trabalhos anteriores mostrando
que essas questões não estão limitadas apenas aos duodenoscópios, dispositivos
gastrointestinais ligados a pelo menos 35 mortes nos Estados Unidos desde 2013.
Infecções relacionadas ao escopo também foram relatadas em 2015, as bactérias
encontradas neste último estudo não foram superbactérias, mas os pesquisadores
disseram que existem patógenos em potencial que colocariam os pacientes em alto
risco de infecção. O estudo não rastreou se os pacientes adoeceram devido a uma
possível exposição. Os autores do estudo disseram que o design intrincado de muitos
endoscópios continua a impedir a limpeza eficaz e esses problemas são agravados
quando os profissionais de saúde pulam etapas ou ignoram os protocolos básicos com
pressa para obter produção e agilidade dos serviços. O estudo identificou problemas
com colonoscópios, broncoscópios, ureteroscópios e gastroscópios, entre outros.
Infelizmente, nos últimos 10 anos, apesar da evolução analisada nesta área, observa-se
ainda que, ao analisamos a qualidade do reprocessamento de endoscópios, não notamos
melhorias no campo

O surgimento de superbactérias resistentes a antibióticos, como o CRE


(Enterobacteriaceae resistente a carbapenêmicos), que pode ser fatal em até metade
dos pacientes, tornou mais urgente a abordagem desses problemas. Cerca de 2 milhões
de americanos são doentes por bactérias resistentes a drogas a cada ano e 23.000
morrem, de acordo com os Centros Federais de Controle e Prevenção de Doenças.
Apesar dos riscos potenciais, os especialistas médicos advertem os pacientes para não
cancelar ou adiar procedimentos que envolvam a necessidade de utilizar endoscópios.
Esses dispositivos muitas vezes poupam os pacientes das complicações de cirurgias
mais invasivas.

Uma mudança para a esterilização provavelmente exigiria mudanças significativas


na concepção de equipamentos e grandes investimentos por hospitais e clínicas. Em
sua forma atual, muitos endoscópios não são construídos para resistir à esterilização
repetida. Alguns também têm canais longos e estreitos onde sangue, tecido e outros
detritos podem ficar presos dentro. Em alguns casos, escopos descartáveis e de uso
único são uma opção, e novos produtos estão começando a ganhar aceitação. Em outros
casos, certas partes de um escopo podem ser descartáveis ou removíveis para ajudar na
limpeza. A Joint Commission, que credencia muitos hospitais e centros cirúrgicos dos
EUA, emitiu um alerta de segurança sobre desinfecção e esterilização de dispositivos

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UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

médicos em resposta a uma taxa crescente de não conformidade. Em 2016, a Comissão


Conjunta citou 60% dos hospitais credenciados por não cumprimento, e 74% de todas
as citações de “ameaça imediata à vida” de agrimensores relacionadas a equipamento
indevidamente esterilizado ou desinfetado.

A reutilização de endoscópios e os procedimentos de limpeza inadequados


comprometem a esterilidade e podem causar infecções com risco de vida para o
paciente. Enfatiza-se a necessidade de materiais endoscópicos especializados que
podem ser esterilizados de maneira fácil, confiável e econômica. Para resolver este
problema, a tecnologia emergente revolucionou a endoscopia do trato gastrointestinal,
desenvolvendo endoscópios de cápsula em que a gravação de imagens ocorre através
de uma pequena câmera na forma de uma pílula ingerida pelo paciente. Paralelamente
a esta noção, o projeto financiado pela UE “Desenvolvimento de uma Ferramenta
de Endoscopia de Uso Descartável” (DUET) centrou-se no desenvolvimento de
endoscópios de utilização única em esforços para minimizar o risco de contaminação
cruzada e infecções hospitalares. Os parceiros do projeto demonstraram a viabilidade
de construir equipamentos endoscópicos que sejam econômicos, possam ser
descartados com segurança após o uso e, no devido tempo, possam ser reciclados.
Em geral, os resultados do projeto avançaram a tecnologia de endoscópios de uso
único e têm o potencial de aplicabilidade a outros equipamentos. Avanços neste
campo melhorarão a acessibilidade e a flexibilidade de uma série de procedimentos.

Desinfecção dos endoscópios


Recomenda-se o uso de reprocessamento automático, porque permite um ciclo de
reprocessamento padronizado e validado, permitindo ainda um registo de todos
os passos do processo e, minimizando a exposição a químico e à contaminação
ambiental, facilita o trabalho dos profissionais e reduz o risco de dano dos endoscópios.
O reprocessamento manual produz resultados fiáveis, desde que todos os passos do
procedimento sejam cumpridos rigorosamente. Contudo, não é possível validar o
processo, havendo ainda a exposição dos profissionais a químicos e a material infecioso.

Reprocessador Automático de Endoscópios (RAE)

Os RAE têm como função a desinfeção de endoscópios flexíveis num sistema fechado,
após uma limpeza manual. Assim, o seu ciclo inclui a desinfeção e o enxaguamento, mas
não a limpeza. Existem diversos modelos no mercado. Todos eles fazem a desinfeção e
o enxaguamento, mas, para além disso, alguns modelos oferecem adicionalmente:

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PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

»» Um teste de fugas integrado.

»» Um enxaguamento automático com água.

Secagem opcional após o enxaguamento final. A secagem pode ser de dois tipos: a
secagem entre exames, que envolve remoção dos fluidos residuais das faces externas
e do interior dos canais; a secagem alargada no final do dia de trabalho de forma a
manter os endoscópios armazenados em segurança pelo menos de um dia para o outro,
para prevenir a recontaminação pelos líquidos residuais, ou por fatores ambientais.
Atendendo a que estes equipamentos não integram uma fase de limpeza, esta deve
ser efetuada manualmente. A máquina deve ser eficaz, segura e confiável, e suportar o
design dos endoscópios e respetivos acessórios.

Os RAE devem preencher os seguintes critérios básicos:

I. Assegurar a completa irrigação de todos os canais endoscópicos


incluindo: biopsia, sucção, ar/água, canais auxiliares e elevadores.

II. Evitar a contaminação cruzada de endoscópios desinfetados a seguir.

III. Reduzir o risco de exposição dos olhos, pele e trato respiratório aos
produtos químicos utilizados no processo (sistema fechado).

Os RAE devem apresentar as seguintes características que podem ser diferentes


conforme os modelos:

I. Monitorização da renovação do desinfetante.

II. Sistema de aquecimento para manter o desinfetante à temperatura


especificada.

III. Adaptadores para o reprocessamento de todo o equipamento compatível.

IV. Um sistema de tratamento da água de enxaguamento que evite a


recontaminação dos endoscópios durante a fase de enxaguamento.

V. Autodesinfeção da água e dos componentes do sistema de tratamento da


água.

VI. Interface de impressão para registo dos dados da desinfeção.

VII. Indicador de falhas.

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UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

É necessário cumprir numerosos passos manualmente antes que o endoscópio possa


ser colocado no RAE. A limpeza manual prévia é obrigatória. É necessário garantir de
que os resíduos dos detergentes são removidos de forma eficaz porque podem interferir
com a atividade do desinfetante no RAE. Os fatores de processo mais importantes e
determinantes do resultado final adequado são:

»» O cumprimento rigoroso das instruções do fabricante no que se refere


aos procedimentos prévios.

»» Nos casos de reutilização das soluções de desinfetante, são necessários


testes regulares de eficácia (de acordo com as indicações do fabricante
dos produtos químicos e dependendo da frequência de utilização).

»» O RAE deve ser preferencialmente usado para todos os endoscópios,


os quais devem ser sujeitos numa primeira fase a limpeza manual. Este
passo (da limpeza manual) é obrigatório mesmo quando o fabricante
indica que o RAE tem uma fase de lavagem.

»» O RAE deve ter o processo validado de acordo com a norma internacional


aplicável (ter certificado de conformidade).

»» Todos os endoscópios devem ser devidamente ligados aos conectores


apropriados para garantir a irrigação de todos os canais. Os profissionais
devem verificar as ligações de todos os canais de trabalho antes do início
do ciclo.

»» A água de enxaguamento final deve ser de qualidade: livre de bactérias.

»» No caso da sua utilização a seguir, o endoscópio deve ser transportado


individualmente para a sala num recipiente coberto para evitar a
recontaminação ou danos.

»» No caso de não ser utilizado a seguir, as superfícies internas e externas


do endoscópio devem ser secas e o endoscópio imediatamente colocado
no armário próprio.

Reprocessador Manual de Endoscópios (RME)

»» O endoscópio deve ser colocado numa tina com a solução desinfetante


garantindo que fica completamente imerso na solução.

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PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

»» Todos os canais do endoscópio devem estar completamente preenchidos


com desinfetante, usando-se para o efeito adaptadores de lavagem
específicos do endoscópio, a fim de assegurar o completo contato com o
desinfetante e eliminação de espaços mortos.

»» As válvulas e tampas devem ser desinfetadas com o respectivo


endoscópio.

»» A solução desinfetante deve ser preparada de acordo com as indicações


do fabricante e deve ser utilizada cumprindo rigorosamente os tempos de
contato estabelecidos para uma desinfeção de alto nível.

»» Se a solução é utilizada por mais que um dia, o teor do ingrediente ativo


deve ser verificado diariamente antes do início da primeira sessão ou
conforme indicação do fabricante e o resultado deve ser registado. Se o
nível for inferior ao indicado, a solução deve ser descartada.

»» Após a desinfeção de nível elevado, o endoscópio e respectivos canais


devem ser enxaguados com água estéril ou filtrada para remover a solução
de desinfeção.

»» É preferível o uso de água estéril para o enxaguamento final.

»» A água deve ser descartada após cada uso/ciclo.

»» Se o endoscópio vai ser reutilizado a seguir, o profissional deve verificar


se é necessário a secagem manual. No decorrer da secagem manual, o
profissional de saúde deve dar especial atenção às partes externas do
endoscópio, ao controlo do corpo de luz/conectores de vídeo, fichas e
tomadas.

»» Antes do armazenamento, os canais devem ser irrigados com álcool


etílico ou isopropílico de 70% a 90% e secos com ar comprimido medicinal
à pressão indicada pelo fabricante do endoscópio.

Armazenamento

»» Os endoscópios devem ser armazenados na posição vertical para evitar a


retenção de líquido residual nos canais, e protegidos para prevenir o risco
de contaminação. As partes desmontáveis devem manter-se separadas,
mas junto com os componentes específicos de cada endoscópio, de modo
a garantir a segurança do procedimento.

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UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

»» Deve existir um procedimento documentado e datado no caso de se


utilizar armário com barreira sanitária (por exemplo com indicações para
a verificação do fluxo de ar filtrado, para o uso fora de horas). Os armários
devem ser utilizados de acordo com as indicações do fabricante.

Rastreabilidade

»» Deve existir um sistema (manual ou eletrônico) para a rastreabilidade do


ciclo de reprocessamento que identifique o profissional, o tipo e a fase de
reprocessamento e o doente associados a cada endoscópio reprocessado/
utilizado e que possibilite a monitorização e auditoria.

»» Cada endoscópio deve possuir um código único de identificação, e deve


ser implementado um sistema específico para endoscópios vindos do
exterior.

»» O sistema de rastreabilidade deve ser avaliado regularmente (pelo menos


uma vez por ano) para se assegurar da sua efetividade.

Acessórios

»» Antes da utilização das tampas das válvulas do canal de biopsia


reutilizáveis, assegurar da sua integridade.

»» As superfícies e lúmenes das válvulas e as partes desmontáveis devem ser


limpas e escovilhadas com um detergente enzimático e posteriormente
enxaguadas com água limpa antes de serem desinfetadas.

»» A limpeza ultrassônica dos acessórios reutilizáveis garante a limpeza das


áreas de difícil acesso.

»» Deve ser realizado um controle visual para garantir que as válvulas estão
visivelmente limpas e não estão danificadas.

»» As válvulas devem ser reprocessadas de acordo com as indicações do


fabricante.

»» As válvulas, incluindo as válvulas de irrigação, e as partes desmontáveis


devem ser mantidas junto com o endoscópio correspondente de modo a
formarem um todo, a fim de garantir a rastreabilidade.

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PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

»» O material (escovas, escovilhões etc.) utilizado para a limpeza deve ser


preferencialmente de uso único. Caso contrário, deve ser descontaminado
após cada utilização de acordo com as indicações do fabricante.

»» A limpeza ultrassônica dos acessórios endoscópicos reutilizáveis e


componentes dos endoscópios, com uma frequência superior a 30 kHz,
deve ser utilizada para remover sujidade e material orgânico de áreas de
difícil limpeza de acordo com as indicações dos fabricantes.

»» As pinças de biopsia e outros acessórios que têm a indicação para uso


único devem ser descartados após a utilização.

»» As pinças de biopsia e outros acessórios reutilizáveis que violam a barreira


mucosa devem ser submetidos a uma limpeza mecânica com detergente
enzimático e esterilizados (a desinfeção de nível elevado não é suficiente).

»» Os frascos de água e os tubos conectores devem ser esterilizados ou


submetidos a desinfeção de nível elevado de acordo com as indicações do
fabricante. Os frascos de água devem ser esterilizados após cada sessão
de endoscopia. A água utilizada nos frascos deve ser estéril.

Manutenção

»» Deve existir um registo da manutenção preventiva e das reparações dos


endoscópios de acordo com as instruções do fabricante.

»» Deve existir um registo da manutenção preventiva e reparações do RAE


de acordo com as instruções do fabricante.

»» O RAE deve ter um plano de manutenção.

»» Deve existir um registo específico do plano de manutenção e desinfeção


de qualquer sistema de purificação de água do RAE.

»» Deve existir um registo da manutenção preventiva e reparações da tina


ultrassônica de acordo com as instruções do fabricante.

»» Deve existir um registo de higienização periódica do sistema do RAE.

»» Deve existir um registo da manutenção preventiva e reparações dos


armários de armazenamento de acordo com as instruções do fabricante.

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UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

Testes e validação

»» Deve existir evidência de que o RAE foi validado na instalação de acordo


com as normas internacionais aplicáveis.

»» O RAE deve ser revalidado se houver introdução de um desinfetante novo.

»» Um profissional deve ser responsável pelos controles diários, semanais,


trimestrais e anuais de acordo com as normas europeias.

»» Deve existir um profissional responsável pela análise regular dos


resultados obtidos e a implementação de ações de melhoria, quando
indicado.

»» Deve existir um plano de intervenção que define as medidas corretivas.

»» Quando os resultados não são satisfatórios, deve haver evidências de


intervenção para resolução do problema.

»» A Unidade deve ser informada sobre os resultados bacteriológicos da água


da instituição/edifício havendo um plano de intervenção descrevendo
medidas a tomar no caso de resultado bacteriológicos positivos.

Aquisição do equipamento

»» A compra de material endoscópico e equipamento de reprocessamento


deve envolver, sempre que aplicável, uma equipa multidisciplinar (os
utilizadores e a Comissão de Controlo da Infeção e o Serviço de Saúde
Ocupacional, Serviço de Instalações e Equipamento).

»» Deve haver um plano com critérios para substituição e manutenção dos


endoscópios e do equipamento de reprocessamento dos endoscópios (a
Rede de Referenciação Hospitalar de Gastrenterologia).

Recomendações

»» Os pacientes submetidos a endoscopia digestiva devem ser examinados


e tratados sem riscos de transmissão de infecção ou de efeitos colaterais
que possam resultar de reprocessamento inadequado de endoscópios e
componentes endoscópicos.

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PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

»» Como o estado de portador dos pacientes é frequentemente desconhecido,


todos os pacientes devem ser tratados como potencialmente infecciosos.

»» Todos os endoscópios e acessórios endoscópicos reutilizáveis devem


ser reprocessados com um procedimento uniforme e padronizado de
reprocessamento após cada procedimento endoscópico (precauções
universais).

»» Um sistema de rastreabilidade deve estar disponível para permitir a


recordação de pacientes no caso de um surto.

»» O departamento de endoscopia deve ser informado sobre o estado de


portador do paciente, portanto, quaisquer precauções pertinentes podem
ser tomadas.

»» A equipe de endoscopia deve estar protegida contra material infeccioso


durante o procedimento endoscópico, bem como contra o contato direto
com equipamentos contaminados ou produtos químicos potencialmente
nocivos durante os procedimentos de Reprocessamento.

»» Uma política de saúde e segurança específica do departamento, bem


como equipamento apropriado, deve estar disponível em relação a
derramamentos, manuseio de instrumentos cortantes, produtos químicos
e fluidos corporais.

»» Todo o pessoal envolvido no procedimento de reprocessamento deve


usar equipamento de proteção Individual (EPI) apropriado, incluindo:
luvas de uso único quimicamente resistentes; óculos de proteção (óculos
ou viseiras), máscaras faciais e cobertura para cabelos do tipo esfoliante
cirúrgico; equipamento de proteção respiratória: ao manusear produtos
químicos, especialmente desinfetantes contendo sensibilizadores
respiratórios; batas de proteção de mangas compridas e resistentes à
humidade.

»» A vigilância regular da saúde é recomendada para todo o pessoal que


trabalha com produtos químicos potencialmente sensibilizantes ou
indutores de alergia.

»» Recomenda-se que todo o pessoal receba vacinação adequada contra


agentes infecciosos.

75
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

»» O pessoal conhecido como portador de doenças deve evitar deveres que


possam transmitir sua doença aos pacientes. O tratamento deve ser
oferecido, se aplicável.

»» Para garantir o reprocessamento adequado, os seguintes requisitos


devem ser considerados: um número suficiente de funcionários treinados,
dedicados e competentes e tempo suficiente são pré-requisitos para o
correto reprocessamento dos endoscópios e acessórios endoscópicos.

»» Como o design dos endoscópios varia dependendo do tipo de endoscópio e


do fabricante, é essencial que a equipe esteja familiarizada com o projeto e
construção de todos os equipamentos utilizados em seus departamentos.
Isso também inclui quaisquer endoscópios de empréstimo.

»» A equipe de endoscopia e reprocessamento deve adquirir um programa


oficialmente reconhecido de reprocessamento por endoscopia, seguido
de treinamento regular e periodicamente atualizado para manter a
competência.

»» Devem ser realizadas auditorias regulares para avaliar a conformidade


com as diretrizes e recomendações e para identificar qualquer
descumprimento ou falta de competência em um estágio anterior. Se uma
prática ruim ou a falta de conhecimento for identificada, ações imediatas
devem ser tomadas (por exemplo, correções de prática, treinamento
adicional) seguidas por uma reavaliação de competência.

»» O reprocessamento de equipamento endoscópico só deve ser realizado


em uma sala separada de reprocessamento, a fim de minimizar o risco
de infecção e contaminação para o restante pessoal e o público em geral.

»» Proteger produtos químicos usados em procedimentos de limpeza e


desinfecção.

»» Proteger da contaminação cruzada com material potencialmente


infeccioso, sangue e outros fluidos corporais.

»» A sala deve ter:

›› tamanho e iluminação adequados, e ventilação e extração de fumaça


para minimizar os riscos de vapores químicos;

›› equipamento técnico apropriado e medidas de proteção, a fim de

76
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

garantir um reprocessamento seguro seguindo procedimentos


padronizados e validados de reprocessamento;

›› separação espacial ou pelo menos operacional rigorosa das áreas sujas


e de limpeza/armazenamento, a fim de evitar a recontaminação de
endoscópios reprocessados e acessórios endoscópicos. Isso deve ser
suportado pela arquitetura e design da sala, bem como pelo fluxo de
trabalho unidirecional de áreas sujas para áreas limpas. Idealmente, os
padrões devem obedecer aos do departamento central de esterilização
e fornecimento no país em questão.

»» É da responsabilidade do prestador de serviços clínicos garantir que


estejam disponíveis instalações adequadas para o reprocessamento.

»» Soluções detergentes aplicadas para limpeza manual não devem ser


reutilizadas.

»» Soluções detergentes com uma reivindicação de atividade


antimicrobiana (forstaff e proteção do meio ambiente) podem ser
usadas, e devem ser preparadas recentemente, pelo menos diariamente.
A frequência de troca dessas soluções de detergente depende do número
de endoscópios reprocessados. No entanto, se uma solução estiver
visivelmente suja, ela deve ser trocada imediatamente.

»» Detergentes contendo aldeídos não devem ser usados para o passo de


limpeza manual, pois eles são capazes de coagular a proteína (fixação).

»» Os desinfetantes usados para o reprocessamento de endoscópios


flexíveis devem ser testados. A eficácia de desinfecção necessária deve
ser:

›› bactericida;

›› micobactericida;

›› fungicida;

›› virucida contra vírus envelopados e não envelopados.

»» A atividade desinfetante deve ser demonstrada sob condições de “uso” na


presença de substâncias interferentes.

77
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

»» Os detergentes e desinfetantes, bem como os auxiliares de enxágue,


devem ser usados e combinados somente em conformidade com as
recomendações dos fabricantes de endoscópios, e produtos químicos de
processo.

»» Cada unidade de endoscopia deve ter procedimentos operacionais


padrão específicos do departamento baseados nas IFUs dos fabricantes;

»» Instruções detalhadas devem ser dadas para o tratamento de cada um


dos diferentes tipos de equipamentos (incluindo endoscópios) utilizados
no departamento.

»» Os protocolos específicos do departamento devem ser periodicamente


atualizados e arquivados.

»» A limpeza do endoscópio à beira do leito deve começar imediatamente


após o endoscópio ter sido retirado do paciente, a fim de remover detritos
de superfícies externas e internas; evitar a secagem de fluidos corporais,
sangue ou detritos; reduzir qualquer acúmulo de carga biológica ou
crescimento de filmes.

»» A desinfecção das mãos deve ser feita antes de manipular os equipamentos


reprocessados.

»» Realize uma primeira verificação para o correto funcionamento dos


canais do endoscópio.

»» Atenção especial deve ser dada a endoscópios complexos, como


duodenoscópios e ecoendoscópios.

»» O ciclo completo de reprocessamento deve ser documentado: cada etapa


de reprocessamento (incluindo limpeza à beira do leito, limpeza manual
e reprocessamento automatizado) deve ser registrada manualmente ou
eletronicamente. Incluir os nomes das pessoas que realizam cada etapa.
Os parâmetros de processo e armazenamento nos armários devem ser
documentados por impressões ou eletronicamente. Todos os endoscópios
devem ter um registro de seus reprocessamentos, mostrando que eles
estão prontos para uso em pacientes. O registro de reprocessamento deve
ser documentado nos arquivos do paciente.

»» Os endoscópios reprocessados devem ser transportados em um


recipiente fechado, claramente identificado como “equipamento limpo

78
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

e pronto para uso”. Os componentes do endoscópio também devem ser


transportados neste contêiner fechado.

»» É de responsabilidade do prestador de serviços clínicos entrar em


contato com o fabricante relevante e com os órgãos reguladores se: as
recomendações do fabricante não são claras; quaisquer problemas
surgem durante o uso ou reprocessamento de equipamento; infecções
suspeitas ocorrem em conjunto com um dispositivo específico.

»» O prestador de serviços clínicos deve estabelecer procedimentos


detalhando o gerenciamento de qualquer infecção suspeita, assim como
violações suspeitas ou identificadas no reprocessamento. O procedimento
deve indicar o manejo dos pacientes, funcionários e equipamentos
potencialmente afetados.

»» Antes do primeiro uso nos pacientes, endoscópios de empréstimo


e protótipos devem ser reprocessados, seguindo todo o ciclo de
reprocessamento, incluindo a escovação manual, e devem ser verificados
quanto ao funcionamento correto.

»» Se um endoscópio de empréstimo e protótipos diferirem dos endoscópios


normalmente usados no departamento, a equipe de endoscopia e
reprocessamento deve receber instruções do fornecedor sobre o
equipamento, incluindo a configuração do canal e informações sobre
reprocessamento.

»» As especificações de cada endoscópio e os protótipos de empréstimo


devem ser incluídos no banco de dados do departamento de endoscopia,
e gabinetes de armazenamento locais (se aplicável), a fim de possibilitar
a documentação apropriada.

»» Os acessórios endoscópicos devem ser armazenados em um copo


fechado. Antes da utilização, a embalagem estéril deve ser verificada
quanto a danos e data de validade.

Fases do reprocessamento

Para garantir que os endoscópios flexíveis sejam seguros para o uso do paciente,
toda a equipe envolvida no reprocessamento deste equipamento deve entender e
seguir consistentemente uma série de etapas que foram reduzidas a sete etapas
essenciais. Garantir a adesão a essas etapas requer um programa completo e efetivo

79
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

de reprocessamento. Estas recomendações aplicam-se a todas as configurações em


que os procedimentos endoscópicos são realizados e nas quais os endoscópios são
reprocessados.

»» Pré-limpeza: realizar uma pré-limpeza nos endoscópios flexíveis e


acessórios reutilizáveis seguindo as instruções de uso do fabricante do
dispositivo. Realizar a pré-limpeza imediatamente após a conclusão do
procedimento do endoscópio para ajudar a evitar a formação de biofilme.

»» Teste de vazamento: para endoscópios que exigem teste de vazamento,


executá-lo usando as recomendações do fabricante após cada uso e antes
da limpeza manual. O teste de vazamento detecta danos nas superfícies
externas e nos canais internos do endoscópio, o que pode levar à
desinfecção inadequada e danos adicionais do endoscópio.

»» Limpeza manual: efetuar uma limpeza manual meticulosa, incluindo


canais e portas de escovagem e lavagem, em conformidade com as
instruções de uso do fabricante antes de realizar a desinfecção de alto
nível ou a esterilização. Executar a limpeza manual dentro do prazo
especificado na IFU do fabricante. Este é o passo mais crítico no processo
de desinfecção, uma vez que o material orgânico residual pode reduzir a
eficácia da esterilização.

»» Inspeção visual: após a limpeza manual, inspecionar visualmente o


endoscópio e seus acessórios. A inspeção visual fornece uma garantia
adicional de que o endoscópio e seus acessórios estão limpos e sem
defeitos. Dispositivos complexos, como endoscópios flexíveis, podem
exigir o uso de ampliação com iluminação ou métodos adicionais para
auxiliar no processo de inspeção.

»» Desinfecção ou esterilização: após a limpeza e inspeção visual, executar


desinfecção de alto nível ou esterilização de acordo com as instruções
do fabricante. Revisar cuidadosamente e seguir as instruções de
reprocessamento do fabricante do endoscópio e as instruções de uso
para produtos químicos ou esterilizantes e qualquer equipamento (por
exemplo, reprocessadores automatizados de endoscópio) usado para
reprocessamento para ajudar a garantir que a desinfecção efetiva ocorra.

»» Armazenamento: após a conclusão do reprocessamento, armazenar


os endoscópios e acessórios de maneira que evite a recontaminação,
proteger o equipamento contra danos e promover a secagem. Armazenar

80
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

endoscópios flexíveis processados em um gabinete que seja de altura,


largura e profundidade suficientes para permitir que os endoscópios
flexíveis permaneçam na vertical sem enrolar e sem tocar na parte inferior
do gabinete.

»» Documentação: manter a documentação de adesão a estas etapas


essenciais cada vez que um endoscópio for reprocessado. A
documentação é essencial para fins de garantia de qualidade e
rastreamento de pacientes, no caso de uma retrospectiva ser necessária.

Equipe de reprocessamento

A equipe de reprocessamento está exposta aos seguintes riscos à saúde e à segurança


durante o reprocessamento do equipamento endoscópico:

»» Riscos biológicos (contato direto com fluidos corporais, equipamento


contaminado e material potencialmente infeccioso).

»» Riscos químicos (contato com produtos químicos de processo como


líquidos e vapores, drogas e alérgenos potenciais, como látex).

»» Riscos físicos e ergonômicos (por exemplo, trabalho em posições de pé e


de flexão, com risco de distúrbios musculoesqueléticos).

»» Risco de ferimentos (por exemplo, de agulhas ou outros instrumentos


cortantes).

»» Perigos psicológicos (por exemplo, ruído, carga de trabalho).

A implementação de políticas de saúde e segurança é tão obrigatória para endoscopia


quanto para cirurgia ou atendimento ambulatorial. Verificações regulares de saúde,
bem como medidas de proteção do pessoal, são essenciais para garantir um ambiente
de trabalho seguro. Os princípios de prevenção de infecção são essenciais para
manter um ambiente seguro e prevenir a disseminação de doenças para pacientes e
pessoal de endoscopia. As recomendações sobre saúde e segurança devem ser seguida
(GUTTERMAN et al., 2013).

81
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

Elementos essenciais de um programa de


reprocessamento para endoscópios flexíveis

Administrativos

A liderança da organização de assistência médica ou prática onde os endoscópios


flexíveis são usados e/ou reprocessados é responsável por:

»» Alocar recursos humanos e materiais suficientes para garantir que


a seleção, o uso e o reprocessamento de endoscópios e acessórios
relacionados sejam gerenciados de uma maneira que minimize o risco
de infecção e ofereça suporte à segurança do paciente e do profissional
de saúde.

»» Apoiar e capacitar a autoridade dos responsáveis pela gestão de práticas


de prevenção de infecções para garantir a eficácia do programa.

»» Assegurar que os elementos essenciais de um programa de


reprocessamento do endoscópio sejam seguidos e que os endoscópios
sejam reprocessados ​​de acordo com as orientações do fabricante.

Políticas internas

Em todos os locais onde a endoscopia é realizada, as políticas relacionadas ao


reprocessamento dos endoscópios devem ser desenvolvidas por uma equipe
multidisciplinar que inclua médicos, enfermeiros, pessoal de reprocessamento de
endoscópios, prevenção de infecções e outras pessoas envolvidas no uso e reprocessamento
dos endoscópios. Para instalações com pessoal limitado, onde a formação de uma equipe
multidisciplinar não é possível, considere a busca de especialistas externos para obter
informações multidisciplinares (AMERICAN SOCIETY FOR GASTROINTESTINAL
ENDOSCOPY et al., 2011).

As políticas devem abordar a seleção, o uso, o transporte, o reprocessamento e o


armazenamento de endoscópios e dispositivos acessórios para garantir a conformidade
com as fichas de instruções dos fabricantes de equipamentos de reprocessamento e
endoscópios. Além disso, as políticas devem incluir claramente os requisitos para
documentação de aderência a etapas essenciais de reprocessamento, parâmetros
relativos à configuração física em que ocorre o reprocessamento do endoscópio,
educação do pessoal, treinamento e avaliação de competência, procedimentos contínuos
de garantia da qualidade e protocolos de resposta a equipamentos e Danos/falhas ou
violações de esterilização.

82
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

As políticas devem incluir o gerenciamento de endoscópios “emprestados” (ou seja,


endoscópios que não são de propriedade da unidade de saúde, mas são fornecidos para
uso temporário por fabricantes, fornecedores de equipamentos ou outras instalações
de saúde) para garantir a adesão aos mesmos padrões de reprocessamento descritos
anteriormente, necessários para equipamento de propriedade da instalação. Isso inclui:

I. Avaliar a condição (isto é, inspeção visual, teste de vazamento) de


endoscópios emprestados antes do uso.

II. Limpeza e desinfecção de alto nível ou esterilização de endoscópios


emprestados fornecidos pelo fabricante ou outra unidade de saúde antes
do uso.

As políticas devem estar em conformidade com todos os padrões e requisitos federais e


locais e organizações de credenciamento relevantes. As políticas também devem levar
em consideração os padrões e recomendações de organizações profissionais e normas
nacionais (AMERICAN SOCIETY FOR GASTROINTESTINAL ENDOSCOPY et al.,
2011).

Fiscalizações

A gerência deve assegurar que:

»» Políticas relacionadas ao reprocessamento de endoscópios estão em vigor


e são revisadas regularmente, conforme exigido pelo órgão regulador
da instalação e por qualquer organização reguladora aplicável. Além
disso, as políticas devem ser atualizadas regularmente quando novos
equipamentos/produtos são comprados e quando novas informações são
publicadas.

»» Dispositivos de uso único não devem ser reprocessados. Se uma instalação


optar por reprocessar um dispositivo de uso único, as regulamentações
da FDA para o reprocessamento de dispositivos de uso único devem ser
seguidas.

»» São abordadas as necessidades de saúde ocupacional que incluem, mas


não se limitam, à provisão da vacina contra hepatite B, prevenção da
exposição a agentes infecciosos (por exemplo, patógenos transmitidos
pelo sangue, patógenos entéricos) e disponibilidade de profilaxia pós-
exposição quando indicado, acesso conveniente e adequado uso de

83
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

equipamento de proteção individual (EPI) e monitoramento da exposição


a produtos químicos usados ​​para reprocessamento, quando aplicável.

»» O agendamento do paciente e os níveis de pessoal são adequados


para permitir tempo suficiente para executar consistentemente o
reprocessamento adequado dos endoscópios e evitar atrasos entre a
conclusão de um procedimento endoscópico e o início do reprocessamento
do endoscópio usado para esse procedimento. A gerência deve ter
conhecimento das IFUs do fabricante relacionadas ao reprocessamento
retardado para garantir que as medidas apropriadas sejam tomadas se
ocorrer um atraso no reprocessamento.

»» A equipe tem acesso a pessoal com conhecimento e treinamento em


prevenção de infecção para apoiar o desenvolvimento e a implementação
de políticas e procedimentos de prevenção de infecção.

»» Todo o pessoal envolvido no reprocessamento de endoscópios,


incluindo os supervisores e gerentes do pessoal de reprocessamento,
recebe educação continuada, treinamento e avaliação de competência,
conforme descrito na seção Educação, Treinamento e Competências. Se
o pessoal for responsável pelo reprocessamento de mais de um tipo de
endoscópio, verifique a competência do reprocessamento para cada tipo
de endoscópio, incluindo o uso apropriado de todos os equipamentos
necessários para o reprocessamento. A certificação de reprocessamento
de endoscópios é incentivada, mas não nega a necessidade de avaliações
contínuas de competência.

»» No mínimo, a água usada para o reprocessamento dos endoscópios atende


às especificações recomendadas pelos fabricantes de equipamentos
e equipamentos de reprocessamento. Devem ser consideradas as
diretrizes da sociedade que recomendam especificações de água
mais rigorosas. Todos os elementos essenciais de um programa
eficaz de reprocessamento de endoscópios são atendidos e mantidos
(AMERICAN SOCIETY FOR GASTROINTESTINAL ENDOSCOPY et
al., 2011).

Documentações

Os requisitos de documentação variam dependendo dos métodos e produtos usados​​


para desinfecção ou esterilização. Para todos os métodos de reprocessamento, o

84
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

rastreamento é essencial no caso de uma falha de desinfecção e para responder a recalls


de dispositivos ou produtos. Deve-se assegurar que haja um processo em vigor para
registrar a hora final do procedimento e a hora de início da limpeza manual. A gravação
desses tempos permite que o pessoal de reprocessamento verifique quanto tempo o
endoscópio aguarda reprocessamento, priorize o reprocessamento de endoscópios
específicos e determine se o reprocessamento de rotina dentro do tempo recomendado
pelo fabricante para a limpeza é viável e, se não, implemente os procedimentos do
fabricante.

Processamento atrasado

Manter a documentação da eficácia dos produtos utilizados para limpeza e desinfecção


(por exemplo, documentar os resultados do teste quanto a concentrações eficazes do
desinfetante químico, datas de validade para tiras de teste e desinfetantes químicos).
Manter registros de manutenção preventiva e reparo de endoscópios e equipamentos de
reprocessamento (por exemplo, testadores de vazamento, reprocessadores automáticos
de endoscópios, esterilizadores). A documentação deve incluir a investigação de
eventos críticos ou potenciais críticos, falhas no processo de esterilização ou falhas no
equipamento. Manter a documentação conforme designado pela política de retenção
de registros da instalação (AMERICAN SOCIETY FOR GASTROINTESTINAL
ENDOSCOPY et al., 2011).

Inventários

Realizar um inventário do endoscópio para identificar todos os endoscópios e o método


de reprocessamento em uso pela instalação. As informações revisadas para cada
endoscópio devem incluir, mas não estão limitadas a:

»» fabricante e modelo de endoscópio;

»» localização de uso;

»» número de procedimentos realizados;

»» localização das fichas de instruções do fabricante do endoscópio;

»» localização para reprocessamento;

»» equipamento utilizado para a desinfecção e/ou esterilização,

»» status do endoscópio (isto é, aposentado, fora para reparo, em uso).


Certifique-se de que cada endoscópio tenha um identificador único para
85
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

facilitar o rastreamento. O rastreamento deve incluir a capacidade de


determinar quando endoscópios específicos foram usados para pacientes
específicos, emprestados a outras unidades ou instalações, reprocessados
ou reparados. O rastreamento também é essencial para responder a
recalls de dispositivos ou produtos (RUTALA; WEBER, 2010).

Espaço físico

A área de reprocessamento deve estar em um espaço separado da área de


procedimentos do paciente. Revise a configuração física para garantir um fluxo
de trabalho “unidirecional” que separe os espaços de trabalho contaminados dos
espaços de trabalho limpos. Se uma sala separada for usada para limpeza manual
de endoscópios, assegure um fluxo de ar direcional que mantenha pressão negativa
dentro daquela sala em relação aos espaços adjacentes. Certifique-se de que os
parâmetros de aquecimento, ventilação e ar condicionado sejam apropriados para os
produtos químicos e equipamentos em uso. A equipe deve ter acesso a um coletor de
lavagem de mãos separado do (s) coletor (es) de reprocessamento. Instale postos de
lavagem de olhos, sondados ou autocontidos, dentro da sala de reprocessamento de
endoscopia, onde são usados produtos químicos que são perigosos para os olhos. As
estações de lavagem ocular não devem ser instaladas em um local que exija o enxágue
dos olhos no coletor de descontaminação. Assegure-se de que as instruções de uso do
fabricante para o reprocessamento dos endoscópios e para o uso dos AERs e produtos
químicos associados estejam prontamente disponíveis. Oferecer espaço designado
para permitir o acesso a arquivos eletronicamente (por exemplo, computador) ou
cópia impressa (por exemplo, em fichários para IFUs) e Folhas de Dados de Segurança
para produtos químicos usados para usados para reprocessar endoscópios flexíveis.

Treinamentos

A educação e o treinamento devem incluir a justificativa para cada um dos sete


passos essenciais do reprocessamento descritos. As avaliações de treinamento e de
competência devem ser baseadas nas fichas de instruções do fabricante do endoscópio,
bem como no equipamento de reprocessamento e nos produtos químicos utilizados.
Se mais de um tipo/modelo de endoscópio for usado, a equipe deve ser capaz de
demonstrar que é competente para reprocessar cada tipo específico de endoscópio.
Listas de verificação de avaliação de competências específicas de modelo podem ser
necessárias, bem como auxílio educacional pós-visual e procedimentos operacionais
padrão para reforçar as melhores práticas de reprocessamento. A educação e a
formação devem também abordar a descontaminação, a limpeza e a esterilização

86
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

de acessórios reutilizáveis que violem a barreira mucosa. Garantir que os instrutores


e gerentes sejam competentes para reprocessar os endoscópios e sejam capazes de
treinar e verificar adequadamente a competência de seus funcionários (RUTALA;
WEBER, 2010).

Execute as competências do pessoal:

I. Inicialmente, mediante contratação e, periodicamente, conforme exigido


pela política da instalação. Recomenda-se uma atualização educacional
seguida de observação direta da equipe que realiza o reprocessamento do
endoscópio.

II. Sempre que um novo modelo de endoscópio, equipamento de


reprocessamento ou produto químico é comprado.

III. Sempre que houver atualizações nas fichas de instruções do fabricante.

IV. Isso inclui etapas essenciais de reprocessamento de pré-limpeza para


armazenamento e documentação e uma revisão dos procedimentos a
serem seguidos no caso de falha de equipamento (por exemplo, uso de
métodos de reprocessamento manual conforme fabricante ou uso de
um reprocessador automatizado alternativo que seja validado para o
endoscópio).

V. Como e quando realizar testes complementares ou outras avaliações


de limpeza de endoscópios (por exemplo, testes que medem o material
orgânico residual ou trifosfato de adenosina), quando esses testes são
usados pela instalação. A certificação no reprocessamento de endoscópios
não reduz a necessidade de orientação, treinamento/educação continuada.

Avaliação de risco e garantia de qualidade

Uma avaliação de risco ou análise abrangente de lacunas deve ser realizada para
assegurar que:

I. Todas as etapas essenciais do reprocessamento e dos elementos


essenciais de um programa de reprocessamento do endoscópio são
atendidas e mantidas. Endoscópios flexíveis são pré-limpos no ponto
de uso e transportados com segurança para a área de reprocessamento.
As competências do pessoal são verificadas. Um número suficiente de
funcionários de reprocessamento está disponível quando procedimentos

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UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

endoscópicos de rotina e/ou de emergência são realizados. As instruções


do fabricante estão prontamente disponíveis e são seguidas.

II. Equipamentos e suprimentos de reprocessamento necessários estão


disponíveis.

III. O espaço físico é adequado para reprocessamento.

IV. Os parâmetros de aquecimento, ventilação e ar condicionado são


monitorados e controlados.

V. O armazenamento de endoscópios é apropriado.

VI. A documentação que fornece a rastreabilidade completa é mantida.

Ao conduzir a avaliação de risco ou a análise de lacunas, avalie a documentação, se foi


validado para reprocessar os componentes do endoscópio. Obtenha os protocolos de
reprocessamento específicos do modelo para o endoscópio e verifique a compatibilidade.
Realize auditorias periódicas dos protocolos de reprocessamento de instalações e a
integridade da documentação para monitorar a conformidade. Análises de lacunas
e avaliações de risco devem ser realizadas periodicamente e sempre que novos
endoscópios forem adquiridos, as instruções de uso do fabricante mudam e quando
ocorrem mudanças nas orientações de organizações profissionais e reguladoras.

Identificação das falhas

Violações na aderência às etapas essenciais de desinfecção e esterilização podem ser


resultado do mau funcionamento do equipamento e/ou erro humano. Cada violação
é resultado de circunstâncias únicas e deve ser avaliada para determinar o risco de
transmissão da doença. Uma equipe multidisciplinar que inclua equipe de prevenção
de infecção, gerenciamento de risco e endoscopia deve revisar cuidadosamente cada
evento para determinar as etapas corretivas necessárias e a necessidade de notificação
do paciente. Existem vários recursos disponíveis para ajudar em uma avaliação de
violação. A equipe multidisciplinar deve usar um ou mais desses documentos para
orientar sua investigação. Quando uma violação envolve uma suspeita de exposição
do paciente a um endoscópio reprocessado de maneira inadequada, a decisão de
notificar os pacientes sobre sua possível exposição deve ser feita em consulta com um
departamento de prevenção de infecções e departamentos de saúde estaduais e locais.
Se um profissional de saúde suspeitar de contaminação bacteriana persistente de um
endoscópio, após o reprocessamento, seja por causa de um aumento de infecções após
procedimentos endoscópicos ou devido aos resultados da cultura microbiológica de

88
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

endoscópios, o profissional de saúde deve apresentar um relatório ao programa de


informação de segurança o fabricante e de notificação de eventos adversos (RUTALA;
WEBER, 2015).

Medidas suplementares para o reprocessamento


do duodenoscópio

Algumas instituições de saúde optaram por usar um método suplementar(es) após


a desinfecção de alto nível para o reprocessamento dos duodenoscópios. Como
atualmente não há evidências suficientes para avaliar adequadamente o equilíbrio
entre os benefícios potenciais e as consequências não intencionais associadas a esses
métodos suplementares, esses métodos não foram incluídos como elementos essenciais
de um programa de reprocessamento. Exemplos de medidas suplementares a partir de
julho de 2016 incluem:

I. repetir a desinfecção de alto nível;

II. cultivo microbiológico e quarentena até a cultura negativa;

III. sistema de processamento de esterilização química líquida;

IV. esterilização por óxido de etileno;

V. esterilização de baixa temperatura compensada;

VI. intervalo de armazenamento do endoscópio. Os dados disponíveis


sobre o intervalo máximo de armazenamento do endoscópio antes de o
reprocessamento ser necessário e antes da utilização são inconclusivos.
O período pode depender de múltiplos fatores, conforme identificados
na avaliação de risco organizacional, que podem incluir o uso/troca de
endoscópios usados e as instruções de uso do fabricante;

VII. espaço de armazenamento do endoscópio;

VIII. os recursos do gabinete de armazenamento, que são ideais para a


prevenção de contaminação, não foram determinados (por exemplo,
parâmetros de ventilação do gabinete, capacidade de armazenamento de
acessórios);

IX. substituição de endoscópios. Embora os endoscópios devam ser reparados


com uma frequência não inferior à indicada nas instruções de uso do
fabricante aprovadas, o intervalo de tempo ideal para a substituição do

89
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

endoscópio e suas partes associadas é desconhecido (RUTALA; WEBER,


2015).

Evidências relacionadas ao processamento dos


endoscópios

»» Risco de infecção: falhas humanas são as principais responsáveis pela


não efetividade do reprocessamento.

»» Qualificação profissional: o profissional responsável pelo processamento


deve ser qualificado, treinado e supervisionado.

»» Importância da limpeza: a limpeza é a principal etapa do processamento.


A matéria orgânica não removida na limpeza fica acumulada favorecendo
a formação do biofilme que, por sua vez, compromete a efetividade do
processo de desinfecção por impedir a ação germicida.

»» Biofilme: sua formação é extremamente rápida e, uma vez formado, é


muito difícil de ser removido. A melhor prática é a prevenção (limpeza
manual eficiente). Fragmentos do biofilme podem ser transportados
pelos acessórios através do canal de biópsia durante o procedimento.

Métodos utilizados para o reprocessamento

No momento, não há métodos padrão para inspeção microbiológica e de limpeza


dos endoscópios após o reprocessamento e, de fato, até alguns procedimentos não
apropriados são utilizados em alguns casos. Isto dá origem a um grande número de
resultados incorretos. Dependendo da frequência de uso, a qualidade do reprocessamento
e os intervalos de rotina para inspeção da família dos endoscópios devem ser definidos
durante a análise de risco (KIRCHEIS; KAMPF; GERSTENBERGER, 2007).

Tipos de amostras coletadas

As seguintes amostras devem ser coletadas de cada endoscópio:

»» Amostras em swab:

›› Da porção distal.

›› Da alavanca de Albarran (se presente).

90
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

›› Se aplicável, das partes que são particularmente difíceis de acessar


(ex.: item dos pontos de fixação do balão).

»» Amostras líquidas:

›› Amostras do enxágue.

›› De cada canal que possa ser enxaguado.

Neutralização

Resíduos de desinfetantes podem continuar nos canais do endoscópio assim como


nos recipientes de limpeza das óticas. Pode haver implicações nos resultados dos
testes microbiológicos obtidos, uma vez que este fato pode impedir a detecção real de
micro-organismos. Portanto, é recomendado que, a princípio, os líquidos de enxágue
e as amostras de água sejam coletados em um tubo de teste contendo uma solução
neutralizante. Desta forma, todo o resíduo de desinfetante é neutralizado. A neutralização
da solução deve ser omitida quando da utilização de lavadoras termodesinfectadoras
para qual a ausência de qualquer resíduo de desinfetante foi demonstrada no momento
de sua validação. Se, ao invés de adicionar uma solução neutralizante à amostra, um
teste de inibição fosse utilizado, então, um método de validação deve demonstrar que
todos os micro-organismos relevantes foram levados em consideração.

Métodos de inspeção

Os métodos de inspeção que podem ser utilizados são baseados nos seguintes
princípios:

»» Amostras de swab: as amostras de swab são inoculadas diretamente


no meio nutriente, bem como transferidas ao meio de crescimento.
Ambos métodos permitem somente uma detecção qualitativa dos micro-
organismos existentes.

»» Amostras líquidas: um volume específico do líquido de enxágue passa


através de um filtro de membrana com poros de tamanho adequado e,
então, é colocado em um meio adequado de crescimento. Em paralelo, as
amostras líquidas também podem ser colocadas diretamente no meio de
nutriente seletivo. Após incubação, é realizada uma contagem do número
de colônias do filtro e são realizadas conversões apropriadas. O número de
colônias formadas (cfus) por milímetro é calculado. Esta forma permite a
detecção quantitativa dos micro-organismos presentes.

91
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

Amostragem

A fim de assegurar higiene adequada, duas pessoas são, geralmente, necessárias para
realização da amostragem. A amostragem deve ser conduzida sob condições assépticas.
Qualquer contaminação pelo coletador deve ser excluída. Para tanto, o coletador deve
usar um avental limpo, novo, longo e descartá-lo de forma adequada antes de cada
teste e cada local de teste. Desinfecção higiênica das mãos também é obrigatória antes
de coletar cada amostra. O endoscópio deve estar suspenso livremente antes de a
amostra ser coletada. É recomendado que as amostras de swab sejam as primeiras a
ser coletadas.

»» Amostras de swab: o swab estéril deve ser umedecido com soro fisiológico
estéril (0,9%) sob condições assépticas. Cada local crítico especificado no
plano de ação deve ser cuidadosamente avaliado com o swab umedecido
e, então, deve ser transferido para um tubo de teste para transporte e
enviado imediatamente para o laboratório.

»» Amostra do enxágue: utilizando-se de uma seringa descartável estéril,


deve ser injetado dentro do canal do endoscópio (da parte proximal para
a distal) aproximadamente 25ml de soro fisiológico estéril. Do líquido
eliminado na porção final, 20ml são coletados em um tubo de teste estéril
(contendo, se necessário, 20ml de solução neutralizante concentrada
– se o tubo de teste coletor contém 20ml de solução neutralizante, a
concentração de neutralização deve ser dobrada). Para enxaguar todos
os canais, geralmente é necessário utilizar os adaptadores de limpeza, a
fim de assegurar que os adaptadores também serão limpos e desinfetados
e, possivelmente, também esterilizados, para que qualquer risco de
contaminação seja excluído.

Se uma solução neutralizante é utilizada, ambos líquidos são misturados juntos a


amostra cuidadosamente.

»» Amostra de água: utilizando-se de uma seringa descartável estéril, no


mínimo 20ml de líquido são retirados do sistema de limpeza da ótica
através das mangueiras de conexões associadas e transferidos para
um tubo de teste estéril (se o tubo de teste coletor tiver – ex.: 20ml de
solução neutralizante, a solução de neutralização deve ser duplamente
concentrada).

»» Transporte de amostras: após a coleta, as amostras devem ser


transportadas o mais rápido possível ao laboratório. Este processo

92
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA │ UNIDADE IV

adicional deve ocorrer dentro de 24 horas após a coleta. As amostras


devem estar refrigeradas se o tempo de transporte for superior a 4 horas.

Avaliação dos resultados

Recomendações para o correto reprocessamento terão sido respeitadas, se:

»» A contagem máxima total for menor ou igual a 20 cfu por canal (menor
ou igual a 1 cfu/ml da amostra de enxágue para 20ml do volume da
amostragem).

»» Os seguintes micro-organismos não devem estar presentes:

›› E. coli, outras enterobactérias e enterococos.

›› P. aeruginosa e outras pseudomonas não fermentadoras.

›› Patógenos nosocomiais como S. aureus.

›› Mycobacteria e Legionella (pela análise de risco).

›› S. viridans: em endoscópios utilizados para examinar regiões


do trato gastrointestinal superior ou trato respiratório superior
que normalmente não são colonizados microbiologicamente
(ex.: broncoscópio, duodenoscópio de visão lateral utilizado para
endoscopia retrógrada, colangiopancreatografia – ERCP – pela
análise de risco).

Interpretação dos resultados positivos

O crescimento de certos micro-organismos indica diversas fontes de erros potenciais.

»» Reprocessamento:

›› Detecção de E. coli, outras enterobactérias ou enterococos


(micro-organismos fecais): indica limpeza/desinfecção inadequada.

›› Detecção de S. viridans (flora da garganta): indica limpeza/desinfecção


inadequada.

›› Detecção de P. aeruginosa e outras pseudomonas ou


micro-organismos não fermentadores (micro-organismos de água):
indica qualidade inadequada na água de enxágue final utilizada.

93
UNIDADE IV │ PROCESSAMENTO DE PRODUTOS MÉDICOS UTILIZADOS EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA

»» Amostragem:

›› Detecção de micro-organismos que possuem relevância no contexto


de higiene, como o S. aureus ou S. epidermidis (micro-organismos
ambientais e de pele): indicadores de contaminação do endoscópio
após o processamento devido ao armazenamento inadequado ou má
higienização das mãos dos profissionais.

Classificação do material

Sabe-se que, pela classificação de Spaulding (1957), ainda em vigor, estabelece 3 níveis:
artigos críticos, artigos semicríticos e artigos não críticos de categorias de dispositivo
médico. A classificação de um dispositivo médico depende do uso pretendido deste
dispositivo.

Quadro 2. Classificação dos artigos hospitalares.

Risco Definições Recomendações


Todo aquele que penetra nos Limpeza seguida de
tecidos subepiteliais, no sistema Esterilização (1)
vascular e outros órgãos isentos
ELEVADO de flora microbiana própria
(estéreis), bem como tudo o
Material que esteja diretamente ligado
crítico com eles.
ex. Pinças de biópsia;
esfincterótomos.
É todo aquele que entra em Limpeza seguida
contacto com as membranas de desinfeção
mucosas ou com a pele não de nível
MÉDIO íntegra, mas geralmente não elevado (2; 3).
penetra tecidos estéreis.
Material (Exceção: instrumentos
semicrítico ex: endoscópios gastrintestinais. usados na vagina ou
colo do útero, p.ex.
espéculos que devem
ser esterilizados).
É todo aquele que entra em Limpeza.
BAIXO contacto apenas com a pele
íntegra ou que não entra em
Material
contacto direto com o doente.
não crítico

Fonte: Adaptado de: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfermagem/classificacao-dos-artigos-e-


metodos-de-limpeza/23159>. Acesso em: 8/7/2019.

1. Até à sua utilização, este material deve permanecer na embalagem


hermeticamente fechada. Logo que a embalagem for aberta, ou se por
qualquer motivo for danificada, o material deixa de ser considerado
estéril.

94
2. Classificação dos desinfetantes:

›› Nível elevado – destrói todos os micro-organismos incluindo esporos.

›› Nível médio – destrói bactérias vegetativas, BK, maioria dos vírus e


fungos.

›› Nível baixo – destrói as bactérias gram-positivas, algumas gram-


negativas, vírus lipídicos e alguns fungos.

3. Na utilização dos desinfetantes, deve-se ter sempre em conta as indicações


do fabricante no que se refere às diluições, manuseamento, conservação
e prazos de validade. Os desinfetantes devem ser manipulados com luvas
de nitrilo ou de tipo doméstico. Relembra-se a importância da lavagem
das mãos no fim do procedimento.

95
UNIDADE V │ A EVOLUÇÃO E TECNOLOGIA NA ENDOSCOPIA

A EVOLUÇÃO E
TECNOLOGIA NA UNIDADE V
ENDOSCOPIA

CAPÍTULO 1
Evolução técnica da endoscopia
médica

A endoscopia é uma parte vital dos processos de diagnóstico médico e uma ferramenta
cotidiana nos ambientes médicos atuais. A evolução das tecnologias de endoscopia foi
influenciada pelo desejo de obter informações sobre o estado clínico do paciente a partir
da aparência óptica das cavidades corporais. Dados sobre os processos biológicos dentro
do corpo eram difíceis de encontrar. Profissionais médicos, engenheiros e inventores
participavam do processo de evolução e implantação de novas tecnologias.

A endoscopia é parte integrante de muitos dos processos de diagnóstico médico de


hoje. Os engenheiros tentaram estender os limites das imagens endoscópicas desde
que os primeiros médicos usaram a luz do sol para examinar o corpo humano. Os anos
iniciais foram gastos tentando guiar a luz para o corpo, de dentro para fora. Enquanto
apenas tubos inelásticos foram usados naqueles dias, várias fontes de luz e técnicas
de espelhamento foram inventadas. Endoscopia rígida ainda é usada hoje para muitas
investigações e intervenções cirúrgicas.

Havia, no entanto, partes de cavidades viscerais que não podiam ser alcançadas. Para
essa endoscopia flexível, foi inventada a tentativa de captar estreitas e angulosas
cavidades corporais, como o cólon. Os médicos adquiriram uma visão adicional do
corpo humano. O equipamento fotográfico para endoscopias deu a oportunidade de
tirar imagens do interior do corpo humano. Mas essa ideia foi logo substituída pela
videoendoscopia, que facilitou a rotina clínica e deu a múltiplos espectadores a chance
de acompanhar as intervenções.

A imagem espectral foi introduzida para aumentar o significado das imagens


endoscópicas e criar métodos de diagnóstico para muitos padrões de doença. Mas,
mesmo com todos esses avanços, o intestino delgado ainda estava fora do alcance dos

96
A EVOLUÇÃO E TECNOLOGIA NA ENDOSCOPIA │ UNIDADE V

pesquisadores, e os endoscópios de cápsula foram desenvolvidos para preencher essa


lacuna de diagnóstico. Hoje, o poder da computação é explorado, por exemplo, para a
redução de imagens endoscópicas e para o apoio aos médicos nas decisões. Todos esses
avanços tornaram a endoscopia médica uma ferramenta única e importante na rotina
clínica. No entanto, os benefícios do equipamento endoscópico e das invenções feitas
para aumentar seu valor em ambientes clínicos não são restritos ao campo médico
(GROSS; KOLLENBRANDT, 2009).

Desenvolvimentos para o design do endoscópio flexível estão transformando o


campo da gastroenterologia. Há um impulso para melhorar as taxas de detecção do
adenoma colônico, levando a avanços no design do colonoscópio. Novos endoscópios
agora permitem maior visualização da mucosa do cólon, incluindo atrás de dobras
colônicas, e visam reduzir a dor associada ao procedimento. Além disso, uma mudança
no paradigma cirúrgico em relação à cirurgia endoluminal minimamente invasiva
significa que inovações em plataformas flexíveis estão sendo buscadas. Existem várias
limitações do endoscópio básico. Estes incluem falta de estabilidade e triangulação de
instrumentos. As modificações no projeto do endoscópio flexível formam a base de
várias plataformas recém-desenvolvidas e de pesquisa.

Um dos principais desafios da colonoscopia é melhorar a quantidade de mucosa


do cólon observada, particularmente nas flexuras e atrás das dobras do cólon, para
melhorar a visualização da mucosa do cólon, a fim de melhorar a detecção do adenoma.
As taxas de faltas dos pólipos do cólon têm sido de -28%, embora isso possa ser
melhorado com o uso de colonoscópios de grande angular. A colonoscopia assistida
por um tampão e o retroflexão do colonoscópio no cólon direito foram usados para
melhorar a visualização; no entanto, eles não foram amplamente adotados devido a
preocupações com a segurança. Para superar esses desafios visuais, vários endoscópios
foram desenvolvidos.

Retroscópio de Terceiro Olho (Avantis Medical): este chip de vídeo montado


no cateter foi usado para melhorar o rendimento diagnóstico da colonoscopia,
particularmente em áreas de difícil acesso. O dispositivo passa pelo canal de trabalho
de um colonoscópio padrão. Quando emerge do endoscópio, o cateter pré-moldado gira
automaticamente 180 ° para a posição “J”, de modo a ficar voltado para a extremidade
distal do endoscópio e travar no lugar. Isso permite que o colonoscopista simultâneo,
frente e retroflexo vistas do cólon na retirada do endoscópio, podendo detectar o
adenoma (EAST, 2007).

O ultrassom foi uma solução para as estruturas internas gastrointestinais. A tecnologia


traz avanço sobre a ultrassonografia endoscópica, a qual ajudam a determinar o

97
UNIDADE V │ A EVOLUÇÃO E TECNOLOGIA NA ENDOSCOPIA

nível de propagação de tumores no corpo. O instrumento pode ser usado para coletar
amostras de tecidos usando a biópsia por agulha fina. A colangiopancreatografia
retrógrada endoscópica já existe há mais de 28 anos, utilizando radiografias e
endoscopia para conhecer o estado correto do corpo, do pâncreas, da vesícula biliar,
dos ductos e do fígado. O raio X aumenta a clareza da imagem dos pequenos dutos
associados. Outro instrumento que ajuda antes da descoberta da Pill Camera é o
uso do manômetro por gastroenterologistas, garantindo um registro adequado da
pressão muscular ao longo do esôfago ou órgão anoréxico. O instrumento permite
estabilidade motilidade e isso tem a ver com dificuldade em excretar e engolir.

Um dos problemas com a melhoria progressiva dos diferentes instrumentos


endoscópicos na determinação de doenças e sangramento associado ao intestino
delgado é o tempo de duração. Demora várias horas e isso se traduz em desconforto
por parte do paciente. O mais problemático com a endoscopia normal é a incapacidade
de mostrar a imagem real da área afetada do intestino delgado. Assim, não foi possível
examinar a região crítica dentro do intestino, trazendo a tecnologia sem câmara
(dispositivo) embutida com a câmera, que rastreia toda a região crítica dentro do
intestino delgado.

A endoscopia por cápsula sem fio é de fato um grande avanço na investigação do


intestino delgado. Seguindo as desvantagens associadas a outras técnicas disponíveis
para a imagem dessa região, a cápsula endoscópica preencheu a lacuna. Esta inovação
aumentará seu escopo em ampla gama de pacientes com várias doenças. Pode-se dizer
que a inovação é adequada para pacientes com sangramento gastrintestinal de etiologia
incerta. A detecção ideal de inovação de pequenas lesões causadas por hemorragias,
como tumores e úlceras, torna-a o instrumento certo para uma descoberta rápida e fácil.
Embora haja uma grande variedade de indicações para a cápsula endoscópica que está
sendo investigada atualmente, a inovação da câmera oferece uma vantagem comparativa
sobre elas. A cápsula endoscópica é indolor e sem efeito, oferece vantagens como
tamanho miniatura, preciso (visão de 140 graus), imagens de alta qualidade, material
inofensivo, procedimento simples, alta sensibilidade e especificidade, prevenção de
risco em sedação e eficiente radiografia, tomografia computadorizada e endoscopia
normal. A aplicação da cápsula endoscópica é transversal à indústria médica, robôs,
doenças respiratórias, doenças do reflexo gastrointestinal, doença de Crohn, tumores
do intestino delgado, lesão do intestino delgado, doença celíaca, colite ulcerativa etc. O
futuro é brilhante para a endoscopia por cápsula no diagnóstico gastrointestinal. Esta
inovação faz com que os pacientes com câncer têm procedimentos fáceis e indolores,
quando comparados à colonoscopia convencional e gastroscopia.

98
A EVOLUÇÃO E TECNOLOGIA NA ENDOSCOPIA │ UNIDADE V

Sistema PeerScope (PeerMedical Ltd): consiste em uma unidade de controle


principal e um colonoscópio PeerScope CS com uma lente grande angular, permitindo
um campo de visão de alta resolução, de até 330 °. O modelo PeerScope H é um avanço
no modelo B comercializado legalmente com melhorias na resolução de vídeo e software.
Testes de bancada e testes de usabilidade mostram que este modelo é seguro e eficaz e
os testes em humanos são promissores. (GRALNEK, 2013).

A ressecção endoscópica da mucosa é amplamente realizada. Técnicas emergentes


como a dissecção submucosa endoscópica e a miotomia endoscópica por via oral
também estão ganhando popularidade. Há uma série de desafios colocados pelo
endoscópio flexível. Estes incluem falta de estabilidade, triangulação de instrumentos
para manipulação tecidual adequada e transmissão de força inadequada para realizar
microcirurgia precisa. Isto, por sua vez, levou a uma onda de desenvolvimento de novos
endoscópios.

EndoSamurai (Olympus): este dispositivo é um avanço no endoscópio


convencional. Compreende uma unidade endoscópica convencional, um overtube e
dois braços flexíveis. O overtube estabiliza o dispositivo uma vez travado no lugar. Os
dois braços estão em paralelo durante a inserção do endoscópio e podem ser abertos e
controlados com cabos semelhantes a laparoscópios. Os braços do manipulador possuem
canais de trabalho por meio dos quais instrumentos flexíveis podem ser implantados e
um canal adicional através do eixo de trabalho. Este dispositivo tem sido utilizado para
realizar vários procedimentos em estudos com animais, incluindo exploração intra-
abdominal e ressecção transgástrica do intestino delgado. Foi demonstrado que é uma
melhoria no que diz respeito à estabilidade, manipulação tecidular e triangulação de
instrumentos em comparação com um teste duplo (FUCHS; BREITHAUPT, 2012).

ANUBISCOPE (Storz): esta nova plataforma para cirurgia transluminal é um eixo


endoscópico articulado de quatro vias de 16 mm de diâmetro e 110 cm de comprimento
com uma seção flexível de vértebras de 16 mm. A ponta distal de 18 mm do dispositivo
é em forma de tulipa e atua como um trocarte durante a inserção, evitando lesões
nas estruturas circundantes. Quando no local de interesse, as asas compreendendo a
ponta distal em forma de tulipa abrem-se, permitindo que dois braços flexíveis opostos
surjam de canais de trabalho localizados dentro das asas. Ferramentas intercambiáveis​​
podem ser implantadas nos canais de trabalho do braço e um canal de trabalho
central no dispositivo de eixo permite a triangulação de até três instrumentos. As asas
limitam o uso do dispositivo em espaços de trabalho confinados. Apesar disso, tem sido
utilizado para realização de miotomia e procedimentos transluminais esofágicos, como
colecistectomia transgástrica (PERRETTA, 2013).

99
UNIDADE V │ A EVOLUÇÃO E TECNOLOGIA NA ENDOSCOPIA

O Sistema Endotics é um novo dispositivo autopropulsor robótico. É uma sonda


flexível descartável com ponta direcionável de 7,5 mm de diâmetro (E-worm) capaz
de adaptar sua forma para configurar o cólon. A cabeça do E-worm contém uma fonte
de luz, câmera, água e canais de ar. Uma estação de trabalho permite que o operador
gire o E-worm 180 ° em todas as direções usando um dispositivo portátil. O dispositivo
se move de uma maneira única comparável a um verme que usa grampos proximais
e distais situados dentro do E-worm. Usando vácuo e aperto mecânico, o clamper
proximal adere à mucosa do cólon, o corpo da sonda central é alongado manualmente
e o clamper distal adere automaticamente à mucosa. O clamper proximal é liberado e
o corpo central da sonda se contrai. O clamper proximal adere à mucosa seguido pelo
clamp distal sendo liberado para o ciclo se repetir. Experimentos in vitro e um ensaio
clínico prospectivo e aberto mostraram que as forças exercidas pelo E-worm eram 90%
menores e o procedimento mais tolerável do que a colonoscopia convencional, com
melhor precisão diagnóstica (CONSENTINO, 2009).

Sightline ColonoSight (Stryker GI): este sistema consiste em um EndoSight, um


colonoscópio com LED integrado localizado na ponta distal. É coberto por uma bainha
multilumen descartável comprimida (ColonoSleeve) atuando como uma barreira pró-
ativa, eliminando a necessidade de desinfecção. O dispositivo é alimentado por uma
unidade eletropneumática que gera uma força de avanço na ponta distal, reduzindo,
assim, a força de “empurrão” necessária para inserir o dispositivo. Esse mecanismo
fornece 0,5 kg de força efetiva na ponta distal.

CathCam: este é um novo e fino colonoscópio direcionado por fio-guia, desenvolvido


para reduzir a dor durante a colonoscopia. O dispositivo visa superar os desafios
colocados pelo colonoscópio padrão durante a inserção do endoscópio em torno de
flexões apertadas ou difíceis para minimizar a dor associada ao looping. É um cateter
multilumen descartável de 11 mm de diâmetro por meio do qual um fio-guia de 0,6
mm pode ser inserido no dispositivo e usado como guia durante a inserção. Isso foi
mostrado ser útil em pacientes com procedimentos anteriores com falha com uma taxa
de intubação cecal de mais de 90% e, com modificação, poderia ser usada para casos
difíceis ou com falha.

Aer-O-Scope (visão GI): este colonoscópio autopropulsionado e autonavegável


promete reduzir a dor sentida durante a colonoscopia. Consiste em um indutor e balão
retal de silicone de 19 mm para ancorar o dispositivo e selar o ânus. Uma cápsula de
imagem com uma câmera e diodos emissores de luz (LEDs) permitindo imagens de
alta resolução é montada em um balão de varredura e inserida através do introdutor
oco retal. Está ligado a um cabo de alimentação para fornecer luz, aspiração, ar e água.
Uma estação de trabalho baseada em PC é usada para controlar o dispositivo que se

100
encaixa na unidade e pode ser puxado para o lado do paciente por um braço flexível.
Sensores de pressão localizados dentro, na frente e atrás dos balões permitem que os
gradientes de pressão gerados pelo algoritmo do computador através do balão sejam
criados, resultando no movimento do dispositivo. Os balões têm um diâmetro máximo
predefinido e são projetados para moldar a forma da parede do cólon e garantir que a
pressão máxima do cólon de 80 mBar não seja excedida. Após estudos em animais, o
dispositivo mostrou-se promissor em um estudo de viabilidade com o dispositivo sendo
usado para intubar o ceco.

Balloon endoscope: o enteroscópio de balão duplo usado para examinar o intestino


delgado tem 200 cm de comprimento com um tubo de 145 cm, proporcionando rigidez.
Pode ser usado para completar a colonoscopia em cerca de 95% dos pacientes que
tiveram uma colonoscopia previamente falhada. Balões macios na ponta distal do
endoscópio e do overtube podem ser inflados e desinsuflados sequencialmente usando
pedais para avançar o dispositivo. Os balões proporcionam tração e possibilitam
movimentos progressivos do endoscópio e do overtube para obter um procedimento
eficaz e seguro.

Invendoscope: trata-se de um novo dispositivo motorizado de uso único com uma


bainha endoscópica, câmera de alta resolução, canal de trabalho de 3,2 mm e ponta
eletro-hidráulica defletível capaz de movimentar 180 ° em qualquer direção. O
dispositivo pode ser movido para frente e para trás, pressionando as respectivas teclas
no dispositivo de mão que ativa uma unidade motriz motorizada de oito rodas. Uma
manga invertida permite que a ponta do dispositivo encolha ou se eleve com o mínimo
de forças aplicadas ao cólon. As rodas da unidade de acionamento seguram a superfície
interna da manga invertida, permitindo que ela se mova. Existem dois protótipos com
comprimentos de trabalho entre 170 e 200 cm. Defeitos técnicos com o mecanismo de
propulsão e a ótica resultaram em uma interrupção prematura do procedimento em
alguns casos, e eles precisarão de retificação antes de novos testes clínicos em humanos.

Existem vários desenvolvimentos interessantes no endoscópio flexível convencional.


Os endoscópios que melhoram a visualização do cólon e reduzem o desconforto do
paciente podem ajudar a melhorar as taxas de detecção do adenoma e incentivar
a captação da colonoscopia, um passo crítico na detecção e prevenção do câncer
colorretal. Cada vez mais, existem vários dispositivos robóticos, como robôs, em
desenvolvimento, para melhorar ainda mais a precisão da dissecação, a manipulação
de tecidos e a estabilidade da plataforma em espaços de trabalho confinados para
cirurgias minimamente invasivas. Estes estão em grande parte no estágio de pesquisa
e desenvolvimento, embora algumas plataformas tenham sido usadas com sucesso.
As modificações para acompanhar esses avanços no campo da gastroenterologia estão
levando a endoscópios “super” e “mais inteligentes”.

101
REFERÊNCIAS

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