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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: QUAL O MELHOR CAMINHO?

Cintia Borges1

RESUMO: Sabendo que a Alfabetização vem de encontro com as necessidades que


parte dos educandos não consegue obter na sua escolaridade, pois o ato de ler é
um exercício de indagação, de reflexão crítica, de entendimento, de captação de
símbolos e sinais, de mensagens, de conteúdo, de informações. Um exercício de
intercâmbio, uma vez que possibilita relações intelectuais e potencializam outras.
Sabemos que alfabetizar pode ser definido também como “ensinar o cérebro a ler”,
formar as conexões cerebrais entre as áreas visuais, auditivas e motoras do cérebro
para ler e associá-las com as áreas responsáveis pelo processamento e
compreensão da linguagem. Permite-nos a formação dos nossos próprios conceitos,
explicações e entendimentos sobre realidades, elementos e ou fenômenos com os
quais defrontamo-nos.

PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização. Letramento. Leitura. Escrita.

1 Introdução

O presente trabalho tem como objetivo compreender como se dá o processo


de leitura e escrita em alunos do 1º ciclo do Ensino Fundamental, O Ciclo de
Alfabetização compreende parte da faixa etária da infância, em média crianças de 6
a 8 anos de idade.
Alfabetizar a criança aos seis anos requer uma organização didática e
planejamento que favoreça a aprendizagem dos alunos sem suprimir o lúdico que
faz parte do desenvolvimento das crianças.
Para Friedmann (1992), estudiosa desse campo, a atividade lúdica
compreende os conceitos de brincadeira, jogo e brinquedo. Segundo ela,

brincadeira refere-se, basicamente, à ação de brincar, ao comportamento


espontâneo que resulta de uma atividade não estruturada; jogo é
1
Graduação em Pedagogia, Especialização em Alfabetização e Letramento pela Faculdade de
Educação São Luís de Jaboticabal – SP. E-mail do autor: cintiaborges_29@hotmail.com Orientadora:
Prof.ª Esp. Ana Carolina Caruso Bertonha.
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compreendido como uma brincadeira que envolve regras; brinquedo é


utilizado para designar o sentido de objeto de brincar; atividade lúdica
abrange, de forma mais ampla, os conceitos anteriores (FRIEDMANN, 1992,
p.12).

Para Huizinga (2007, p. 33-34), “[…] o jogo é uma atividade ou ocupação


voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço,
segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias dotadas de
um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de
uma consciência diferente da ‘vida quotidiana’”
O presente trabalho pretende demonstrar como se dá o processo de
alfabetização aos seis anos de idade.

2 ALFABETIZAR AOS SEIS ANOS

Quando o ensino fundamental passou a obrigatoriedade da criança estar


matriculada no 1º ano aos seis anos de idade, houve uma preocupação imensa dos
educadores, mesmo sabendo que na Educação Infantil os alunos já estavam se
preparando para alfabetização outros já saiam alfabetizados, mas esta alfabetização
era decorrente do trabalho desenvolvido sem cobranças, sem avaliações,
naturalmente e no 1º ano será assim?
Esta preocupação tomou posse do pensamento, do dia a dia, das
expectativas... Enfim de diversas situações que envolvessem os alunos do 1º ano.
Como forma de diminuir o “apartheid educacional”, Morais (2007) aponta a
importância de alfabetizar já aos seis anos; ou seja, no 1º ano do Ensino
Fundamental de 9 anos). Segundo ele, por um lado, o baixo rendimento das classes
populares, aliado ao fato de que a Educação Infantil não é assegurada no meio
popular, marca o fracasso exclusivo dos meios populares na apropriação da
alfabetização; por outro lado, os referenciais curriculares são omissos e não
preceituam com clareza as metas e objetivos na leitura e na escrita.
Como vimos, para Morais as maiores dificuldades são voltadas para a classe
popular, primeiro por não ter a garantia de vagas na Educação Infantil nas grandes
cidades alem da critica realizada por ele quanto aos Referenciais Curriculares.
Mas serão somente estas as razoes?
A criança precisa de um determinado nível de maturação cerebral e de
ativação das áreas responsáveis pela formação da palavra (área cerebral
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denominada área da forma das palavras). Também precisa de algumas capacidades


de concentração e um mínimo de abstração para compreender o princípio alfabético
e as valências entre fonemas e grafemas. Precisa, ainda, de alguma capacidade de
concentração e memória de curto prazo.
A maioria de crianças de 5 anos de idade é capaz de fazer isso com algum
esforço, algumas o fazem com muito esforço e outras com pouco esforço. Ao final
dos 5 anos, as crianças em geral possuem todas as condições para serem
alfabetizadas de maneira sistemática. Exceções existem algumas criança podem
aprender a ler a partir de 3 ou 4 anos. A única consideração relevante, nesse caso, é
que isso compete com outras atividades que seriam mais importantes nessa etapa
do desenvolvimento infantil.
A alfabetização é o processo de aquisição da leitura e da escrita. Uma pessoa
é considerada alfabetizada quando identifica corretamente uma palavra escrita e diz
o que está escrito; quando ao ouvir uma palavra consegue escrevê-la corretamente,
pois “(...) a especificidade da alfabetização, consiste em extrair a pronúncia ou o
sentido de uma palavra a partir de sinais gráficos (capacidade de ler) e em codificar
graficamente os sons correspondentes a uma palavra (capacidade de escrever)”
(OLIVEIRA, 2006 p.21).
Por isso, é importante aproximar os pequenos, desde a Educação Infantil, de
livros e de outros tipos de material escrito, além de fazê-los entrar em contato com o
próprio nome e o dos amigos a fim de que aprendam a reconhecê-los e escrevê-los.
A contação de histórias é outra prática válida para a alfabetização inicial
porque influencia positivamente no processo de aquisição da escrita. Nenhuma
dessas práticas impede as crianças de brincar e todas contribuem para que já ao fim
da Educação Infantil elas estejam imersas na cultura escrita. 
Assim sendo, a alfabetização da inicio na educação Infantil, pois é neste
espaço que as crianças têm contato de uma forma prazerosa com o mundo letrado.
Segundo Regina Scarpa, em razão desses diferentes pressupostos,
alguns educadores receiam a antecipação de práticas pedagógicas
tradicionais do Ensino Fundamental antes dos seis anos (exercícios de
prontidão, cópia e memorização) e a perda do lúdico. Como se a escrita
entrasse por uma porta e as atividades com outras linguagens (música,
brincadeira, desenho etc.) saíssem por outra. Por outro lado, há quem valorize
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a presença da cultura escrita na Educação Infantil por entender que para o


processo de alfabetização é importante à criança ter familiaridade com o
mundo dos textos. 
Assim sendo, as praticas pedagógicas e estimulação necessita de
planejamento que possibilite as crianças experiências com narrativas, interação e
apreciação com a linguagem oral e escrita, além da convivência com diversidade
textual.
A educação é uma prática humana direcionada por uma determinada
concepção teórica. A prática pedagógica está articulada com uma pedagogia, que
nada mais é que uma concepção filosófica da educação. Tal concepção ordena os
elementos que direcionam a prática educacional (LUCKESI, 1994, p. 21).
A aprendizagem é um dos principais objetivos de toda prática pedagógica, e a
compreensão ampla do que se entende por aprender é fundamental na construção
de uma proposta de educação, também mais aberta e dinâmica, definindo, por
consequência, práticas pedagógicas transformadoras.
A importância de uma prática pedagógica cultivada na educação infantil está
em sua continuidade. Ou seja, um aluno que, quando criança, entrou em contato
com boas práticas, carrega isso durante o resto de seus anos escolares, garantindo
uma aprendizagem significativa.
O que não diminui a necessidade da mesma, ser aplicada também no ensino
fundamental e médio. Apenas destaca a necessidade de pensarmos nessas
estratégias sob uma perspectiva estrutural, que também implique conquistas obtidas
a longo prazo.
Desse modo, fica clara a contribuição que um planejamento efetivo e a busca
por melhores práticas pedagógicas que podem trazer para uma instituição,
reconstruindo a dinâmica e trazendo diferenciais na sua formação.
No entanto, alfabetizar não é somente a aquisição do sistema alfabético de
escrita. Quando as crianças brincam com a sonoridade das palavras, reconhecem
as diferenças das letras, manuseiam livros infantis e ouvem histórias estão se
preparando para ler, formular conceitos, ampliar a linguagem e gradativamente
produzir textos.
A necessidade de um olhar mais atento de como a criança constrói seu
aprendizado, assim é necessário que o professor acompanhe o raciocínio da criança
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indagando, acompanhando e refletindo sobre qual caminho a criança percorreu para


chegar a produção realizada, pois muitas vezes o que é erro para o professor não é
para a criança diante do raciocínio que a mesma realizou, dependendo da reação do
professor quando este vai observar a produção da criança, a mesma pode ampliar
seus conhecimentos, habilidades ou sentir-se abandonada no caminho.
Sabemos as crianças com acesso, desde o nascimento, a situações onde a
leitura e escrita são práticas cotidianas da família, e da educação infantil
possivelmente a mesma vai atingir um nível suficiente de conhecimento da leitura e
escrita nessa idade, mas nem todas as crianças chegam a escola com o mesmo
conhecimento em relação a escrita sendo uma das funções da escola reduzir estas
desigualdades as praticas devem ser adequadas para que estas desigualdades não
sejam ampliadas, as crianças devem ter as mesmas oportunidades de acesso a
cultura da escrita, pois o contato com o mundo letrado na educação infantil deve ser
desmitificado, não se prejudica crianças inserindo-as neste mundo letrado.
Durante o processo de alfabetização, Oliveira (2008, p.19) afirma que é
preciso dar ao aluno os elementos para que ele aprenda o código alfabético, seu
funcionamento e entenda o significado dos sinais (letra), para posteriormente ser um
leitor autônomo.
O professor alfabetizador deve ter clareza e saber que o processo de ensino
da escrita (momento de ensinar a escrever), ocorre de maneira inversa ao processo
da leitura. Oliveira (2003, p.166) ressalta que no momento do ensino da escrita, o
aluno dever ser capaz de identificar os sons das letras formando palavras. Assim, o
professor que desenvolve bem a consciência fonética em seus alunos, terá mais
facilidades em alfabetizar os alunos, pois, estarão aptos para identificar e registrar o
código alfabético.
Desta forma, o objetivo de levar o aluno a escrever de forma ortograficamente
correta, serão desenvolvidas atividades focadas no “ditado” que é considerado do
ponto de vista da alfabetização fundamental para o aluno desenvolver estratégias de
meta cognição, ou seja, aprender a codificar e escrever corretamente os sons
(fones) que ele ouve.
A apropriação da notação alfabética, segundo Morais (2004), é explicada
atualmente por essas duas linhas teóricas. Buscando um ponto de intercessão, ele
aponta que no processo de apropriação da escrita alfabética a criança faz uso de
habilidades metafonológicas para descobrir o que a escrita nota e como a escrita
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cria essas notações na elaboração de hipóteses silábicas e alfabéticas. Em suas


análises, ele enfatiza que as mudanças vivenciadas evolutivamente na aquisição da
escrita pela criança poderiam influenciar no desenvolvimento das habilidades
metafonológicas.

3 CONCEPÇÕES E PRÁTICA DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DA


PROFESSORA

No relato a professora declara que iniciou o ano letivo com 17 alunos, uma
sala heterogênea e com dificuldades para acompanhar o conteúdo a ser dado,
diante da mudança do ensino para nove anos, todos os alunos deixaram de
contemplar a etapa do jardim II na Educação Infantil.
Dos 17 alunos quatro deles não frequentaram a educação infantil, daí a
necessidade de um trabalho individual para desenvolver as habilidades até mesmo
no uso do material escolar.
Tirando cinco crianças que escreviam seu nome com autonomia os demais
necessitavam de intervenções individuais para nomear e traçar as letras do seu
nome, oito alunos da turma são migrantes de outros estados, tendo eles um
vocabulário diferente do nosso e muitos com dificuldades fonoaudiológicas, se
tornando mais um dos desafios a ter que ser enfrentado nesta turma.
As atividades com nome, que deram início ao trabalho, foram diversificadas e
replanejadas, com o propósito de levar todos a terem o seu nome como referência
para suas tentativas de leitura e escrita.
Após um mês com este trabalho realizei a primeira sondagem onde percebi
avanços e pude analisar melhor o perfil geral da sala para então planejar as
atividades levando até os mesmos conhecimentos que lhes fossem significativos e
interessantes ao mesmo tempo, pois era difícil prender a atenção, os alunos muito
falantes, curiosos e sem disciplina me fazia ao mesmo tempo desacreditar em que
sozinha conseguisse levá-los a alcançar a meta proposta para o ano letivo e
confiante de que este desafio seria importante para fortalecer a minha opinião
quanto à alfabetização.
Passei horas e dias pesquisando, planejando uma busca para criar
oportunidades e garantir as crianças à construção de sua identidade e da autonomia
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no que diz respeito ao conhecimento e desenvolvimento e como usar os recursos


pessoais para fazer frente às diferentes situações da vida.
Então parti de outro princípio, interação.
Interagindo com eles para compreendê-los, nas rodas de conversa, fui
descobrindo um pouco de cada um e as diferenças que cada um tinha em relação
ao outro, desta forma foi se ampliando as relações sociais as interações e as formas
de comunicação, com isso as crianças foram se sentindo mais seguras se
esforçando para confiar nesse ser que passa cinco horas dos seus dias atendendo-
os e tentando fazê-los compreender os cuidados essenciais para desenvolverem
sua identidade.
As brincadeiras o lúdico, favoreceram a autoestima das crianças, auxiliando-
as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribuiu
assim para a interiorização de determinados modelos do adulto, transformando os
conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais
brincam.
O faz de conta, jogos de regra, fantasias, brinquedos, etc., com intervenções
intencionais, enquanto os observava, oferecendo materiais adequados, estimulando
o uso do espaço, enriquecendo a imaginação a criação e a organização a fim de que
as brincadeiras ocorressem de maneira diversificada propiciando as crianças à
possibilidade de escolhas de temas, papéis, objetos e companheiros para realizarem
suas brincadeiras.
A partir daí os conteúdos contidos no plano de ensino se intensificaram, foram
planejados atendendo a necessidade de cada educando e ao mesmo tempo
desafiando-os a refletirem e colocar suas estratégias em jogo.
No final de abril recebemos uma transferência de mais um migrante, e
novamente tive que individualmente levar até essa criança as aprendizagens que ela
não conhecia.
Em Maio recebi um remanejamento do 1º ano A, faço citação destes
acontecimentos, porque consequentemente temos que adaptar esta nova criança no
trabalho que já vem sendo desenvolvido e ao mesmo tempo inseri-la no grupo sem
maiores consequências diante da mudança acontecida na sua trajetória educativa.
Estamos agora com 19 alunos, as crianças já escrevem seus nomes, alguns
sabem as letras do alfabeto e os números de 0 a 10, algumas crianças já se
arriscam a fazer leituras, o perfil destas crianças já é outro nesta altura, eu já estava
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tão envolvida na aprendizagem que a ideia que tive no início de descrença já não
passava mais pela minha cabeça.
No segundo semestre as crianças desenvolviam seus saberes a toda prova e
a cada dia eu buscava mais e mais, o que levar até eles com o intuito de desafiá-los.
Iniciei um projeto que deslanchou a aprendizagem, a intervenção e o
desenvolvimento deles com as aulas se tornava gratificante, até mesmo as
conversas os deslocamentos de seus lugares diminuíram com o empenho que
demonstravam na realização de seus trabalhos.
Enfim chegamos ao final do ano e pude comprovar que o aprendizado quando
planejado, replanejado, ampliado, incluído, participativo e interagido com os
familiares tem sucesso e um sucesso gratificante que brilha nos olhos de um
educador e faz o sorriso brotar nos seus lábios, com sabor de dever cumprido,
fortalecendo a crença de que todo ser é capaz.
O ponto de partida essencial é entender que o pré-requisito fundamental para
aprender a ler e escrever é ter o domínio da linguagem oral. Qualquer leitor que
aprendeu a ler em Português conhece também o alfabeto do Inglês (já que é o
mesmo), mas nem por isso pode entender textos em inglês se não sabe falar em
inglês (não aprendeu a fonologia do inglês). É preciso, portanto, reconhecer que a
linguagem escrita representa, isto é, registra a linguagem falada. De tal modo, que
quando as crianças entram na Educação Infantil, aos 4 ou 5 anos, elas já estão
dominando um importante pré-requisito que é a linguagem oral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentre as proposições que são contrárias ao ensino de leitura e de escrita na


Educação Infantil, muitas delas encontram respaldo em teorias antigas
(desatualizadas) e conhecimento não científico de base mais mítica do que empírica.
Aliás, é preciso deixar claro que não se trata exatamente de ensinar a ler e a
escrever na Educação Infantil, mas sim de ensinar habilidades que são pré-
requisitos para a alfabetização no Ensino fundamental.
Essas habilidades podem facilitar a aprendizagem da leitura e da escrita no
Ensino Fundamental, além de que existem evidências de que tais habilidades são
capazes de diferenciar os bons leitores dos maus leitores mesmo no final do ensino
fundamental.
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A escrita, então, não deve ser considerada como mero instrumento de


aprendizagem escolar, mas como produto cultural. Assim entendida, possibilita a
exploração, no contexto da sala de aula, de diferentes portadores de textos,
explicitando os variados usos e funções que lhes são inerentes numa sociedade
letrada. Apesar dos avanços significativos dos estudos sobre o processo de
alfabetização, observa-se, em alguns casos, que a prática da escola parece
distanciada da funcionalidade da escrita no contexto da sociedade, limitando-se aos
usos mecânicos e descontextualizados. Corroborando esse pensamento Vigotski
afirma:
Até agora, a escrita ocupou um lugar muito estreito na prática escolar, em
relação ao papel fundamental que ela desempenha no desenvolvimento cultural da
criança. ‘’’Ensinam-se as crianças a desenhar letras e a construir palavras com elas,
mas não se ensina a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o
que está escrito que se acaba obscurecendo a linguagem como tal (1998, p. 139).
Portanto, o que se entende é que a alfabetização transcende a mecânica do
ler e do escrever (codificação/decodificação), ou seja, a alfabetização é um processo
histórico-social multifacetado, envolvendo a natureza da língua escrita e as práticas
culturais de seus usos. “Alfabetizar não é só ler, escrever, falar sem uma prática
cultural e comunicativa, uma política cultural determinada” (Frago, 1993, p. 27).
Observa-se, assim, que a concepção de alfabetização tem se ampliado no
cenário sócio educacional, estimulando práticas escolares diferenciadas uma vez
que tais questões, de uma forma ou de outra, chegam à escola.
Para concluir, retomo a defesa de que a deve-se ensinar a ler e a escrever
desde sempre.
Não existem evidências de que as crianças só conseguem lidar com letras e
sons aos 7 anos, o que existe são evidências de que mesmo crianças muito mais
jovens podem aprender a ler se elas conhecem as letras e seus sons. O que
realmente importa, em se tratando de alfabetização, é o conhecimento e o uso que
as crianças fazem das letras e seus sons.
As minhas experiências sempre me mostraram que na realidade as crianças,
mesmo as mais jovens gostam muito de saber o que são as letras e como usá-las
para dizer coisas.
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Não é preciso tratar o assunto da alfabetização como algo difícil e cruel, basta
reconhecer que com atividades simples é possível estimular e ensinar as crianças,
desde muito cedo, a conhecer letras e seus sons.
Não apenas a minha opinião, mas as evidências científicas mostram que
esses conhecimentos vão ajudar e muito as crianças a aprender a ler e escrever
com mais sucesso e prazer.

REFERÊNCIAS

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