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ISSN 2307-390X

Artigo original

A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM NECESSIDADES


EDUCATIVAS ESPECIAIS DE VISÃO CIDADE DA
BEIRA: um discurso panfletário?

António Cipriano Parafino Gonçalves1 e Evaristo Raice Vicente2


1
Faculdade de Educação, Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique
2
Universidade Licungo, Moçambique

RESUMO: O texto sintetiza os resultados de uma pesquisa realizada entre os anos 2013 e 2014 na região Centro
de Moçambique - cidade da Beira - sobre o processo de inclusão, na escola regular, de estudantes com
necessidades educativas especiais de visão. Para isso, primeiro, fez-se uma revisão da literatura sobre a educação
especial e a educação inclusiva. Segundo, examinamos os documentos oficiais sobre as políticas de educação
especial e de inclusão escolar para, no fim, centrarmo-nos no processo de inclusão educacional de pessoas com
deficiência visual na cidade da Beira. A pesquisa indica que, mesmo com a introdução da educação inclusiva, as
crianças com necessidades educativas especiais de visão ainda permanecem à margem do processo educativo: a
inclusão escolar dessas no Sistema Nacional de Educação não é efectivo, afigurando-se como um discurso
planfletário.
Palavras-chave: Deficiência de visão, Educação Inclusiva, Necessidades Educativas Especiais.

THE SCHOOL INCLUSION OF STUDENTS WITH SPECIAL EDUCATIONAL


NEEDS OF VISION IN BEIRA: A FLAT SPEECH?
ABSTRACT: This paper summarizes the results of a survey conducted in the central region of Mozambique -
city of Beira - about the process of inclusion of students, in some regular schools, with special educational needs
of vision. To reach our aim, we did the literature review on special education and inclusive education. Second,
we examine the Mozambican official documentation regarded to school inclusion and special education. At the
end, we pay our attention on the process of educational inclusion of the visually impaired in some regular
schools in Beira City. The survey indicates that, even with the introduction of inclusive education in
Mozambique, children with special educational needs of vision still remain outside the educational process: The
inclusion of these children in the National Education System is no effective.
Keywords: Disability vision, Inclusive Education, Special Needs Education.
____________________________
Correspondência para: (correspondence to:) ciprix2006@gmail.com.

INTRODUÇÃO sociais pelo reconhecimento de direitos e


A partir da segunda metade do século XX, respeito às minorias. Estava-se face à
problemática de inclusão das minorias na
o tema sobre os direitos de pessoas com
vida política, económica, cultural e social
deficiência começou a ganhar maior
visibilidade nos discursos académicos dos países.
(SANCHEZ, 2005; SASSAKI, 2005). Uma das contribuições na luta pela
Dentre os factores que explicam o interesse inclusão é atribuída à então Secretária de
pelo tema, podem ser mencionados as Estado para a Educação Especial do
novas abordagens filosóficas da Departamento de Educação dos EUA,
desconstrução das metanarrativas e as lutas Madeleine Will. Em defesa de uma
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ACP Gonçalves e ER Vicente

mudança radical no atendimento das deveriam acontecer em diversos sistemas


crianças com Necessidades Educativas educacionais em vista a responder às
Especiais –NEE - e em “risco exigências da educação inclusiva. Assim,
educacional”, Will sublinhou que dos 39 na educação, a “inclusão” significou
milhões de alunos matriculados nas escolas [...] atender o aluno com necessidades
públicas norte-americanas, cerca de 10% educativas especiais na classe regular
tinham Necessidades Educativas Especiais com o apoio dos serviços de educaçao
e que outros 10 a 20%, embora não fossem especial. Isto quer dizer que o princípio
da inclusão engloba a prestação de
considerados com NEE, demonstravam
serviços educacionais apropriados para
problemas de aprendizagem e toda a criança com necessidades
comportamento que interferiam para a sua educativas especiais, incluindo severas,
realização escolar (WILL, 1986 apud na classe regular (CORREIA, 1999, p.
CORREIA, 2008). 12).

É nesse movimento de ideias e acções que Foi para se conformar com as


a UNESCO organizou uma Conferência recomendações de Salamanca, por um
Mundial sobre a Educação Inclusiva, da lado, e em face dos problemas específicos
qual resultou a Declaração de Salamanca do país, um dos quais decorrentes da
(UNESCO, 1994). Sobre a inclusão guerra dos 16 anos, por outro, que o Estado
educacional, no seu artigo 7, a Declaração Moçambicano, através do então Ministério
refere que da Educação (MINED), concebeu e
introduziu, em 1998, o Projecto “Escolas
Todas as crianças devem aprender juntas,
sempre que possível, independentemente
Inclusivas”. O projecto visava “integrar, no
de quaisquer dificuldades ou diferenças sistema regular de ensino, crianças em
que elas possam ter. Escolas inclusivas idade escolar e em situação difícil,
devem reconhecer e responder às designadamente, as órfãs e abandonadas de
necessidades diversas de seus alunos, guerra, traumatizadas pela guerra e
acomodando ambos os estilos e ritmos de
aprendizagem e assegurando uma
crianças de desenvolvimento anormal”
educação de qualidade a todos através de (MOÇAMBIQUE.MINED, 1998, p.26).
um currículo apropriado, arranjos No documento do MINED, estas crianças
organizacionais, estratégias de ensino, são designadas de “portadoras de
uso de recurso e parceria com as necessidades educativas especiais”. Por
comunidades (UNESCO, 1994, s/p).
crianças com Necessidades Educativas
Para a agência da ONU, as escolas que se Especiais, o mesmo documento as define
pretendem inclusivas devem oferecer como “qualquer criança que sente
serviços a uma grande variedade de alunos dificuldades escolares no processo de
em ambas áreas – rural e urbana – facto escolarização e qualquer outra que está
que requer a articulação de uma política excluída do sistema regular de ensino,
clara e forte de inclusão junto com a incluindo a portadora de deficiências”
provisão financeira adequada – um esforço (MOÇAMBIQUE.MINED, 1998, p.26).
eficaz de informação pública para
Além do “Projecto Escolas Inclusivas”
combater o preconceito e criar atitudes
(PEI) ter estado em consonância com os
informadas e positivas – além de um
ideais do movimento mundial de defesa e
programa extensivo de orientação e
promoção da “educação para todos”, e
treinamento profissional e serviços de
também ter se afigurado como uma das
apoio necessários. Portanto, mudanças em
medidas correctivas para os problemas
todos os aspectos da escolarização, que
causados pela guerra dos 16 anos, ele
incluem o currículo, os prédios, a
vinha responder a um problema colocado
organização escolar, avaliação, filosofia da
pela realidade em movimento – a história –
escola e actividades extra-curriculares
para usar a terminologia gramsciana
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A inclusão escolar de alunos com necessidades educativas especiais de visão cidade da Beira

(GRAMSCI, 1977). Com efeito, um visão, o Censo de 2007 referia que em


levantamento estatístico realizado pela Moçambique, no geral, existiam cerca de
Direcção Nacional de Planificação do 475.011 pessoas com deficiência, das
MINED, feito em 1996, indicava haver quais, 44.651 eram portadoras de
prática de exclusão de alunos que dificiência de visão (PNAD, 2012, p. 8). Já
apresentavam insucesso no sistema regular o relatório do Censo de 2017, indica que
de educação. O documento sublinha que “a no país, um total de 727.620 pessoas
média de aprovações do Ensino Primário possuem algum tipo de dificiência. Desse
do Primeiro Grau (EP1), no país, situava- universo, um total de 58.021 pessoas
se em 58,5%, das reprovações em 33,2% e sofriam de cegueira e 81.072 têm
das desistências em 08,3%” dificuldade de ver mesmo usando óculos.
(MOÇAMBIQUE.MINED,1996). A O Plano Estratégico da Light for the World
prática de exclusão prevalecia até 2016, (2016) aponta a existência de mais de
pois, como é sublinhado no relatório da 2.000.00O de crianças com deficiencia no
Light for the World, estimava-se “que país. Ou seja, os números oficiais são
apenas 24.600 de um universo de 2 abaixo dos apresentados pelas ONGs e
milhões de meninas e meninos com organismos internacionais.
deficiência estão na escola primária e Em que pese essa contradição em relação
secundária em Moçambique” (LIGHT aos números de dificientes, o país possuia,
FOR THE WORLD, 2016, p.8). até a época da realização da pesquisa –
Embora, aquando da introdução do 2012 e 2014 - uma única escola
projecto escolas inclusivas, o relatório do especializada para as crianças com
MINED (MOÇAMBIQUE.MINED, 1996) necessidades educativas de visão – o
não apresentasse informações sobre o Instituto de Deficientes Visuais da Beira -
número de crianças com NEE em que funciona desde 1969 i. Considerando
escolarização na rede regular de ensino, o que o alcance da meta 04 do
documento serviu de base para que o Desenvolvimento Sustentável (2015 -
Estado moçambicano estabelecesse como 2030) não depende exclusivamente do
uma das suas metas prioritárias a melhoria sistema de escolarização especial, mas sim
da qualidade de ensino, através da de todo um sistema de ensino, a pergunta
formação de professores e da inclusão no que orient a nossa discussão é: como tem
sistema regular de ensino de todas as sido o processo de inclusão escolar de
crianças e jovens, incluindo aqueles com crianças e jovens com necessidades
NEE. educativas especiais de visão na rede
regular de ensino na cidade da Beira?
Em relação a Necessidades Educativas
Especiais de Visão, as estatísticas em O presente texto sintetiza os resultados de
1998, indicavam existir em Moçambique uma pesquisa realizada na cidade da Beira
perto de 720.000 pessoas portadoras dessa - situada na região Centro de Moçambique
deficiência, das quais 45% podiam ser - sobre o processo de inclusão de
crianças com menos de 15 anos de idade estudantes com necessidades educativas
(Associação dos Cegos e Ambliopes de especiais de visão, entre os anos 2012 e
Moçambique - ACAMO, 2009). Os dados 2014. Especificamente, neste texto,
sobre a dificiência, no geral, e a deficiência tentamos examinar as acções
visual especificamente, são contraditórios. desenvolvidas em algumas escolas
Por exemplo, enquanto a Organização regulares daquela referida cidade para
Mundial da Saúde citada pela ACAMO incluir crianças portadoras de
apontava existirem em Moçambique cerca Necessidades Educativas Especiais de
de 720.000 pessoas com problemas de Visão, comummente chamadas de cegas.

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ACP Gonçalves e ER Vicente

Defendemos que, mesmo com a introdução não se limita ao esforço de mudança por
do projecto escolas inclusivas, em parte da pessoa com necessidades
Moçambique, a inclusão escolar de especiais, mas sim, por parte da sociedade
crianças portadoras de necessidades em vista à eliminação de todas as barreiras
educativas especiais de visão ainda está no exercício pleno da cidadania. A
longe de se efectivar por completo. Além inclusão, assim concebida, difere da
de existir uma única escola especializada, integração, pois, segundo o autor em
os resultados da pesquisa indicam que até referência,
2013, em todo o País, somente 200 pessoas A integração se contenta com o esforço
cegas liam o Braille, das quais 150 unilateral das pessoas deficientes para
frequentavam o nível primário, 40 o nível ingressarem ou reingressarem na
secundário e 10 o nível superior. sociedade. A inclusão requer mudanças
fundamentais nos sistemas comuns da
Problemas estruturais como os de
sociedade, de tal modo que todas as
compreensão dos princípios de educação pessoas deficientes ou não estejam
inclusiva por parte dos gestores escolares e primeiro incluídas, para então realizar
dos professores, aliados a limitações tudo – reabilitar-se, estudar, trabalhar,
financeiras podem estar na origem do receber cuidados médicos, viajar, etc.
(SASSAKI, 2000, p. 85).
pouco avanço em matéria de efectiva
inclusão educacional de crianças com Não basta, portanto, preparar as pessoas
necessidades educativas especiais, com deficiência para se adequarem aos
particularmente, as de visão. padrões preestabelecidos. A família, a
Para sustentarmos a nossa tese, escola, o bairro e a empresa devem estar
recorremos, primeiro, à revisão da realmente prontos para receber o seu filho,
literatura, em que dialogamos com alguns seu aluno, seu vizinho, seu profissional,
dos autores que pesquisam sobre a independentemente de suas condições
educação inclusiva, diferenciando a biológicas ou de suas limitações.
inclusão escolar da integração, definindo Na educação, ao se pretender que todos os
também o que entendemos por alunos tenham direito a uma escola igual e
necessidades educativas especiais. sejam vistos no seu todo tanto no seu
Segundo, num persoectiva histórica, crescimento quanto no seu
examinamos a legislação e a documentação desenvolvimento, a “inclusão” consiste em
oficial moçambicana reconstruindo o atender “alunos com necessidades
processo de elaboração, no país, do educativas especiais nas escolas das suas
projecto escola inclusiva e, por fim, residências e, sempre que possível, nas
centraremos a nosssa atenção no exame classes regulares dessas mesmas escolas”
das acções que foram sido realizadas com (NIELSEN, 1999, p. 9).
pessoas portadoras de deficiência visual
Entretanto, a inclusão, como sublinham
em algumas das escolas da cidade da
Booth e Ainscow (2002) não deve estar
Beira, escolhidas para a efectivação do
associada a estudantes que tenham
projecto de educação inclusiva.
impedimentos ou sejam vistos como tendo
A Inclusão Escolar de Pessoas com necessidades educacionais especiais
NEE: percursos notórias. Para eles, a inclusão diz respeito à
O termo inclusão, como sublinha Sassaki, educação de todas as crianças e jovens, e
“refere-se à uma modificação da sociedade exige mudança. Trata-se de um processo
para que as pessoas com necessidades de auto-revisão da escola com base nas
especiais possam desenvolver e exercer a dimensões relativas a cultura, políticas e
sua cidadania” (SASSAKI, 2000, p. 82). práticas, aumentando a participação de
Diferentemente da integração, a inclusão todos os alunos no processo de

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A inclusão escolar de alunos com necessidades educativas especiais de visão cidade da Beira

aprendizagem. Realizar a inclusão Incluir os alunos com NEE notórias passou


educacional envolve reduzir e remover as a significar a sua inserção na classe regular
pressões excludentes que dificultam a em que, sempre que possível, devem
participação do estudante na vida escolar, receber os serviços educativos adequados
decorrentes de relacionamentos ou de tendo o apoio “apropriado em função das
conteúdos ensinados, bem como de suas características e necessidades”
sentimentos de desvalorização que (CORREIA,1999, p. 34). A educação
constituem barreiras à aprendizagem e à inclusiva é, portanto, um princípio
participação. A inclusão educacional educativo fundamentado na inclusão que
refere-se, portanto, à “minimização de visa garantir o direito que o aluno com
todas as barreiras em educação para todos NEE tem a uma educação na escola
os estudantes” (BOOTH e AINSCOW, regular, recorrendo-se as modalidades e
2002, p. 8). situações educativas que se baseiam nas
necessidades e possibilidades do próprio
Já em relação às NEE, estas devem ser
aluno. É neste contexto que se pode falar
entendidas como qualquer problema
da inclusão educacional de pessoas com as
(físico, sensorial, intelectual, emocional,
mais diversas necessidades eduactivas
social ou qualquer combinação destas
especiais, dentre elas a de visão, que é
problemáticas) que afecta a aprendizagem
objecto de análise neste texto.
ao ponto de serem necessários acessos
especiais ao currículo e condições de Sobre a deficiência visual, esta pode ser
aprendizagem, especialmente adaptadas categorizada em dois grandes grupos –
para que o aluno possa receber uma cegueira e visão parcial ou a visão
educação apropriada. Kirk e Gallagher subnormal (GIL, 2000, p. 6). O termo
(1987) definem a criança com NEE como “cegueira”, significa a ausência total da
sendo aquela que difere da criança típica visão até a perda da capacidade de indicar
ou normal por: (a) suas características a projecção de luz. A visão parcial ou a
mentais; (b) suas capacidades sensoriais, visão subnormal refere-se à condição de
(c) suas características ao nível visão que vai desde a capacidade de indicar
neurológico, motor e físico, (d) seu projecção de luz até à redução da acuidade
comportamento social; (e) suas visual, isto é, à incapacidade de enxergar
capacidades de comunicação; ou (f) suas com clareza suficiente para contar os dedos
deficiências múltiplas. Essas diferenças da mão a uma distância de 3 metros a luz
devem ser suficientemente notáveis a do dia (GIL, 2000, p. 2), ao grau que exige
ponto de requerer a modificação das atendimento especializado. Isto significa
práticas escolares (KIRK e GALLAGHER, que as definições de cegueira e visão
1987, p. 5). reduzida baseiam-se em medidas de
acuidade visual, entendida como a
Entretanto, historicamente, as pessoas tidas
capacidade de ler tanto de longe quanto de
como portadoras de NEE notórias, também
perto.
consideradas de “deficientes”, por um
longo período eram vistas como “doentes”, Para Masini (1994), uma pessoa é
incapazes e, assim, não podiam (ou não considerada cega quando a “visão corrigida
eram capazes de) participar dos espaços de seu melhor olho é de 20/200” (MASINI,
sociais. Por isso, marginalizadas da vida 1994, p. 40). Essa pessoa, para ler ou
social, essas pessoas eram consideradas identificar algo precisa de ficar a uma
indivíduos que “precisavam de assistência distância de 20 pés (aproximadamente 6
social e não cidadãos com direitos, entre os metros) que uma pessoa de visão normal
quais, o direito social à educação” enxerga a uma distância de 200 pés
(BIANCHETTI, 1995, p. 7 - 19). (aproximadamente 60 metros). Já a pessoa

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ACP Gonçalves e ER Vicente

portadora de visão subnomal é aquela que alunos com deficiência visual (DV).
dispõe de acuidade visual na ordem 20/70
Educação Inclusiva em Moçambique
nas mesmas condições.
O discurso sobre a educação inclusiva em
Para se caracterizar as NEE no domínio da Moçambique ganhou maior visibilidade no
visão é necessário, em primeiro lugar, Plano Estratégico de Educação (PEE)
reconhecer que o desenvolvimento de (MOÇAMBIQUE.MINED, 1998) para o
grande parte das actividades educacionais período de 1999-2003, no qual o Estado
depende muito do sentido da visão, pelo moçambicano adoptou o lema “Combater a
que a cegueira coloca o indivíduo distante Exclusão, Renovar a Escola”. O Plano,
do mundo físico, sobre o qual ele precisa mesmo que situado na esteira do
agir para formular seus conceitos, movimento mundial de defesa e promoção
representações e construir seu universo da “Educação para Todos”, internamente
psicológico. Só a partir deste prisma é que também teria sido concebido como uma
se pode discutir o grau e a dimensão das das medidas correctivas para os vários
Necessidades Educativas das crianças com problemas educacionais causados pela
cegueira ou com visão reduzida e o guerra dos 16 anos (1976-1992) pela qual o
consequente estabelecimento das país passou, entre os quais, a necessidade
necessárias adaptações curriculares para de escolarizar as crianças órfãs,
elas. deficientes, malnutridas e mentalmente
Alunos com NEE da cegueira traumatizadas.
caracterizam-se por terem deficiência A preocupação do Estado, à época, era
visual, sendo cegos ou funcionamente tentar diminuir as altas taxas de
cegos, ou seja, os campos e/ou “acuidades reprovações e desistências que estavam na
visuais não lhes permite o uso funcional ordem de 33,2% e 8,3% respectivamente
dos registos escritos em suporte de tinta, (MOÇAMBIQUE.MINED, 1998). Essa
utilizando o Braille como sistema percentagem de insucesso e fracasso
alternativo de leitura e escrita” escolar, supostamente, para o discurso
(CORREIA, 2008B, p. 92). Pelo facto oficial, estaria relacionada aos efeitos da
destes alunos, no sistema escolar integrado, guerra que deixou um elevado número de
necessitarem de mais recursos e meios crianças e jovens em situação de
adicionais para responder as suas vulnerabilidade. Com base nos dados e na
necessidades educativas, Gartner e Lipsky interpretação dos factores a eles
(1987) consideram que as NEE desses subjacentes, o Estado moçambicano
alunos dependem não somente de factores estabeleceu como uma das suas metas
relativos a eles, mas também relacionados prioritárias a melhoria da qualidade de
com a escola e com a sua capacidade de ensino, através da formação de professores
flexibilizar a oferta curricular, no que diz e a inclusão no sistema regular de ensino
respeito aos programas, espaços, de todas as crianças e jovens, incluindo
equipamentos e recursos humanos. Deste aqueles com deficiências.
modo, às propostas pedagógicas que
pretendam dar resposta às NEE destes Para garantir a maior inclusão educacional
alunos, aqueles autores consideram que a foi aprovada uma legislação específica, o
efectivação dessas propostas requer Decreto Nº 20/99, de 23 de Junho de 1999,
intervenções e serviços especializados do Conselho de Ministros
continuados, o que pressupõe medidas (MOÇAMBIQUE.DECRETO, 1999). O
articuladas (colaboração) entre as áreas documento sublinha a necessidade de se
curriculares gerais e específicas, de forma estabelecer uma Política que oriente a
a facilitar o acesso ao currículo geral dos acção do Governo e da sociedade civil no
quadro da satisfação dos direitos
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A inclusão escolar de alunos com necessidades educativas especiais de visão cidade da Beira

específicos que assistem à pessoa escolas regulares, em vez de serem


portadora de deficiência. O mesmo segregadas em escolas separadas ou
documento obriga o Estado e o governo a completamente excluídas deste meio, como
se empenharem na adopção de medidas é o caso das Escolas Especiais do País.
que contribuam para elevar o clima de paz, Tanto no PEE (1999-2003) quanto na
harmonia e justiça social, ao reconhecer Resolução nº 20/99 e no PEEC (2006-
que o cidadão portador de deficiência, 2011), os três documentos parecem indicar
dadas as suas condições particulares, uma crescente preocupação, por parte do
encontrava-se em desvantagem em relação Estado, para com a inclusão escolar de
aos demais concidadãos. pessoas portadoras de NEE, seja para
A “Pessoa Portadora de Deficiência” é responder aos desafios educacionais
definida como aquela que, em razão de decorrentes da guerra, seja para se situar na
“anomalia, congénita ou adquirida, de esteira das recomendações de Salamanca
natureza anatómica, fisiológica, sensorial (UNESCO, 1994). Foi para viabilizar a
ou mental, esteja em situação de intenção presente nos documentos oficiais
desvantagem ou impossibilitada, por acima referidos que, a partir de 1998, o
barreiras físicas e/ou sociais, de Estado introduziu o Projecto Escolas
desenvolver normalmente uma actividade” Inclusivas, buscando transformar as
(MOÇAMBIQUE.DECRETO, 1999, p. 2). escolas da rede regular de ensino em
O termo deficiência é conceituado como escolas inclusivas (MOÇAMBIQUE.
sendo “qualquer redução ou perda de MINED, 1998).
capacidade normal para um ser humano O sucesso do projecto, todavia, estava
resultante de um impedimento” (IBIDEM). condicionado à adaptações curriculares às
Já a “integração social” é entendica como necessidades educativas de todas as
conjunto de “medidas conducentes a crianças em suas particularidades, a
estabelecer, conservar e desenvolver na formação específica inicial e em exercício
pessoa portadora de deficiência, na sua de professores e um compromisso de toda
família e na comunidade o equilíbrio e a comunidade escolar para apoiar os alunos
harmonia, nas relações afectivas e sociais” que apresentam dificuldades. Ou seja, com
(IBIDEM, p. 03). o projecto “escola inclusiva”, o Estado
Outro documento importante onde se faz pretendia garantir maior acesso escolar à
referência à educação inclusiva, mas crianças com NEE e a melhoria da eficácia
integrada no conceito de educação das escolas.
especial, é o Plano Estratégico de Dois anos após a implementação do
Educação e Cultura para o período de 2006 Projecto de Escolas Inclusivas, o relatório
a 2011 (MOÇAMBIQUE.MINED, 2006). de avaliação indicava que: (a) 425
Neste documento, é sublinhada a professores (82,52%) das escolas do
necessidade de o então MINED garantir o projecto foram capacitados para aplicarem
direito de todas as crianças à educação na sala de aula novas estratégias de ensino
básica, incluindo aquelas que apresentam na base do Pacote da UNESCO, tendo em
dificuldades de aprender ou que sejam conta as diferenças individuais de cada
portadoras de Necessidades Educativas aluno, com ou sem dificuldades de
Especiais. A estratégia do MINED para aprendizagem, incluindo aqueles que são
melhorar os serviços prestados às crianças portadores de deficiências; (b) em 1999,
com Necessidades Especiais baseiou-se no cerca de 19.830 alunos das escolas do
princípio da inclusão. O MINED procurava Projecto foram escolarizadas por
assegurar às crianças, jovens e adultos com professores já capacitados em estratégias
necessidades especiais a integração nas de aplicação do Pacote de Materiais da
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ACP Gonçalves e ER Vicente

UNESCO; (c) 452 alunos (2,31%) das extremas dificuldades. O Plano Estratégico
escolas regulares foram identificados como de Educação e Cultura sublinha que mais
portadores de necessidades especiais; (d) de 31 mil crianças beneficiaram da
no início do Projecto, tinham sido educação inclusiva desde a introdução do
abrangidos 12.588 alunos, 345 professores projecto escolas inclusivas até o ano 2005.
e 11 escolas. No ano da avaliação, estavam Por isso, uma das nossas preocupações é
envolvidos 19.830 alunos, 515 professores compreendermos as directrizes para educar
e 13 escolas, que corresponde ao aumento o deficiente visual. Quantas crianças cegas
na ordem de 36,5%, 33,0% e 15,3%, daquele número beneficiaram dos esforços
respectivamente (MOÇAMBIQUE. do Ministério da Educação para poderem
MINED, 2000). aprender? Considerando o número de
deficientes visuais na cidade da Beira,
Entretanto, uma análise um pouco mais
como tem sido o processo de sua inclusão
atenta ao relatório pode-se perceber que
nas escolas públicas? Que actividades
em momento algum o documento faz
pedagógicas concretas são desenvolvidas
referência ao número de alunos com
para garantir a aprendizagem desses
deficiência visual envolvidos no universo
estudantes?
de 19.830 abrangidos pelo Projecto
“Escolas Inclusivas”. Em termos A Inclusão Escolar de Portadores de
estatísticos, no início do projecto, em Maio Defidência visual na Cidade da Beira
de 1998, foram abrangidas 11 escolas e, Conforme já referenciado, o Censo de
dois anos depois, o número de escolas 2007 estimava que em Moçambique
passou para 13, facto que corresponde ao existiam, no geral, cerca de 475.011
aumento de somente duas escolas pessoas com deficiência, das quais, 44.651
inclusivas no período de um ano, em todo eram portadoras de dificiência de visão
o país. (INE, 2012, p. 8). Já o relatório do Censo
Até o ano 2005, como é sublinhado no de 2017, indica que no país, um total de
Plano Estratégico de Educação e Cultura 727.620 pessoas possuem algum tipo de
de 2006 a 2011, mais de 31 mil crianças e dificiência. Desse universo, um total de
jovens com NEE tinham sido atendidos 58.021 pessoas sofriam de cegueira e
pelo projecto de escolas inclusivas em 81.072 têm dificuldade de ver mesmo
2005; 20 professores de escolas usando óculos (INE, 2017). Porém, este
secundárias e 22 para escolas especiais número pode estar longe do universo real,
participaram em cursos de formação à medida que o inquérito orientava-se para
(PEEC, 2006). O documento menciona a deficiência total, excluindo a baixa visão.
também a introdução de conteúdo A província de Sofala, onde se situa a
específico sobre necessidades da educação cidade da Beria, com uma área de 68.018
especial no currículo para formação Km2, localizada na região centro de
acelerada de professores secundários; Moçambique, à época da pesquisa, possuia
adaptação do currículo; aquisição de uma população aproximada de 1.700.000
materiais; de melhorar a articulaçao com habitantes. Faz limites, a Norte, com a
os pais e as comunidades, para que a província da Zambézia, a Sul, com a de
abordagem da educação inclusiva possa ser Inhambane, a Oeste, com a província de
alrgada às comunidades. Manica, e a Este é banhada pelo Oceano
Apesar de o PEEC apresentar ideias bem- Indico. O censo de 2007 indicava que do
intencionadas, factualmente parece ter total da população, 900 mil eram mulheres
havido poucos avanços. Como será e 800 mil homens. Deste número, 70%
evidenciado mais adiante, as pessoas cegas vivia nas zonas rurais e 43% eram
continuam a estudar em ambientes de analfabetos (MOÇAMBIQUE, 2007) ii.
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A inclusão escolar de alunos com necessidades educativas especiais de visão cidade da Beira

Segundo o Censo de 2017, a província de Inclusivas” em todo país, a Escola Primária


Sofala contava com 2.221.695 de Completa de Pioneiros foi indicada, ao
habitantes, com um total de 54.852 nível da província de Sofala, para servir de
deficientese. Desse universo de deficientes, modelo na fase piloto da implementação
3.864 são cegos, com 1.312 residentes na do projecto. Nessa escola, em 2012, dos
área urbana e 2.552 em áreas rurais. cerca de 1.842 alunos matriculados, 63
Também, o Censo indica que do total dos eram portadores de várias necessidades
deficientes, 7.326 têm dificuldades para educativas especiais, dos quais, 04 eram de
ver mesmo usando óculos, dos quais, 3.234 visão.
residem em áreas urbanas (INE, 2017). À Escola Primária Completa de Pioneiros
Para a Cidade da Beira, o Censo de 2017 vieram juntar-se as Escolas Secundárias
refere que nela existem um total de Samora Machel, Mateus Sanção Mutemba
592.090 habitantes (INE, 2017). e da Manga. Até 2012 foram atendidos 21
Da população global da província, à época deficientes visuais pela Escola Secundária
da pesqusia, 33 mil eram pessoas com Sanção Mutemba; 16 alunos pela Escola
história de deficiência e, destas, 2.409 Secundária Samora Moisés Machel e 04
(7.3%) viviam com a deficiência visual, estudantes matriculados na Escola
em que 4.9% eram crianças e adolescentes. Secundária da Manga, perfazendo um total
Deste número de portadores de deficiência de 41 alunos cegos no ensino integrado. Se
visual, cerca de 1.466 (60.86%) fazem acrescentarmos a este número os 04 alunos
parte das estatísticas da Delegação com visão reduzida inscritos e 43
Provincial da Associação de Cegos e atendidos pelo IDV, podemos concluir que
Amblíopes de Moçambique (DPACAMO) ao nível da cidade da Beira, no ano de
de Sofala, distribuídos por 12 distritos, 2012, frequentavam nas escolas públicas
incluindo a cidade da Beira. Em termos cerca de 88 crianças com deficiência
quantitativos, de acordo com o Censo visual.
Geral de 2007, a cidade da Beira possuía, Entretanto, é importante sublinhar a
oficialmente, cerca de 285 deficientes possibilidade de existir um número
visuais. Se a este número forem considerável de escolas que tenham
acrescentados as 88 crianças e jovens com atendido pessoas com visão parcial e/ou
impedimento visual a frequentarem os reduzida sem necessário registo. Um dos
diferentes níveis e modalidades de ensino, factores que dificulta o acesso aos dados
teríamos que considerar uma população estatísticos sobre a deficiência quanto às
aproximada de 373 deficientes visuais, isto escolas integradas/inclusivas existentes é a
é, à época da pesquisa. ausência da informação oficial organizada.
Nesta cidade, a oferta de educação à Por exemplo, pode-se constatar, durante a
criança portadora de deficiência visual pesquisa, que a Direcção Provincial da
inicia nos finais da década de 60, do século Educação, através da Repartição do Ensino
XX, através do Instituto de Deficientes Especial, não possui um levantamento
Visuais (IDV), vocacionado para a preciso de crianças cegas e míopes a
alfabetização e reabilitação de crianças e estudarem nas escolas regulares. Também,
jovens com impedimento visual, em examinando as informações, existe uma
regime especial. A partir dos fins da discrepância entre os dados recolhidos
década de 70, algumas escolas secundárias durante a pesquisa de campo e os
sediadas na cidade da Beira, começaram a fornecidos pela Direcção Provincial de
receber portadores da deficiência visual em Educação de Sofala (DPE). A título de
suas salas-de-aula. E, em 1998, no âmbito exemplo, enquanto a DPE afirma que 77
do lançamento do Projecto “Escolas alunos frequentaram o IDV, em nível de

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ACP Gonçalves e ER Vicente

facto constamos existirem apenas 43 conhecimento da educação inclusiva


crianças cegas nessa referida Instituição. resulta da experiência de sala de aulas, sem
formação específica, corrobora as
Para o atendimento educacional aos alunos
pontuações de Mauês (2003) sobre a
com NEE notórias, os professores de
condição docente na contemporaneidade,
turmas regulares, além de evidenciarem a
situando-se na esteira das recomendações
falta de recursos didácticos especializados
de Schon (1993) relativas à primazia da
e se confrontarem com elevado número de
prática na formação docente. O primeiro
alunos em suas turmas, também
autor, em seu artigo que discute formação
ressaltaram, entre outros factores, o
de professores a partir do contexto das
despreparo para ensinar a criança com
mudanças económicas impostas pela
necessidades especiais de cegueira. Estas
globalização, ocorridas a partir do final da
dificuldades e limitações também são
década de 1980, sublinha que as reformas
sentidas no ensino especial, em que os
internacionais apresentam um objectivo
poucos professores que possuem alguma
político bem definido, que envolvem a
formação específica esta foi adquirida
estrutura administrativa e pedagógica da
através de capacitações periódicas,
escola, a formação de professores, os
formação em serviço e contacto directo
conteúdos a serem ensinados os aspectos
com os estudantes.
teóricos a serem adotados, enfim tudo o
Por exemplo, na EPC de Pioneiros, do total que “possa estar relacionado com o
dos 6 professores formados em 1998, no processo de ensino-aprendizagem”
âmbito de lançamento do Projecto “Escola (MAUÊS, 2003, p. 94). Ademais, face ao
Inclusiva”, apenas 3 estavam em exercício poder dos organismos internacionais em
na altura da pesquisa em 2012-2013. Dos determinar o que os sistemas educativos
15 professores que foram entrevistados, 12 nacionais devem ou não fazer, aqueles
(80%) possuiam experiência em sala de (organismos) defendem que o futuro
aula inclusiva, através do contacto directo professor precisa entrar em contacto real
com os alunos com NEE e seminários. No com o meio em que deverá actuar, devendo
Instituto de Deficientes Visuais (IDV), do desde o início da formação assumir tarefas
total de 14 professores, fala-se em 10 específicas e ter um acompanhamento
formados em Portugal, durante 90 dias, em directo para a realização delas.
2005, numa experiência que não é
Schon (1993) tem sido apontado como um
sistemática. De igual modo, os resultados
dos grandes inspiradores do modelo de
da pesquisa de campo realizada na Escola
formação de professores com ênfase na
Secundária Sanção Mutemba indicam que
prática. Para ele “a reflexão no curso da
essa escola não possui professores
acção e sobre a acção é o ponto de partida
formados para educação inclusiva. A sua
para uma formação com qualidade”
formação foi construída a partir de
experiência da convivência com os alunos (SCHON iii apud MAUÊS, 2003, p. 101). A
na sala de aulas. A falta de formação por justificativa é a de que os cursos de modelo
parte dos professores para a educação tradicional de formação de professores são
inclusiva também se faz presente na Escola muito teóricos e desvinculados da
Samora Moisés Machel. Nessa referida realidade escolar, daí a ênfase na formação
Escola, cerca de 80 professores que contínua (aperfeiçoamento profissional)
trabalham com a educação inclusiva, o em doses homeopáticas. À formação
fazem com base em alguma experiência a inicial somente cabe dar noções mais
partir de seminários, cursos intensivos e de gerais, deixando tudo quanto mais a cargo
curta duração. da formação contínua, que teria como
tarefa assegurar a adaptação às exigências
A existência de professores cujo postas pelo novo mundo globalizado. A
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A inclusão escolar de alunos com necessidades educativas especiais de visão cidade da Beira

escola é assim equiparada a uma fábrica, alunos com NEE se beneficiam. Apesar de
em que o professor é o operário, ao se lhe em todas estas escolas existir um fundo de
exigir a eficiência nos moldes de uma acção social que realiza despesas de apoio
indústria, através do desenvolvimento de às crianças órfãs e vulneráveis, ele não
competências no trabalho para o aumento inclui gastos com a deficiência. Sem
de produtividade. material didáctico adequado e em número
suficiente, os alunos portadores de
Embora possa não haver uma relação de
deficiência visual estudam basicamente
causa-efeito, no cotidiano escolar de todas
apoiando-se nos apontamentos ditados pelo
as escolas secundárias, os portadores da
professor e na colaboração de colegas.
deficiência visual estão vedados de
frequentar as disciplinas de matemática, O Plano Nacional de Acção para a Área da
física, química e biologia, bem como de Deficiência (PNADII 2012-2019) mostra-
participarem em actividades de educação se bastante evoluído na abordagem da
física. O argumento apresentado pelos educação inclusiva, mas sem o necessário
professores é o de que a sua condição de desdobramento em estratégias, programas
deficiência os torna inaptos para a área de e serviços de apoio a favor do grupo em
ciências exactas. Ainda, sob ponto de vista análise. Aliado a esse facto, também pode
de infra-estruturas e recursos didáticos nas ser sublinhada a ausência de estatísticas
escolas pesquisadas, pode-se constatar a devidamente organizadas em todos os
existência de um conjunto de barreiras ao sectores que lidam com a problemática da
acesso à escola e à aprendizagem, deficiência visual, incluindo a própria
consubstanciado pela falta de transporte, Delegação do Instituto Nacional de
meios auxiliares de locomoção (bengalas Estatística (INE). As escolas integradas
brancas) e programas de reabilitação (Samora Machel e Sansão Mutemba), e a
baseados na comunidade, que permitam Escola Primária Completa dos Pioneiros,
aumentar a habilidades de vida esta última a única que funciona na
independente das pessoas cegas. Acresce- perspectiva inclusiva na província de
se a estas limitações, dificuldades de Sofala, vivem num ambiente de manifesta
acesso às ajudas técnicas, devido à falta de carência de estrutura de apoios,
colaboração entre escolas regulares e orçamentos específicos, tecnologias
especiais, o que faz com que a vida educativas, material didáctico, falta de
estudantil desses alunos se resuma à professores formados em matéria de escrita
máquina perkins e papel para a escrita Braille.
Braille. De modo igual, outros Na óptica de Correia (2008), o princípio da
equipamentos importantes para o seu escola inclusiva deve respeitar três níveis
processo de ensino e aprendizagem, tais de desenvolvimento essenciais do aluno - o
como cubaritimo, ábacos, mapas em académico, o socioemocional e o pessoal -
relevo, figuras geométricas, papel cebola, de forma a proporcionar-lhe uma educação
pautas e computadores em formato apropriada, orientada para a maximização
acessível (falantes), não se fazem presentes do seu potencial (p. 13). Para ele, este
na sua rotina escolar. Outro facto a objectivo só pode ser alcançado se a escola
sublinhar é a ausência, em quase todas as admitir que a modalidade de atendimento
escolas escolhidas para a implementação mais adequada para o aluno com NEE seja
experimental do projecto escolas determinada pelo Programa Educativo
inclusivas, de uma linha orçamental Individualizado (PEI), de modo a manter
especificamente orientada para custos com aquilo que o autor chamou de “continuum
a educação inclusiva. O que se observa, em educacional”, isto é, um conjunto de
todas aquelas instituições, é apenas a serviços de apoio às actividades
isenção de taxas de inscrição, da qual os
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ACP Gonçalves e ER Vicente

desenvolvidas com o aluno na classe sensorial.


regular, com resposta às necessidades No âmbito da pesquisa foram entrevistados
específicas da criança. 16 alunos com necessidades educativas
Da pesquisa e observação do cotidiano da especiais de visão, com objectivo de aferir
Escola Primária dos Pioneiros, pode-se o seu nível de satisfação em relação aos
constatar a inexistência do Programa serviços educativos nas escolas inclusivas.
Educativo Individualizado (PEI) que dê No aspecto da relação aluno-professor 8
respostas necessidades e características dos 16 entrevistados sublinharam que
daqueles alunos considerados portadores estavam pouco satisfeitos, porque “o
de NEE. De modo generalizado, foi professor trabalha de acordo com as
evidente a falta de um conjunto de condições dos alunos normais”. Esses
pressupostos básicos (legislação, recursos, entrevistados reproduziram expressões
colaboração.) que assegurem a prática segregacionistas usadas pelos professsores,
inclusiva, o que tem levado tal como
sucessivamente os professores a clamarem vocês têm que se preocupar também,
por falta de material de ensino. nós estamos a caminhar, e hão-de-nos
encontrar em Nhamatanda iv (ALUNO,
Ademais, ampliando o nosso olhar, os ESCOLA SECUNDÁRIA MATEUS
principais documentos oficiais que versam SANSÃO MUTEMBA, 8ª CLASSE)
sobre a educação inclusiva em
Moçambique indicam que a guerra dos 16 Sobre as estratégias metodológicas de
anos, que afectou grandemente o sector da ensino, 10 alunos (65.5%) referiram que
educação, teria influenciado na definição não estavam satisfeitos, e justificam:
de políticas e prioridades para a educação Muitos professores usam material
inclusiva, principalmente no que diz impresso e o quadro, o que não nos
ajuda acompanhar as aulas deles
respeito a seu foco. Na perspectiva dos (ALUNO, ESCOLA SECUNDÁRIA
documentos oficiais de Moçambique, são DA MANGA, 9ª CLASSE).
portadoras de NEE “crianças órfãs e
abandonadas de guerra, traumatizadas pela A expressão “aula deles” usada pelos
guerra e crianças de desenvolvimento alunos denota um sentimento de um
anormal” (PEE, 1995, p. 26). Essa mundo “à parte”, e de não ser entendido, o
definição parece não estar muito de acordo que pode levar esses alunos a um estado de
com o conceito de NEE de Correia (2008), total frustração.
segundo a qual Relativamente ao acesso a fontes
o conceito das NEE aplica-se a crianças e alternativas de conhecimentos, constatou-
adolescentes com problemas sensoriais, se que o grau de satisfação percepcionado
físicos e de saúde, intelectuais e pelos alunos é nulo na área da informática,
emocionais e, também, com dificuldades que viabilize o uso de computadores para o
de aprendizagem específicas- factores
processológicos/de processamento de
deficiente visual, tornando-o assim
informação -derivadas de factores independente no estudo e no trabalho. A
orgânicos ou ambientais (CORREIA, solidariedade de colegas da turma e os
2008, p. 22). apontamentos ditados na sala de aula tem
Factualmente, mais de 50% de alunos tidos siddo a única fonte de conhecimentos para
como portadores de NEE a frequentarem os alunos com cegueira. A esse propósito,
as escolas consideradas inclusivas são Forest (1987) considera que, no conjunto
portadoras de dificuldades de de apoios suplementares na classe regular a
aprendizagem, resultantes de sua condição oferecer à criança com NEE, deve contar
sócio-económica desfavarável, enquanto com o apoio que aquela deve receber de
que 4% apresentam problemas de natureza colegas não deficientes.
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A inclusão escolar de alunos com necessidades educativas especiais de visão cidade da Beira

Sobre as estratégias de avaliação, os dados atendimento institucionalizado e a


reflectem que a maioria, 9 alunos segregação educacional. Esssa não
(56.25%), mostra-se pouco satisfeita, pelo apropriação e compreensão correctas do
facto destes serem avaliados apenas através conceito de educação inclusiva pode ser
de trabalhos em grupo, e raras vezes por interpretado na esteira das formulações de
provas escritas. Os alunos entrevistados Ball e Bowe (MAINARDES, 2006) na
referiram que “das poucas vezes que abordagem do ciclo de políticas. Houve um
participamos nas provas escritas, os contexto de influência, isto é, o contexto de
resultados não nos são entregues”. produção de ideias que, de certa forma,
Perantea este cenário, são pertinentes as determinou a elaboração do projecto de
pontuações de Correia (2008), segundo as escolas inclusivas por parte do Estado
quais, moçambicano. Entretanto, mesmo os
Quando uma criança com NEEs é formuladores do projecto escolas
meramente colocada numa classe inclusivas e as subsequentes orientações
regular sem os serviços e apoios de que aos demais sectores da educação do país
necessita e/ou quando se espera que o também podem ser considerados como
professor do ensino regular responda a
contextos da prática, o da política em uso.
todas as necessidades dessa mesma
criança, sem o apoio de especialistas, A propósito, Mainardes (2006) sublinha
isto não é inclusão. Nem é educação que o “contexto da prática é onde a política
especial ou educação regular está sujeita à interpretação e recriação e
apropriada – é educação irresponsável onde a política produz efeitos e
(CORREIA, 2008, p.13).
conseqüências que podem representar
Podemos, com certa margem de segurança mudanças e transformações significativas
afirmar que a realidade educacional dos na política original” (MAINARDES, 2006,
estudantes com NEE de visão na cidade da p.53). Ainda de acordo com o autor citado,
Beira, mesmo que o discurso oficial “os professores e demais profissionais
enfatize a inclusão escolar como bandeira exercem um papel activo no processo de
política, leva-nos a inferir que trata-se, interpretação e reinterpretação das políticas
ainda, de um discurso panfletário. As educacionais e, dessa forma, o que eles
crianças estão integradas dentro da escola, pensam e no que acreditam têm
mas não estão efectivamente incluidas. implicações para o processo de
Também, feitas as análises, somos implementação das políticas”
permitidos pontuar que o conceito de (MAINARDES, 2006, p. 53). Nesse
educação inclusiva, tal como é definido contexto da prática, os elaboradores dos
pela Declaração de Salamanca, não é textos nem sempre têm o controlo sobre os
cabalmente apropriado pelos que mesmos, estando os textos sujeitos a
concebem e formulam as políticas de intepretação e recriação por parte dos
educação do país. O conceito, no país, é implementadores.
mais orientado para a inclusão em questões Com efeito, considerando que umas das
de género, região, etnias, classe social, preocupações do Ministério da Educação
pobreza, HIV/SIDA e impedimentos leves: quando introduziu o projecto escolas
não contempla a inclusão escolar de inclusivas em 1998 centrava-se nos alunos
pessoas com deficiências significativas, tal com dificuldades de aprendizagem, este
como a cegueira, auditiva, mental, física e conceito tornou-se chave para a chamada
neuro-muscular, entre outras. Assim, o escola inclusiva, olvidando questões
entendimento geral continua a remeter importantes, como aquelas que dizem
estas categorias de deficiências – respeito aos alunos com dificiência seja
significativas - para o ensino especial, notória ou não. A classificação de alunos
perpetuando o modelo tradicional de com NEE, a partir das dificuldades de
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. educ. Vol. 2, Nº 2, pp 1-16, 2020

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ACP Gonçalves e ER Vicente

aprendizagem, também teria influenciado a CONSIDERAÇÕES FINAIS


definição das estratégias da implementação Na introdução do nosso texto afirmamos
da modalidade inclusiva, principalmente na que pretendiamos compreender as
componente de formação de professores e directrizes e as acções realizadas para a
disponibilização de recursos financeiros inclusão escolar de estudantes com
necessários que assegurem a “inclusão” necessidades educativas especiais de visão,
das crianças com NEE. Na formação de os ditos cegos. Especificamene,
professores, a maior atenção voltou-se para procuravamos saber: quantas crianças
a formação inicial e em exercício, para dar cegas daquele número beneficiaram dos
resposta às dificuldades de aprendizagem e esforços do Ministério da Educação para
garantir o melhor nível de rendimento poderem aprender? Considerando o
pedagógico. Assim, pode-se inferir que, no número de deficientes visuais na cidade da
contexto moçambicano, quando do Beira, como tem sido o processo de sua
projecto de escolas inclusivas, a palavra- inclusão nas escolas públicas? Que
chave na abordagem da inclusão escolar e actividades pedagógicas concretas são
necessidades educativas especiais era desenvolvidas para garantir a
“dificuldades de aprendizagem”, que dilui aprendizagem desses estudantes?” Essa
todas outras necessidades. proposta de estudo levou-nos ao
Por fim, a leitura dos principais estabelecimento de diferenças conceituais
documentos oficiais que versam sobre a entre segregação, integração e inclusão
modalidade inclusiva em Moçambique numa perspectiva histórica para, depois,
revela-se que a guerra dos 16 anos, que adentrarmos na política de inclusão e
afectou grandemente o sector da educação, acções do Estado moçambicano para a
teria influenciado na definição de políticas efectiva inclusão escolar de pessoas com
e prioridades para a inclusão escolar, Necessidades Educativas Especiais de
principalmente no que diz respeito a seu Visão, na cidade da Beira, região Centro de
foco. Assim, são portadoras de NEE “ Moçambique.
crianças órfãs e abandonadas de guerra, Considerando a distância temporal entre a
traumatizadas pela guerra e crianças de realização da pesquisa e a sintetização das
desenvolvimento anormal” (PEE, 1995, p. informações para publicação em forma de
26), em oposição à definição aplicada por artigo científico, alguns avanços, nesse
Correia (2008), segundo a qual “o conceito período de tempo terão ocorrido.
das NEE aplica-se a crianças e Entretanto, cingindo-nos apenas ao tempo
adolescentes com problemas sensoriais, da pesquisa, as nossas análises, mesmo sob
físicos e de saúde, intelectuais e o risco da subjectividade, pois a
emocionais e, também, com dificuldades interpretção, como nos ensina Gadamer
de aprendizagem específicas (factores (1996), ocorre dentro da tradição de
processológicos/de processamento de pensamento que condiciona o intérprete e,
informação) derivadas de factores situando-nos no movimento de luta pelo
orgânicos ou ambientais” (CORREIA, direito à educação, podemos afirmar que o
2008, p. 22). Fonseca (2007) chama a caminho é longo para que as escolas
atenção para considerar que as dificuldades moçambicanas se tornem efectivamente
de aprendizagem podem reflectir inclusivas. Com efeito, o nosso percurso,
dificuldades do próprio ensino, ou aquilo permite-nos destacar que o modelo de
que ele chamou de “despedagogia”. Para implementação da educação inclusiva era
ele, as dificuldades de aprendizagem frágil ao não promover a formação
podem ocorrer mesmo em crianças e específica de professores. Os alunos cegos
jovens superdotados (FONSECA, 2007, p. têm observado que estes profissionais
15).
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A inclusão escolar de alunos com necessidades educativas especiais de visão cidade da Beira

trabalham de acordo com as condições dos BIANCHETTI, L. Aspectos históricos da


alunos “normais”; a não adequação de educação especial. Revista da Educação
estratégias metodológicas às necessidades Especial. Piracicaba, v. 2, n. 3, p. 7-19,
e características deste grupo de alunos. Os 1995.
professores, sem formação e nem meios BOOTH, T. e AINSCOW, M. Index para
didáticos, usam material impresso e o
a inclusão desenvolvendo a
quadro, o que não nos ajuda acompanhar
aprendizagem e a participação nas
as aulas, traduzindo-se num sentimento de escolas. Bristol: CSIE, 2002.
desespero e exclusão. A inclusão escolar,
mais indicava ser um discurso panfletário CORREIA, L. de M. Alunos com
que uma realidade nas escolas pesquisadas. necessidades educativas especiais nas
classes regulares. Porto: Porto Editora,
Diante dessas constatações, defendemos, 1999.
que todas as escolas moçambicanas sejam
efectivamente inclusivas. Que não sejam ________Inclusão e Necessidades
um adorno, um enfeite, uma coisa a mais Educativas Especiais: um guia para
na estrutura e vida do Sistema Nacional de eduacadores e professors. Lisboa: Porto
Educação para atender às agendas Editora, 2008.
multilaterais. A inclusão escolar deve ser FOREST, M. e LUSTHAUS, E. Le
constitutiva das escolas moçambicanas, o kaleidoscope: un défi au concept de la
que exige que cada acção, nesse sentido, classification en cascade. Forest, M. (org.)
seja despreendida de preconceitos e se Education-Intégration. Downsview,
concentre nelas (onde estiverem a Ontario: L'Institut A. Roeher..p.1-16,
funcionar como tal) docentes 1987.
especializados na área de educação e/ou
reabilitação de alunos com NEE, devendo FONSECA, V. da. Dificuldades de
ser acompanhados por um conjunto de aprendizagem: na busca de alguns
equipamentos especiais de compensação, axiomas. rev. psicopedagogia, v.24, n.74,
materiais e suportes didácticos adaptados p.135-48, 2007.
às especificidades dos alunos deste grupo. GADAMER, G. H. O problema da
Para crianças com cegueira e, visando o Consciência Histórica. Rio de Janeiro:
desenvolvimento sócio-cultural do país, é Editora FGV, 1996.
pertinente a viabilização de outras
estratégias de se chegar à elas, por GARTNER, A.; LIPSKY, D. K. Beyond
exemplo, através da criação de serviços Special Education: toward a quality system
itinerantes (atendimento domiciliar), for all students. Havard Educational
sensibilizando as famílias para Review. v.4. n.57, p: 367-395, 1987
matricularem o(a)s seu(a)s educando(a)s GRAMSCI, António. Os intelectuais e a
nas escolas, desde que estas procedem à organização da cultura. Rio de Janeiro:
adaptações tanto estruturais, quanto infra- Civilização Brasileira, 1977.
estruturais e superestrurais para atender e
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essa e outras necessidades especiais de
MEC-Secretaria de Educação à Distância,
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ACP Gonçalves e ER Vicente

MAINARDES, J. A abordagem o ciclo de SÁNCHEZ, P. A. Educação inclusiva. Um


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Sociedade., Campinas, v. 27, n. 94, p. 47- Educação Especial. Brasília, MEC,
69, jan./abr. 2006. Outubro 2005, pp 07-18
MASINI, E. F. S. O perceber e o ________. Implicações do Paradigma da
relacionar-se do deficiente visual: inclusão para o emprego de pessoas com
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MOÇAMBIQUE, República. Plano
Estratégico de Educação 1999-2003: UNESCO. Conferência Mundial sobre
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Maputo: MINED, 1998. Declaração de Salamanca sobre princípios.
Política e Prática em Educação Especial.
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Junho de 1999 relativa a politica de
pessoa com deficiência em Moçambique.
NOTAS
Maputo: Imprensa Nacional, 1999
_________. Projecto Escolas Inclusivas. i
Cabe sublinhar que o Instituto de Deficientes Visuais continua
Relatório Preliminar da fase piloto. sendo, até ao momento em que se redigiu o presente texto (2018)
a única Instituição de ensino, na cidade da Beira, destinada aos
Maputo:MINED, 2000
dificientes visuais.
_________. Plano Estratégico da ii
Os números aqui apresentados devem ser compreendidos no
Educação e Cultura (2006-2011). Fazer contexto e no tempo da realização da pesquisa que, certamente,
da Escola um pólo de desenvolvimento difere do tempo da redação do presente artigo.
consolidando a moçambicanidade.
SCHÖN, Donald. Educando o profissional reflexivo: um novo
iii
Maputo: MINED, 2006 design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed,
2000.
_____________. III Censo Geral da
População (2007). Maputo: Instituto “Nhamatanda” refere-se a um distrito da província de Sofala,
iv

Nacional de NE, 2007 que dista a 100 quilómetros da cidade da Beira.

____________. Plano Nacional de Acção


para a Área da Deficiência. (PNAD II
2012 – 2019). Maputo, MGCAS, 2012
____________. IV Censo Geral da
População ( 2017). Maputo: Instituto
Nacional de Estatística, 2019.
http://www.ine.gov.mz/iv-rgph-2017/
sofala. Data de acesso 29.10.2019
NIELSEN, L. B. Necessidades
Educativas Especiais na sala de aula: um
guia para os professores. Porto: Porto
Editora, 1999

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