Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Docentes: Dr Saulo Andrade Caldas e Dr. Felipe Farias Pereira da Câmara Barros
Introdução
A Distocia é caracterizada pela dificuldade do feto em ser expulso do útero em decorrência de
problemas de origem fetal, materna ou ambos,sendo uma das principais causas de mortalidade em
neonatos, tanto em cães quanto em gatos, podendo levar também a morte materna. Fêmeas de
pequeno porte e de raça pura tem uma maior predisposição a distocia do que fêmeas sem raça
definida e de grande porte. De modo geral ocorre com maior frequência em cadelas do que em
gatas. Com isso, o papel do medico veterinário é crucial para preservar a saúde materna e a
viabilidade do feto, fazendo o acompanhamento da gestação e agindo de formar precisa e assertiva
em momentos de emergência, avaliando a necessidade de uma intervenção cirúrgica (cesariana) ou
não.
Causas de Distocia
Fatores tanto maternos quanto fetais podem estar relacionados com essa situação. Estima-se que
75% das distocias sejam de causa materna e 25% de causa fetal.
1
Fatores Maternos
• Inércia uterina primária: ocorre por uma deficiência no potencial de contração do miométrio,
ou seja, não ha tônus muscular, consequentemente não a contrações no momento do parto.
• Inércia uterina secundária:
• Vícios pélvicos: Alterações que ocorrem nos ossos pélvicos maternos dificultando a
passagem do feto no canal do parto.
• Patologias Adquiridas das vias genitais: prolapsos, fibroses, tumores, estenoses e edemas.
• Patologias Congênitas das vias genitais: vulva infantil, persistência da prega himenal ou das
estruturas remanescentes dos ductos de Muller.
• Torção Uterina: É quando ocorre rotação do útero sobre o seu próprio eixo longitudinal.
Fatores Fetais
• Hipertrofia fetal: Em alguns casos o feto apresenta um tamanho superior ao diâmetro da
pélvis materna (hipertrofia fetal absoluta) ou o feto possui dimensões normais porem a
pélvis materna é estreia (hipertrofia fetal relativa), em ambas as situações ha uma
desproporção materno fetal.
• Morte Fetal: É necessário que o feto participe ativamente o parto porem com a morte fetal
não ha o desencadeamento do processo, levando a uma gestação prolongada.
• Disposição fetal anômala: O posicionamento do feto no momento do parto é de extrema
importância para que o parto ocorra normalmente. O posicionamento é sempre em relação a
mãe. Em casos em que a coluna vertebral do feto esta posicionada transversalmente à coluna
vertebral da mãe, esse posicionamento pode levar a distocias graves.
Diagnóstico
Para que o veterinário tenha uma abordagem correta é necessário que o diagnóstico seja embasado
primeiramente no histórico do animal, fazendo uma boa anamnese e averiguando se o animal já
sofreu um parto distócico anteriormente ou se, no parto em questão, já houve expulsão de um fetal
ao mais. O Exame físico deve ser feito por meio da palpação abdominal e digital vaginal para
avaliar se ha dilatação da cérvix. A radiografia e a ultrassonografia também são fundamentais no
diagnostico sendo possível a visualização do feto e do que possa estar fisicamente impedindo a
passagem dele. Exames complementares também podem ser feitos como o hemograma, dosagem de
cálcio, glicose, ureia e creatinina. Todos esses exames somados levam a um tratamento mais
adequado por parte do veterinário que deve sempre estar atento caso haja algum comprometimento
sistêmico materno ou a inviabilidade do feto.
Tratamento Manipulativo
Manobras obstétricas podem ser empregadas quando o feto é de tamanho compatível com a canal
do parto. Essas manobras são capazes de corrigir uma má apresentação ou posição. A maneira mais
segura para auxiliar o parto nesse momento é utilizar os dedos com uma gazes e fazer tração no
sentido caudal/ventral acompanhando as contrações. Uma vez que as manobras não são bem
sucedidas, a fêmea deve ser imediatamente encaminhada para cirurgia.
As manobras obstétricas podem ser classificadas em:
• Retropulsão: O feto é pressionado para dentro do útero nos intervalos das contrações,
manualmente ou com o auxilio da forquilha.
• Rotação: A posição do feto é alterada rotacionando-o ao redor do próprio eixo longitudinal.
• Tração: Com o objetivo de retirar o feto do canal do parto, são aplicadas forças nas partes do
feito para complementar ou substituir as contrações maternas.
• Versão: É uma manobra arriscada e complexa que consiste em alterar a posição
transversal/vertical do feto para posição longitudinal com um movimento binário.
• Extensão: É feita a extensão das articulações fletidas quando a defeito na postura.
Tratamento Medicamentoso
Caso a distocia não seja de cauda obstrutiva e não haja sofrimento materno ou fetal, fármacos
estimulantes de contratilidade podem ser utilizados, sendo a ocitocina o de primeira escolha. A
administração é por via intramuscular e as contrações tem inicio 30 minutos após a aplicação. Caso
a fêmea não responda a primeira aplicação poder ser feita uma nova administração com a mesma
dose ou uma dose maior respeitando os intervalos preestabelecidos porem o que normalmente
ocorre é que a maioria das fêmeas não responde, da maneira desejada, a ocitocina, sendo indicado
nesses casos, a cirurgia.
Cuidados Neonatos
O monitoramento da fêmea e dos neonatos exigem intenso cuidado pois os padrões vitais podem
alterar rapidamente. Ao ser retirado do útero, o feto deve ser secado e ter as vias aéreas superiores
desobstruídas. Caso o feto não apresente respiração espontânea pode ser feita a respiração boca-a
boca, intubação ou estimular a respiração com Doxapram. Além da respiração, os batimentos
cardíacos devem ser auscultados e cada filhote tem que ser inspecionado, a procura de anomalias
congênitas. Deve ser feito o aquecimento dos neonatos , bem como avaliar ser ha desidratação ou
hipoglicemia, esses parâmetros deve ser corrigidos prioritariamente.
3
Os neonatos devem receber todos os cuidados necessário ate que a fêmea possa cuidar e fazer o
aleitamento assegurando o consumo do colostro. Vale ressaltar que comumente as fêmeas tendem a
rejeitar a cria em casos de cesária, por tanto, a aproximação dos filhotes com a mãe deve ser feita
sob observação e com cautela.
Considerações Finais
Baseado nesse conhecimento, entende-se que a distocia apesar de ser um quadro comum na rotina
clinica, deve ser tratada rapidamente, em um intervalo de ate 12 horas após o inicio do parto, pois
um atraso acima de 24 horas pode levar a morte fetal, além de danos a saúde materna.
Referências bibliográficas
FEITOSA, CSA et al. Obstetrícia veterinária para clínicos de pequenos animais. Tópicos especiais
em ciência animal vii, p. 83, 2018.
LIGUORI, HK; ENEAS, MD; IGNÁCIO, FS. Distocias em cadelas-revisão de literatura, 2016.
LUZ, M. R.; MÜNNICH, A.; VANNUCCHI, C. I. Novos enfoques na distocia em cadelas. Rev.
Bras. Reprod. Anim, v. 39, p. 354-361, 2015.
PRESTES, NC. Como e quando intervir no parto de cadelas. Revista de Educação Continuada
em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 4, n. 2, p. 60-64, 2001.