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SERVIÇOS
JURÍDICOS
Introdução
A área de suprimentos em uma organização é responsável pela ob-
tenção dos insumos necessários para apoiar as operações. O foco é
multidimensional: tentar manter o fornecimento contínuo, minimizar os
prazos de entrega e o estoque de materiais e componentes e desenvolver
fornecedores com capacidade para ajudar a organização a alcançar seus
objetivos operacionais.
Neste capítulo, veremos algumas bases da função compras da logística
integrada, por meio do detalhamento dos objetivos e das estratégias de
compras.
Por muito tempo, o setor de compras das organizações foi visto pelo aspecto
das despesas geradas e como uma forma de reagir às necessidades do mercado,
quando, na verdade, ele deveria ter uma função estratégica e proativa, objeti-
vando trazer lucros para a empresa. Essa evolução aconteceu e atualmente as
compras são vistas como uma habilidade organizacional fundamental, o que
mudou também o seu papel na gestão da cadeia de suprimentos. O foco das
compras passou a ser o de impulsionar as estratégias de produção das empre-
sas, se apoiando em seus fornecedores. Para isso, alguns objetivos da função
compras se destacam, como será visto a seguir (BOWERSOX et al., 2014).
Fornecimento contínuo
Quando a matéria-prima está em falta no estoque de uma empresa, isso pode
causar a alteração dos planos de produção ou até mesmo a sua interrupção, o
que pode também gerar custos inesperados e problemas com clientes.
Quando uma organização passa por um tempo sem produzir, com estoque
zerado e colaboradores parados, os custos operacionais aumentam e isso pode
ter como consequência a impossibilidade de fornecimento de produtos ou
serviços finalizados com qualidade para os clientes.
Se uma empresa que trabalha com a montagem de veículos tem todas as peças
necessárias para produzir um carro, mas lhe faltarem os pneus, ou os vidros, a montagem
precisará ficar suspensa até que essa matéria-prima seja adquirida, o que poderia
causar enormes prejuízos.
Melhoria da qualidade
O setor de compras é um dos mais importantes das organizações, uma vez
que a qualidade dos produtos e serviços entregues aos clientes vai depender
diretamente da qualidade daquilo que foi utilizado como matéria-prima na
produção.
Isso significa que quando são utilizados componentes e matéria-prima
de baixa qualidade na produção, provavelmente o produto ou o serviço final
entregue ao cliente não vai agregar valor, pois provavelmente não vai corres-
ponder ao padrão de qualidade esperado. Nesse sentido, tanto a organização
quanto os seus fornecedores precisam se concentrar na melhoria contínua da
qualidade daquilo que é utilizado na produção, visando à qualidade do que
é entregue ao cliente.
Desenvolvimento de fornecedores
Para que as compras realizadas por uma organização sejam bem-sucedidas, é
necessário que sejam localizados fornecedores, que seja analisada sua capa-
cidade de fornecimento e que seja feita uma seleção entre os melhores, para
desenvolver uma parceria que possibilite a melhoria contínua.
120 Suprimentos I
A Procter & Gamble, empresa que reúne um conjunto de várias outras empresas na
produção de alimentos e produtos de higiene e limpeza, declarou ter a meta de que
50% dos seus produtos e das inovações envolvendo-os venham de fontes externas
às suas empresas, ou seja, de seus fornecedores e das suas compras.
Exemplo disso foi a introdução de um produto chamado Mr. Clean Magic Eraser, cuja
tecnologia foi desenvolvida e fornecida para a Procter & Gamble por um fornecedor
chamado BASF.
Apesar disso, o preço final e o desconto não devem ser o único aspecto a
ser observado em uma compra. Uma compra de grande quantidade de matéria-
-prima, para ganhar um bom desconto, por exemplo, pode trazer problemas
para a manutenção do estoque. Uma compra de matéria-prima com pagamento
à vista pode trazer problemas de fluxo de caixa.
Outro aspecto que deve ser visto, para além do preço, é a confiança que
pode ser depositada na entrega dos itens comprados. Um fornecedor que ofereça
grandes vantagens para a diminuição de preços pode se comprometer com
vários compradores simultaneamente e não ser capaz de cumprir com suas
obrigações. Nesse sentido, pode ser importante que a empresa compradora
tenha a capacidade de negociar a retirada dos produtos diretamente com o
fornecedor, em vez de aguardar a entrega.
Conhecendo melhor os objetivos das compras em uma organização, é pre-
ciso destacar que os objetivos do setor de compras precisam estar diretamente
alinhados com os objetivos estratégicos da organização, visando a atender
ao cliente interno, que são todas as áreas da empresa, e também ao cliente
externo, que são os clientes finais, aqueles que vão utilizar os produtos e os
serviços oferecidos.
A globalização trouxe a necessidade de as organizações efetuarem compras
de uma maneira cada vez mais eficiente, para que a sua matéria-prima seja
obtida da forma mais econômica possível, possibilitando seu crescimento e
sua manutenção no mercado.
122 Suprimentos I
Comprar ou fazer
A decisão entre comprar ou fazer, que vem da expressão em inglês make or buy,
é fundamental e precisa ser tomada para cada produto ou serviço, analisando
as vantagens e as desvantagens de produzi-lo ou executá-lo internamente, na
própria empresa, ou adquiri-lo de um fornecedor externo.
No passado, os gestores das empresas se concentravam em uma pequena
lista de critérios financeiros para decidir entre comprar ou fazer aquilo que
servirá de matéria-prima para a sua produção. Atualmente, essa decisão pode
ser chamada de escolher entre o suprimento interno e a terceirização, o que
começa pela definição da necessidade de um produto ou serviço específico
e se apresenta como uma escolha estratégica e complexa para a empresa,
envolvendo muitos aspectos.
A determinação entre comprar ou fazer envolve, geralmente, os executivos
de todas as áreas da empresa, que devem trabalhar em equipes multifuncionais
para que consigam garantir uma análise mais ampla das questões qualitativas
e quantitativas que estão envolvidas nessa estratégia.
Quando é preciso decidir entre comprar ou fazer, é fundamental que se tenha
uma relação de todos os produtos e serviços necessários, todas as matérias-
-primas envolvidas e quais são as competências principais da organização,
uma vez que a terceirização das competências essenciais da empresa pode
envolver riscos. Para reduzi-los e para que o controle da produção seja man-
Suprimentos I 123
Essa estratégia é utilizada inclusive nas organizações que têm uma área
com função específica de compras, de maneira corriqueira, pelo menos em
relação a itens de menor vulto financeiro. Esses itens são aqueles que não
influenciam de maneira significativa no sucesso da empresa como um todo,
a ponto de justificar o esforço de uma equipe especializada para a operacio-
nalização de sua aquisição.
Consolidação de volume
A consolidação de volume, por meio da diminuição da quantidade de fornece-
dores, é um aspecto importante no desenvolvimento de uma boa estratégia de
compras pela organização. Antigamente era muito importante que as empresas
tivessem várias fontes fornecedoras: os fornecedores entravam em contato
constante com a empresa para ofertar seus produtos e serviços e a empresa
não dependia diretamente de um fornecedor só, o que lhe dava a impressão
de liberdade e tranquilidade, para o caso de o fornecedor entrar em greve, por
exemplo (BOWERSOX et al., 2014).
Atualmente, a consolidação de volume, limitando a quantidade de forne-
cedores para as empresas, se mostra como um incentivo para que a empresa
participe até do negócio do fornecedor, estreitando as relações e o poder de
negociação entre as empresas compradora e a fornecedora. Além disso, com
a garantia de que vai precisar fornecer um determinado volume de compras
para um cliente, o fornecedor tem mais certeza no momento de investir na
capacidade de melhorar os seus serviços. A ideia mais atual é a de que um
comprador que muda sempre de fornecedor não tem como aumentar seus
investimentos, em razão da incerteza de negócios.
Logicamente existe um grande risco quando se escolhe um fornecedor único
para algum produto ou serviço. É por causa disso que os gestores da área de
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Gerenciamento de valor
Quando uma organização alcança uma integração operacional com seus
fornecedores, ela abre a possibilidade de um gerenciamento de valor, o que
aumenta essa integração, tornando o relacionamento entre eles sustentável
(BOWERSOX et al., 2014).
126 Suprimentos I
O princípio de Pareto é conhecido também como regra dos 80/20, lei dos poucos vitais
ou, ainda, princípio da escassez do fator. Esse princípio diz que, para muitos eventos,
aproximadamente 80% dos efeitos gerados vêm de 20% das causas.
Para aplicar o princípio de Pareto, pode-se dizer, por exemplo, que:
em uma empresa, 80% das vendas vêm de 20% dos clientes;
80% das despesas de uma residência vêm de 20% das contas a serem pagas;
80% da riqueza de um país se concentra nas mãos de 20% da população.
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Para que a função de compras seja executada de uma maneira mais eficiente,
é importante que sejam determinadas as estratégias de compra que serão
utilizadas pela empresa. É fundamental que seja compreendido exatamente
o que é preciso comprar no momento e no futuro e planejar quanto poderá ser
gasto para cada item a ser adquirido.
Uma boa análise de gastos será fundamental para identificar quanto está
sendo gasto em cada tipo de produto ou serviço, em todas as áreas da orga-
nização, e também os fornecedores que estão envolvidos. Por causa disso, a
análise de gastos é crucial para formar a melhor estratégia de compras possível
para cada item necessário para a empresa adquirir.
A análise de gastos pura e simples, porém, servirá para quantificar os gastos
de toda a empresa, mas não é suficiente para identificar todas as necessidades
organizacionais, pois algumas aquisições são fundamentais e outras nem tanto.
Nesse sentido, aspectos como a integração operacional e o gerenciamento de
valor podem ser direcionados para necessidades de compras mais importantes,
de itens mais relevantes (BOWERSOX et al., 2014).
As compras rotineiras da empresa podem ser consideradas como um tipo
de compra que envolve baixa porcentagem, comparada ao gasto total da
empresa com suas compras. Além disso, elas envolvem um risco de falta de
fornecimento baixo, pois não são estratégicas para o negócio e geralmente
trazem baixo impacto no desempenho da empresa como um todo.