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Estratégias de integração dos saberes locais

Segundo Guilherme Bazílio

-aprofundamento
-extensão
Na dinâmica da integração dos saberes locais na sala de aula os professores seguem dois
métodos sugeridos no PCEB. Um diz respeito ao aprofundamento e o outro à extensão. O
primeiro método consiste em alargar os conteúdos definidos centralmente, incorporando novos
conteúdos (conteúdos locais) em forma de exemplo para facilitar aprendizagem. O segundo
consiste em fazer visitas de estudo organizadas pela escola aos locais de interesse histórico
para recolha de conteúdos culturais locais que poderão ser integrados em diferentes
disciplinas. Este último é difícil, pois, exige uma planificação e o conhecimento das épocas do
ano em que se realizam algumas cerimônias importantes na região. Embora seja difícil, o
método de extensão facilita uma articulação integrada e uma interdisciplinaridade.

Os professores assistidos, em duas escolas, praticam mais a integração por aprofundamento,


por uma simples razão: as escolas ainda não estão bem orientadas metodologicamente para
desenvolver a integração por extensão. Isto é, o INDE propõe o uso do método de extensão,
mas não esclarece as modalidades a serem observadas. Assim as escolas não encontram
fórmulas de enquadrar no seu plano temático os dias de semana para efectuar as visitas de
estudo aos locais significativos.

Quanto ao método de aprofundamento, o único observado, a sua exeqüibilidade depende de


temas, disciplinas e das condições específicas de cada saber. Nele conta também à criatividade
do professor na organização dos exemplos. O professor maneja facilmente os saberes
mobilizáveis deixando de lado os imobilizáveis. Certamente, os professores são obrigados a
introduzir os saberes locais nas aulas partindo da experiência vivida pelos alunos e procura
articulá-los com os conteúdos programados.

Avaliando o processo de integração dos saberes locais conclui-se que os 20% do currículo
local são explorados apenas através dos exemplos. Os professores partem dos objectos locais
da vida quotidiana para introduzir os temas programados. Um exemplo prático, para
fundamentar a afirmação exposta acima, é a aula de Ciências Naturais, com o tema: a função
de diferentes tipos de alimentos, dada pela professora da 3a

classe, Amélia J. Esta professora


para introduzir a sua aula, começou com uma canção que diz respeito a machamba e os
alimentos. Enquanto cantava com os alunos, ia mostrando os tipos de alimentos típicos da
região que ela trazia. Por cima da mesa, ela guardara ovos, peixe, amendoim, mandioca seca,
tomate e feijão. O objectivo dela foi dinamizar a aula. Terminada a canção, perguntou aos
alunos a utilidade de cada um destes e depois procedeu com a classificação de alimentos em
energéticos, protectores e construtores.

Não se pretende afirmar categoricamente que os alunos aprenderam mais naquela aula, mas
pressupõe-se que estiveram mais em contacto com a realidade local. Pois, os alimentos
mostrados são conhecidos por eles e são de relevância para zona. Esta forma de integração não
é inteiramente nova, a escola já vinha fazendo, mas de forma não institucionalizada.
Para os professores de ofícios essa integração é muito facilitada porque obrigam aos alunos a
trazerem de casa o material a ser usado. E para introduzirem os temas de Tecelagem e Olaria,
da 2a a 7a classes, usam também exemplos concretos, como: peneiras, chapéus de palhas,
esteiras de fabrico local, panelas de barro e outros objectos. Partindo destes, ensinam como se
fazem cestos, pastas, bolsas de mulher, bordado, textura e tecidos. A utilização das técnicas de
entrelaçamento simples (usada para fazer tapetes), de enrolamento (usada para fazer chapéus)
e de tafetá 24 facilita apreensão de conteúdos nas aulas de Ofícios.

Uma aula de Ofícios assistida no Monapo-Sede, organizada por professor Zacarias M. mostrou
uma outra dinâmica. Este professor contratou uma oleira, Wamonela A., para ensinar às
crianças a fazerem panelas de barro. O método usado nessa aula foi tipicamente tradicional
enraizado na prática sob forma de aproximar a vida local dos alunos permitindo integrá-lo na
sua comunidade.

Apesar do sucesso do método de aprofundamento, os professores de Matemática têm


dificuldades em partir da experiência vivida para introduzir alguns conteúdos (no caso de
números aproximados). Esta dificuldade foi constatada na assistência a dois professores que
não serão mencionados. O que se sabe é que os professores daquela disciplina têm
dificuldades de trazer exemplos que pudessem satisfazer os alunos para facilitar a
aprendizagem.

Para além desse método, descreve-se o procedimento que deveria se seguir para a integração
por extensão. A sua descrição obedece à propo sta do PCEB. Na integração por extensão
constariam os temas culturais, econômicos e políticos que não estão programados no currículo.
Ela visaria a realização de visitas de estudo aos locais importantes ou às cerimônias
planificadas na zona para explorar os saberes locais. Esta integração pressupõe, naturalmente,
uma planificação e o reajusto do calendário escolar com as actividades culturais da
comunidade. Os professores deveriam consultar o programa do ensino para observar se dentro
de uma unidade didáctica está definido algum conteúdo de aprendizagem local que exige uma
visita de estudo. Ou seja, se o programa das Ciências Sociais contempla um conteúdo que diz
respeito ao culto dos antepassados ou a cerimônia de pedido de chuvas como um conteúdo
cultural local. Se estiver previsto, reservar-se-ia uma aula para se discutir tal conteúdo com os
alunos e se não for previsto efectuar-se-ia uma visita de estudo ao local onde decorrerão as
cerimônias (pedido de chuva ou culto de antepassados). Os temas a serem tratados nesta
segunda forma de integração se caracterizariam pela sua transversalidade podendo perpassar a
grade curricular. Para a sua execução, sem entrar em conflito com o programa, a escola
disponibilizaria um dia lectivo por mês ou por trimestre, pois a abordagem dos conteúdos
locais é coberta por 20% do tempo previsto. Uma boa administração dos 20% corresponde a
um dia lectivo. Nas aulas normais introduzir-se-iam os saberes locais, mas reservando-se uma
6ª Feira para execução da visita de estudo com vista a aproximar mais a realidade do aluno.

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