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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Ciências Biológicas


Departamento de Fisiologia e Farmacologia
Disciplina de Farmacologia

FARMACOCINÉTICA 1 – ABSORÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DOS


FÁRMACOS

Odair Alves da Silva

Recife

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O QUE É FARMACOCINÉTICA?
▪ O conceito de farmacocinética foi proposto por Dost em 1951 para descrever o movimento da droga pelo organismo.
▪ A Farmacocinética é o ramo da farmacologia que estuda o caminho percorrido pelo fármaco no organismo e as variáveis que
podem afetar a sua concentração nos diversos tecidos do corpo.
▪ Didaticamente, a farmacocinética é dividida em 4 etapas abreviadas pelas siglas ADME:
Absorção
• Passagem do fármaco de seu local de administração para o plasma,

Distribuição
• Disseminação da droga nos tecidos e células do corpo.

Metabolismo
• Implica na conversão do fármaco em outra entidade química.
Eliminação
• Refere-se ao processo pelo qual um fármaco ou seu metabólito é eliminado do organismo.
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COMO OS FÁRMACOS ENTRAM NO ORGANISMO?
▪ Para produzir os efeitos desejados, os fármacos precisam estar na concentração
adequada em seus locais de ação.
▪ Entretanto, até chegar a seu destino, a maioria dos fármacos precisa percorrer um
longo caminho e atravessar várias barreiras biológicas físicas, químicas e biológicas.

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Fármacos grandes e polares são impedidos de atravessar a membrana
através da bicamada lipídica, tendo a necessidade de facilitadores

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QUAIS FATORES AFETAM A DIFUSÃO?
▪ Barreiras e transportes
– Na ausência de outros fatores, um fármaco penetrará numa célula até que as concentrações
intracelular e extracelular deste fármaco sejam iguais. O transporte por difusão seguirá a lei de
difusão de Fick:

– Todavia, in vivo, há fatores complicantes para a difusão efetiva de um fármaco, como gradientes
iônicos, gradientes de pH e de cargas.
+ + - -
+ + - -

+++++++++++++++ -------------
+++++++++++++++ -------------
+++++++++++++++ -------------
++++++++ --------

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TODA BARREIRA É IGUAL?
▪ Barreiras e transportes
– Alguns tecidos (SNC, placenta) apresentam características especiais que podem
dificultar o transporte de alguns fármacos.

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Em certo dia, o papai João, percebeu que os seus
dois filhos estavam com febre, então, ele resolveu
CASO CLÍNICO medicar os dois com um antitérmico. Entretanto,
percebeu que só existia um comprimido disponível na
casa. Procurando melhor, ele encontrou o mesmo
medicamento em xarope, porém, com apenas uma
dose restante. Dessa forma, ele concluiu que poderia
dar o comprimido para um e o xarope para o outro.

Quem ficará livre da febre primeiro?

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ABSORÇÃO

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Absorção
▪ A absorção representa a passagem do fármaco de seu local de administração para o plasma.

Vias para a absorção


• Via transcelular,
• Via paracelular,
• Transcitose e endocitose mediada por
receptor ,

• Endocitose para o sistema linfático.

Fatores que influem na absorção

• Propriedades físico-químicas do fármaco.


• Características da preparação farmacêutica.
• Características do local de absorção.

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Absorção
▪ Dependendo da via de administração e da forma farmacêutica, a droga apresentará uma maior ou menor facilidade para a
absorção. A quantidade de fármaco que alcança a circulação sanguínea nem sempre é a que foi administrada.

BIODISPONIBILIDADE – É a fração de uma dose administrada de uma droga não alterada que atinge a circulação sistêmica

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O QUE É CINÉTICA DE ABSORÇÃO?
▪ Cinética de absorção
– Inclui o estudo da velocidade de absorção e da quantidade absorvida. Estes dois parâmetros dependem da constante de
absorção (Ka) e da concentração do fármaco dissolvido no local de absorção.
Probabilidade que
– A cinética de absorção pode ser de primeira ordem ou de ordem zero.
uma molécula tem
Cinética de primeira ordem para ser absorvida
na unidade de tempo.
• A velocidade de absorção é diretamente
proporcional a quantidade de fármaco
na área de absorção

Cinética de ordem zero


• O número de moléculas absorvidas por
unidade de tempo permanece constante
durante toda ou a maior parte do
processo de absorção.

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A ABSORÇÃO PODE SER ALTERADA?
▪ Parâmetros que alteram a absorção
Propriedades físico-químicas do fármaco. Eliminação pré-sistêmica e efeito de primeira passagem

•Tamanho da molécula, lipossolubilidade, pKa. • Destruição do fármaco no local da administração, no epitélio do TGI, no
fígado ou no pulmões.
Características da preparação farmacêutica.
Fatores fisiológicos
• Líquida, sólida, semissólida, gasosa.
• Idade, sexo, presença de alimento, débito cardíaco, etc.
Características do local de absorção.
• Área de absorção, qualidade e quantidade das barreiras, fluxo Fatores patológicos
sanguíneo local, pH local, etc.
• Presença de vômitos, diarreia, inflamação, hipertermia, alterações no
transito intestinal, insuficiência cardíaca, etc.

Fatores iatrogênicos

• Interações medicamentosas, com alimentos ou outras substância.

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Caso Clínico:

J.O.S, 32 anos, solteira, residente em Salvador-BA, está em


tratamento para dor secundária ao câncer de mama. Faz uso de uma
CASO CLÍNICO
morfina 2 vezes ao dia. Após sintomas de tontura, dor de cabeça e
vertigem, foi atendida na UPA, onde se constatou que a mesma
apresentava hipertensão com uma pressão arterial de 200x130
mmHg. Foi medicada e fará tratamento crônico com os anti-
hipertensivos losartana e Hidroclorotiazida.

Duas semanas após iniciar o tratamento com os novos


medicamentos, percebeu que as dores surgiam mais precocemente
após o uso de morfina, ou seja, a morfina já não apresentava o
mesmo tempo de duração.

Pode ser um caso de interação medicamentosa?


caso sim, quais as possibilidades?
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DISTRIBUIÇÃO

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Quem se distribui mais rápido é
eliminado mais rápido?
Sim Não
Distribuição
▪ Disseminação da droga na circulação, líquido intersticial e células.
▪ Uma vez no sistema circulatório, os fármacos podem ser transportados
pelo sengue de três formas gerais:
1. De forma livre
2. Ligados às proteínas plasmáticas (albumina, lipoproteína,
glicoproteína e globulinas α, ß‚ e γ)
3. Ligados às células sanguíneas

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Distribuição
▪ A ligação às proteínas é reversível e segue a lei da ação das massas.
▪ A quantidade de fármaco ligado à proteína (FP) depende da concentração da droga livre (F), a
constante de associação (K1/K2), o número de locais de ligação livres por cada mol de
proteína e a concentração molar proteína.

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Distribuição
▪ Distribuição nos tecidos
– A distribuição nos tecidos ocorre por difusão simples e em virtude de um gradiente de concentração
Administração Absorção no
– Após a entrada na circulação, a droga deve ser distribuída “para seu local de ação, permeando através das várias
trato GI
oral que separam esses compartimentos”.
barreiras

Sistema Circulação
Fígado
portal sangüínea

ÓRGÃOS
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Distribuição
▪ Distribuição nos tecidos
– O grau de distribuição dos fármacos estará relacionado a alguns fatores:

Fatores relacionados a distribuição

• Propriedades físico-químicas do fármaco.


• Grau de ligação às proteínas plasmáticas.
• Fluxo sanguíneo local
• Presença de fenestrações nos vasos
• Característica teciduais

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Distribuição
▪ Compartimentos farmacocinéticos
– O organismo humano está formado por múltiplos
compartimentos:
› Sangue
› Tecidos altamente vascularizados
› Tecido muscular
› Tecido adiposo

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Caso Clínico:

JCaso Clínico:
CASO CLÍNICO
Dois pacientes vão ser submetidos a uma cirurgia. O primeiro
paciente tem um IMC de 40 e o segundo tem um IMC de 21. No
procedimento anestésico, com o mesmo medicamento, quem será
anestesiado primeiro?

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Distribuição
▪ Compartimentos farmacocinéticos
› Tecidos altamente vascularizados

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Distribuição
▪ Volume de distribuição
– O volume de distribuição pode ser real ou aparente.

Volume de distribuição real

• Representa o volume líquido corporal total no qual o fármaco se


distribuiu, levando-se em conta todos os compartimentos.

Volume de distribuição aparente ou relativo


• Representa o volume de líquido necessário para conter a
quantidade total do fármaco absorvido no corpo numa
concentração uniforme equivalente à do plasma.

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Distribuição
▪ Volume de distribuição aparente

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Distribuição
▪ Fatores que alteram a distribuição dos fármacos
– Fatores que alteram o volume de distribuição influenciam a concentração máxima que é
atingido após uma dose única ou uma dose inicial.
Fatores que alteram o volume real
•Edema, ascite, obesidade, mudanças do fluxo sanguíneo, alterações no pH, lesão em barreiras naturais, etc.

Fatores que alteram a união a proteínas plasmáticas


• Diversos fatores fisiológicos (idade) ou patológicos (hipoalbuminemia), assim como a interação entre
fármacos podem afetar a ligação dos fármacos plasmáticos.

Fatores que alteram a união aos tecidos


• Redução de proteínas teciduais ou de lipídio nas células adiposas.

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Qual a via C?
a) Intravenosa
PERGUNTA
b) Intramuscular
c) Subcutânea
d) oral

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BIBLIOGRAFIA BÁSICA
- BRUNTON, L.L.; CHABNER, B.A.; KNOLLMANN, B.C. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de
Goodman & Gilman. 12 ed., Rio de Janeiro, Ed. McGraw-Hill, 2012.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS - RANG, H.P., DALE, M.M. & RITTER, J.M. Farmacologia. 7 ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
- GOLAN, D. E. TASHJIAN JR., A. H., ARMSTRONG, E. J., ARMSTRONG, A. W. Princípios de
Farmacologia: A base fisiopatológica da Farmacoterapia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
3ª edição, 2014.

- FUCHS, F.D., WANNMACHER, L., FERREIRA, M.B.C. Farmacologia Clínica - Fundamentos da


Terapêutica Racional, Guanabara Koogan, 3a edição, 2004.
- SILVA, P. Farmacologia, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 8ª ed., 2010.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
- PUBLICAÇÕES RECENTES (http://www.scielo.br/) e
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/)
- KATZUNG, B.G.; MASTERS, S.B.; TREVOR, A.J. Farmacologia Básica e Clínica, Rio de Janeiro:
McGraw-Hill, 12ª ed. 2014.
- PAGE, C.P., CURTIS, M.J. SUTTER, M.C. et al., Farmacologia Integrada, São Paulo: Manole, 2ª
ed., 2004.
- TRIPATHI, K. D. Farmacologia médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 5ª edição, 2006.
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