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Caline Helen - 152

ANSIOLÍTICOS
Ansiedade
Definida como um estado emocional desagradável com medo ou emoção
relacionada ao medo, direcionada para o futuro e desproporcional a uma ameaça
reconhecível. Pode causar sintomas somáticos, como aumento da pressão arterial,
taquicardia, sudorese e tremores. Além disso, tem raízes evolutivas e é regulada por
circuitos no sistema límbico do cérebro, incluindo a amígdala e a substância cinzenta
periaquedutal. O tratamento visa distinguir ansiedade fisiológica da patológica (lembrar
que até certo ponto a ansiedade traz benefícios, como melhora da cognição e estado de
alerta – porém caso se torne patológica, há apenas malefícios) e pode envolver fármacos
ansiolíticos.
Características do Transtorno de Ansiedade:
- Incluem vulnerabilidade genética, estilo de vida e gatilhos.
- O eixo HPA (eixo hipotálamo-hipófise-adrenal) está envolvido em transtornos
de ansiedade.
- A amígdala desempenha um papel central na resposta à ansiedade (é estimulada
após eventos estressores, bem como a produção de cortisol), mediada pelo sistema
noradrenérgico.
- Benzodiazepínicos são usados para tratar vários tipos de transtornos de
ansiedade, como ansiedade generalizada, síndrome do pânico e transtorno de ansiedade
social, devido ao seu mecanismo inibitório através da ação dos receptores GABAa na
amígdala, o que freia o excesso de cortisol. Vale lembrar que o hipocampo também inibe
o eixo do cortisol.
FÁRMACOS
Podem ser benzodiazepínicos (BDZs) ou não BDZs (buspirona).
Benzodiazepínicos (BDZs)
➔ Estrutura e Classificação dos Benzodiazepínicos: Os benzodiazepínicos são uma
classe de fármacos caracterizada por sua estrutura química, que consiste em um anel
benzênico acoplado a um anel diazepínico de sete membros, conectado a um radical aril
com diferentes substituições. São classificados como medicamentos de tarja preta devido
ao potencial de causar dependência química.
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➔ Indicações Clínicas: Os benzodiazepínicos são indicados principalmente para o


tratamento de transtornos de ansiedade e distúrbios do sono. Eles têm eficácia
comprovada em vários transtornos de ansiedade, incluindo:
- Transtorno de ansiedade generalizada, caracterizado por preocupação excessiva
por pelo menos seis meses.
- Síndrome do pânico, que envolve a sensação iminente de morte, acompanhada
de taquicardia, sudorese e tremores.
- Transtorno de ansiedade social, que gera medo de falar em público.
- Transtorno de ansiedade de separação.
- Insônia (se for da classe hipnosedativa, que inibe o SARA).
- Anticonvulsivante (atua no córtex mesencefálico).
- Efeito miorrelaxante (relaxa os motoneurônios da medula – ação central).
No entanto, é importante notar que os benzodiazepínicos não são eficazes no
tratamento de fobias específicas (apenas tratadas com terapia).
➔ Mecanismo de Ação no Sistema GABAérgico: Os benzodiazepínicos afetam o
sistema GABAérgico, que é responsável pela inibição do sistema límbico no cérebro. Eles
aumentam a atividade do principal sistema inibitório do cérebro humano, mediado pelo
ácido gama-aminobutírico (GABA). Esses fármacos atuam por meio da modulação
alostérica positiva do receptor GABAa (também é realizada pelo etanol e pelos
barbitúricos, sendo esse último tóxico porque aumenta o tempo de abertura do canal de
cloreto e prolonga muito os efeitos).
➔ Receptor GABAa e Subtipos: O receptor GABAa é formado por cinco
subunidades, incluindo duas subunidades ɑ, duas subunidades β e uma subunidade 𝛾
(formam um canal permeável a cloreto, que entra na célula, gerando uma
hiperpolarização). Existem diferentes subtipos de receptores GABAa, e a afinidade dos
benzodiazepínicos por esses subtipos varia. Isso significa que alguns benzodiazepínicos
são mais adequados para tratar transtornos de ansiedade, enquanto outros são mais
hipnóticos. A subunidade ɑ desempenha um papel fundamental na determinação do perfil
de ação dos benzodiazepínicos.
➔ Efeitos Adversos e Potencial de Dependência: Os benzodiazepínicos podem
causar diversos efeitos adversos, como sonolência, amnésia anterógrada, incoordenação
motora e efeito paradoxal (agitando o paciente em vez de acalmá-lo). Além disso, eles
têm um potencial de dependência, o que significa que os pacientes podem desenvolver
tolerância, exigindo doses mais elevadas para obter o mesmo efeito, e podem
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experimentar sintomas de abstinência ao interromper abruptamente o uso desses


medicamentos.
➔ Divisão dos BDZs:
- Ação predominantemente ansiolítica (Subtipos A, B, C, D): Esses
benzodiazepínicos são usados principalmente no tratamento de transtornos de ansiedade
e atuam em subtipos de receptor GABAa que contêm a subunidade ɑ2, predominante nas
regiões do sistema límbico, que modulam as emoções e a ansiedade. Exemplos incluem
o alprazolam, bromazepam, clonazepam (Rivotril – ajuda quem não dorme por conta da
ansiedade), diazepam, clobazam, clorazepato, lorazepam e clordiazepóxido.
- Ação predominantemente hipnótica (Subtipos E, F 2, M): Esses
benzodiazepínicos são usados na pré-anestesia e no tratamento da insônia. Eles atuam em
subtipos de receptor GABAa que contêm a subunidade ɑ1, justificando seus efeitos
hipnóticos. Alguns exemplos são o estazolam, flunitrazepam, midazolam, flurazepam,
nitrazepam e triazolam (não disponível no Brasil).
➔ Classificação por Tempo de Ação: Os benzodiazepínicos podem ser classificados
de acordo com o tempo de ação:
- Ação curta, como o midazolam.
- Ação intermediária, incluindo alprazolam, bromazepam, estazolam, lorazepam e
temazepam.
- Ação longa, com exemplos como clobazam, clorazepato, clordiazepóxido,
cloxazolam, diazepam, flurazepam, flunitrazepam e nitrazepam.
➔ Parâmetros Farmacocinéticos: Muitos benzodiazepínicos apresentam tempo de
meia-vida prolongado e são metabolizados no fígado, gerando um metabólito ativo
chamado desmetildiazepam (ou nordiazepam), que também possui um tempo de meia-
vida longo. Isso pode afetar a duração do efeito desses medicamentos.
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Benzodiazepínicos como o clordiazepóxido, o diazepam, o prazepam e o


clorazepato (pró-fármaco) são convertidos nesse metabólito, que ainda se conjuga em
outro metabólito ativo, o oxazepam. Para idosos que apresentam certo grau de
comprometimento hepático e renal, o tratamento de escolha, pensando em
benzodiazepínicos, é o lorazepam, que é diretamente conjugado, não produzindo
metabólito ativo.
➔ Preparações por Via Endovenosa: Alguns benzodiazepínicos são administrados
por via endovenosa para interromper crises convulsivas. No entanto, eles, como diazepam
e lorazepam, podem causar sensação de queimação e dor local devido à presença de álcool
propilenoglicol (PEG) nas ampolas. Portanto, a administração intravenosa deve ser
realizada de forma mais lenta.
➔ Flumazenil é importante como ANTÍDOTO de uma "overdose" por fármacos
BDZ, tipo o Diazepam.
Buspirona
É um agonista parcial do receptor 5-HT1A (mas não tem efeito antidepressivo),
serve para tratar TAG e tem efeito lento. Possui pouco efeito sedativo e dificilmente se
potencializa com o uso de etanol. Além disso, tem menos efeitos adversos, como cefaleia,
náusea e tonturas.
➔ A hipótese do mecanismo de ação da buspirona sugere que, inicialmente, a
ativação dos receptores 5-HT1A no núcleo dorsal da rafe resulta na inibição da liberação
de serotonina (ativa a proteína G inibitória acoplada a esses receptores), diminuindo os
níveis desse neurotransmissor no córtex pré-frontal e amígdala. Contudo, com o uso
crônico, ocorre a dessensibilização desses receptores 5-HT1A pré-sinápticos, levando a
um aumento gradual da serotonina nessas regiões. Simultaneamente, ocorre a
dessensibilização afeta os receptores pós-sinápticos 5-HT2 e 5-HT3, que normalmente
aumentam a ansiedade quando estimulados. Somente quando ocorre a dessensibilização
completa desses receptores, tanto pré-sinápticos quanto pós-sinápticos, o paciente
começa a experimentar alívio da ansiedade. Portanto, o mecanismo de ação da buspirona
envolve uma complexa regulação da serotonina ao longo do tempo, resultando
eventualmente na redução da ansiedade.
Considerações finais
O tratamento de primeira escolha para ansiedade são os antidepressivos e para a
insônia são os hipnosedativos. Além disso, é comum usar beta-bloqueadores para tratar
os sintomas da fobia social (apenas alivia, não trata a causa).

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