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Ansiolíticos

Álcool
Delirium induzido por fármacos

Disciplina: SOI V
Curso: Medicina
Profª. Dra. Áurea Welter
ANSIEDADE
 Transtorno da ansiedade
- relação de impotência, de conflito, caracterizado por processos
neurofisiológicos entre a pessoa e o ambiente ameaçador.
- é desencadeada quando um indivíduo confrontado com uma dada situação ou
evento não é capaz de responder as demandas do meio ambiente e sente uma
ameaça à sua existência ou valores essenciais.
(Amorim, D., Amado, J., Brito, I., Costeira, C., Amorim, N., & Machado, J. (2018).
Integrative medicine in anxiety disorders. Complementary therapies in clinical practice, 31, 215-219)
.
Sintomas mais frequentes:
- preocupação, apreensão e nervosismo constantes sobre uma situação na qual
o resultado pode ser incerto.
(Hyde, J., Ryan, K. M., & Waters, A. M. Psychophysiological Markers of
fear and anxiety. Current Psychiatry Reports, 21(7), 56, 2019)
Bases neurofisiológicas da ansiedade
Hipocampo: funções principais o armazenamento da
Sistema límbico memória recente, a formação da memória de longo prazo e a
orientação espacial.
Amígdala: envolvida no processamento do medo e das
emoções, no aprendizado, na recompensa e na resposta de
fuga ou luta.
Formado por um grupo de estruturas
envolvidas no processamento e na Giro do cíngulo relacionado ao processamento da dor, das
regulação das emoções, na memória e emoções, da memória e da autorregulação.
no interesse sexual. Hipotálamo: regula o comportamento e as atividades
fisiológicas do organismo → controla funções autonômicas,
como fome, sede, temperatura, pressão arterial, frequência
cardíaca e atividade sexual.

 Na ansiedade, a amígdala, recebe insumos (ex. do tálamo, do córtex pré-frontal medial e do hipocampo) e
modula as respostas comportamentais e fisiológicas correspondentes por meio de projeções que se estendem
do núcleo central a várias regiões (ex. hipotálamo, tronco cerebral e outros) que finalmente provocam
respostas defensivas de ansiedade e/ou medo.
Bases neurofisiológicas da ansiedade

 SNC: comandado pelo equilíbrio de sinalização excitatória e inibitória.

 Vias de neurotransmissão participam dos mecanismos de ansiedade:


 GABA: desempenha papel na indução do relaxamento, sono e na prevenção de hiper
excitação.
- A disfunção nos canais de cloro resulta em transtornos de ansiedade, epilepsia.

 Serotonina: regula o humor, controla os impulsos, sono, libido, apetite,


temperatura corporal e dor.
-Deficiências do sistema serotonérgico causam distúrbios como depressão,
fobias, estresse pós-traumático e transtorno da ansiedade generalizada.

 Noradrenalina (??)
Bases neurofisiológicas da ansiedade
Ansiedade:

- atividade alterada de neurotransmissores no SNC:

• redução na atividade da serotonina e do GABA→


- diminuição da atividade da ligação com o sítio benzodiazepínico do
receptor GABA.
- regulação anormal da liberação de 5-HT e/ou a recaptação.
Neurotransmissão Gabaérgica
 Receptor do ácido γ-aminobutírico tipo A (GABA A ):
 Distribuídos no cérebro e na medula espinhal.
 Formado por cinco subunidades (duas α, duas β e uma γ) dispostas em um anel, formando um
poro central de cloreto
 Variabilidade de subunidades para o receptor GABA:
α: α1, α2, α3, α4 e α5 Conformação predominante na população:
β: β1 e β2 duas subunidades α1, duas β2 e uma γ2
γ: γ1 e γ2

 A variabilidade genética entre os indivíduos determina com


quais tipos de subunidades o receptor GABA A será formado
e em que quantidade.
Neurotransmissão Gabaérgica
 Substâncias com afinidade pelo receptor GABA A=
 Neurotransmissor ácido γ-aminobutírico (GABA)
→ seu sítio de ligação no receptor é predominantemente na subunidade α.
 Fármacos benzodiazepínicos (BZP):
→ sítio de ligação na interface entre as subunidades α e γ.
 Fármacos barbitúricos:
→ ligam-se predominantemente à subunidade β.

 Álcool

α1: relacionado com a sonolência/sedação.


α2: relacionado com a ansiedade→ efeito ansiolítico.
α5: relacionado com a memória.
Neurotransmissão Gabaérgica
 Neurotransmissor GABA se liga ao sítio ativo (interface entre subunidade α e
β) no receptor GABA A, alterando a sua conformação e como consequência há
abertura do canal de cloro → influxo do íon cloreto → hiperpolarização do
neurônio, inibindo a formação de potenciais de ação.
Ansiolíticos – Benzodiazepínicos
1960 - Benzodiazepínicos→ ansiolíticos mais usados.
Benzodiazepínicos
Mecanismo de ação: ao se ligar no receptor GABA A (interface entre
subunidades α e γ) promove alteração conformacional tornando o receptor mais
apto (maior afinidade) a receber o neurotransmissor, ampliando a ação
promovida pelo GABA, ou seja, aumenta a frequência de abertura dos canais
de cloro → maior influxo de íons cloreto e consequentemente potencializando a
ação do GABA (hiperpolarização) → inibe a formação de potenciais de ação..
Antagonista dos Benzodiazepínicos (antídoto)
Flumazenil (Lanexat®)

Mecanismo de ação:
-Antagonista competitivo no local de ligação do GABA ao receptor GABA A (não
desloca o BZP do receptor mas ocupa este quando o BZP se dissocia)
Indicação:
 Reversão de efeitos sedativos dos BZPs usados na anestesia
 Reversão de efeitos sedativos em quadros de superdosagem e/ou
intoxicação.

- Atua de forma rápida e eficaz (IV);


- Duração de ação ~ 2 horas.
Etanol x Receptor GABA A
Se o etanol é depressor e inibitório,
Etanol: por que sentimos uma leve euforia,
- é um modulador alostérico positivo do GABA A → desinibição?
aumenta a frequência de abertura do canal de cloro
→ hiperpolarização: agente depressor do SNC por O etanol não atua da mesma maneira
aumentar a atividade GABAérgica. sobre o encéfalo, algumas áreas são
preferencialmente inibidas:
- a primeira a ser inibida é o córtex
pré-frontal, sobretudo a porção
ventro-medial, ela é área que é
responsável pela análise das
consequências dos nossos atos e
impulsos (área do “juízo”, freio
dos nossos instintos!!) → se
inibida, há diminuição do
julgamento próprio sobre nossas
atitudes.
.
Neurotransmissão Serotoninérgica

 Receptor para serotonina ((5-HT):


 Sete classes: 5-HT1 à 5-HT7

 Receptor 5-HT1: subdividido nos subtipos 5-HT1A, 5-HT1B, 5-HT1D, 5-


HT1E e 5-HT1F

 Receptores 5-HT1A→ estão mais diretamente envolvidos na ansiedade.

 As vias serotoninérgicas surgem no tronco cerebral inervam várias estruturas


que se acredita estarem envolvidas na ansiedade, incluindo o córtex frontal,
amígdala, hipotálamo e o hipocampo.
Ansiolíticos – Antidepressivos

IRNS

ISRS

ATC

OBS: ISRS são os fármacos de escolha para o tratamento de longo prazo uma vez que pode
haver desenvolvimento de tolerância aos benzodiazepínicos.
Antidepressivos
Mecanismo de ação: inibem a recaptação da serotonina (ISRS e ATC);
inibem a recaptação da serotonina e noradrenalina (IRNS)

Degradação da
serotonina Recaptação da
serotonina

MAO

Exocitose da
serotonina
Ansiolíticos – Azapirona
Azapirona
Mecanismo de ação: agonista parcial do receptor 5-HT1A pós sináptico.
- Atua como antagonista de receptores 5-HT1A pré-sinápticos

OBS:

Ao contrário dos
benzodiazepínicos, alivia a
↑ 5-HT ansiedade sem causar
efeitos sedativos,
miorrelaxantes ou o
comprometimento da
vigilância mental.
Tratamento de transtornos de ansiedade

 Antidepressivos Tricíclicos
 Benzodiazepínicos (BZD)
 Inibidores da Recaptação de
Serotonina e Noradrenalina (IRSNs)
 Inibidores da Recaptação de
Serotonina (IRSs)
 Inibidor da Monoaminooxidase
Reversível (RIMA)

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Transtornos


de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento. 2008, 15 p.
Delirium induzido por fármacos
Delirium:
• Síndrome complexa de início agudo, caracterizada por distúrbios flutuantes:
a) Na atenção (habilidade em focar, manter ou desviá-la);
b) Na consciência (por exemplo, menor orientação para o ambiente)
c) Na cognição (déficit de memória, desorientação, linguagem, capacidade visuoespacial
ou percepção)
Pode ser:
- Hipoativo (idade mais avançada)- apatia, lentificação e sonolência
- Hiperativo- comportamento de hipervigilância, irritabilidade e agitação psicomotora→
sintomas psicóticos são comuns (alucinações visuais e delírios mal estruturados)
- Misto- alternância entre os dois estados acima descritos → padrão mais comum é a
sonolência durante o dia e agitação no final da tarde e à noite
Delirium - Tratamento
•Benzodiazepínico (BZP)–
- Diazepam (1ª opção, meia vida longa, depende do metabolismo hepático para ser inativado/
excretado) - IV/IM e VO; Lorazepam- VO (quando função hepática comprometida (hepatopatas e
idosos) por sofrer apenas conjugação hepática para ser inativado/excretado)
→ tratamento de escolha para a síndrome de abstinência do álcool, prevenindo convulsões e o
delirium tremens (surge 48 a 96 h após abstinência) caracterizado por alucinações,
alteração do nível da consciência e desorientação.
→ devem ser evitados quando o delirium resulta de outras condições porque esses fármacos agravam a
confusão, promovem sedação e podem causar agitação paradoxal.
- objetivo da farmacoterapia na síndrome de abstinência do álcool é o controle dos sintomas através de
um sedativo com tolerância cruzada com o álcool, aliviando os sintomas e prevenindo complicações.
tolerância cruzada: capacidade de uma substância suprimir as manifestações de dependência física
produzidas por outra (isso porque o BZP também se liga ao receptor GABA A).
OBS: síndrome de Wernicke-Korsakoff (pode ocasionar quadro semelhante ao delirium tremens) →
encefalopatia por deficiência de tiamina que pode se manifestar em etilistas (álcool reduz a absorção de
tiamina) e desnutridos → tiamina é precursora da coenzima tiamina pirofosfato, a qual é necessária para
a metabolização da glicose pelas células nervosas → logo, paciente deve receber tiamina (IM/IV).
Delirium - Tratamento

•Antipsicóticos típicos:

- Haloperidol (IV/IM e VO): é o tratamento mais recomendado e utilizado.


→ tratamento de delirium induzido por fármacos psicoativos e anticolinérgicos

- Clorpromazina (IV e VO): segunda opção terapêutica (na falta de


haloperidol)

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