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Empoderamento Profissional da Enfermagem

su INTRODUÇÃO 04


UM POUCO DA HISTÓRIA DA ENFERMAGEM 04

EMPODERAMENTO 07

rio
O empoderamento da enfermagem 08
e seu papel na equipe interdisciplinar

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Empoderamento Profissional da Enfermagem

EMPODERAMENTO PROFISSIONAL DA ENFERMAGEM

INTRODUÇÃO

Vivemos tempos diferentes. A virtualidade das relações e dos serviços tem nos desafiado
a cada dia, com tecnologias que nos fazem mais rápidos na comunicação e na busca de
conhecimento. Mas ao mesmo tempo isola e expõe os profissionais e pacientes. Por isso, é
essencial manter a postura ética, seguir normas e regras regulamentadas para o exercí-
cio profissional da Enfermagem.

Neste contexto, o conhecimento acerca dos marcos legais que regem a atuação da cate-
goria é fundamental para o constante aprimoramento e respaldo da prática profissional.

UM POUCO DA HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


(Quando sabemos de onde viemos, fica mais fácil saber para onde vamos)

A história da enfermagem tem vários momentos importantes, iniciando-se com as práti-


cas de saúde instintivas, com os grupos nômades que viviam em busca de alimentos e de
proteção. O homem tinha a função de trabalhar na agricultura, enquanto à mulher cabia
a função de proteger os homens e os deuses. Os doentes eram colocados perto de santu-
ários e ali ocorriam rituais de magia para purificar o doente. As práticas sacerdotais per-
maneceram por muito tempo até surgirem as escolas específicas para o ensino da arte
de curar, no sul da Itália e na Sicília. Até esse momento, o ensino era voltado para o estudo
da filosofia e das artes.

No final do século V e início do século IV a. C., a ciência e a filosofia se destacaram. Sob o


ponto de vista filosófico, o sofrimento causado pelas guerras sagradas coloca em dúvida
o poder dos deuses. As práticas de saúde, que antes eram místicas e sacerdotais, passa-
ram a ser baseadas no conhecimento da natureza, na experiência, no raciocínio lógico,
desencadeando uma relação de causa e efeito para as doenças. A filosofia se baseava
na investigação livre e na observação dos fenômenos e, por isso, era limitada no que diz
respeito aos conhecimentos anatomo-fisiológicos.

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No período monástico-medieval, a enfermagem aparece como uma prática leiga, sendo


desenvolvida por religiosos. Esse período ficou marcado por uma série de valores, que aos
poucos foram sendo aceitos pela sociedade como característica da enfermagem. Já no
período pós-monástico, final do século XIII e início do século XVI d.C., houve uma evolução
nas ações de saúde e também maior reconhecimento do exercício da enfermagem.

A retomada da ciência, o processo social e intelectual da Renascença e a evolução das


universidades não é um período a ser lembrado com louvor pela enfermagem e pela área
da saúde em geral. As condições de atendimento não eram adequadas, pois os hospitais
encontravam-se precários, os doentes ficavam em depósitos, aglomerados em leitos co-
letivos.

A reorganização hospitalar surgiu com o posicionamento médico a partir do século XIX.


Nessa época, os ricos eram tratados em casa e os pobres eram atendidos por pessoas
mal preparadas. Nesse período, a enfermagem passou a ser reconhecida por Floren-
ce Nightingale (1820-1910), que foi convidada pelo ministro da guerra da Inglaterra para
trabalhar com os soldados feridos na guerra da Crimeia (1854-1856). Florence Nightingale
desenvolveu um trabalho muito importante nessa guerra, pois conseguiu diminuir o índice
de morte dos soldados de 40% para 2%, utilizando apenas medidas de higiene do am-
biente e cuidados com os ferimentos dos soldados.

No Brasil, surgiram discussões sobre ética na enfermagem a partir de 1951, o que se inten-
sificou a partir de 1955. Em 1958, foi aprovado o primeiro Código de Ética de enfermagem,
elaborado por enfermeiras religiosas. Nesse período elas estavam preocupadas com os
aspectos éticos e humanísticos da enfermagem, sendo que o primeiro Código de Ética
era mais voltado para a cultura religiosa.

Portanto, desde Florence já havia uma preocupação com a qualidade do atendimento de


enfermagem dispensada aos pacientes/clientes, o que, de certa maneira, além das for-
mas de tratamento e higiene, também contemplava questões relacionadas ao seu bem-
-estar - por exemplo, conforto, atenção e ambientes tranquilos. Mais recentemente, no
Brasil, Wanda Horta, baseando-se em suas experiências cotidianas com seres humanos,
difundiu um modelo de atendimento de enfermagem que disponibilizou aos pacientes/
clientes um tratamento que permite o autocuidado sem se desvincular do acompanha-
mento da enfermagem.

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Com o surgimento de escolas de enfermagem e a oferta de cursos superiores, o trabalho


em humanização foi intensificado. Se até aí o trabalho da enfermagem estava focado
nos cuidados fisiológicos, a partir de então o papel da enfermagem passou a ser com o
cuidado integral do paciente/cliente. A constituição de uma equipe que vise ao cuidado
integral depende amplamente da formação dos profissionais. A seleção de profissionais
especializados e com intensa formação humanística facilita o desenvolvimento do tra-
balho humanizado, que será executado com prazer e dedicação, sem que eles se deixem
influenciar pelo tecnicismo, que acaba interferindo negativamente na relação com os
outros.

Na integração da equipe, são fundamentais a valorização e o respeito entre os profissio-


nais, que trazem um reflexo positivo na relação entre eles. Quando essa integração acon-
tece, o cliente/paciente sente-se mais confiante, seguro e mais tranquilo no que se refere
a cuidados prestados por toda equipe, o que contribui para a diminuição da ansiedade e
proporciona um ambiente hospitalar mais esperançoso.6

A humanização no âmbito da enfermagem é algo muito almejado. O tecnicismo faz dei-


xar de lado a relação acolhedora no atendimento à saúde. Isso tem gerado a necessida-
de clara de mudança de postura e a busca de condições mais humanas na assistência.
Quanto mais tecnicista o enfermeiro for, menos humano ele se torna. Daí a necessidade
de um novo modo de agir que favoreça ao homem moderno o encontro de si mesmo,
assumindo seus valores. A assistência deve ser prestada segundo uma visão holística, na
qual a solidariedade e a benevolência para com o próximo são imprescindíveis para a va-
lorização do ser humano, estabelecendo, dessa forma, uma relação de ajuda e empatia,
fazendo com que a humanização seja a base da profissão de enfermagem.

A humanização exige uma prática profissional baseada em princípios éticos. A ética,


como ciência, isto é, como forma de conhecimento que se ocupa especificamente do
agir humano, investiga o dever ser e mostra como se deve proceder para que as práticas
nos mais variados espaços de atuação sejam as mais adequadas possíveis. Uma prática
baseada em princípios éticos visa ao bem-estar de todos os possíveis afetados, indepen-
dentemente da posição social, política, religiosa ou econômica, buscando aquilo que é
bom (sem prejuízos, injustiças, danos e sofrimentos) para todos.

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Empoderamento Profissional da Enfermagem

Para se ter maior segurança sobre o exercício profissional com uma postura ética e hu-
manística, juntamente com a regulamentação das diferentes profissões, foram criados os
códigos de ética profissional. Como os códigos de ética integram a legislação que regu-
lamenta a profissão, os princípios nele expostos têm valor de lei e os infratores podem ser
punidos pelos respectivos Conselhos Regionais e Federais. Embora não se deva entender
que a prática profissional ética se limita ao cumprimento dos princípios e deveres expos-
tos nos respectivos códigos de ética profissional, eles são extremamente importantes
para o exercício profissional de maior qualidade.

Como podemos notar, a enfermagem pode ser dividida em duas fases, antiga e moder-
na. A primeira diz respeito aos enfermeiros que eram treinados à prática da enfermagem
através de outras que dominavam essa prática no cuidar dos doentes, desenvolvendo,
nesse sentido, um comportamento baseado em normas, sendo adestradas para cuidar,
apenas com o mínimo preparo teórico que fundamentasse seu trabalho profissional. A se-
gunda, caracterizada pela busca de conhecimento sistematizado, tecnicista e cientificis-
ta, pelo modelo de saúde pautado no capitalismo, exigindo daí à formação universitária,
por parte daqueles que a desejam praticar.

EMPODERAMENTO

Em geral, o empoderamento é o processo pelo qual os indivíduos fortalecem ou desenvol-


vem competências para a promoção de mudanças positivas no contexto em que estão
inseridos. Na literatura de enfermagem, o empoderamento é usado como um conceito
abrangente para descrever elementos de crescimento e desenvolvimento profissional. No
contexto organizacional, há duas concepções teóricas diferentes de empoderamento: (1)
empoderamento estrutural e (2) empoderamento psicológico.

O empoderamento estrutural refere-se à capacidade de mobilizar recursos e atingir


metas por meio do acesso a informações, apoio, recursos e oportunidades. O acesso às
informações refere-se ao conhecimento das mudanças e políticas organizacionais, bem
como aos conhecimentos técnicos necessários para a realização do trabalho. Os enfer-
meiros obtêm acesso ao suporte recebendo feedback e orientação de subordinados,
colegas e superiores, o que possibilita a tomada de decisão autônoma. O acesso aos re-
cursos envolve a capacidade dos enfermeiros de obter suprimentos, recursos e materiais
necessários para atingir as metas organizacionais. As oportunidades referem-se às possi-
bilidades de aprendizado e desenvolvimento profissional dos enfermeiros.

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Empoderamento Profissional da Enfermagem

Mas o empoderamento não se restringe apenas aos enfermeiros. Técnicos e Auxiliares


de enfermagem também necessitam incorporar uma conduta mais ética, segura e com
domínio das técnicas e teorias do cuidado qualificado, pois assim estarão buscando o seu
empoderamento profissional e o da profissão.

O empoderamento psicológico é a resposta psicológica do trabalhador ao empodera-


mento advindo das condições de trabalho, que gera motivação e contribui para o senso
de controle pessoal no local de trabalho. Na Enfermagem, o empoderamento psicológico
envolve a percepção do profissional acerca da valorização do seu trabalho e das suas
contribuições nos processos assistenciais, o que leva a um sentimento de competência e
liberdade. Dessa forma, o empoderamento estrutural leva ao empoderamento psicológico
dos profissionais.

Assim, o empoderamento contribui para uma maior satisfação profissional, diminuição


de índices de burnout, aumento da autonomia e do comprometimento organizacional.
Além disso, impacta positivamente na segurança do paciente e qualidade do cuidado nos
serviços de saúde. Com isso, faz-se necessário que os gestores estejam atentos às suas
práticas organizacionais, uma vez que apenas garantir a qualidade dos aspectos técnicos
dos processos ou serviços não é mais suficiente para manter a eficiência das organiza-
ções, sendo preciso investir, também, nas pessoas envolvidas.

O empoderamento da enfermagem e seu papel na equipe interdisciplinar

A Enfermagem é uma das profissões mais antigas, sendo o esboço histórico da Enferma-
gem Brasileira iniciado por cuidados domiciliares exercidos por escravos a seus senhores.
Até então, era uma prática desempenhada com valor de caridade sem muito ou nenhum
fundamento científico, onde a figura feminina era a sua executora.

Ao avançar da Medicina, este também se fez na Enfermagem, que passou a exercer um


caráter mais científico, através do modelo biomédico e das teorias da transmissão de do-
enças, porém, ainda meramente executivo dos cuidados médicos.

Com o surgimento das teorias de Enfermagem, esta passou a assumir uma figura mais
independente e se inserir não mais como apenas administradora de prescrições médi-
cas, mas sim, como a ciência do cuidado. Logo, a Enfermagem começa então a se revelar
literalmente como uma profissão, sendo a visão anterior de trabalho voluntário exercido
apenas pela vontade de cuidar do outro, numa dimensão mais subjetiva, substituída pelo
embasamento técnico científico necessário ao seu exercício.

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Empoderamento Profissional da Enfermagem

Portanto, aqui inicia-se o empoderamento da Enfermagem. Empoderar vem do inglês


“Empowerment” que significa poder. A palavra poder está associada a capacidade de
executar, aplicar de forma autônoma sem que haja dependência e submissão. O enfer-
meiro exerce papel fundamental na dimensão do cuidar, uma vez que, possui a visão ho-
lística do paciente, considerando-o em toda sua dimensão biopsicossocial.

Contudo, às vezes o próprio profissional se esquece de seu significado no processo saú-


de-doença do indivíduo, se deixando levar pelo autoritarismo e hegemonia médica.

Comumente o trabalho da enfermagem perpassa por diversos problemas, seja na sua


dimensão estrutural/organizacional, seja na sua dimensão ética. No Brasil têm sido de-
nunciadas, sob diferentes abordagens, dificuldades enfrentadas pelos profissionais de
enfermagem no seu cotidiano de trabalho, representadas por baixos salários, duplo em-
prego com longas jornadas, condições inadequadas de trabalho, precariedade de recur-
sos materiais, insuficiência de recursos humanos, relações desrespeitosas na equipe de
saúde e de enfermagem, dentre outros, relacionadas à organização do trabalho.
O enfrentamento desses problemas requer a permanente avaliação, com atitudes e es-
tratégias que favoreçam a sua superação e dificilmente será possível sem discutir as pos-
síveis relações presentes entre o modo como o trabalho da enfermagem no contexto da
saúde vêm se organizando, as relações de poder aí presentes e a dimensão ética desse
trabalho. O caminho para a transformação desta realidade perpassa por reflexões acer-
ca das questões éticas da profissão: Quais seriam as implicações éticas da organização
do trabalho da enfermagem? Existe compreensão e clareza, por parte da enfermagem,
de que o modo como o seu trabalho vem se organizando tem implicações morais e éticas,
isto é, que a sua prática profissional tem permanentes implicações éticas? Há compreen-
são, por parte da equipe de enfermagem e das enfermeiras, de que o seu exercício de po-
der ou o seu não exercício de poder pode ter implicações éticas tanto para si como para
os clientes por elas cuidados?

Além da aparente “falta de poder” percebida pela enfermagem, geralmente associada à


falta de autonomia e à forma de organização do trabalho multiprofissional nas institui-
ções, observa-se que grande parte dos profissionais de enfermagem subestima ou não
reconhece o seu exercício de poder. Comumente prevalece ainda na Enfermagem uma vi-
são confusa acerca de sua própria legislação. Para alguns profissionais, o Código de Ética
Profissional resume-se, fundamentalmente, a execução dos deveres legais, sem, contudo,
construir reflexões próprias e necessárias ao empoderamento da profissão.

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Empoderamento Profissional da Enfermagem

Assim, quando os profissionais de enfermagem aceitam trabalhar em condições organi-


zacionais que não favorecem o cuidado de qualidade, estão negando a si a oportunidade
de assegurar respeito para si e para a sua profissão e, principalmente, falhando em asse-
gurar respeito e o cuidado necessários aos seus pacientes.
Nessa perspectiva, diversos profissionais, diante dos dilemas éticos decorrentes, demons-
tram que estão cada vez mais à procura de respostas que lhes assegurem a dimensão
humana das relações profissionais, principalmente, as associadas à autonomia, à justi-
ça e à necessidade de respeito à dignidade da pessoa humana. E para transformar esta
realidade, a principal ferramenta que os profissionais de enfermagem precisam buscar é
o conhecimento.

Desta forma, o empoderamento da enfermagem está diretamente relacionado ao co-


nhecimento aprofundado das bases legais e ética da profissão de enfermagem no nosso
país, possibilitando a construção de uma assistência que ofereça mais segurança, quali-
dade, autonomia e reconhecimento à enfermagem.

Preparar os profissionais para o trabalho técnico, incluindo a teoria e a prática é funda-


mental, assim como desenvolver legislação específica, contudo, a ética trata-se de cons-
trução diária e continua, que sofre interferência da experiência pessoal, profissional e
religiosa, dessa forma, é essencial criar uma cultura ética que permeia as relações profis-
sionais.

Faz-se fundamental ressaltar a importância de estimular a discussão acerca do CEPE,


da ética e Lei do exercício profissional, tanto em ambiente acadêmico quanto no ambien-
te de trabalho, a fim de contribuir para o embasamento ético dos alunos e profissionais
quanto a sua prática laboral, na tentativa de contribuir para que estes se fazem cientes
acerca de seus direitos e deveres, impostos pelo ofício, dando-lhes apoio perante situa-
ções conflituosas, fornecendo assim segurança aos profissionais para agir de acordo com
as normas, eticamente e moralmente.

“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam


o mundo.” Paulo Freire

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Empoderamento Profissional da Enfermagem

Precisamos mudar nosso enfoque profissional através de mudanças de atitudes.


Fazemos parte de uma equipe em que todos são relevantes para a integralidade e res-
tauração da saúde individual e coletiva. Precisamos enxergar além do que nossos olhos
veem. Aplicar de fato, tudo aquilo que aprendemos em termos de conhecimento tecnico-
-científico-humanístico. Se empoderar disto para fazer da Enfermagem, na prática, como
ela é vista por seus teóricos: a ciência do cuidado.

Não se esqueça de que tudo começa pelo conhecimento e consciência da relevância do


seu papel.

Para transformar a realidade da nossa profissão, é importante que você se aprofunde


nesse tema e para isso, deixamos como sugestão a leitura do material complementar:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0104-11692020000100425&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/9017/1/Revista%20Percursos%20n03_En-
fermagem%20-%20Empoderamento%20em%20Sa%C3%BAde%20-%20O%20Papel%20
do%20Enfermeiro.pdf

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