Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
4
Lipídios
94
A possibilidade de transformar óleo em margarina decorre de uma propriedade das moléculas de
ácidos graxos que compõem o glicerídio. Se os ácidos graxos forem todos de cadeia saturada, isto
é, se todos os carbonos da cadeia de ácido graxo estiverem unidos por ligações simples, o glicerídio
será uma gordura. Por outro lado, se um ou mais dos ácidos graxos do glicerídio tiverem cadeia
insaturada, isto é, apresentarem dupla ligação entre um ou mais pares de carbonos da cadeia, o
glicerídio será um óleo. Os químicos das indústrias de margarina promovem a ligação de átomos
de hidrogênio aos carbonos que fazem a ligação dupla, desfazendo-a. Assim, as cadeias carbônicas
de ácido graxo, artificialmente saturadas, tornam-se “retas” e podem adquirir um empacotamento
mais denso, passando a apresentar consistência pastosa à temperatura ambiente. (Fig. 3.18)
Ácido palmítico
H O (saturado)
H C O C CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3
H C O C CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3
Ácido esteárico
O (saturado)
H C O C CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH
CH
H CH
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
2
GLICEROL CH
Figura 3.18 Fórmula estrutural 2
de um glicerídio constituído por CH
2
três ácidos graxos distintos. Note CH
que os dois ácidos graxos saturados têm 2
CH
cadeia carbônica “reta”, enquanto o ácido 2
oleico é insaturado devido à presença de dupla CH
2
ligação, apresentando uma “dobra” na cadeia. Moléculas CH
2
de ácidos graxos de cadeias saturadas podem aproximar-se CH
Óleos vegetais mais umas das outras, formando um empacotamento mais Ácido oleico 3
Os seres vivos utilizam glicerídios como reserva de energia para momentos de necessidade.
Por exemplo, muitas plantas armazenam grande quantidade de óleo em suas sementes, cuja
função é alimentar o embrião durante seu desenvolvimento. A soja, o girassol, o milho e a canola,
entre outras plantas, têm sementes oleaginosas, utilizadas pela humanidade na fabricação de
óleo de cozinha. Aves e mamíferos armazenam gordura em células especiais, em uma camada
embaixo da pele. Além de servir de reserva energética, essa camada gordurosa atua como um
isolante térmico, ajudando a manter constante a temperatura corporal.
Pesquisas científicas têm mostrado os perigos do consumo excessivo de alimentos gordu-
rosos, principalmente os de origem animal. Os ácidos graxos saturados podem levar ao desen-
volvimento da aterosclerose (deposição de lipídios na parede das artérias com perda de sua
elasticidade), o que pode resultar em doenças cardiovasculares, causar infarto do coração e
acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
Uma dieta saudável deve conter certa quantidade de gorduras e óleos, pois, entre outras
funções, eles são necessários para o organismo absorver as chamadas vitaminas lipossolúveis
(vitaminas A, D, E e K), que só se dissolvem em lipídios. Além disso, também necessitamos de
certos ácidos graxos que não conseguimos produzir, os chamados lipídios essenciais. Eles estão
presentes em diversos óleos vegetais e em peixes marinhos (por exemplo, no conhecido óleo
de fígado de bacalhau), e são importantes para a construção das membranas celulares e para a
síntese das prostaglandinas, substâncias que regulam diversos processos orgânicos, como con-
tração da musculatura lisa, agregação de plaquetas do sangue, processos inflamatórios etc.
Ceras
Ceras são substâncias formadas por uma molécula de álcool diferente do glicerol unida a
uma ou mais moléculas de ácidos graxos. Há ceras constituídas por moléculas de álcool de até
16 átomos de carbonos na cadeia.
9
Por serem altamente insolúveis em água, as ceras são muito
úteis para plantas e animais. As folhas de muitas plantas têm a su- CH3
Esteroides CH2
Os esteroides diferem marcadamente de glicerídios e ceras,
HC CH3
constituindo uma categoria especial de lipídios. As moléculas de CH3
esteroides são compostas por átomos de carbono interligados,
formando quatro anéis carbônicos, aos quais estão ligadas cadeias
CH3
carbônicas, grupos hidroxila ou átomos de oxigênio. (Fig. 3.19)
O colesterol é um dos esteroides mais conhecidos, princi-
palmente por estar associado ao infarto do coração e a outras
doenças do sistema cardiovascular. Sabe-se que a ingestão HO
exagerada de colesterol nas gorduras animais pode trazer diver- Colesterol
96
Fosfolipídios A
Região polarizada
Do ponto de vista químico, um fosfolipídio é um glicerídio combinado a um grupo +
H2C N(CH3)3
fosfato. A molécula de fosfolipídio lembra um palito de fósforo, com uma “cabeça”
H 2C
eletricamente carregada e uma haste sem carga elétrica, constituída por duas
“caudas” de ácido graxo. O
–
O P O
As membranas biológicas são formadas por fosfolipídios organizados em
duas camadas, nas quais se incrustam moléculas de certas proteínas. Essas H
O
membranas são elásticas porque as moléculas de fosfolipídios podem mover-se H2C C CH2
livremente nelas, reorganizando-se sem perder o contato umas com as outras.
O O
Essa capacidade de reorganização evita a ruptura das membranas e explica sua C O
C O
alta capacidade de regeneração. (Fig. 3.20)
CH2 CH2
CH2 CH2
B Proteínas Glicídios
CH2 CH2
CH2
CH2
CH2
CH2
Região apolar
CH2
CH2
CH2
CH2
CH
CH2
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CH
CH2
Figura 3.20 A. Estrutura CH2
molecular da lecitina, fosfolipídio Camada dupla CH2
CH2
fundamental na composição das de fosfolipídios CH2
membranas das células vivas. CH2
Membrana CH2
B. Representação esquemática celular CH2
da estrutura da membrana celular, CH2
CH2
mostrando a organização dos CH2
fosfolipídios que a compõem. CH2
CH2
Note moléculas de proteínas e de CH2
glicídios dispersas na camada dupla CH2
CH3
de fosfolipídios. (Representação CH3
sem escala, cores-fantasia.)
Carotenoides
Carotenoides são pigmentos, de cor vermelha, laranja ou amarela, insolúveis em água e
solúveis em óleos e solventes orgânicos. Estão presentes nas células de todas as plantas, nas
quais desempenham papel importante no processo de fotossíntese.
Os carotenoides são importantes também para muitos animais. Por exemplo, a molécula de
caroteno, um carotenoide alaranjado presente na cenoura e em outros vegetais, é matéria-prima
para a produção da vitamina A, essencial a muitos animais. Essa vitamina é importante, por
exemplo, para nossa visão, pois é precursora do retinal, uma substância sensível à luz presente
na retina dos olhos dos vertebrados. (Fig. 3.21)
Molécula de betacaroteno
O2
CH3 CH3
CH3 CH3 Ponto de
CH3 C CH2
ruptura
H2C C CH C CH C CH CH CH CH CH C CH2
CH2 C CH CH CH CH CH C CH C CH C CH2 O2 [4 H]
Figura 3.21
H2C C A molécula do
CH3 CH3 CH3
betacaroteno,
CH3 CH3
presente
em diversas
CH3 CH3 CH3 H CH3 CH3 CH3 H plantas, quando
H H
H2C H2C
absorvida por
C CH C CH C C C CH C CH C C nossas células
CH2 C CH CH CH CH OH CH2 C CH CH CH CH OH origina duas
moléculas de
H2C C H2C C vitamina A,
2 moléculas de importante
CH3 CH3 vitamina A CH3 CH3 para a visão.
9
AMPLIE SEUS A química de uma bolha de sabão
CONHECIMENTOS
Se você já brincou com bolhas de sabão, então As micelas, por sua vez, formam-se no interior da
conhece uma das membranas lipídicas mais simples. água. As moléculas de sabão se agrupam em estru-
O sabão é obtido pelo tratamento de gorduras com turas esféricas, com as caudas voltadas para dentro,
substâncias alcalinas. Uma antiga receita caseira para protegidas do contato com a água, e as cabeças
produzir sabão consiste em ferver sebo (gordura animal) voltadas para fora, satisfazendo sua afinidade pelo
com um pouco de água e soda cáustica (NaOH). As mo- líquido ao redor.
léculas de gordura presentes no sebo — os ácidos graxos As camadas duplas também se formam no interior
— reagem com NaOH, transformando-se em sabão. da massa de água. Na verdade, elas são bolhas de sabão
As moléculas de sabão apresentam uma “cauda”, com água em seu interior. A membrana da bolha é com-
constituída por cadeias lineares de ácidos graxos, e uma posta por uma camada dupla de moléculas de sabão.
“cabeça” formada por um grupamento ácido (carboxila), Como existe água tanto fora como dentro da bolha, as
combinado com um íon de sódio. Enquanto a “cabeça” moléculas das camadas interna e externa ficam com as
da molécula de sabão apresenta-se eletricamente car- cabeças voltadas para a água e com as caudas em conta-
regada, a “cauda” é eletricamente neutra. to. Ao agitar uma mistura de água e sabão, vemos que na
Quando mergulhadas em água, as cabeças das molé- superfície se formam bolhas, que podem eventualmente
culas de sabão, portadoras de cargas elétricas negativas, se desprender e flutuar no ar. (Fig. 3.22)
atraem moléculas de água, uma vez que estas possuem As membranas dessas bolhas também são es-
do sabão
Exterior
Região polar da bolha
do sabão
MICELA Superfície
da água Membrana
da bolha
Água com
sabão Moléculas
de água
Figura 3.22 Representação da
organização das moléculas de sabão
nas bolhas e na água. (Representação
sem escala, cores-fantasia.)
98