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EXCELENTÍSSIMO(A) JUIZ (ÍZA) FEDERAL DA ...

ª VARA FEDERAL
DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ... – SEÇÃO JUDICIÁRIA DO
ESTADO DE ...

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO – CONCESSÃO DE


APOSENTADORIA POR INVALIDEZ –
CONTRIBUIÇÕES AUTÔNOMAS QUE NÃO
DESCARACTERIZAM ATIVIDADE HABITUAL.

O RECORRENTE, já qualificado nos autos em epígrafe, na ação movida


em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS,
igualmente qualificado, vem, por seus advogados, respeitosamente,
perante Vossa Excelência, inconformado com a sentença, interpor

RECURSO INOMINADO

com fundamento no art. 41 da Lei n. 9.099/95 c/c art. 5º da Lei n.


10.259/01, através das razões anexas, as quais requer, após
processadas, sejam recebidas nos seus efeitos legais e encaminhadas à
Turma Recursal da Seção Judiciária de....

Nestes termos, requer deferimento.

Cidade/SC, data do protocolo eletrônico.


EGRÉGIA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

1. RAZÕES DO RECURSO INOMINADO

Colenda Turma Julgadora.

A Recorrente ajuizou ação visando à concessão de


aposentadoria por invalidez em razão de diversas moléstias que sofre e
não mais deter condições de realizar seu labor habitual (… [profissão]).

Realizada perícia médica na Recorrente, ficou constatado que


esta se encontra incapaz “de modo permanente para atividades que
exijam calçado fechado como EPI e não para do lar” (Quesito “…” do
Laudo Pericial).

Em que pese o parecer favorável do perito judicial, o MM. Juiz


sentenciante, ao analisar o feito, julgou-o improcedente, por entender
que “na data de início da incapacidade apontada pelo perito judicial a
Autora era do lar, atividade para a qual não existia e nem existe
limitação. É dizer, quando do início do trabalho como servente em 30-10-
2010 a Autora já não apresentava condições laborativas para a
atividade em questão” (sic, sentença de fls. …).

Entretanto, em que pese à ilação expendida pelo


Excelentíssimo Magistrado a quo, a sentença merece ser reformada,
ante os motivos expostos a seguir.

2. INCAPACIDADE DA RECORRENTE

Inicialmente, deve-se destacar que a incapacidade laborativa


da Recorrente para atividades que exijam calçado fechado restou
amplamente demonstrada no decorrer do feito e assim restou
reconhecida pelo Juiz a quo:

Realizado exame técnico, o perito judicial concluiu que a parte


autora encontra-se incapaz, de modo permanente, para as
atividades que exijam calçado fechado como equipamento de
proteção individual, mas que não existe incapacidade para do
lar. Fixou a data de início da incapacidade em 01-2010 e
afirmou, ainda, que:

a) Autora não apresenta sinais de radiculopatias e não


apresenta contratura da musculatura paravertebral. Além
disso, não há sinais de desuso dos MMSS e MMII e não há
perda de força e atrofias musculares. Quanto à lesão no pé
esquerdo, a Autora apresenta, no presente exame clínico
pericial, lesão com a descrição exatamente igual à lesão da
primeira perícia administrativa do INSS, na qual foi
identificada a lesão, em junho de 2010, e na qual a Autora
relatou que possuía tal lesão há, aproximadamente, 5 meses.
Na opinião do perito, tal lesão tem aspecto de lesão psoriática.
Apesar de todos os tratamentos relatados pela Autora e ainda
em andamento, segundo a mesma, não há alteração no aspecto
da lesão. (sic, sentença de fl. …).

Destarte, como a incapacidade laborativa da Recorrente para


atividades que exijam calçado fechado restou irrestritamente
reconhecida na sentença atacada, não há que se fazerem maiores
considerações sobre este aspecto.

3. ATIVIDADE HABITUAL – DESCARACTERIZAÇÃO INDEVIDA

Muito embora o MM. Juiz sentenciante tenha reconhecido a


incapacidade laborativa da Recorrente para atividades que exijam
calçados fechado como EPI, julgou o pedido daquela improcedente por
considerar que a sua atividade habitual era dona de casa e não de
servente.

A fim de justificar sua decisão, o Juiz sentenciante se utilizou


dos seguintes fatos: a) nos períodos em que a Recorrente contribuiu de
forma individual para a Previdência Social não exerceu atividade
laborativa, sendo seu esposo o responsável pelos recolhimentos
efetivados; b) na data do início da sua incapacidade, a Recorrente
declarou-se “do lar” em perícia administrativa realizada pelo INSS.
Tais conclusões, data vênia, não merecem prosperar.

Inicialmente, importante destacar quais as funções exercidas


pela Recorrente durante sua vida, bem como os períodos em que
recolheu contribuições de forma individual:

Empresa Função Período

Consoante se observa da tabela acima, a Recorrente, ao longo


da sua vida, sempre exerceu atividades relacionadas a limpeza de
ambientes. Todos os vínculos trabalhistas que possui referem-se as
atividades de auxiliar de serviços gerais e servente.

Entretanto, consoante asseverado pela Recorrente em seu


depoimento pessoal, ela sempre sofreu de fortes dores em sua coluna,
fato que inclusive pode ser corroborado pelos exames anexados na
inicial.

Em razão disto, nos períodos em que se sentia indisposta para


exercer atividades físicas desgastantes, e não lograva obter benefício por
incapacidade, a Recorrente parava de exercer seu labor e ficava em
casa. A fim de não perder sua qualidade de segurada, seu esposo lhe
auxiliava a contribuir ao INSS.

Todavia, o fato de não exercer, efetivamente, atividade


laborativa nos períodos em que contribuía de forma individual ao INSS,
não é suficiente para descaracterizar sua atividade habitual, que é de
servente/auxiliar de serviços gerais.

Isto porque, não se pode excluir da proteção previdenciária o


segurado que deixa de laborar, mas continua contribuindo à
Previdência Social, por não estar capaz para seu labor.
Observa-se, ademais, que nos períodos em que contribuía de
forma individual à Previdência Social, a Recorrente fez diversos
requerimentos administrativos para concessão do benefício por
incapacidade, passando por inúmeras perícias, as quais lhe
consideraram capaz para o labor.

É certo, desta forma, que caso houvesse parado de contribuir


para a Previdência Social quando se sentia incapaz de trabalhar, a
Recorrente teria, a muito, perdido sua qualidade de segurada, o que sua
família não podia permitir, razão pela qual auxiliavam-na a verter as
devidas contribuições.

Frise-se que na data do início da incapacidade fixada pelo


perito judicial (em …), a Recorrente recém tinha passado por perícia
administrativa (em …) e logo após passou por outra (em …), sendo que
ambas atestaram que aquela estava capaz para suas atividades
laborativas, o que demonstra que o medo de perder sua qualidade de
segurada era justificado!

Não obstante isso, muito embora ainda estivesse incapaz para


suas funções, a Recorrente, após a última negativa do INSS em lhe
conceder benefício, voltou a laborar, iniciando vínculo com a empresa ...
em …, circunstância que levou ao agravo das suas moléstias, já que
fazia uso de calçados fechados.

Ressalta-se, ademais, que, consoante asseverado pela


Recorrente em seu depoimento pessoal, a doença que sofre em seu pé
esquerdo (e que gera sua incapacidade) tem períodos de remissão e
agravamento, o que justifica a possibilidade de ter retornado ao labor,
para após ver-se totalmente incapacitada.

A Recorrente está entre os muitos segurados do INSS que


continuam contribuindo, muito embora não tenham condições de
exercer seu labor habitual. Felizmente a Recorrente conta com o apoio
da sua família, especialmente seu esposo, que lhe auxiliam a verter
contribuições para que não perca sua qualidade de segurada.

Neste sentido já decidiu o Tribunal Regional Federal da 4ª


Região:

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. INCAPACIDADE


PARCIAL COMPROVADA. LAUDO PERICIAL. DESCONTO DAS
CONTRIBUIÇÕES RECOLHIDAS. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. TUTELA ESPECÍFICA.
I. Evidenciada a incapacidade definitiva do segurado, com base
na perícia judicial, correta a concessão de auxílio-doença,
desde o requerimento administrativo, com a posterior
conversão em aposentadoria por invalidez a partir do laudo
pericial.
II. Nas ações em que se objetiva o benefício de auxílio-doença
ou aposentadoria por invalidez, o julgador firma seu
convencimento, via de regra, com base na prova pericial.
III. O recolhimento de algumas competências ao RGPS pelo
segurado não obsta o recebimento do benefício, tampouco
enseja qualquer desconto, entendendo-se que o Autor,
mesmo incapaz para o labor - situação reconhecida na
instrução pelo perito judicial - teve cessado/ não obteve o
seu benefício na via administrativa - o que justifica
eventual retorno ao trabalho para a sua sobrevivência ou o
recolhimento de contribuições como contribuinte
individual.
IV. A fixação dos honorários advocatícios em 10% sobre o valor
das prestações vencidas é a que se mostra em consonância
com o entendimento da 3ª Seção Previdenciária deste Tribunal.
V. Deve-se determinar a imediata implantação do benefício
previdenciário, considerando a eficácia mandamental dos
provimentos fundados no art. 461 do CPC, e tendo em vista
que a presente decisão não está sujeita, em princípio, a recurso
com efeito suspensivo. (TRF4, AC n. 0004115-
37.2013.404.9999/RS, Des. Federal ROGERIO FAVRETO, 5ª
Turma, julgado em 08 de maio de 2013, sem grifo no original)

Do corpo do acórdão igualmente pode-se extrair:

Quanto ao fato de ter sido determinado o desconto dos


recolhimentos de contribuições feitos ao RGPS, os autos dão
conta de que o segurado recolheu, durante algumas
competências, contribuições à Previdência, a fim de manter a
sua qualidade de segurado.
Tal situação não obsta o recebimento do benefício, tampouco
enseja qualquer desconto, entendendo-se que o Autor, mesmo
incapaz para o labor - situação reconhecida na instrução pelo
perito judicial - teve cessado/ não obteve o seu benefício na via
administrativa - o que justifica eventual retorno ao trabalho
para a sua sobrevivência ou recolhimento de contribuições ao
RGPS.
Não se desconhece a realidade fática das pessoas que, em
diversas situações, são obrigadas, mesmo sem condições
físicas plenas, a voltar ao exercício laboral, em razão da
necessidade por não possuírem outras fontes de sustento.
Ademais, em análise da situação posta nos autos, não se trata
de hipótese em que houve a reabilitação profissional, já que o
laudo atestou a impossibilidade de retorno às atividades
habituais no período trabalhado.

Observa-se, da análise do julgado, que a jurisprudência pátria


mostra-se empática à realidade do segurado do INSS, a contrário do
Juiz a quo. A Recorrente, como muitos outros em situação idêntica,
passou por períodos em que não logrou laborar, todavia, como não
obteve a concessão de benefício por incapacidade, continuou a
contribuir e, eventualmente, voltou a trabalhar, muito embora sem
condições.

O Juiz a quo entendeu que pelo fato de não ter laborado nos
períodos em que verteu contribuições como contribuinte individual é
suficiente para descaracterizar sua atividade habitual de
servente/auxiliar de serviços gerais, para enquadrá-la na categoria de
dona de casa, o que não pode prosperar.

Por vários anos a Recorrente trabalhou como profissional


encarregada de limpeza de ambientes. Todos seus os seus vínculos
trabalhistas assim o demonstram. O fato de ter contribuído por alguns
meses, sem efetivamente trabalhar, por não estar apta a seu labor
habitual não é suficiente para descaracterizar este e transformar a
Recorrente em dona de casa.

Caso esse fosse o entendimento adotado em outros casos é


certo que muitos pedreiros, costureiras, marceneiros, serventes e
inúmeros outros profissionais que ficam alguns meses sem laborar,
mas continuam a contribuir de forma individual à Previdência, teriam
suas profissões descaracterizadas e seriam considerados do lar.

Assim, como a Recorrente ainda detinha a qualidade de


segurada quando do início da sua incapacidade, bem como o perito
considerou que esta é permanentemente incapaz para atividades que
exijam calçados fechados, faz jus à concessão do benefício de
aposentadoria por invalidez.

Logo, a reforma da sentença proferida, concedendo o benefício


de aposentadoria por invalidez à Recorrente, é medida de justiça a ser
tomada.

4. REQUERIMENTOS

Ante todo o exposto, requer seja o presente Recurso Inominado


conhecido e provido em sua integralidade, para REFORMAR a sentença
atacada, que julgou improcedente os pedidos da Recorrente e, em
consequência:

1) julgar procedentes os pedidos formulados na inicial, para


conceder o benefício de aposentadoria por invalidez à Recorrente, já que
permanentemente incapacitada para o seu labor habitual;

2) condenar o Recorrido a pagar as parcelas vencidas desde a


data da cessação administrativa do benefício, em …, à Recorrente, as
quais deverão ser monetariamente corrigidas desde o respectivo
vencimento e acrescidas de juros legais moratórios desde a citação,
tudo até a data do efetivo pagamento;

3) condenar o Recorrido ao pagamentos das custas


processuais e honorários advocatícios.

Nestes termos, requer deferimento.

Cidade/SC, data do protocolo eletrônico.

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