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SAÚDE DO ADULTO

INFECTOLOGIA
LEPTOSPIROSE:
1. INTRODUÇÃO:

- Doença infecciosa febril aguda início abrupto, cujo


espectro clinico pode variar desde um processo
inaparente (assintomático) até formas graves
- Considerada uma zoonose, em que existe um animal
(rato) envolvido no ciclo de transmissão da doença
- É uma doença endêmica no Brasil, podendo ser
considerada epidêmica em algumas situações de
catástrofes e eventos naturais extremos que leva ao
contato com águas contaminadas
- Distribuição mundial
- Exposição a águas contaminadas Obs.: O homem é apenas um hospedeiro acidental,
2. ETIOLOGIA: não infectando outras pessoas com a Leptospira
- Bactérias patogênicas da ordem Spirochaetales, - Enchentes associadas à aglomeração populacional de
família Leptospiracea, gênero Leptospira baixa renda, condições inadequadas de saneamento
básico e alta infestação de roedores infectados
- Existem 23 espécies incluindo 10 espécies
patogênicas; 6 intermediarias e 7 saprofíticas - Mais frequente em homens jovens
- Leptospira interrogans é a espécie patogênica mais - Trabalhadores mais acometidos: profissionais do
importante serviço de água e esgotos, tratadores de animais e
lavradores
- Mais de 300 sorovares (sorotipos) já foram
identificados  A leptospirose pode ser considerada uma
doença de acometimento ocupacional
- No Brasil, os sovares Icterohaemorrhagiae e
Copenhageni estão relacionados aos casos mais graves TRANSMISSÃO:
- A infecção humana resulta da exposição direta ou
indireta a urina de animais infectados
- Seja através da pele com presença de lesões ou por
meio da pele integra imersa por longos períodos em
água contaminada possibilita a entrada da Leptospira
no organismo humano
- Com rara frequência ocorrerá por contato com
sangue, tecidos e órgãos de animais infectados ou
transmissão acidental em laboratórios ou ingesta de
água ou alimentos contaminados
- Período de incubação: de 1 a 30 dias (média de 5 a 14
3. EPIDEMIOLOGIA: dias)

- Principal reservatório: roedores das espécies Rattus - Período de transmissibilidade está relacionado ao
norvegicus (ratazana ou rato de esgoto), Rattus rattus roedor
(rato de telhado ou rato-preto) e Mus musculus
- Suscetibilidade e imunidade: a suscetibilidade é geral
(camundongo ou catita)
e a imunidade adquirida pós-infecção é sorovar-
Obs.: Esses animais não desenvolvem a doença, especifica
servindo apenas de reservatório, além de eliminar a 4. PATOGENIA:
leptospirose pela urina
- É uma doença septicêmica, ou seja, disseminação
para todos os órgãos do organismo, principalmente
fígado, rim, músculos, coração e pulmões

GIULIANNA MONTENEGRO
- Há 3 processos básicos de lesão: - Os músculos apresentam necrose hialina focal,
miocitos vacuolados e infiltrado mononuclear
 Produção de toxinas
 Ação direta da bactéria nos vasos (vasculite) 5. QUADRO CLÍNICO:
 Provocada pela interação antígeno-anticorpo - Fase precoce / Leptospirêmica: instalação abrupta de
FÍGADO: febre, comumente acompanhada de cefaleia e mialgia
e, frequentemente, não pode ser diferenciada de outras
- Há sinais de colestase, com algumas alterações causas de doenças febris agudas
morfológicas nos hepatócitos que predominam na
região centrolobular  Leptospira presente no LCR e sangue

- Os sinais inflamatórios são discretos, sendo a - Fase tardia / Imune: em aproximadamente 15% dos
disfunção hepática predominante na região da excreção pacientes e ocorre a evolução para manifestações
biliar. clinicas graves

 Há grandes elevações de bilirrubina direta e  Ac IgM presente na circulação sanguínea


leve aumento das aminotransferases - Fase de convalescença
RINS: FASE LEPTOSPIREMICA:
- Pode haver nefrite intersticial e necrose tubular, mas - Inicio agudo
com a disfunção renal é desproporcional para os
achados necroinflamatórios - Tende a ser autolimitado e regride em 3 a 7 dias sem
deixar sequelas
- A isquemia renal, decorrente da hipovolemia é um
fator contribuinte para a lesão renal - Sindrome gripal

- O edema intersticial pode ser proeminente, - Cefaleia frontal


justificando o aumento do órgão.
- Dor muscular (panturrilhas e regiao lombar)
Obs.: A IRA da leptospirose cursa com elevação das
- Febre (38,9ºC) e calafrios
escórias nitrogenadas, geralmente não superiores a 100
mg/dl de ureia e 2-8 mg/dl de creatinina. Contudo, em - Anorexia, náuseas e vômitos
casos mais graves as escórias alcançam valores acima
de 300 mg/dl para ureia e 18 mg/dl para creatinina, - Sufusão conjuntival: hiperemia e edema da
cursando com síndrome urêmica franca e necessidade conjuntiva ao longo das fissuras palpebrais
iminente de diálise.

PULMÃO:
- É a principal causa de óbito na leptospirose
- A lesão pulmonar é decorrente de uma capilarite
difusa, levando ao extravasamento do liquido e sangue
para os alvéolos
- Surgem infiltrados hemorrágicos no pulmão que Sufusão Conjuntival
podem se expressar clinicamente com hemoptise e/ou
FASE IMUNE:
insuficiência respiratória
- Miocardite, acompanhada ou não de choque e
CORAÇÃO: arritmias agravadas por distúrbios eletrolíticos
- Miocardite mononuclear, semelhante aos achados da - Pancreatite
febre reumática que pode levar a insuficiência cardíaca
e ser eventualmente a causa de óbito da leptospirose. - Anemia

MUSCULO ESQUELETICO: - Meningite asséptica: cefaleia intensa, vômitos e


sinais de irritação meníngea
- A miosite é um achado bastante frequente, mesmo na
forma anictérica - Mielite e neuropatia periférica

Giulianna Montenegro
Obs.: Não encontra mais a Leptospira na corrente
sanguínea

FASE DE CONVALESCENCIA:
- De 01 a 02 meses
- Astenia e anemia
- Leptospirúria por 01 a mais semanas
- Desaparecimento da icterícia
- Uveite unilateral ou bilateral (irite, iridociclite e
coriorretinite)

LEPTOSPIROSE GRAVE – SINDROME DE


WEIL:
6. DIAGNOSTICO:
- É caracterizada pela tríade: icterícia rubínica,
insuficiência renal e hemorragia pulmonar EXAMES INESPECIFICOS:
Obs.: Após 4-9 dias da fase tardia, as complicações - Anemia hipocrômica
que definem a síndrome de Weil começam a aparecer.
- Leucocitose com desvio para a esquerda
- Plaquetopenia
- VHS e CPK elevadas
- Hiperbilirrubinemia as custas de direta
- Transaminases normais ou aumentadas (<500)
- Comprometimento pulmonar:
- FA aumentada
 Tosse seca
 Dispneia - Atividade de protrombina diminuída
 Expetoração hemoptoica
 Dor torácica - Vitamina K normal ou diminuída
 Cianose - Ureia e creatinina aumentados, se IRA
 Radiografia: infiltrado nodular ou alveolar
heterogêneo com predomínio na base (pulmão - Proteinuria, hematúria microscópica e piúria
de SARA)
- LCR xantocrômico se ictericia, pleiocitose
- Insuficiência renal aguda: linfomonocitária, glicose e pressão podem ser normais,
proteínas elevam-se pouco (<300)
 Não oligúrica
 Hipocalemia, inicialmente - ECG: fibrilação atrial, bloqueio atrioventricular e
alteração da repolarização ventricular
- Nesta forma, é comum a hepatomegalia. A
esplenomegalia pode ser detectada em 20% dos casos - Rx de tórax: infiltrado alveolar e lobar, bilateral ou
unilateral, congestão e SARA

EXAMES ESPECIFICOS:
- O teste de Aglutinação Microscopica (MAT) é o teste
padrão ouro recomendado pela OMS, para dx de
infecção por Leptospira
- A IgM Elisa as vezes pode torna-se positivo um
pouco mais cedo que o MAT, mas pode haver falsos
positivos assim como falsos negativos

Giulianna Montenegro
- Protetor gástrico
INDICAÇÃO DE DIALISE:
- Oliguria ou anuria
- Sem resposta após hidratação venosa + diurético
- Creatinina > 2 ou ureia > 100
- Sangramento ou pneumonite (rx tórax com infiltrado
bilateral + hemoptise + dispneia)
MEDICAMENTOSO – FASE PRECOCE:
- Adultos:
 Amoxicilina 500 mg, VO: tomar 01 cp de 8/8h
por 5 a 7 dias
ou
 Doxiciclina 100 mg, VO: tomar 01 cp de
12/12h por 5 a 7 dias
- Crianças:
 Amoxicilina suspensão 50mg/ml: dar 50
mg/kg/dia dividido em 3x (8/8h) por 5 a 7 dias

Obs.: O PCR é importante na ocorrência de óbitos


precoces que impedem a coleta de uma segunda
amostra
7. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL:

- Fase precoce: dengue, influenza, malária,


riquetsioses, doença de Chagas aguda e etc
Obs.: A doxiciclina não deve ser utilizada em crianças
- Fase tardia: hepatites virais agudas, dengue menores de 9 anos, mulheres gravidas e portadores de
hemorrágica, febre amarela, malária grave, febre nefropatias ou hepatopatias
tifoide, endocardite, riquetsioses, doença de Chagas
aguda, pneumonias, pielonefrite aguda, apendicite MEDICAMENTOSO – FASE TARDIA:
aguda, sepse, meningites, colanfite, colecistite aguda, - Adultos:
coledocolitiase, esteatose aguda da gravidez, sd
hepatorrenal, sd hemolítico-uremica, etc  Penicilina G Cristalina: 1.5 milhões UI, IV, de
6/6 horas; ou
8. TRATAMENTO:
 Ampicilina: 1 g, IV, 6/6h; ou
MEDIDAS GERAIS:  Ceftriaxona: 1 a 2 g, IV, 24/24h ou
 Cefotaxima: 1 g, IV, 6/6h.
- Dieta balanceada  Alternativa: Azitromicina 500 mg, IV, 24/24h
- Hidratação venosa com SF 0,9%, SGF ou RL - Crianças
- O2 sob cateter nasal (CN) ou máscara ou VM  Penicilina cristalina: 50 a 100.000 U/kg/dia,
- Furosemida IV, em quatro ou seis doses; ou
 - Ampicilina: 50-100 mg/kg/dia, IV, dividido
- Reposição de potássio em quatro doses; ou
 - Ceftriaxona: 80-100 mg/kg/dia, em uma ou
- Transfusoes (hemácias e plaquetas)
duas doses, ou
Giulianna Montenegro
 Cefotaxima: 50-100 mg/kg/dia, em duas a
quatro doses.
 Alternativa: Azitromicina 10 mg/kg/dia, IV
Obs.: A duração do tratamento com antibióticos
endovenosos deve ser de pelo menos 7 dias
9. PROFILAXIA:

- Uso de roupas e botas a prova d’agua


- Lavar e desinfetar a pele quando houver ferimentos
- Controlar as fontes de infecção
- Vacinas não são disponíveis no Brasil
- Quimioprofilaxia:
 Doxiciclina 200 mg/semana, VO (não está
recomendada pelo MS)

Giulianna Montenegro

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