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1.

JORNADA DE TRABALHO

A jornada mede a principal obrigação do empregado no contrato de


trabalho – o tempo de prestação do serviço ou o tempo à disposição do empregador.

1.1 Jornada e salário possuem uma relação intima. Quanto maior a


jornada, maior se torna o salário. O salário como contraprestação do serviço prestado
pelo empregado em determinado período.
1.2 Jornada e saúde: o tempo de certas atividades em determinados
ambientes é elemento decisivo na configuração da insalubridade de tais ambientes ou
atividades. As normas relativas à jornada deixaram de ser estritamente econômicas
para ser normas determinante a saúde e segurança laborais, tornando-se normas de
saúde pública.
Dispositivos legais: Art. 7º, inciso XXII (inciso XXVIII quanto a
indenização por doença profissional); art. 196, art. 200, II, todos da CF.
Contraponto aos preceitos constitucionais é o disposto no art. 611-B,
autorizador da pactuação da jornada de plantão de 12x36 por simples acordo bilateral
e extensão da jornada em ambientes insalubres. A CLT deixou cair as travas existentes.

2. DISTINÇÕES RELEVANTES – DURAÇÃO, JORNADA E HORÁRIO

2.1 Duração do trabalho: É a noção mais ampla, podendo se referir a


duração diária, semanal, mensal ou anual.

2.2 Jornada de trabalho: É a duração diária (lapso diário) que o


empregado tem que se colocar a disposição do empregador.

2.3 Horário de trabalho: É o horário rigoroso de início e fim da


jornada de trabalho.

Dispositivos legais: art. 74, CLT (publicidade do horário de trabalho).


2.3.1 Jornadas controladas: empregado sujeito a
controle do empregador. Dispositivos legais: art. 74,
§§2º e 3º CLT;

2.3.2 Jornadas não controladas: sem efetivo controle


pelo empregador art. 62, I, II e III CLT;

2.3.3 Jornadas não tipificadas: caso específico dos


domésticos.

3. COMPOSIÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

O que compõe a jornada de trabalho?


- Tempo efetivamente laborado;
- Tempo à disposição no centro de trabalho;
- Tempo dispendido no deslocamento residência - trabalho – residência;
Exceção as três modalidades seria: tempo de prontidão e sobre aviso.

O tempo à disposição representa a orientação quanto ao cálculo da composição da


jornada de trabalho, não obstante, a necessidade/previsibilidade normativa em
relação aos outros critérios. Eles serão também aplicados em situações previstas em lei
e que se caracterizam pela especificidade da situação.

3.1. Tempo efetivamente trabalhado.

Não é aplicável irrestritamente no direito brasileiro, pois caracteriza o deslocamento


do risco empresarial para o obreiro, uma vez que o salário somente seria pago
diretamente a proporção do serviço prestado.
O art. 4º da CLT veda esse tipo de cálculo.
Um tipo autorizador, semelhante ao trabalho efetivamente prestado, é trabalho por
peça, no qual o empregado recebe estritamente por peça e proporcional a sua
produção. Esse tipo se aproxima muito ao tempo efetivamente trabalhado.
Disposição legal: Vedação jornada por tempo efetivamente trabalhado: art. 4º CLT e
autorização do trabalho por peça art. 7º, VII, CF88 e art. 78, CLT.

3.2. Tempo à disposição.

A ordem jurídica brasileira adota esse critério para apuração da jornada de trabalho.

Dispositivo legal: art. 4º CLT.


O centro de trabalho que diz o artigo não equivale a local de trabalho, sendo que na
prática comumente são iguais. Centro de trabalho seria o local onde o trabalhador se
apresenta para trabalhar, ao passo que o outro é o local onde efetivamente o serviço é
prestado. Ex. Trabalhador de mina (sede e fundo da mina).
Lapsos temporais específicos que estão dentro do tempo à disposição:

1º) Período de deslocamento interno entre portaria e local de


trabalho:
Dispositivo: S. 429 TST

2º) Tempo residual constante de cartão de ponto:


Dispositivos: art. 58, § 1º, CLT, S. 366 TST

Exemplos de tempos à disposição:


Ex1. Intervalo para repouso e alimentação superior a 2h sem que haja acordo coletivo
– art. 71 CLT c/c S. 118 TST – entende-se como intervalo concedido pelo empregador e
por isso como tempo à disposição.

Ex2. Desrespeito ao intervalo interjornada somado ao descanso semanal (11 + 24h =


35h). Se o empregado sair às 22h no sábado, descansar domingo e voltar segunda 7h,
não terá tido o intervalo de 11 + 24, mas na verdade 9h + 24h, de modo que lhe é
devido 2h extras, inclusive para aqueles com turnos ininterruptos de revezamento.
Nesse aspecto, S. 110 TST
Ex3. Realização de curso presencial ou on-line durante ou após a jornada de trabalho.
Essa questão é controvertida, já existe benefício para ambas as partes, empregado e
empregador. O primeiro qualifica o currículo, a saúde etc, o segundo ganha com
profissional mais qualificado, saudável e que produzirá mais.
O ponto crucial está no fato de o curso ou exercício, por exemplo, ser ou não
obrigatório. Art. 4º, diz seguir ordens, portanto a obrigatoriedade atrai esse termo da
norma.

3.3. Tempo de deslocamento

Conceito utilizado pela legislação previdência para a caracterização de acidente de


trabalho aquele ocorrido no trajeto casa-trabalho-casa.
Dispositivo legal: 21, IV, d, 8213/91.
Não é utilizado no DT.
Situações especiais: parcela da categoria dos ferroviários: art. 238, §3º CLT

Horas in itinere: A reforma acabou com essa modalidade de tempo de deslocamento,


porém é lícita a pactuação por meio de Convenção Coletiva.

3.4. Critérios especiais para fixação da jornada

3.4.1. Prontidão

3.4.2. Sobreaviso

Ferroviário: art. 244, §2º CLT.


Avanço tecnológico (BIPs, telefones celulares e instrumentos de comunicação):
Tese a favor da aplicação analógica do art. 244, §2º CLT: esse tipo de comunicação
coloca o trabalhador em relativa disponibilidade “aguardando o serviço”.
Tese contrária: o trabalhador não precisa ficar em casa aguardando o chamado. Ou
seja, há nítida diferenciação fática entre o caso em análise e o preceito celetista.
Disposição: Súmula 428, II TST.
Após ser chamado ao trabalho e comparecer no local, o trabalhador deixa de estar de
sobre aviso e passa a ter HE.

3.4.3. Tempo residual à disposição

 Tempo compreendido por pequenas variações no ponto até cinco minutos e


totalizando dez minutos ao dia. Essas variações não serão computadas para
quaisquer fins.
Caso ultrapassar os cinco minutos em uma marcação do ponto, seja inicial ou final,
todos os minutos residuais serão considerados como integrantes da jornada e,
consequente, como hora extra.
Disposição legal: art. 58, §1º CLT e S. 366 TST.

 Deslocamento interno ocorre em caso de grandes plantas empresariais. Nessa


hipótese, o empregado está sob o controle diretivo do empregador e se
considera como tempo à disposição do empregador. Necessário que o tempo
para deslocamento supere o limite de 10 minutos diários.
Dispositivos legais: S. 429 do TST.

4. TRONCO BÁSICO DA JORNADA DE TRABALHO E COMPONENTES


SUPLEMENTARES.

Ao lado tronco básico, tempo à disposição e efetivamente trabalhado, há situações em


que o direito confere como sendo integrantes da jornada, embora o trabalhador esteja
fora do horário tido como trabalho ou em intervalo remunerado.
O tronco básico é próprio do contrato de trabalho, ao passo que os componentes
complementares são elementos acidentais e dependerão de labor em circunstâncias
específicas ou previstas em normas especiais
A) Tronco básico: lapso temporal situado nos limites do horário de trabalho (9h às
18h)
B) Componente suplementar: intervalos remunerados e outros períodos à
disposição do empregador que não compreende como horário de trabalho.
Exemplos:
1. Horas extraordinárias é o maior exemplo do componente suplementar (art. 59
a 61 CLT);
2. Tempo itinerante, quando aplicável, embora suprimido pela RT (S. 90 e art. 58,
§2º CLT);
3. Tempo residual no cartão de ponto (S. 366 e art. 58, §1º da CLT);
4. Período de deslocamento entre portaria e local de trabalho e vice-versa (S. 429
TST, art. 4º caput CLT);
5. Menos comuns, mas também integrante da jornada suplementar, há o
sobreaviso e prontidão.
6. Intervalos remunerados: tempo que não é laborado nem tempo à disposição,
mas integram à jornada de trabalho por força de norma jurídica.
Em regra, os componentes suplementares da jornada de trabalho tendem a se
caracterizar como salário condição, ou seja, dependerá das circunstâncias especiais
para que o empregado receba por elas. Usualmente ocorre com as horas extras (S.
291, TST).

5. NATUREZA DAS NORMAS RELATIVAS À JORNADA

As normas relativas à jornada de trabalho são estatais e imperativas: caráter


obrigatório.
A transação bilateral a respeito da jornada de trabalho é ilegal quando trouxer
prejuízos ao trabalhador (vedação à alteração contratual lesiva). A redução da jornada
de trabalho com a consequente diminuição do salário é vedada pelo art. 468 da CLT
que carrega o princípio citado. Por outro lado, caso a mudança ocorra em razão de
interesse extracontratual do empregado, será lícita a pactuação da nova jornada com
a consequente redução. Ou seja, na prática é importante realizar um aditivo contratual
com a exposição dos motivos de interesse do empregado que levaram à alteração.
5.1. Transação e flexibilização da Jornada de Trabalho
A norma autônoma poderá prevalecer sobre a norma heterônoma quando respeitado
os dois requisitos (critérios gerais aplicados a todas negociações):
a) Quando a norma autônoma implementa condições setoriais mais vantajosas
que as previstas na norma heterônoma.
b) Quando a negociação envolve apenas direitos de indisponibilidade relativa.
Poderá prevalecer as normas autônomas desde que considerados os dois requisitos
acima, tendo em vista o princípio da adequação setorial negociada.
Direitos revestidos de indisponibilidade absoluta: São aqueles entendidos, em um
estado de direito democrático, como indispensáveis para o patamar civilizatório
mínimo, que na eventualidade de serem reduzidos poderão afrontar o princípio da
dignidade da pessoa humana. São exemplos: anotação CTPS, salário mínimo e normas
de higiene e segurança do trabalho.

Partindo dessas premissas, pode-se concluir quanto à jornada de trabalho que:


1. É válida a redução da jornada de trabalho desde que previsto em negociação
coletiva, ou seja, que se realize uma negociação coletiva e nela conste a
diminuição da jornada de trabalho (art. 7º VI e XIII CF);
Nesse ponto, a redução do labor sem a diminuição do salário, por ser mais
favorável, em tese dispensaria a negociação coletiva.

2. É invalida a negociação coletiva que autorize o labor semanal superior ao limite


imposto pela constituição (8h dia, 44h semanal e 220h mês)
3. É válida a negociação que prevê turno ininterrupto de revezamento de 6h a 8h,
pois este trata-se do limite constitucional.
4. Flexibilização quanto a ao regime compensatório, observado o limite de 44h
semanais.

5.2. Flexibilização e Compensação de Jornada


Trabalho mais em um dia, semana, mês para compensar no outro. Banco de horas
seria uma modalidade de compensação de jornada.
Existem dois tipos de regime de compensação de jornada: o clássico - acordo
individual escrito - (dentro do mês) e o banco de horas – negociação coletiva (a
compensação extrapola o mês);
A súmula 85, itens I e II do TST expunha muito bem essa diferenciação.
A Reforma Trabalhista reabriu a discussão ao inserir possibilidades antes não
existentes, são elas:
1. O regime compensatório poderá ser tácito ou escrito para compensação
dentro do mês;
2. Banco de horas poderá ser por meio de pactuação individual (escrita) desde
que compensado em seis meses ou por negociação coletiva caso seja anual.

Dinâmica do Banco de Horas:


Criado pela lei 9.601/98 e MP 2164-41.

- Essa figura jurídica permite a prorrogação da jornada regular em até duas


horas ao dia, sendo a jornada inferior a oito horas, uma prorrogação até o limite
global de 10h por dia (se ultrapassar o tempo paga a hora). Dentro do ano, o banco
de horas deve ser compensado, sob pena de pagamento de pagamento como hora
extra.
- Havendo qualquer irregularidade, o pagamento será feito como HE (salário +
adicional) das horas que estão no Banco e poderá ser aplicado às horas já
compensadas. O art. 59-B fala sobre a irregularidade de compensação, que poderá ser
estendida ao Banco de Horas em caso de irregularidade. No caso de dispensa também
se aplica o pagamento + adicional para as horas não compensadas até aquele
momento.
Art. 59-B. O não atendimento das exigências legais para
compensação de jornada, inclusive quando estabelecida
mediante acordo tácito, não implica a repetição do
pagamento das horas excedentes à jornada normal diária
se não ultrapassada a duração máxima semanal, sendo
devido apenas o respectivo adicional.

- Respeitados os parâmetros do Banco de Horas, as horas realizadas no contexto


do regime compensatório serão pagas como hora normal. Compensação 1x1.
- Habitualidade não descaracteriza o regime de banco de horas.

5.3. Controle de Jornada (pág. 1.063)

1. Jornada controlada ou jornada não controlada


O pequeno estabelecimento empresarial, até 20 funcionários (alterado em 2019), tem
a presunção de ser controlada a jornada. Quando ultrapassado esse número, a CLT
impõe procedimentos formais de controle de jornada.
Dispositivo legal: art. 74, §2º da CLT.

A jurisprudência tem divergido quanto aos efeitos processuais do registro da


jornada.

Duas posições:

1ª) Os registros escritos constituem a principal modalidade de prova da jornada. Por


conseguinte, a sua ausência caracteriza confissão ficta com incidência da jornada
apontada na inicial. Esse caso aplica-se, também, aos registros de pouca fidelidade
(marcações uniformes).

2ª) O ônus da prova cabe ao autor e por isso a responsabilidade do réu é atenuada no
caso de não apresentação dos registros. Exceto quando houve a determinação judicial
(art. 359 do CPC), circunstância em que o ônus deslocará para o réu.

Prevalece a 1ª posição. Súmula 338 do TST.

1.1. Jornadas não controladas: Existem três tipos de empregados.

1º) O que exerce atividade externa incompatível com o controle de jornada;


2º) Exercentes dos cargos de gestão: recebam acréscimo de no mínimo 40%;
3º) Empregados de regime de teletrabalho (antes enquadrado como a 1ª opção);
Existe com relação a esses três tipos de empregado uma presunção relativa jurídica e
não discriminação. Portanto, caso efetivamente ocorra o controle de jornada, o
empregador terá o ônus de provar, e caso consiga, desconstituirá a presunção legal e
incidir-se-á as regras clássicas de controle de jornada.

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