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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª

VARA CÍVEL DA COMARCA DE BELO ITABIRITO - MG

Processo nº 5020985-92.2010.8.13.0085

TÍCIO DOS SANTOS, representante comercial autônomo, solteiro, portador da


cédula de identidade RG M-236.589.478 e inscrito no CPF:417.458.896-78,
residente Rua Três, 21, Bairro Manancial, na cidade Ouro Preto/MG, CEP:
32.470-250 e MINERADORA PAES LTDA, pessoa jurídica inscrita no CNPJ n.º
22.888.555/0001-33, com endereço na Avenida Seis, n.º 1.569, CEP 34.479-
888, Bairro Palmital, Ouro Preto/MG, vem à presença de V. Exa., por seu
advogado (procuração anexa), com fundamento na lei, apresentar a presente

CONTESTAÇÃO

Em face da ação proposta por BLINK HOTEL, já qualificado, com base nos fatos
e fundamentos a seguir expostos:

DA SÍNTESE DA INICIAL

Busca o autor o Poder Judiciário pleiteando o recebimento dos valores


referentes à utilização dos serviços hoteleiros por parte do corréu Tício dos
Santos
Afirma a exordial que Tício hospedou-se no hotel por nove oportunidades
entre dezembro de 2008 e fevereiro de 2009, e que não teria pagado a conta.
A demanda foi ajuizada em março de 2010 também em face da Mineradora
Paes Ltda, pedindo o autor a condenação dos réus ao pagamento de R$
2.250,00 (dois mil duzentos e cinquenta reais) referentes às diárias, acrescido
de multa de 10% (dez por cento).
É a breve síntese do necessário.

PRELIMINARMENTE
DA ILEGITIMIDADE PASSIVA DA EMPRESA
É patente a ilegitimidade passiva ad causam da empresa para figurar no
polo passivo da presente demanda. A melhor definição para legitimidade é a
coincidência entre as partes que figuram na relação processual e aquelas que
figuram na relação material; no caso, é cristalina a ausência de correspondência
entre as partes deste processo e as partes contratantes.
Ora, na própria inicial já se percebe que quem se valeu dos serviços
hoteleiros foi Tício e não a empresa. Portanto, há relação jurídica material
(prestação de serviços hoteleiros) somente entre o corréu Tício e o hotel.
Além disso, é de se apontar que, como consta da exordial, Tício é
representante comercial autônomo, não havendo qualquer liame entre este e a
empresa.
Destarte, é indubitável que a empresa (parte na relação processual) não é
parte da relação jurídica material existente, razão pela qual deve ser
reconhecida sua ilegitimidade passiva – com a consequente extinção do
processo sem resolução de mérito, em virtude da carência de ação (CPC/2015,
arts. 485, VI, e 337, XI).
Considerando que já existe litisconsórcio passivo com Tício, e que este
seria a parte legítima correta, não se faz necessária a indicação da correta parte
a figurar no polo passivo (CPC/2015, art. 339).

DO DEFEITO DE REPRESENTAÇÃO: FALTA DE PROCURAÇÃO

A petição inicial não veio instruída com a procuração outorgando poderes


ao patrono do hotel. Nos termos dos artigos 104 e 287 do CPC/2015, é
fundamental que o advogado, ao postular em juízo, apresente instrumento de
mandato.
Assim, percebe-se defeito de representação (CPC/2015, art. 337, IX),
devendo o autor corrigir tal vício, em 15 dias, sob pena de extinção do processo
sem resolução de mérito (CPC/2015, arts. 76 e 321).

DO MÉRITO
Superadas as preliminares, o que se admite apenas para argumentar,
tampouco no mérito prosperará a demanda proposta pelo autor. Outrossim, é
de apontar também que, no caso, há questão prejudicial a ser analisada
(prescrição).

DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DO AUTOR

O crédito referente às estadias já se encontra irremediavelmente prescrito.


Discute-se nestes autos a cobrança da hospedagem por parte dos hospedeiros,
matéria especificamente tratada no Código Civil (CC, art. 206, § 1.º, I).
Afirma-se na inicial que o corréu teria se valido dos serviços de
hospedagem nos meses de dezembro de 2008 e janeiro e fevereiro de 2009.
Nos termos do dispositivo já mencionado da legislação civil, o prazo
prescricional em hipóteses como a presente é de 1 (um) ano, sendo certo que a
prescrição do último mês se efetivaria em fevereiro de 2010, data anterior à
distribuição da petição inicial que deu origem a este processo.
Destarte, como se vê, o pedido encontra óbice na prescrição. Assim, nos
termos do art. 487, II, do CPC/2015, deve haver a extinção do processo com
resolução do mérito em virtude da prescrição apontada.

DO DESCABIMENTO DA MULTA, VISTO QUE NÃO PREVISTA


PELAS PARTES CONTRATANTES

Acaso afastada a prescrição – o que se admite apenas ad argumentandum


tantum, impõe-se o afastamento da multa pleiteada pelo autor.
É certo que houve, entre autor e o corréu Tício, um contrato verbal de
prestação de serviços hoteleiros. Contudo, não houve a formalização de
qualquer instrumento contratual com a previsão de multa, nem tampouco
houve qualquer informação a Tício sobre tal existência.
Como bem destaca o art. 409 do Código Civil, a cláusula penal deve ser
estipulada conjuntamente com a obrigação ou em ato posterior; tal situação não
se configurou na situação sob análise porque não foi estipulada
consensualmente tal obrigação acessória. Portanto, ante a inexistência de
qualquer acerto prévio entre as partes, impossível alegar a incidência de multa
sob pena de ensejar considerável insegurança jurídica e violação ao princípio da
legalidade (CF, art. 5.º, II) e da boa-fé objetiva (CC, art. 422).
Assim, conclui-se que a multa pleiteada deve ser afastada.

DA CONCLUSÃO

Neste momento, deve o advogado sintetizar o que expôs na peça,


apontando a consequência específica para cada uma das alegações apontadas na
contestação.
Ante o exposto, requeremos réus a V. Exa.:
a) preliminarmente, seja reconhecida a ilegitimidade passiva da corré Blink
Hotel, com a extinção do feito em relação a ela, sem resolução de mérito com
base no artigo 485, VI, do CPC/2015;
b) preliminarmente, que o autor traga aos autos procuração outorgando poderes
a seu patrono, sob pena de indeferimento da petição inicial;
c) se afastadas as preliminares, no mérito, o reconhecimento da existência de
prescrição, em relação a todo o valor cobrado pelo autor;
d) subsidiariamente, na remota hipótese de procedência do pedido principal,
seja afastada a multa pleiteada;
e) a condenação do autor no ônus da sucumbência, em 10% do valor da causa,
nos termos do art. 85, §§ 2º e 6º, do CPC/2015;
f) provar o alegado por todos os meios de prova previstos em lei, especialmente
pelos documentos ora juntados aos autos – e, caso Exa. entenda necessária a
realização de audiência, requerem os réus o depoimento pessoal do
representante legal do autor.
Nestes termos pede e espera deferimento.

Itabirito, 15 de março de 2017.

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Daniel Vieira Mendes
OAB/MG nº 600.804.535

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