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O Rompimento do Pacto Liberal no Início da Regência

● Dois grupos políticos estiveram a frente da Revolução do Sete de Abril: os liberais


exaltados (farroupilhas - Parlamento e Imprensa) e os liberais moderados
(chimangos - Imprensa e Rua).
○ Moderados - grupo de proprietários ruais e comerciantes do interior de MG,
ligados ao abastecimento da Corte - associados a políticos da pequena
burguesia urbana e do setor militar - pleiteavam realização de reformas
estritamente políticas que limitasse o poder do Imperador.
○ Exaltados - composição social heterogênea - buscavam reformas políticas,
sociais e econômicas que transformariam a estrutura social brasileira.
○ Restauradores (caramurus) - surgiram durante o período regencial - defesa
de uma monarquia fortemente centralizada, a inviolabilidade da Constituição
e, em alguns casos, a restauração de D. Pedro I. Lutavam contra a
discriminação racial contra negros e pardos e contra a rivalidade entre
brasileiros e portugueses.
● Período de latino-americanização da política brasileira: a instabilidade permanente,
as lutas violentas e o constante perigo de secessão chegaram ao Brasil com uma
década de atraso, em comparação com o restante da América Latina.
● É nesse período também que há a revisão das relações internacionais do Brasil,
especialmente movida por um nacionalismo incipiente que criticava as concessões
feitas à Inglaterra e a Portugal, durante a gestão de D. Pedro I - para que este
sustentasse os seus interesses pessoas e dinásticos. Assim, pode-se dizer que a
real independência da tutela inglesa e da influência portuguesa deu-se após a
abdicação. Assim, uma nova lei demandava que, durante a Regência, houvesse a
ratificação dos acordos internacionais pelo Congresso - o que passará,
posteriormente, para o Conselho de Estado - mas a consequência desta atitude é a
revisão periódica e a inserção nos debates parlamentares de tópicos da PEB. Por
volta de 1850, o Brasil possuía apenas 21 legações e 23 consulados gerais.
○ A Inglaterra se resignou na maior parte das matérias, mas permaneceu firme
contrária ao tráfico de escravos - entendendo que, mesmo após o Tratado de
1817 caducar, o art.1° do Tratado de 1826 que versava sobre o poder de
inspeção sobre a pirataria poderia se aplicar ao tráfico de escravos, de modo
que em 1845, foi aprovada a Lei Bill Aberdeen. Tal instrumento intensificou
a captura (400 entre 1845 e 1850), de modo que a Lei Eusébio de Queiroz
(1850) efetivamente suspendeu o tráfico negreiro.
○ Em 1869, os ingleses revogam a Lei Aberdeen.
● Devido à menoridade de D. Pedro II, os deputados e senadores que estavam na
Corte nomearam uma Regência Trina Provisória, no mesmo dia. Apesar da
dicotomia entre os liberais, havia uma unicidade em alguns termos: o termo do
haitianismo;
● 1° Regência Trina Provisória (abr-jun/1831).
○ Reintegrou o ministério exonerado em 5 de abril.
○ Anistia aos presos políticos.
○ Expulsão das tropas de todos os estrangeiros que não se naturalizassem.
○ Alinhamento total com os liberais moderados.
● 1° Regência Trina Permanente (1831-1835).
○ Suspensão do Conselho de Estado, composto essencialmente de
portugueses.
○ Morte de D. Pedro I em 1934.
○ Criação da Guarda Nacional, com o objetivo de esvaziar o Exército, o qual
ainda contava com portugueses restauradores.
○ Elaboração do Código de Processo Criminal (1832), de caráter democrático e
federalista (habeas corpus, criação dos tribunais do júri e caráter eletivo dos
juízes de paz).
○ Elaboração da Lei de Responsabilidade Fiscal, a qual organizava o fisco e
estabelecia as rendas em províncias e centrais - cabendo ao poder central
fazer a partilha - fortalecendo o centralismo político.
■ Assim, vê-se um impasse entre medidas federalistas e centralistas.
○ Suspensão do Poder Moderador e da vitaliciedade do Senado. Por sua vez,
as eleições na Câmara seriam bienais, promovendo a maior democratização.
Logo, para realizar tais mudanças foi aprovado o Ato Adicional de 1834, o
qual de fato instituía o federalismo.
○ Nomeação do padre Feijó para ministro da justiça.
○ Afloramento das divergências e disputas entre as duas facções.
○ Revoltas:
■ Alto teor nativista.
■ Guerra dos Cabanos/ Cabanada (1832-1835): movimento restaurador
em Pernambuco e Alagoas.
● 1° rebelião rural e de maior impacto, até então.
● Participação de pequenos proprietários, camponeses,
indígenas, escravos e senhores de engenho.
● Luta pela restauração de D. Pedro I e pela defesa do
catolicismo.
● Queda após a saída dos senhores de engenho e o trabalho de
convencimento do Bispo de Olinda.
■ Revolta dos Malês (1835): rebelião de escravos em Salvador.
● Protagonismo de escravos islâmicos de origem étnica comum.
● Repressão violenta.

As Reformas Liberais
● Enfraquecimento dos pilares do 1° Reinado.
○ Criação da Guarda Nacional (1831) - contraste com o Exército.
■ Alistamento obrigatório para todo cidadão com renda mínima para ser
eleitor (RJ, Salvador, Recife e São Luís) ou votante, cuja idade
estivesse entre 18 e 60 anos.
■ O trabalho era não remunerado e os oficiais eram eleitos pela tropa
por quatro anos.
■ Lógica da ambiguidade aparente - a Guarda Nacional dava ares de
um “federalismo”, mas mantinha e incentivava a centralização.
○ Estabelecimento do Juizado de Paz, previsto pela CF de 1824 - esvaziamento
da concentração de poderes nas mãos do Imperador.
■ Implantação do Código do Processo Criminal (1832) - ampliação dos
poderes dos juízes de paz. Ademais, viu-se a criação do cargo de juiz
municipal.
○ Fortalecimento do Parlamento em relação aos regentes.
○ Publicação do Ato Adicional, em 1834.
■ Extinção do Conselho de Estado.
■ Substituição da Regina Trina pela Regência Una, de mandato de 4
anos.
● Eleição periódica para o regente - experiência republicana.
■ Criação de Assembleias Legislativas nas províncias (mandato de 2
anos).
■ Maior autonomia às províncias - divisão das rendas fiscais.
● Concentração administrativa no âmbito provincial.
■ Atenuação da oposição anárquica de exaltados e restauradores,
sendo seus jornais tirados de circulação e alguns líderes presos ou
mortos.

● Meios ilegais utilizados pela Regência.


○ Tentativa de golpe por padre Feijó, então ministro da justiça, em 1832.
○ Corrupção e despreparo dos juízes de paz; bem como corrupção e
“coronelismo” nos júris.

As grandes revoltas provinciais


Até 1834, via-se revoltas mais urbanas e ligadas ao epicentro político: o RJ. Após o
Ato Adicional e a descentralização, viu-se a interiorização e descentralização das revoltas.
● Revolta da Fumaça (1833), MG.
○ Caramurus tomaram o poder de Ouro Preto, buscando a restauração de D.
Pedro I.
○ Caíram após 2 meses.

● Revolta das Carrancas (1833), MG.


○ Algumas dezenas de escravos se levantaram em uma fazenda mineira,
mataram os empregados e os membros da família e passaram a atacar as
fazendas vizinhas.

● Cemiterada (1836), BA.


○ Reuniu mais de mil pessoas, depredando um cemitério privado em resposta à
lei provincial que proibia o tradicional enterramento intramuro, até então feito
nas igrejas.
○ Os revoltosos foram vitoriosos e a lei foi revogada.

● Cabanagem (1835-1840), PA.


○ Pará, desde a Independência, fora uma das províncias mais turbulentas.
○ Abdicação - fortalecimento do antilusitanismo e das divergências com o poder
central.
○ Um novo governo é instaurado no lugar dos então líderes acusados de serem
caramurus. Ao assumirem o posto, as novas autoridades reprimem os
exaltados e os cabanos (população nativa ribeirinha) - aplicando o
recrutamento forçado. (1833)
○ Em 1835, a revolta estoura em Belém, com o presidente da província e outras
autoridades sendo executadas.
○ Viu-se uma liderança desorganizada na capital, de modo que a ação dos
cabanos se concentrou em ações de terror no interior, para conquistá-lo.
○ Negros e indígenas ocuparam o governo de toda uma província durante um
período extenso (9 meses) - todavia não havia um programa de governo
definido.
○ Morte de um quinto da população paraense (30 mil pessoas).
○ Anistia geral declarada em 1840.

● Revolução Farroupilha (1835-1845), RS.


○ RS - sociedade militarizada, com caudilhos afastados do restante do país.
○ Pecuária e charque como base da economia local.
○ Não transbordou para os grupos populares - “Briga de brancos”.
■ O orgulho gaúcho havia sido ferido após a derrota na Guerra da
Cisplatina (1825-1828).
■ Foram chamados de farroupilhas pejorativamente, retomando o nome
ofensivo dos liberais exaltados - todavia assumiram com honra e
prazer a alcunha.
○ Os comerciantes destes produtos reivindicavam a redução do imposto sobre
o sal e do imposto de barreira sobre a circulação dos produtos nas províncias.
Solicitavam, também, a elevação da taxa de importação paga pelo charque
platino, visto que este era concorrente de seus produtos.
○ 1835 - vencem as tropas governamentais sem esforço e invadem Porto
Alegre, mas logo foram expulsos pelo parco apoio dos comerciantes e
pequenos proprietários.
○ 1836 - declaram a República Rio-Grandense, com sede em Piratini, com
separação temporária até que o federalismo fosse adotado.
○ 1839 - juntamente com Giuseppe Garibaldi, invadem SC, declarando a
República Juliana. Todavia essa foi derrubada no mesmo ano.
○ 1840 - recusa da anistia geral do Império.
○ 1842 - convocação de uma Assembleia Constituinte.
○ 1845 - acordo de paz: anistia geral para os revoltosos, redução dos impostos
de barreira e sobre o sal; fixação de uma tarifa de 25% sobre o charque
platino; libertação dos escravos que participaram da revolta e incorporação
dos oficiais farroupilhas ao Exército Brasileiro e dispensa daqueles que não
quisessem servir ao Exército ou à Guarda Nacional.

● Sabinada (1837-1838), BA
○ Protagonismo do jornalista exaltado Sabino Álvares, que pregava em seu
jornal a República Federativa.
○ 1837 - sedição no forte de São Pedro, em Salvador, e apoio maciço de toda a
guarnição da cidade. Proclamação da República Baiense, até a maioridade
de D. Pedro II.
○ Condenação em massa - mas sete líderes foram salvos pela anistia de 1840.
○ Ausência de antilusitanismo e pouca relevância dos escravos negros.
○ Incêndio de Salvador e um saldo de 2 mil mortos.

● Balaiada (1838-1841), MA
○ Crise econômica - queda na produção e nos preços do algodão, pela
concorrência com o sul dos EUA.
■ Liberais (bem-te-vis) e conservadores (cabanos).
○ Fuga de presos políticos e adesão da população no interior, durante a fuga -
inclusive do principal líder - o artesão mestiço de balaios, Manuel Francisco
dos Anjos Ferreira, o Balaio.
○ Reivindicação da revogação da Lei dos Prefeitos, da expulsão dos
portugueses, da limitação de direitos aos naturalizados e outros.
○ Afastamento dos bem-te-vis com a radicalização do movimento e maior
participação de escravos.
○ A Regência mata Balaio em combate, prende o Negro Cosme e o mata em
1842, sendo o único rebelde não contemplado com a anistia de 1840.

O Regresso Conservador e a Maioridade


● O Regresso - desilusão com a maneira pela qual as reformas liberais estavam
funcionando, bem como o descontentamento com a nova onda de revoltas
provinciais.
● Primeira vitória do Regresso foi a renúncia de Feijó em 1837 e a eleição de Araújo
Lima em 1838.
● Lei de Interpretação do Ato Adicional em 1840 - modificação do sentido dos artigos
do Ato Adicional e limitação às assembleias provinciais (não poderiam suspender ou
demitir os magistrados, exceto em caso de crime de responsabilidade; não poderiam
legislar sobre assuntos de polícia judiciária e caso aprovassem leis opostas à Lei de
Interpretação, estas poderiam ser revogadas pela Assembleia Geral).
● Reforma do Código de Processo Criminal - tornando-o mais centralista.
● Os liberais então buscaram voltar ao poder, fomentando a antecipação da
maioridade de D. Pedro II, com apenas 14 anos.
○ 1840 - Fundação do Clube da Maioridade (Antônio Carlos de Andrada).
○ Persistência das revoltas provinciais e a situação de instabilidade política e
social levaram ao Golpe da Maioridade, no famoso “Quero Já” do soberano
que pôs fim à contenda, em 1840.
○ D. Pedro II foram o Gabinete da Maioridade, entregue aos liberais - início de
um rodízio de gabinetes entre liberais e conservadores.

A PEB do Período Regencial


● Protagonismo do Parlamento, na rejeição do sistema de tratados desiguais - todavia,
isto impediu o dinamismo da economia - visto que a rejeição brasileira impedia a
aceitação de produtos nacionais em outros Estados.
● Pagamento dos déficits do Primeiro Reinado - Tratado de Reconhecimento de 1825;
Reclamações Estrangeiras do bloqueio do Prata durante a Guerra da Cisplatina.
● Imperialismo europeu no território amazônico.
○ França (Luís Felipe) - fortificação do lago Amapá, sob o pretexto de proteção
contra a guerra paraense. Socorro inglês.
○ Inglaterra - expedições de Robert Herrmann defendendo a incorporação de
terras amazônicas brasileiras à Guiana Inglesa, sob a alegação de proteção
dos índios escravizados pelos paraenses e envio de anglicanos ao Pirara.
○ Santa Sé - querelas relacionadas à intransigência de Regente Feijó e ao
nacionalismo nativista.
● Conflitos no Prata - Uruguai de Oribe e Argentina de Rosas buscavam fortalecer a
Confederação Argentina, englobando quiçá o RS.

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