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Unid - 1 2
Unid - 1 2
Atuando há mais de três décadas como enfermeira, foi coordenadora de um serviço de saúde ocupacional. Fundou
o grupo de enfermeiros do trabalho de Campinas e região. Foi conselheira da Associação Nacional de Enfermeiros do
Trabalho. É especialista em Ergonomia, Administração Hospitalar e Saúde do Trabalhador. Mestre pela Faculdade de
Ciências Médica da Unicamp e Doutora pela USP. Voluntária há mais de vinte anos, presta serviços na comunidade da
Vila Brandina, em Campinas. É professora titular do Curso de Graduação e Pós-graduação em Enfermagem da UNIP e
professora convidada do Curso de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da USP e da PUC de Goiânia.
É nutricionista com aperfeiçoamento em Saúde pela CNPq/Unicamp (1991), aprimoramento em Saúde Pública
pela Fundap/Unicamp (1992), especializações em Saúde Pública pelo Ministério da Saúde/Unicamp (1993) e em
epidemiologia pela Unicamp (1994). É mestre em Saúde Coletiva pela Unicamp (2000) e doutora em Saúde Coletiva
pela Unicamp (2005). Como sanitarista, sempre trabalhou em serviços públicos com foco no ensino e na pesquisa. Hoje,
é professora titular da UNIP.
CDU 614
U500-89 – 20
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Marcilia Brito
Vitor Andrade
Sumário
Políticas de Saúde
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 10
Unidade I
1 SEGURIDADE SOCIAL – COMPOSIÇÃO E NORMATIZAÇÃO............................................................. 11
1.1 Seguridade Social.................................................................................................................................. 12
1.2 Saúde Pública.......................................................................................................................................... 15
1.3 Previdência Social................................................................................................................................. 19
1.4 Assistência Social.................................................................................................................................. 22
1.5 Seguridade Social no Brasil – história.......................................................................................... 24
1.5.1 Saúde Pública............................................................................................................................................ 24
1.5.2 Período Colonial....................................................................................................................................... 24
1.5.3 Início da República.................................................................................................................................. 25
2 PREVIDÊNCIA SOCIAL..................................................................................................................................... 46
3 ASSISTÊNCIA SOCIAL...................................................................................................................................... 54
4 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE.......................................................................................................................... 56
4.1 A reforma sanitária brasileira........................................................................................................... 57
4.2 Definição................................................................................................................................................... 58
4.3 Legislação básica................................................................................................................................... 59
4.4 Normas Operacionais Básicas........................................................................................................... 60
4.5 Princípios do SUS.................................................................................................................................. 60
4.6 O Pacto pela Saúde............................................................................................................................... 62
4.6.1 O Pacto pela Vida..................................................................................................................................... 63
4.6.2 O Pacto de Gestão................................................................................................................................... 63
4.6.3 O Pacto em Defesa do SUS.................................................................................................................. 64
4.7 O custeio do SUS................................................................................................................................... 64
4.7.1 Bloco da Assistência Farmacêutica................................................................................................... 67
4.7.2 Bloco da Atenção Básica....................................................................................................................... 67
4.7.3 Bloco da Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar............... 68
4.7.4 Bloco de Gestão do SUS....................................................................................................................... 68
4.7.5 Bloco de Vigilância Sanitária.............................................................................................................. 70
4.8 O controle social do SUS.................................................................................................................... 70
4.9 Os gestores do SUS............................................................................................................................... 73
4.10 Os Conselhos de Saúde..................................................................................................................... 74
4.10.1 O Conass e o Conasems...................................................................................................................... 75
4.11 Ações, programas e políticas do SUS.......................................................................................... 77
4.11.1 Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).............................................................. 77
4.11.2 Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24 horas).................................................................. 77
4.11.3 Programa Farmácia Popular do Brasil........................................................................................... 78
4.11.4 Centros de Atenção Psicossocial (Caps)....................................................................................... 78
4.11.5 Centro de Especialidades Odontológicas (CEO)......................................................................... 79
4.11.6 Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD)............................................................... 80
4.11.7 Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária..................................................... 80
4.11.8 Plano Diretor de Vigilância Sanitária (PDVisa)........................................................................... 81
4.11.9 Política de Educação Permanente em Saúde............................................................................. 82
4.11.10 Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN).......................................................... 83
4.11.11 Política Nacional de Assistência Farmacêutica........................................................................ 83
Unidade II
5 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE................................................................................ 90
5.1 Carta de Ottawa..................................................................................................................................... 90
5.2 II Conferência Internacional sobre Promoção à Saúde – Declaração de Adelaide:
Políticas Públicas Saudáveis, realizada em abril de 1988............................................................. 92
5.3 III Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde – Declaração de
Sundsval: Ambientes Favoráveis à Saúde, realizada em Sundsvall, Suécia,
em junho de 1991........................................................................................................................................ 92
5.4 IV Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde – Declaração de
Jacarta, realizada em Jacarta, em 1997............................................................................................... 93
5.5 V Conferência Internacional de Promoção da Saúde – Declaração do
México, realizada na cidade do México, de 5 a 9 de junho de 2000....................................... 93
5.6 VI Conferência Mundial de Promoção à Saúde – Carta de Bangkok,
realizada na cidade de Bangkok, Tailândia, em agosto de 2005............................................... 93
5.7 VII Conferência Mundial de Promoção à Saúde – Carta de Nairóbi,
realizada em Nairóbi, África, em outubro de 2009......................................................................... 94
5.8 VIII Conferência Global sobre Promoção da Saúde – Carta de Helsinki,
realizada em Helsinki, Finlândia, em junho de 2013...................................................................... 94
6 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE – NORMATIZAÇÃO......................................... 95
6.1 Municípios Saudáveis.......................................................................................................................... 96
7 MODELOS E SISTEMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE.................................................................................... 97
7.1 Definição, características e composição...................................................................................... 97
7.2 População, com as seguintes especificidades............................................................................ 99
7.3 Modelos de Sistemas de Atenção à Saúde...............................................................................100
7.3.1 Modelo universalista............................................................................................................................101
7.3.2 Modelo do seguro social.....................................................................................................................101
7.3.3 Modelo de seguros privados.............................................................................................................101
7.3.4 Modelo assistencialista........................................................................................................................101
7.3.5 O Modelo do SUS...................................................................................................................................101
7.3.6 Modelos de Sistemas de Atenção à Saúde no Mundo...........................................................103
8 ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE.......................................................................................................................106
8.1 Fundamentos da Atenção Básica à Saúde................................................................................106
8.1.1 Prevenção primária...............................................................................................................................107
8.1.2 Prevenção secundária..........................................................................................................................107
8.1.3 Prevenção terciária...............................................................................................................................108
8.1.4 Prevenção quaternária........................................................................................................................108
8.1.5 Prevenção primordial...........................................................................................................................108
8.2 Normatização da Política Nacional de Atenção Básica (PNAS).......................................108
8.3 Responsabilidades das esferas gestoras em Atenção Básica.............................................112
8.4 Estratégia Saúde da Família............................................................................................................113
8.4.1 Características, contexto e finalidades.........................................................................................113
8.4.2 Equipes de saúde...................................................................................................................................114
8.4.3 O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs)........................................................ 115
8.4.4 Gestão da ESF..........................................................................................................................................115
8.4.5 Programa Mais Médicos (PMM)....................................................................................................... 115
8.4.6 Política Nacional de Saúde Bucal – Brasil Sorridente............................................................. 117
8.5 Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf)...........................................................................118
8.6 Sistema de Saúde Suplementar....................................................................................................120
8.6.1 Criação do Sistema de Saúde Suplementar............................................................................... 120
8.6.2 Regulamentação do Sistema de Saúde Suplementar............................................................ 123
8.6.3 Regulação no Setor Saúde................................................................................................................ 123
8.6.4 Definições de termos relacionados à saúde suplementar.................................................... 125
8.6.5 Sistema de Saúde Suplementar no contexto da Saúde Pública........................................ 126
8.6.6 Política de Qualificação da Saúde Suplementar...................................................................... 128
8.6.7 A Política Nacional de Humanização do SUS – HumanizaSUS......................................... 129
APRESENTAÇÃO
Arnold Toynbee
Prezado(a) aluno(a),
Nesta disciplina, abordaremos seguridade, previdência e assistência social, além do Sistema Único de
Saúde (SUS). Veremos ainda a política nacional de assistência à saúde, os modelos e sistemas de atenção
e a atenção básica à saúde.
Vamos embarcar num grande desafio, que é fazê-lo(a) gostar de leis e normas e entender a
importância de um sistema de saúde que promova e preserve o bem-estar de todos. Isso é importante
para quebrar o paradigma de que tudo que é gratuito não pode ser oferecido com qualidade.
Sabemos que o profissional de saúde tem uma missão: pôr em prática o bem-estar evocado,
superando a limitação de apenas viver ou de só controlar a doença (sem combater suas causas) e
adotando práticas preventivas, sempre de menor custo e mais eficientes.
Nesta disciplina, os conteúdos serão desenvolvidos visando construir o conhecimento. Como diz Paulo
Freire, ensinar não é somente transmitir o saber; a missão do professor é possibilitar a criação e a produção
de conhecimento. Pensando nisso, a proposta aqui é perseguirmos juntos os seguintes objetivos:
• Abarcar os principais marcos históricos da saúde, com destaque para a evolução do sistema de
saúde no Brasil.
• Conhecer o SUS e distinguir seus modelos de atenção à saúde, financiamento e alocação de recursos.
• Entender a complexidade do campo da saúde coletiva, com apoio numa análise política
que permita refletir sobre estratégias de transformação das estruturas tradicionais na
assistência à saúde.
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Esperamos que, ao final deste livro-texto, você tenha clareza do processo histórico da saúde – suas
lutas, derrotas e conquistas –, podendo assim compreender e valorizar a participação do profissional de
saúde, tornando-se, de fato, um ator na permanente construção de modelos de atenção que promovam
e protejam a saúde da população.
INTRODUÇÃO
A avaliação do estado de saúde das populações dependeu, durante longo período de tempo,
quase que exclusivamente dos indicadores derivados de dados de mortalidade, mas esses índices
perderam progressivamente a capacidade de medir a saúde em decorrência da forte redução das
taxas de mortalidade, do aumento da sobrevida e da crescente prevalência de doenças crônicas, de
baixa letalidade, mas altamente incapacitantes. O novo espectro do problema passou a requerer, para
adequada mensuração dos níveis de saúde, a construção de indicadores de incidência e prevalência de
doenças, de lesões por acidentes e violências e de deficiências mentais e físicas.
A presença simultânea de várias doenças no mesmo indivíduo, fenômeno que se intensifica com o
aumento de sobrevida da população, demandou a elaboração de índices de comorbidades (CHARLSON
et al., 1994).
O novo contexto também deixa claro que ter uma doença diagnosticada não se acompanha,
necessariamente, do mesmo grau de prejuízo nos níveis de saúde e de autonomia na realização
de tarefas cotidianas. O impacto da doença em provocar limitações e incapacidades passa a ser
dimensionado por instrumentos que avaliam a preservação das atividades da vida diária e da
qualidade de vida em saúde.
Sabemos que as desigualdades sociais em saúde são registradas de longa data, tendo seu estudo
sido retomado com ênfase, nas últimas décadas, diante da verificação da persistência ou ampliação dos
diferenciais de saúde entre os segmentos sociais (WHO, 2002; GWATKIN, 2000).
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POLÍTICAS DE SAÚDE
Unidade I
1 SEGURIDADE SOCIAL – COMPOSIÇÃO E NORMATIZAÇÃO
Se vamos estudar políticas de saúde, então a pergunta é: Você sabe o que é política?
Política é a ciência que busca mecanismos para a construção coletiva do bem comum.
Há uma frase que diz “aqueles que não se interessam por política serão governados pelos que se
interessam”. E, gostaríamos de complementá-la escrevendo: “e os que se interessam nem sempre são
os que sabem o que é melhor para a maioria”. Por isso, precisamos entender o que é política e o que é
saúde para podermos compreender o cenário atual e desempenharmos com responsabilidade nossas
atividades na área.
No caso da saúde, a política tem o objetivo de organizar todos os setores, públicos e privados, em
seus diversos níveis, para atender às necessidades de saúde da população.
Exemplo de aplicação
Vamos refletir: Quais são as necessidades de saúde? Elas são diferentes das necessidades da doença?
Um indivíduo saudável é apenas um indivíduo livre de doenças?
Para a Organização Mundial da Saúde, a OMS (World Health Organization – WHO na língua
inglesa), saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a
ausência de doença.
O conceito de saúde é muito mais amplo do que o conceito de doença. Um cidadão que apresenta
sinais e sintomas como dor, febre, tosse é considerado doente e precisa de assistência médica, e,
provavelmente necessitará de tratamento curativo para restabelecer seu estado físico. Esse é o cidadão
doente, correto?
Agora vamos usar a definição da OMS para exemplificar um cidadão saudável, ele teria que, além de
estar livre de doenças, ter um completo bem-estar físico, mental e social, precisaria sentir-se bem, morar
bem, comer bem, trabalhar bem e viver bem.
Essa visão de saúde é algo recente, e se retomarmos a história da humanidade vamos encontrar o
foco no tratamento, na cura e na contenção da propagação das doenças transmissíveis.
11
Unidade I
Para melhor definir e estabelecer o objeto de estudo deste trabalho – as políticas públicas em saúde –,
é necessário identificar o exato contexto em que a Saúde Pública se insere, enquanto atribuição dos entes
públicos (a União, os Estados e Municípios), consideradas as correspondentes disposições constitucionais,
de onde precisamente decorrem todas as diretrizes que dão suporte e fundamento àquelas políticas.
A Constituição Federal (CF), ao tratar do Título VIII (“da Ordem Social”), divide-o em nove Capítulos,
dedicando o Capítulo II à Seguridade Social, subdividindo-o nas Seções I (“Disposições Gerais” – artigos
194 e 195), II (“Da Saúde” – artigos 196 a 200), III (“Da Previdência Social” – artigos 201 e 202) e IV (“Da
Assistência Social” – artigos 203 e 204) (BRASIL, 1988).
Esta estrutura é adotada pela CF justamente porque a Saúde Pública, a Previdência Social e a
Assistência Social são as três componentes da Seguridade Social.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
12
POLÍTICAS DE SAÚDE
A CF, portanto, dispondo sobre a Seguridade Social, no caput do seu artigo 194, define Seguridade
Social e a desdobra em três componentes:
14
POLÍTICAS DE SAÚDE
• Saúde Pública.
• Previdência Social.
• Assistência Social.
Nos seus incisos I a VII, a CF (BRASIL, 1988) estabelece as diretrizes que orientam os mecanismos da
Seguridade Social:
• Seletividade e distributividade.
Ainda dispondo sobre Seguridade Social, a CF, na sequência, no seu artigo 195, trata, em linhas
gerais, do seu financiamento, e transfere à lei a prerrogativa da definição dos critérios de transferência
dos recursos para as ações de assistência social e para o “sistema único de saúde” (que é mencionado
pela primeira vez e de forma expressa).
A Saúde Pública – primeira componente da Seguridade Social – tem suas diretrizes especificamente
expressas nos artigos 196 a 200 da CF:
§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195,
com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo único
renumerado para § 1º pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000)
§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos,
estabelecerá: (Incluído pela Emenda Constitucional n. 29, de 2000)
17
Unidade I
Lembrete
Todo cidadão brasileiro tem direito à saúde e acesso aos serviços públicos
de saúde. O Estado deve garantir através de suas políticas esses direitos.
• Artigo 196 – a saúde é direito de todos e dever do Estado, que está obrigado a estabelecer
políticas que assegurem a universalidade e a igualdade no acesso e que contemplem a prevenção,
promoção, proteção e recuperação da saúde.
• Artigo 198 – determina a instituição de um sistema único para a administração das ações e
serviços públicos de saúde, sistema este que será regionalizado e hierarquizado e determina suas
diretrizes: descentralização, atendimento integral (com prioridade para a prevenção) e participação
da comunidade.
18
POLÍTICAS DE SAÚDE
• Artigo 199 – prevê a possibilidade da atuação da iniciativa privada na saúde pública, segundo as
condições que estabelece.
• Artigo 200 – nos seus incisos I a VIII enumera as competências do serviço único de saúde, e prevê
também a possibilidade de que a lei estabeleça outras atribuições.
Lembrete
A Previdência Social – a segunda componente da Seguridade Social – foi contemplada pela CF com
as seguintes disposições:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral,
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998)
20
POLÍTICAS DE SAÚDE
22
POLÍTICAS DE SAÚDE
Assim, ao tratarmos das políticas de Saúde Pública, será sempre possível analisá-las sob a perspectiva
das disposições constitucionais e inseri-las no conjunto das diretrizes que orientam a Seguridade Social.
Nesse contexto, qualquer discussão acerca desse tema terá na CF os parâmetros e diretrizes a serem
observados e seguidos.
Antes, entretanto, de tratar das Políticas Públicas de Saúde no Brasil, é oportuno fazer um breve
histórico da Saúde Pública, da Previdência Social e da Assistência Social, para melhor entender o estágio
de desenvolvimento em que o país se encontra.
23
Unidade I
Observação
Desde o descobrimento do Brasil, passando pelo período colonial, pelo período imperial e pelo início
da República, as ações em saúde pública eram realizadas de forma bastante desorganizada, seja pela
centralização das decisões na Corte, pela grande extensão territorial, pelo atraso tecnológico ou pela
falta de políticas efetivas, consistentes e coordenadas.
Quadro 1
Em 1808, Dom João VI fundou na Bahia o Colégio Médico‑Cirúrgico no Real Hospital Militar da
cidade de Salvador. No mês de novembro do mesmo ano foi criada a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro,
anexa ao Real Hospital Militar.
A carência de profissionais médicos no Brasil Colônia e no Brasil Império era enorme, por exemplo,
no Rio de Janeiro, em 1789, só existiam quatro médicos exercendo a profissão (SALLES, 1971). Em outros
estados brasileiros eram mesmo inexistentes.
Até a chegada da família real ao Brasil, em 1808, as medidas adotadas eram bastante incipientes,
praticamente sem significativas repercussões na saúde pública da Colônia.
24
POLÍTICAS DE SAÚDE
Foi justamente em 1808 que se deu a criação da primeira organização nacional de Saúde Pública
no Brasil: em 27 de fevereiro foi instaurado o cargo de Provedor-mor de Saúde da Corte e do Estado do
Brasil (embrião do Serviço de Saúde dos Portos, com delegados nos estados).
• 1878 – tornou-se obrigatória a desinfecção terminal dos casos de morte por doenças contagiosas.
É interessante observar que, de 1850 ao fim daquele século, em razão dos reflexos da revolução
industrial inglesa no Brasil, motivados principalmente pelos interesses dos grandes cafeicultores, que
começaram a investir no setor industrial, começaram as mudanças sociais, com reflexos na saúde
pública: crescimento de centros urbanos, em razão do deslocamento da população rural, movidas pela
expectativa de melhores condições de sobrevivência, gerando as condições propícias para o surgimento
de graves surtos de doenças epidêmicas, como a tuberculose.
Assim, em 1878, tornou-se obrigatória a desinfecção terminal dos casos de morte por doenças
contagiosas, a critério da autoridade sanitária e foi editado o Decreto n. 7.027, de 06/09/1878, que
tratou de providências sobre a desinfecção das casas e estabelecimentos públicos ou particulares.
A solução adotada foi o incentivo público às pesquisas biomédicas, sobretudo àquelas dirigidas às
doenças tropicais e à formação de equipes de trabalho organizadas em moldes militares, capazes de
intervir com disciplina e eficácia quando necessário. Foram, então, criadas as campanhas sanitárias. O
sucesso dessas campanhas sanitárias destacou-se tanto por seus resultados no controle de processos
epidêmicos, como pelo exemplo de articulação entre o conhecimento científico, a competência técnica
e a organização do processo de trabalho em saúde.
25
Unidade I
Quadro 2
No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro apresentava um quadro sanitário caótico
caracterizado pela presença de diversas doenças graves, como a varíola, a malária, a febre amarela e,
posteriormente, a peste, o que acabou gerando sérias consequências tanto para saúde coletiva quanto
para outros setores como o do comércio exterior, visto que os navios estrangeiros não mais queriam
atracar no porto do Rio de Janeiro.
Ainda, nesse mesmo contexto, é criado, em 1900, o Instituto Soroterápico Federal, para fabricação
de soros e vacinas contra a peste.
O Rio de Janeiro, no início do século XX, era conhecido como o “túmulo dos estrangeiros”. O presidente
Rodrigues Alves, priorizando o saneamento e a reforma urbana, nomeou o engenheiro Pereira Passos
para a Prefeitura e o sanitarista Oswaldo Cruz para a Diretoria-Geral de Saúde Pública (que hoje seria
equivalente ao Ministério da Saúde), iniciando uma nova era para a higiene nacional, inclusive com a
ampliação das atividades do Instituto Soroterápico Federal, que passou a se dedicar também à pesquisa
básica e à qualificação de recursos humanos.
26
POLÍTICAS DE SAÚDE
Observação
A capital do Brasil (então o Rio de Janeiro) foi dividida em distritos sanitários, administrados por
delegados de saúde, sendo implantada uma polícia sanitária, que adotava medidas rigorosas para o
combate à febre amarela, multando e intimando proprietários de imóveis insalubres a demoli-los ou
reformá-los.
Ainda em 1904, foi instituída a Reforma Oswaldo Cruz, com a criação do Serviço de Profilaxia da
Febre Amarela e a Inspetoria de Isolamento e Desinfecção (com responsabilidade de combate à malária
e à peste no Rio de Janeiro).
Assim, tornou-se obrigatória, em toda a República, a vacinação e a revacinação contra a varíola. Foi,
também, criada a Diretoria-Geral de Saúde Pública (para atender aos problemas de saúde da capital do
país e prosseguir na defesa sanitária dos portos brasileiros).
Nesse mesmo ano, uma epidemia de varíola assolou a capital, e somente nos cinco primeiros meses
1.800 pessoas foram internadas no Hospital São Sebastião, pois, embora uma lei prevendo imunização
compulsória das crianças contra a doença estivesse em vigor desde 1837, ela nunca fora cumprida.
27
Unidade I
Foi ainda naquele ano (em 13 de novembro) que eclodiu a Revolta da Vacina, mas os fatos que
deram origem àquele triste evento começaram a ocorrer meses antes: em 29 de junho, o Governo
enviou ao Congresso projeto reinstaurando a obrigatoriedade de vacinação antivariólica, com a previsão
de vacinação antes dos seis meses de idade e para todos os militares, revacinação de sete em sete
anos e exigência de atestado de imunização para candidatos a quaisquer cargos ou funções públicas,
para quem quisesse se casar, viajar ou matricular-se numa escola; foram também outorgados à polícia
sanitária poderes para convocar todos os moradores de uma área de foco a se imunizarem; e, quem se
recusasse, seria submetido à observação médica em local apropriado, pagando as despesas de estadia; o
projeto estipulava ainda punições e multas para médicos que emitissem atestados falsos de vacinação
e revacinação e obrigava os diretores de colégios a obedecerem às disposições sobre imunização dos
estudantes e instituía a comunicação de todos os registros de nascimento.
Ocorreu que essas medidas enfrentaram grande resistência da população, oposição esta que era
estimulada pelos jornais, sendo, até mesmo, organizada a Liga Contra a Vacinação Obrigatória. E, como
resultado da Revolta da Vacina, a população se levantou contra o governo e ocorreram choques com a
polícia, greves, barricadas, quebra-quebra, tiroteios nas ruas, levando, inclusive à decretação do estado
de sítio.
Apenas no dia 16 o Governo Federal conseguiu derrotar a Revolta, mas suspendeu a obrigatoriedade
da vacina.
Lembrete
Nesse mesmo ano a febre amarela foi erradicada do Rio de Janeiro e Oswaldo Cruz recebeu,
em setembro, a medalha de ouro pelo trabalho de saneamento do Rio de Janeiro no IV Congresso
Internacional de Higiene e Demografia de Berlim.
No ano seguinte (em 1908), entretanto, uma violenta epidemia de varíola levou a população
em massa aos postos de vacinação. Nesse mesmo ano, Oswaldo Cruz reformou o Código Sanitário e
reestruturou todos os órgãos de saúde e higiene do País.
Em 1909, Oswaldo Cruz deixou a Diretoria-Geral de Saúde Pública, passando a dedicar-se apenas
ao Instituto de Manguinhos, que fora rebatizado com o seu nome. Nesse ano, também foi erradicada
a febre amarela no Pará e realizada a campanha de saneamento na Amazônia, que permitiu o término
28
POLÍTICAS DE SAÚDE
das obras da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, cuja construção havia sido interrompida pelo grande
número de mortes entre os operários, tendo sido determinadas as seguintes medidas profiláticas e
preventivas: exame médico minucioso e fornecimento de quinino durante a viagem; exames periódicos
nos empregados; fornecimento diário de quinino; desconto dos dias em que o trabalhador não ingerisse
o medicamento e gratificação para o operário que passasse três meses sem sofrer nenhum acesso de
malária; recomendou‑se a construção de galpões telados para alojamento do pessoal, fornecimento de
água fervida; uso de calçados e locais determinados para a defecação.
Ainda em 1909, Carlos Chagas descobriu a doença provocada pelo Tripanosoma cruzi, que, então,
passou a se chamar doença de Chagas.
Em 1920, Carlos Chagas reorganiza os Serviços de Saúde Pública, com a criação do Departamento
Nacional de Saúde Pública e é editado o Decreto n. 3.987, de 02/01/1920. Nesse ano ocorre, também, a
aprovação do regulamento para o Departamento Nacional de Saúde Pública.
Finalmente, em 1921, foi instituída a Reforma Carlos Chagas, que ampliou as atividades de cooperação
com estados, por meio da Diretoria de Saneamento e da Profilaxia Rural.
Observação
29
Unidade I
É criado, em 1930, o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, tendo sido os serviços
relacionados com a saúde pública transferidos para o novo Ministério e reativado o Serviço de Profilaxia
de Febre Amarela, em virtude da epidemia de 1927-1928, no Rio de Janeiro, e da dispersão do mosquito
transmissor.
Em 1936, uma comissão chefiada por Evandro Chagas chegou ao Pará com uma equipe de médicos
e farmacêuticos, tendo constatado que a Amazônia era um campo vasto para pesquisa nas áreas médica
e científica. Sugeriu, então, a criação de um instituto de pesquisa para ampliar os estudos de doenças
regionais, como malária, leishmaniose, filariose, do que resultou a criação, em 11 de novembro, do
Instituto de Patologia Experimental do Norte (Ipen), atual Instituto Evandro Chagas (IEC).
1942
1943
1944
1948
1953
• Foi instituída a obrigatoriedade da iodação do sal de cozinha destinado a consumo alimentar nas
regiões bocígenas do País.
1954
• É editada a Lei n. 2.312, de 03/09/1954, que estabeleceu normas gerais sobre a defesa e proteção
da saúde.
Somente a partir da década de 1960 é que realmente começaram a ser implantadas normas, que, destinadas
a acompanhar o aumento da produção e do consumo de bens e serviços, tiveram repercussões na área da saúde
pública, como a regulamentação da iodação do sal e das águas de consumo humano e a reforma do laboratório
de análises, com a criação do Instituo Nacional de Controle da Qualidade em Saúde (INCQS), estimulado pela
implantação do Programa Nacional de Imunização, com o controle sanitário das vacinas.
1961
• Realização das primeiras campanhas com a vacina oral contra a poliomielite: projetos experimentais
em Petrópolis/RJ e Santo André/SP.
1962
Cenário político
A partir de 1961 o presidente João Goulart (Jango) desenvolveu uma política externa
independente do apoio das superpotências da Guerra Fria. Jango fortaleceu os movimentos
sindicais, estudantis, camponeses e populares. Além desses fatos, o então presidente
promoveu uma aproximação política entre o Brasil e a União Soviética, o que desencadeou
atritos com as lideranças políticas, econômicas e militares do Brasil.
O longo programa ideológico do movimento foi acionado com a retirada dos estudantes,
especialmente os de nível universitário, de qualquer autonomia representativa e mantendo-os
afastados de uma participação ativa nas transformações políticas. Posteriormente, o processo
32
POLÍTICAS DE SAÚDE
prosseguiria com o afastamento de professores; e, a partir de 1969, com a repressão brutal das
manifestações estudantis, articuladas ou não a organizações políticas clandestinas.
Observação
1967
1970
1975
• Instituição, ainda no papel, do Sistema Nacional de Saúde, que estabelecia de forma sistemática
o campo de ação na área de saúde, dos setores públicos e privados, para o desenvolvimento das
atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde. O documento reconhece e oficializa
a dicotomia da questão da saúde, afirmando que a medicina curativa seria de competência do
Ministério da Previdência, e a medicina preventiva de responsabilidade do Ministério da Saúde.
No entanto, o Governo Federal destinou poucos recursos ao Ministério da Saúde, que foi incapaz
de desenvolver as ações de saúde pública propostas, o que significou, na prática, uma clara opção
pela medicina curativa, que era mais cara e que, no entanto, contava com recursos garantidos
através da contribuição dos trabalhadores para o INPS.
Observação
De qualquer forma, o modelo econômico implantado pela ditadura militar entra em crise, basicamente
por duas razões:
• Diminuição do fluxo de capital estrangeiro para mover a economia nacional, logo, o País diminuiu
o ritmo de crescimento, que deixou de ser sustentável.
A ideia de que era preciso fazer “crescer o bolo” (a economia) para depois redistribuí-lo para a população
não se confirmou no plano social: os pobres ficaram mais pobres e os ricos mais ricos, sendo o Brasil um
dos países que apresentam um dos maiores índices de concentração de renda em nível mundial.
A população, com baixos salários, contidos pela política econômica e pela repressão, passou a
conviver com o desemprego e as suas graves consequências sociais, como aumento da marginalidade,
das favelas e da mortalidade infantil.
34
POLÍTICAS DE SAÚDE
É exatamente nesse contexto que o modelo de saúde começou a mostrar as suas mazelas:
• Por ter priorizado a medicina curativa, o modelo proposto revelou-se incapaz de solucionar os
principais problemas de saúde coletiva, como as endemias, as epidemias, e os indicadores de
saúde (mortalidade infantil, por exemplo).
• Revelou-se, também, a incapacidade do sistema em atender a uma população cada vez maior de
marginalizados, que, sem carteira assinada e contribuição previdenciária, foram excluídos do sistema.
• A esse quadro, acrescentam-se os desvios de verba do sistema previdenciário para cobrir despesas
de outros setores e para realização de obras por parte do Governo Federal.
• Finalmente, todo esse quadro de crise foi agravado pelo não repasse da União de recursos do
Tesouro Nacional para o sistema previdenciário, assumindo, assim, a condição de inadimplente no
custeio tripartite do sistema (empregador, empregado e União).
1965
1969
• Foi instituída a Fundação Oswaldo Cruz, congregando inicialmente o então Instituto Oswaldo
Cruz, a Fundação de Recursos Humanos para a Saúde, posteriormente Escola Nacional de Saúde
Pública (ENSP) e o Instituto Fernandes Figueira (as demais unidades que hoje compõem a Fiocruz
foram incorporadas ao longo dos anos).
1971
1975
1976
• Regulamentação da Lei n. 6.259/75, que dispôs sobre a organização das Ações de Vigilância
Epidemiológica, o Programa Nacional de Imunizações e estabeleceu normas relativas à notificação
compulsória de doenças.
1977
• São definidas as vacinas obrigatórias para os menores de um ano, em todo território nacional.
36
POLÍTICAS DE SAÚDE
1979
• Implantação, pela Fiocruz, do concentrado viral para diluição da vacina contra sarampo.
1980
1981
• Execução do Plano de Ação Contra o Sarampo, por intermédio de campanhas estaduais de vacinação.
• Para tentar conter custos e combater fraudes, o governo criou o Conselho Consultivo de
Administração da Saúde Previdenciária – Conasp (ligado ao Inamps), e que passa a absorver em
postos de importância alguns técnicos ligados ao movimento sanitário, o que permitiu dar início
à ruptura, por dentro, da dominância dos anéis burocráticos previdenciários.
Com a adoção da nova estratégia, inicia-se uma fiscalização mais rigorosa da prestação de contas dos
prestadores de serviços credenciados, combatendo-se as fraudes. O plano propõe, também, a reversão
gradual do modelo médico-assistencial, visando:
• Hierarquização.
37
Unidade I
O Conasp encontrou oposição da Federação Brasileira de Hospitais e de Medicina de Grupo, que viam
nessa tentativa a perda da sua hegemonia dentro do sistema e a perda do seu status. Para se mencionar
a forma desses grupos atuarem, basta citar que eles se opuseram e conseguiram derrotar dentro do
governo, com a ajuda de parlamentares, um dos projetos mais interessantes de modelo sanitário,
que foi o PREV-SAÚDE, que depois de seguidas distorções acabou por ser arquivado. No entanto, isso
não impediu que o Conasp implantasse e apoiasse projetos pilotos de novos modelos assistenciais,
destacando o Piass no nordeste.
Devido ao agravamento da crise financeira, o sistema redescobre, quinze anos depois, a existência do
setor público de saúde e a necessidade de se investir nesse setor, que trabalhava com um custo menor
e atendendo a uma grande parcela da população carente de assistência.
Assim, em 1983, foi criado a AIS (Ações Integradas de Saúde), um projeto interministerial (Previdência-
Saúde-Educação), visando a um novo modelo assistencial que incorporava o setor público, procurando
integrar ações curativo-preventivas e educativas ao mesmo tempo.
Nesse contexto, cujo período coincidiu com o movimento de transição democrática, com eleição
direta para governadores e a vitória esmagadora de oposição em quase todos os estados nas primeiras
eleições democráticas do período (1982), a Previdência Social passa a comprar e pagar serviços prestados
por estados, municípios, hospitais filantrópicos, públicos e universitários.
O movimento Diretas Já, de 1985, e a eleição de Tancredo Neves marcaram o fim do regime
militar, gerando diversos movimentos sociais inclusive na área de saúde, que culminaram com a
criação das Associações dos Secretários de Saúde Estaduais (Conass) ou municipais (Conasems).
A partir da grande mobilização nacional por ocasião da realização da VIII Conferência Nacional
de Saúde (Congresso Nacional, 1986) resultaram as bases da reforma sanitária e do Suds (Sistema
Único Descentralizado de Saúde).
Observação
38
POLÍTICAS DE SAÚDE
É preciso fazer um pequeno corte nessa sequência para entender como o modelo médico neoliberal
procurou se articular naquele momento da crise.
O setor médico privado que se beneficiou do modelo médico-privatista durante quinze anos a partir
de 1964, tendo recebido nesse período vultosos recursos do setor público e financiamentos subsidiados,
cresceu, desenvolveu‑se e engordou.
Assim, a partir do momento em que o setor público entrou em crise, o setor privado começou a
perceber que não mais poderia se manter e se nutrir daquele e passou a formular novas alternativas
para sua estruturação. Direcionou, então, o seu modelo de atenção médica para parcelas da
população, classe média e categorias de assalariados, procurando através da poupança desses
setores sociais organizar uma nova base estrutural.
Desse modo, foi concebido um subsistema de atenção médica supletiva, composto de cinco
modalidades assistenciais:
• Medicina de grupo.
• Cooperativas médicas.
• Autogestão.
• Seguro-saúde.
• Plano de administração.
Com pequenas diferenças entre si, estas modalidades se baseiam em contribuições mensais dos
beneficiários, em contrapartida pela prestação de determinados serviços. Esses serviços e benefícios
eram pré-determinados, com prazos de carências, além de específicas exclusões, por exemplo, a não
cobertura do tratamento de doenças infecciosas.
Esse sistema baseou-se num universalismo excludente, beneficiando e fornecendo atenção médica
somente para aquela parcela da população que tem condições financeiras de arcar com o sistema, não
beneficiando a população como um todo e sem a preocupação de investir em saúde preventiva e na
mudança de indicadores de saúde, cabendo, enquanto isso, ao subsistema público atender à grande
maioria da população (aproximadamente 120.000.000 de brasileiros, em 1990), com os minguados
recursos dos Governos Federal, Estadual e Municipal.
39
Unidade I
1984
• A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef) recomendam a adoção da estratégia de dias nacionais de vacinação, que é adotada pelos
países latino-americanos.
Observação
O Fundo das Nações Unidas para a Infância foi criado em 1946, por
decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas. Em 1950, foi instalado o
primeiro escritório do Unicef no Brasil.
1985
1986
1987
Finalmente, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, ficou legalmente estabelecido que
a saúde pública é um direito de todos e dever do Estado, criando-se, assim, as condições necessárias
ao surgimento de canais e mecanismos de controle e participação social, para dar cumprimento aos
princípios constitucionais que visavam garantir os direitos sociais e individuais.
Em cumprimento das disposições constitucionais, o Governo, em 1990, editou as Leis 8.080 e 8.142,
conhecidas como Leis Orgânicas da Saúde, regulamentando o SUS, criado pela Constituição de 1988.
40
POLÍTICAS DE SAÚDE
Saiba mais
http://www.paho.org/.
Quanto aos anos mais recentes, segue um resumo esquemático das medidas de saúde pública adotadas:
1989
1990
• Transferência das atribuições, do acervo e dos recursos orçamentários da Sucam para a FSESP, que
passou a denominar-se Fundação Nacional de Saúde (FNS).
• A Lei n. 8.080, de 19/9/1990, instituiu o SUS, definindo seus objetivos, competências e atribuições;
princípios e diretrizes; organização, direção e gestão; criou o subsistema de atenção à saúde
indígena; regulou a prestação de serviços privados de assistência à saúde; definiu políticas de
recursos humanos; financiamento; gestão financeira; planejamento e orçamento.
• A Lei n. 8.142, de 28/12/1990, introduziu a gestão participativa no SUS; forma de alocação dos
recursos oriundos do Fundo Nacional de Saúde.
1991
41
Unidade I
• Introdução da vacinação contra a febre amarela na rotina dos serviços permanentes de vacinação,
nas áreas endêmicas.
• Início do Plano de Eliminação do Tétano Neonatal, com vacinação de mulheres em idade fértil,
nos municípios de risco.
1992
• Instituição da vacina contra a hepatite B, para grupos de alto risco de infecção pelo vírus HB, em
todo o País.
1994
1995
1996
1997
1998
• Responsabilização direta dos municípios pela execução da vacinação, na rede de serviços, a partir
da sua habilitação às condições de gestão estabelecidas pela NOB/96: Gestão Plena de Atenção
Básica e Gestão Plena do Sistema Municipal.
42
POLÍTICAS DE SAÚDE
1999
2000
2001
2002
• Inclusão das ações de epidemiologia e controle de doenças na gestão da atenção básica de saúde
(Portaria GM/MS n. 44, de 3/1/2002).
• Instituição, no âmbito do SUS, do Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites
Virais, a ser desenvolvido pelos três níveis de gestão; definição das competências e atribuições
relativas à implantação/gestão do Programa em cada nível de direção do SUS; estabeleceu níveis
assistenciais; delegou à Funasa a coordenação do Sistema Epidemiológico das Hepatites Virais e o
uso de imunobiológicos para a prevenção das hepatites virais, e deu outras providências (Portaria
GM/MS n. 263, de 5/2/2002).
• Alterações na Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispôs sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento correspondentes;
regulamentou a assistência domiciliar no âmbito do SUS, e deu outras providências (Lei n. 10.424,
de 15/4/2002).
• Instituição do Dia Nacional da Mobilização contra a Dengue (Portaria GM/MS n. 1.346, de 24/7/2002).
• Formação do Cartão Nacional de Saúde – Cartão SUS (Portaria GM/MS n. 1.560, de 29/8/2002).
• Concepção do Comitê Nacional de Mobilização Contra a Dengue (Portaria Funasa n. 408, de 12/9/2002).
• Definição do parâmetro que caracteriza situação de iminente perigo à saúde pública pela presença
do mosquito transmissor da dengue (Portaria Funasa n. 559, de 4/12/2002).
2003
• Instituição do Programa Nacional para Prevenção e Controle das Hepatites Virais, o Comitê Técnico
de Acompanhamento e Assessoramento do Programa (Portaria GM/MS n. 2.080, de 31/10/2003).
44
POLÍTICAS DE SAÚDE
2004
• Instituição, em todo território nacional, dos calendários de vacinação (Portaria GM/MS n. 597,
de 8/4/2004).
• Regulamentação da NOB SUS 01/96 no que se refere às competências da União, Estados, Municípios
e Distrito Federal, na área de Vigilância em Saúde, define a sistemática de financiamento, com a
previsão, no art. 30, de que a Funasa estabelecerá, com a participação da SVS, critérios e limites
para o pagamento da indenização de campo dos seus agentes de controle de endemias (Portaria
GM/MS n. 1.172, de 15/6/2004).
2005
2006
2007
• Fixação das diretrizes nacionais para o saneamento básico (Lei n. 11.445, de 5/1/2007).
2009
• Instituição, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), da Política Nacional de Atenção Integral
à Saúde do Homem (Portaria GM/MS n. 1.944, de 27/08/2009).
45
Unidade I
2010
2011
Órgãos Colegiados
Ministro
Órgãos Subordinados
Subordinação
da Saúde Conselho Nacional de Saúde
Vinculação Conselho de Saúde Suplementar
Gabinete do Secretaria
Ministro Executiva
Consultoria Departamento
Jurídica Nacional de
Auditoria do SUS
Figura 1
2 PREVIDÊNCIA SOCIAL
A Lei 4.682, de 24 de janeiro de 1923, é considerada o marco inicial, ou, pelo menos, a primeira
iniciativa realmente importante na instituição da Previdência Social Pública no Brasil.
Denominada Lei Eloy Chaves, em homenagem ao seu criador, instituiu a Caixa de Aposentadoria e
Pensões (CAP) para os empregados (e seus dependentes) das empresas de estrada de ferro.
Observação
As CAPs foram, em seguida, estendidas aos demais trabalhadores (empregados do serviço público,
serviços portuários, serviços telegráficos, de água, energia, transporte aéreo e mineração, entre
tantos outros), mas tinham basicamente duas limitações que dificultavam sua disseminação para a
todos os trabalhadores: eram organizadas apenas por empresas (e não por categorias profissionais)
e não se estendiam aos trabalhadores rurais (condição imposta pela classe política dominante, para
aprovação da lei).
O fato de serem limitadas no âmbito das empresas impedia que as CAPs tivessem segurados em
quantidade suficiente e pudessem captar recursos em volume, permitindo o funcionamento eficiente
das Caixas criadas.
Por isso, com a crescente urbanização, a evolução da organização dos trabalhadores (inclusive com a
participação dos trabalhadores imigrantes europeus) e a industrialização (ainda que incipiente) surgiram
as condições necessárias para mudanças no sistema, permitindo, assim, a criação dos Institutos e
Aposentadoria e Pensões (IAP), implantados no governo Getúlio Vargas e que correspondiam a autarquias
de extensão nacional, centralizadas pelo Governo Federal.
47
Unidade I
Observação
As CAPs foram fundidas, surgindo, a partir de 1933, os IAPs, nos quais a filiação dos trabalhadores
passou a se dar não mais por empresa, mas por categoria profissional, possibilitando, assim, o crescimento
do sistema previdenciário. Em sequência foram, então, sendo criados os IAPs dos marítimos, dos
comerciários, dos bancários e dos industriários, dos servidores do Estado, dos empregados do transporte
e cargas, entre outros.
Os IAPs também apresentavam problemas: havia diferenças entre os sistemas de benefícios dos vários
IAPs, criando dificuldades de adaptação, quando os trabalhadores mudavam de categoria profissional,
alterando a filiação previdenciária, ao migrarem de um para outro instituto.
Os IAPs foram finalmente uniformizados com a edição da Lei 3.807, de 26 de agosto de 1960
(chamada a Lei Orgânica da Previdência Social), que uniformizou os planos de prestação, de custeio e as
estruturas administrativas dos IAPs, do que, na prática, resultou a uniformização dos diferentes regimes
de previdência social, então existentes no Brasil (exceto para os funcionários públicos e militares).
Na sequência, em 21 de novembro de 1966 foi editado o Decreto-Lei 72, que reuniu os IAPs existentes
e criou o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).
Em 1975 a Previdência Social foi estendida aos trabalhadores rurais e a seus dependentes, sendo,
também, garantido o seguro de acidentes do trabalho.
Nessa época, os serviços de Saúde Pública, Previdência Social e Assistência Social enfrentavam
grandes dificuldades de administração, organização e racionalização, pois estavam distribuídos entre
vários órgãos:
48
POLÍTICAS DE SAÚDE
— Prestação de assistência médica e outros serviços aos trabalhadores urbanos e seus dependentes.
• Ipase (Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado), que prestava assistência
médica aos funcionários públicos federais e da pensão e outros benefícios pecuniários para os
seus dependentes.
Observação
Com a Lei 6.439, de 1º/09/1977, foi instituído o Sinpas – Sistema Nacional de Previdência e Assistência
Social, que determinou as seguintes mudanças no sistema:
49
Unidade I
• INPS – Instituto Nacional da Previdência Social, com as atribuições de conceder e dar manutenção
aos benefícios (prestações em dinheiro), inclusive em casos de acidente do trabalho, compreendendo
a Previdência Social urbana, a rural, a dos funcionários públicos federais e aos maiores de 70 anos
e inválidos.
— Execução dos programas especiais de assistência médica antes mantidos pela LBA e destinados
às populações carentes (beneficiárias ou não da previdência social, em determinadas regiões,
mediante convênios com entidades públicas que assegurem ao Inamps os recursos necessários).
— Prestação de serviços de assistência complementar, não prestados pelo INPS ou pelo Inamps
aos seus beneficiários.
Observação
— Administrar os recursos das entidades do Sinpas de acordo com o Plano Plurianual de Custeio,
inclusive as aplicações patrimoniais e financeiras aprovadas pelo colegiado que administra o
respectivo Fundo.
Quadro 3 – Sinpas
Órgãos Função
INPS
Finalmente, ainda no âmbito do sistema previdenciário e antes do advento da CF de 1988, foi editado
o Decreto-lei 2.283, de 27 de fevereiro de 1986 (revogado e substituído pelo Decreto-lei 2.284, de 10 de
março de 1986), que instituiu o seguro-desemprego.
51
Unidade I
Promulgada a CF de 1988, como já exposto, foram definidas disposições específicas (artigos 194 a
204), abrangendo exatamente as três áreas integrantes da Seguridade Social (Saúde Pública, Previdência
Social e Assistência Social).
• Ao MTPS foram vinculados a Dataprev e o INSS – Instituto Nacional do Seguro Social (organizado
na forma de autarquia), resultante da fusão do Iapas e do INPS, assumindo as atribuições de
arrecadar e cobrar as contribuições, bem como de pagar os benefícios.
Na sequência, foram ocorrendo mudanças que deram os atuais contornos à Seguridade Social
no Brasil:
• Lei 8.080, de 19/09/1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação
da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e cria o SUS – Sistema
Único de Saúde.
• Lei 8.142, de 28/12/1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema
Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na
área da saúde.
• Lei 8.689, de 27/07/1993, que extinguiu o Inamps, transferindo as atribuições do órgão para o
SUS.
• Lei 8.742, de 07/12/1993, que dispõe sobre a Assistência Social, instituindo o Fundo Nacional de
Assistência Social.
• Lei 9.649, de 27/05/1998 (conversão da Medida Provisória 1.651-43/1998), que extinguiu a LBA e
a CBIA – Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência (sucessor da Funabem).
• Lei 9.876, de 26/11/1999, que promoveu alterações nas leis 8.212/1991 e 8.213/1991 e criou o
“fator previdenciário”.
52
POLÍTICAS DE SAÚDE
• Lei 9.983, de 14/07/2000, que promoveu alterações no Código Penal, instituindo tipos penais
relacionados à Previdência Social e à atuação dos agentes públicos.
• Lei Complementar 108 e Lei Complementar 109, de 29/05/2001, que tratam da previdência
complementar.
• Lei 10.666, de 08/05/2003, que dispõe sobre a concessão da aposentadoria especial ao cooperado
de cooperativa de trabalho ou de produção.
• Lei 10.683, de 28/05/2003 (conversão da Medida Provisória 103, de 1º/01/2003), que reestruturou
a administração pública, passando o MPAS a se denominar Ministério da Previdência Social –
MPS, e a Assistência Social passou para o Ministério da Assistência e Promoção Social (atualmente
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome).
• Lei 11.457, de 16/03/2007, que transferiu para a Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRFB) a
competência para arrecadar e fiscalizar as contribuições previdenciárias.
• Lei Complementar 150, de 1º/06/2015, que dispõe sobre o contrato de trabalho do empregado
doméstico.
53
Unidade I
— Assegura pagamento do seguro-defeso para familiar que exerça atividade de apoio à pesca.
3 ASSISTÊNCIA SOCIAL
Assim, somente em 1938 foi criado o Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS, ligado ao
Ministério da Educação e Saúde, constituindo a primeira iniciativa brasileira, no âmbito da organização
da Assistência Social.
A LBA, que tradicionalmente era presidida pelas primeiras-damas, foi instalada no Rio de Janeiro e,
com o fim da guerra, passou a prestar assistência às famílias necessitadas em geral, tendo sido, com
o Decreto-lei n. 593/1969, transformada de sociedade civil em fundação, passando a adotar o nome
Fundação Legião Brasileira de Assistência, mas mantendo a sigla LBA e se vinculando ao Ministério do
Trabalho e Previdência Social.
Durante o regime militar, sob o governo do general Ernesto, foi criado, em 1º/05/1974, o Ministério
da Previdência e Assistência Social – MPAS, que tinha, em sua estrutura, uma Secretaria de Assistência
Social, de caráter consultivo e que viria, na época, a se constituir em importante órgão na formulação
de política de combate à pobreza.
Na sequência, através da Lei n. 6.439, de 1º/09/1977, a LBA foi transferida para o Ministério da
Previdência e Assistência Social.
Coube à CF de 1988 elevar a Assistência Social à condição de Política Social Nacional, colocando-a,
juntamente com a Saúde Pública e a Previdência Social, como componente da Seguridade Social, desde
a época em que foram editadas as seguintes normas legais, com disposições acerca do tema:
54
POLÍTICAS DE SAÚDE
• Lei 7.853, de 24/10/1989, que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua
integração social; sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência – Corde, que institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas
pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes e dá outras providências.
• Decreto n. 99.244, de 10/05/1990, através do qual a LBA passa a se vincular ao Ministério da Ação Social.
• Lei 8.742, de 07/12/1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social (é denominada
Lei Orgânica da Assistência Social), tendo suas disposições regulamentadas pelo Decreto 3.048,
de 06/05/1999 (Regulamento da Previdência Social); Decreto 6.214, de 26/09/2007 (que trata
do benefício de prestação continuada da assistência social devido à pessoa com deficiência e ao
idoso de que trata a Lei 8.742, de 07/12/1993 e a Lei 10.741, de 1º/10/2003; e acresce parágrafo ao
artigo 162 do Decreto 3.048, de 06/05/1999) e pelo Decreto 7.788, de 15/08/2012 (regulamento
do Fundo Nacional de Assistência Social).
• Lei 8.160, de 08/01/1991, que dispõe sobre a caracterização de símbolo que permita a identificação
de pessoas portadoras de deficiência auditiva.
• Lei n. 8.842, de 04 de janeiro de 1994, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e cria o
Conselho Nacional do Idoso.
• Medida Provisória 813, de 1º/01/1995 (várias vezes reeditada, até finalmente ser convertida na Lei
9.649, de 27/05/1998), que extinguiu a LBA.
• Lei 10.048, de 08/11/2000, que dispõe sobre a prioridade de atendimento para idosos e portadores
de deficiência.
• Lei 10.741, de 1º/10/2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso.
• Lei 10.836, de 09/01/2004 (conversão da Medida Provisória 132/2003), que cria o Programa
Bolsa Família.
• Lei 12.852, de 05/08/2013, que institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos
jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de
Juventude – Sinajuve.
• Resolução n. 145, de 15/10/2004, do CNAS, que aprova a Política Nacional de Assistência Social.
Saiba mais
O documentário a seguir pode propiciar um contexto histórico e político
dos conteúdos dessa unidade:
POLÍTICAS de saúde no Brasil: um século de luta pelo direito à saúde.
Dir. Renato Tapajós. Brasil, 2006. 62 minutos.
55
Unidade I
A Saúde Pública no Brasil, sob a perspectiva histórica, pode ser dividida em três grandes etapas:
São, de qualquer forma, dignas de notas (e louvor) algumas das iniciativas adotadas nesse período.
Mas, de qualquer qualquer modo, as medidas de Saúde Pública implementadas traziam sempre a marca
das iniciativas isoladas, nem sempre concatenadas entre si, fundamentadas basicamente na filantropia.
Com o advento da Lei Eloy Chaves, em 1923 (quando foram criadas as Caixas de Aposentadoria e Pensão),
seguidas (e substituídas) pelos Institutos Aposentadoria e Pensão (IAP), esses, depois (em 1960), substituídos
pelo INPS, paralelamente à criação do Ministério da Saúde (em 1953, com suas finalidades mais bem definidas
em 1967) e o Sistema Nacional de Saúde (em 1975), o sistema de saúde público foi adotando contornos
vinculados às políticas de previdenciárias, inclusive quanto à parte de seu custeio e manutenção.
Assim, somente com o advento da Constituição Federal, em 1988, sucedida pela legislação
complementar (Lei n. 8.080/1.990, Lei 8.142/1990, Emenda Constitucional 29/2000, Decreto n.
7.508/2.011, Lei Complementar n. 141/2.012) é que, finalmente, foram traçadas as bases legais atuais de
funcionamento do Sistema Único de Saúde.
Erra quem considera SUS apenas como atendimento, pense o SUS com toda a sua grandeza que te
envolve como cidadão nas características sanitárias e de vigilância epidemiológica.
Quer exemplos?
Todas as vezes que você come alguma coisa você está usando o SUS, alguém fiscalizou o alimento
que você come, concorda?
Todo medicamento que você ingere, a água que você consome, o lixo que é produzido, as suas
opções de lazer, os cuidados no tratamento de água e esgoto e a coleta de lixo de seu município são
realizados pelo SUS.
Sistema: significa todas as formas de organização de recursos humanos, materiais e financeiros que
um país possui.
Único: independente de qualquer lugar do país, todo Brasil utiliza um único Sistema de Saúde
Público, que estabelece direitos e conquistas para o país e para todos os brasileiros.
Antes das definições e legislações desse sistema, vamos entender seu contexto histórico.
O fim da década de 1980 foi marcado, no Brasil, por movimentos sociais pela redemocratização do
país e pela melhoria das condições da saúde da população.
Em 1985 foi criada a Nova República (eleição indireta de um presidente não militar desde 1964),
época em que, paralelamente, crescia e ganhava representatividade o Movimento Sanitarista Brasileiro,
que correspondia à luta pela reestruturação do nosso sistema de saúde, patrocinado pelos profissionais
de saúde, usuários, políticos e lideranças populares.
É considerado um marco deste movimento a VIII Conferência Nacional de Saúde em Brasília, realizada
em 1986, cujas propostas foram defendidas na Assembleia Nacional Constituinte criada em 1987.
A nova Constituição brasileira, promulgada em 1988, incorporou grande parte destas ideias e
garantiu o direito à saúde para todo cidadão, transformando-a num dever do Estado, através da criação
de um sistema de acesso universal e igualitário, com ações voltadas para sua promoção, proteção e
recuperação (BRASIL, 1988; PEREIRA et al., 2009).
A Reforma Sanitária Brasileira foi proposta num momento de intensas mudanças e sempre pretendeu
ser mais do que apenas uma reforma setorial. Almejava-se, desde seus primórdios, que pudesse servir à
democracia e à consolidação da cidadania no país.
A realidade social, na década de 1980, era de exclusão da maior parte dos cidadãos do direito
à saúde, que se constituía na assistência prestada pelo Instituto Nacional de Previdência Social,
restrita aos trabalhadores que para ele contribuíam, prevalecendo a lógica contraprestacional e a
cidadania regulada.
Ainda na década de 1980, ganhou força no País o movimento da Reforma Sanitária, observando-
se o recrudescimento dos movimentos populares. No Distrito Federal, o Programa Integrado de Saúde
Escolar (Pise) adotou a odontologia simplificada em toda sua rede, com produção de equipamentos e
insumos, sendo referência para todo o País.
O Prevsaúde, embora não sendo aprovado, propôs a efetivação da saúde bucal como uma das cinco
principais ofertas das unidades de saúde.
57
Unidade I
Em 1983, como decorrência das eleições diretas para governadores, surgiram alguns programas de
saúde baseados nos princípios da reforma sanitária.
Com a Realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, foram estabelecidas as bases
para a reestruturação do sistema de saúde brasileiro.
Promulgada em 1988 a Constituição Federal, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS), definindo a
saúde como “um direito de todos e um dever do Estado”.
A Reforma Sanitária constitui um importante movimento na gestação das atuais Políticas de Saúde
Pública, pois:
• Buscou reverter a lógica da assistência à saúde com a adoção dos seguintes princípios:
— Inversão da entrada do paciente no sistema. Em vez de buscar o hospital quando já estiver doente,
buscar a prevenção. Ou seja: do preventivo para o curativo, portanto promovendo a saúde.
4.2 Definição
Como o próprio nome informa, trata-se de um sistema de saúde, no qual sistema deve ser entendido
como um conjunto coordenado de instituições das três esferas da administração pública (federal,
estadual e municipal), que participam com seus respectivos órgãos e entidades, aos quais se juntam,
58
POLÍTICAS DE SAÚDE
também, entidades de natureza privada (hospitais, clínicas, laboratórios etc.), vinculadas através de
contratos de prestação de serviços e convênios.
O SUS é um sistema, pois não pode ser classificado apenas como um serviço ou uma instituição, mas
sim um conjunto de unidades, de serviços e ações coordenadas, visando a um fim comum, qual seja a
realização de atividades, cujos objetivos são: a promoção, a proteção e a recuperação da saúde.
Além de ser um sistema, é, também, um sistema único, pois o SUS é regido por uma doutrina única
e pelos mesmos princípios organizativos em todo o território nacional, compreendendo as três esferas
da administração pública: a federal, a estadual e a municipal.
• Constituição Federal (BRASIL, 1988) – que, no seu Título VIII – Da Ordem Social, traz:
• Lei 8.080, de 19/09/1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação
da saúde; a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes.
• Lei 8.142, de 28/12/1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema
Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na
área da saúde.
• Decreto 1.651, de 28/09/1995, que regulamenta o Sistema Nacional de Auditoria no âmbito do
Sistema Único de Saúde.
• Decreto 7.508, de 28/06/2011, que regulamenta a Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, para
dispor sobre:
59
Unidade I
Além destas normas, que constituem a legislação básica do SUS, o sistema é também regido
pelas Normas Operacionais Básicas (NOB), cujo objetivo é operacionalizar o sistema, detalhando as
responsabilidades e atribuições das três esferas da Administração Pública e são as seguintes:
— Assim, foram criados: Comissões Intergestores; o Fator de Apoio do Estado (FAE); o Fator de
Apoio ao Município (FAM) e o Sistema de Informação Laboratorial (SAI).
• Norma Operacional Básica 01/96 – buscou aperfeiçoar a gestão dos serviços de saúde e a
organização do sistema, definindo especialmente a responsabilidade do Município, pelas condições
de saúde da sua população e organizando os serviços sob sua gestão.
• Norma Operacional Básica SUS 01/2001-2 – sua edição foi motivada pela constatação da
existência de municípios, que, por serem pequenos, não reúnem condições de gestão do sistema
de funcionamento completo e existência de outros municípios que se encontram na situação
de polos de atração regional, para onde se deslocam as populações dos pequenos municípios
próximos. Tratou-se, assim, do processo de regionalização da assistência médica nestas condições,
além de promover outros ajustes e regulamentações nessas situações.
• Universalidade – a atenção à saúde é assegurada a todo cidadão, que tem direito a todos os
serviços de saúde, públicos ou contratados. Esse princípio doutrinário se fundamenta na disposição
constitucional de que a saúde é um direito de cidadania e um dever do Estado (no sentido de
governo federal, estadual e municipal).
60
POLÍTICAS DE SAÚDE
• Equidade – todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades,
até o limite do que o sistema puder oferecer, independentemente de onde more o cidadão, sem
privilégios ou restrições.
Princípios organizativos:
• Regionalização e hierarquização
— A população deve ter acesso à rede através dos serviços de nível primário de atenção, qualificados
para resolver os principais problemas demandados no sistema de saúde. Os demais problemas deverão
ser referenciados, ou seja, encaminhados para os serviços de maior complexidade tecnológica.
• Resolubilidade – constitui na exigência de que o serviço de saúde esteja capacitado para enfrentar
e resolver, no nível da sua competência, o problema que lhe seja proposto. Assim, quando o
cidadão procura o serviço, ou quando surge um problema que cause impacto coletivo na saúde, o
serviço correspondente deverá resolvê-lo.
• Descentralização – os serviços e as ações devem ser distribuídos, entre os vários níveis de governo,
sob a premissa básica de que quanto mais perto do fato for tomada a decisão, maior é a chance
de acerto. Assim, o Município, o Estado e a União devem ser responsabilizados de acordo com suas
respectivas áreas de abrangência, devendo, entretanto, o sistema ser conduzido no sentido de que
as atribuições dos vários níveis de governo se direcionem ao reforço do poder municipal sobre a
saúde, no sentido da “municipalização da saúde”.
— O contrato ou convênio deve ser celebrado com observância das normas de direito público, o
que assegura a prevalência do interesse público sobre o particular.
61
Unidade I
O Pacto pela Saúde é assim definido, segundo publicação constante da página eletrônica do Ministério
Público do Paraná, no seu Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção à Saúde Pública:
Sua formalização foi realizada através da Coletânea Série Pactos pela Saúde, a qual a mesma página
eletrônica (no mesmo endereço) assim se refere:
O Pacto pela Saúde foi formalizado pela Portaria/GM 399, de 22/02/2006, do Ministério da Saúde,
que divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do
Referido Pacto. A aludida Portaria/GM 399/2006 é composta dos seguintes anexos:
Com a implantação do Pacto pela Saúde nessas três dimensões são efetivados os acordos entre as
três esferas de gestão do SUS (federal, estadual e municipal).
• Saúde do idoso.
• Câncer de colo de útero e de mama.
• Mortalidade infantil e materna.
• Doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza.
• Promoção à saúde.
• Atenção básica à saúde.
— Descentralização.
— Regionalização.
— Financiamento.
— Programação Pactuada e Integrada.
— Regulação.
— Participação e Controle Social.
— Planejamento.
63
Unidade I
— Gestão do Trabalho.
— Educação na Saúde.
O Pacto em Defesa do SUS envolve ações concretas e articuladas pelas três instâncias federativas
no sentido de:
— Mostrar a saúde como direito de cidadania e o SUS como sistema público universal garantidor
desses direitos.
— Alcançar, no curto prazo, a regulamentação da Emenda Constitucional n. 29, pelo Congresso Nacional.
— Garantir, no longo prazo, o incremento dos recursos orçamentários e financeiros para a saúde.
— Aprovar o orçamento do SUS, composto dos orçamentos das três esferas de gestão, explicitando
o compromisso de cada uma delas.
— Elaborar e divulgar a carta dos direitos dos usuários do SUS.
Saiba mais
Sobre o Pacto pela Saúde, acesse:
PARANÁ. O que é o Pacto pela Saúde e como utilizar a Coletânea, Ministério
Público do Estado do Paraná, Curitiba, 2011. Disponível em: http://www.saude.
mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=387. Acesso em: 4
jan. 2017.
Os recursos para a Saúde Pública foram definidos pela Emenda Constitucional 29, de 13/09/2000,
que alterou os artigos 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da CF e estabeleceu:
— União: os gastos devem ser iguais ao do ano anterior, corrigidos pela variação nominal do
Produto Interno Bruto (PIB).
— Estados: estão obrigados a garantir que 12% de suas receitas sejam destinadas ao financiamento
da Saúde Pública.
— Municípios: estão obrigados a aplicar pelo menos 15% de suas receitas.
Em razão da EC 29/2000, foi editada a Lei Complementar 141, de 13/01/2012, que regulamenta o §
3º do artigo 198 da CF, para:
• Dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito
Federal e Municípios em ações e serviços públicos de saúde.
• Estabelecer os critérios de rateio dos recursos de transferências para a saúde e as normas de
fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas três esferas de governo.
A Lei Complementar 141/2012 foi regulamentada pelo Decreto 7.827, de 16/10/2012, que:
Os recursos do SUS são geridos e administrados pelos entes federativos, através de seus respectivos
Fundos:
65
Unidade I
— Estes convênios podem ser realizados das seguintes formas: pelo Ministério da Saúde com
órgãos ou entidades federais, estaduais ou municipais, com entidades filantrópicas ou com
organizações não governamentais.
— O repasse de recursos se dá ao longo do cumprimento do convênio, na medida do cumprimento
das etapas especificadas no respectivo cronograma.
Considerado o ente federativo da União (o Governo Federal), o SUS é custeado por cinco blocos
de financiamento, definidos no Pacto pela Saúde:
É importante tratar, ainda que brevemente, de cada um desses blocos, para identificar os requisitos
e as condições exigidas para o custeio do Sistema:
66
POLÍTICAS DE SAÚDE
— Controle de endemias.
• O Piso de Atenção Básica Fixo (PAB Fixo): emprega-se ao custeio de ações de atenção básica
à saúde cujos recursos são transferidos mensalmente, de forma regular e automática, do Fundo
Nacional de Saúde (FNS) aos fundos de Saúde dos Municípios e do Distrito Federal.
• O Piso da Atenção Básica Variável (PAB Variável): é constituído por recursos destinados ao
custeio de estratégias, realizadas no âmbito da atenção básica em Saúde e são transferidos do
FNS aos fundos de Saúde dos Municípios e Distrito Federal mediante adesão e implementação das
ações às quais se destinam, desde que constantes nos respectivos planos de saúde.
Observação
67
Unidade I
Observação
• A Qualificação da Gestão do SUS dá-se mediante a adesão ao Pacto pela Saúde, por meio da
assinatura do Termo de Compromisso de Gestão, com incentivo específico para cada ação que
integra. São elas:
— Planejamento e orçamento.
— Programação.
— Regionalização.
— Gestão do trabalho.
— Educação em saúde.
— Outros que vierem a ser instituídos por meio de ato normativo específico.
— Fomento para ações de redução de danos em Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e
Drogas (Caps AD).
— Inclusão social pelo trabalho para pessoas portadoras de transtornos mentais e outros
transtornos decorrentes do uso de álcool e outras drogas.
— Outros que vierem a ser instituídos por meio de ato normativo para fins de implantação de
políticas específicas.
69
Unidade I
• Vigilância sanitária: é constituída pelo Termo de Ajuste e Metas (TAM) e pelo Piso da Atenção
Básica em Vigilância Sanitária (PAB Visa).
— O valor das transferências mensais para Estados, Municípios e Distrito Federal, bem como
seu respectivo limite financeiro, é estabelecido em portaria específica, de acordo com valores
pactuados nas Comissões Intergestores Bipartite (CIB).
— Integram ainda o componente vigilância epidemiológica e ambiental os recursos destinados às
seguintes finalidades, com repasses específicos:
- O fortalecimento da gestão da vigilância em saúde nos Estados e Municípios (Vigi SUS II).
- As campanhas de vacinação e o incentivo do Programa DST e Aids.
A participação da sociedade na gestão do SUS está prevista no inciso III do artigo 198 da CF de 1988,
como uma das diretrizes do funcionamento do sistema (constituindo, como já se viu, um dos princípios
organizativos do SUS), que trata também da Lei 8.080/1990 e da Lei 8.142/1990, além do Decreto
7.508/2011, que regulamenta a Lei 8.080/1990 (BRASIL, 2013).
Assim, a sociedade, por meio dos Conselhos de Saúde, passou a exercer o controle social:
Também os Estados e os Municípios passaram, desde 1990, a constituir os seus próprios Conselhos de
Saúde, havendo, hoje no Brasil, além do Conselho Nacional de Saúde (CNS), os Conselhos Estaduais de
Saúde, o Conselho do Distrito Federal e milhares de Conselhos Municipais, além de Conselhos Distritais
Sanitários Indígenas, entre outros.
Como já destacamos, o SUS tem por princípio organizativo a participação popular na sua gestão,
podendo, inclusive, por disposição constitucional expressa, participar do processo de formulação das
políticas de saúde e no controle da sua execução, em todos os níveis de decisão (federal, estadual ou
municipal). Esta participação dá-se de variadas formas (nos Conselhos de Saúde, de representações
paritárias; ou em conferências periódicas de saúde), com o objetivo de definir prioridades e as linhas de
ação sobre saúde.
Neste contexto, é oportuno destacar o Participa SUS, que é a denominação que identifica a política
da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP) do SUS, que busca promover o fortalecimento
da gestão participativa, incorporando outras ferramentas de gestão, como a escuta dos cidadãos, o
monitoramento e avaliação da gestão do SUS, além da auditoria, sob enfoque ampliado.
• Reafirmação dos pressupostos da reforma sanitária sobre o direito universal à saúde, como
responsabilidade do Estado; construção de um pacto de promoção da gestão estratégica e
participativa entre as três esferas de governo.
• Ampliação dos mecanismos de participação popular nos processos de gestão do SUS, de forma a
garantir sua consolidação como política de inclusão social e conquista popular.
• Adoção de mecanismos e práticas de gestão participativa, nas três esferas de gestão do SUS,
envolvendo gestores, prestadores de serviços, trabalhadores de saúde e usuários do SUS.
I – a Conferência de Saúde; e
II – o Conselho de Saúde.
72
POLÍTICAS DE SAÚDE
Quadro 4
Comissão Colegiado
Gestor Intergestores Participativo
Figura 2
• A gestão se dá no âmbito das três esferas da administração pública: federal, estadual e municipal.
• A gestão, na esfera federal, é encabeçada pelo Ministério da Saúde; na estadual, pelas Secretarias
Estaduais de Saúde; e na municipal, pelas Secretarias Municipais de Saúde.
73
Unidade I
A CIT e a CIB
Suas decisões devem ser homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído, em cada esfera
de governo.
As regras para composição dos Conselhos de Saúde são, também, estabelecidas no texto legal,
devendo incluir delegados do governo, prestadores de serviços, trabalhadores de saúde e usuários, sendo
a representação dos usuários paritária (50%) em relação ao conjunto dos demais segmentos.
A criação dos conselhos deve ser objeto de lei ou decreto, em âmbito municipal ou estadual.
O Conselho Nacional de Saúde (regulado pelo Decreto n. 99.438, de 1990) estabeleceu recomendações
para constituição e estruturação dos conselhos estaduais e municipais de saúde, quais sejam:
74
POLÍTICAS DE SAÚDE
• Garantia de representatividade, com a escolha dos representantes feita pelos próprios segmentos.
• Distribuição da composição, sendo 50% usuários, 25% para trabalhadores de saúde e 25% para
gestores e prestadores de serviços.
• Os conselheiros são indicados pelas entidades a que pertencem, mediante discussão ampliada
entre os pares ou outras entidades e movimentos afins.
• Recomenda-se, ainda, que não haja coincidência de mandatos entre membros dos conselhos
e governantes, como forma de minimizar as possibilidades de rupturas bruscas nas políticas
implementadas.
Desde a edição das Leis Orgânicas da Saúde (Leis n. 8.080, de 19 de setembro de 1990 e n. 8.142, de
28 de dezembro de 1990), a existência e o funcionamento dos Conselhos de Saúde são requisitos para a
habilitação e o recebimento dos recursos federais repassados fundo a fundo aos municípios.
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), cuja Diretoria é eleita anualmente, reúne os
Secretários de Saúde dos estados e do Distrito Federal e seus substitutos legais, tendo por finalidades:
• Promover o pleno exercício das responsabilidades das Secretarias de Saúde, no que diz respeito às
políticas de saúde, junto aos órgãos dos Governos Federal e Municipal, ao Poder Legislativo e às
entidades da sociedade.
• Realizar diligência no sentido de que as Secretarias de Saúde dos estados e do Distrito Federal
participem da formulação e tomada de decisões que digam respeito ao desenvolvimento dos
sistemas de saúde nas unidades federadas, em conjunto com o Ministério da Saúde (MS).
• Encaminhar aos órgãos competentes propostas para equacionar os problemas da área de Saúde em
todo o território nacional, estimulando e intercambiando experiências quanto ao funcionamento
75
Unidade I
dos conselhos de saúde, promovendo estudos e propondo soluções aos problemas relativos ao
desenvolvimento da área da Saúde.
O Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) é uma entidade não
governamental, sem fins lucrativos, criada com o objetivo de representar as Secretarias Municipais
de Saúde. Sua importância no cenário político brasileiro deve-se à constatação de que cabe,
prioritariamente, ao município a prestação de serviços de saúde, com a cooperação técnica e financeira
dos estados e da União e cuja conclusão é baseada no entendimento de que é no município onde
as necessidades de saúde da população podem ser dimensionadas de perto. Tem como atribuições
institucionais as atuações:
Reúne representantes das 5.562 Secretarias Municipais de Saúde do Brasil e participa do Conselho
Nacional de Saúde (CNS), órgão deliberativo do SUS, e da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), que
possui a representação dos três entes federados: o Ministério da Saúde (MS), o Conselho Nacional dos
Secretários de Saúde (Conass) e o Conasems.
O Conasems mantém, ainda, os Núcleos Temáticos, espaços onde secretários municipais de saúde e
assessores reúnem-se para discutir políticas, realizar estudos e preparar informações e pareceres para
decisão dos colegiados.
Os participantes dos Núcleos Temáticos têm assento nas comissões e grupos de trabalho tripartites
do SUS.
O Conasems realiza o Congresso Anual Conasems, que reúne, presencialmente, todos os Secretários
Municipais de Saúde para discutir temas do interesse dos gestores municipais e definir orientações para
o trabalho de representação do Conasems e, a cada dois anos, elege a diretoria do órgão.
76
POLÍTICAS DE SAÚDE
É acionado por chamada telefônica gratuita, atendida por técnicos na Central de Regulação, que
identificam o caso e imediatamente o transferem para o médico regulador, que faz o diagnóstico da
situação e inicia o atendimento no mesmo instante, orientando o paciente, ou a pessoa que fez a
chamada, sobre as primeiras ações e avalia a necessidade de encaminhamento para um posto de saúde
ou aos hospitais públicos, nesse caso reservando leito para que o atendimento tenha continuidade.
O Samu pode ser acionado por meio do número 192 e é o principal componente da Política Nacional
de Atenção às Urgências.
São unidades de complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde e as portas de urgência
hospitalares. Faz parte do atendimento pré-hospitalar fixo (diferente do Samu, que é móvel-ambulância).
Seu funcionamento está diretamente relacionado ao Samu, pois este organiza o fluxo de atendimento
pré-hospitalar de urgência e emergência e encaminha o paciente ao serviço de saúde adequado à situação.
77
Unidade I
Criado em 2004 para ampliar o acesso da população aos medicamentos essenciais, que são
vendidos a preço de custo aos cidadãos em unidades próprias. Estão à venda 107 itens para as
doenças mais comuns na população brasileira, dentre eles analgésicos, anti-hipertensivos,
medicamentos para diabetes etc.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é o órgão do Ministério da Saúde que executa o programa.
Existe também o programa Aqui Tem Farmácia Popular, que é uma parceria com farmácias privadas para
oferecer três tipos de medicamentos: diabetes, hipertensão e anticoncepcionais.
É um programa de atenção à saúde mental, com valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica
Brasileira. São serviços criados para substituir os hospitais psiquiátricos. Tem como funções:
Os Caps têm base territorial e comunitária do SUS, referenciais no tratamento das pessoas que sofrem
com transtornos mentais (psicoses, neuroses graves e demais quadros), cuja severidade e/ou persistência
justifiquem sua permanência em um dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e
promotor de vida.
O objetivo dos Caps é oferecer atendimento à população de sua base territorial, realizando:
• Acompanhamento clínico.
• Reinserção social dos usuários, pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários.
Caps I
Caps II
Caps III
• Atendimento diário e noturno, (com funcionamento todos os dias da semana) para adultos com
transtornos mentais severos e persistentes.
Caps i
Caps AD
• Atendimento diário da população com transtornos decorrentes do uso de álcool e outras drogas.
O Ceo é integrado ao processo de planejamento local (regional), com oferta, pelo menos, das
seguintes especialidades odontológicas:
79
Unidade I
Os CEOs constituem serviços que visam à ampliação da capacidade assistencial do SUS quanto às
ações de média complexidade em saúde bucal, na busca da promoção da integralidade na atenção à
saúde bucal.
Tem o objetivo de reduzir o número de óbitos e a incidência da doença no Brasil, envolvendo ações
permanentes e intersetoriais, uma vez que não existem evidências técnicas de que, em curto prazo, seja
possível a erradicação do mosquito transmissor Aedes aegypti.
O Aedes aegypti tem algumas características específicas que favorecem sua disseminação e dificultam
o seu combate:
• Aproximadamente 70% dos criadouros estão no interior dos domicílios. Nesse caso, as ações de
saneamento domiciliar são de grande importância para o controle do mosquito. Ações simples,
como a vedação de caixas d’água e outros possíveis depósitos de água, desobstrução de calhas,
dentre outras, são importantes para o controle do vetor.
A malária é uma doença infecciosa aguda, cujo agente etiológico é o parasito do gênero Plasmodium,
transmitida pela picada de fêmeas de mosquito do gênero Anopheles meigen, 1818, que se infectam ao
sugar sangue de indivíduos doentes.
80
POLÍTICAS DE SAÚDE
Os sintomas deste agravo são pouco específicos, sendo os mais comuns: febre alta, acompanhada de
calafrios, sudorese abundante e cefaleia.
Alguns pacientes podem manifestar, no início da doença, outros sintomas, principalmente náuseas,
vômitos, astenia, fadiga e anorexia.
Mais de 99% dos casos de malária anualmente diagnosticados no Brasil estão concentrados nos
nove estados que compõem a Amazônia Legal (AC, AM, AP, MA, MT, PA, RO, RR e TO).
Ainda não existe uma vacina para a malária. No Brasil, 3,5 milhões de suspeitos/ano foram submetidos
ao diagnóstico laboratorial nas unidades do SUS, no ano de 2006, dos quais 450 mil foram positivos
para malária, sendo-lhes administrado imediatamente o tratamento específico para a cura da doença.
O Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM) tem como objetivos gerais:
Para garantir o controle da doença, a redução das formas graves e a mortalidade por ela provocada,
o PNCM tem proporcionado apoio sistemático à estruturação dos serviços de saúde para o diagnóstico
e tratamento adequado e oportuno.
Nos últimos anos, tem sido observado considerável avanço no controle da malária e o
fortalecimento da parceria entre as três esferas de governo, estabelecida a partir do processo de
descentralização das ações de vigilância em saúde, com a permanente articulação intermunicipal
promovida pelos gestores.
O PDVisa é o instrumento através do qual são eleitas as prioridades em Vigilância Sanitária, tendo
sua origem e fundamentos:
Esse Plano aborda as diretrizes para o fortalecimento do SNVS e sua efetiva consolidação como parte
integrante do SUS, agregando-as em cinco eixos, a saber:
• Articulação entre ensino, gestão, atenção, participação popular e controle social em saúde e
produção de conhecimento para o desenvolvimento da capacidade pedagógica dos serviços e do
sistema de saúde.
A Política de Educação Permanente foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde, pactuada na
Comissão Intergestores Tripartite e instituída pela Portaria MS/GM n. 198, de 13/02/2004, alterada pela
Portaria MS/GM n. 1.996, de 20/08/2007, que introduziu novas diretrizes e processos e instância para a
implantação dessa política.
82
POLÍTICAS DE SAÚDE
• Disseminar a adoção de práticas que garantam a prevenção e o controle dos distúrbios nutricionais.
Aprovada pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde 338, de 06/05/2004, a Política Nacional de
Assistência Farmacêutica envolve um conjunto de ações voltadas à promoção, à proteção e à recuperação
da saúde, garantindo os princípios da universalidade, integralidade e equidade.
Saiba mais
83
Unidade I
Resumo
84
POLÍTICAS DE SAÚDE
Exercícios
Questão 1. (CONPERVE 2018) A inclusão da promoção da saúde entre as diretrizes do Pacto pela
Vida, em defesa do SUS e de Gestão, por meio da Portaria GM 399/2006, estabeleceu a concordância
entre seus princípios e diretrizes e potencializou suas ações, significando importante passo para o seu
fortalecimento. Em relação a esse fortalecimento, analise as ações apresentadas a seguir.
Assinale a alternativa que apresenta as ações que efetivamente contribuíram, por meio da portaria
GM 399/2006, para o fortalecimento da promoção da saúde foram:
86
POLÍTICAS DE SAÚDE
A) I e III.
B) II e IV.
C) I e IV.
D) II e III.
E) Apenas I.
Alternativa correta: A.
I – Afirmativa correta.
Justificativa: o reforço e a qualificação das estratégias de saúde da família são justificadas nessas
ações da Portaria GM 399/2006:
Saúde do idoso: implantar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, buscando a atenção integral.
Câncer de colo de útero e de mama: contribuir para a redução da mortalidade por câncer de colo do
útero e de mama.
Mortalidade infantil e materna: reduzir a mortalidade materna, infantil neonatal, infantil por doença
diarreica e por pneumonias.
II – Afirmativa incorreta.
IV – Assertiva incorreta.
87
Unidade I
C) A garantia da atenção integral à saúde da pessoa idosa e dos portadores de doenças crônicas
pretende estimular o envelhecimento ativo e o fortalecimento das ações de promoção e prevenção.
Alternativa correta: C.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: o fortalecimento da rede de saúde mental não deve se concentrar apenas nos
dependentes de crack e cocaína; almeja-se ampliar o acesso à atenção psicossocial da população
em geral.
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa correta.
Justificativa: a resolução indica que se deve garantir a atenção integral à saúde do idoso e do
indivíduo com doença crônica pelo estímulo ao envelhecimento ativo e ao fortalecimento das ações de
promoção da saúde e de prevenção de doenças e agravos.
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POLÍTICAS DE SAÚDE
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
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