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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Evolução dos Direitos Humanos

Nome do estudante: Luísa João Mandala


Código do estudante: 708223658

Curso: Licenciatura em Ensino de História

Disciplina: MIC

Ano de Frequência: 1º

Docente: Dr. Gemina Viegas

Quelimane, Julho, 2022

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relevantes na área de estudo

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bibliográficas edição em citações/referências bibliográficas .0
citações e
bibliografia

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Índice
1.Introdução ............................................................................................................... 3

1.1. Objectivos……………………...……………...………………………………..3

1.1.1. Geral………………………………………………………………………….3

1.1.2. Específicos……………………………...……..……………………………..3

1.2. Metodologia……………………………………………….…………………..3

2.Evolução dos Direitos Humano………………………………………………….4

2.Conceito………………………………………………………………………….5

3.Conclusão ............................................................................................................. 15

4.Referencias Bibliográficas……………………………………………………..16

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1. Introdução

Factores históricos e culturais têm uma influência muito relevante no que diz
respeito à
maneira como as instituições públicas lidam com os direitos humanos dos seus cidadãos.
Novas políticas de governação, novos quadros no aparelho do estado, novas legislações.
Tudo isso e muito mais tem contribuindo para as diferentes alterações na constituição dos
direitos humanos do moçambicanos. Pretende-se aqui fazer um levantamento aprofundado
sobre a evolução dos direitos humanos em Moçambique, desde a sua primeira criação em
1975 até os dias actuais. Para tal, falaremos sobre os aspectos inerentes a sua alteração
apresentados dados a favor e contra algumas mudanças feitas no seio dos direitos dos
cidadãos moçambicanos. Um dos objectivos principais deste trabalho não é apenas
apresentar as mudanças feitas nas diferentes versões da constituição dos direitos humanos,
mas também mostrar até que ponto tais alterações são benéficas na vida de todo o cidadão
moçambicano.

1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
 Discutir sobre os direitos Humanos
1.1.2. Específicos
 Conceitualizar os direitos humanos;
 Falar sobre a evolução dos direitos humanos;
 Falar sobre os direitos humanos em Moçambique;
1.2. Metodologia

A compilação do presente trabalho ira fundamentar-se na consulta e análise de


materiais científicos como livros e artigos que falam a respeito de tema como forma de dar
credibilidade as ideias que serão levantadas durante o desenvolvimento do trabalho.

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2. Evolução dos Direitos Humanos

Um tal modelo, definido de “prontidão militar” (TSUCANA, 2014, p. 74), constitui um


forte incentivo para que os direitos humanos dos cidadãos possam vir a ser violados com
uma certa frequência e gravidade, uma vez que a palavra de ordem é manter o controlo da
sociedade e punir o “inimigo”, obedecendo ao superior hierárquico, com variações segundo
o contexto histórico-político, sem olhar muito para o respeito dos princípios
constitucionais, em linha – em larga medida – com a tutela dos direitos humanos.

Dos vários instrumentos que compõem os mecanismos internacionais e regionais


dos Direitos Humanos, desataca-se no plano internacional, o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos de 1966 (com os seus dois protocolos opcionais) e o Pacto
Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (1966), juntamente com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) que formam o que se convencionou
chamar a Carta Internacional dos Direitos Humanos. No plano regional, o destaque vai,
principalmente, para a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, principal
instrumento de protecção regional dos Direitos Humanos.
A par dos instrumentos dos Direitos Humanos no Sistema Internacional e Regional
dos Direitos Humanos existem órgãos específicos destinados à monitoria do respeito pelos
Estados-parte destes tratados e das suas obrigações, sendo de destacar o Conselho dos
Direitos Humanos das Nações Unidas, no plano internacional, e a Comissão Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos, no plano regional.
Estas instituições internacionais e regionais de protecção dos Direitos Humanos
tem como seu papel principal, receber e apreciar os relatórios periódicos sobre o respeito
dos Direitos Humanos submetidos pelos Estados-membros destas organizações
multilaterais, chamados mecanismos de revisão de pares.
Assim sendo, os Direitos Humanos gozam de uma satisfatória protecção, no plano
internacional e regional, sendo, por isso, o conhecimento e o domínio do sistema
internacional e regional dos Direitos Humanos pelos cidadãos moçambicanos
indispensável para uma efectiva protecção dos Direitos Humanos em Moçambique, tendo
em conta, entre outros, o facto de a Constituição da República de Moçambique (CRM), no

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seu artigo 17 n.º2, preconizar que ”a República de Moçambique aceita, observa e aplica os
princípios da Carta da Organização das Nações Unidas e da Carta da União Africana” e
que os tratados e os acordos internacionais, uma vez aprovados, rectificados e publicados,
oficialmente, vigoram na ordem jurídica moçambicana, ostentando o mesmo valor que
possuem os actos normativos infraconstitucionais (leis ordinárias) emanados da
Assembleia da República e do Governo (vida art.º 18 da CRM).

2.1. Conceito

Os Direitos Humanos no plano internacional e regional envolvem um grande


número de instituições e normas internacionais. A grande maioria destas normas emana de
instituições
pertencentes ao Sistema das Nações Unidas, que congrega a quase totalidade dos países em
escala mundial (actualmente, a Organização das Nações Unidas conta com 192 países-
membros) e de instituições pertencentes ao Sistema Africano, que congrega a quase
totalidade dos países em escala africana (actualmente, são membros da União Africana
todos os países africanos).

Na perspectiva de AMARAL (2004, p.65) o Direito é um sistema de regras de


conduta social, obrigatórias para todos os membros de uma certa comunidade, a fim de
garantir no seu seio a justiça, a segurança e os Direitos Humanos, sob a ameaça das
sanções estabelecidas para quem violar tais regras, revela que o bem por ele perseguido é o
homem, que já nasce com direitos (direitos humanos) que merecem uma tutela por parte da
ordem jurídica onde se insere.

O Sistema Internacional e Regional dos Direitos Humanos engloba tanto as normas


que são legalmente exigíveis dos Estados que a elas acederam, assim como as normas cujo
principal efeito é uma obrigação moral ou política em relação aos Estados. De entre as
normas que geram as obrigações legais, em sentido estrito, temos os pactos, estatutos,
tratados e convenções internacionais, como também os seus protocolos opcionais; ao passo
que declarações, como as emanadas da Assembleia Geral das Nações Unidas, princípios,
orientações, padrões e recomendações geram apenas obrigações morais e políticas e devem
servir de orientação aos Estados na condução dos seus assuntos públicos

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2.2. Direitos Humanos em Moçambique desde 1975 à 2004

Em Moçambique, após a conquista da independência em 1975, a temática dos


Direitos Humanos passou a constituir uma preocupação de todos, principalmente, como
forma de repor os direitos e as garantias fundamentais dos cidadãos, antes negados à maior
parte da população pelo colonialismo.

2.2.1. A Constituição de 1975

A Constituição de 1975 foi a primeira a ser aprovada na história de Moçambique


independente. Na altura, Moçambique denominava-se “República Popular de
Moçambique”, e a palavra “popular” tinha um significado bem preciso: remontava a uma
concepção de Estado e de sociedade em que apenas uma força, que supostamente detinha a
larga representação da população, podia legitimamente interpretar os interesses, anseios,
desejos de toda a nação.

O fato de o Estado, nas suas diferentes ramificações, constituir uma das entidades
que mais viola os direitos humanos encontra, como seu pano de fundo, por um lado uma
história secular baseada na violência por parte do colonizador diante das populações
inermes, juntamente com a violência de uma guerra civil brutal de 16 anos que fez mais de
um milhão de mortos, associada a práticas legais de total desrespeito dos direitos humanos
por parte do Estado

Ainda neste período embrionário da República de Moçambique, ratificam-se alguns


tratados internacionais e africanos relacionados aos Direitos Humanos, com destaque para
Convenção das
Nações Unidas para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial de 1983 e a
Carta Africana dos Direitos dos Homens e dos Povos de 1989.

Promulgada a primeira Constituição da República Popular de Moçambique, em


1975, colocava-se em causa uma série de direitos do povo moçambicano, e que de acordo
com o sistema político da época, centrava-se nos direitos sociais, económicos e nos direitos
colectivos. As mudanças político-ideológicas ocorridas no fim da década de 1980, que
tiveram na aprovação da Constituição de 1990 o seu principal marco, permitiram o reforço

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e expansão da consagração e protecção dos Direitos Humanos dos moçambicanos, no
plano nacional.

Foi a partir deste novo texto constitucional que os direitos e garantias fundamentais
vincaram raízes no sistema jurídico moçambicano, com a consequente ratificação da maior
parte dos instrumentos internacionais e regionais na área dos Direitos Humanos.

Entretanto, a política moçambicana, a partir da primeira Constituição de 1975,


nunca foi tão clara e explícita diante do posicionamento ideológico, aparentemente
socialista e marxista, mas com muitas nuances de cunho mais “democrático”, pelo menos
ao nível dos relacionamentos internacionais.

Moçambique tinha um leque bastante variegado e diversificado de aliados por toda


parte do mundo, sendo a palavra de ordem a de “fazer mais amigos” (Zeca, p.2015):
obviamente existia um eixo privilegiado com a União Soviética e Cuba, mas os países
nórdicos, sobretudo a Suécia, além de outros estados europeus com uma forte presença de
partidos de esquerda, acima de tudo a Itália, ou até países norte-africano, por exemplo a
Argélia, que muito apoiou durante a luta de
libertação da Frelimo, constituíam “amigos” de longa data. Seu traço comum não era a
ideologia (marxista), mas sim o facto de serem no mínimo “democráticos” e de terem
ajudado duma forma concreta a Frelimo primeiro, o Estado Moçambicano depois, na
construção do caminho ruma à independência.

Assim, quando se chegou a redigir a primeira Constituição, em 1975, o cunho


ideológico que a caracterizava não era tão claro, como até hoje muitos comentadores
deixam entender. Esta primeira Constituição estava subdividida em 5 Títulos e, em jeito de
anexo, encontrasse a Lei da Nacionalidade. A primeira questão a esclarecer tem a ver com
a natureza ideológica da Constituição de 1975. O termo “socialista” nunca aparece, a não
ser para designar o tipo de aliados “naturais” de Moçambique: os países socialistas (art.º
22), sem recusar, porém, “relações de amizade e cooperação com todas as forças
democráticas e progressistas do mundo” (art.º 22). Além disso, Moçambique adere aos
princípios da Carta das Nações Unidas e da União Africana (art.º 23), prosseguindo uma
política de paz e de desarmamento nuclear (art.º 24).

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Desde o Art.º 1, diz-se que Moçambique é um “Estado soberano, independente e
democrático”, preferindo esta última palavra ao adjectivo “socialista”. O modelo
ideológico e institucional escolhido é a democracia “popular”, que está nas mãos da
Frelimo, o partido dos camponeses aliados com a classe operária. O Estado tem deveres de
planificação económica, sem por isso deter o monopólio da propriedade privada, salvo os
grandes recursos naturais como, terra e água.
Com efeito, a propriedade privada é reconhecida formalmente (art.º 12), embora esteja
subordinada, em termos de interesses, à propriedade estatal (art.º 13), e o próprio capital
estrangeiro tem direito de se instalar em Moçambique, levando a cabo investimentos
favoráveis aos interesses do povo (art.º 14).

Entre os direitos civis, portanto, além da propriedade privada (art.º 12), é garantida
a liberdade de culto religioso (art.º 19): Moçambique declara-se Estado laico, com uma
nítida separação com as instituições religiosas, permitindo a todos de praticar o seu credo,
ou de não praticar nenhum credo (art.º 33).

Liberdade de opinião, reunião, associação (art.º 27), de domicílio e o segredo de


correspondência representam outras liberdades individuais garantidas pela Constituição de
1975 (art.º 33), assim como o direito a um justo processo e a ter uma defesa nos termos da
lei por parte do arguido (art.º 35). Os limites, francamente bastante vagos, que as
liberdades individuais encontram são caracterizados pela necessidade de não entrarem em
choque com os “interesses do povo” (art.º 36).

Não é difícil deduzir, através da análise da primeira Constituição de Moçambique,


que o
campo político é monopolizado pela Frelimo, que as estruturas estatais dependem
directamente do partido único e do seu órgão dirigente, o Comité Central, mas que o
Estado ainda garante as liberdades fundamentais de tipo individual, embora sempre tendo
como limite o “interesse superior” do povo moçambicano, cuja indeterminação deixa à
Frelimo largo espaço de manobra para actuar duma forma bastante arbitrária contra quem
queira se opor aos desejos preconizados pela Frelimo.

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No final de 1978, quando a Constituição de Moçambique foi completada, o
posicionamento ideológico e normativo do País continuava bastante ambíguo. Por um lado,
a palavra “socialismo” é finalmente introduzida, quase a piscar o olho ao grande aliado
soviético e cubano, mas o gozo das liberdades fundamentais individuais mantinha-se,
designando as Assembleias do Povo como órgãos centrais pela difusão dos princípios do
novo Estado.

De modo geral, é possível concluir que a Constituição de 1975 e a sua revisão de


1978 nunca promoveram a violação dos direitos humanos; pelo contrário, elas sempre
ostentaram respeito pelos direitos fundamentais, mesmo de tipo individual, embora com
uma constante relação de subordinação para com os interesses gerais do País,
representados pela Frelimo.

As violações dos direitos humanos que o regime perpetrou alegando como motivo
principal a guerra civil e a sabotagem económica, foram levadas a cabo apesar do ditado
constitucional, mediante a aprovação de leis e programas (como os citados acima)
especialmente destinados à repressão da dissidência interna, mas que depois se alastraram,
duma forma bastante arbitrária, a uma larga fatia de cidadãos, principalmente os mais
vulneráveis, tais como desempregados, mulheres e jovens. Segundo o ponto de vista de
uma afamada historiadora, “grandes abusos e arbitrariedades, como o acantonamento
compulsivo da população em aldeias em tempo de guerra, os «campos de reeducação» e
outras formas de deslocação forçada de populações” denunciam violações graves e
contínuas dos direitos humanos no Moçambique socialista, que o regime multipartidário e
democrático dos anos Noventa procurará rapidamente esquecer e fazer esquecer aos novos
aliados e parceiros internacionais, assim como às populações locais (Dinerman, 2007,
p.104).

A Constituição de 1975 coloca-se, do ponto de vista dos direitos políticos, num


patamar de
tipo democrático-progressista, muito mais do que abertamente socialista. De fato, todos os
cidadãos maiores de 18 anos têm direitos políticos activos e passivos (art.º 26), assim como
as mulheres que estejam nessas condições (art.º 27). Onde, nos direitos políticos, é visível
o restringimento das possibilidades efectivas de opção, até esta se reduzir apenas a um

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partido, é na composição da Assembleia Popular (art.º 37). Aqui, apenas membros da
Frelimo ou do Governo nacional ou provincial expressão também da Frelimo podem ser
eleitos, inclusive os “dez cidadãos idóneos” supostamente independentes, que devem ser
escolhidos pelo Comité Central da Frelimo” (art.º 37).

O quadro acima esboçado deixa claro que Moçambique adoptou, na sua primeira
Constituição, um sistema “misto”: de cunho socialista no que respeita às dimensões
políticas e económicas, mas reconhecendo e protegendo a propriedade privada e as demais
liberdades fundamentais do indivíduo.

2.2.2. A Constituição de 1990

O primeiro elemento que é preciso realçar em jeito de premissa deste ponto, é o


clima em que a Constituição de 1990 foi aprovada em Moçambique. Nesta altura, o país
ainda encontrava-se dilacerado pela guerra civil, apesar de as negociações com a Renamo
já terem iniciado, rumo à uma paz não muito longínqua.

Esta Constituição consagrou, no país, um Estado de Direito, estabeleceu as


estruturas de mérito para a implantação de uma democracia política, da separação de
poderes, da liberdade política e da consagração efectiva dos principais direitos
fundamentais. Foi uma rotura ao anterior regime, de cariz socialista, com uma política de
gestão da coisa pública totalmente concentrada numa única pessoa que centralizava todos
os poderes.

Reformulação do papel da polícia não foi tão radical como o novo sistema de
valores e princípios adoptados impunha. Este importante corpo do Estado manteve, na
essência, as características do
passado, moldando-se no princípio de autoridade e de falta de diálogo para com os
cidadãos, continuando a actuar da mesma forma que no passado, ignorando os direitos
humanos ora
estabelecidos pelos novos princípios constitucionais de que todos os cidadãos eram
portadores.

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Em todo o mundo, inclusive em estados democráticos, a polícia actua de frequente
mediante
comportamentos violentos. Em estados autoritários ou sema autoritários como
Moçambique (Freedom House, 2019), as forças policiais desempenham geralmente
funções próximas
ao do exército, acentuando o controlo das “perigosas” populações.

A Constituição de 1990 completa o quadro das reformas: as económicas


antecederam as
político-institucionais, as quais, todavia, tiveram a curiosa característica de introduzirem o
sistema democrático por parte de um parlamento ainda monopartidário. De certa forma, a
nova Constituição acelerou e facilitou as negociações em Roma com a Renamo, uma vez
que a própria Frelimo já tinha aceitado, de antemão e não como cláusula para fechar o
acordo
de paz, aqueles princípios liberais e democráticos pelos quais o movimento-partido de
Dhlakama dizia de lutar.

Entretanto, além de considerações de cunho mais político, a Constituição de 1990


introduziu pela primeira vez em Moçambique todo o manancial de direitos individuais que
a anterior Constituição de 1975 e sobretudo a prática das instituições locais na gestão da
justiça não tinham destacado como prioritários.

Na verdade, o “povo” viu esta transição brusca e repentina completamente de fora,


sem algum envolvimento, assistindo às mudanças estruturais do país duma forma passiva,
não havendo, entre a Constituição de 1975 e a de 1990, do ponto de vista da participação
da sociedade local, nenhuma diferenciação (Mondlane, 2012).

O direito de as pessoas se livremente esteve presente nas primeiras elaborações


sobre democracia, já que era tido como condição fundamental para a garantia de um
regime que se diferenciava das oligarquias e das autocracias (Stigert, 2010). A liberdade de
expressão esta consagrada nos quatro principais instrumentos universais.

A liberdade de expressão não só inclui o direito de transmitir informações e ideias,


mas também a liberdade de investigação e direito de “receber” informação e opiniões. A

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doutrina reconhece outros direitos decorrentes da interacção entre o direito de investigar e
tomar parte na gestão de assuntos públicos, que é o direito a ter acesso as informações,
arquivos estatais e instituições públicas.

Essa liberdade esta contida no Art.º 19 da DUDH e nos Art.º 19 e 20 do PIDCP.


Encontram-se em formulações semelhantes, mas não idênticas nos instrumentos regionais
de direitos humanos. Há também importantes disposições de Convenção das Nações
Unidas sobre a Eliminação da Descriminação Racial (ICERD, em particular no Art.º 4, que
diz respeito à proibição de discursos e organizações racistas.

Segundo Harris et al (2010), existe a posição de Relator Especial sobre a promoção


e protecção de direitos à liberdade de opinião e expressão, que agora nomeado pelo
Conselho de Direitos Humanos.

O artigo 19, nº 1, prevê que todas as pessoas tem o direito de ser pronunciar sem
inércia. Ninguém pode ser forcado a pensar de maneira particular. A Carta Africana Dos
Direitos Humanos e dos povos no nº 2 do artigo 9 afirma que toda a pessoa tem direito de
exprimir e de difundir as suas opiniões no quadro das leis e dos regulamentos. Ninguém
deve sofrer preconceito, descriminação ou repressão por causa de suas opiniões. A
liberdade de opinião não pode ser restringida. Nas palavras do Comité de Direitos
Humanos: “é um direito ao qual a Convenção não admite nenhuma restrição”. Em outras
palavras, as pessoas podem pensar o que quiserem.

Fora dessas considerações preliminares, a Constituição de 1990 assenta nos


seguintes pilares: o povo continua a ser soberano, exercendo o seu poder mediante a
Constituição (art.º 2); a justiça social representa um dos objectivos fundamentais,
juntamente com o respeito pelos direitos humanos e a igualdade dos cidadãos diante da lei
(art.º 6); democracia e liberdade devem ser reforçadas (art.º 6), assim como as actividades
das confissões religiosas valorizadas, dentro dum Estado laico (art.º 9). O Estado ainda é o
proprietário de todas as riquezas naturais, do solo e do sobsolo, presentes em Moçambique
(art.º 35), incluindo a terra (art.º 46), mas permite e incentiva a livre iniciativa económica
(art.º 41).

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2.2.3. A Constituição de 2004

Estes princípios da Constituição de 1990 foram enriquecidos, reformulados e


ampliados pelas alterações introduzidas e aprovadas pela Assembleia da República (AR)
em Novembro de 2004. Trata-se da “Constituição de 2004”. Aqui, são evidentes alguns
direitos fundamentais como o direito à vida (art.º 40º da CRM), princípios de igualdade e
universalidade (Arts. 35º e 36º da CRM), a liberdade de expressão (art.º 48º, número 1 e 2
da CRM), a liberdade de imprensa (Art. 48º, número 3 e 5 da CRM), a liberdade de
associação (art.º 52 da CRM), a liberdade de constituir, participar e aderir a partidos
políticos (art.º 53 da CRM), a liberdade e consciência de religião e culto (art.º 54 da CRM),
o direito à liberdade de manifestação e associação (Arts. 51 e 52 da CRM), o direito ao
trabalho, à segurança no emprego e à filiação sindical (Arts. 84º, 85º e 86º da CRM), só
para citar alguns exemplos.

A Constituição de 2004, actualmente em vigor em Moçambique, reafirmou o seu


compromisso com a promoção e protecção dos Direitos Humanos. Desde o seu preâmbulo,
podemos encontrar reafirmado como princípios e objectivos fundamentais do Estado
moçambicano ”o respeito e garantia pelos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos”
e a “defesa e a promoção dos Direitos Humanos e da harmonia social e individual”,
respectivamente.

Quer na própria Constituição da República quer na legislação ordinária são


elencados vários Direitos Fundamentais/Humanos que gozam os cidadãos moçambicanos,
destacam-se alguns com os quais eu sou completamente a favor:

O Direito à vida;
O Direito à assistência na incapacidade e na velhice;
O Direito à educação;
O direito à protecção especial e aos cuidados do seu bem-estar da Criança;
O Direito à saúde;
O Direito ao trabalho, à retribuição e segurança no emprego;
O Direito de propriedade;

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Mas isto ainda está só no papel, isto é, no texto da Constituição. Pois na prática,
assiste-se um verdadeiro campo de luta entre animais selvagens numa era bem primitiva,
muito longe de se pensar num Estado de Direito. Lamento com vergonha e mágoa informar
que hoje vive-se, no meu país o perverso do que está previsto na Constituição. Aqui reina o
ditado popular “cada um por si, Deus para todos”. Não se pode esperar do Estado para
nada, logo, nem se pode pensar num tribunal que possa acudir a violação de algum direito
fundamenta.

É esta protecção do bem perseguido (o homem) que gera a facção “Direitos


Humanos”. Tratam-se de direitos de que uma pessoa necessita para viver com certa
dignidade humana. São direitos inerentes à pessoa humana, isto é, “direitos individuais,
conferidos por Deus ou pela Natureza, reconhecidos pela Razão, inerentes à condição da
pessoa humana, e por isso mesmo, anteriores e superiores ao próprio Estado, a quem são
oponíveis pelos indivíduos” (AMARAL, 2004, p.56)

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3. Conclusão

Os direitos e liberdades encontram no Estado um garante e devem ser exercidos nos


limites constitucionais (art.º 96). Quanto às possíveis violações por parte de agentes do
Estado de tais prerrogativas inalienáveis, a nova Constituição expressa o princípio de que,
se isso vier a acontecer, o Estado é que deve assumir a plena responsabilidade de tais
violações, enucleando todos os princípios “sagrados”, do ponto de vista jurídico, do direito
à presunção de inocência, inaplicabilidade da retroactividade da lei a não ser que a
retroactividade beneficie o arguido, limitação máxima da prisão preventiva (art.º 101),
habeas corpus (art.º 102). Tais liberdades poderão ser suspensas em via excepcional apenas
prévio declaração de estado de guerra, sítio ou emergência (art.º. 106).

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4. Referencias Bibliográficas

Amaral, D. F. (2004). Manual de Introdução ao Directo, Vol. I. Almedina.

Chunguane, A. (2017). Direitos Humanos e Segurança Pública em Moçambique. Dissertação de


Mestrado em Direito apresentada na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo.

Galtung, J. Direitos Humanos, Uma Nova Perspectiva. Lisboa: Instituto Piajet, 1994

Zeca, E. (2015). Notas Sobre Política Externa e Diplomacia de Moçambique: Princípios,


Objetivos e Mecanismos de Implementação. Revista Científica do ISCTAC, Vol. 2, N. 5,a.
2, pp. 40-52

Referencias Legislativas

CP (Código Penal) – Lei da Revisão do Código Penal N. 35/2014. Em República de


Moçambique, Boletim da República, 14º Suplemento, 31/12/2014, I Série, N. 105

República Popular De Moçambique. 1979. Comissão Permanente. Assembleia


Popular. Cria a Polícia Popular de Moçambique. Maputo: BR, 26/05/1979 – I Série, Nr. 60

Mocambique. (1990). Constituicao da Rpublica de Mocambique. Maputo: Imprensa


Nacional.

Mocambique. (1975). Constituicao da Rpublica de Mocambique. Maputo: Imprensa


Nacional.

Mocambique. (2004). Constituicao da Rpublica de Mocambique. Boletim da


Republica. Sumplemento 3, nº 51, I série, 22 de Dezembro de 2004. Maputo: Imprensa
Nacional.

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