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AO JUÍZO DE DIREITO DA 3ª UPJ DAS VARAS CÍVEIS DA COMARCA DE

GOIÂNIA, ESTADO DE GOIÁS.

Processo n.: 5675196-51.2023.8.09.0051


Requerente: Arthur De Queiroz Amaral
Requerida: Sociedade Anhanguera de Ensino LTDA.

ARTHUR DE QUEIROZ AMARAL, vem


respeitosamente a Vossa Excelência, por meio de seu advogado infra-assinado, propor
na AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR COBRANÇA INDEVIDA C/C REPARAÇÃO
POR DANOS MORAIS que move em face de Centro Universitário de Goiás -
UNIGOIÁS, CNPJ 01.088.830/0001-85, com sede à Av. João Candido de Oliveira, 115
– Cidade Jardim, Goiânia - GO, CEP 74423-115, informar e apresentar

RÉPLICA (IMPUGNAÇÃO)

Em face da contestação apresentada, pelos motivos de fato


e de direito a seguir aduzidos.

Alega a Requerida, em síntese e preliminarmente:

1. Que a Requerida, cumpre os prazos legais e a demanda não foi alcançada


pela revelia;

2. Discorre sua defesa sob a Falsa alegação de que o autor tenha cursado 3
(três) disciplinas e não 2 (duas)

3. Que o autor so quitou os débitos para se matricular com intenção de não


mais cumprir com as prestações vincendas
4. Que a demandada cumpriu com sua obrigação, recebendo em excesso
valores ilegítimos? mas creditando em seguida os valores em excesso à
ficha financeira do autor

5. Alega em sua defesa que não colocou qualquer obstáculo na rematrícula do


autor

6. Linguagem inadequada no trato com a instituição.

Do mérito são as seguintes alegações:

1. Ato malicioso do autor acerca de ter cursado 3 (três) e não 2 (duas)


disciplinas

2. Alega que cláusula abusiva em contrato de adesão é legitima

3. Alega que os juros abusivos praticados por ela, são permitidos por lei

4. Alega ter juntado aos autos documentos que comprovam a veracidade das
alegações

5. Alega a Inexistência do dano moral e por derradeiro,

6. Reconvenção, baseada em cobrança legítima e com valores alterados

Nenhum dos argumentos merece prosperar, vejamos:

DA CITAÇÃO E DA REVELIA

Atualmente, urge adotar uma abordagem de interpretação


sistemática e teleológica dos dispositivos legais, tendo em vista que frequentemente o
dinamismo social e processual se descola do processo legislativo. As leis cada vez mais
se mostram incapazes de acompanhar as mutações sociais e adaptar-se às novas
realidades com a celeridade desejada.

A interpretação gramatical dos dispositivos legais resulta


em uma legislação estática e, com o decorrer do tempo, crescentemente ineficaz. De
fato, em muitas ocasiões, a jurisprudência tem recorrido à interpretação sistemática e
teleológica para tornar determinadas disposições legais mais efetivas e eficientes.

O próprio artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro (LINDB) menciona que "na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins
sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum". Dessa forma, a interpretação
teleológica, que considera o propósito para o qual a norma se destina, deve ser uma
diretriz a ser seguida na interpretação e aplicação da lei ao caso concreto.

Essa modalidade interpretativa deve ser igualmente


aplicada a outros dispositivos legais, sobretudo do Código de Processo Civil de 2015
(CPC/15). O artigo 231, inciso I do CPC/15 estabelece que na ausência de disposição
em contrário, considerar-se-á como marco inicial do prazo a data de juntada aos autos
do aviso de recebimento, quando a citação ou intimação for realizada via Correios.

Observa-se que o próprio teor do dispositivo admite a


possibilidade de outras circunstâncias serem consideradas como início do prazo, ao
mencionar "salvo disposição em sentido diverso".

É evidente que uma interpretação literal desse


dispositivo não estaria conferindo a devida abrangência e utilidade, sendo
imprescindível abordá-lo de maneira sistemática e teleológica, considerando sua
finalidade e tornando a legislação mais eficaz e flexível.

A finalidade do dispositivo legal parece ser clara:


estabelecer o momento inicial para a contagem do prazo.
Limitar esse momento tão somente à juntada aos autos
do aviso de recebimento não estaria em consonância com a finalidade nem com os
princípios que regem o CPC/15.

A redação do dispositivo legal deve ser interpretada não


restritivamente como apenas o aviso de recebimento emitido pelo Correio juntado aos
autos sendo o ponto de partida para a contagem do prazo.

Qualquer documento do Correio que ateste a citação ou


intimação deve ser considerado como tal, pois o objetivo é ter um documento nos autos
que comprove a comunicação à parte, senão vejamos:

Elemento extraído dos autos constando citação efetivada em 15/12/2.023, juntado aos autos no
mesmo dia da citação.

Os Correios, por sua estrutura burocrática e volume de


atendimento, frequentemente enfrenta extravios dos avisos de recebimento da carta de
citação ou intimação, levando o magistrado a solicitar à empresa pública federal
esclarecimentos sobre a não devolução dos avisos.

No entanto, os Correios dispõem de um sistema de


rastreamento de objetos que indica se a carta foi ou não recebida pelo destinatário,
mediante o acompanhamento dos números de rastreamento, aqui colacionado.
De fato, em muitos casos, após requerimento do Juízo com
o número de rastreamento das cartas, os Correios fornecem documentos que confirmam
o recebimento.

Portanto, é evidente que a resposta dos Correios juntada


aos autos sobre o aviso de recebimento, confirmando a citação ou intimação da parte,
deve ser considerada como o início do prazo, em consonância com uma
interpretação sistemática e teleológica do artigo 231, inciso I do CPC/15.

Esse argumento merece ser acolhido com ainda mais


robustez quando se consideram os princípios fundamentais que norteiam o Código de
Processo Civil de 2015, especialmente os princípios da boa-fé (artigo 5º) e da
cooperação (artigo 6º).

Com efeito, uma vez que a parte é citada ou intimada, cabe


a ela comunicar seus patronos para que estes possam acompanhar o desenrolar do
processo ou buscar uma solução consensual para a controvérsia.

Não se coaduna com a lógica nem com os preceitos


jurídicos que a parte se beneficie de sua própria torpeza, considerando que o simples
aviso de recebimento não tenha sido anexado aos autos, enquanto um ofício ou outro
documento idôneo, emitido pelos Correios e que comprove a citação ou intimação,
tenha sido devidamente juntado, permanecendo, contudo, inerte em relação a esse fato.

O delineado acima evidencia que o artigo 231, inciso I do


CPC/15 deve ser interpretado de forma sistemática e teleológica, conferindo-lhe a
máxima eficácia, de modo a considerar como marco inicial do prazo a juntada de
qualquer documento expedido pelos Correios (e não somente do aviso de recebimento)
que ateste o recebimento da citação ou intimação. Tal interpretação encontra
respaldo nos princípios da boa-fé e da cooperação que permeiam o CPC/15,
evitando que a parte se beneficie de sua própria negligência e de um sistema que, por
vezes, pode falhar.
Nesse sentido, não se vislumbra respaldo para acolher as
alegações concernentes ao prazo de apresentação da resposta dada pela ré, sendo
devidamente impugnadas as declarações da parte demandada relativas à tempestividade
por ela alegada para sua CONTESTAÇÃO entregue de forma extemporânea, o que
caracterizaria a revelia e todos os seus efeitos, no caso em tela.

DA ALEGAÇÃO DE O AUTOR TER CURSADO 3 (TRÊS) DISCIPLINAS E


NÃO 2 (DUAS)

A parte demandada apresenta em sua contestação um


documento produzido após sua citação, buscando destacar e validar uma cobrança
indevida com o intuito de ludibriar o entendimento deste juízo e evitar a
responsabilização pelo dano imposto pelas decisões prejudiciais ao seu cliente/aluno.

No afã de assegurar seus interesses lucrativos, utilizou


todo o seu poder administrativo persuasivo para obstaculizar a matrícula do autor, como
amplamente demonstrado na peça inicial.

Vejamos:
A disciplina em questão, oportunamente mencionada pela
ré, refere-se ao estágio em ambiente externo, conforme previamente relatado na petição
inicial, na qual foi anexado o contrato de estágio firmado entre a empresa concedente e
o autor e trata-se de horas extracurriculares cursadas fora do ambiente acadêmico,
cabendo a instituição tão somente valida-las em seu sistema.

Excelência, observe-se que a parte demandada, além de


buscar distorcer os fatos para se eximir da responsabilidade financeira e moral causada
ao autor, promove alterações em documentos internos criando provas unilaterais
com esse propósito e produz documentos extemporâneos na tentativa de corroborar sua
versão. É possível verificar que o documento criado para a defesa não tem respaldo no
próprio histórico acadêmico juntado pela ré, constando ainda como horas
extracurriculares o ESTAGIO que não é da forma SUPERVISIONADO como consta no
documento oferecido pela defesa.

O documento apresentado e anexado em sua defesa


chamado de certidão de matricula, contém um QRCode para sua validação.

Entretanto, ao inserir tal método de autenticação no corpo


do documento, negligenciou-se o fato de que essa validação poderia igualmente
evidenciar a tentativa de fraude e distorção dos fatos perante este juízo.

Vejamos:
Evidencia de Documento confeccionado para a defesa em 13/03/2.024

Tal disciplina (ESTÁGIO SUPERVISIONADO)


inserida para tentar validar cobranças indevidas, não faz parte do rol de disciplinas
cobradas na forma pecuniária pela instituição, o que será demonstrado a seguir, senão,
vejamos:
Podemos claramente perceber pelo documento da
instituição colacionado acima que dentre suas disciplinas para o curso de
ENGENHARIA CIVIL, não contem a disciplina de ESTAGIO
SUPERVISIONADO, e que tal certidão assim como dados manipulados de seu sistema
tem um único intuito de enganar e alterar o curso do processo.

Veja-se, Excelência, que a demandada, na qualidade de


instituição de ensino, não apenas nesta área específica de conhecimento em debate, mas
também no âmbito do Direito, está ciente ou deveria estar ciente de que sua tentativa de
validar perante este juízo a referida cobrança não terá sucesso, uma vez que a
jurisprudência já firmou entendimento de que tal cobrança carece de respaldo jurídico.

Vejamos:

TJ-BA - Recurso Inominado: RI 1237701720208050001 SALVADOR


Jurisprudência • Acórdão • Data de publicação: 19/09/2022 Tribunal de Justiça do
Estado da Bahia PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA TURMA RECURSAL -
PROJUDI PADRE CASIMIRO QUIROGA, LT. RIO DAS PEDRAS, QD 01,
SALVADOR - BA ssa-turmasrecursais@tjba.jus.br - Tel.: 71 3372-7460 Processo
nº : 0123770-17.2020.8.05.0001 Classe : RECURSO INOMINADO Recorrente (s) :
FACS SERVICOS EDUCACIONAIS LTDA Recorrido (s) : RIVALDO RIBEIRO
DOS SANTOS JUNIOR Origem : 14ª VSJE DO CONSUMIDOR (VESPERTINO)
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE E M E N T A
RECURSO INOMINADO. DECISÃO MONOCRÁTICA. APLICAÇÃO DO ART.
15, XI, DO REGIMENTO INTERNO DAS TURMAS RECURSAIS E ART. 932
DO CPC . CONSUMIDOR. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. INSTITUIÇÃO DE
ENSINO SUPERIOR. COBRANÇA DE ENCARGOS ADICIONAIS PELA
VALIDAÇÃO DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES EXTERNAS
OBRIGATÓRIAS À GRADE CURRICULAR. AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO
DE SERVIÇO ENSEJADOR DA COBRANÇA. ABUSIVIDADE.
RESTITUIÇÃO SIMPLES DOS VALORES PAGOS. DANOS MORAIS NÃO
CONFIGURADOS. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO PARCIALMENTE. Vistos, etc. Trata-se de recurso
inominado interposto em face da sentença prolatada no processo epigrafado que
julgou parcialmente procedentes os pedidos da exordial, cujo dispositivo transcrevo
in verbis: “Diante do quanto exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES
OS PEDIDOS, extinguindo o feito com resolução do mérito, na forma do art. 487 ,
I , do CPC , para: 1) CONDENAR a ré a restituir, na forma simples, o valor pago
pelas disciplinas de atividades complementares e estágio supervisionado, que
importa o valor de R$ 17.779,86 (dezessete mil, setecentos e setenta e nove reais, e
oitenta e seis centavos), corrigido monetariamente pelo INPC a partir do efetivo
prejuízo 11/09/20 (Súmula 43 do STJ), sendo estes as datas das cobranças, acrescido
dos juros moratórios de 1% ao mês a partir da citação 26/11/20. 2) CONDENAR a
parte acionada ao pagamento do valor de R$ 3.000,00 (-), a título de danos morais,
corrigido monetariamente pelo INPC, a partir do arbitramento.

Nesse sentido temos outro julgado, vejamos

Tribunal de Justiça do Estado da Bahia PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA TURMA


RECURSAL - PROJUDI PADRE CASIMIRO QUIROGA, LT. RIO DAS
PEDRAS, QD 01, SALVADOR - BA ssa-turmasrecursais@tjba.jus.br - Tel.: 71
3372-7460 1ª TURMA RECURSAL CIVEL E CRIMINAL PROCESSO N.º:
0156265-51.2019.8.05.0001 RECORRENTE: RENATA ANDRADE ALVES
RECORRIDA: FACS SERVICOS EDUCACIONAIS LTDA RELATORA: JUÍZA
SANDRA SOUSA DO NASCIMENTO MORENO EMENTA RECURSO
INOMINADO. DECISÃO MONOCRÁTICA (ART. 15, INCISO XII, DO
REGIMENTO INTERNO DAS TURMAS RECURSAIS). DIREITO DO
CONSUMIDOR. GRADUAÇÃO EM INSTITUIÇÃO DE ENSINO
SUPERIOR. ALEGAÇÃO DE ABUSIVIDADE NA COBRANÇA DE
ENCARGOS ADICIONAIS PELA VALIDAÇÃO DE ATIVIDADES
COMPLEMENTARES EXTERNAS OBRIGATÓRIAS À GRADE
CURRICULAR. FALTA DE PROVAS CAPAZES DE LEGITIMAR
JURÍDICA E CONTRATUALMENTE AS COBRANÇAS,
CARACTERIZANDO A ABUSIVIDADE DOS DÉBITOS IMPUTADOS AO
CONSUMIDOR. ILICITUDE CONFIGURADA. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. FALTA DE PROVAS CAPAZES DE LEGITIMAR
JURÍDICA E CONTRATUALMENTE AS COBRANÇAS,
CARACTERIZANDO A ABUSIVIDADE DOS DÉBITOS IMPUTADOS AO
CONSUMIDOR. ILICITUDE CONFIGURADA. ENTENDIMENTO
UNIFORMIZADO PELA TURMA DE UNIFORMIZAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DA BAHIA ACERCA DA IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA
PELA MERA VALIDAÇÃO DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES
REALIZADAS PELOS ALUNOS FORA DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO, COM
A RESTITUIÇÃO SIMPLES DOS VALORES PAGOS A TAL TÍTULO.
CONDENAÇÃO DA PARTE RÉ NOS DEVERES DE RESTITUIÇÃO, DE
FORMA SIMPLES, DOS VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE.
PRESCRIÇÃO TRIENAL. AUSÊNCIA DE DANOS MORAIS. MANUTENÇÃO
DA SENTENÇA.

E ainda,
(TJ-BA - RI: 01562655120198050001 SALVADOR, Relator: SANDRA SOUSA
DO NASCIMENTO MORENO, PRIMEIRA TURMA RECURSAL, Data de
Publicação: 20/06/2023) Tribunal de Justiça do Estado da Bahia PODER
JUDICIÁRIO PRIMEIRA TURMA RECURSAL - PROJUDI PADRE CASIMIRO
QUIROGA, LT. RIO DAS PEDRAS, QD 01, SALVADOR - BA ssa-
turmasrecursais@tjba.jus.br - Tel.: 71 3372-7460 1ª TURMA RECURSAL CIVEL
E CRIMINAL PROCESSO N.º: 0132136-79.2019.8.05.0001 RECORRENTE:
FACS SERVICOS EDUCACIONAIS LTDA / TANIA FREITAS DE
ALCANTARA NUNES RECORRIDA: TANIA FREITAS DE ALCANTARA
NUNES / FACS SERVICOS EDUCACIONAIS LTDA RELATORA: JUÍZA
SANDRA SOUSA DO NASCIMENTO MORENO EMENTA RECURSOS
INOMINADOS SIMULTÂNEOS. DECISÃO MONOCRÁTICA (ART. 15,
INCISO XII, DO REGIMENTO INTERNO DAS TURMAS RECURSAIS).
DIREITO DO CONSUMIDOR. GRADUAÇÃO EM INSTITUIÇÃO DE
ENSINO SUPERIOR. ALEGAÇÃO DE ABUSIVIDADE NA COBRANÇA DE
ENCARGOS ADICIONAIS PELA VALIDAÇÃO DE ATIVIDADES
COMPLEMENTARES EXTERNAS OBRIGATÓRIAS À GRADE
CURRICULAR. FALTA DE PROVAS CAPAZES DE LEGITIMAR
JURÍDICA E CONTRATUALMENTE AS COBRANÇAS,
CARACTERIZANDO A ABUSIVIDADE DOS DÉBITOS IMPUTADOS AO
CONSUMIDOR. ILICITUDE CONFIGURADA. SENTENÇA DE
PROCEDENCIA PARCIAL. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. DANOS MORAIS
NÃO CONFIGURADOS. ENTENDIMENTO UNIFORMIZADO PELA TURMA
DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA ACERCA DA
IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA PELA MERA VALIDAÇÃO DE
ATIVIDADES COMPLEMENTARES REALIZADAS PELOS ALUNOS FORA
DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO, COM A RESTITUIÇÃO SIMPLES DOS
VALORES PAGOS A TAL TÍTULO. RECURSO DA PARTE RÉ
PARCIALMENTE PROVIDO PARA DETERMINAR A RESTITUIÇÃO, DE
FORMA SIMPLES, DOS VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE. AUSÊNCIA
DE DANOS MORAIS. RECURSO DA PARTE AUTORA NÃO PROVIDO.

Em vista das informações fornecidas acima, impugnam-se


as alegações da demandada no tocante à legitimidade da cobrança baseada em disciplina
supostamente cursada, porém realizada em ambiente externo, carecendo apenas de
validação ou inserção em sistema da IES.

Permitir o acolhimento de tais alegações não apenas


violaria os direitos do autor, mas também abriria precedentes para a utilização em juízo
de versões divergentes dos fatos, respaldadas por provas manipuladas.
DA QUITAÇÃO DOS DEBITOS PARA SE MATRICULAR COM INTENÇÃO
DE NÃO MAIS CUMPRIR COM AS PRESTAÇÕES VINCENDAS

Na peça de contestação, a demandada lança acusações ao


autor sobre uma suposta má-fé, quando na verdade a intenção deste estava estritamente
voltada para a realização do seu objetivo de se graduar no curso de Engenharia Civil e
seguir adiante em sua carreira profissional.

Cumpre ressaltar que não foram poupados esforços, ao


longo de extensos seis anos dedicados à conclusão de seu intento acadêmico, não apenas
para quitar as parcelas correspondentes, mas também para suportar os encargos
financeiros mensais, mesmo em meio a estágios remunerados de remuneração irrisória,
tudo em prol da concretização de seu sonho.

Além disso, foram despendidos esforços pessoais,


incluindo deslocamentos frequentes à universidade na tentativa de regularizar as duas
parcelas pendentes, em virtude de dificuldades financeiras ao término do curso.

O autor, enquanto estudante, juntamente com seus


genitores, após inúmeras tentativas de resolver a questão com a demandada e diversas
visitas à sua sede com tal propósito, não recebeu sequer um tratamento digno por parte
desta última.

Ao término do curso, quando restavam apenas duas


parcelas pendentes e duas disciplinas a serem cursadas, o autor deparou-se com a
arbitrariedade da instituição no trato com seu corpo discente.
Excelência, os autos por si só apresentam dados cruciais
para constatar que o autor empreendeu esforços administrativos para resolver a situação,
sem sucesso, sendo assim compelido a ceder às exigências gananciosas da demandada
para alcançar sua graduação.

Submeteu-se, então, aos desígnios mesquinhos da


demandada e arcou com todos os custos que esta alegava serem necessários para sua
matrícula, mesmo que isso o colocasse em débito com instituições financeiras por um
período subsequente de 12 meses, conforme devidamente evidenciado na petição inicial.

Dessa forma, percebe-se que a argumentação da


demandada em sua contestação não apenas agride o autor, mas também perpetua o
tratamento leviano dispensado a ele durante seu último período na instituição.

DOS VALORES COBRADOS EM EXCESSO PELA MATRICULA E PELAS


DUAS DISCIPLINAS CURSADAS

Alega a demandada que os valores cobrados em excesso


foram descontados nas parcelas vincendas, no entanto, tais alegações e providencias
somente foram tomadas após serem notificadas da ação em curso.

Abaixo colaciona-se provas que evidenciam tal


procedimento em que ao mudar seus sistemas internos, tenta construir provas contrarias
aos fatos alegados na peça inaugural.
Valores lançados pelas duas disciplinas no DDA do aluno

Ficha Financeira Alterada para a defesa Apresentada Em Juízo


Valores abusivos cobrados pela matricula das duas disciplinas faltantes
Observa-se, Excelência, que os argumentos tecidos pela
demandada não se coadunam com a realidade dos fatos, uma vez que ao apresentar
documentos elaborados internamente, esta os altera de maneira espúria na tentativa de
prejudicar ainda mais o autor.
A ficha financeira apresentada não reflete devidamente os
valores cobrados, podendo ser verificado o que realmente a demandada tentava fazer
nos prints juntados do DDA do aluno autor, e a ficha financeira tendo sido ajustada de
forma inesperada para respaldar sua defesa, num ato que lesa não so o andamento do
processo mas ainda a máquina jurisdicional aqui representada por este digno juizo.

Há uma apropriação indevida de valores tanto nas


mensalidades das duas disciplinas quanto na matrícula que fora cobrado por apenas
duas disciplinas o valor de R$ 1.863,15, cobrados arbitrariamente, sem possibilidade
de contestação, uma vez que a não quitação implicaria na não aceitação da rematrícula
nas duas disciplinas pendentes na ocasião.

Desta feita, restam impugnadas as alegações da


demandada sobretudo pelos fatos aqui elencados acerca da fraude evidenciada nos
documentos internos da instituição, que divergem dos juntados na peça exordial e que
foram retirados do seu próprio sistema na epoca.

DA EXISTÊNCIA DO DANO MORAL

A lei 8.078/90, estabelece que a relação entre fornecedor e


consumidor devem respeitar preceitos básicos de boa-fé e equilíbrio, o que não ocorreu
no caso em questão, visto que a ré se aproveitou da fragilidade do consumidor e impôs
valores abusivos e cobranças indevidas mesmo após a reclamação realizada em sede
administrativa e negada de pronto.
No que concerne ao artigo 6º do mesmo diploma legal,
este estabelece de forma clara a vedação dos métodos comerciais coercitivos ou
desleais, bem como a proibição contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no
fornecimento de produtos e serviços.

Por fim, a legislação supramencionada também proíbe o


aproveitamento de certas condições para impor produtos e serviços aos consumidores.
No caso em análise, observa-se que a demandada se valeu necessidade do autor para
impor acréscimos nos valores de sua mensalidade, assim como cobrar por serviços que
não foram devidamente prestados, auferindo vantagens pecuniárias indevidas e
caracterizando, assim, um enriquecimento ilícito em detrimento do requerente, ao
mesmo tempo em que se recusa a atender às demandas do seu cliente.

Portanto, a PRÁTICA É TOTALMENTE ABUSIVA,


conforme foi exposto acima.

O art. 186 do novo Código define o que é ato ilícito,


entretanto, observa-se que não disciplina o dever de indenizar, ou seja, a
responsabilidade civil, matéria tratada no art. 927 do mesmo diploma legal.

Faça-se constar o art. 927, caput:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts.186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repara-lo."
Cumpre ressaltar que a força maior se refere a um evento
previsível ou imprevisível, porém inevitável, que se mostra superior à vontade ou à ação
humana.

No caso em tela, portanto, não há como reconhecer a


exoneração da demandada com base na força maior, uma vez que ocorreu uma falha na
prestação de serviço por parte da Requerida, para não mencionar a negligência, ao não
prestar o serviço contido na matricula do autor, mas ainda assim impondo-lhe serviços
de cobrança, por fato que sabia ou deveria saber.

DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA

A responsabilidade objetiva apresenta-se como a


obrigação de reparar determinados danos causados a outrem, independentes de qualquer
atuação dolosa ou culposa do responsável.

Sendo necessário que tenham acontecidos durante as


atividades realizadas no interesse ou sob o controle da pessoa responsável.

Conceitos doutrinários definem responsabilidade objetiva


como
“a obrigação de reparar determinados danos causados a outrem, independentemente
de qualquer atuação dolosa ou culposa do responsável, mas que tenham acontecido
durante atividades realizadas no interesse ou sob o controle da pessoa responsável”.

Do conceito apresentado inferem-se três requisitos básicos


para que se configure a responsabilidade objetiva:

1) o fato;

2) o dano;

3) o nexo de causalidade.

O fato na hipótese levantada é o fato de ter o autor tido sua


intimidade financeira violada, pela imposição de cobrança indevida e majorada com o
subterfugio de que haveria prestado um serviço que não foi executado.

Quanto ao nexo de causalidade, diz a teoria da causalidade


adequada que, um fato é causa de um dano quando este seja consequência normalmente
previsível daquele.

“E para sabermos se ele (o dano) deve ser considerado consequência normalmente


previsível, devemo-nos colocar no momento anterior àquele em que o fato aconteceu
e tentar prognosticar, de acordo com as regras da experiência comum, se era possível
antever que o dano viesse a ocorrer. Quando a resposta for afirmativa, teremos um
dano indenizável”.
É irrelevante a presença ou ausência de dolo na conduta.
Os pressupostos da responsabilidade objetiva são:

(a) a prática de um ato lícito ou ilícito;

(b) a ocorrência de um dano específico (que afeta apenas um ou alguns membros da


coletividade) e anormal (que ultrapassa os inconvenientes normais da vida em
sociedade);

(c) a existência de um nexo causal entre o ato e o dano.

Diante da ausência de circunstâncias que afastem a


responsabilidade objetiva, a demonstração clara do nexo causal entre a falha e o dano
causado configura o dever de indenizar.

Portanto quando o ato é lesivo ao particular ensejará o


dever de indenização, explicitamente assegurado no art. 186 e 927 do Código Civil,
assim redigido:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Apesar da argumentação da Responsabilidade Objetiva,


indispensável a comprovação da culpa da Requerida, devendo ser evidenciado algum
erro no procedimento ou no cadastro, pois a simples cobrança indevida do consumidor
com base em indícios comprovados no processo são suficientes para se obter
indenização.

Conclui-se, portanto que, presentes os requisitos


configuradores da CULPA OBJETIVA, quais sejam o fato, o dano e o nexo de
causalidade, estamos diante de um dano indenizável.

Nesse diapasão, deve ser considerada a repercussão


danosa ao autor, condenando a Ré à indenização devida.

Consoante será demonstrado, é inequívoco que, no caso


dos autos, a indenização deve ter lugar.

Conforme leciona Rui Stoco em sua renomada obra


"Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial", São Paulo, ed. RT, 1994,
p. 49, na análise da etiologia da responsabilidade civil, três elementos essenciais,
preconizados pela doutrina subjetivista, se fazem presentes:

 a violação de uma norma preexistente ou um erro de conduta;


 a ocorrência de um dano;
 e a existência de um nexo causal entre ambos.

A reparação do dano moral, firmemente estabelecida no


ordenamento jurídico brasileiro pelo artigo 5°, inciso X, da Constituição Federal, é
expressamente reconhecida pelo Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 6°,
inciso VI, que trata dos direitos básicos do consumidor.

Ao definir o dano moral, Nehemia Domingos de Melo


esclarece: "Dano moral, na doutrina contemporânea, compreende toda lesão injusta aos
bens imateriais, tanto de pessoa física quanto jurídica, que não pode ser mensurada em
termos pecuniários, porém é passível de indenização com uma tríplice finalidade:
satisfatória para a vítima, dissuasória para o ofensor e exemplar para a sociedade".

Conforme a definição de Wilson Melo da Silva, citada por


Sílvio Rodrigues, "danos morais consistem em lesões experimentadas pelo sujeito físico
ou pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se por patrimônio
ideal, em contraposição ao patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não é
passível de avaliação econômica." Além disso, Agostinho Alvim acrescenta que
também se configuram como danos morais "a dor, a mágoa, a tristeza infligida
injustamente a outrem."

Há situações em que o ato lesivo afeta a personalidade do


indivíduo, comprometendo sua honra, sua integridade psíquica, seu bem-estar íntimo e
suas virtudes, resultando em um desconforto ou indisposição de natureza espiritual.
Nessas circunstâncias, a reparação reside na concessão de
uma indenização pecuniária, estabelecida pelo discernimento do juiz, que possibilite ao
lesado uma compensação adequada pela sua dor íntima e pelos transtornos sofridos em
decorrência da conduta ilícita do ofensor.

Desse modo, a indenização pecuniária em razão de dano


moral é como um lenitivo que atenua, em parte, as consequências do prejuízo sofrido,
superando o déficit acarretado pelo dano.

No caso em tela, o que se constata é que a parte Autora


solicitou a retirada tanto do que está sendo cobrado ilegitimamente, pelos serviços não
prestados e supostos serviços, quanto ao montante inadequado da cobrança de 02
disciplinas que restariam valores mensais de R$ 428,38 (R$ 214,19 por disciplina),
abatendo os valores cobrados em excesso pela mora pontual de dois meses que teve
resultado abusivo para o autor, seu aluno.

Tais problemas, gerando na parte Autora sentimento de


impotência e humilhação.

Não se pode olvidar que a configuração do dano moral


prescinde de prova quanto à sua existência, uma vez que é presumido diante do
manifesto erro de conduta por parte da demandada.
O que se constata é a evidente deficiência na prestação de
serviços por parte da demandada, que, em sua desesperada tentativa de administrar suas
questões, busca explorar o seu cliente/consumidor.

Diante dos fatos apresentados, a demandada, de maneira


negligente, atribuiu ao autor uma responsabilidade inexistente, promovendo cobranças
abusivas e expondo-o a uma situação de penúria, além de violar suas finanças,
causando-lhe angústia e humilhação.

O requerente viu-se compelido até mesmo a buscar


medidas administrativas para resolver um problema pelo qual não era responsável,
sentindo-se impotente diante da situação.

Nesse contexto, diante das cobranças indevidas que foi


obrigado a arcar e dos sucessivos erros da requerida e dos transtornos morais
decorrentes, o autor tem direito à reparação pelo dano sofrido.

Assim, cumpre ressaltar, ainda, que a lei não estabelece


um parâmetro para fixação dos valores indenizatórios por dano moral, no entanto, essa
margem vem sendo estipulada por nossas Cortes de Justiça, em especial, pelo STJ.

Por derradeiro, impugna-se o alegado pela demandada, no


que diz respeito a sua tentativa de se livrar não so da indenização cabível, mas ainda a
devolução dos valores cobrados em excesso pela matricula das duas matérias que
faltaram para a conclusão do curso superior do autor, desde sua rematrícula onde foram
cobrados R$ 1.863,15 (Mil, Oitocentos e Sessenta e Três Reais e Quinze Centavos),
valores esses suficientes para saldar 4,3 parcelas mensais quando considerado que
somente foi cursado 02 disciplinas, além dos valores sorrateiramente impostos para o
reingresso do formando à sua matricula conforme relatado na peça processual inaugural.

Diante de todo o exposto, carece de respaldo a acolhida


das assertivas infundadas desprovidas de substrato probatório hábil a infirmar os
documentos anexados à peça inicial, exceto se estes forem objeto de manipulação
posterior à citação, posto que uma análise, ainda que perfunctória, das evidências
constantes dos autos, evidenciaria não apenas a inconsistência das mencionadas
alegações, mas também corroboraria a má-fé da parte demandada, ao retirar
oportunamente o acesso integral do aluno ao seu portal, concomitantemente à
alegação de eventos inverídicos baseados em documentos confeccionados
posteriormente ao início da demanda, visando sua defesa.

Por fim e diante do exposto e da análise pormenorizada


das argumentações apresentadas na contestação, reiteramos a robustez dos fundamentos
da inicial e a fragilidade das objeções trazidas pelo requerido, nao merecendo ainda o
respaldo jurisdicional em seu pedido de reconvenção ou de condenação do autor único
prejudicado, nos honorários sucumbenciais.

Os documentos e elementos probatórios apresentados


respaldam de maneira inequívoca as pretensões da parte autora. Em contrapartida, a
contestação se revela carente de elementos convincentes e não logra desconstituir a
robustez probatória que sustenta as alegações iniciais.

Assim, confiamos na perspicácia deste Douto Juízo para a


correta análise dos autos e a subsequente procedência dos pedidos formulados na inicial,
em consonância com a justiça e a equidade que regem o ordenamento jurídico.

Não se trata de apenas o direito do autor em questão aqui,


mas de milhares de alunos daquela instituição que acabam por se submeter diariamente
aos seus malfeitos e estes prejudicando substancialmente seus clientes alunos e
deixando cada vez mais distante a concretização dos sonhos de seu corpo discente.

Excelência, após o necessário exame de mérito, ratifique a


procedência da demanda, conferindo à parte autora a tutela jurisdicional almejada.

Este é o nosso pedido, na confiança da imparcialidade


deste respeitável Juízo.

Termos em que,

Pede deferimento.

Goiânia, 19 de março de 2.024.

André Luiz Barbosa Amaral

OAB/GO 66.367

Print dos e-mails enviados cobrando providencias da instituição com suposta linguagem
inadequada

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