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ROBERTO CORREIA DA SILVA GOMES CALDAS


OAB/SP Nº 128.336

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR DO EGRÉGIO


TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA SEGUNDA REGIÃO

Autos nº 1001387-70.2022.5.02.0005

ROBERTO CORREIA DA SILVA GOMES CALDAS,


advogado que esta subscreve em causa pro domo sua, nos autos recursais
epigrafados dos EMBARGOS DE DECLARAÇÃO do RECURSO ORDINÁRIO
havido da anterior RECLAMAÇÃO TRABALHISTA, em trâmite perante este
E. Tribunal e R. Secretaria, cuja oposição se deu em face de FACULDADES
METROPOLITANAS UNIDAS EDUCACIONAIS LTDA e REDE
EDUCACIONAL DO BRASIL LTDA, vem, com a devida venia, à presença de
Vossa Excelência, apresentar seus MEMORIAIS a tal oposição, pelo que a
seguir se expõe:
DA OMISSÃO

O v. acórdão, a fls. 715, em seu penúltimo parágrafo,


acabou por asseverar que:

“O fato de o testigo ser o coordenador do curso não macula seu valor probante, até porque não
estava envolvido nos fatos, tendo apenas participado da apuração da denuncia recebida pela
ré” (sic; grifos do embargante).

Nada mais enganado e contrário à prova dos autos,


infelizmente olvidada. Ab initio, é de se ponderar que restou omisso no v.
aresto o fato de que a suposta testemunha da instituição de ensino, em
verdade, é o próprio coautor do ato de demissão e que, portanto, não tem
condições de ser considerado como uma testemunha válida dos fatos, uma
vez que, repita-se, coautor do ato demissional, dele participando
ativamente como a seguir se verá.

Com efeito, o documento de fls. 68 e 330, consistente no


correio eletrônico institucional apócrifo intitulado “Desligamento Justa
Causa”, dá prova cabal da participação de Fabio F. Pereira, em cópia, do
ato demissional, dele participando em ratificação, o que lhe inviabiliza e
nulifica o depoimento dado em juízo como suposta testemunha.
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Verifica-se em tal documento de fls. 68 e 330 que, para


além de não ter sido assinado, nele constam os e-mail’s de envio e de
cópias para todos os então superiores hierárquicos do Embargante
(dentre os quais o de Fabio F. Pereira, qual seja,
“fabio.f.pereira@fmu.com.br”), bem como o nome, ao final, da então
Gerente da Escola, a demonstrar que se tratava de um ato corporativo,
corroborado por toda a cúpula diretiva da 1ª Embargada, composta por
Laura E. Domingos, Fabio F. Pereira (então Coordenador da Graduação) e
Ricardo Waldman (então Coordenador do Mestrado), todos enquanto
coautores da demissão.

Isso, aliás, é o que resta confessado a fls. 279, in alto,


na contestação da Primeira Embargante, segundo a qual Fabio F. Pereira
(então Coordenador da Graduação) e Ricardo Waldman (então Coordenador
do Mestrado) tentaram demitir o Embargante, primeiro por telefone e,
depois, em reunião virtual, o que somente acabou sendo concretizado, de
fato, por intermédio do e-mail de fls. 68 e 330 em coautoria com Laura
E. Domingos (então Gerente da Escola), conforme se extrai do seguinte
excerto:

“Após conhecimento dos fatos, considerando o trabalho remoto, o Coordenador da


Graduação (Professor Fabio Franco Pereira) e o Coordenador do Mestrado (Professor
Ricardo Libel Waldman) tentaram contato por telefone, por diversas vezes com o
reclamante, após ele não entrar em reunião virtual agendada, mas ele não atendia as
ligações e também não as retornava. Então, a Gerente da Escola (Professora Maria
Laura Elaine Domingos) ligou de um número desconhecido e conseguiu falar com o
reclamante, no dia 01/10/2022 às 19h06 e informou que a empresa teve conhecimento do
fatídico episódio e que, por esse motivo seu contrato de trabalho estava sendo
rescindido por justa causa, naquela data, com base na alínea “k” do artigo 482 da CLT e
que o comunicado seria enviado por e-mail. O reclamante não negou os fatos e
simplesmente desligou a ligação. A conversa foi toda presenciada em reunião via
Teams, pelos Coordenadores da Graduação e do Mestrado” (sic; grifos do
Embargante).
Aliás, o mesmo fato restou confessado também pelo
preposto da Primeira Embargada quando prestou seu depoimento pessoal
em juízo, conforme se extrai do seguinte excerto a fls. 541:

“Depoimento pessoal do preposto da 1ª reclamada: ... que o reclamante foi informado da


rescisão por justa causa pelo coordenador Fabio e por Ricardo e pela gerente Laura” (sic).

E cabe ressaltar que tal ato demissional se deu em total


desprezo ao “Pedido de Demissão” realizado pelo Embargante, conforme
visto a fls. 131, o qual ulteriormente restou expressamente rejeitado por
Fabio F. Pereira em e-mail próprio (cópia anexa), conforme mencionado
na contestação da Primeira Embargante a fls. 275, terceiro parágrafo,
fls.279, in médio, e no seu depoimento a fls. 544, in alto, do qual se extrai o
seguinte excerto:
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“...que foi feito emial formalizandfo a justa causa e que depois do envio deste emial
é uq eo reclamante envia o pedidod e demissão, e a instituição diz que não aceita
o pedido pois já havia sido operado o desligamento” (sic; depoimento pessoal de
Fabio F. Pereira a fls. 544, in alto; grifos do Embargante).

(sic; e-mail de e referido por Fabio F. Pereira a fls. 544, , in alto, rejeitando o pedido de
demissão).
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Nesse sentido, à luz da prova cabal de que a


testemunha Fabio F. Pereira foi o então Coordenador da Graduação que
demitiu o Embargante em conjunto com Ricardo Waldman (então
Coordenador do Mestrado) e Maria Laura Elaine Domingos (então Gerente
da Escola), o E. Tribunal Superior do Trabalho é uníssono ao firmar
entendimento de que, verificado o exercício de cargo de confiança com
poderes de mando e gestão análogos ao do empregador, entende-se que
a isenção de ânimo estaria comprometida, considerando-se suspeita a
testemunha nesses casos, consoante se depreende dos julgados abaixo:

[...] II - RECURSO DE REVISTA. LEI N.º 13.015/2014. CERCEAMENTO DE DEFESA.


CONTRADITA DE TESTEMUNHA QUE EXERCE CARGO DE CONFIANÇA COM PODERES
DE GESTÃO EQUIPARÁVEIS AOS DO EMPREGADOR. O Tribunal Regional manteve a
sentença que acolheu contradita sob o fundamento de que as testemunhas da
reclamada exercem cargo de confiança, com amplos poderes de mando na
reclamada, inclusive com poder de admissão/demissão e aplicação de penalidades,
não possuindo isenção para depor. Este Tribunal Superior entende que não
obstante o exercício do cargo de confiança demonstre a fidúcia depositada pelo
empregador no empregado, o seu exercício, por si só, não torna a testemunha
suspeita. Tal suspeição atribui-se apenas à testemunha que tem poder de mando
análogo ao do empregador, o que se verifica no caso dos autos. Precedentes. Óbice
da Súmula 333/TST. Recurso de revista não conhecido. (ARR - 437-
18.2016.5.12.0003, Relatora Ministra: Maria Helena Mallmann, Data de Julgamento:
10/12/2021, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17/12/2021)

[...] 2. CERCEAMENTO DE DIREITO DE DEFESA. ACOLHIMENTO DE


CONTRADITA DE TESTEMUNHA PELO TRIBUNAL REGIONAL. 2.1. O mero exercício de
cargo de confiança não caracteriza a suspeição da testemunha, por ausência de
previsão em lei. 2.2. Entretanto, no caso dos autos, o Regional considerou que, além
de ser gerente geral da agência a testemunha tinha poderes para aplicar penalidade
de orientação, detinha procuração para assinar pelo reclamado e empregados a ela
subordinados, razão pela qual acolheu a contradita. 2.3. Nesse contexto,
comprovando-se que a testemunha atuava como representante da reclamada, não
há cerceamento de direito de defesa. Precedentes. [...] (AIRR - 858-
41.2014.5.04.0701, Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Data
de Julgamento: 25/08/2021, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/08/2021)

[...] RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO RECLAMANTE. CERCEAMENTO


DE DEFESA. CONTRADITA À TESTEMUNHA DA RECLAMADA. CARGO DE CONFIANÇA.
PODERES DE GESTÃO. AUSÊNCIA DE SUSPEIÇÃO. PRETENSÃO AUTORAL EXAMINADA
COM BASE NO DEPOIMENTO DAS SUAS PRÓPRIAS TESTEMUNHAS. NULIDADE NÃO
CONFIGURADA. No caso, a controvérsia cinge-se em saber se a testemunha da
reclamada, ocupante de cargo de confiança, com poderes para contratar e demitir
empregados, deve ser considerada suspeita para depor. O Regional manteve o
indeferimento de contradita à testemunha da reclamada invocada pelo autor, ao
fundamento de que o simples fato de ocupar cargo de coordenador não é suficiente
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para lhe retirar a necessária isenção para depor. A jurisprudência prevalecente


nesta Corte superior firmou entendimento de que o simples fato de a testemunha
arrolada pela empresa reclamada ocupar cargo de confiança não induz
automaticamente o acolhimento da contradita por suspeição, exceto nos casos em
que estão presentes poderes de mando semelhantes aos do próprio empregador,
como também para admitir e dispensar empregados. Registra-se que, no caso dos
autos, na análise do mérito da demanda, o entendimento firmado pelo Regional
não está fundamentado única e exclusivamente na testemunha patronal
contraditada. Na verdade, os pedidos do autor foram examinados e indeferidos a
partir dos depoimentos das suas próprias testemunhas, e não apenas com base na
testemunha patronal contraditada, motivo pelo qual não se constata o alegado
cerceamento de defesa. Recurso de revista conhecido e provido. [...] (RRAg -
1001014-89.2019.5.02.0087, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de
Julgamento: 01/09/2021, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 03/09/2021)

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RITO SUMARÍSSIMO.


NULIDADE DO JULGADO POR CERCEAMENTO DE DEFESA. TESTEMUNHA QUE
EXERCE CARGO DE CONFIANÇA COM PODERES DE GESTÃO EQUIPARÁVEIS AOS DO
EMPREGADOR. SUSPEIÇÃO. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido que
não obstante o exercício do cargo de confiança não torne a testemunha suspeita,
cabe a contradita quando presentes poderes de mando e gestão equiparáveis aos
do empregador, como no caso dos autos. Precedentes. Óbice da Súmula nº 333 do
TST e do art. 896, § 7°, da CLT. Agravo de instrumento conhecido e não provido.
(AIRR - 235-27.2018.5.07.0030, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, Data de
Julgamento: 26/05/2021, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 28/05/2021)

[...] 2 - CERCEAMENTO DE DEFESA. CONTRADITA. TESTEMUNHA EXERCENTE


DE CARGO DE CONFIANÇA. PODER DE GESTÃO E MANDO EQUIPARÁVEL AO DO
EMPREGADOR. SUSPEIÇÃO. 2.1. O Tribunal Regional rejeitou a alegação de
cerceamento de defesa ao concluir que a testemunha indicada pela reclamada, seu
diretor administrativo, não tinha isenção de ânimo para depor, tendo mantido a
decisão do juízo de primeiro grau que acolheu a contradita. 2.2. A jurisprudência
desta Corte é no sentido de que o exercício de cargo de confiança, por si só, não
enseja a suspeição da testemunha, cuja contradita pode ser aceita, contudo, nos
casos em que configurado poder de gestão e mando equiparável ao do
empregador, como no caso dos autos, motivo por que não há como divisar o
alardeado cerceamento de direito de defesa. Agravo de instrumento não provido.
(AIRR - 1001267-74.2016.5.02.0704 , Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes,
Data de Julgamento: 21/10/2020, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 29/10/2020)

Nesse contexto, por também ter sido confessado não


existir a prova tanto do suposto e-mail da suposta denúncia contra o
Embargante como ainda da gravação das supostas ofensas desferidas
contra a Primeira Embargada e da teórica ligação telefônica demissional, à
luz do que confessado a fls. 280, penúltimo parágrafo, e no depoimento
pessoal a fls. 541, tem-se demonstrado que o ato de demissão por justa
causa, em si, foi mera represália contra o Embargante.
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Há, por tudo isso, clara violação do arti. 447, § 3º, II, do
CPC, devendo tal omissão ser sanada, porquanto matéria de ordem pública,
não atraindo a si o contido na Súmula n. 126, do C. TST1.

De outro lado, por também se caracterizar como matéria


de ordem pública, é de se verificar que na contestação, a fls. 229/230, no
item “52”, há confissão, por parte da ora Segunda Embargada, de que o
salário bruto mensal era, sim, de R$ 8.116,00, conforme se extrai deste
expressivo excerto:

“52. No entanto, pelo documento de Id. 3082ba2 (fls. 82) acostado aos autos pelo
próprio Reclamante, é possível verificar que o autor estava em processo de admissão
na FMU para o cargo de Professor MEP I, com salário bruto mensal no valor de R$
8.116,00” (sic).

Dessa forma, a confissão deve prevalecer a fim de que se


reconheça a diferença salarial, e seus reflexos, ainda devidos.

Destarte, são os presentes MEMORIAIS em ratificação


dos termos dos embargos declaratórios, bem como para salientarem as
matérias de ordem pública omitidas quanto à suspeição da testemunha (vez
que a própria coautora do ato demissional) e quanto à efetiva contratação
pelo valor de R$ 8.116,60, conforme confessado a fls. 229/230, para,
sendo acolhidos, requerer que seja-lhes atribuído o necessário efeito
modificativo e integrativo, julgando-se procedente a Reclamação em sua
integralidade, restando isso ora expressamente requerido.

Nestes Termos,
P. Deferimento.

São Paulo, 28 de fevereiro de 2024.


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ROBERTO CORREIA DA SILVA GOMES CALDAS
OAB/SP nº 128.336

1SÚMULA Nº 126 - RECURSO. CABIMENTO. Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts.


896 e 894, "b", da CLT) para reexame de fatos e provas.

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