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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Centro de Recursos de Nampula

Guerra: Guerra Colonial

Característica da Literatura Africana no Período da Colonização

Olinda Caetano Policarpo: 708208501

Curso: Licenciatura em Ensino da Língua Portuguesa

Disciplina: Literaturas Africanas Em Língua Portuguesa II

Ano de Frequência: 4º Ano

Turma: “E”

Nampula, Junho de 2023


Olinda Caetano Policarpo

Código: 708208501

Guerra: Guerra Colonial

Característica da Literatura Africana no Período da Colonização

Trabalho a ser submetido ao docente da cadeira de


Literaturas Africanas em Língua Portuguesa II,
para fins avaliativos.

Docente: Carlos Fernando Lino de Sousa.

Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Nampula

2023
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Classificação
Categorias Indicadores Padrões Pontuação Nota do Subtotal
máxima tutor
• Capa 0.5
• Índice 0.5
Aspectos • Introdução 0.5
Estrutura organizacionais • Discussão 0.5
• Conclusão 0.5
• Bibliografia 0.5
• Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
• Descrição dos 1.0
Introdução objectivos
• Metodologia adequada
ao objectivo do 2.0
trabalho
• Articulação e domínio
Conteúdo do discurso académico
(expressão escrita 2.0
cuidada, coerência /
Análise e discussão coesão textual)
• Revisão bibliográfica
nacional e
internacional relevante 2.0
na área de estudo
• Exploração dos dados 2.0
Conclusão • Contributos teóricos
práticos 2.0
• Paginação, tipo e
Aspectos Formatação tamanho de letra, 1.0
gerais parágrafo,
espaçamento entre
linhas
Referências Normas APA 6ª • Rigor e coerência das
Bibliográficas edição em citações citações/referências 4.0
e bibliografia bibliográficas
Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor
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Índice

Introdução .............................................................................................................................................. 6

1. GUERRA........................................................................................................................................... 7

1.1. Guerra Colonial: A Luta Armada pela Libertação Nacional .......................................................... 7

1.1.1. Fundação da FRELIMO e a Luta Armada de Libertação Nacional ............................................ 9

1.1.2. A Guerra em Moçambique ........................................................................................................ 10

1.2. O Contraponto à Euforia das Independências: Guerra Civil (Angola e Moçambique)................ 13

1.2.1. 1976: Guerra Civil em Moçambique ......................................................................................... 13

1.2.2. 1992: Fim da Guerra Civil em Moçambique............................................................................. 13

1.2.3. O Fim da Guerra não é o Fim da Guerra: Angola ..................................................................... 14

1.2.4. 2002: Fim da Guerra Civil em Angola ...................................................................................... 14

1.3. Característica da Literatura Africana no Período da Colonização ............................................... 14

Conclusão ............................................................................................................................................ 16

Referências Bibliográficas .................................................................................................................. 17


Introdução

O processo de independência de Moçambique, levado a efeito pelos seus grandes movimentos de


libertação nacional nos marcos do colapso do colonialismo português. O momento de passagem de
uma guerra de natureza essencialmente anticolonial para o cenário das disputas internas (guerra
civil). Em Angola, após a conquista da independência, ocorrida no ano de 1974, muitas das suas
obras literárias passaram a evidenciar uma forte tendência em criticar o processo de luta contra o
colonialismo. No período de colonização, existiu a criação de textos literários nas colônias,
entretanto os textos eram conforme o ponto de vista do colonizador português.

Desta feita, neste trabalho abordar-se-á da temática: Guerra: Guerra Colonial e Característica
da Literatura Africana no Período da Colonização. Com este tema, o trabalho tem por
objectivos:

 Descrever a Guerra Colonial: Guerra civil Angola e Moçambique;


 Reconhecer o papel da FRELIMO na Luta Armada de Libertação Nacional;
 Carcterizar a Literatura Africana no Período da Colonização; e
 Analisar brevemente o momento de passagem de uma guerra de natureza essencialmente
anticolonial para o cenário das disputas internas (guerra civil).

Para a concretização deste objectivo, a autora recorreu a revisão bibliográfica de artigos que versam
sobre a matéria, neste caso o manual de Literaturas Africanas em Língua Portuguesa II, que
constituiu na leitura, analise e interpretação das mesmas obras.

No que concerne à estrutura do trabalho, este apresenta: uma introdução, onde se fez uma breve
visão dos conteúdos abordados no trabalho, objectivos da pesquisa, desenvolvimento onde estão
detalhados os principais conteúdo do trabalho propostos pelo tutor da cadeira, conclusão onde se
fez a síntese do que se percebeu relativamente ao longo do desenvolvimento do trabalho e
finalmente termina com a sua respectiva bibliografia onde estão listadas as obras consultadas e
citadas no acto da elaboração do trabalho de pesquisa.

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1. GUERRA

1.1. Guerra Colonial: A Luta Armada pela Libertação Nacional

O fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) anunciou um novo capítulo para a luta dos povos
que ainda se encontravam sob a égide do jugo colonial. Nesse novo contexto, orquestrado pela
bipolaridade geopolítica mundial, grande parte das estratégias de libertação dos países foram
organizadas de forma revolucionária, sendo a luta armada de perspectiva revolucionária um método
eficaz para a conquista da emancipação. (Afonso & Gomes, 2010).

Muitos foram os impulsos também advindos das novas diretrizes internacionais. A fundação, em
1948, da Organização das Nações Unidas (ONU), e a promulgação do princípio de
autodeterminação dos povos, diploma legal internacional sancionado pelas diversas nações,
insuflaram, nas décadas posteriores, as lutas anticoloniais dos países do continente asiático e
africano. Do mesmo modo, a Conferência de Bandung realizada pelos países terceiro mundistas
independentes e com a presença de diversos movimentos de libertação nacional, em abril de 1955,
afirmaram a necessidade de libertação dos povos que ainda permaneciam sob o controle do
colonialismo. (Afonso & Gomes, 2010).

Segundo Couto (2005), no que diz respeito a Moçambique, a partir da década de 1960, ações contra
o controle colonialista de Portugal na região serão cada vez mais constantes, respondendo à
violência com a qual a população vinha sendo submetida. Evidentemente, de acordo com os rumos
tomados pelos diferentes contextos na geopolítica internacional, a política portuguesa foi alterando
suas estratégias visando a manutenção dos territórios africanos.

O Estado português, assim, almejava salvaguardar seus domínios, através da reestruturação dos
códigos coloniais. Desde sua promulgação, conforme aponta Miguel Buendía Gómez, de 1930 até
meados de 1940, o esforço do Estado Português concentrou-se em incentivar entre o povo da
metrópole uma consciência imperial, procurando sustentação à sua presença em África. Nesse
período, o regime desenvolveu os fundamentos econômicos, ideológicos, que norteariam a
estratégia colonial na sua fase mais derradeira. E parecia que Portugal, finalmente, tinha-se
decidido a recriar “as glórias do seu passado africano”.

No que diz respeito à educação, o Acto Colonial de 1930 tinha como proposta uma política
educacional de perpetuação da condição das populações locais, pois possuía como superestrutura
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jurídica para a área da educação e da administração colonial, duas políticas distintas de caráter
racista e segregacionista – a primeira voltada aos colonos portugueses e assimilados, e outra às
populações “indígenas” do território ultramarino. Tais políticas, embasadas em estereótipos,
ocupam um lugar privilegiado para as ações racistas empreendidas pelos portugueses em solo
africano. (Marques, 2006).

A retirada do estatuto de humanidade do indivíduo africano, podemos atentar para as reflexões


apresentadas por Achille Mbembe. A criação da razão negra, como salienta Mbembe, é, não apenas
a atribuição de estereótipos as mais distintas populações Africanas, mas também a construção da
imagem do negro, de quem se tentou retirar a identidade, a humanidade, atribuindo características,
ao “negro” e a “África”, alheias a tais populações, construindo no imaginário ocidental uma série
de alucinações construídas pelo Ocidente.

Como salienta, Mbembe, No discurso europeu do século XIX, “dizer de alguém que ele é um
“homem negro” é dizer que ele é predeterminado biológica, intelectual e culturalmente pela sua
irredutível diferença. Pertenceria a uma espécie distinta. No discurso proto-racista europeu, dizer
“homem negro” significava, assim, evocar as disparidades da espécie humana e remeter para o
estudo de ser inferior, ao qual o Negro está consignado, para um período da história no qual todos
os africanos têm um potencial estatuto de mercadoria ou, como se dizia na época, de peça da Índia.
(Cervelló, 1993).

Como argumenta o referido autor, o processo etnocêntrico de formação do “outro”, empreendido


pelo colonialismo europeu, evoca em seus discursos um grau diferenciado de pertença humanitária.
O “homem negro”, estigmatizado como um ser inferior, desprovido de humanidade, forjado pela
mentalidade europeia cientificista do século XIX, foi constantemente proclamado para a
institucionalização de políticas que visavam a manutenção do colonialismo e da dominação sobre
as mentes e os corpos dos moçambicanos. Acerca disso, a elaboração do aparato jurídico para a
manutenção do colonialismo português intencionava a composição e manutenção desse sistema de
dominação.

Segundo Ferreira (1987), a dicotomia entre dois modelos distintos de ensino nas colônias colocava
um ensino para as populações tradicionais e outro para os europeus e assimilados. O ensino
destinado ao “indígena”, era dividido da seguinte forma: o ensino rudimentar (1ª e 2ª classes); o
ensino primário (3ª e 4ª classes) e a admissão, fase de transição para o ingresso no ensino
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secundário. As estruturas educacionais elaboradas pelas autoridades católicas em conluio com o
colonialismo português tinham como objectivo, “conduzir gradualmente o indígena duma vida de
selvajaria para uma vida civilizada”.

Segundo Eduardo Mondlane, embora quase 98% da população de Moçambique seja composta de
africanos negros, apenas uma pequena porção das crianças que frequentam as escolas primárias
são africanas, e é insignificante o número de crianças africanas no ensino secundário. Em 1963
havia 311 escolas primárias com um total de 25.742 alunos, mas deles apenas um quinto eram
africanos. (...). Em 1960, na maior escolar secundária de Moçambique (Liceu Salazar, em Lourenço
Marques), havia apenas 30 estudantes africanos em um total de mais de 1000 alunos. (Afonso &
Gomes, 2010).

1.1.1. Fundação da FRELIMO e a Luta Armada de Libertação Nacional

É de fundamental importância ressaltar que os estudos sobre os nacionalismos africanos possuem,


em seu método e perspectiva de análise, certas peculiaridades que dizem respeito à sua origem.
Devido ao processo de descolonização recente do continente, incentivado pelo princípio de
autodeterminação dos povos, estabelecido pela Organização Geral das Nações Unidas (ONU), em
1948, muitos dos países africanos iniciaram seu processo de independência. (Ferreira, 1987).

Como efeito, a partir da segunda metade do século XX, podemos considerar que há um salto
qualitativo para a produção de conhecimento sobre África e desde o continente africano.
Intelectuais envolvidos com os ideais difundidos pelo pan-africanismo, pela ideologia vinculada
aos poetas e escritores da Négritude, autores como Cheikh Anta Diop, Ki-Zerbo, Aimé Césaire,
Léopold Sédar Senghor, entre outros, colocaram seus esforços em demonstrar a existência de
produção de conhecimento desde África, articulando uma contraposição essencial às teses racistas
pseudocientíficas criadas para legitimar a dominação e a exploração colonialista. É digno de nota
que o protagonismo desses pensadores africanos, em afirmar a existência de história em África
antes do contato com os europeus, abriu caminho para abordagens mais aprofundadas sobre a
essência dos fenômenos africanos, respeitando suas particularidades.

Durante a década de 1960 os movimentos nacionalistas em Moçambique emergiram sob a


influência e organização de agentes que, devido às circunstâncias colocadas objetivamente nas
colônias, puderam no exterior ter contato com ideais políticos e de liberdade de organização, longe

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do arranjo repressivo colonial. Esses indivíduos, envolvidos com a luta pela libertação nacional,
encontrariam no ideal de unidade do povo seu principal brado contra a opressão colonial. Fundada
em 25 de junho de 1962, a FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique, é resultado da união
de outros grupos nacionalistas moçambicanos50 formados no exterior, reunindo moçambicanos
que residiam em países vizinhos. (Couto, 2005).

o A UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique) fundada em 1960, na


Rodésia;
o MANU (Mozambique African National Union) – denominada inicialmente União Maconde
de Moçambique – formada por macondes emigrados do Quênia e da Tanzânia, e a
o UNAMI (União Africana de Moçambique Independente), fundada no Malawi. Desde o
primeiro Congresso da FRELIMO, ocorrido em Dar es Salaam, na capital da Tanzânia de
Julius Nyerere, a Frente já apontava os principais inimigos a serem combatidos: o
colonialismo e o imperialismo.

A luta de libertação nacional, iniciada em 1962, protagonizada pelos movimentos nacionalistas


moçambicanos, colocou projetos políticos divergentes em confronto, tanto no que se refere às
disputas inseridas no próprio seio do movimento emancipatório da Frente de Libertação, quanto na
tentativa portuguesa de manutenção das colônias por meio da instauração de políticas contra-
insurgentes, na tentativa de impedir a eclosão de movimentos independentistas nas regiões de
domínio colonial. Somado a isso, as políticas educacionais promovidas pela ditadura do Estado
Novo de Salazar, empenharam-se em fomentar, utilizando-se da estrutura burocrática colonial,
discursos de pertencimento cultural à metrópole – discursos esses que exaltavam a cultura e a
história do colonizador, tentando reavivar às “glórias passadas” dos portugueses em solo africano.

1.1.2. A Guerra em Moçambique

A guerrilha em Moçambique começou a ser preparada ainda em 1963, quando os primeiros quadros
foram mandados para a Argélia com a finalidade de se instruírem nesse novo tipo de guerra. Eram
vários os movimentos que reivindicavam a independência daquela colónia, logo no começo dos
anos 60 do século XX. A FRELIMO foi, contudo, a frente que conseguiu, dada a acção de Eduardo
Mondlane, conciliar as forças de todos através de sucessivas depurações e clivagens. E fê-lo,

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porque era o único movimento que apresentava uma textura ideológica consistente, ainda que de
matriz marxista. (Cervelló, 1993).

Em Fevereiro de 1969, Eduardo Mondlane foi vítima de uma carta armadilhada que o matou.
Tratou-se de uma morte oportuna, porque, internamente, o líder era considerado demasiado brando,
e, externamente, parecia ser uma vitória da contraguerrilha. Nunca foi bem esclarecido o
assassinato de Mondlane157 e num primeiro momento afectou o desenvolvimento das operações,
mas, com a evolução interna, resultante da criação da unidade de comando centrada em Samora
Machel, a FRELIMO ganhou nova dimensão e maior empenhamento tanto diplomático como
militar. Foi por essa altura que ficou decidida a abertura da frente de Tete.

a) A Insurreição

Os primeiros acontecimentos que se podem inscrever no começo da insurreição em Moçambique


ocorreram em 16 de Junho de 1960, no Norte, no planalto dos Macondes, e tiveram a sua origem
em reivindicações justas das populações agrícolas. Foram reprimidas brutalmente pelas autoridades
portuguesas, de tal forma que não mais se refez o clima de bom entendimento entre colonos e
autóctones. Os quatro anos que se seguiram destinaram-se, de facto, à preparação da luta armada.

O esforço insurreccional assentou, em primeiro lugar, na etnia Maconde a qual, ainda que
maioritariamente católica, se sentia superior a todas as restantes do Norte e Centro de Moçambique
e, por isso, suficientemente forte para enfrentar o Exército. Também junto ao lago Niassa se
infiltraram guerrilheiros com a finalidade de subverter as populações ribeirinhas. (Couto, 2005).

A reacção portuguesa foi, nos anos iniciais, independentemente da experiência já adquirida em


Angola, desadequada, porquanto o então Comandante-chefe, general Caeiro Carrasco, entendia ser
pela utilização da força que se dobraria a subversão. Claro que os efeitos foram logo de imediato
desastrosos. Só com o general Augusto dos Santos, seu sucessor no comando, oficial com mais
experiência de guerra de guerrilha, é que se começou a tentar cativar as populações civis de forma
a subtraí-las à acção da FRELIMO.

b) Operação «Nó Górdio»

O general Kaúlza de Arriaga foi um dos comandantes-chefes que maior prática de governo tinha
junto da Ditadura e de Salazar. Por isso, transportou para o teatro de operações conceitos políticos

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do poder central sem a cautela de os confrontar com a realidade militar que se vivia no terreno.
Para ele, a vitória militar era admissível e alcançável, quando, outros generais, na mesma altura,
eram muitíssimo mais prudentes nas suas afirmações.

c) A Localização da Guerrilha

De acordo com Rodrigues, (2000). Nos anos de 1964 a 1970, as grandes acções de guerrilha foram
levadas a efeito na província de Cabo Delgado, reduzindo-se a quase nada as operações na zona do
Niassa, tendo o comando português adoptado como medida de contra subversão a instrução no
campo de modo a aperfeiçoar o dispositivo de campanha sem perda de tempo com preparação
teórica nos quartéis longe da zona de intervenção, tanto mais que a geografia da colónia
possibilitava um distanciamento entre os grandes centros populacionais e as matas onde se
desenrolava toda a acção.

d) Cahora Bassa e a mudança estratégica da FRELIMO

A barragem de Cahora Bassa foi um projecto português amplamente estratégico e ideológico174


favorecido pela conjuntura internacional a partir de segunda metade da década de 60 do século XX.
Realmente, a guerra israelo-árabe, que tornou intransitável o canal do Suez, veio dar à rota do Cabo
da Boa Esperança uma nova importância para o mundo ocidental, em especial para a Europa, que
não poderia ver aquelas paragens em mãos politicamente instáveis.

Daí que o regime político da África do Sul e o apartheid tenham passado a ser suportáveis, embora
condenados. Por outro lado, o regime branco da Rodésia, com Ian Smith à frente, saiu reforçado,
porque era a cúpula que, a par de Moçambique e Angola, criava as condições de viabilidade e
tranquilidade de navegação dos imensos «mamutes» transportadores de petróleo. (Rodrigues,
2000).

O mundo tinha, regionalmente, a estabilidade de que careciam as grandes indústrias europeias e,


até, americanas. Esta situação era favorável ao reforço dos laços entre territórios da África austral
e, para consolidá-la, só faltava um projecto que os solidarizasse. Ele nasceu com a ideia de uma
grande barragem a maior do mundo capaz de fornecer energia suficiente ao desenvolvimento
paralelo de Moçambique, Angola, Rodésia e África do Sul.

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e) Os massacres em Moçambique

Em qualquer guerra, seja ela em que tempo for e sejam quais forem os intervenientes, sempre
existiu a tentação de exceder o sofrimento para além do estritamente necessário. Em Moçambique
não houve excepções. Foram vários os massacres de que há conhecimento mais ou menos
documentado e, que se saiba, lá só as forças do Exército tomaram parte neles.

Em Moçambique, o mais célebre foi o de Wiriamu183 que constituía um conjunto de três


povoações indígenas — Chawola, Juwau e Wriamu —, porque foi aquele que passou para as
páginas da imprensa internacional, através do padre Adrian Hastings. A acção foi levada a efeito,
em Dezembro de 1972, por tropas dos Comandos como retaliação sobre um disparo feito contra
uma aeronave e uma emboscada. (Cervelló, 1993).

1.2. O Contraponto à Euforia das Independências: Guerra Civil (Angola e Moçambique)

1.2.1. 1976: Guerra Civil em Moçambique

Começa a guerra civil entre a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência


Nacional Moçambicana (RENAMO), que se prolongaria até 1992. Além de paralisar o país em
termos económicos e sociais, o conflito de 16 anos provocou a morte um milhão de pessoas e fez
mais de três milhões de refugiados.

Durante o conflito, travado em plena Guerra Fria, a FRELIMO é apoiada pela União Soviética,
enquanto a RENAMO conta com a ajuda do regime branco da Rodésia e, a partir de 1980, também
da África do Sul.

1.2.2. 1992: Fim da Guerra Civil em Moçambique

Com a mediação da Comunidade de Sant’Egídio, organização religiosa fundada em Itália, a 4 de


outubro é assinado, em Roma, Itália, o Acordo Geral de Paz entre o Governo moçambicano e a
RENAMO, pondo fim a 16 anos de guerra civil. O conflito deixou mais de um milhão de mortos e
transformou país num dos mais pobres do mundo. Couto, Mia. (2005). Em 1990 já tinha sido
aprovada a revisão da Constituição que introduzia o sistema multipartidário em Moçambique. A
FRELIMO punha de parte a ideologia marxista-leninista.

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1.2.3. O Fim da Guerra não é o Fim da Guerra: Angola

A derrubada do governo de Marcelo Caetano e de Américo Thomaz, o então presidente, apesar de


ter oferecido ao mundo a expectativa de um giro completo na tomada decisória quanto às guerras
africanas, mostrou-se, na realidade, muito mais lenta com o passar dos dias. O problema colonial,
que esteve no cerne do MFA, também foi o elemento que trouxe as maiores divergências no seio
do governo recéminstalado.

A cúpula da JSN (constituída, em sua maior parte, por generais e oficiais de primeiro escalão do
Exército, entre eles o próprio Spínola) e o MFA não entraram em um consenso fácil quanto às
medidas mais imediatas da questão da guerra travada em Angola e, além disso, os pronunciamentos
da JSN não tranquilizaram a opinião pública por conta das vagas assertivas acerca dos temas do
ultramar. (Pouchin, 2003, p. 55).

1.2.4. 2002: Fim da Guerra Civil em Angola

No dia 4 de abril de 2002 a paz chegou a Angola com a assinatura do acordo de Luanda entre o
governo do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) MPLA e a União Nacional
pela Independência Total de Angola (UNITA). As duas formações políticas com mais influência
no país pousaram as armas, pondo, assim, fim a 27 anos de uma guerra civil que causou pelo menos
500 mil mortos e mais de dois milhões de refugiados. A seguir à paz, Angola viveu um "boom"
económico graças ao petróleo, atingindo um crescimento de mais de 20 % em 2005 e em 2007.
Mas apesar deste crescimento, muitos angolanos continuam até hoje a viver na pobreza.

1.3. Característica da Literatura Africana no Período da Colonização

A literatura africana é ampla, pois diz respeito aos vários países da África. O mais adequado,
portanto, seria dizer “literaturas africanas”. Assim, as características compartilhadas pelos países
africanos de língua portuguesa, que tiveram uma história muito semelhante de colonização e luta
pela independência. No entanto, devemos lembrar que a literatura de cada um desses países possui
também as suas peculiaridades. (Duarte, 2008).

Para Duarte (2008), as características da literatura africana no período da colonização:

o Influências da literatura europeia;


o Reprodução da cultura clássica;
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o Costumes tradicionais da África;
o Tensão entre a cultura colonial e a africana;
o Alienação cultural;
o Rigor formal na poesia.

No período de colonização, existiu a criação de textos literários nas colônias, entretanto os textos
eram conforme o ponto de vista do colonizador português. (Noa, 1999).

A literatura colonial seria aquela elaborada por uma produção de textos de origem etnográfica,
biográfica escrita pelos missionários. Os missionários, também, seriam reguladores de línguas
nativas, agora domesticada em gramáticas, dicionários, etc. (Couto, 2009; Mendonça, 1999).

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Conclusão

De acordo com a abordagem feita no trabalho foi possível entender que, durante a Guerra colonial,
a literatura africana em língua portuguesa teve uma importância muito grande na construção
cultural e histórica das ex-colônias portuguesas na África. Utilizando a linguagem dos
colonizadores, os escritores de maneira criativa e inovadora, construíram nas últimas décadas uma
tradição literária que se evidencia de forma própria em cada nação.

Portanto, a pesquisa buscou analisar a construção da identidade nacional moçambicana projectada


pela Frente de Libertação de Moçambique. Por outro lado, levou-se em consideração o período
anterior à independência do país, durante a guerra de libertação do jogo colonial português, até a I
República, período no qual a Frelimo desempenhou papel fundamental ao propor os laços de
pertencimento comunitário, considerados indispensáveis para a consolidação da unidade nacional
e para a autoafirmação do Estado no contexto da Guerra. Ao assumir o poder uma das medidas
adotadas pela Frelimo foi desenvolver a escrita da história do país e relacioná-la aos projectos de
nação em andamento, com isso, visava a modernidade, a partir da construção de novos cidadãos.
Para isso, a análise sobre a literatura didáctica disponível permitiu identificar as mudanças
estruturais para consolidação do Estado socialista e sua reorganização.

Por sua vez, Angola fosse um “pequeno e obscuro país africano,” recém-colocados ante a
perspectiva de independência, o ano de 1975 mostrou-se como um catalisador para transformar
seu, até então, baixo perfil, na arena política internacional, em centro de divergências do confronto
Leste-Oeste encetado pela Guerra Fria.

Conclui-se que, as obras da literatura africana em língua portuguesa podem ser divididas em três
períodos: colonização, pré-independência e pós-independência. O período da colonização é
marcado pela alienação cultural.

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Referências Bibliográficas

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