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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

Agira Agostinho: 708203219

Curso: Licenciatura em Ensino da Língua Portuguesa


Disciplina: Psicolinguística
Ano de Frequência: 4º Ano
Turma: “A”

Nampula, Abril de 2023


Agira Agostinho

Código: 708203219

AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

Trabalho a ser submetido ao docente da cadeira de


Psicolinguística, para fins avaliativos.

Docente: MA. Isidoro Mendes Momade.

Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Nampula

2023
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• Capa 0.5
• Índice 0.5
Aspectos • Introdução 0.5
Estrutura organizacionais • Discussão 0.5
• Conclusão 0.5
• Bibliografia 0.5
• Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
• Descrição dos 1.0
Introdução objectivos
• Metodologia adequada
ao objectivo do 2.0
trabalho
• Articulação e domínio
Conteúdo do discurso académico
(expressão escrita 2.0
cuidada, coerência /
Análise e discussão coesão textual)
• Revisão bibliográfica
nacional e
internacional relevante 2.0
na área de estudo
• Exploração dos dados 2.0
Conclusão • Contributos teóricos
práticos 2.0
• Paginação, tipo e
Aspectos Formatação tamanho de letra, 1.0
gerais parágrafo,
espaçamento entre
linhas
Referências Normas APA 6ª • Rigor e coerência das
Bibliográficas edição em citações citações/referências 4.0
e bibliografia bibliográficas
Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor
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Índice

Introdução .............................................................................................................................................. 6

1. Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem ................................................................................... 7

1.1. Condições Biológicas do Desenvolvimento Linguístico................................................................ 7

1.2. Primeiras Etapas da Aquisição da Linguagem ............................................................................... 9

1.3. Evolução da Aquisição da Linguagem ......................................................................................... 12

1.4. Aprendizagem da Comunicação ................................................................................................... 14

1.5. O Papel do Contexto Social.......................................................................................................... 14

1.6. Linguagem e Cognição ................................................................................................................. 15

Conclusão ............................................................................................................................................ 17

Referências Bibliográficas .................................................................................................................. 18


Introdução

O desenvolvimento adequado da linguagem é um dos fatores fundamentais para que o


desenvolvimento infantil ocorra de forma harmônica em todas as esferas, seja do ponto de vista
social, relacional ou ao nos referirmos à aprendizagem formal. A aquisição da forma, conteúdo e
uso da linguagem assumem papel importante na construção da mesma e na compreensão de sua
organização interna.

O presente trabalho cingir-se-á sobre: Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem. Com este tema,
a autora pautou os seguintes objectivos:

Objectivo Geral:

 Compreender a aquisição e Desenvolvimento da Linguagem.

Objectivos Específicos:

 Explicar as condições biológicas do desenvolvimento linguístico e evolução da aquisição


da linguagem;
 Caracterizar as primeiras etapas da aquisição da linguagem e aprendizagem da
comunicação;
 Explicar o papel do contexto social da linguagem e cognição.

Para a concretização deste objectivo, a autora recorreu a revisão bibliográfica de artigos que versam
sobre a matéria, neste caso o manual de Psicolinguística, que constituiu na leitura, analise e
interpretação das mesmas obras. No que concerne à estrutura do trabalho, este apresenta: uma
introdução, onde se fez uma breve visão dos conteúdos abordados no trabalho, objectivos da
pesquisa, desenvolvimento onde estão detalhados os principais conteúdo do trabalho propostos
pelo docente da cadeira, conclusão onde se fez a síntese do que se percebeu relativamente ao longo
do desenvolvimento do trabalho e finalmente termina com a sua respectiva bibliografia onde estão
listadas as obras consultadas e citadas no acto da elaboração do trabalho de pesquisa.

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1. Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem

A aquisição da linguagem é o processo pelo qual a criança aprende sua língua materna. A respeito
desse processo, há boas razões para afirmar que a aquisição da primeira língua é a maior façanha,
de um processo individual, que podemos realizar durante toda a vida. (Zanini, 1986).

A aquisição da linguagem depende de um aparato neurobiológico e social, ou seja, de um bom


desenvolvimento de todas as estruturas cerebrais, de um parto sem intercorrências e da interação
social desde sua concepção.

O desenvolvimento da linguagem implica na aquisição plena do sistema lingüístico que nos


possibilita a inserção no meio social, a possibilidade de assumir a nossa identidade. Também há
considerável consenso sobre o fato de que o curso do desenvolvimento da linguagem reflete a
interação de fatores de, pelo menos, cinco domínios: social, perceptivo, de processamento
cognitivo, conceitual e linguístico. (Viana, 1996). A partir do desenvolvimento da linguagem, a
criança está apta a compartilhar significados com o outro e a participar da aprendizagem
sociocultural, sendo esta a base da prontidão para a aprendizagem escolar. E a linguagem começa
a desenvolver-se desde o momento do nascimento do bebê.

1.1. Condições Biológicas do Desenvolvimento Linguístico

A aquisição da linguagem é um processo que ocorre natural e espontaneamente, contudo, para que
esta capacidade se desenvolva a criança necessita de oportunidades de interação e meios
estimulantes para aprender a falar. Como refere Sim-Sim (2001) “A capacidade natural para
adquirir a linguagem não significa que o desenvolvimento da mesma não seja influenciado pelas
experiências de comunicação a que o aprendiz de falante é exposto. Meios mais estimulantes
proporcionam experiências de interacção mais ricas.” (p. 19).

O desenvolvimento da linguagem não depende somente das condições biológicas inatas de cada
indivíduo. A influência do meio no desenvolvimento da linguagem é um factor determinante para
o enriquecimento linguístico das crianças, porque sem tal influência, as aptidões genéticas para a
linguagem não seriam desenvolvidas.

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O ambiente no qual a criança se desenvolve é fundamental pela quantidade de experiências e
contactos que proporcionam. De acordo com Gaspar (2004) “A criança é um ser social que se
desenvolve na interacção com os outros, nos seus diferentes contextos de desenvolvimento, e a
qualidade desses contextos é determinante para o seu desenvolvimento.” (p. 259).

Como Sim-Sim e colaboradores (2008) complementam Sequeira e Sim-Sim (1989) afirmam


também que “É já ponto assente no fenómeno humano da aquisição da linguagem que a quantidade
e qualidade do “input” linguístico que a criança recebe desempenham um papel decisivo no modo
como ela se exprime verbalmente.” (p. 11). Assim, a qualidade linguística vai depender da
linguagem ouvida pela criança; da interação entre a criança e o adulto e das características do meio
ambiente em que está inserida.

Castro e Gomes (2000) referem que “Todas as crianças começam por balbuciar antes de falar,
produzem palavras isoladas antes de as combinar, usam a fala telegráfica antes de fazeres frases
gramaticais; mas umas crianças começam mais cedo do que outras, ou mais tarde, ou progridem
mais lentamente, ou mais rapidamente, ou avançam melhor num domínio e pior num outro…” (p.
60). Entre as fontes de variação temos as mais ligadas ao sujeito como o sexo, inteligência ou o
estilo de aprendizagem e as mais ligadas ao meio envolvente como a relação adulto-criança ou o
meio sociocultural. (Viana, 1996).

Relativamente às diferenças no uso e domínio da linguagem podem ser avançadas algumas causas:
“a valorização dada pela família às trocas verbais, a presença ou ausência de meios culturais mais
favorecidos, a maior ou menor proximidade entre a linguagem utilizada na escola e a utilizada no
meio familiar, a introdução precoce ou não da criança em determinadas condutas linguísticas.”
(Viana, 1993, p. 6).

A família é considerada o primeiro e o mais importante contexto para o crescimento físico e


psicológico das crianças. Para proporcionar tal crescimento,

“as famílias têm em consideração objetivos básicos fundamentais para a educação


dos filhos: sobrevivência – assegurar que a criança permaneça viva e de
desenvolva de forma saudável e completa; bem-estar económico – apoiar a criança
na aquisição de competências e conhecimentos para posterior autossuficiência
económica; e auto-atualização – incentivar o desenvolvimento das capacidades
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que são fundamentais para a satisfação de valores culturais (moral; prestigio;
realização pessoal).” (Schaffer, 1996, p. 252).

O contexto familiar é visto como o principal fator socializador, uma vez que prepara e adapta a
criança às características e aos padrões que são aceitáveis na sociedade onde está integrada. Como
refere Schaffer (1996), as famílias “são grupos restritos e íntimos que facilitam às crianças a
aquisição de regras de comportamento consistentes; estão associadas a vários outros dispositivos
exteriores (outras famílias, o trabalho, o lazer, etc.) aos quais as crianças são gradualmente
apresentadas.” (p. 242).

Assim, é neste contexto que se iniciam diversos processos dos quais se destacam a interação com
o mundo, o desenvolvimento dos processos de comunicação e a aquisição linguística. Andrade
(2008) salienta que não devemos deixar de considerar o importante papel da família no
desenvolvimento da linguagem “sendo lícito depreender que há contextos familiares mais propícios
do que outros ao desenvolvimento linguístico, designadamente aqueles que criam mais situações
facilitadoras dessa aprendizagem.” (p. 38).

De acordo com a mesma autora, as crianças podem alcançar códigos linguísticos mais ou menos
elaborados, mais ou menos restritos devido a diversos fatores (clima familiar, relações conjugais,
idade, saúde, entre outros), do qual se destacam fundamentalmente o nível sociocultural e
académico dos adultos com quem está envolvida.

Portugal (1998) diz também que “as famílias diferem em várias dimensões, algumas das quais
particularmente significativas para o desenvolvimento da criança: atitudes parentais de
aceitação/rejeição, modo como o controlo e disciplina são exercidos, qualidade e quantidade de
estimulação cognitiva.” (p. 123).

1.2. Primeiras Etapas da Aquisição da Linguagem

a) Balbuciando

É comum dividir o estágio inicial da aquisição de linguagem em duas fases: pré-linguística e


linguística. No estágio pré-linguístico, a capacidade linguística da criança desenvolve-se sem
qualquer produção linguística identificável. Sem levar em conta as mudanças biológicas que
facilitam o desenvolvimento linguístico e ocorrem nos primeiros meses de vida da criança, é o
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balbuciar dos bebês de aproximadamente seis meses que sinaliza o começo da aquisição da
linguagem. Esse período é tipicamente descrito como pré-lingüístico porque os sons produzidos
não são associados a nenhum significado linguístico. (Andrade, 2008).

O estágio dos balbucios é marcado por uma variedade de sons que muitas vezes são usados em
alguma das línguas do mundo, embora muitas vezes não sejam a língua que a criança irá,
posteriormente, falar. O significado dessa observação não é claro. Alguns, como Allport (1924 in
Stillings, 1987), afirmam que os balbucios sinalizam o começo da habilidade de comunicação
linguística da criança.

Nesse estágio, os sons oferecem o repertório no qual a criança irá identificar os fonemas da sua
língua. Por outro lado, McNeil (1970 in Stilings, 1987) ressalta que a ordem que os sons aparecem
durante o período de balbucio é, geralmente, contrária àquela que eles aparecem nas primeiras
palavras da criança. Por exemplo, consoantes posteriores e vogais anteriores, como [k], [g] e [i],
aparecem cedo nos balbucios das crianças, mas tarde no seu desenvolvimento fonológico.

b) Primeiras palavras

Segundo Stillings (1987), o primeiro estágio verdadeiramente linguístico da criança parece ser o
estágio de uma palavra. Nesse estágio, que aparece a poucos meses delas completarem um ano, as
crianças produzem suas primeiras palavras. Durante esse estágio, as suas falas se limitam a uma
palavra, que são pronunciadas de maneira um pouco diferente da dos adultos.

Muitos factores contribuem para essa pronúncia não usual: alguns sons parecem estar fora da escala
auditiva das crianças, por dependerem da maturação de alguns nervos. Sons que são difíceis para
a criança detectar, tornam-se difíceis para elas aprenderem. Além disso, alguns sons parecem ter
uma articulação difícil para as crianças. Por exemplo, é comum ver crianças que possuem
desenvolvimento linguístico adiantado mas não conseguem pronunciar o [r]. Algumas vezes, sons
fáceis podem se tornar difíceis na presença de outros sons. Por exemplo, crianças no estágio de
uma palavra frequentemente omitem o som das consoantes finais.

Crianças nessa fase, além de pronunciar as palavras de maneira diferente também querem dizer
coisas diferentes com elas. Muitos pesquisadores perceberam que as crianças parecem expressar
significados complexos com suas expressões curtas. É como se suas sentenças de uma palavra
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representassem um pensamento completo. Esse uso da linguagem indica que o desenvolvimento
conceitual da criança tende a ultrapassar seu desenvolvimento linguístico nos primeiros estágios
da aquisição. Nós devemos traçar essa conclusão com cuidado, no entanto, já que julgamentos
sobre o que as crianças querem disser nos seus primeiros estágios de desenvolvimento são difíceis
de fazer.

Acessando essa e outras propriedades do sistema semântico da criança, nós temos que considerar
a questão da natureza do significado. Em particular, é importante esclarecer que tipo de
conhecimento a criança deve dominar durante o processo de aquisição de linguagem.

A distinção de Frege (Stillings, 1987) entre sentido e referência é relevante; nós podemos explorar
como as crianças formam e organizam conceitos e como elas aprendem a referenciá-los. Clark
(1973 in Stillings, 1987) e Anglin (1977 in Stillings, 1987) mostraram que as primeiras referências
das crianças partem sistematicamente em duas direções particularmente opostas daquelas da
comunidade falante dos adultos.

Em alguns casos, as crianças usam as palavras para referenciar inapropriadamente um vasto


número de objectos. Por exemplo, carro poder ser usado para referenciar um objeto grande que se
move ou qualquer objeto que serve para fazer transporte. Em outros casos, crianças usam as
palavras de uma maneira extremamente restrita, criando um drástico limite para um conjunto de
referenciais permitidos. Por exemplo, uma criança usa a palavra cachorro para designar apenas o
cachorro da família.

A explicação de Clark (1973 in Stillings, 1987) para a aquisição semântica envolve, crucialmente,
a hipótese de que as crianças aprendem o significado de uma palavra através da união de várias
características semânticas que coletivamente constituem o conceito expresso pelo termo. De fato,
essa hipótese sobre o desenvolvimento léxico vê a criança reunindo um banco de dados onde as
características semânticas primitivas são associadas em grupo a um item lexical. Se uma criança,
erradamente, associa muitas ou poucas características a um termo, o conceito resultante estará
excessivamente generalizado ou excessivamente restrito, respectivamente, a superextensão e
subextensão.

Dessa forma, mesmo que a primeira hipótese sobre aquisição de linguagem seja de que a criança
simplesmente adquire sons e significados, a investigação das primeiras palavras da criança indica
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que o conhecimento adquirido por aquelas de um ano de idade toma a forma de um sistema rico de
regras e representações. Como esses sistemas abstratos foram deduzidas, principalmente, através
das experiências das crianças na comunidade linguística, as diferenças entre a gramática da criança
e a do adulto são compreensíveis.

1.3. Evolução da Aquisição da Linguagem

A aquisição da linguagem é uma das realizações mais notáveis dos primeiros anos de vida. Aos
cinco anos de idade, as crianças têm o domínio essencial do sistema de sons e da gramática de seu
idioma e adquiriram um vocabulário de milhares de palavras. (Zanini, 1986).

Em geral, Sim-Sim (2001), a evolução da aquisição e o desenvolvimento da linguagem em seus


mecanismos divide-se em subdomínios do desenvolvimento fonológico (o sistema de sons), do
desenvolvimento léxico (as palavras), e do desenvolvimento morfossintático (a gramática).

Desenvolvimento fonológico: Os recém-nascidos têm a capacidade de ouvir e discriminar os sons


da fala. No decorrer do primeiro ano de vida, tornam-se mais competentes para escutar os contrastes
utilizados em seu idioma e insensíveis às diferenças acústicas que não são relevantes para esse
idioma. Esta sintonização da percepção da fala ao ambiente linguístico resulta de um processo de
aprendizagem no qual os bebês formam categorias mentais de sons da fala em torno de grupos de
sinais acústicos que ocorrem com mais frequência em seu idioma. Essas categorias, então, orientam
a percepção, de forma que as variações dentro de uma categoria são ignoradas, e as variações entre
as categorias são percebidas. (Sim-Sim, 2001).

Os primeiros sons que os bebês produzem são gritinhos e ruídos que não se assemelham à fala. Os
principais marcos do desenvolvimento vocal anterior à fala são a produção de sílabas canônicas
(combinações adequadas de consoantes e vogais), que aparecem entre os seis e os 10 meses de
idade, rapidamente sucedidas por balbucios duplicados (repetições de sílabas).

Quando aparecem as primeiras palavras, são utilizados os mesmos sons, e as palavras contêm o
mesmo número de sons e de sílabas, que as sequências precedentes do balbucio.8 Um dos processos
que contribuem para o desenvolvimento fonológico inicial parece ser o esforço ativo dos bebês de
reproduzir os sons que escutam.

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No balbucio, os bebês podem descobrir a correspondência entre o que fazem com seu aparelho
vocal e os sons resultantes. Por volta dos 18 meses de idade, as crianças parecem ter construído um
sistema mental para representar os sons de seu idioma e para produzi-los dentro das limitações de
suas capacidades de articulação. A esta altura, a produção de sons da fala pelas crianças torna-se
consistente nas diferentes palavras– em contraste com o período anterior, em que a forma de som
para cada palavra era uma entidade mental separada. Os processos subjacentes a este
desenvolvimento ainda não são suficientemente compreendidos.

Desenvolvimento léxico. Os bebês entendem as primeiras palavras já aos cinco meses de idade,
produzem as primeiras palavras entre 10 e 15 meses, atingem o marco de 50 palavras de
vocabulário produtivo por volta dos 18 meses, e o de 100 palavras entre 20 e 21 meses. Depois
disso, o desenvolvimento do vocabulário é tão rápido que se torna praticamente inviável rastrear
quantas palavras as crianças conhecem. O vocabulário de uma criança de aproximadamente seis
anos de idade foi estimado em 14 mil palavras. (Sim-Sim, 2001).

A tarefa de aprendizagem de palavras tem múltiplos componentes e recorre a múltiplos


mecanismos. Os bebês utilizam procedimentos estatísticos de aprendizagem, monitorando a
probabilidade de que os sons apareçam juntos e, dessa forma, segmentam o fluxo contínuo da fala
em palavras separadas. A capacidade de armazenar essas sequências de sons da fala, conhecida
como memória fonológica, entra em ação à medida que são criadas entradas no léxico mental.

Desenvolvimento morfossintático. Por volta dos 24 meses de idade, a criança começa a reunir duas,
três ou mais palavras em frases curtas. As primeiras frases são combinações de palavras de
conteúdo, e frequentemente não incluem palavras com função gramatical, por exemplo, artigos e
preposições – nem terminações de palavras, por exemplo, marcadores de plural e de tempo. (Sim-
Sim, 2001).

Gradualmente, à medida que domina a gramática de seu idioma, a criança se torna capaz de
produzir enunciados cada vez mais extensos e gramaticais. De maneira geral, o desenvolvimento
de períodos complexos, isto é, com várias orações começa um pouco antes do segundo aniversário,
e está praticamente completo aos quatro anos de idade. Em geral, a compreensão precede a
produção.

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1.4. Aprendizagem da Comunicação

A intenção comunicativa, e podemos nos comunicar de diversas formas diferentes, através de


gestos, do olhar, de desenhos, da fala, entre outros. A estruturação da linguagem nos permite lançar
mão de recursos cada vez mais sofisticados, a fim de aprimorar nossas possibilidades de
comunicação. (Sim-Sim, 2001).

Para Peaget (1990), uma boa comunicação gera confiança, fortalece vínculos, divulga a marca para
atingir novos públicos e agrega valor ao nome e à reputação da instituição. A comunicação escolar é
essencial para a troca de conhecimentos, promoção de melhorias e mudanças e desenvolvimento
social e pedagógico.

A aprendizagem é parte de um processo social de comunicação – a educação – e apresenta os


seguintes elementos:

• Comunicador: professor, enquanto transmissor de informações ou agente do conhecimento.


• Meio ambiente: meio escolar, familiar e social, onde se efectiva o processo de ensino-
aprendizagem.

1.5. O Papel do Contexto Social

A linguagem é uma actividade de interação social, ou seja, é uma manifestação de competência


comunicativa, definida como capacidade de manter a interação social mediante a produção e o
entendimento de textos que funcionam comunicativamente. (Vygostsky, 1993).

Essa linguagem possibilita ao homem representar a realidade física e social e, desde o momento
em que é aprendida, conserva um vínculo muito estreito com o pensamento. Possibilita não só a
representação e regulação do pensamento e da ação, próprios e alheios, mas também comunicar
idéias, pensamentos e intenções de diversas naturezas e, desse modo, influenciar o outro e
estabelecer relações interpessoais, anteriormente, inexistentes. Essas diversas dimensões da
linguagem não se excluem. Não é possível dizer algo a alguém sem ter o que dizer. E ter o que
dizer, por sua vez, só é possível a partir das representações construídas sobre o mundo.

A comunicação com as pessoas permite, consequentemente, a construção de


novos modos de compreender o mundo e de novas representações sobre ele. Mas
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se um dos interlocutores ouve a fala do outro e, não compreende inteiramente, isto
é, não percebe suas “intenções”, a comunicação não se dá de forma plena. Para
uma pessoa se comunicar por meio da língua, além de conhecer seu vocabulário
e suas leis combinatórias, ela necessita, também, perceber a situação em que se dá
a comunicação, isto é, ter consciência do seu “contexto”. (Vygostsky, 1993).

O contexto é parte da representação mental que envolve uma gama muito grande de conhecimentos
e informações. São a nossa visão de mundo e a organização mental como situações estereotipadas
e sem ordenação que decidem se as condições necessárias à adequação dos atos de fala foram,
realmente, preenchidas ou não. Esses atos de fala referem-se a atitudes passadas ou futuras do
falante/ouvinte, pois funcionam como princípios através dos quais as atitudes são controladas e
comentadas ou podem até ser usados com o objetivo de fornecer informações sobre essas atitudes.

A linguagem humaniza o homem. Por meio dela, os seres humanos expressam sentimentos,
constroem pensamentos, interagem com o ambiente e com outros indivíduos. Dominar o código
linguístico é fundamental para a execução de tarefas rotineiras e para ter um bom aproveitamento
no mundo acadêmico e profissional. (Viana, 1996).

1.6. Linguagem e Cognição

A linguagem é uma das condições de socialização de nossa existência e marca um momento


decisivo da infância, sendo a Educação Infantil um local privilegiado para a promoção de situações
comunicativas. Segundo Piaget (1942), há uma estreita ligação entre a linguagem e o pensamento,
que a precede.

A Cognição é uma função psicológica individual ou coletiva filosoficamente conservadora


actuante na aquisição do conhecimento e se dá através de alguns processos, como a percepção,
a atenção, associação, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem.

Para Vygostsky (1993), a Cognição é o conjunto de processos psicológicos usados


no pensamento que realizam o reconhecimento, a organização e a compreensão das informações
provenientes dos sentidos, para que posteriormente o julgamento através do raciocínio os
disponibilize ao aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.

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Por meio da linguagem depois que desenvolvemos esta habilidade. A memória, a
atenção e a percepção podem ter ganhos qualitativos com ela. Por exemplo,
memorizamos melhor quando fazemos associações de idéias. Ela também ajuda
na regulação do comportamento. Na infância, podemos observar o
desenvolvimento da linguagem como apoio à cognição a partir dos dois anos, em
média, principalmente por meio da forma como a criança brinca. (Sim-Sim, 1998).

A relação estabelecida entre a linguagem e a cognição é estreita, interna e de recíproca


constitutividade, supõem-se que “não há possibilidades integrais de pensamentos ou domínios
cognitivos fora da linguagem, nem possibilidades de linguagem fora de processos interativos
humanos.” (Koch, 2009, p. 32).

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Conclusão

Diante do estudo e desenvolvimento deste trabalho é possível perceber que a aquisição da


linguagem não deve ser concebida como um processo mecânico de memorização, mas o oposto,
pois é um processo intelectual complexo e dinâmico que deriva do contato da criança com o meio
social. Trata-se de um processo histórico-cultural, processo em que a criança aprende os símbolos
linguísticos cultural e socialmente compartilhados a partir de experiências de interação com o
adulto. Portanto, o desenvolvimento da linguagem implica na aquisição plena do sistema
lingüístico que nos possibilita a inserção no meio social, a possibilidade de assumir a nossa
identidade. A aquisição da linguagem é uniforme na espécie humana. É também específica da
espécie humana. Toda pessoa normal aprende uma língua humana, mas nenhum outro animal, nem
mesmo o macaco mais inteligente, mostrou-se capaz de um mínimo de progresso nesta direcção,
embora alguns animais possam aprender a resolver problemas, a usar instrumentos, etc.

Portanto, falhas na aquisição e no desenvolvimento fonológico, como problemas na produção dos


sons da fala ou discriminação dos mesmos, podem refletir na leitura e/ou na escrita. Então podem
levar a criança, por exemplo, a trocar, omitir ou transpor fonemas ou grafemas. A criança demoraria
a adquirir a autonomia dos processos de leitura e escrita ou podem culminar com problemas
maiores.

Por outro lado, as taxas de desenvolvimento da linguagem variam substancialmente entre as


crianças, e essa variabilidade é fruto de uma interação complexa entre factores genéticos e
ambientais. Os estudos sobre o desenvolvimento das bases neurobiológicas da linguagem
forneceram evidências a respeito dos cursos temporais do desenvolvimento de três subsistemas
linguísticos, especificamente a fonologia (sistema de sons do idioma), a semântica (vocabulário e
significado das palavras) e a sintaxe (gramática).

Concluímos que, na realidade, a aquisição da linguagem é possível apesar das deficiências físicas
e psicológicas. Nem a incapacidade de ouvir, nem a de emitir sons vocais impedirão uma criança
de dominar um sistema linguístico.

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Referências Bibliográficas

Andrade, F., (2008). Perturbações da linguagem na criança: análise e caracterização. Aveiro:


Universidade de Aveiro - Comissão Editorial.

Castro, S. L., & Gomes, I., (2000). Dificuldades de aprendizagem da língua materna. Lisboa:
Universidade Aberta.

Gaspar, M., (2004). Educação parental e educação pré-escolar: Uma parceria a construir, um
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Koch, I. G. V. (2009). Desvendando os segredos do texto. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2009.

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