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Farmacocinética

Prof. Dra. Jacqueline Godinho


Conteúdo
• Definição de farmacocinética.

• Processos farmacocinéticos: Absorção, distribuição, metabolização e

eliminação.

• Principais vias de administração de fármacos.

• Fatores que alteram os parâmetros farmacocinéticos.


Farmacocinética
Estuda o que o organismo faz com o fármaco.

É o estudo da velocidade com que os


fármacos atingem o sítio de ação e são
eliminados do organismo, bem como dos
diferentes fatores que influenciam na
quantidade de fármaco a atingir seu sítio.
Farmacocinética

4 propriedades farmacocinéticas
determinam:

Velocidade do início da
ação Fígado

Intensidade do efeito

Duração da ação do fármaco


Farmacocinética
Absorção
Fase biofarmacêutica Como o fármaco entra no organismo?

Metabolização ou Corrente sanguínea


Biotransformação Distribuição
Como o fármaco é transformado? Para onde o fármaco se dirige?
Fígado
Metabólitos mais hidrossolúveis

Proteínas plasmáticas

Fármaco livre + sítio de ação

Farmacodinâmica
Efeito farmacológico
Excreção
Como o fármaco é eliminado? Urina, fezes e bile
1 Absorção
É a passagem do fármaco do local em que foi
administrado para a circulação sistêmica. Constitui-
se do transporte da substância através das
membranas biológicas.

Via intravenosa

Não se deve considerar a absorção

Fármaco direto na corrente sanguínea


1 Absorção
Fatores envolvidos na absorção:

Ligados ao fármaco: Ligados ao organismo:


- Forma farmacêutica;
- Vascularização do local;
- Solubilidade;
- Peso molecular; - Superfície de contato;

- Grau de ionização; - Patologias;


- Concentração;
- Via de administração;
- Interação com alimentos;
1 Absorção Principais vias de administração

A via de administração é determinada por:

Propriedades do fármaco
Ex.: hidra ou lipossolubilidade e ionização

Objetivos terapêuticos
Ex.: Necessidade de um início rápido de ação;
Necessidade de
tratamento por longo tempo;
Restrição de acesso a um local específico.
1 Principais vias de administração

Via enteral Oral

Vantagens
Fácil autoadministração O fármaco torna-se efetivo
após sofrer diversos
Risco de infecção sistêmica processos
Toxicidade e as dosagens biofarmacêuticos
excessivas → Carvão ativado

Fígado Metabolismo de primeira passagem

Influência pH → estomago
1 Principais vias de administração

Via enteral Sublingual

Atinge diretamente a circulação sistêmica


Não passa por metabolismo de primeira passagem

Vantagens
• Absorção rápida
• Administração conveniente
Via bucal é semelhante
Risco de infecção sistêmica
1 Principais vias de administração

Via parenteral Fármaco direto na circulação sistêmica Quando usar?

Outras vias:
• Intra-arterial;
• Intracardíaca;
• Intratecal;
• Intraperitoneal;
Epiderme • Intra-óssea;
Derme • Intra-articular;
Tecido • Intra-sinovial.
subcutâneo
Músculo
1 Principais vias de administração

Via parenteral Intravenosa (I.V.)

Efeito rápido e um grau de controle máximo sobre os níveis


circulantes do fármaco

Diluição rápida no sangue → Fármacos que causam irritação


ao estômago

Permite injetar grandes volumes

Possível controlar os picos de concentração


1 Principais vias de administração

Via parenteral Intravenosa (I.V.)

Desvantagens:
• Não podem ser retirados por meio de
estratégias como a ligação a carvão ativado.
• Pode introduzir bactérias e outras partículas
de infecção por meio de contaminação no local
da injeção.
• Pode produzir hemólise
1 Principais vias de administração

Via parenteral Intramuscular (I.M.)

Via mais utilizada dentre as parenterais

Absorção rápida

Fluxo sanguíneo rápida absorção

Sofre metabolismo de primeira passagem

• Deltóide → 2 a 3 mm
Volume: • Glúteo → 4 a 5 mm
• Coxa → 3 a 4 mm
1 Principais vias de administração

Via parenteral Subcutânea

Similar a IM

Absorção lenta → capilares

Utilizada para vacinas, hipoglicemiantes (insulina) e


anticoagulantes (heparina)

Volumes → no máximo 3 mm
1 Principais vias de administração

Via tópica Efeito localizado

Podem exercer efeito sistêmico Anticonceptivos, supositórios e corticosteroides.

Aplicado em pele e mucosas


1 Absorção
Fatores envolvidos na absorção:

Ligados ao fármaco: Ligados ao organismo:


- Forma farmacêutica;
- Vascularização do local;
- Solubilidade;
- Peso molecular; - Superfície de contato;

- Grau de ionização; - Patologias;


- Concentração;
- Via de administração;
- Interação com alimentos;
1 Absorção Membrana celular
Hidrofílica

Hidrofóbica
Atravessar
Bicamada lipídica → Anfifílica

Possui proteínas → Alvos de


fármacos

“Impermeável” à substâncias
polares
1 Absorção → Transporte pela membrana

Difusão Passiva
• Fármaco → penetração a favor
[ ] Anestésicos
gerais
Albumina do gradiente de concentração

• Preferencialmente fármacos
lipossolúveis*
Bicamada lipídica

• Fármacos hidrossolúveis →
canais e poros

Não envolve transportador


Não é saturável
[] Especificidade estrutural
1 Absorção
Fatores envolvidos na absorção:

Ligados ao fármaco: Ligados ao organismo:


- Forma farmacêutica;
- Vascularização do local;
- Solubilidade;
- Peso molecular; - Superfície de contato;

- Grau de ionização; - Patologias;


- Concentração;
- Via de administração;
- Interação com alimentos;
1 Absorção

Peso molecular e
solubilidade
Peso Permeabilidade

E se dois fármacos possuírem o mesmo


peso molecular?
Coeficiente de partição óleo/água

Coeficiente Permeabilidade
1 Absorção
Fatores envolvidos na absorção:

Ligados ao fármaco: Ligados ao organismo:


- Forma farmacêutica;
- Vascularização do local;
- Solubilidade;
- Peso molecular; - Superfície de contato;

- Grau de ionização; - Patologias;


- Concentração;
- Via de administração;
- Interação com alimentos;
1 Absorção Ácidos ou bases fracas Capacidade de se ionizar

Atravessa a
membrana

50% ionizada
Lipossolúvel hidrossolúvel
50%
molecular
1 Absorção Ácidos ou bases fracas Capacidade de se ionizar

+ Deslocamento do equilíbrio
Muito ácido
50% ionizada

50%
molecular

hidrossolúvel
1 Absorção Ácidos ou bases fracas Capacidade de se ionizar

Fármacos
ácidos em pH
ácido vão
estar em
maior
proporção na
forma
molecular

Muito ácido Lipossolúvel

Atravessa a
membrana
1 Absorção Ácidos ou bases fracas Capacidade de se ionizar

Preferência
pela formação
Deslocamento do equilíbrio da forma
ionizada

Aprisionamento
no plasma

Podem ser
Muito ácido distribuídos e
produzir sua
ação
1 Absorção

Diferentes
distribuições
1 Absorção

Absorvíveis
em pH básico

Absorvíveis
em pH
ácido
1 Absorção
Fatores envolvidos na absorção:

Ligados ao fármaco: Ligados ao organismo:


- Forma farmacêutica;
- Vascularização do local;
- Solubilidade;
- Peso molecular; - Superfície de contato;

- Grau de ionização; - Patologias;


- Concentração;
- Via de administração;
- Interação com alimentos;
1 Absorção
Superfície de contato

Superfícies ricas em bordas de escova


contendo microvilosidades
Ex.: O Intestino tem uma superfície cerca de
1.000 vezes maior do que a do estômago,
tornando a absorção de fármacos pelo
intestino mais eficiente.

Áreas de maior superfície absorvente:


• Endotélio pulmonar,
• Mucosa intestinal;
• Cavidade peritoneal
1 Absorção
Irrigação sanguíneia

Circulação

Absorção
1 Absorção Forma farmacêutica

Maior absorção
1 Absorção Patologias

Inflamação Edema

Maior absorção

Menor absorção
1 Absorção Fatores envolvidos na absorção

Metabolismo de primeira passagem

Biodisponibilidade I.V. → 100% de Biodisponibilidade

Fração do fármaco administrado que alcança a circulação sistêmica.

100 mg v.o. 70 mg

Calcular a dosagem de
fármaco para vias de
administração não IV

Biodisponibilidade = 0,7 ou 70%


Farmacocinética
Absorção
Fase biofarmacêutica Como o fármaco entra no organismo?

Metabolização ou Corrente sanguínea


Biotransformação Distribuição
Como o fármaco é transformado? Para onde o fármaco se dirige?
Fígado
Metabólitos mais hidrossolúveis

Proteínas plasmáticas

Fármaco livre + sítio de ação

Farmacodinâmica
Efeito farmacológico
Excreção
Como o fármaco é eliminado? Urina, fezes e bile
2 Distribuição
Fenômeno em que uma droga, após a absorção, sai da corrente
sanguínea e dirige-se ao seu local de ação
2 Distribuição
2 Distribuição Perfusão sanguínea
2 Distribuição Ligação à proteínas plasmáticas

Proteínas plasmáticas

Fármaco ligado

Ligação reversível
Fração inativa
Fármaco livre

Fração ativa

A quais conclusões podemos chegar?


2 Distribuição Ligação à proteínas plasmáticas

Distribuição

Eliminação

Tempo de ação
Só a fração livre é
distribuída
2 Distribuição Ligação à proteínas plasmáticas

Sítios proteicos passiveis de


saturação

Concentração de proteínas
plasmáticas pode influenciar
Ex.: Hipoalbuminemia

Competição entre fármacos

Substâncias endógenas
2 Distribuição Ligação à proteínas plasmáticas

Sítio de absorção → sítio de ação → eliminação

Fármacos ácidos

Fármacos fracamente básicos

Fármacos básicos e lipofílicos não-


ionizáveis
2 Distribuição Ligação à proteínas plasmáticas
2 Distribuição Ligação à proteínas plasmáticas

Competição entre fármacos


Substâncias endógenas

Vs.

Varfarina Fenilbutazona
2 Distribuição
Acúmulos teciduais

Substâncias lipossolúveis

Tecido adiposo
Ex.: Tiopental

Outros tecidos: Ossos, dentes, Fígado e etc.

Podem gerar efeitos adversos


Farmacocinética
Absorção
Fase biofarmacêutica Como o fármaco entra no organismo?

Metabolização ou Corrente sanguínea


Biotransformação Distribuição
Como o fármaco é transformado? Para onde o fármaco se dirige?
Fígado
Metabólitos mais hidrossolúveis

Proteínas plasmáticas

Fármaco livre + sítio de ação

Farmacodinâmica
Efeito farmacológico
Excreção
Como o fármaco é eliminado? Urina, fezes e bile
3 Metabolização (Biotransformação)

Biotransformação ou metabolismo é toda alteração na estrutura química que os


fármacos sofrem no organismo, geralmente por processos enzimáticos

Fármacos lipossolúveis

Compostos apolares →
reabsorção

Compostos polares
3 Metabolização (Biotransformação)
Quem realiza?

Metabólitos mais polares e


hidrossolúveis, os quais são facilmente
excretados

Pró- fármacos
3 Metabolização (Biotransformação)

Hidrofilicidade dos fármacos


Xenobióticos

Fase I Ativos Retornam à corrente sanguínea

-Oxidação Inativado
-Redução Metabólitos Muito polar
-Hidrólise -Conjugação
Inativo Inativos Fase II -Síntese
Inalterado
Ativo
Polar Excreção
Hidrossólúveis

Eliminação sem biotransformação


3 Metabolização (Biotransformação)

Reações funcionais de fase I

Envolve transformações químicas (oxidação, redução e hidrólise) nas quais as


moléculas dos fármacos sofrem alterações químicas covalentes
3 Metabolização (Biotransformação)

Reações funcionais de fase I

Inativar

Mais polar

Aspirina
3 Metabolização (Biotransformação)

Reações funcionais de fase I

Quem faz este processo?

Citocromo P-450
(CYP)
3 Metabolização (Biotransformação)
Citocromo P-450 (CYP)
Retículo Endoplasmático Liso

Diferentes enzimas da CYP metabolizam diferentes fármacos

CYP2C
Metabolizam 50 % dos
CYP2D fármacos disponíveis na
CYP3A terapêutica

Hepatócito
Alterar a estrutura química dos fármacos,
inativando-os ou reduzindo sua resposta biológica
3 Metabolização (Biotransformação)

Outros sistemas podem realizar reações de


oxidação:

• Esterases
• Amidases
• Flavina monooxigenases (FMOs)
• Monoxidases (MAO)
• Álcool
• Aldeído desidrogenases
3 Metabolização (Biotransformação)

Reações funcionais de fase II

Envolve várias transformações químicas, onde ocorrem biossíntese de moléculas


polares endógenas, as quais são conjugadas tanto com o produto polar da fase I
ou fármaco matriz.

+ Grupamento polar
Excreção
Polaridade
Reações funcionais de fase II

Polar

Adição de um grupamento glicurônico


3 Metabolização (Biotransformação) Reações funcionais de fase II

Conjugação dos xenobióticos à moléculas pequenas e ionizáveis,


como sulfatos, ácido glucorônico, glicina ou ácido glutâmico
3 Metabolização (Biotransformação)

Fatores que afetam a metabolização


Fatores fisiológicos Fatores externos

• Espécie • Fatores ambientais


• Idade • Temperatura ambiente
• Sexo • Luz
• Peso corporal
• Ritmos biológicos
• Fator genético Fatores farmacológicos
• Estado nutricional
• Indução enzimática
• Estado patológico
• Inibição enzimática
3 Metabolização (Biotransformação)

Citocromo P450

Indutores Inibidores

Atividade enzimática Atividade enzimática

Metabolização Metabolização

Eliminação Eliminação

[ ] no plasma [ ] no plasma
3 Metabolização (Biotransformação)
3 Metabolização (Biotransformação)

Vs.
3 Metabolização (Biotransformação)
Farmacocinética
Absorção
Fase biofarmacêutica Como o fármaco entra no organismo?

Metabolização ou Corrente sanguínea


Biotransformação Distribuição
Como o fármaco é transformado? Para onde o fármaco se dirige?
Fígado
Metabólitos mais hidrossolúveis

Proteínas plasmáticas

Fármaco livre + sítio de ação

Farmacodinâmica
Efeito farmacológico
Excreção
Como o fármaco é eliminado? Urina, fezes e bile
4 Excreção Pouco relevantes

É de fármacos a saída dos mesmos do organismo


Pacientes com insuficiência renal*

Gases e substâncias voláteis

Fezes
Fármacos não absorvidos
Lactentes*
4 Excreção renal Principal via de excreção de fármacos

Filtração glomerular

Secreção tubular ativa

Reabsorção tubular passiva

Néfron
4 Excreção renal Néfron

Cápsula de Bowman 20% da eliminação de drogas

• Limitada pelo tamanho dos


poros no endotélio capilar
Somente moléculas pequenas são filtradas
pelos glomérulos no líquido tubular.

As macromoléculas e a maioria das proteínas,


não podem atravessar o filtro.
4 Excreção renal Secreção Tubular

Cápsula de Bowman Consiste na passagem de substâncias


do capilar para o lúmen tubular

• A secreção tubular de fármacos e metabolitos é


um processo ativo
OAT
Transportadores
OCT

Saturação → interações medicamentosas

Eliminação de fármacos ligados à


proteínas plasmáticas
• Mecanismo mais efetivo para a eliminação renal de substâncias
4 Excreção renal Secreção Tubular
4 Excreção renal Reabsorção Tubular

• Túbulos proximal e distal →


reabsorção passiva de formas não-
ionizadas de ácidos e bases fracos.

• A reabsorção tubular é influenciada


pelas propriedades físico-químicas do
fármaco:
• pKa
• Coeficiente de partição óleo/água
• Afinidade às proteínas
• pH urinário
4 Excreção renal Reabsorção Tubular

Influência do pH

Fármacos ácidos são mais


excretados em meio básico

Fármacos básicos são mais


excretados em meio ácido

Forma ionizada

Fármaco ácido
4 Excreção renal
Tempo de Meia Vida (T ½)

Tempo necessário para que a concentração plasmática do fármaco,


após os fenômenos de absorção e distribuição, seja reduzida à
metade (cinética linear de eliminação).

Ex: Fármaco A → dose de 100 mg


Meia vida de 4 horas
Referências:
• DELUCIA, R.; OLIVEIRA-FILHO, R.M.; PLANETA, C.S., GALLACCI, M.; AVELLAR,
M.C.W. Farmacologia Integrada. 3° Ed: Revinter, Rio de Janeiro, 23-77, 2007.
• GOODMAN & GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12a Ed: McGraw
Hill, Rio de Janeiro, 2012.
• Katzung, Bertram G. Farmacologia básica e clínica. Porto Alegre, AMGH, 2014. 12°
ed.
• Clark, M.A., Finkel, R., Rey, J.A., Whalen, K. Farmacologia ilustrada. Porto Alegre,
Artmed, 2013. 5ª ed.
• RANG, H.P.; DALE, M.M.; RITTER, J.M.; MOORE, P.K. Farmacologia. 7° Ed:
Elsevier, Rio de Janeiro, 2012.

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