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Copyright © 2024 por Tamires Barcellos

Todos os direitos reservados.

Revisão: Raquel Moreno


Capa: Tamires Barcellos
Diagramação: Tamires Barcellos

É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra


sem a autorização prévia da autora.

Todos os personagens desta obra são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido
mera coincidência.
Nota da autora e gatilhos
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Epílogo
Agradecimentos
Olá, leitor! Como é bom ter você aqui comigo mais uma vez,
prestes a conhecer a história de amor de James e Norah.
Antes de iniciar, preciso avisar que “Proposta Perfeita” é o
segundo livro de “Acordo Perfeito”. Pode ser lido separadamente,
mas acredito que você vai se apaixonar pela história do casal do
primeiro livro, então, se chegou até aqui e ainda não conhece Logan
e Avalon, corre para saber mais sobre eles.
“Proposta Perfeita” é uma comédia romântica, porém, tem
algumas situações que podem causar desconforto durante a leitura.
O livro vai abordar abuso sexual, mas sem cenas explícitas.
Espero que goste deste romance e que se divirta!
Beijos!
Dedico esse livro às minhas avós, que se pudessem, fariam
como a avó de James e dariam uma ajudinha ao destino para que
eu encontrasse o meu “príncipe encantado”.
Uma já é estrelinha no céu e a outra permanece ao meu lado.
Vó Marinalva, sinto muito a sua falta.
Vó Fatinha, obrigada por estar sempre comigo.
Eu as amo profundamente.
“O amor é muito jovem para saber o que é consciência.”
William Shakespeare
Janeiro de 2022

Uma vez eu li em algum lugar que nunca estamos preparados


para perder alguém que amamos. Apesar de a morte fazer parte da
vida, não perdemos muito tempo pensando nela, por isso, quando
ela chega, geralmente sem aviso, pega todo mundo de surpresa.
Quebra corações, corrói almas e deixa um rastro de dor para trás.
Eu sabia que tinha que me levantar da cama e me vestir.
Precisava erguer todos os meus muros e lidar com o meu irmão,
apoiar o meu pai, secar as lágrimas da minha avó, mas não
conseguia. Meus olhos estavam presos ao porta-retrato ao lado da
minha cama na casa dos meus pais, onde minha mãe me abraçava
no meu aniversário de dezesseis anos. Parecia ter sido ontem,
apesar de já ter se passado três anos. Eu nunca vi a minha família
tão feliz quanto naquele dia.
Logan ainda podia jogar futebol sem a pressão constante do
meu pai sobre a sua carreira, não existia discussão entre os dois
dentro de casa e minha mãe não precisava se preocupar em tentar
amenizar o clima entre o meu pai e o meu irmão. Eu era apenas
uma adolescente comum, cercada por amigos e pessoas especiais,
começando a sonhar de verdade com o meu futuro e ansiosa para
beijar pela primeira vez na vida.
Uma risada rouca escapou do fundo da minha garganta. Eu
tinha uma queda enorme por Declan, o garoto mais popular da
minha turma, e ainda não acreditava que ele tinha aceitado o meu
convite para ir ao meu aniversário. Nossos olhos ficaram se
encontrando durante toda a festa, até que ele se aproximou na pista
de dança e perguntou se poderia me beijar. Eu, logicamente, aceitei.
Fomos juntos para o jardim da minha mãe, que ficava na parte
de trás da mansão, e o meu coração ameaçou explodir dentro do
peito quando Declan me abraçou pela cintura e se inclinou em
minha direção. Eu pude sentir a sua respiração levemente ofegante
tocar o meu rosto e o cheiro do seu perfume ficar ainda mais
presente, tirando o meu fôlego. Ainda não acreditava que eu ia
mesmo beijar na boca, justo no dia do meu aniversário. Existia
alguma garota mais sortuda do que eu?
— Posso saber o que está acontecendo aqui?
Só percebi que meus olhos haviam se fechado quando os
revirei por trás das pálpebras ao me lembrar, de novo, do que havia
acontecido naquela noite. Não os abri, pois percebi que era melhor
viver aquela recordação do que encarar o presente.
Não foi Logan quem interrompeu o momento mais importante
da minha vida até então — e eu havia me escondido com Declan
justamente para que meu irmão ciumento não nos encontrasse. Foi
James, que era, basicamente, a sombra de Logan, uma extensão
sua que andava pela Terra e parecia estar em todos os lugares onde
o meu irmão não poderia estar.
Declan deu um pulo para trás e eu cerrei os olhos para James,
encontrando-o a poucos passos de onde estávamos. Assim como
meu irmão, James também era um atleta e parecia ter crescido
quase vinte centímetros de um ano para o outro. Ele estava prestes
a fazer dezoito agora, mas era muito alto, muito forte, e eu senti
Declan estremecer ao notar o mesmo que eu.
— N-não está acontecendo nada. — Declan se afastou
completamente. — Nós só estávamos conversando.
— E precisam ficar agarrados no escuro para conversar? —
questionou James, deixando bem claro com o olhar que não havia
acreditado em nenhuma palavra que havia saído da boca de Declan.
— Tem razão, n-não precisamos, eu... Eu já estou indo.
Simples assim, Declan saiu de perto de mim e fugiu tão rápido,
que em um piscar de olhos eu me vi apenas na presença de James.
Senti meu rosto ficar quente de raiva e vergonha, mas o primeiro
sentimento suplantou tudo. Em passos largos, me aproximei dele e
bati em seu peito, vendo-o dar um passo para trás — não por conta
da minha força, obviamente, mas porque quis.
— Qual é o seu problema? Tem ideia do que acabou de fazer?
— Sim, eu impedi que você cometesse uma burrada e beijasse
aquele babaquinha.
— Babaquinha? Declan é o garoto mais lindo da turma! E
estava prestes a ficar comigo!
— Beleza não é tudo, baixinha.
— Não me chame assim! — James deu um passo em minha
direção, mas eu dei outro para trás. — E não chegue perto de mim!
— Norah...
— Eu ia dar o meu primeiro beijo e você estragou tudo! —
Gritei, irritada, dando um outro tapa nele, agora em seu braço forte
e, caramba, muito musculoso.
James parou de repente, muito perto de mim, e eu precisei
erguer a minha cabeça para poder olhar em seus olhos cor de
chocolate. Estava mesmo escuro ali atrás, mas as arandelas
espalhadas pelo jardim e as luzinhas douradas que minha mãe pediu
para que a equipe de decoração colocasse na árvore às minhas
costas, me permitiam enxergar o melhor amigo do meu irmão sem
tanta dificuldade.
— Seu primeiro beijo? — perguntou baixinho, arqueando as
sobrancelhas.
Mordi a minha língua, sentindo a vergonha passar por cima da
raiva como um rolo compressor. Droga, eu não deveria ter admitido
aquilo! Todas as minhas amigas já haviam beijado, James ainda era
menor de idade, mas com certeza não era mais virgem. Eu ouvia as
suas conversas com o meu irmão, os dois eram populares e faziam
muito sucesso entre as meninas.
Dentro do meu círculo de amizade, eu era a garota mais
atrasada, e justamente quando tinha a oportunidade de mudar isso,
James estragava tudo.
Existia alguma garota mais azarada do que eu?
— Esquece o que eu disse, tá legal? Vou voltar para a festa.
Havia perdido o clima, mas ainda era meu aniversário. Eu não
poderia simplesmente fugir para o meu quarto e chorar por ainda
ser boca virgem. Desanimada, passei por James, mas sua mão
grande se fechou em meu braço com delicadeza e me puxou de
volta para o lugar onde eu estava, bem de frente para ele.
— Norah, me desculpa, eu não imaginava que...
— Claro que não imaginava. — Revirei os olhos. James e
Logan só olhavam para o próprio umbigo.
Quando não estavam fazendo isso, passavam o resto do tempo
se certificando de que os garotos não se aproximassem muito de
mim. Isso não queria dizer que James soubesse que eu não havia
beijado na boca ainda, afinal, a maioria das meninas da minha idade
já havia feito bem mais do que esfregar a sua língua na de outra
pessoa.
— Eu só vim atrás de você porque conheço a fama daquele
garoto, entendeu? Ele é um idiota que usa as meninas.
— E você e meu irmão fazem o quê?
— Não usamos as garotas, sempre deixamos bem claro para
elas o que devem esperar de nós dois.
Cruzei os braços, ficando irritada de novo com aquele discurso
idiota.
— E você achou que eu queria o que, James? Namorar com
Declan?
— Não é isso que você queria?
Bem, sim... Mas eu sabia que ninguém começava a namorar
sem beijar na boca antes. Tinha esperança de que Declan se
apaixonasse por mim também, mas não era nenhuma idiota, sabia
que ele não faria o pedido só porque eu queria que me beijasse.
— O que eu quero não importa, afinal, você estragou tudo!
— Na verdade, eu te salvei, baixinha. — Ele tocou em meu
rosto com delicadeza e sorriu. — Você não merecia ser beijada pela
primeira vez por um covarde de merda.
— Covarde de merda? Não fale assim do Declan!
— Mas é isso que ele é. Se tivesse coragem, não teria fugido
com o rabinho entre as pernas, tremendo como se estivesse a ponto
de fazer xixi nas calças. — Os dedos de James tocaram o meu
queixo, erguendo o meu rosto para cima. — Entenda uma coisa,
Norah. Há uma linha tênue que separa os meninos dos homens. Sei
que você está na idade de se divertir, de se aventurar, mas não deixe
que meninos se aproveitem de você.
— Eu acabei de completar dezesseis anos, James. Acha
mesmo que eu deveria me envolver com homens? Não é você quem
vive dizendo por aí, junto com o meu irmão, que eu sou nova
demais para isso?
— Não estou falando sobre idade, Norah, estou falando sobre
caráter. Charles é irmão de Declan e eu sei que os dois não valem
muita coisa, por isso que conheço a fama do garoto. Ele é um
menino que não vale a pena, entendeu? Você merece muito mais do
que um babaca como ele para ser o seu primeiro beijo.
James e Logan sabiam me irritar como ninguém com toda
aquela superproteção, mas eu sabia que eles não mentiam. Se o
melhor amigo do meu irmão estava afirmando que Declan não valia
nada, então, eu acreditava. Isso não queria dizer que eu não estava
decepcionada, no entanto. Talvez, eu tivesse mais do que uma
queda por Declan. Pelo menos, foi isso que pensei quando senti meu
peito ficar apertado.
Meu Deus, eu estava apaixonada por ele? Sem nem ter beijado
a sua boca ainda? Eu era muito estúpida!
— Droga! — Bufei, pensando seriamente em deixar a minha
festa e fugir de verdade para o meu quarto. — Acho que vou morrer
sem beijar na boca!
Para a minha surpresa, James riu ao ponto de seus ombros
sacudirem. Fiquei tentada em bater nele de novo, mas o garoto
perturbado me puxou para os seus braços e me apertou bem forte.
— Você só tem dezesseis anos, Norah, ainda vai beijar muito
na boca e dar muito trabalho para mim e para o seu irmão. — Senti
seus lábios em minha testa e acabei amolecendo entre os seus
braços, cercando a sua cintura estreita com os meus. — E eu estarei
aqui, preparado para socar a cara de qualquer idiota que ousar
machucar o seu coração. Quer que eu faça isso agora com Declan?
— Não é necessário. — Minha voz saiu abafada de encontro ao
seu peitoral, mas ele ouviu muito bem. — Mas também não precisa
ficar atrapalhando as minhas próximas tentativas de perder a
virgindade.
— Perder a virgindade? Norah! — Ele deu um passo para trás,
horrorizado, me segurando pelos ombros. Eu ri.
— A virgindade da boca, James. — Deixei claro, vendo-o cerrar
os olhos para mim.
— Tem razão, só vou me meter se eu perceber que você está
se metendo em alguma furada. A partir de hoje, vou deixar o meu
cargo de protetor. Seu irmão já domina essa área com maestria, de
qualquer forma.
— Está falando sério?
Não sabia o porquê, mas metade de mim ficou eufórica e a
outra ficou chateada, o que era bastante confuso. Tudo o que eu
queria era me ver livre das sombras que eram meu irmão e James
pairando sobre mim. Então, por que a ideia de ter o wide receiver
deixando aquela função me deixava magoada?
— Sim, estou falando sério. Você já não é mais uma criança,
Norah, tem o direito de se divertir como as meninas da sua idade,
mas com responsabilidade, entendeu?
Eu apenas concordei com a cabeça e James sorriu, me
puxando de volta para mais perto. Ao invés de me abraçar, ele só
passou o braço pelos meus ombros e voltou a me guiar para a festa.
— Então, você vai me deixar... livre?
— Não se engane, vou sempre ficar de olho em você, só que
com mais discrição. — Sua voz soou mais baixa perto do meu
ouvido. — Você nunca vai se ver livre de mim, baixinha. Agora vai se
divertir com os seus amigos, você tem uma festa de aniversário para
aproveitar.
Senti meu coração ficar muito mais acelerado com a sua
promessa do que com a possibilidade de beijar Declan minutos
atrás. Foi a esse sentimento que me agarrei enquanto me inclinava
em sua direção e deixava um beijo estalado no seu rosto antes de
seguir para a pista de dança. James tinha razão, era meu aniversário
e eu aproveitaria cada segundo ao máximo.
A lembrança se esvaiu como fumaça ao vento, mas a sensação
boa ficou em meu peito por longos segundos enquanto eu voltava a
abrir os olhos. Sem pensar muito, peguei o porta-retratos e abracei
com força, tendo mais alguns flashes da minha mãe, do seu sorriso
naquela noite, e de como pareceu aliviada quando contei a ela sobre
o não-beijo em Declan. Agatha Miller era a minha melhor amiga, eu
contava tudo para ela e, naquele dia, ela disse que agradeceria a
James por ter impedido que eu seguisse adiante com Declan.
Não sabia se minha mãe havia mesmo agradecido a ele ou
não. A dúvida ficou em minha cabeça mesmo depois de eu ter
ouvido algumas batidas na porta do meu quarto e permitido a
entrada de quem estava do lado de fora. Soube quem era antes
mesmo de me virar na cama e encontrar James em meu antigo
quarto. Seu perfume marcante sempre denunciava a sua presença.
Vestido completamente de preto, James se aproximou em
silêncio e se deitou ao meu lado no colchão, cruzando um tornozelo
sobre o outro. Ele bateu com os dedos no peitoral e foi para lá que
eu corri, deixando que me cercasse com os braços fortes enquanto
eu encostava a minha cabeça bem em cima do seu coração.
Eu havia chorado na noite anterior, quando soube que minha
mãe havia sofrido morte encefálica e não voltaria para casa nunca
mais. Chorei enquanto tentava amparar o meu irmão e ouvia os
gritos do meu pai, mas precisei ser forte quando Logan saiu do
hospital e ficou horas sem dar notícias, até ser carregado para
dentro de casa pelo meu pai, completamente ensopado pela chuva e
bêbado. Cuidei dele, segurei a sua cabeça enquanto vomitava no
vaso sanitário, dei banho nele junto com o meu pai e só me deitei
quando o dia já estava amanhecendo, depois de me certificar de que
ele estava bem, aquecido e dormindo.
Eu não chorei mais, pelo menos, não até aquele momento.
Não até colocar a cabeça no peito de James e deixar que a represa
estourasse. Ele não disse nada, apenas me abraçou muito forte, e
ficou pressionando os lábios em meus cabelos, como fazia quando
eu era mais jovem. James me amparou quando eu sabia que deveria
ser a rocha da minha família, pois sem minha mãe, temia que meu
pai e Logan se afastassem completamente, já que Logan Miller II
não aceitava que seu filho quisesse jogar futebol, e que tudo o que
construímos ao longo de todos aqueles anos fosse destruído.
Mas naquele momento, eu apenas permiti que a dor falasse
mais alto. E não estar sozinha deixou tudo relativamente mais fácil.
Estar com James deixou tudo menos pesado e sombrio.
Muitos minutos se passaram até eu conseguir me acalmar e
diminuir o fluxo de lágrimas. James não se afastou nem por um
segundo, mesmo após os meus soluços diminuírem e o tremor em
meu corpo começar a passar. Ele apenas me abraçou mais forte e
deixou que o calor do seu corpo aquecesse o meu.
— Sabe do que eu estava me lembrando? — perguntei
baixinho, minha voz ainda soando embargada e rouca pelo choro
recente.
— Não, mas gostaria muito que você me contasse.
— Estava me lembrando do meu aniversário de dezesseis anos
e de quando você me flagrou com Declan, estragando o que deveria
ter sido o meu primeiro beijo. — James riu abaixo de mim e eu ergui
a cabeça, ficando surpresa ao ver seus olhos molhados por lágrimas.
Ele havia chorado comigo e eu nem percebi. — Não ria, aquela noite
ainda me traumatiza.
— Eu te salvei, baixinha. Esqueceu disso?
Ficou claro que eu não havia esquecido e, depois de uns
meses, vi que James tinha razão. Declan era mesmo um babaca.
Engravidou uma menina da nossa turma e só assumiu o bebê,
porque seus pais o obrigaram. Ele havia se mudado do Alabama
para cursar a faculdade e nunca mais tive notícias dele, mas sabia
que Emma e a filhinha dos dois ainda moravam na mesma casa.
— Por que estava se lembrando disso?
— Por causa dessa foto. — Tirei o porta-retratos de encontro
ao meu peito e dei para ele. James deu um sorriso saudoso ao olhar
a fotografia e seus olhos se encheram de lágrimas. — Minha mãe
chegou a falar com você sobre aquela noite?
— Comigo? Não. O que ela teria para falar comigo sobre
aquela noite?
— Eu contei para ela o que aconteceu e ela disse que confiava
em você, que sabia que você não teria se intrometido se Declan
fosse um garoto que valesse a pena. — Sorri, mas senti novas
lágrimas se derramarem sobre o meu rosto. — Minha mãe disse que
iria te agradecer por ter impedido que o beijo acontecesse, se ela
não conseguiu fazer isso, então, eu faço agora. Obrigada, James.
Peço não apenas em nome da minha mãe, mas em meu nome
também. Acho que eu jamais me perdoaria se tivesse entregado
algo tão especial para um covarde de merda como Declan.
James colocou o porta-retratos de lado e tomou meu rosto em
suas mãos, me dando um sorrisinho emocionado.
— Jamais agradeça por eu ter cuidado de você, Norah. Eu te
amo, você é especial demais para mim, eu nunca me tornaria
indiferente sobre algo que poderia te machucar. — Ele me puxou em
sua direção e eu perdi o fôlego quando aproximou o rosto do meu,
apesar de saber que ele faria o mesmo de sempre. Beijaria a minha
testa. Foi o que ele fez. — Espero que seu primeiro beijo tenha sido
com alguém fantástico, pois você não merece nada menos do que
isso.
Não tinha sido com alguém fantástico, mas foi, sim, com uma
pessoa especial, um garoto que entrou na escola no meio do ano,
quando eu ainda tinha dezesseis. Fomos para o cinema em um
grupo grande de amigos e nos beijamos. Foi bonito e eu tive a
certeza, mais uma vez, de que James havia me salvado na noite do
meu aniversário.
Assim como estava me salvando agora, me permitindo ser
fraca, quando eu tinha que ser forte.
James era o meu porto seguro, de uma forma totalmente
diferente do meu irmão. Era o meu protetor, aquele para quem eu
corria quando algo ficava ruim e difícil, meu melhor amigo, ainda
que meu coração sussurrasse que o queria como algo mais do que
isso.
Silenciei aquele sentimento e me aconcheguei em seus braços.
Dezembro de 2022

A única certeza que eu tinha para aquele ano, era que o


Crimson Tide seria o campeão da temporada. Além de todos os
jogadores estarem em sua melhor fase, Logan havia dado tudo de si
e merecia erguer o troféu junto com os meninos.
Por isso, não foi realmente uma surpresa quando o time
terminou como o vencedor daquela última disputa.
Da arquibancada, ao lado do meu pai e da minha avó, eu gritei
e limpei as minhas lágrimas, pensando em minha mãe. Ela com
certeza estava olhando por nós dois, de onde estivesse, cheia de
orgulho do filho mais velho.
— Ele nasceu para isso — papai comentou ao meu lado,
passando um braço pelo meu ombro. Apesar da fama de tubarão do
mundo do Direito, Logan Miller II não conseguia esconder a emoção
naquele momento. — Agora percebo que tentar lutar contra a paixão
e o talento do seu irmão foi em vão, da mesma forma que seria
comigo, caso alguém ousasse me afastar do que amo fazer.
— Que bom que percebeu isso, pai. Estou muito feliz por você
e Logan terem finalmente se acertado.
Os últimos dois anos entre os dois foram difíceis. Apesar de
Logan ter cedido e aceitado cursar Direito, sempre deixou bem claro
que queria ser jogador de futebol profissional, contrariando a
vontade do nosso pai de que ele, um dia, assumisse a rede de
escritórios de advocacia da nossa família. Mamãe sempre esteve
entre os dois, controlando os ânimos, reafirmando que, como pai e
filho, eles não poderiam dar as costas um ao outro jamais. Após a
sua morte, eu precisei tomar o seu lugar, mas a situação entre os
dois apenas piorou.
Por sorte, Logan pareceu me ouvir quando começou a receber
críticas dos profissionais do esporte sobre a sua conduta fora de
campo. Sua imagem, sempre impecável, começou a se deteriorar, a
bebida se tornou parte da sua rotina, até Avalon entrar na sua vida e
mudar tudo.
O que era para ser apenas um namoro de mentirinha que
ajudaria os dois, se transformou em amor. Agora, minha cunhada
favorita estava no meio do campo, sendo beijada por um Logan
apaixonado. Eles formavam o casal mais bonito do mundo.
— Não é um absurdo que James e Benjamin estejam
sozinhos? — Aubrey, a irmã mais nova de Avalon, comentou ao meu
lado.
Ela era como uma miniatura colorida da namorada do meu
irmão. Enquanto Avalon amava cores escuras e botas gladiadoras,
Aubrey adorava se vestir com peças de roupas de cores diferentes,
que sempre conversavam entre si. Hoje ela usava a camisa do
Crimson Tide com o número de Benjamin, já que eu usava a camisa
com o número de James e ela afirmou que não queria que Ben se
sentisse excluído — o que o deixou meio embevecido —, um short
jeans azul e All Stars brancos. Seu cabelo ruivo caía solto pelas
costas, com duas trancinhas nas mechas da frente, que ornavam
com o seu rosto e seus olhos verdes.
— Se você insinuar que eles precisam de namoradas, é capaz
de os dois começarem a se coçar como se estivessem com alergia —
falei, puxando o seu braço para dentro do meu.
Eu estava acostumada a ser tratada como a irmã mais nova
desde que nasci, mas Aub tinha quatorze anos e eu a achava uma
fofa. Ela, com certeza, era como uma irmã mais nova para mim.
— São dois bobos. De que adianta eles serem jogadores
populares do time da faculdade se não vivem um romance como nos
livros que eu leio? — Ela fez uma careta. — Só Logan sabe viver a
vida.
Vendo essa nova versão do meu irmão — que me lembrava
muito a antiga antes da morte da mamãe —, eu não poderia deixar
de concordar.
Alguns minutos depois, tivemos permissão para descer para o
campo e fomos de encontro aos campeões. James foi o primeiro a
me alcançar e eu soltei uma risada quando agarrou a minha cintura
e rodopiou comigo entre os outros jogadores, tirando o ar dos meus
pulmões e fazendo o meu coração disparar.
— Me solta, seu doido! — Apesar do meu pedido, eu não
queria que ele me soltasse de verdade e, obviamente, James sabia
disso.
— Gostou do jogo? — perguntou ele enquanto me colocava no
chão. Suas mãos permaneceram em minha cintura e eu gostei.
— Não gostei apenas do jogo, mas da temporada inteira.
Vocês arrasaram, Sr. McHugh! Tinha certeza de que sairiam daqui
com o troféu.
James me deu o maior sorriso do mundo, ainda meio ofegante
e claramente emocionado. Eu não admitia muitas vezes em voz alta,
pois não queria contribuir com o ego imenso do wide receiver, mas
James era um dos homens mais lindos que meus olhos já tinham
visto. Alto, imponente, com a pele negra reluzente, olhos castanhos
em formato amendoado, o cabelo com cachos macios, o corpo de
atleta, cheio de músculos, e aquele sorriso maravilhoso... Ele tirava o
meu fôlego às vezes, mesmo o conhecendo desde pequena, e fazia
muito sucesso com as mulheres, o que sempre me deixou meio
enciumada.
— Obrigado pelo elogio, apesar de eu estar me sentindo o
meu pai ao ser chamado de senhor.
— E onde é que está o seu pai?
Eu sabia que Jonathan não perdia um jogo do filho. James
ergueu o queixo para algo às minhas costas e eu me virei a tempo
de ver Jonathan, Louise, sua mãe, e Emory, sua avó, se
aproximando. Distanciei-me um pouco de James quando eles
chegaram mais perto e cumprimentei com um abraço caloroso de
vovó Emory, a melhor amiga da minha avó Meredith. Chamá-la de
avó conforme fui crescendo foi algo natural. Hoje, já não conseguia
me dirigir a ela de outra forma.
Não tomei muito do seu tempo, pois sabia que deveria estar
louca para falar com o neto. Após cumprimentar Jonathan e Louise,
que eram como tios para mim, me afastei e fui falar com meu irmão.
Meu coração disparou de alegria ao ver o seu sorriso tão bonito e a
felicidade em seus olhos. Eu sabia como ele merecia viver aquele
momento. Logan me agarrou e me deu um abraço muito forte, que
me deixou sem fôlego e tirou os meus pés do chão.
— Estou muito orgulhosa de você! Sempre soube que esse
troféu seria seu — falei em seu ouvido antes que ele se afastasse
para me olhar.
— Eu não teria chegado até aqui sem você. Obrigado por ter
passado esse último ano lutando para que eu não me perdesse,
irmã. Você foi e sempre será o melhor presente que a mamãe e o
papai poderiam me dar.
Aquilo não era justo, eu não queria chorar. Sacudindo a
cabeça, o abracei de novo, piscando para espantar as lágrimas
bobas que tomaram conta dos meus olhos.
— Eu te amo, sempre estarei do seu lado, cuidando de você e
te dando esporro.
Ele gargalhou e eu ri junto, sentindo-o leve e alegre,
finalmente orgulhoso de si mesmo.
Meu irmão merecia.
Foi para ver esse brilho nos seus olhos que eu me obriguei a
ficar firme e não desmoronar nos últimos meses.
— Seus esporros são sempre os piores, mas eu agradeço por
cada um deles, maninha.
Não sabia se aquilo era verdade, mas de uma coisa eu tinha
certeza, se Logan precisasse de mim, eu sempre estaria disposta a
trocar de lugar com ele e agir como a irmã mais velha.
Meu irmão sempre teria o meu apoio.

Era lógico que James, Benjamin e Logan dariam uma festa.


Nossa casa estava lotada, já tinha pessoas na piscina, mesmo com a
noite fria, e alguém havia acabado de fumar maconha no banheiro
— o que me surpreendeu, pois, geralmente, quem fumava a erva
não se importava muito de esconder o hábito.
Precisei abrir o basculante antes de sair do lavabo para tentar
expulsar a fumaça, enquanto fazia de tudo para não respirar. Não
adiantou muito. Tossindo e com os pulmões queimando, saí do
banheiro e só me dei conta de que havia alguém do lado de fora,
esperando que eu liberasse o cômodo, quando tropecei, ainda meio
ofegante pela tosse, e senti duas mãos em meus ombros.
Foi um cara que me segurou. Com os cabelos loiros
displicentes, um olhar divertido e bem mais alto do que eu, ele olhou
para a porta aberta às minhas costas e arqueou uma sobrancelha,
curioso e sugestivo. Minha mente ainda meio afetada pela fumaça
demorou um pouco mais do que o normal para entender o que ele
estava pensando.
— Eu não estava fumando! — Deixei claro e tossi mais uma
vez, sendo novamente amparada por ele. — Juro que eu não estava!
— Tudo bem, se você diz, eu acredito.
Ele não acreditava nada, estava bem claro em sua expressão e
na forma como tentava segurar a risada.
— Estou falando sério, eu não fumo.
— Ok.
— Sério mesmo.
— Eu acredito.
— Você sempre mente? — perguntei, estreitando os olhos. O
loiro finalmente deu a risada que tanto queria.
— Só para garotas bonitas que fumam maconha escondidas no
banheiro.
Eu não queria, mas meus lábios se ergueram mesmo contra a
minha vontade em um sorriso enquanto eu conseguia me
desvencilhar dele. Seu olhar curioso e divertido continuou em cima
de mim, o que me fez pensar que o loiro com certeza não sabia de
quem eu era irmã e eu, apesar de não conhecer nem metade das
pessoas que estavam na minha casa naquele momento, não fazia a
menor ideia de quem ele era. Como se quisesse remediar isso, o
bonitão me estendeu a mão direita.
— Prazer, sou Mason.
Olhei para a sua mão por um segundo e avaliei se valeria a
pena cumprimentá-lo para além da boa educação que meus pais me
deram. O cara estava achando que eu fumava maconha escondida
no banheiro. E, tudo bem, em seu lugar, eu pensaria a mesma coisa,
afinal, saí mesmo de um banheiro embaçado pela fumaça da erva,
mas a questão era que eu não fumava. Nunca dei nem um trago. Eu
era o orgulho dos meus pais.
— Esse é o momento em que você me diz o seu nome —
comentou ele, me tirando do transe. O sorriso bonito ainda estava
em seu rosto, assim como a sobrancelha arqueada.
— Desculpa — pedi, tocando a sua mão. Logo percebi que sua
palma era calejada, como a de James. Pelo seu porte físico, poderia
facilmente ser um atleta, mas, se fosse do time de futebol, eu
saberia. Conhecia todos os idiotas que vestiam a camisa do Crimson
e que sempre metiam o rabinho entre as pernas quando me viam,
cheios de medo do meu irmão. — Prazer. Eu me chamo Norah.
— É bom finalmente estar conhecendo alguém sóbrio nessa
festa. — Seu sorriso se expandiu mais e ele demorou a soltar a
minha mão.
— Mas você não acabou de afirmar que eu estava fumando
maconha no banheiro?
— Já não sei mais se acredito nisso. Conheço algumas pessoas
que fumam e elas sempre oferecem um trago para qualquer um que
atravesse o seu caminho. Se você realmente fumasse, estaria
fazendo isso comigo.
— Talvez eu seja egoísta com a minha erva.
— Sua erva. — Ele repetiu e riu um pouco mais, quase me
arrancando um sorriso de novo. — Você claramente não fuma,
Norah. Bem-vinda ao meu clube.
— Então você é careta como eu.
— Não sou careta, sou responsável, afinal, não acredito que a
NFL vai me aceitar no futuro se eu for pego nos meus exames
antidoping.
— Você é um atleta, então. — Olhei-o com um pouco mais de
atenção. Mason poderia ser um jogador do time reserva, mas eu
saberia se fosse. Um homem bonito como ele era o tipo favorito das
meninas, o fato de ser reserva no time de futebol não iria interferir
muito nisso. — Mas não joga no Crimson, ou eu saberia.
— É tão fã do time assim?
Resolvi contar logo quem eu era de verdade, assim, poderia
observar a reação do loiro bonito à minha frente.
— Sou irmã do Logan.
Esperei que Mason desse um passo para trás ou que o
sorrisinho em seus lábios desaparecesse, pois, geralmente, era o
que acontecia quando os jogadores descobriam quem eu era —
Logan era especialista em colocar medo nos companheiros de time,
sempre falando que quebraria a cara deles se tocassem em mim —
mas tudo o que ele fez, foi arquear as duas sobrancelhas.
— O quarterback? — Concordei com a cabeça e Mason sacudiu
a dele com certa descrença. — E por que a irmã do QB está usando
a camisa do wide receiver?
— Porque ela é a minha garota. Por qual motivo usaria outra
camisa?
James surgiu de repente no corredor que levava ao lavabo,
parando ao meu lado. Seu braço pesado caiu sobre os meus ombros
e logo percebi que havia bebido mais cervejas do que de costume.
Mason continuou com as sobrancelhas arqueadas e apontou para
nós dois.
— Vocês são...
— Amigos. Nós somos amigos. — Logo respondi, me
segurando para não dar um soco na costela de James. Minha altura
me deixava no ângulo certinho para agredir o jogador.
— E você já está se enturmando muito bem, pelo visto. —
James sorriu e eu não soube dizer se era amigável de verdade ou
não. — Mason foi transferido para a UA e será o nosso novo tight
end, Norah.
— O que houve com Kevin? — perguntei pelo antigo jogador
que dominava a posição.
— Foi pego no exame antidoping no penúltimo jogo e foi
expulso do time.
Eu estremeci. Apesar de não ser próxima de Kevin, sabia que
ele já havia sido pego no exame pelo menos duas vezes no ano
passado. Em algum momento, ele seria punido severamente por isso
e foi o que aconteceu.
— Seja bem-vindo, Mason — desejei, vendo-o sorrir para mim.
Ele não parecia nem um pouco abalado pelo fato de eu ser irmã de
Logan ou por James estar agarrado ao meu ombro como se fosse
um carrapato.
— Obrigado, Norah. Espero ver você mais vezes, quem sabe
usando a minha camisa um dia? — Piscou para mim, apontando
para o banheiro. — Acredito que a fumaça já tenha se dissipado.
Com licença.
Eu me afastei com James para que Mason pudesse passar, no
entanto, a voz do wide receiver o deteve antes que ele pudesse
entrar no lavabo.
— Acho que você ainda não sabe sobre fama do Logan,
Mason.
Ah, não. James não faria aquilo!
— Que fama? — Mason perguntou.
— Nada com que você deva se preocupar, James só estava
brincando. — Dei uma cotovelada no meu melhor amigo, ouvindo-o
segurar um gemido. — Ele é muito brincalhão, acredita? Faz todo
mundo rir na hora do treino, o que é um problema às vezes, você
vai ver quando começarem a treinar juntos.
Mason franziu um pouco o cenho, confuso, mas logo
concordou com a cabeça e me deu um sorriso.
— Estou ansioso para ver isso e, claro, para conhecer melhor
todos os meus companheiros de time.
— Tenho certeza de que vão se dar muito bem! — afirmei
cheia de falsa convicção.
— Espero que sim.
Mason logo entrou no banheiro e eu me livrei do braço de
James assim que a porta se fechou.
— Qual é o seu problema? Não me diga que está com vontade
de tomar o lugar do Logan, James!
— Só o achei muito abusado. Que merda é essa sobre você
usar a camisa dele? Isso não vai acontecer.
Respirei fundo, me obrigando a ter um pouco de paciência.
James havia bebido, por isso estava agindo feito um idiota ciumento
como meu irmão.
— Um dia, vou querer usar a camisa de outro cara que não
seja você, Benjamin ou Logan, James.
— Por quê?
Por quê?
Em outras circunstâncias, eu teria uma resposta na ponta da
língua, mas precisei parar por um momento e realmente pensar no
que dizer para James.
A Norah de um ano atrás diria que precisava de uma distração
para a dor profunda que estava sentindo pela morte da mãe, mas a
Norah das últimas semanas estava se sentindo muito solitária.
Logan já não era mais uma preocupação diária e eu tinha
muito tempo livre, por isso, talvez, tentar conhecer alguém poderia
funcionar agora. Acreditava que eu poderia encontrar alguém legal,
interessante e divertido. A imagem de Mason voltou à minha mente
por um instante e eu quase sorri de novo ao me lembrar da curta
conversa que tivemos.
“Espero ver você mais vezes, quem sabe usando a minha
camisa um dia?”.
— Porque eu quero conhecer alguém legal, curtir a vida,
namorar. — Dei de ombros, como se não fosse algo tão importante
assim. — Estou errada em querer algo assim?
Algo mudou no olhar de James quando me calei e senti
vontade de me esconder, como vinha fazendo nos últimos tempos.
Não queria que ninguém enxergasse tão fundo dentro de mim como
James conseguia fazer às vezes. Sem que eu esperasse, ele voltou a
passar o braço pelos meus ombros e começou a me levar para longe
do lavabo, em direção à escada.
— Claro que não. Me desculpa, agi como um idiota, não foi?
— Um pouquinho — respondi com um sorriso conforme
subíamos.
James entrou comigo em meu quarto e tocou em meus
ombros com carinho.
— Acho que estou um pouco bêbado e fiquei com ciúmes.
Aquele babaca chegou agora e acha que pode se aproximar de você
assim? Não, ele precisa passar pela minha inspeção primeiro.
— Sua inspeção? — Eu ri de verdade. — Acho que você não
está apenas um pouquinho bêbado.
— Sou seu melhor amigo, não vou deixar qualquer um se
aproveitar de você.
— É mesmo? — Arqueei uma sobrancelha, sentindo certa
ousadia, provavelmente, por conta das duas cervejas que tomei mais
cedo. — Então, acho que você pode me ajudar.
— Eu sempre estarei disposto a te ajudar, baixinha. É só você
falar e eu vou obedecer.
Eu quase ri. Quando ele soubesse o que estava passando pela
minha cabeça, mudaria o discurso rapidinho.
— Quero que você me ajude a conquistar um cara!
— Como é que é?
Por um momento, pensei que os olhos de James saltariam das
órbitas.
— Não há nada tampando os seus ouvidos, então, creio que
você me ouviu muito bem.
— Você só pode ter perdido a cabeça! — Ele me olhou meio
horrorizado. — Espera, eu ouvi Mason falar algo sobre fumaça
dentro do banheiro. Você não estava fumando maconha, estava,
Norah?
— Eu nem vou perder o meu tempo respondendo a isso,
James!
Ele descruzou os braços e encurtou a nossa distância.
— Me desculpe se estou achando que você está chapada, mas
é porque só isso é capaz de explicar o que você acabou de me pedir.
— Eu não pedi nada de mais! A minha ideia é muito boa, na
verdade — insisti, apesar de me sentir meio insegura.
— Boa? Essa é uma péssima ideia, Norah! Ficou louca? Se seu
irmão descobre, ele me mata!
Quanto drama! Logan seria incapaz de matar James ou
Benjamin, só se eles dessem em cima de Avalon, o que eu sabia que
nunca ia acontecer.
— James, por favor! Eu juro que Logan não vai nem
desconfiar! Eu só preciso que você me ajude a ser uma garota
normal!
— Você é uma garota normal.
— Uma garota normal estaria aproveitando essa festa para
beijar na boca, mas os garotos têm medo de chegar perto de mim
por causa do meu irmão — falei a primeira coisa que veio à minha
cabeça. Pelo menos não era mentira, Logan realmente colocava
medo em todo mundo e, por um tempo, eu acabei me aproveitando
disso para passar despercebida.
— Seu irmão nem tem os ameaçado mais — disse ele, o que
também era verdade. Avalon estava controlando meu irmão.
— Eu sei, mas todos eles parecem estar traumatizados. Se
você me ajudar, acho que isso vai mudar. — Tomei as suas mãos nas
minhas e permiti que um pouco da minha insegurança aparecesse.
— Eu só quero ser um pouco mais... Sexy. Você podia me dar umas
dicas, já que agora é solteiro e vive ficando com meninas por aí. O
que te atrai nelas? Não é só a beleza física, tenho certeza!
James, ao contrário de Benjamin, não era o louco do sexo
casual. Até onde sabia, ele parecia curtir a sedução, era o tipo de
cara que levava a garota para jantar ou ir ao cinema, e não tinha
medo de relacionamentos. Ou seja, ele era o cara perfeito para me
ajudar, pois era isso que eu queria.
Eu queria um cara como James, alguém que respeitasse uma
mulher e que tivesse bom caráter. Queria despertar a atenção de um
homem bacana, que se interessasse por mim para além do sexo e,
claro, não morresse de medo do meu irmão. Ou que se interessasse
por mim o suficiente para passar por cima das ameaças de Logan.
E se Mason fosse esse cara? Na nossa curta conversa, ele
pareceu ser diferente dos outros.
— E então, o que me diz? — Insisti diante do seu silêncio.
James respirou fundo e coçou a testa, fazendo uma careta.
— Eu vou pensar, ok?
— Tá bom! — Sorri, sentindo um frio na barriga. — Quando
vai me dar a resposta?
— Em... alguns dias.
— Quantos dias?
— Alguns dias, Norah — enfatizou e eu revirei os olhos. O
idiota riu e se aproximou de mim, dando um beijo em minha testa.
— Não seja impaciente. E torça para que eu aceite essa maluquice.
Nesse momento, estou muito propenso a recusar.
— Eu faço o que você quiser!
— O que eu quiser?
— Menos perder no videogame!
— Não preciso que você perca para mim, eu sempre te venço.
— Aquilo era uma mentira deslavada. — Estava pensando em algo
mais útil, como uma boa massagem nas minhas costas e pés, café
da manhã na cama todos os dias, ter os meus trabalhos feitos
durante todo o semestre...
— Você quer me explorar, entendi. — Tomei seu rosto em
minhas mãos e sorri. — Eu aceito, mas só se você me ajudar. Vou
ficar aguardando a sua resposta, gatinho.
Estiquei-me na ponta dos pés e dei um beijo em sua
bochecha, correndo para o meu banheiro. Precisava apenas de
alguns minutos sozinha. Encostei-me atrás da porta e respirei fundo,
sentindo meus músculos tremerem de leve. Será que fiz a escolha
certa? Eu estava mesmo preparada para dar aquele passo e me abrir
para alguém?
Agora eu já havia feito a proposta para James e não tinha
mais para onde correr. Senti meu celular vibrar no bolso da minha
calça e fiquei surpresa ao ver que era uma mensagem de Avalon.
Avalon: Ouvi sem querer a sua conversa com James. Eu
AMEI! Estou preparada para te ver passando o rodo na faculdade
inteira, cunhada. Conte comigo!
Não tinha a pretensão de pegar a faculdade inteira. Só de
pensar, sentia meu estômago ficar gelado, mas queria sair da
sombra opressora do meu irmão e sentia que James poderia me
ajudar.
Dezembro de 2022

Eu nunca mais colocaria uma gota de álcool na boca. Pelo


menos, essa era a mentira que eu contava para mim mesmo toda
vez que acordava com ressaca. Sentindo a língua grossa como uma
lixa e minhas têmporas pulsarem, tateei sobre a cama até achar o
meu celular, quase quebrando a tela ao tentar desligar o alarme do
despertador. Eu gostava de manter a frequência das minhas corridas
matinais mesmo fora da temporada ou em recesso na faculdade,
mas, naquele dia, seria impossível.
Virei para o lado e dormi de novo. Ou pelo menos tentei. As
cortinas com blecaute mantinham meu quarto na escuridão, por
isso, vi pela frestinha dos olhos quando alguém abriu a porta
devagar. Um corpo pequeno entrou no cômodo e caminhou em
direção à minha cama, logo se enfiando debaixo das minhas
cobertas e me abraçando forte pelo abdome, grudando-se às minhas
costas.
— Bom dia, flor do dia! O que acha de receber um café da
manhã na cama como o rei do Alabama merece?
— Quando uma garota diz isso agarrada a mim sob as
cobertas, eu costumo pensar que ela está me oferecendo outro tipo
de comida, Norah.
Eu sabia o que ela faria, por isso, consegui dar risada quando
seu punho se chocou contra o meu abdômen trincado.
— Você é um porco, James McHugh!
— E você com certeza tem algum interesse por trás de toda
essa gentileza — falei, segurando seu punho. Abri cada dedo até ter
a sua mão macia espalmada contra a minha barriga nua. Graças a
Deus eu não tinha o costume de dormir nu e estava usando um
short. — Acha que me engana, Norah Miller?
— Acho que você está começando a sofrer de perda de
memória recente.
— Como assim? — perguntei, sem entender. Estava de olhos
fechados, mas, devido ao seu silêncio, precisei abrir os dois, mesmo
sabendo que ela estava atrás de mim e que não conseguiria vê-la, e
ergui uma sobrancelha. — Norah?
Ela se ergueu de repente, tirando a mão debaixo da minha, e
se sentou sobre a cama. Eu me virei a tempo de encontrá-la se
esticando até o interruptor que ficava ao lado da cabeceira,
acendendo a luz. Por sorte, apenas os spots foram acesos, mesmo
assim, minha cabeça pulsou com a claridade repentina.
— Não acredito que você se esqueceu do que conversamos
ontem, James!
Pisquei para ajustar a minha visão e a encontrei com os braços
cruzados, me olhando com as sobrancelhas franzidas. Norah já era
uma mulher, isso era fato, mas aquela sua cara enfezada sempre me
lembrava da Norah adolescente em seu aniversário, irritada comigo
por ter empatado seu primeiro beijo. Tentei conter a risada com a
lembrança e foquei no presente.
— Ontem eu fiquei bêbado. Para falar a verdade, acho que
ainda estou sob o efeito do álcool, portanto, é melhor conversarmos
depois — pedi, acariciando o seu joelho por debaixo da coberta. —
Deite-se e durma comigo, depois você pode me trazer o café da
manhã que prometeu.
— Nada disso! — Ela me parou antes que eu conseguisse
puxá-la para se acomodar ao meu lado na cama. — É sério, James,
você não se lembra de nada do que conversamos em meu quarto?
Do que eu pedi para você?
Franzi o cenho, tentando me lembrar. Entrei no quarto de
Norah ontem à noite? Em que momento e por quê? Então,
lentamente, a lembrança me atingiu. Não de nós dois em seu
quarto, mas do que nos levou até o cômodo, primeiramente.
Eu havia acabado de jogar fora o que poderia ser a décima ou
vigésima long neck vazia desde que a festa havia começado e me
dei conta de que Norah não estava em lugar algum. Como tinha
certeza de que ela não estava na área da piscina, pois eu acabara de
sair de lá, fui procurá-la dentro de casa. A cozinha estava cheia, com
pessoas preparando drinques, virando shots de tequila e vodca,
pegando cervejas no freezer, mas Norah não estava por ali.
Eu sabia que ela ficava um pouco estressada quando dávamos
aquele tipo de festa. Norah geralmente não curtia muito, pois Logan
sempre estava de olho nela, mas eu sentia meu amigo mais relaxado
naquela noite. Estava bebendo pouco, curtindo a companhia de
Avalon, conversando com um fã ou outro sobre a partida brilhante
do nosso time. Ele não parecia tão preocupado com Norah, mas eu
fiquei.
E se ela estivesse com algum babaca?
Senti minha cabeça pulsar novamente, dessa vez, por culpa do
sentimento estranho que me invadiu quando aquele pensamento
cruzou a minha mente na noite passada. Não entendi o gosto
amargo que senti em minha língua ao pensar em Norah beijando a
boca de alguém e agora, praticamente sóbrio, entendia menos
ainda. No entanto, na noite anterior, não perdi muito tempo
analisando aquilo, só tomei o lugar do meu melhor amigo e, como
um irmão mais velho zelando pela sua caçula — porque era óbvio
que o ciúmes que eu sentia de Norah era puramente fraternal —, fui
à procura dela.
Demorei um pouco para encontrá-la no corredor perto da
escada, em frente ao lavabo. Norah conversava com Mason
Goldberg, nosso novo tight end. Não conhecia muito sobre o cara,
só que ele fora transferido do Clemson Tigers com um currículo
impecável, passando à frente de Liam Harrison, nosso jogador
reserva que dominava a mesma posição.
Em um primeiro momento, achei que ele era um cara legal.
Simpático, interessado pelo time, vi que ficou junto com o comitê
técnico durante todo o jogo do dia anterior, focado em cada passo
que dávamos rumo à vitória. Parecia ter chegado para somar e eu
estava empolgado para conhecê-lo melhor, afinal, como tight end,
nós jogaríamos juntos o tempo todo. Era importante que nos
entrosássemos além do campo.
Era esse o pensamento que eu tinha até ouvir sua pergunta
para Norah.
“E por que a irmã do QB está usando a camisa do wide
receiver?”
Suas palavras vieram à minha mente com nitidez, assim como
a forma que olhava para ela, seu sorriso conquistador e o que disse
depois, sobre Norah usar a camisa dele um dia. O filho da puta era
abusado! Pelo menos, foi o que pensei naquele momento. Agora,
sem o álcool estar correndo solto pela minha corrente sanguínea, eu
me perguntava por que flagrar os dois conversando e ouvir aquelas
palavras de Mason, me deixaram tão incomodado.
No fundo, eu sabia o porquê. Mesmo concordando que Norah
precisava viver e que Logan tinha que soltar as suas rédeas sobre
ela, eu nunca me preocupei de fato com Norah se envolvendo com
alguém. Ela sempre foi quieta, meiga, apegada a mim, Logan e Ben,
cercada por poucos e confiáveis amigos.
Eu sempre sabia onde ela estava e o que estava fazendo.
Nosso canal era totalmente aberto. Às vezes, eu contava a ela sobre
coisas da minha vida antes mesmo de me abrir com Logan ou
Benjamin. Pensar em Norah com outro cara era uma possibilidade
que eu sabia que existiria em algum momento, mas não agora.
Seu pedido na noite passada, que agora eu me lembrava com
nitidez, me pegou de surpresa. A ansiedade em seus olhos, focados
nos meus, deixou bem claro que ela estava prestes a repetir cada
palavra daquela ideia insana que tomou conta da sua cabeça na
noite anterior.
— Infelizmente, eu me lembro. — Norah pareceu mais aliviada
assim que respondi a sua pergunta. — E ainda estou me
questionando se você realmente não fumou maconha na noite
passada.
— Não é possível que você esteja realmente pensando isso de
mim! — Bufou, parecendo prestes a tacar algo em minha cabeça.
Torci para que fosse um travesseiro e não o porta-retratos que ficava
na mesinha de cabeceira ao lado da cama.
— Eu estou brincando — garanti, me esforçando para me
sentar ao seu lado. Meu estômago embrulhou um pouco mais. —
Confio em você, sei que nunca vai se meter com drogas. O fato de
você estar sóbria quando teve essa ideia é o que me deixa mais
preocupado, por incrível que pareça. — Ri, me esquivando do tapa
que tentou dar em meu braço. — Ei, comporte-se! Lembro muito
bem de quando você disse que faria o que eu quisesse.
— Caso aceitasse me ajudar.
— Tinha essa condição? Dessa parte, eu não me lembro muito
bem.
— Posso repetir tudo para você, se quiser.
Eu sabia que sim, por isso, logo respondi:
— Não precisa. Suas palavras estão socando a minha cabeça
nesse momento.
— Está confundindo as minhas palavras com a ressaca. — Ela
sorriu e, por um momento, perdi um pouco da minha linha de
raciocínio. A filha da mãe não parecia ter a menor ideia do quanto
era bonita. — Eu não pedi nada de mais, James. Só que me ajude a
mudar para conquistar um cara legal.
— Só isso — desdenhei e ela revirou os olhos. — Acho que já
falei que isso é loucura...
— Sim, e disse que meu irmão vai te matar se descobrir. Eu
sou ótima em guardar segredo, tenho certeza de que você também
é.
— Talvez eu seja, mas, antes, preciso deixar uma coisa bem
clara. — Toquei em seu rosto com os meus dedos até afastar um
cacho longo da sua bochecha, colocando-o atrás da orelha. — Não
há nada em você que precise melhorar para chamar a atenção de
algum cara, Norah. Se você precisa mudar para agradar alguém,
então, essa pessoa não vale a pena. Você é incrível exatamente
assim, do jeitinho que é. Então, se quer a minha ajuda para mudar,
minha resposta é não. E não vou mudar de ideia.
— Não, James, acho que me expressei mal — respondeu,
tomando a minha mão na sua. — Eu não quero mudar, só quero me
tornar mais... interessante. Sinto que fiquei escondida atrás da
sombra do meu irmão esse tempo todo, em parte por culpa dele,
por sair colocando medo em qualquer garoto do campus, mas, em
parte, por culpa minha também. Você só precisa me dar umas dicas
do que atrai os homens e eu vou colocar tudo em prática.
Eu fiquei em silêncio por um momento, tentando encontrar as
palavras certas para dizer a ela que homem se atraía por peitos,
bunda e boceta. Todo o resto, nós deixávamos para prestar atenção
depois. Mas como dizer isso para Norah sem parecer — com todo
respeito à minha mãe — um filho da puta?
— Em troca — ela continuou, deixando a minha mão e se
ajoelhando rapidamente às minhas costas. Precisei segurar uma
risada quando senti suas mãos pequenas começarem a massagear
meus ombros. Garota esperta. —, eu faço o que você quiser. Aqui
está uma amostra grátis. Sinta, sou uma ótima massagista.
Era mesmo, mas disso, eu já sabia. Às vezes, chegávamos em
casa tão moídos do treino, que Norah se compadecia e massageava
nossos ombros. Ela tinha mãos delicadas, mas força suficiente nos
braços para tirar os nós de alguns músculos.
— Você é uma ótima chantagista, isso sim — falei, fechando os
olhos e me permitindo relaxar. O jogo de ontem, junto com todo o
álcool ingerido, estavam cobrando o seu preço agora e meu corpo
doía. — Da mesma forma que eu falei ontem, vou repetir agora.
Prometo pensar, ok? Estamos em recesso na faculdade, você não
conseguiria colocar as suas garrinhas inocentes em nenhum
desavisado de qualquer forma. Vou te dar a minha resposta depois
das festas de final de ano.
Ouvi sua respiração forte perto da minha orelha, e de repente,
suas mãos já não estavam mais em mim. Norah se afastou e se
sentou na beirada da minha cama, prestes a se levantar. Antes que
conseguisse, a puxei para perto de mim novamente com um braço
em sua cintura.
— Posso saber por que parou e por qual motivo está indo
embora?
— Só vou voltar a massagear esse muro de concreto que você
chama de ombros, quando me der a sua resposta. — Ela me olhou
por sobre o ombro, pois ainda estava de costas para mim. — A
resposta que eu quero ouvir, Sr. McHugh.
— Tem certeza de que está mesmo fazendo Artes Cénicas? Eu
poderia jurar que era Direito com toda essa sua lábia de advogada.
— Isso é um dom passado de geração em geração na família
Miller. — Norah riu e eu a puxei de verdade para a cama, fazendo
com que se deitasse em meu lugar, enquanto tomava o espaço vazio
ao seu lado e me esticava para apagar a luz. — O que está fazendo?
— Não é óbvio? Me preparando para voltar a dormir, e você vai
dormir comigo — avisei, sentindo um alívio enorme quando meu
quarto voltou a ficar imerso na escuridão. Ouvi Norah rir baixinho e
senti o seu corpo se movendo perto do meu sob a coberta, até suas
costas se encostarem em meu peitoral.
— Ouvi dizer que homens não gostam de dormir de conchinha
— comentou ela com a voz baixa.
— Nós gostamos de dormir de conchinha, sim, mas não com
todas as garotas.
Com os olhos mais adaptados ao quarto escuro, pude ver o
rosto de Norah se virar em direção ao meu, tão próximo, que quase
pude sentir o seu nariz e o meu se tocarem.
— Então, eu sou uma garota especial para você, James?
— Você é a garota mais especial de todas — garanti e, porra,
aquilo era mesmo verdade. Dei um beijo na ponta do seu nariz,
sentindo meu coração ficar alegre ao ouvir a sua risadinha feliz. —
Agora vamos dormir, ou juro por Deus que a minha resposta para
você será um grande não!
— Sim, senhor!
Norah voltou a se virar de costas para mim e eu fechei os
olhos, respirando fundo o cheiro bom do seu cabelo. Em breve,
algum babaca estaria no meu lugar, comigo a ajudando ou não, e
aquilo era uma merda.
Não sabia se estava pronto para entregar a minha garota para
algum idiota.
Pelo menos, não ainda.

Aspen era sempre movimentada no inverno, mas depois de


passar o réveillon com os meus amigos nos últimos dois anos, eu
havia me esquecido de como uma estação de esqui poderia ficar
lotada. Sentado dentro da cafeteria aquecida, tomei um gole do meu
chocolate quente enquanto via meu pai acompanhar a minha mãe e
minha tia Lauren, irmã dela, até um dos teleféricos que as levaria ao
alto da montanha.
Sentia meu sangue mais quente e não tinha nada a ver com a
bebida aquecida e, sim, com a adrenalina. Queria estar no lugar da
minha mãe, aproveitar aquele momento ao seu lado, tirar fotos dela
e da minha tia, sentir o coração acelerado ao descer a montanha
sobre os esquis, mas era muito perigoso. Segundo meu pai, eu não
poderia colocar toda a minha vida em risco apenas por alguns
minutos de diversão.
Por mais que ele fosse rígido comigo sobre o futebol, sabia
que, naquele ponto, ele tinha razão. Eu não podia arriscar uma lesão
séria nas pernas ou, pior ainda, na coluna, apenas por querer andar
de esqui.
Então, o que eu estava fazendo aqui? Era melhor ter ficado em
casa, assistindo Netflix com a vovó Emory. Entediado, tirei meu
celular do bolso e sorri ao ver o nome de Norah na tela. Ela havia
acabado de me enviar uma mensagem.
Norah: Como você está? Estou com saudades! Acabei de
assar biscoitos com a minha avó, vou guardar uns para você.
Senti a saliva acumular em minha boca. Eu amava os biscoitos
de gengibre que Norah e sua avó faziam.
— Finalmente, as duas estão indo para o alto da montanha! —
Ergui minha cabeça assim que ouvi a voz grave e animada do meu
pai. Ele se sentou à minha frente e tirou as luvas de couro pretas. —
Não sei como sua mãe pode gostar tanto de esquiar. Esse esporte
assassino deveria ser crime.
— Só se torna um esporte assassino se você não souber o que
está fazendo — comentei, sorrindo para ele. Meu pai revirou os
olhos, mas estava de bom humor naquele dia.
Na verdade, ele estava de bom humor desde o último jogo da
temporada. Não havia sido o meu melhor jogo, segundo ele, mas o
fato de termos saído como campeões, coisa que não havia
acontecido no último ano, o deixou satisfeito.
— Mesmo quando se sabe o que está fazendo, é arriscado. Por
isso quero você longe daquelas montanhas.
— O senhor já me disse isso, pai.
— Mas não custa nada lembrar. — Ele deu um tapinha em
minha mão. — Você tem tudo para se sair ainda melhor na próxima
temporada, James! E, por favor, não ouse desperdiçar outra chance
com uma agência importante. Não cometa a burrice que fez no início
desse ano.
Uma agência grande havia entrado em contato comigo quase
um ano atrás, mas eu acabei recusando o convite para ser
agenciado por eles. Ainda não me sentia pronto para dar um passo
tão importante. Obviamente, não comentei com meu pai sobre isso
quando recusei, deixei para falar semanas depois, e isso o deixou
furioso.
O fato de eu ser maior de idade e ter controle da minha vida
era algo com que meu pai não lidava muito bem. Jonathan McHugh
ainda me via como o adolescente que conseguia controlar quando
eu estava no ensino médio, mas eu vinha mostrando a ele que já
tinha idade suficiente para tomar conta de mim mesmo e da minha
carreira, por mais que ainda ouvisse e levasse em consideração cada
um dos seus conselhos.
Como não esquiar estando em uma porcaria de estação de
esqui, por exemplo.
— Eu me sinto mais preparado esse ano, pai — falei, sentindo
meu celular voltar a vibrar. Uma olhada rápida me mostrou que eram
novas mensagens de Norah.
— Ótimo! Não quero que nada tire o seu foco, já não basta
aquele namoro com Megan. Tenho certeza de que, se estivesse
solteiro na época que a agência entrou em contato, jamais teria
recusado a proposta deles...
Meu pai continuou repetindo o mesmo discurso de sempre. Ele
era o meu maior incentivador, mas também era a pessoa que mais
sugava a minha energia. Era apaixonado por futebol, mas foi
obrigado a deixar o esporte quando meu avô morreu de repente,
vítima de um infarto, e precisou tomar conta dos negócios da
família. Éramos donos de uma das maiores empresas náuticas do
mundo, responsáveis por construções de grandiosos transatlânticos
e navios cargueiros. Com Jonathan McHugh no comando, as ações
da empresa triplicaram, ganhamos ainda mais notoriedade
mundialmente e éramos referência no ramo.
Nada disso impediu que meu pai incutisse em mim o seu
sonho frustrado de ser jogador profissional. E o que antes era uma
paixão que nos aproximava como pai e filho, hoje, era algo que
quase nos distanciava. Sua constante cobrança, o fato de nunca
estar satisfeito, mesmo quando eu dava o meu melhor, eram
catalisadores que estremeciam, cada vez mais, a nossa relação.
Eu relevava muita coisa em consideração ao amor que sentia
por ele, ao respeito, que eu sabia que deveria vir à frente de tudo, e
à minha mãe e minha avó paterna, que sofriam quando eu queria
impor alguma distância, por isso eu estava naquela estação de
esqui. Porque, mesmo sem esquiar, eu queria estar próximo do meu
pai.
— Está me ouvindo, James? — Voltei a prestar atenção no que
dizia, vendo o seu semblante sério. — É do seu futuro que estamos
falando! Quero você mais focado do que nunca esse ano,
comprometido, dedicado. Lembre-se do seu objetivo.
Às vezes, eu me perguntava se estávamos mesmo falando do
meu futuro ou do seu passado fracassado.
— Eu sei de tudo isso, pai.
— Perfeito. Você é um McHugh, distrações não fazem parte do
nosso legado.
Eu suspirei e olhei novamente para o celular em minha mão,
me lembrando do pedido de Norah. Ela jamais seria uma distração
para mim, no entanto, eu sentia que meu pai faria de tudo para me
sufocar no ano que estava vindo. Ele não me deixaria em paz e, ao
contrário do que acreditava, eu precisava estar focado em outra
coisa que não fosse o futebol, se não, iria enlouquecer.
Por isso, sem pensar muito, comecei a digitar a resposta que
eu sabia que Norah queria. Ajudar a minha garota a encontrar um
cara legal — legal, não, digno dela — me ajudaria a não surtar com
a pressão que meu pai faria sobre mim.
Aquela era a forma como Norah recompensaria a minha ajuda.
Estando ao meu lado para que eu não enlouquecesse.
Eu: Guarde uns biscoitos para mim.
Eu: E eu tenho uma resposta para você.
Eu: Pode contar comigo. Vou te ajudar, baixinha.
Janeiro de 2023

Minha mãe sempre amou ópera e espetáculos musicais. O


primeiro musical que ela me levou para assistir foi O Rei Leão e eu
ainda conseguia me lembrar nitidamente da emoção e do arrepio
que senti quando a atriz começou a cantar as primeiras estrofes de
The Circle of Life. As memórias, as sensações, eram vívidas em
minha mente, depois de mais de quinze anos, assim como a certeza
que eu senti, ainda sentada naquela poltrona vermelha e
acolchoada, quando eu tinha apenas cinco anos de idade.
Eu queria fazer aquilo.
Eu queria estar no palco e fazer a plateia transbordar como eu
estava transbordando naquele momento.
Algumas pessoas demoravam anos para entender qual era a
sua vocação ou o seu propósito na vida, outras, partiam sem nunca
descobrir. Mamãe sempre dizia para mim e para o meu irmão que
não importava o que queríamos ser quando crescêssemos, contanto
que não machucássemos ninguém e não infringíssemos a lei. Ela só
queria que fôssemos felizes à nossa maneira. Acredito que tenha
sido por isso que sequer hesitou quando pedi para que me colocasse
em aula de canto e teatro quando eu era criança.
Mamãe sempre me apoiou e meu pai também. Ele pode ter
demorado para fazer isso com Logan, pois queria que meu irmão
seguisse o legado da nossa família, mas nunca me julgou pela
escolha que fiz desde pequena. Não sabia se era porque acreditava
que eu poderia mudar de ideia quando crescesse ou porque via em
mim a mesma paixão que minha mãe sentia pelos palcos — apesar
de ela nunca ter pisado em um —, mas Logan Miller II logo
percebeu que eu não desistiria.
O teatro era o meu lugar. A música e a atuação eram o que
preenchiam a minha alma e me salvavam quando eu sentia que
poderia me afogar.
A Sra. O’Neal, professora de Prática de Cena, encerrou a aula
após explicar que encenaríamos uma peça no final daquele
semestre. Apesar de termos ensaiado uma peça pequena no ano
passado, aquela seria a primeira vez que pisaríamos oficialmente no
palco do teatro da faculdade e eu já estava sentindo um frio na
barriga de ansiedade. O que me tranquilizava, era saber que eu não
era a única. John, um dos meus amigos de curso, e Alicia, nossa
nova colega que havia sido transferida de San Francisco para a UA,
estavam tão nervosos quanto eu.
Combinamos de nos encontrar no Maeve’s Bar para poder
beber alguma coisa e tentar não surtar por antecipação. Era sexta-
feira, mas, apesar do frio por conta da nevasca que havia assolado a
cidade na última semana, a “casa” do Alabama Crimson Tide já
estava lotada. Por sorte, John e Peter, seu namorado, haviam
chegado antes de mim e Alicia, e conseguiram uma mesa para nós
quatro. Antes de me sentar com eles, fui dar um beijo em minha
cunhada, que estava ocupada atrás do balcão do bar.
— É muito bom ver você aqui, Norah! Seu irmão deve chegar
daqui a pouco com os meninos do time — disse ela conforme me
entregava uma cerveja.
Eu ainda não tinha vinte e um anos, mas ter minha cunhada
trabalhando no bar me dava certos privilégios.
— Ele me avisou por mensagem, disse que aceitou o convite
do pessoal porque queria te ver.
Eu nem precisava levantar a moral do meu irmão com Avalon,
mas era sempre divertido ver a minha cunhada tentando disfarçar o
quanto Logan a atingia. Suas bochechas vermelhas eram prova
disso.
— Como se ele precisasse de alguma desculpa para ficar aqui
comigo. Seu irmão perde quase todos os finais de semana sentado
em frente ao balcão, esperando que eu termine o meu turno.
— Não, Logan não perde tempo algum, ele aproveita cada
segundo que pode ao seu lado — falei, tocando a sua mão sobre o
balcão. — Nunca pensei que um dia veria o meu irmão tão realizado
e em paz, Avalon. E tudo isso está acontecendo graças a você.
Eu sempre seria grata por Avalon ter entrado na vida do meu
irmão. Sem ela, eu tinha certeza de que Logan ainda estaria perdido.
— Ele faz o mesmo por mim. — Ela sorriu um pouco
emocionada, mas logo tentou esconder a emoção. — E em breve
você vai encontrar alguém que te deixe suspirando de forma
apaixonada, tenho certeza. Não se esqueça de que eu ouvi, sem
querer, parte da sua conversa com James por trás da porta.
Eu ri ao me lembrar da sua mensagem sobre estar torcendo
para que eu “passasse o rodo” na faculdade. Eu estava bem longe
de fazer isso, mas tinha que confessar que a ideia era divertida,
apesar de eu ter certeza de que não teria coragem de sair beijando
qualquer um por aí.
— James disse que vai me ajudar, mas confesso que não sei
onde isso vai dar. Talvez eu tenha sido precipitada. — Dei de ombros
antes de beber um pouco da cerveja.
Agora que James havia aceitado a minha proposta
oficialmente, eu estava sentindo um frio imenso na barriga.
— Precipitada? Por quê?
— Não sei. Vivi o último ano escondida nas sombras do meu
irmão, acho que não sei como fazer algo diferente disso.
Estava insegura, sem saber ao certo o que eu queria de fato.
Me abrir para alguém? Não tinha certeza de como isso aconteceria.
— Se ainda não sabe, está na hora de aprender. Você merece
viver a sua vida, já passou tempo demais cuidando do seu irmão
quando ele ainda estava preso ao luto pela morte da sua mãe.
Logan está bem agora e você está livre para pensar mais em si
mesma.
As palavras de Avalon tocaram em um ponto ainda dolorido
em meu peito. Eu sabia que ela tinha razão, mas era difícil sair da
nossa zona de conforto.
— O primeiro passo eu já dei, não é? — falei, me referindo a
pedir ajuda para James. No final, acabei rindo, em parte por estar
um pouco nervosa. — Vamos ver onde isso vai dar.
— Tenho certeza de que dará tudo certo. — Avalon piscou
para mim.
Que bom que ela tinha certeza, pois eu ainda estava com
dúvidas. Passei mais alguns minutos ao seu lado, antes de ir para a
mesa onde John e Peter estavam, vendo que Alicia já havia chegado.
John e eu entramos ao mesmo tempo na faculdade e nos
tornamos amigos rapidamente. Peter estudava Biologia e eles se
conheceram em uma das festas de fraternidade que eu nunca dei
muita importância para ir. Eram completamente diferentes um do
outro. Peter era tímido e havia ido à festa por insistência de amigos
de curso, enquanto John era efusivo e comunicativo. Eles eram a
prova de que os opostos se atraíam e formavam um lindo casal.
Alicia era mais parecida comigo, sorridente, mas um pouco
reservada. Estávamos nos conhecendo ainda, mas eu sentia que ela
estava mais entrosada conosco. Passamos os próximos minutos
conversando sobre a primeira semana na faculdade após o recesso e
contando para Alicia sobre cada um dos jogadores do time de
futebol, quando alguns clientes começaram a assoviar e bater
palmas.
As estrelas da faculdade haviam acabado de chegar.
A primeira pessoa que vi foi James. Ele entrou ao lado do meu
irmão e de Benjamin, seguido pelos companheiros de time. Estava
todo bonitão com o casaco de moletom do Crimson Tide e um jeans
escuro. Às vezes eu ficava em choque com a sua beleza, mesmo
tendo o conhecido a minha vida toda. Benjamin também era um
homem bonito, assim como os outros jogadores do time e vários
outros alunos da faculdade, mas James era o único que conseguia
tirar o meu fôlego, o que me assustava um pouco.
Éramos apenas amigos, eu não podia me esquecer disso.
Logo atrás dele, vi Mason rindo de algo que Dean, que jogava
na linha defensiva, acabara de falar em seu ouvido. Não pude evitar
que a lembrança da nossa primeira e última conversa voltasse à
minha mente. Mason parecia ser um cara divertido, além de ser
muito bonito e simpático.
Fiquei me questionando se valeria a pena o conhecer melhor.
Ele se mostrou interessado quando conversamos. Será que gostaria
de me conhecer também ou Logan já havia ameaçado a sua vida
caso pensasse em se aproximar de mim? Precisava descobrir sobre
aquilo.
Foi Logan quem me viu primeiro e acabou deixando o time ir
para a mesa já reservada enquanto vinha falar comigo. James logo o
seguiu, já Ben acabou sendo arrastado para o corredor do banheiro
por uma garota que eu não conhecia. Meu irmão me abraçou forte,
seguido por James, que sussurrou em meu ouvido:
— Você está muito gata. Vou ter que impedir o seu irmão de
matar quantos babacas hoje à noite?
— Espero que nenhum, Maeve não merece ter um banho de
sangue em seu bar.
Ri enquanto me afastava, aproveitando para apresentar Logan
e James para Alicia, que ainda não os conhecia formalmente. Meu
irmão aceitou o abraço amistoso da minha nova amiga de turma e
James pareceu levar alguns segundos a mais olhando para ela antes
de cumprimentá-la. Resisti à vontade de revirar os olhos. Alicia era
mesmo muito bonita, tinha olhos castanhos marcantes, cabelo preto
que descia ondulado até a altura dos ombros e chamava bastante
atenção do público masculino. Era óbvio que James não a deixaria
passar despercebida.
Eles cumprimentaram John e Peter rapidamente, antes de se
afastarem. Alicia me encarou com um sorriso bobo e as bochechas
coradas.
— Eu notei James no campus um dia desses, quando vocês
dois se encontraram para almoçar, mas confesso que só agora tive
noção do quanto ele é bonito — disse ela para mim.
— Ele é mesmo — falei, olhando rapidamente em direção à
mesa onde ele estava.
Percebi que James olhava na nossa direção, provavelmente
para Alicia, mas alguém atrás dele também olhava para a nossa
mesa. Era Mason. Ele ergueu a mão e acenou para mim, me
pegando de surpresa. Achei que eu passaria despercebida por ele.
Acenei de volta.
— O jogador novo não tira os olhos de você. — John me
cutucou e eu senti uma onda de calor descer pela minha coluna.
— E James não para de olhar para Alicia — comentou Peter. —
Será que em breve começaremos a fazer encontro de casais?
— Tomara. — Alicia riu, chamando a minha atenção. — Nunca
tive um namorado, acreditam? Acho que está na hora de ter um
relacionamento sério, mas também não posso me iludir, sei como é a
fama dos jogadores.
— Sobre o jogador novo eu não posso dizer muita coisa, mas
Norah conhece James como ninguém e pode confirmar o que penso
sobre ele. — John colocou a garrafa de cerveja vazia sobre a mesa e
arqueou uma sobrancelha. — O jogador parece ser fiel e
apaixonado. Pelo menos, essa era a impressão que ele passava
quando ainda namorava a filha do prefeito.
Trinquei a mandíbula ao ouvir sobre Megan. Eu ainda me
irritava por não ter tido a oportunidade de dar na cara dela pelo que
fez com James.
— Eles terminaram há muito tempo? — Alicia quis saber.
— Romperam ano passado — Peter respondeu.
— Foi um término traumático?
Foi. No entanto, eu jamais contaria aquilo para Alicia, nem
mesmo para John ou Peter.
— O relacionamento não deu certo. — Fui objetiva. — Mas
John está certo sobre James. Ele é mesmo um homem fiel e
apaixonado, tem um caráter exemplar e é o ser humano mais bonito
que conheço, mas eu sou suspeita para falar. Ele é o meu melhor
amigo.
Alicia sorriu.
— Acho que quero conhecê-lo melhor, então.
Era claro que queria. Que mulher na face da Terra não ia
querer? Terminei a minha cerveja, sentindo um gosto levemente
amargo em minha boca ao tentar imaginar James e Alicia juntos.
Havia me acostumado rápido demais com James solteiro e seria um
choque vê-lo apaixonado de novo.
Logo deixei aquele pensamento de lado. James era um homem
livre e merecia se relacionar com alguém que, de fato, merecesse o
seu coração. Não sabia se aquela mulher era Alicia ou não, portanto,
não cabia a mim julgar ou sentir qualquer pontinha de ciúmes ao
pensar nos dois juntos.
Não que eu realmente estivesse com ciúmes. Quer dizer, talvez
eu estivesse, mas era apenas um ciúmes de amiga. Todo mundo
sentia aquilo, certo?
— Vou ao banheiro — anunciei antes de sair da mesa.
Passei pelos clientes e consegui entrar no banheiro feminino
que, por sorte, ainda não estava lotado. Entrei em uma das cabines
e usei aquele tempo para tentar me recompor. Por que a ideia de ver
James com Alicia havia me afetado tanto?
No fundo, eu sabia o porquê.
Eu estava carente e James era o meu porto seguro. Eu não
queria perdê-lo, o que era um absurdo, pois sabia que o fato de ele
estar com alguém ou não jamais interferiria na nossa amizade. Eu
não poderia mais dividir a cama com ele — afinal, que namorada
aceitaria esse tipo de coisa? —, provavelmente perderíamos a nossa
madrugada de jogos, mas a nossa amizade permaneceria intacta.
A Norah adolescente, que tinha uma leve queda pelo melhor
amigo do irmão, já estava enterrada dentro de mim há muito tempo.
Eu precisava me lembrar disso.
— Você está sendo uma boba, Norah — murmurei para mim
mesma antes de sair do reservado.
Lavei as mãos e joguei uma água em minha nuca para ver se
me livrava um pouco da ansiedade antes de sair do banheiro, dando
de cara com Mason no corredor. Ele parou antes de entrar no
banheiro masculino e me deu um sorriso enorme.
— Parece que banheiros são o nosso ponto oficial de encontro,
Norah Miller.
Ele lembrou o meu nome. Não sabia por que isso me chocara
tanto.
— É, parece que sim. — Sorri, saindo da direção da porta
quando uma menina pediu para passar. — Como está a adaptação
no novo time?
— Está correndo tudo bem, já me sinto amigo de todo mundo,
inclusive do seu irmão. Finalmente entendi o que James quis dizer
sobre ele naquela noite.
Eu fiz uma careta de desânimo ao ouvir aquilo.
— Logan ameaçou você?
— Acho que ameaçar é um termo muito forte, ele só me
avisou que não quer um idiota cercando a irmã. Eu entendi o
recado, mas não fiquei preocupado.
— Não?
— Não. Eu não sou um idiota. — Ele ergueu as sobrancelhas e
eu senti meus lábios se curvando em um sorriso sem que eu
pudesse ter qualquer controle sobre eles. — Mas não acho que vou
conseguir mostrar isso para você em um bar lotado, depois de já ter
tomado algumas cervejas, então, a gente se vê por aí, Norah.
Mason piscou para mim e entrou no banheiro cambaleando
levemente. Percebi que ele parecia já ter bebido o suficiente e fiquei
um pouco preocupada. Esperava que ele não fosse embora dirigindo.
Suas palavras ficaram se repetindo em minha mente conforme eu
me afastava do corredor. O fato de ele ter deixado claro que não
ficara com medo da ameaça do meu irmão me deixou surpresa;
geralmente, os jogadores do time se mantinham afastados depois
que Logan passava o seu recado gentil no vestiário.
Mason continuaria flertando comigo em corredores de
banheiro, então? Ele havia mesmo flertado comigo ou eu estava
enxergando um interesse que não existia?
James parou na minha frente de repente, com as duas mãos
nos bolsos do moletom e parecendo estar mais sóbrio do que os
outros jogadores do time, tirando meu irmão, que estava sugando a
boca de Avalon no canto do balcão sem o menor pudor.
— Uma bebida pelos seus pensamentos — ofereceu, me
estendendo a mão.
— Acho que eu prefiro um hambúrguer com muito queijo
cheddar.
— Fechado. — James pegou o meu braço, passando-o pelo
seu, e começou a andar em direção à saída. — Vamos fugir daqui.
Eu saí com ele sem que ninguém nos visse e perguntei assim
que entramos em seu carro:
— Não está a fim de beber com os meninos do time hoje?
— Não estou com muito ânimo para ficar falando sobre futebol
depois de ter passado a tarde em uma reunião com os técnicos do
time. — Deu de ombros conforme colocava o carro em movimento.
— Pode me usar como desculpa por ter deixado seus amigos no bar.
— Ah, droga! Me esqueci deles! — James começou a rir
conforme eu tirava o celular do bolso da minha calça e enviava uma
mensagem para John. Inventei uma desculpa sobre estar com dor
de cabeça e ter pedido uma carona para James. — Eu sou uma
péssima amiga.
— Claro que não, deixa de ser boba. — Ele tocou em meu
joelho com carinho antes de entrar no drive-thru de uma rede
famosa de fast-food. Sem precisar perguntar o que eu queria, James
fez o nosso pedido rapidamente. — Então, você tem uma nova
amiga.
— Como você é sutil, James.
Ele teve a cara de pau de me olhar com uma expressão
ofendida.
— Não entendi.
— Eu vi você olhando para Alicia, não precisa disfarçar.
Ele sorriu, mas parecia genuinamente inocente.
— Sim, eu notei que ela é bonita, mas juro que não pensei em
nada além disso.
— Somos amigos, esqueceu? Não precisa mentir para mim.
— Não estou mentindo. — Ele pegou o lanche das mãos do
funcionário e colocou a embalagem sobre o meu colo. — Juro que
não estou, eu não teria por que esconder isso de você.
Eu o olhei um pouco desconfiada. Será que eu tinha entendido
tudo errado?
— Você continuou a olhar para ela mesmo depois de ter se
afastado da nossa mesa.
— Não era para ela que eu estava olhando.
— Não? Então era para quem?
James dirigiu por mais alguns minutos, até parar em uma vaga
em frente a uma farmácia vinte e quatro horas. Seus olhos se
encontraram com os meus quando entreguei o hambúrguer em suas
mãos.
— Eu estava olhando para você. — Ele disse como se fosse
óbvio e, de fato, era. Havia apenas Alicia e eu de mulher naquela
mesa, se ele não estava olhando para ela, só poderia estar olhando
para mim. Isso não diminuiu a minha surpresa, no entanto. —
Estava pensando que havia muito tempo desde a última vez em que
você saiu em um final de semana com os seus amigos. E agora
estou me sentindo um idiota por ter tirado você de lá.
James estava mesmo arrependido e eu senti o meu coração se
aquecer.
— Você é muito fofo — declarei, vendo-o fazer uma careta.
— Fala sério, Norah.
— É sério, você é mesmo muito fofo. — Eu ri, passando a mão
por sua bochecha. Ele fingiu que ia me morder e eu afastei meus
dedos. — E tem razão, não me lembro da última vez que saí de
verdade com os meus amigos. Foi bom o tempo que passei com eles
hoje à noite, espero repetir mais vezes.
— Também espero, você precisa sair mais e se divertir, quem
sabe não acaba encontrando o cara perfeito por aí? Nem vai precisar
da minha ajuda.
Eu engoli o pedaço do meu sanduíche e sacudi a cabeça.
— Não, nada disso, eu preciso da sua ajuda, sim. E posso
acabar retribuindo mais rápido do que você imagina.
James franziu o cenho e estreitou os olhos.
— Tenho medo de quando você fica toda misteriosa desse
jeito, Norah.
— Não há mistério algum, é bem simples, na verdade. Alicia
ficou interessada em você. — James arqueou uma das sobrancelhas
bonitas. — E eu troquei algumas palavras com Mason antes de
sairmos do bar. Ele parece ser um cara muito interessante e eu acho
que quero o conhecer melhor.
— Quer que eu descubra se ele é um babaca? — James foi
objetivo.
— Eu não tinha pensado exatamente nisso, mas é um começo.
— No que você pensou? — perguntou ele conforme devorava
o hambúrguer, me olhando com atenção.
— Você poderia falar bem de mim para Mason. Pelo que
percebi, ele não se importou muito com as ameaças ridículas do
meu irmão. — James ficou alguns segundos em silêncio e eu
aproveitei para continuar: — Enquanto isso, eu posso falar bem de
você para Alicia, passar o seu contato para ela, se você quiser.
Eu ainda me sentia um pouco estranha com a ideia de ver
James com Alicia, mas não poderia ficar dando bola para aquele
meu lado infantil e ciumento.
— Acho que eu não preciso falar bem de você para Mason,
pois ele já deixou claro que está interessado, mas vou descobrir se
ele é um babaca. — James terminou o sanduíche e jogou o papel
dentro da embalagem onde viera o hambúrguer. — E você precisa
prometer para mim que não vai insistir nele se eu descobrir que o
cara não presta, Norah. Eu jamais vou permitir que algum idiota
brinque com você.
Senti meu coração disparar ao ver o seu cuidado comigo.
— Eu prometo que não vou insistir. Confio no seu julgamento,
sei que vai ser honesto comigo.
— Sempre. — Ele sorriu, passando um braço pelo meu ombro
até a minha cabeça se encostar em seu peito. — E sobre a sua
amiga, faça o que achar melhor. Confio em você também.
— Vou ver se ela é digna do seu coração. Se for, eu armo um
encontro.
James riu alto e o seu peito vibrou sob a minha cabeça.
— Me senti um adolescente de novo depois de ouvir isso.
Ele beijou os meus cabelos e eu sorri, mal sentindo o
arrependimento por ter saído de fininho do bar e deixado os meus
amigos para trás. Nada no mundo era melhor do que estar nos
braços de James.
Mason Scott, aparentemente, era um cara sem defeitos.
Com o fim do recesso e a primeira reunião do time após a
temporada, pude conhecer melhor o novo tight end. Mason era
bem-humorado, já havia feito amizade com a maior parte dos
jogadores e passou um tempo conversando comigo após a reunião.
Nós jogaríamos lado a lado, era preciso que criássemos intimidade e
começássemos a confiar um no outro.
Se nossa relação fosse apenas dentro de campo, eu ficaria
mais tranquilo, principalmente para criar uma amizade com ele. O
problema, era o claro interesse que Norah estava sentindo pelo novo
jogador. Eu precisava ser imparcial naquele momento e analisar
Mason sem a influência de uma relação pessoal entre nós dois. Era
de Norah que estávamos falando e eu realmente não permitiria que
algum idiota brincasse com o coração dela, sendo meu companheiro
de time ou não.
A primeira informação que descobri ao decorrer da primeira
semana após o recesso, era que Mason era um homem solteiro. Não
tinha nenhum relacionamento sério antes de ter sido transferido
para a UA e nada, além de sua família que era dona de uma famosa
rede de hotéis, o prendia em sua antiga cidade.
Aquele era, logicamente, o primeiro pré-requisito para que um
cara se aproximasse de Norah.
Também descobri que Mason era bom aluno. Não era o
número um do curso de Administração, mas tirava boas notas. Era
importante que Norah se envolvesse com alguém que fosse
comprometido com os estudos.
Ele também estava longe de ser um galinha. Desde que
chegara ao Alabama, havia participado de algumas festas, mas,
segundo os meninos do time, só saiu acompanhado duas ou três
vezes, como qualquer homem solteiro fazia.
Mason não ser um babaca pegador também era de suma
importância. Norah não merecia ser mais uma na lista de conquistas
de qualquer imbecil. Nisso Logan e eu concordávamos cem por
cento.
Logan.
Pensar no meu melhor amigo me causava um arrepio sinistro e
um nó no estômago. Era como se o órgão já pudesse sentir, de
antemão, o impacto do soco que Logan me daria se descobrisse que
eu estava prestes a dar uma de cupido para a sua irmã
superprotegida.
A questão era que eu me preocupava com Norah. Muito. De
verdade. E jamais viraria as costas para ela quando precisava da
minha ajuda. Era melhor que eu remediasse aquela situação do que
deixá-la sozinha, desprotegida, podendo cair na lábia de qualquer
idiota que apenas brincaria com ela. No final de tudo aquilo, quando
Norah estivesse com um homem digno do seu coração, Logan iria
me agradecer, e eu ficaria orgulhoso.
Omitir tudo aquilo do meu amigo valeria a pena, estava certo
disso.
Eu só precisava me convencer de que estava fazendo a coisa
certa, antes de qualquer coisa, porque pensar em Norah com algum
outro cara me deixava com um sentimento estranho no peito, que
eu não conseguia entender. Era como se eu fosse perdê-la, o que
não fazia qualquer sentido, pois Norah sempre seria minha melhor
amiga. Assim como não me afastei dela quando comecei a namorar
com Megan, eu sabia que Norah não se afastaria de mim caso
começasse a namorar com alguém.
No fundo, eu estava apenas sendo dramático e um pouco
territorial. Aquele sentimento passaria assim que eu visse Norah
apaixonada e feliz ao lado de um cara que realmente a merecesse.
— Por que você está com essa cara de quem levou um chute
no saco?
A pergunta nada discreta de Logan me tirou do torpor
enquanto eu revirava no meu prato os dois ovos mexidos que já
eram para estar dentro da minha barriga há pelo menos dez
minutos.
— Não faço ideia do que você está falando — desconversei,
enfiando uma garfada na boca.
Logan cruzou os braços e me encarou com os olhos estreitos,
exatamente como Norah fazia quando estava desconfiada de alguma
coisa. Quem poderia imaginar que dois irmãos seriam tão parecidos,
não é mesmo?
— Você fez alguma merda, está com cara de culpado.
— Que merda eu poderia ter feito antes das dez da manhã de
um domingo, Logan?
— Não sei, por isso que estou aqui. — Ele se aproximou e
parou do outro lado do balcão, de frente para mim. — Para que você
possa me contar.
Sacudi a cabeça e forcei um sorriso. Eu odiava esconder
qualquer coisa do meu melhor amigo, mas, talvez, a minha lealdade
para com a sua irmã fosse maior do que a minha lealdade para com
ele.
Parando para pensar, sempre foi assim. Logan não sabia até
hoje que eu impedi que o merdinha do Declan desse um beijo em
Norah no aniversário dela de dezesseis anos. Nunca contei porque,
primeiro, causaria uma briga desnecessária entre o meu amigo e o
moleque e, segundo, porque não queria que Norah se sentisse
constrangida. Logan já se metia na vida dela o suficiente.
Também havia o fato de que Norah confiou em mim para
contar que aquele seria o seu primeiro beijo. Sempre deixei claro
que a via como uma irmã mais nova, mas não éramos irmãos de
verdade e eu imaginava que com Logan ela não tinha abertura para
contar sobre aquele tipo de coisa. Assim como eu era fiel a Logan
para levar seus segredos para o túmulo — como a primeira e última
vez que ele experimentou maconha e me fez jurar que jamais
contaria aquilo para ninguém —, eu também era fiel a Norah e
jamais iria desapontá-la.
— Vou almoçar na casa dos meus pais hoje e já estou
pensando no discurso motivador que Jonathan McHugh vai me fazer
ouvir pelo resto da tarde — contei meia verdade. Logan conhecia o
meu pai e sabia como, às vezes, passar um tempo ao lado dele
sugava toda a minha energia.
— É impressionante como os nossos pais são diferentes, mas,
ao mesmo tempo, são tão parecidos. Enchem a porra do nosso saco
por motivos completamente diferentes.
— Pelo menos o seu pai finalmente entendeu que ser jogador
profissional é o seu maior sonho.
— E quando o seu pai vai entender que ser jogador
profissional não é o seu maior sonho?
Senti a porcaria do ovo pesar em meu estômago e metade da
porção ainda estava no meu prato.
— Já disse para você que isso não é verdade. Eu quero ser
jogador profissional, Logan. Dediquei-me a vida inteira para que isso
acontecesse, sou tão apaixonado por esse esporte quanto você.
— E ainda assim, esse não é o seu maior sonho. — Logan me
deu um olhar muito sério. — E está tudo bem não ser, James.
Neguei com a cabeça, contrariado. Meu coração batia forte no
peito, mas não deixei que aquela adrenalina inconveniente
transparecesse na minha respiração.
— Você está errado. Eu sei o que eu quero para a minha vida,
o futebol é o meu futuro, nada vai me fazer desistir disso.
— Nem o seu amor por fotografia?
— Isso é um hobby.
— Um hobby que vai te garantir um diploma. — Logan não
gritou comigo, ao contrário do meu pai quando eu o contrariava,
mas me olhou daquele jeito que eu geralmente olhava para ele.
Como se me conhecesse melhor do que ninguém. — Porque esse é
o seu verdadeiro sonho, por mais que você negue. E não me
entenda mal, você é um monstro dentro de campo, é o melhor wide
receiver com quem já joguei, tenho certeza de que os maiores times
brigarão por você no Draft, mas esse não é o seu sonho, irmão. O
dia que admitir isso para si mesmo, nunca mais vai precisar se sentir
da forma que está se sentindo agora.
Eu queria que ele simplesmente ficasse quieto, mas esse era o
maior ônus de se ter um melhor amigo: ser obrigado a ouvir da boca
deles o que você não queria escutar.
Só que Logan estava errado daquela vez. Eu amava e
respirava o futebol. Cresci dentro de um campo, pois meu pai me
colocou para praticar o esporte antes mesmo de Logan pensar em
calçar uma chuteira, sempre conciliei a minha vida com a rotina
regrada, a dieta, as contusões, a adrenalina e a ansiedade que o
futebol me causava. Eu havia nascido para aquilo, foi o que sempre
ouvi a vida inteira, foi no que sempre acreditei. Então, sim, aquele
era o meu sonho. O meu e o do meu pai e, por mais que ele me
cobrasse até a exaustão, eu realizaria tudo o que ele idealizou para
mim.
Eu devia aquilo a ele, por toda a sua dedicação para comigo.
Jamais me perdoaria se eu falhasse. Já não bastava a culpa
que me invadia quando me sentia sufocado com a cobrança do meu
pai.
— Talvez você nunca acredite em mim, mas eu não estou
mentindo, Logan.
— Sei que não está mentindo quando diz que é apaixonado
pelo futebol.
— Não sou apenas apaixonado. — Levantei-me da banqueta
onde estava sentado e dei a volta até alcançar o meu melhor amigo.
Apertei o seu ombro e fiz de tudo para que ele identificasse a
verdade em minha voz: — Minha vida é o futebol e sempre será
assim. Ainda vamos conquistar muitos títulos juntos e erguer todas
as taças possíveis. Acredita em mim?
Logan deu um tapinha em meu pescoço e suspirou.
— É lógico que eu acredito nisso, pois sei como você é
talentoso e dedicado. Nunca duvidei da sua capacidade, James.
— Assim como eu nunca duvidei de você. Sonhamos a vida
inteira em sair da faculdade e jogar juntos. Por que, de repente,
parou de enxergar esse objetivo em mim?
— Você está enganado, eu ainda vejo esse objetivo nos seus
olhos, irmão. Só que eu passei o último ano com a cabeça enterrada
no meu próprio rabo e deixei de enxergar as coisas à minha volta.
Agora, estou vendo tudo com mais clareza. Você não é mais o
mesmo James de dois anos atrás. Havia um sentimento em seus
olhos quando entramos na faculdade que não existe mais e isso me
preocupa.
— Bobagem. — Sorri, sem querer pensar demais em suas
palavras. — É verdade que o meu pai me cansa um pouco com as
suas cobranças, mas o que eu sentia quando entrei na faculdade
ainda permanece intacto. Sou o mesmo James, Logan, e não vou
mudar.
Ele me olhou daquele jeito profundo que me lembrava do
Logan que sempre foi o meu melhor amigo. O Logan que ainda não
havia se perdido em meio ao luto. Era bom ver que meu irmão de
alma estava de volta, ainda que isso o fizesse enxergar sentimentos
em mim que eu mesmo não queria ver.
— Está bem, só quero o que for melhor para você, entende
isso?
— Assim como eu sempre quis o melhor para você. — Puxei-o
para um abraço bem forte e dei dois tapinhas em suas costas. — É
bom te ter de volta, irmão.
Ele sabia do que eu estava falando, por isso, mesmo tentando
disfarçar, pude ouvir quando limpou a garganta antes de resmungar:
— Eu nunca mais vou embora.
Eu sabia que não. Com apoio, aquele Logan permaneceria ao
nosso lado para sempre.

— Soube que aquele menino irresponsável finalmente foi


expulso do time depois de ser pego mais uma vez no exame
antidoping e que um novo jogador já entrou em seu lugar. Como ele
é, James?
Meu pai, sentado à cabeceira da mesa, finalmente conseguiu
inserir o futebol no meio do nosso almoço em família. Sentada ao
seu lado, minha mãe fez uma careta.
— Jonathan, por favor. Será que você não pode esperar para
conversar sobre isso após o almoço, querido?
Eu quase arregalei os olhos, mas consegui me conter a tempo.
Era melhor conversarmos sobre futebol agora. Se deixássemos para
depois, meu pai me faria ir com ele para a sala de estar e me
seguraria pelo resto da tarde.
— Eu estava mesmo querendo falar sobre o novo jogador —
falei antes que meu pai pudesse responder a minha mãe. — Seu
nome é Mason e foi tão bem na última temporada, que passou à
frente de Ryle, o reserva, e se tornou titular.
— É exatamente disso que o Crimson precisa! O time fez uma
ótima temporada no ano passado, mas eu não gostava daquele tal
de Kevin — referiu-se ao antigo tight end. — Ele se tornava muito
lento às vezes e isso acabava atrapalhando o seu desempenho. Para
jogar ao seu lado, o jogador precisa estar no mesmo nível que o
seu.
— James é o melhor jogador do mundo — disse minha avó,
tocando em minha mão. Ela sempre se sentava ao meu lado quando
almoçávamos juntos. — É difícil que algum atleta chegue ao nível
dele.
— Não podemos levar a sua opinião em consideração, mãe.
Para a senhora e para Louise, James sempre será o melhor jogador
do mundo — meu pai comentou com um sorriso, mas eu entendi o
que ele quis dizer nas entrelinhas.
Para ele, eu era um excelente jogador, mas não o melhor.
Sempre precisava aprimorar meus reflexos, minha agilidade em
campo, minha tática para não ser pego pela defesa do time
adversário. Todos os seus elogios eram seguidos por uma
repreensão.
— Lógico que sim, meu filho sempre será o melhor em tudo o
que se propõe a fazer. — Obriguei-me a sorrir para minha mãe em
resposta ao seu elogio.
— Conte-me mais sobre esse novo jogador.
Passei o resto do almoço contando para o meu pai sobre
Mason e sua atuação como tight end em seu antigo time. Ele ficou
animado, prevendo que formaríamos uma boa dupla em campo e
me dando conselhos como se fosse o meu treinador. Meu pai tinha
aquela mania de achar que entendia melhor sobre futebol do que
qualquer outra pessoa.
Por sorte, logo a sobremesa foi servida e ele precisou se
ausentar para fazer uma videochamada com um sócio investidor que
morava na Noruega. Mamãe reclamou, afinal, era domingo e ela
sempre se queixava que meu pai trabalhava demais, mas não
adiantou muito — o que eu agradeci. Pelo menos teria algum tempo
livre para passar com ela e com a vovó.
Sentei-me ao lado da matriarca da família McHugh e a ajudei a
encontrar uma série de suspense na Netflix — seu gênero favorito.
Assim que dei play, vovó perguntou:
— Como anda o coração, querido? — Seus olhos de águia me
prenderam no lugar. — E não ouse mentir para mim, quero saber
tudo.
Eu ri baixinho ao ouvir aquela intimação. O sonho da minha
avó era que eu encontrasse uma boa mulher para me casar. Ela
tinha uma lista em mente — todas netas de suas amigas mais
antigas —, mas havia um nome que sempre ocupou o primeiro lugar.
— Meu coração está em paz, vovó.
— Era para eu me sentir feliz com essa resposta?
— Depois do que Megan aprontou comigo, eu creio que sim.
Ela bufou e fechou a cara.
— Não fale no nome daquela vaca perto de mim!
Eu voltei a rir — o que provava que estava sendo sincero.
Desde que Norah chamou Megan de vaca pela primeira vez na frente
da minha avó, a senhorinha nunca mais se esqueceu do insulto. Se
tornou seu apelido favorito para a minha ex.
— Desculpe-me — pedi, dando um beijo em sua mão. — Mas
isso prova que eu estou falando a verdade. Megan é passado e eu
quase não penso mais nela.
Megan só voltava à minha mente quando o seu pai aparecia
em algum canal de notícia na TV, mas eu já não pensava mais em
suas mentiras, na forma como me enganou ou no fato de eu ter
flagrado a sua traição. Não podia ser um mentiroso completo, o que
ela fez me machucou profundamente, mas era uma ferida que eu
obriguei a cicatrizar. Não perderia um único segundo da minha vida
me martirizando por ter sido honesto com uma pessoa mesquinha
como ela.
— Isso é ótimo, pois ela não merece ocupar a sua mente nem
o seu coração. — Ela tocou em meu rosto com carinho. — Mas isso
também significa que você está livre para gostar de outra pessoa.
— Não tenho tempo para isso, vovó. Esse ano eu vou me
dedicar totalmente ao futebol.
— E vai se tornar um monge?
Eu a olhei com um sorrisinho sacana.
— Não preciso de uma namorada para fazer sexo, vovó.
Vovó Emory sacudiu a cabeça, como se estivesse desapontada,
mas pude ver o sorrisinho em seus lábios.
— É melhor ouvir isso do que ser surda — reclamou mesmo
assim, me arrancando uma risada. — Apesar de achar que você está
sendo um idiota.
— Como é o que é? — Podia contar nos dedos de uma mão as
vezes em que vovó me chamou de idiota durante toda a minha vida.
— É isso mesmo! Tem uma menina maravilhosa vivendo sob o
seu teto e fica com esse discurso de que quer focar no futebol e
ficar solteiro. — Ela revirou os olhos, contrariada. — Espero que
Norah apareça namorando alguém e que você se arrependa por tê-la
perdido.
Aí estava. O primeiro nome na lista de pretendentes que vovó
havia feito para mim. Ela sempre sonhou com o momento em que
Norah e eu ficaríamos juntos, mesmo eu já tendo explicado,
inúmeras vezes, que éramos apenas amigos.
— Isso deve acontecer em breve, não a parte em que eu vou
me arrepender, mas a parte em que Norah aparecerá namorando. E
sabe quem vai ajudá-la a encontrar o cara ideal? — Apontei para
mim mesmo, vendo minha avó estreitar os olhos. — Eu.
Vovó Emory ficou durante longos segundos em silêncio, me
olhando de forma tão profunda quanto Logan havia feito mais cedo.
Eu parei de sorrir e fiquei um pouco constrangido. O que ela estava
pensando, afinal? E por que estava me olhando daquele jeito?
— Vovó? — Estalei os dedos na frente do seu rosto, mas ela
apenas voltou a sacudir a cabeça.
— Algumas pessoas só dão valor para aquilo que possuem,
quando perdem.
Eu arqueei as sobrancelhas, me segurando para não rir.
— Se está falando sobre a Norah, saiba que isso não faz o
menor sentido. Eu nunca a tive, pelo menos não dessa forma que
está pensando, vovó.
— Isso é o que você pensa, mas não vou falar mais nada, você
vai entender sozinho. — Ela deu dois tapinhas em minha mão e
apontou para a TV. — Volte para o início do episódio, por favor.
Eu fiquei atônito por um tempo, antes de pegar o controle e
fazer o que me pediu. Vovó Emory sempre foi sábia e, geralmente,
eu levava a sua opinião em consideração, mas, daquela vez, ela
estava enganada.
Por mais que a ideia de ver Norah com alguém me deixasse
um pouco estranho, eu superaria aquilo bem rápido, afinal, ela era
como uma irmã para mim e aquilo nunca iria mudar.
Eu estava novamente no cemitério. Uma garoa fina caía
enquanto eu observava a lápide da minha mãe coberta por flores
bonitas, cada uma mais colorida do que a outra. Ela amava cores
vivas e fortes, era o coração da nossa casa, nosso ponto de
equilíbrio e, agora, partira e nunca mais iria voltar.
As lágrimas desceram pelo meu rosto sem que eu pudesse
contê-las. A dor em meu peito ameaçou me sufocar. Havia tanta
coisa que eu queria contar para ela! A felicidade que eu estava
sentindo por finalmente estar na faculdade, fazendo o curso que nós
duas amávamos, realizando o nosso sonho de que eu fosse atriz.
Mamãe nunca me veria em um palco. Ela nunca se emocionaria ao
me ver interpretando um papel.
Não era justo que ela tivesse partido daquela forma, tão de
repente. Era cruel. Eu sabia que nenhum filho estava preparado para
perder a sua mãe. Aquela era uma possibilidade que sabíamos que
existia, mas que ignorávamos. Só que agora não era mais uma
possibilidade, era uma realidade, e eu não sabia como agir.
Ergui a cabeça ao ouvir um grito doloroso, que terminou de
partir o meu coração. Era Logan, inconformado, destruído pela dor.
Engoli o nó em minha garganta e passei os dedos pelas minhas
bochechas molhadas. Olhei mais uma vez para a lápide da minha
mãe e toquei em seu nome impresso na pedra branca.
— Pode ir em paz, mamãe. Eu vou cuidar de tudo por aqui. Eu
te amo. Amarei a senhora para sempre.
Afastei-me e fui até o meu irmão.
Engoli a minha dor e acolhi a dele, pois sabia que Logan
precisava de carinho e apoio. O meu luto poderia esperar.

Acordei de repente, suando e tremendo, levando segundos


longos demais para entender que eu acabara de ter aquele mesmo
sonho. De novo. Em meio à penumbra, olhei atentamente ao meu
redor apenas para me certificar de que eu estava mesmo em meu
quarto e não mais no cemitério, no dia do enterro da minha mãe.
Meu abajur estava ligado, minha mesa de estudos estava no mesmo
lugar, assim como a minha estante pequena com livros, e a cortina
branca esvoçava porque decidi deixar a janela aberta naquela noite.
Passei a mão pelo meu peito, tentando fazer com que meu
coração voltasse a bater no ritmo normal, enquanto respirava
lentamente. Fiz yoga durante muitos anos com a minha mãe e ainda
sabia algumas técnicas de respiração, mas elas quase nunca me
ajudavam em momentos como aquele, onde minha mente se
recusava a esquecer das cenas dolorosas daquele dia traumático.
Com as pernas trêmulas, desci da cama e saí do meu quarto,
encontrando a luz do corredor acesa, o que indicava que Benjamin
ainda não chegara. Eu sabia que James deveria estar dormindo e
que Logan dormiria na casa de Avalon. Decidi que não acordaria
James por conta de algo fútil como um pesadelo e desci para a
cozinha.
Eu só precisava de uma boa xícara de chá, como minha mãe
fazia para mim quando eu tinha uma noite de sono ruim. Enquanto a
água fervia na chaleira elétrica, eu me peguei observando a lua pela
janela da cozinha e senti um aperto ainda maior no peito. Sentia
tanto a falta da minha mãe, que às vezes era difícil respirar.
Por muitas vezes, peguei Logan me observando com certa
indignação. Ele parecia se perguntar como eu pude superar tão
rápido a morte da nossa mãe, mas a verdade era que eu não havia
superado nada. Engoli a minha dor para poder cuidar dele, precisei
ser forte por nós dois, ou o perderíamos de vez. Mas em momentos
como esse, onde eu me sentia completamente sozinha, não
conseguia ser tão resiliente. Principalmente porque eu sabia que
minha mãe estaria me abraçando agora, se pudesse, e repetindo
que sempre estaria do meu lado.
— Norah? — A voz de James às minhas costas me fez dar um
pulo de susto. Meu coração quase saltou pela garganta conforme eu
me virava para ele. — Aconteceu alguma coisa? Por que está
acordada a essa hora?
Tentei pensar em uma resposta, mas acabei perdendo a
concentração ao ver tanta pele exposta bem na minha frente. James
usava apenas um short de moletom branco, que fazia um contraste
maravilhoso com a sua pele negra e caía de forma preguiçosa em
sua cintura, deixando em evidência o V pronunciado no final do seu
abdômen. Senti a minha boca ficar seca novamente e daquela vez
não teve nada a ver com o meu pesadelo.
Será que eu nunca me acostumaria a ver James sem camisa?
— Norah? — Ele fechou completamente a nossa distância e eu
dei um novo pulo de susto ao ouvir a chaleira apitar. Arqueando uma
sobrancelha, James olhou para a minha xícara vazia ao lado da pia.
— Está com insônia?
— Sim. — Achei melhor dar aquela resposta do que contar que
sonhei novamente com o enterro da minha mãe. — E você? Por que
está acordado?
— Insônia, também. Espero que tenha esquentado água
suficiente para mim.
— Acho que vai sobrar um pouco para você. — Consegui sorrir
conforme ele se afastava para pegar mais uma xícara no armário.
Coloquei o sachê de camomila na minha e na dele quando
voltou com a porcelana e depois despejei a água fumegante,
sentindo o aperto em meu peito se afrouxar o suficiente para que eu
pudesse respirar sem sentir um nó em minha garganta. A presença
de James sempre teve um efeito calmante em minhas emoções.
Pegamos as nossas xícaras e fomos para a sala, onde James
acendeu apenas um abajur. A lua estava cheia e ajudou a iluminar
ainda mais o ambiente, pois as cortinas estavam afastadas.
Sentamos lado a lado no sofá, mas eu me aproximei mais de James
até ter o seu braço musculoso sobre os meus ombros.
— Aconteceu alguma coisa? Você está muito quieta.
— Acho que é porque já passou das três da manhã e a minha
bateria social está em cinco por cento.
James riu e a vibração em seu peito arrepiou os pelos da
minha nuca.
— Você não respondeu a minha pergunta — lembrou conforme
tocava os meus cabelos.
— Chegamos juntos, esqueceu? — perguntei, pois assim como
James passara a tarde na casa dos seus pais, eu também passei a
tarde com meu pai e minha avó. Foi uma coincidência termos
chegado juntos em casa. — O que pode ter acontecido desde o
momento em que desejamos boa noite um para o outro antes de
cada um ir para o seu quarto?
— Não sei, você que precisa me responder.
Assoprei um pouco o meu chá e dei um gole na bebida doce e
quente, sentindo parte da minha apreensão ir embora. Então, me
dei conta de que James era uma das pessoas que eu mais confiava
no mundo e que poderia me abrir com ele.
— Só estou passando por um daqueles momentos em que
sinto uma falta absurda da minha mãe. — Dei de ombros, tentando
minimizar os meus sentimentos como vinha fazendo há mais de um
ano.
— Norah... — James colocou sua xícara no aparador que ficava
ao lado do sofá e tocou o meu queixo em seguida, me fazendo olhar
em seus olhos bonitos e sérios. — Por que não me chamou para
ficar com você? Sabe que não precisa ficar sozinha em momentos
assim.
— Sei disso, mas não queria incomodar.
— Você nunca me incomoda. — James me puxou para mais
perto, me fazendo encostar a cabeça em seu peito, e deu um beijo
demorado em minha testa. — Sabe que não precisa ser forte o
tempo todo, não comigo.
— Eu sei — murmurei, lutando para não chorar conforme me
afundava mais em seu peito, sentindo o cheiro da sua pele e
ouvindo as batidas fortes do seu coração.
— Sabe também que eu sempre estarei ao seu lado, não é?
Em todo e qualquer momento, Norah. — Sua voz soou baixa, mas
forte, e ecoou dentro de mim. — Você é uma das poucas pessoas
por quem eu largaria tudo apenas para dar um abraço. Entende
isso? — Ele tocou novamente o meu queixo com os dedos, me
fazendo olhar em seus olhos. — Eu largaria tudo, Norah.
— Até um jogo de final de campeonato? — perguntei com uma
risadinha apenas para tentar espantar o nó em minha garganta.
— Tudo significa tudo — respondeu ele bem sério e eu mordi o
lábio, nervosa e emocionada. — Nunca duvide disso.
— Eu não duvido, pois também largaria tudo para ficar ao seu
lado, James. Eu te amo.
— Eu também te amo. — Ele finalmente sorriu e deu mais um
beijo em minha testa. — Te amo como se fosse a irmã que eu nunca
tive.
Algo pesou em meu peito ao ouvir aquilo, apesar de eu saber
que não deveria me sentir assim, pois era lógico que James me
amava como uma irmã, assim como eu o amava.
Certo?
Certo, respondi para mim mesma, encerrando aquele assunto
em meu interior.

— Ei, cara! Acorda!


Senti uma mão pesada sacodir meu ombro de um lado para o
outro, mas não quis abrir os olhos. Eu estava muito bem acomodado
e abraçado a algo quente e cheiroso. Acho que murmurei alguma
coisa, mas levei uma nova sacodida, dessa vez mais urgente.
— Porra, James, acorda!
Abri apenas um olho e tudo o que enxerguei foi... Cabelo? Um
mar de cachos revoltos estava praticamente em cima da minha cara.
Assustado, me sentei de repente, sentindo meu pescoço travar em
um torcicolo e a luz do dia dar um soco em minhas córneas.
— Que merda você pensa que está fazendo?
Demorei alguns segundos para conseguir me virar e olhar para
um Benjamin parado na minha frente, com as duas mãos na cintura,
ainda vestido com a roupa de ontem. Pelo menos ele estava com o
cabelo úmido, o que indicava que tomou banho no lugar onde
passou a noite.
— Até onde sei, eu estava dormindo... Que merda, meu
pescoço tá travado — xinguei, tentando movimentar a cabeça de um
lado para o outro enquanto massageava o nó duro logo acima do
meu ombro.
— Sim, estava dormindo, só que no sofá, agarrado com a
Norah!
Parei o movimento na hora e olhei para onde Benjamin estava
apontando. Encontrei Norah deitada de costas para nós dois, usando
um short curto demais que deixava a polpa da sua bunda de fora.
Sem querer que Benjamin a visse tão exposta, me movi no sofá e
me sentei na frente do seu traseiro empinado.
— Não é nada disso que você está pensando — murmurei,
vendo seus olhos sóbrios demais passearem entre mim e Norah.
— Eu não estou pensando nada.
— É claro que está! — Bufei, cruzando os braços. — Norah
estava com insônia, então fez um chá para nós dois e acabamos
pegando no sono aqui no sofá. Foi só isso.
Benjamin viu as xícaras e pegou uma delas, cheirando o que
havia restado da bebida que Norah preparou para nós dois. Um
sorriso idiota nasceu em seus lábios.
— Que bom que Norah te deu apenas um chá de camomila. Se
fosse um chá de boceta, você estaria fodido.
— Alguém já mandou você ir se foder hoje, idiota?
— Passei a madrugada fodendo, então, tecnicamente, sim. —
Ele continuou a rir e se afastou quando ameacei jogar o controle da
TV em sua cabeça. — Ok, estou apenas brincando, sei que você não
tocaria em Norah desse jeito. Já o Logan, te daria um soco antes e
perguntaria depois. Sorte a sua ter sido flagrado por mim, aceito um
beijinho como agradecimento por eu ter te acordado antes que o
Logan chegasse.
— Um beijinho? — Eu sorri, arqueando uma sobrancelha. —
Sempre soube que você sentia tesão por mim, Ben.
Ele fez uma careta de desgosto.
— Pensando bem, vou pedir o beijo para Norah, afinal, salvei a
pele dela também.
Fechei a cara ao pensar naquela merda, apesar de ser comum
que Norah e Benjamin trocassem um pouco de carinho.
— Sai logo daqui, precisa de um banho, o perfume doce da
garota com quem ficou ainda está impregnado em você.
— E desde quando eu cheiro a outra coisa que não seja uma
garota?
O babaca se afastou com um sorriso e eu revirei os olhos
antes de me virar para acordar Norah. Apesar de estar com um bom
humor irritante, Benjamin realmente salvou a nossa pele. Logan me
comeria vivo se flagrasse Norah e eu dormindo de conchinha. Levei
alguns segundos para despertar a dorminhoca e fiquei satisfeito
quando recebi o seu sorriso assim que abriu os olhos.
— Não me diga que dormimos no sofá — murmurou ela
escondendo o rosto entre as mãos.
— Sim, dormimos, e agora eu preciso de uma massagem, pois
estou com o pescoço travado.
Ela voltou a me olhar ainda sorrindo. Estava aliviado por ser
um sorriso verdadeiro. Eu sabia como Norah lutava para ser forte,
como era independente e odiava incomodar os outros, por isso,
sempre ficava atento a ela. Fiquei feliz por ter a ouvido sair do
quarto de madrugada e por ela ter me permitido ficar ao seu lado
enquanto se permitia sentir a dor de ter perdido a mãe.
— Parece que o massagista do time vai trabalhar hoje.
— O massagista do time? Até onde sei, temos um trato, onde
você precisa fazer tudo o que eu pedir.
— Nada disso. — Ela se sentou no sofá rapidamente, fazendo
um coque nos cabelos longos e cacheados. Por fim, se levantou e
parou na minha frente com os braços cruzados. — Você ainda não
fez nada do que pedi.
— Descobri algumas informações sobre Mason — falei, me
recostando no sofá e colocando as mãos atrás da cabeça.
Senti Norah olhar para o meu peitoral e descer até a minha
cintura rapidamente, o que me fez agradecer por não estar com uma
ereção matinal — e encheu o meu ego, pois ela pareceu gostar
muito do que viu.
— Que informações? — perguntou segundos depois, voltando
a me olhar nos olhos após passar a língua pelos lábios.
Porra. Eu não deveria sentir um arrepio ao ver Norah fazendo
aquilo.
— Me faz uma massagem e eu conto tudo para você.
— Vamos nos atrasar para a aula.
— Ainda temos tempo. — Na realidade, eu nem sabia que
horas eram, só queria perturbá-la e sentir aquelas mãos macias em
meus ombros. — Mas se você ficar parada no meio da sala,
realmente vamos chegar atrasados.
Ela estreitou os olhos para mim, o que me divertiu, antes de
dar a volta e parar atrás do sofá. Eu me acomodei melhor e soltei
um gemido de dor quando a filha da mãe deu um apertão em meu
pescoço, bem no local onde estava dolorido.
— Espero que essas informações sejam boas, James McHugh,
ou vou te deixar com mais dor.
— É isso que recebo depois de ter passado a noite com você
nesse sofá apertado?
— Passar a noite comigo foi um privilégio. — Eu pude sentir o
sorriso em sua voz e precisei me segurar para não concordar em voz
alta. — Agora, comece a falar.
Fiz como me pediu, pensando mais uma vez que, se Mason
realmente conquistasse Norah, eu nunca mais dormiria com ela em
meus braços.
Perderia aquele privilégio, mesmo sendo o seu melhor amigo.
Logan não mentira durante a nossa conversa no café da
manhã do dia anterior.
A fotografia era mesmo uma das minhas maiores paixões.
A lembrança mais antiga que eu tinha, era de um James ainda
moleque, entre quatro e cinco anos, mexendo com curiosidade na
câmera fotográfica antiga que minha avó guardava no antigo
escritório do meu avô, quando ainda morava na mansão onde
viveram por mais de quarenta anos. Não cheguei a conhecer o meu
avô, pois ele faleceu quando meu pai ainda era um jovem adulto,
mas vovó Emory adorava me contar histórias sobre ele.
A que eu mais adorava escutar quando criança, era o fato de
meu avô ser um entusiasta da fotografia. Ele era realmente um
curioso e amava aquela arte, tinha inúmeros livros sobre o tema —
que eu devorei quando ainda era um adolescente —, uma coleção
rara de fotografias renomadas e quase trinta modelos de câmeras e
lentes diferentes, além de uma câmara escura, onde passava horas
revelando as fotos que tirava em viagens, da família, até mesmo das
construções dos primeiros navios cargueiros da nossa empresa.
Meu pai nunca entendeu o fascínio do meu avô pela fotografia,
assim como não entendia a minha paixão, mas não pareceu
preocupado quando revelei que era sobre isso que eu queria estudar
na faculdade. Ele não era como o pai de Logan, seu sonho não era
me ver no seu lugar na nossa empresa quando quisesse se
aposentar — para isso, Christopher, meu primo de segundo grau,
filho do irmão do meu avô, havia se formado e já estava trabalhando
ao seu lado —, mas, sim, me ver brilhando em campo. Na sua
cabeça, a fotografia não era uma preocupação.
E realmente não deveria ser, pois eu jamais desistiria do
futebol. Nunca. A conversa breve que tive com Logan não me deixou
nem um pouco confuso ou com receio da decisão que eu havia
tomado quando ainda era um moleque.
Então, por que sua voz continuava a se repetir em minha
cabeça enquanto o professor de Fotografia Editorial explicava sobre
como seria o projeto daquele semestre?
— Para esse projeto, vocês se dividirão em grupos. Metade da
nota será individual e a outra metade será coletiva. Cada grupo vai
ficar responsável por um estilo diferente de editorial, entre eles
moda, gastronomia e arquitetura, e terão que trabalhar em conjunto
para que seus ensaios fotográficos individuais conversem entre si na
hora da apresentação do projeto. Um exemplo, o grupo X com
quatro alunos ficou responsável pelo editorial de gastronomia. Cada
aluno fará um ensaio fotográfico diferente, ficando assim
responsável por sua nota individual, mas esse ensaio precisa ficar
harmonioso em conjunto, para que assim seja avaliado a nota do
trabalho em grupo. Alguma dúvida?
Uma aluna levantou a mão, mas eu estava ocupado demais
me livrando das palavras de Logan e anotando as regras do projeto
em meu iPad para poder prestar atenção. Achei o trabalho
interessante e gostei ainda mais quando o professor permitiu que
formássemos o grupo com quatro integrantes. Ele sortearia apenas o
tema. Logo me aproximei de Louis, Matthew e Tessa, amigos de
curso com quem eu já havia feito algumas matérias anteriormente, e
formamos o nosso grupo.
Fomos sorteados para fazer um editorial de moda e ficou a
nosso critério qual estilo seguir. Eu senti uma dose de adrenalina
correr pelo meu sangue, coisa que não acontecia desde a final da
última temporada, onde eu sabia que não poderia falhar de forma
alguma. A diferença, era que a pressão de saber que eu estava
sendo assistido de perto pelo meu pai, que não perdia um único
jogo, não me permitiu aproveitar completamente o momento. Aquilo
não acontecia quando eu estava envolvido com a fotografia.
Aquele era um momento só meu, onde eu podia ser livre e
criativo, tendo a certeza de que não haveria a sombra do meu pai
ditando suas regras ou exigindo que eu melhorasse, sempre me
dizendo que eu não estava dando o meu máximo.
— Parece que você gostou bastante desse projeto — disse
Tessa conforme saíamos da sala no final da aula.
— Ficou tão nítido assim? — perguntei com um sorriso.
— Ficou. Sempre fico impressionada com o fato de você ter
dois talentos tão diferentes. — Ela parou em frente ao seu armário e
me encarou com um sorriso sacana. — Deve deixar um rastro de
calcinhas por aí.
— Não fique com inveja, tenho certeza de que você faz mais
sucesso com as mulheres do que eu.
Tessa era lésbica assumida e, quando nos conhecemos,
namorava uma menina chamada Daisy. Por algum motivo, o
relacionamento não deu certo e agora Tessa estava na sua fase
“pegadora”, como gostava de intitular. E ela realmente fazia muito
sucesso entre as garotas. Toda festa em que nos encontrávamos, ela
estava com uma menina diferente a tiracolo.
— Elas se apaixonam rápido porque gostam de ser
fotografadas por mim, você sabe que eu tenho um olho muito bom.
— Sim, eu sei. Tem uma lábia melhor ainda, aparentemente.
Tessa riu e fechou o armário após pegar o material para a
próxima aula. Eu já estava livre e tinha um tempo antes de ir para a
academia do centro de treinamento, onde o preparador físico do
time nos aguardava.
— Lábia não, charme. — Ela piscou para mim. — Vou ver se
um dos meus contatos aceita posar para mim. Se não der certo, vou
conversar com algumas alunas do curso de Artes Cênicas.
— Artes Cênicas? Por quê?
— Porque elas são mais desinibidas e não têm medo das
câmeras, pelo contrário, se sentem bem ao serem fotografadas e
filmadas. Pelo menos, foi o que disse uma das alunas com quem
fiquei no semestre passado. — Tessa deu de ombros e percebi que
ela tinha razão. — Norah Miller estuda Artes Cênicas, não é?
— Sim.
— Então, talvez ela aceite ser fotografada por mim. — A
danada sorriu. — Será que ela não é bi?
— Não, ela não é bi, e pode tirar essa ideia da cabeça. Norah
não será fotografada por você.
— Por que não?
Olhei para Tessa e tomei uma decisão rápida e inocente que,
naquele momento, eu nem imaginava que mudaria toda a minha
vida.
— Porque Norah será fotografada por mim.

Tom Ward, preparador físico do nosso time, era um sádico até


mesmo quando não estávamos na temporada de jogos. Terminei o
treino sentindo cada músculo tremer e o suor escorrer por todo o
meu corpo. Ofegante, aceitei um isotônico que foi jogado em minha
direção sem nem ver quem havia me oferecido a bebida.
— Bom saber que eu não sou o único a estar morto —
murmurou Mason ao meu lado de forma ofegante conforme dava
um gole em sua própria bebida.
Eu forcei um sorriso, sem entender direito o porquê de ainda
sentir uma certa animosidade pelo cara, apesar de ele ser gente boa
e parecer querer firmar laços comigo.
— Prepare-se, Tom não costuma dar colher de chá para gente
e quando chegar perto da temporada, os treinos ficarão mais
rígidos.
— Mais? Ele quer que estejamos preparados para jogar ou
morrer em campo? — brincou, me arrancando uma risada sincera.
Ele era mesmo gente boa. O cara perfeito para Norah.
— Sempre fico com essa dúvida. — Bebi pelo menos metade
do meu isotônico antes de voltar a falar. — Mas você está se saindo
muito bem, Mason, e, pelo que percebi, é um dos poucos jogadores
que não está de ressaca.
Infelizmente, eu não podia colocar Benjamin naquele pacote.
Apesar de ter acreditado que ele estava sóbrio quando me acordou
no sofá naquela manhã, logo percebi que o babaca estava fingindo
muito bem. Ele era tão comprometido quanto Logan e eu, mas às
vezes extrapolava na bebida — não tanto quanto Logan em sua pior
fase, mas ainda exagerava.
— Não gosto de beber muito em dia de domingo e quando
estamos em temporada, não bebo em qualquer dia da semana.
Arqueei uma sobrancelha, surpreso pra caramba.
— É sério?
— Sim. Eu realmente amo o futebol e não faria nada para
prejudicar o time ou a minha produtividade em campo. Minha mãe
diz que sou certinho demais, mas é o meu jeito. — Ele sorriu e eu vi
Logan em seus olhos, pois meu amigo era exatamente assim antes
de tudo acontecer e agora estava voltando a ser o cara focado de
sempre.
Porra, ele gostaria muito de ter Mason como cunhado, eu tinha
certeza. Ficaria com raiva de mim por ter agido pelas suas costas
para que Mason se aproximasse de Norah? Sim, mas depois iria me
agradecer. Voltei a sorrir e ignorei o aperto em meu peito, que
sempre me incomodava quando eu pensava em Norah junto com o
tight end.
— Então, imagino que fica afastado até mesmo das garotas
quando a temporada começa? Ou fica com as meninas para se
distrair? — sondei, querendo saber como ele agia com as mulheres.
Alguns jogadores, quando a temporada de futebol começava,
adoravam usar as meninas como escape para o estresse, adrenalina
ou frustração. Se Mason fosse desse tipo, era melhor que eu
soubesse logo.
— Não me afasto nem as uso como distração. Não sou do tipo
que se aproveita das garotas, gosto de curtir o momento. Na minha
primeira temporada, eu estava namorando e consegui conciliar tudo
muito bem.
Os meninos do time começaram a sair da academia para ir
para o vestiário, mas nós permanecemos no mesmo lugar, perto da
saída do ar-condicionado.
— Muito bom saber disso.
Mason me encarou com os olhos levemente estreitos e soltou
uma risada.
— Você está me interrogando e só agora me dei conta disso?
Não acredito. — Balançou a cabeça com bom humor.
— Talvez eu esteja, mas é por uma boa razão.
— E que razão seria essa?
Olhei à nossa volta, percebendo que Logan não estava mais ali
e decidi ser direto:
— Percebi que você está interessado na Norah e queria saber
se você era digno dela ou não.
— Digno dela? Voltamos ao século retrasado e não fiquei
sabendo?
— Norah é importante para mim e eu não deixaria você se
aproximar se fosse um babaca.
Mason pareceu surpreso com a forma como fui direto, mas
logo relaxou.
— Fica tranquilo, não sou idiota. Mas confesso que eu
esperava esse tipo de atitude vindo do Logan e não de você.
— Logan nunca teria uma conversa assim com você, ele
protege muito a Norah.
— E você também, pelo visto. — Ele jogou a garrafa vazia no
lixo e voltou a me encarar. — Agora que já sabe que não sou um
idiota, vai deixar eu me aproximar dela?
— Depende. Qual é a sua intenção com ela?
— Não posso falar que quero me casar e ter filhos com Norah,
mas quero conhecê-la melhor, talvez convidá-la para sair comigo
qualquer dia desses. Eu realmente gostei dela no pouco tempo em
que conversamos.
— Claro que gostou, eu ficaria surpreso se dissesse que não —
falei, porque era verdade. Só um imbecil não se encantaria por
Norah. — Pode se aproximar dela, não vou atrapalhar, mas seja
discreto no início, ou Logan vai querer cortar as suas bolas.
Entendeu?
— Entendi. — Mason riu e concordou com a cabeça. —
Obrigado por ter me dado um voto de confiança, James. — Ele deu
um tapinha em meu ombro. — Pode ter certeza de que não irei
desperdiçar.
Eu apenas concordei em silêncio e vi Mason deixar a academia
sem saber ao certo o que eu estava sentindo. Parte de mim estava
satisfeita por ter a certeza de que eu abrira caminho para que um
cara bacana se aproximasse de Norah, mas a outra parte parecia
irritada justamente por eu ter dado espaço para que isso
acontecesse.
Decidi deixar tudo aquilo de lado e fui para o vestiário. Um
banho frio com certeza faria a minha mente voltar para o seu estado
normal e tiraria qualquer aperto do meu peito. Após a chuveirada,
enrolei uma toalha na cintura e fui direto para o meu armário pegar
a roupa limpa dentro da minha mochila. O vestiário estava
praticamente vazio, mas logo senti uma presença ao meu lado.
— O que você e Mason tanto conversavam na academia? —
Benjamin perguntou, curioso como sempre.
— Nada de mais, estava apenas alertando-o sobre como o
treino físico vai piorar quando a temporada começar. — Bati o
armário, vendo os olhos estreitos de Ben sobre mim. — O que foi?
— Posso ser meio desligado às vezes, mas não sou burro nem
cego, também não estou apaixonado como Logan e percebo as
situações à minha volta. Mason tá a fim da Norah, não está?
Fiquei surpreso por Benjamin ter percebido aquilo. Ele
realmente era o mais desligado entre nós três e demorava para
notar aquilo que estava bem debaixo do seu nariz.
— Ele quer conhecê-la melhor.
— E você estava o interrogando por conta disso — concluiu.
— É claro. Não vou deixar que um babaca se aproxime de
Norah, preciso saber se ele vale a pena ou não.
— E chegou a alguma conclusão?
— Mason parece ser um cara legal e tranquilo — falei
enquanto começava a me vestir. — É gente boa, responsável e não
parece ser mulherengo. Pesquisei sobre a vida dele e não encontrei
nenhum escândalo que envolvesse mulheres. Na minha opinião, não
há problema ele se aproximar de Norah.
Benjamin concordou de leve com a cabeça, pensativo.
Terminei de me vestir, tentando adivinhar o que estava passando
pela cabeça dele.
— É, também não soube nada de ruim sobre Mason e ele
parece mesmo ser alguém bacana. Quando vai contar para Logan
que ele está a fim da Norah?
— Então... Eu não vou contar.
Benjamin arqueou as sobrancelhas.
— Como assim?
— Logan sufoca a Norah quando o assunto é namoro, Ben. Ela
merece conhecer alguém sem ter a sombra do irmão a perseguindo.
— E por isso você vai mentir para Logan?
— Mentir não, omitir — falei conforme saía do vestiário ao seu
lado. ­— Logan não precisa saber que Mason está querendo se
aproximar da Norah, ele pode descobrir quando os dois estiverem se
envolvendo. Isso se realmente rolar algo entre eles.
— Cara, tem noção de que isso pode dar merda? Logan não
vai gostar nada quando descobrir que você não só sabia sobre
Mason e Norah estarem juntos, como se prestou a fazer o papel de
cupido.
— Não estou realmente fazendo o papel de cupido. —
Benjamin me deu um olhar condescendente e eu engoli em seco. —
Ok, talvez eu esteja fazendo isso, mas Norah pediu a minha ajuda e
eu não vou voltar atrás. Ela passou o último ano vivendo em função
do Logan, cuidando dele, mal olhando para si mesma. Norah merece
curtir agora, conhecer um cara legal, se apaixonar. Ela tem vinte
anos, Ben, está na faculdade. Vai ficar se anulando por conta do
Logan até quando?
Benjamin voltou a ficar em silêncio e percebi que estava
ponderando as minhas palavras. Eu sabia que estava errado em
esconder qualquer coisa do meu melhor amigo, mas era por um bem
maior. Eu não o estava traindo, estava apenas cuidando da sua irmã.
No final, Logan iria me agradecer — depois que a sua raiva
passasse.
— Você tem razão — Ben resmungou. — Mas me deixa fora
disso, ok? Quando a bomba estourar, eu vou fingir que não sabia de
nada. E se Logan quiser te dar um soco, eu vou deixar.
Eu pude sentir a brincadeira no seu tom de voz e comecei a rir.
— Se ele conseguir me acertar um soco, eu vou falar que você
foi o meu cúmplice.
— Seu babaca! — Ele deu um a cotovelada de leve em meu
braço conforme ria. — Quero só ver como você vai ficar quando
Norah estiver namorando e não permitir mais que você durma de
conchinha com ela.
— O que você viu hoje de manhã foram dois amigos dormindo
de forma inocente.
— Forma inocente, sei — resmungou de novo, me olhando de
lado. — Nunca dormi de conchinha com uma garota de forma
inocente.
— Porque você é um tarado idiota que só pensa com o pau. —
Sacodi seu cabelo, ouvindo-o me xingar. — Um dia, uma mulher vai
te pegar de jeito e te deixar de quatro, Benjamin. Escuta o que
estou te dizendo.
— Às vezes eu fico me perguntando se você é mesmo meu
amigo ou um inimigo disfarçado, porque só um inimigo desejaria
algo tão terrível para mim.
Eu comecei a rir, vendo-o me encarar com resignação
conforme saíamos do centro de treinamento. Pensei que
encontraríamos o campo vazio, mas me surpreendi ao ver Logan
acompanhado por Avalon e Aubrey. As líderes de torcida estavam
reunidas por ali, provavelmente já pensando na coreografia da
próxima temporada. Nos aproximamos dos três e vi os olhos da irmã
mais nova de Valente praticamente brilhando.
— Aubrey, o que está fazendo por aqui? — perguntei a
abraçando rapidamente.
— Estou só fazendo uma visita e pensando no meu futuro.
— No seu futuro, princesa? Como assim? — Foi a vez de
Benjamin abraçá-la conforme eu cumprimentava Avalon.
Era incrível como as duas eram parecidas fisicamente, mas
diferentes até mesmo nos trejeitos. Aubrey deu um sorriso sorrateiro
para Benjamin.
— Sim, meu futuro, porque quando eu entrar para a
faculdade, vou virar líder de torcida!
Logan sacudiu a cabeça, preocupado, e Avalon riu.
— Aubrey não fala sobre outra coisa desde o último jogo de
vocês. Ela ficou apaixonada pela apresentação das líderes de torcida.
— O que é péssimo — Logan resmungou. — Eu não estarei
mais na faculdade quando você entrar, Aub. Quem vai te proteger
dos idiotas que adoram cercar as líderes de torcida?
— Logan, eu te amo, você sabe disso, mas dou graças a Deus
por você já ter se formado quando eu estiver na faculdade, porque
não quero sofrer como a Norah sofre.
— O quê? A Norah não sofre nada!
— Isso é relativo — Avalon comentou com um sorriso.
— Eu a protejo, só isso!
— Concordo com o Logan — disse Ben, abraçando Aubrey
pelos ombros. — Quem vai proteger você, princesa? Eu conheço os
homens, todos eles são canalhas.
— Inclusive você? — perguntou ela com uma sobrancelha
arqueada.
— Principalmente eu. — Benjamin sorriu.
— Ben é um idiota, não acredite nele, Aubrey. Eu não sou
canalha — falei e apontei para Logan. — Esse chato também não é.
— Mas Benjamin é mesmo um canalha — disse Logan
conforme sorria. — Quer saber? Não vou ficar sofrendo por
antecedência. Você só tem quatorze anos, até entrar para a
faculdade, já vai ter se esquecido dessa história de virar líder de
torcida.
— Eu não vou me esquecer. Vou ser uma líder de torcida, pode
ter certeza.
Avalon apenas sorriu e Logan soltou um suspiro de pesar. Eu ri
baixinho. Meu amigo estava bem longe de encontrar a paz que tanto
queria. Aubrey daria trabalho para ele, com certeza.
Minha mãe amava música clássica e me colocou em aulas de
piano antes mesmo que eu sonhasse em ser atriz de musical. Meu
professor, um francês chamado Pierre, ia duas vezes por semana em
nossa casa me dar aulas sobre o instrumento e eu acabei me
apaixonando também. Adorava tocar para minha mãe e ver o sorriso
em seu rosto, mas o que realmente me enchia de alegria, era cantar
enquanto tocava. Apesar de querer ser atriz, quando menor, eu era
tímida, mas sempre cantava e tocava em datas especiais como
Natal, aniversário dos meus pais e da minha avó. Era um momento
gostoso que passávamos em família.
Depois que minha mãe faleceu, fiquei meses sem chegar perto
de um piano. O instrumento belíssimo parecia me encarar sempre
que eu ia para casa do meu pai e me deixava angustiada, com o
peito apertado com a saudade. Eu ainda me sentia assim, mas vinha
sonhando constantemente com a minha mãe e com o seu enterro.
Sentia uma falta absurda dela e parecia que apenas a música e o
palco aplacavam um pouco aquela sensação. Por isso, no final da
aula de sexta-feira, fui direto para a sala de música, encontrando o
lugar vazio, e me sentei em frente ao piano de cauda.
Minhas mãos tremeram conforme meus dedos passavam por
cima das teclas brancas e lisas. Eu quase podia sentir a presença da
minha mãe, seu sorriso bonito e os seus olhos emocionados. Meu
coração ficou ainda mais apertado. Eu queria apenas olhar para ela
uma última vez. Em meus sonhos, eu nunca a via, apenas tinha a
sensação de que ela estava por perto nas raras vezes em que não
sonhava que eu estava no cemitério. Daria tudo para sentir ao
menos o seu cheiro ou ouvir o som da sua voz.
Comecei a tocar as primeiras notas de I Say A Little Prayer, de
Areta Franklin, quase que de forma automática. Logo entendi que
tocar aquela música era uma necessidade da minha alma, uma
forma de colocar para fora o que eu estava sentindo. Aquela era a
canção favorita da minha mãe e comecei a cantar baixinho, sentindo
meus olhos se encherem de lágrimas.
Eu sabia que estava na sala de música da faculdade e que
qualquer pessoa poderia entrar, mas não me importei. De olhos
fechados, cantando e tocando, eu só conseguia ver a minha mãe e o
seu sorriso, e o meu peito foi, aos poucos, afrouxando aquele nó
desesperador.
Quando cheguei no refrão, não pude mais segurar as minhas
lágrimas. Aquela música sempre foi especial para mim porque ela
era especial para minha mãe, mas sua letra falou muito comigo
naquele momento. A estrofe em que dizia nós nunca iríamos nos
separar. Eu acreditava fielmente nisso. Ainda que sentisse saudade e
revolta pela sua morte repentina, eu sabia que nada, nem mesmo a
distância física, me afastaria da minha mãe. Ficaríamos juntas para
sempre.
Abri meus olhos assim que terminei de tocar a última estrofe,
sentindo minhas bochechas molhadas e a respiração levemente
ofegante. Encarei o dia lá fora pela janela, o céu azul e sem nuvens,
com o sol brilhando, apesar do frio porque estávamos no inverno.
Torci para que minha mãe tivesse conseguido me ouvir e que
estivesse feliz por eu finalmente ter conseguido voltar a tocar o seu
instrumento favorito. O barulho de palmas me fez dar um pulo no
banco acolchoado e me virar para trás.
— Você é extraordinária.
Foi Mason quem disse. Ele estava parado perto da porta
fechada, ainda batendo palmas. Começou a se aproximar de mim
com um sorriso bonito no rosto e eu senti minhas bochechas ficarem
quentes conforme limpava rapidamente as minhas lágrimas.
— Meu Deus, eu nem te ouvi entrar. Está aqui há muito
tempo?
— O suficiente para ouvir a voz mais bonita do mundo. —
Mason parou ao lado do piano ainda sorrindo. — Sinto muito se
estou parecendo um intrometido. Eu vi você entrando na sala de
música e não consegui me conter, precisei vir atrás de você.
Por um momento, eu não soube o que dizer. Aquele era, sim,
um momento íntimo, mas como poderia culpá-lo por ter assistido? A
sala de música da faculdade era um espaço livre, qualquer aluno
poderia frequentar e usar os instrumentos. Se não fosse Mason a me
assistir, poderia ter sido outra pessoa. Talvez fosse melhor que
tivesse sido ele.
— Está tudo bem. — Sorri para ele, me sentindo tímida. Uma
boba que não sabia como se comportar na frente de um cara bonito.
— E obrigada pelos elogios. Estou meio enferrujada no piano, sei
que preciso melhorar.
— Eu não acho. Não sou nenhum profissional, mas meu pai
ama música clássica e já me obrigou a ir com ele a alguns
concertos, portanto, posso dizer que tenho um bom ouvido. Você
toca muito bem, Norah.
Eu desviei o olhar, sentindo minhas bochechas mais quentes
ainda. Mason gostara. Eu não sabia ao certo como reagir àquilo.
— Você era obrigado a ir? Não gostava de concertos musicais?
— perguntei, me obrigando a desviar o foco sobre mim.
— Não posso dizer que sou um grande fã de música erudita e,
quando mais novo, achava um pouco chato, mas ia para agradar
meu pai. Hoje, eu sou mais eclético, e até escuto solo de piano
quando preciso relaxar.
— E dá certo?
— Geralmente, sim. Fico muito tenso quando nos
aproximamos do início da temporada e utilizo qualquer meio que
consiga me relaxar.
— E o que te ajuda a relaxar sem ser solo de piano?
Mason ficou um tempinho em silêncio, parecendo pensar.
— Exercícios físicos, assistir um filme, passar um tempo com
os meus amigos... — Ele me olhou e abriu um novo sorriso. —
Conversar com garotas bonitas na sala de música da faculdade.
Ouvir aquilo me arrancou uma risada.
— Não estamos perto da temporada de futebol.
— Sim, você tem razão, mas eu estou tenso de qualquer
forma.
— Está? Por quê?
— Porque quero te chamar para sair e estou com medo de
levar um fora.
Eu abri e fechei a boca duas vezes, sendo pega
completamente de surpresa. Se havia qualquer dúvida de que Mason
estava flertando comigo, agora, não restava mais nada. Era real. Ele
queria sair comigo. E eu não sabia direito como reagir.
— E o meu irmão? — Foi a primeira coisa que saiu da minha
boca e eu senti vontade de me dar um tapa.
Como eu era idiota! Vivia reclamando que Logan me mantinha
longe dos garotos da faculdade e quando um demonstrava interesse
em sair comigo, era no nome do meu irmão que eu tocava? Fala
sério, Norah!
— O que tem o seu irmão?
— Nada. Quer dizer... Você sabe que ele tem uma fama.
— De colocar medo nos caras? — Eu apenas concordei com a
cabeça e Mason me deu um sorriso confiante. — Isso não funciona
comigo. E pode perguntar ao James, nós tivemos uma conversa
séria no início da semana e eu deixei bem claro que não sou um
babaca.
— Vocês conversaram?
— Sim, James se preocupa com você, acho que te vê como
uma irmã mais nova. — Eu engoli em seco ao ouvir aquilo e fiquei
me perguntando por que James não me contara nada sobre a
conversa que teve com Mason. — Você é linda, Norah, e não consigo
parar de pensar em você desde a festa da vitória do Crimson,
quando pensei que estava fumando maconha no banheiro.
— Eu não estava fumando — lembrei a ele com um sorriso.
— Sim, eu não me esqueci disso. — Mason riu. — Quero te
conhecer melhor. Aceita sair comigo hoje à noite? Podemos jantar ou
pegar um cinema. Você escolhe.
Eu respirei fundo, sentindo um frio imenso na barriga de
ansiedade e expectativa. Já tinha ido a alguns encontros quando
ainda estava no ensino médio, mas todos foram bobos, coisa de
adolescente. Aquela era a primeira vez que eu sairia com um homem
de verdade e, por mais que quisesse muito ter essa experiência,
estava com medo. E se eu não soubesse me comportar? E se Mason
pensasse que eu era uma boba? Mordi o lábio, me sentindo
insegura. Senti vontade de sair correndo e conversar com James,
pedir o seu conselho, mas não faria isso.
Eu era adulta agora e precisava agir como tal.
— Sim, eu aceito sair com você, Mason.
A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa, foi me jogar
na cama e gritar contra o travesseiro, surtando de ansiedade. Eu
queria tanto viver aquela experiência, sair com um homem de
verdade pela primeira vez após entrar na faculdade, mas agora
estava me sentindo insegura, como se estivesse andando em uma
corda bamba.
Estava mesmo preparada para aquilo? Talvez fosse melhor
cancelar o encontro. Mason e eu trocamos número de celular, eu
podia inventar uma desculpa. Ergui a cabeça do travesseiro, me
sentindo confusa, e olhei para o aparelho ao meu lado. Tomei um
susto quando a tela se acendeu com uma notificação de mensagem.
Meu coração ameaçou escapar da minha boca quando pensei que
fosse Mason, mas me acalmei ao ver que era uma mensagem de
Alicia. Peguei o celular e comecei a ler.

Alicia: Oi, amiga! Queria ter falado com você mais cedo
na aula, mas precisei conversar com o professor e não
consegui te encontrar quando deixei a sala. Queria saber se
você pode me passar o número do James.

Eu li e reli a mensagem de Alicia, sem saber ao certo o que


estava sentindo. Um bolo se alojou em meu estômago e eu quase
revirei os olhos para mim mesma, incomodada com aquele ciúme
fora de hora. Sabia que Alicia estava interessada em James, ela
deixou isso bem claro quando estávamos no Maeve’s Bar e, por mais
que James tivesse afirmado que não era para ela que ele estava
olhando, eu sabia que ele não dispensaria o contato de uma mulher
bonita.
James poderia não ser um mulherengo como Benjamin, mas
era homem e Alicia era muito bonita. Tinha certeza de que ele
adoraria conhecê-la melhor.
Duas batidas na porta do meu quarto me fizeram deixar o
celular de lado sobre a cama. Como se soubesse que era o dono dos
meus pensamentos, James abriu a porta e me deu um sorriso.
— Posso entrar?
— Não. — Revirei os olhos e ele riu. — É claro que pode.
James entrou e fechou a porta atrás de si. Estava muito bonito
com um jeans preto e camisa cinza de meia-manga. Não calçava
nada nos pés e quase o xinguei por até mesmo os dedos dos seus
pés serem bonitos.
— Lançou um jogo hoje de manhã, de zumbis com muito
sangue e tiro, do jeito que a gente gosta. Vamos jogar hoje à noite?
— perguntou, jogando-se em minha cama.
— Mason me chamou para sair — falei de repente, talvez
rápido demais.
James arregalou levemente os olhos e se sentou de frente
para mim. Seu sorriso pareceu vacilar um pouco, mas talvez tenha
sido somente uma impressão minha.
— É mesmo? Quando?
— Hoje. Ele disse que podemos ir ao cinema ou jantar, mas
que ficaria à minha escolha.
— E o que você escolheu?
— Nada! — Joguei minha cabeça para trás e escondi meu
rosto com as duas mãos. — Eu nem sei se devo ir a esse encontro!
— Como assim? — Senti James se aproximar e tocar
gentilmente em meus pulsos, tirando minhas mãos da frente do meu
rosto. — Norah, não era isso que você queria? Sair com Mason e o
conhecer melhor?
— Sim.
— Então, por que está agindo desse jeito? Não deveria estar
feliz?
Sim, eu deveria.
Na verdade, uma parte de mim estava feliz, mas ela era
pequena. A insegurança e ansiedade a sufocavam.
— Estou com medo — confidenciei baixinho.
— Medo de quê? — Não havia julgamento nos olhos de James.
Como sempre, ele me encarava com compreensão e carinho.
— De Mason achar que eu sou uma idiota. Não tenho
experiência com esse tipo de coisa, acho que estou cometendo um
erro ao tentar conhecer alguém. — Respirei fundo, me obrigando a
ficar calma. — É isso, estou cometendo um erro. Vou mandar uma
mensagem para ele e desmarcar tudo.
Peguei o celular ao meu lado, mas James segurou a minha
mão antes que eu pudesse desbloquear o aparelho.
— Norah, você não está cometendo um erro, pelo contrário.
Está sendo corajosa. Se sentir insegura é normal, até eu me sinto
inseguro quando estou prestes a conhecer uma garota.
— Você é um péssimo mentiroso, James McHugh!
— Não estou mentindo. — James sorriu, mas havia seriedade
em seus olhos. — Você sabe que eu seria o primeiro a te
desencorajar se acreditasse que estaria prestes a se meter em
encrenca. Sou seu melhor amigo, sempre vou priorizar o seu bem,
mesmo que isso te irrite às vezes. — Ele riu. — Mas Mason parece
mesmo ser um cara legal. Nós conversamos dias atrás...
— Uma conversa que você nem me disse que teve com ele —
salientei, vendo seu olhar meio culpado.
— Sim, eu sei disso, mas não falei nada porque eu já tinha
conversado com você antes e afirmado que Mason não era um
babaca. Ele apenas me disse isso quando conversamos, o que me
leva a acreditar que ele é mesmo um cara legal, digno de sair com
uma garota incrível como você.
Eu sacodi a cabeça, me sentindo ainda insegura e um pouco
tímida.
— Você fala como se eu fosse a garota mais especial do
mundo.
— Mas você é. — James disse com tanta certeza, que eu
quase perdi o fôlego. Ele limpou a garganta e continuou: — E
merece começar a viver. Merece conhecer alguém e se apaixonar.
Sei que quer isso, que quer viver um relacionamento. Não deixe que
a sua insegurança atrapalhe a sua coragem.
— E se eu não souber o que conversar com ele? Só fui a
encontros quando era adolescente, é tudo diferente agora.
— Você é uma garota inteligente e bem-humorada, é claro que
vai saber o que conversar com ele. Mason que deveria estar com
medo, ele não faz ideia de que está prestes a levar para sair a
garota mais incrível do mundo, com uma língua afiada e sanguinária
quando o assunto é jogo de videogame.
Eu ri, sentindo parte da minha tensão ir embora, meu coração
se acalmando no peito. James era o único que conseguia me deixar
daquele jeito.
— Tudo bem, você me convenceu. Não vou desmarcar o
encontro.
— Ótimo! — James tirou o celular da minha mão. — Vai ser
um momento muito especial, Norah, eu tenho certeza. Se não for,
meu punho está preparado para atingir a cara de Mason.
— Não vai ser preciso usar a violência — afirmei, me
levantando. — Agora você precisa me ajudar a encontrar algo para
vestir.
— Eu?
— Sim, você é o meu melhor amigo, não foi o que disse? —
Abri a porta do closet e acendi a luz, dando uma olhada geral dentro
do armário. Opções não faltavam e fiquei me perguntando se aquilo
era bom ou ruim. — Sei que está frio, mas acho que prefiro ir de
vestido. Eu fico mais gostosa de vestido, não é verdade?
Observei James parar no batente da porta pelo espelho de
corpo inteiro que ficava no fundo do closet. Ele cruzou os braços.
— Que tipo de amigo diz que uma amiga está gostosa, Norah?
— O tipo de amigo sincero. — Comecei a olhar meus vestidos,
descartando alguns e separando outros.
— Não seria melhor chamar Avalon para te ajudar?
— Se eu fizer isso, vou ter que explicar para o meu irmão
porque eu preciso da ajuda de Avalon e não quero que ele saiba do
encontro. Inclusive, eu preciso da sua ajuda! Você não pode ficar em
casa hoje à noite.
— O quê?
— É isso mesmo. Você vai fingir que vai sair comigo.
— Como é que é?
Revirei os olhos. Por que os homens eram tão lentos às vezes?
— É isso mesmo que você ouviu. Eu poderia falar para Logan
que vou sair com John, mas ele e o namorado estão viajando nesse
final de semana e postando um story atrás do outro, meu irmão
segue os dois, logo descobriria a mentira, então, é você que vai ter
que me dar cobertura.
James coçou os olhos, parecendo quase arrependido por não
ter me dissuadido da ideia de cancelar o encontro.
— E onde eu vou ficar enquanto você está em um encontro
com Mason, Norah?
Olhei para James e tive uma ideia. Não sabia se era boa, no
fundo, eu ainda estava com ciúmes, mas me obriguei a desapegar
do sentimento. Se eu estava prestes a ter um encontro, James
merecia o mesmo.
— Alicia pediu o seu número. Você podia chamá-la para sair.
— Alicia? Aquela sua amiga que estava no Maeve’s? — Eu
apenas concordei com a cabeça. — Como ela é?
— Muito legal! Simpática, extrovertida, além de ser linda! Você
vai amar sair com ela!
James estreitou os olhos para mim.
— Não sei se posso levar a sua opinião em consideração,
Norah.
— Claro que pode, eu sou sua melhor amiga, jamais te
colocaria em uma furada! — Aproximei-me dele e apertei suas
bochechas. — Diz que aceita, por favor!
James ficou um tempo em silêncio, ainda me encarando com
desconfiança, mas logo concordou com a cabeça.
— Está bem, eu aceito, mas se Alicia for chata, você vai se ver
comigo.
Eu sorri, me obrigando a demonstrar mais entusiasmo do que
realmente sentia ao pensar em James e Alicia juntos. Passei o
número dela para ele e voltei a escolher um vestido para aquela
noite.
Norah estava um espetáculo.
Fiquei parado no meio do seu quarto como um idiota conforme
ela andava de um lado para o outro, observando-a colocar um par
de brincos, passar o seu perfume favorito e retocar o batom rosado
nos lábios. Ela escolhera um vestido preto todo colado ao corpo que
terminava muitos centímetros acima do seu joelho e tinha um
decote delicado no colo, deixando à mostra o início dos seus seios.
Usava uma meia-calça cor da pele e que a manteria aquecida e um
parte de botas de couro.
Puta merda, Norah estava linda.
Não apenas isso. Ela estava gostosa.
Quis arrancar os meus olhos e dar um soco na minha cara. Eu
não deveria estar pensando daquela forma sobre Norah. Era errado
pra caralho. Quebrava a regra universal da amizade entre os
homens. Não cobiçarás a irmã do seu amigo. E o que eu estava
fazendo agora? Babando em Norah como se ela não fosse a irmã de
Logan.
— Como estou?
A filha da mãe parou na minha frente e deu uma voltinha
lentamente, quase me dando um ataque cardíaco. Fazia dezessete
graus do lado de fora, o aquecedor dentro de casa nos mantinha
confortáveis e aquecidos, mas fogo pareceu se alastrar pelas minhas
veias sem qualquer explicação. Engoli em seco.
Não olhe para a bunda dela, não olhe para a bunda dela, não
olhe para a bunda...
Porra, eu olhei.
Dei um passo para trás como se tivesse levado um golpe e me
recusei a admitir que meu pau deu sinal de vida dentro da cueca.
Errado. Tudo isso é errado pra caralho, James McHugh!
Comporte-se!
— James? — Norah me chamou com os olhos levemente
arregalados. — Exagerei, não é? Droga, eu sabia! Vou trocar de
roupa!
— Não! — Aproximei-me de Norah rapidamente, segurando-a
pela mão antes que se afastasse em direção ao closet. — Você está
tão linda, que eu fiquei sem palavras.
Seu olhar inseguro apertou o meu peito e me deixou meio
puto por Norah realmente acreditar que não era a porra de uma
deusa.
— Não precisa mentir para me agradar.
— Não estou mentindo, eu juro. Você está maravilhosa, Norah.
Quer saber a verdade? — Norah confirmou com a cabeça e eu me
obriguei a colocar para fora o que realmente estava pensando. —
Você está gostosa. Pelo amor de Deus, nunca conte para o seu
irmão que um dia eu te chamei de gostosa, ok? Eu gosto da minha
cabeça exatamente onde ela está agora, em cima do meu pescoço.
Norah começou a rir e a sua gargalhada aqueceu o meu
estômago. Fiquei feliz por ver a sua insegurança diminuir. Acreditava
que ter passado o primeiro ano de faculdade focada em Logan após
a morte da mãe e ainda sendo obrigada a ver o seu irmão colocar
medo nos babacas do campus, acabou afetando a sua autoestima.
Norah era linda demais, talvez a mulher mais linda que eu conhecia,
e precisava se enxergar dessa forma.
— Não pensei que você realmente se preocupasse com essa
cabeça. Sempre achei que a sua cabeça de baixo era mais
importante — disse ela com aquele seu jeito inocente, como se não
imaginasse o impacto que suas palavras causariam em mim.
Mas a verdade era que suas palavras não deveriam causar
qualquer impacto. Norah era minha amiga. Irmã do meu melhor
amigo. Eu a enxergava como uma irmãzinha. Então por que as
coisas que ela dizia me tocavam de uma forma que não era
apropriada?
— Ela é muito importante, sim, mas seu irmão vai se manter
bem distante dela, porque essa cabeça nunca chegará perto de
você. — Pisquei para ela, vendo seu sorriso divertido. Era só uma
piadinha infame entre dois amigos. Eu precisava parar de surtar.
— Tem razão. — Norah se afastou e parou em frente ao
espelho de corpo todo que havia em seu quarto. — Só espero que
Logan também se mantenha distante de Mason, porque talvez a
cabeça dele um dia chegue perto de mim.
Ah, porra.
Norah queria me matar do coração?
— Eu não quero ouvir sobre isso! — falei mais sério do que
deveria e Norah me olhou com surpresa através do espelho. Limpei
a garganta e me obriguei a não soar como um babaca. — Sério, não
quero imaginar vocês dois juntos dessa forma.
— Nós somos amigos, James. E se eu quiser conversar sobre
sexo com você?
— Não quero imaginar você transando, Norah! Há um limite
para tudo nessa vida.
Norah revirou os olhos e pegou sua bolsa em cima da cama.
— Eu sou obrigada a ouvir toda putaria que você e Benjamin
fazem com as meninas, mas você não pode conversar comigo sobre
sexo?
— Nós nunca contamos qualquer detalhe para você.
— Verdade, mas vivem conversando sobre isso perto de mim.
Eu tenho ouvidos, sabia? E eles funcionam muito bem!
Merda.
Nunca parei para pensar realmente sobre aquilo. Não que eu
fosse o rei do sexo como Benjamin, que praticamente vivia com o
pau enfiado entre as pernas de uma garota, mas, às vezes, nós
conversávamos sobre uma noite ou outra com alguma menina.
Norah morava conosco há um ano, estávamos tão acostumados à
sua presença, que conversar sobre qualquer assunto com ela por
perto se tornara natural. Me senti um babaca.
— Nós somos dois idiotas — falei, me aproximando dela e
dando um beijo em sua testa. — Nos desculpe por isso, ok? Se
Benjamin começar a falar sobre sexo na sua frente, juro que corto a
língua dele fora.
Norah revirou os olhos e eu senti que havia falado alguma
coisa errada.
— Ben pode falar sobre sexo na minha frente porque eu não
sou mais uma criança, James. Sou uma mulher adulta e está na hora
de você e meu irmão enxergarem isso. — Norah deu um passo para
trás e vestiu rapidamente o sobretudo preto, que escondeu
completamente o vestido que usava. — Estou pronta, podemos ir.
Pensei em insistir no assunto e afirmar que eu não via Norah
como uma criança, mas ela se afastou e saiu do quarto. Que ótimo.
Agora ela estava puta comigo. Respirei fundo e saí logo atrás dela,
encontrando Logan e Benjamin na sala, os dois arrumados para sair
e curtir a noite de sexta-feira — Logan no Maeve’s Bar observando
Avalon trabalhar e Benjamin em alguma festa cheia de bebida
alcoólica. Logan arqueou as duas sobrancelhas ao observar Norah e
eu juntos perto da escada.
— Vão sair?
— Sim! Vamos ao cinema. — Norah forçou um sorriso
entusiasmado demais. Ela era uma péssima mentirosa. — Nem
estava muito a fim de ir, mas James insistiu.
— Não estava a fim de ir e se maquiou toda mesmo assim? —
Logan perguntou com uma leve desconfiança.
Será que ele sabia de alguma coisa? Benjamin teria deixado
escapar algo sobre o interesse de Mason em Norah?
— Sua irmã é vaidosa, deixa de ser chato, Logan — falei,
passando meu braço pelos ombros de Norah. — Vamos? Não
podemos nos atrasar.
Norah concordou com a cabeça e Logan se levantou do sofá,
aproximando-se para abraçá-la. Ele deixou um beijo sobre os seus
cabelos e sorriu.
— Desculpa, não quis ser um idiota. Divirtam-se. — Ele se
virou para mim. — E cuide bem da minha irmã.
— Sempre. — Toquei meu punho fechado no dele.
Benjamin observou tudo em silêncio, com um sorrisinho nos
lábios. Ele provavelmente desconfiava que eu estava prestes a
acobertar Norah e me deu um olhar divertido antes de sairmos de
casa. Provavelmente, estava pensando que eu era doido, e eu não
podia negar aquilo.
Abri a porta do passageiro para que Norah entrasse e dei a
volta no veículo. Ela combinara de jantar com Mason e ele se
ofereceu para buscá-la, mas Norah não aceitou, afinal, precisava
manter o encontro em segredo, então, eu a levaria até o
restaurante, em seguida, encontraria com Alicia.
Ainda não acreditava que eu tinha mesmo convidado a amiga
de Norah para um encontro. Não que Alicia não fosse uma mulher
bonita; ela realmente era. Mas eu estava fazendo aquilo muito mais
por Norah do que por mim.
Comecei a dirigir até o restaurante e Norah se manteve calada,
mas suas mãos estavam inquietas. Ela ligou o rádio, mexeu no
aquecimento do carro, abriu e fechou a bolsa algumas vezes, até eu
ser obrigado a perguntar:
— Está chateada comigo? — Seus olhos surpresos se
encontraram com os meus e percebi que ela não esperava pelo meu
questionamento. — Eu não vejo você como uma criança, sabe disso,
não sabe? Se a enxergasse assim, não estaria te levando escondido
para um encontro.
Norah mordeu o lábio inferior e suas bochechas ficaram
rosadas.
— Quando você fala assim, eu me sinto uma criança. Pareço
uma adolescente que precisa sair escondida dos pais. Isso é tão
ridículo! — Ela sacodiu a cabeça meio desanimada.
— Pense que é por um bom motivo. Você está apenas
conhecendo Mason, não precisa envolver o seu irmão nisso, deixe
para conversar com ele caso vocês dois comecem a se envolver.
As palavras deixaram a minha boca quase que de forma
mecânica, não porque eu fosse frio ou calculista, mas porque ainda
era estranho pensar em Norah namorando alguém. Eu precisava
parar de agir como Logan. Se estava afirmando que não via Norah
como uma criança, então, aquela sensação esquisita em meu peito
precisava passar.
— Sim, você tem razão. — Norah suspirou. — E eu não estou
chateada com você. Como poderia me sentir assim? Você está ao
meu lado agora, me apoiando, mesmo que para isso, precise mentir
para o meu irmão. Sei que não gosta de esconder nada do Logan,
muito menos enganá-lo, mas está fazendo isso por mim. Acho que
te amo um pouquinho mais agora, James. — Um sorriso bonito se
abriu nos lábios dela e eu finalmente relaxei conforme dirigia.
— É bom que me ame mesmo. E que me acorde amanhã com
café da manhã na cama.
— Farei isso se você passar a noite em casa.
— Onde mais eu passaria a noite?
— Com Alicia? — perguntou ela com uma sobrancelha
arqueada. — Vocês vão sair juntos, talvez queiram transar. — Norah
deu de ombros e voltou a olhar pela janela.
— Não sei se você se lembra, mas eu combinei de buscá-la no
restaurante mais tarde — falei.
Norah voltou a me olhar.
— Não precisa se prender por mim, de verdade. Meu irmão vai
para o bar ficar com Avalon e provavelmente passará a noite com
ela, eu posso ir embora de Uber.
Franzi o cenho e olhei para Norah sem entender o que tudo
aquilo significava.
— Por que você está insistindo tanto para que eu fique com
essa sua amiga?
— O quê? — Norah arregalou os olhos. — Não estou
insistindo.
— Não? Acabou de falar que pode ir embora com um carro de
aplicativo caso eu queira transar com ela.
— Porque eu sei que isso pode acontecer e não quero que
você deixe de curtir a sua noite por minha causa. Já está mentindo
por mim, não precisa fazer mais do que isso.
Parei o carro em frente ao restaurante, deixando o pisca-alerta
ligado para que o frentista soubesse que eu não ficaria estacionado
ali por muito tempo, e me virei para Norah. Toquei em seu queixo
com delicadeza, querendo que ela olhasse em meus olhos.
— Norah, preste atenção. Eu faria muito mais do que mentir
por você. Eu jamais daria prioridade para um encontro, com uma
menina que eu ainda nem conheço, e deixaria você sozinha.
Entende isso? Você é mais importante para mim do que todas essas
coisas. Não vou mudar o que combinamos, estarei aqui assim que o
seu jantar com Mason terminar e iremos juntos para casa.
Norah voltou a morder o lábio inferior e meus olhos
observaram tudo de perto, com interesse demais. Obriguei-me a
voltar a olhar para os seus olhos e encontrei neles um brilho
diferente, que não soube identificar o que era.
— Está bem. Mas se depois que me deixar em casa você
quiser sair para se encontrar com ela...
— Não vou querer — garanti e me estiquei para deixar um
beijo em sua bochecha. — Divirta-se no seu encontro e me ligue se
precisar de qualquer coisa, entendeu? Se Mason fizer algo que você
não goste, dê um chute no saco dele e o resto eu resolvo.
Norah riu e deu um tapinha de leve em meu braço.
— Já disse que não será preciso usar a violência. — Ela tocou
na maçaneta do carro e se virou para mim antes de sair. — Obrigado
por tudo, James. Amo você.
— Também amo você, baixinha.
Norah piscou para mim e saiu do carro, deixando apenas o
cheiro do seu perfume para trás. Fiquei ali até ela entrar no
restaurante e senti um vazio esquisito em meu peito quando seus
cabelos longos e cacheados sumiram das minhas vistas.
Obriguei-me a colocar o carro em movimento depois de enviar
uma mensagem para Alicia, avisando que eu já estava a caminho
para encontrá-la, e torci para que Norah tivesse uma noite incrível e
que Mason não a decepcionasse, porque se Norah aparecesse com o
semblante chateado quando eu fosse buscá-la, eu acabaria com
aquele filho da puta. Meu celular tocou quando eu já estava perto do
restaurante onde encontraria Alicia e atendi direto pelo painel do
carro ao ver que era minha avó.
— Oi, vovó! Está tudo bem? — perguntei, pois ela não tinha o
costume de me ligar à noite.
— James, aconteceu algo muito sério!
— O que houve? — Dei seta para a esquerda e parei rente ao
meio-fio. — O que aconteceu, vovó?
— Estou vendo uma tragédia se desenrolar bem na minha
frente!
— Onde a senhora está? Vou buscá-la agora! — perguntei,
quase colocando o carro em movimento novamente.
— Estou jantando com a minha amiga Samantha, lembra dela?
Que se mudou para Nova York? Ela veio passar as festas de final de
ano aqui no Alabama e acabou estendendo as férias, vai ficar aqui
até o final de janeiro...
— Sim, vovó, eu me lembro dela. O que está acontecendo?
Estou preocupado!
— Nós estamos em um restaurante e Norah está aqui
também! Ela está jantando com um rapaz que parece ter a sua
idade. James, isso não pode acontecer! Se Norah começar a
namorar, com quem você vai se casar?
Eu fiquei atônito por alguns segundos, ainda sentindo meu
coração acelerado no peito e as juntas dos meus dedos doendo de
tanto apertarem o volante. Joguei a cabeça para trás e respirei
fundo, uma gota de suor gelado escorrendo pela minha nuca.
— Vovó, a senhora quer me matar do coração? Eu pensei que
fosse algo sério!
— Mas isso é muito sério, James! Será que não percebe?
Norah está conhecendo um rapaz, você não pode deixar isso
acontecer!
— Vovó, eu sei com quem Norah está jantando, inclusive, fui
eu que a levei até o restaurante.
— O quê? Como teve coragem de fazer isso, James?! — Vovó
raramente excedia o tom de voz, mas ela fez aquilo naquele
momento.
— Norah e eu somos apenas amigos, vovó, a senhora precisa
entender isso.
— É você que precisa começar a enxergar o que está bem na
sua frente, meu filho. Não acredito que vai entregar Norah de
bandeja para esse loiro sem graça! Olha isso, Samantha! Eu não
consigo lidar com uma coisa dessa, meu neto é um homem
maravilhoso, lindo, inteligente, forte, o melhor jogador do Crimson
Tide, herdou o talento do meu Joseph para fotografia, mas é lento
demais quando o assunto é entender que está morando sob o
mesmo teto que a mulher da sua vida! A mãe dos meus bisnetos! Eu
estou indignada com isso!
Pude ouvir a voz da sua amiga ao fundo, mas não fiz questão
de entender o que ela estava dizendo.
— Vovó, a senhora precisa se acalmar...
— Não vou me acalmar, James! Como quer que eu me
acalme? Eu não suporto burrice e você está sendo burro, meu filho!
Sacodi a cabeça, sem saber se ria daquela situação ou se
tentava ter um pulso mais firme com a minha avó. Decidi ser
paciente. Ela era uma senhora de idade e eu sabia que a velhice
tornava as pessoas teimosas.
— Tudo bem, vovó. Escuta, eu vou passar na casa do meu pai
amanhã e a gente conversa com calma, tudo bem?
— Claro! E até lá, esse loiro sem graça já vai ter encantado
Norah e você vai perder a mulher da sua vida.
— Não vou perder ninguém, vovó — garanti, afinal, Norah não
era minha naquele sentido para perdê-la. — Deixe Norah curtir o
encontro dela enquanto eu vou curtir o meu.
— O quê? Você está indo para um encontro depois de entregar
a Norah de graça nas mãos desse loiro?
— Vovó, Norah é livre, assim como eu. Ela tem o direito de
jantar e se envolver com quem quiser.
— Não tem, não!
— Vovó, nós nos falamos amanhã, ok?
— Ok, James. Depois não venha chorar de arrependimento no
meu ombro.
Eu sorri, quase podendo ver o seu semblante irritado na minha
frente.
— Não fique irritada comigo, vovó. Eu te amo.
Pude ouvir o seu suspiro do outro lado da linha.
— Eu também te amo, meu neto, mesmo quando é burro.
Vovó Emory desligou e eu ri, voltando a colocar o carro em
movimento. Uma hora ela desistiria daquela ideia de que Norah seria
a minha esposa, eu tinha certeza disso.
Mason veio ao meu encontro assim que entrei no restaurante.
Ele já estava na mesa à minha espera, mas não esperou que o
maître me levasse até o lugar reservado e me encontrou no meio do
caminho com um sorriso bonito e muito bem-vestido. Usava um
jeans azul-escuro, sapatos de grife e uma blusa social de seda na
cor cinza, com os primeiros botões abertos. Pude notar que ele tinha
pelos loiros e finos no peitoral. Seu perfume quase me fez espirrar
quando me abraçou, pois estava forte demais, mas sua beleza e
carisma compensavam todo o resto.
Nós nos aproximamos da mesa e ele me ajudou a tirar o
sobretudo, entregando-o ao maître para que eu pegasse a peça
apenas na hora de ir embora. Fiz de tudo para não estremecer de
timidez sob o seu olhar intenso, que me percorreu da cabeça aos
pés.
— Norah, você está deslumbrante. Não imaginei que
conseguiria ficar mais bonita do que já é normalmente.
Eu sorri, tentando ignorar o frio na barriga e as mãos úmidas
de suor.
— Obrigada, Mason, você também está muito bonito.
— Isso é obra da minha mãe — disse ele conforme arrastava a
cadeira para que eu me sentasse. Encarei-o com certa dúvida assim
que se sentou à minha frente.
— Obra da sua mãe? Como assim? Ela te vestiu?
— Ela me ensinou a me vestir. — O garçom se aproximou e
pediu licença ao nos entregar o cardápio. — Durante muitos anos,
minha mãe foi editora-chefe de uma revista especializada em moda.
— É mesmo? Não fazia ideia disso. Qual é o nome dela?
— Heather Goldberg.
— Heather Goldberg da revista Burn Fashion? — Mason
apenas concordou com a cabeça e eu fiquei boquiaberta. — Meu
Deus, eu não poderia imaginar! Minha mãe já foi convidada para a
New York Fashion Week algumas vezes e eu a acompanhei, um dos
nossos amigos nos apresentou à sua mãe em um evento anos atrás.
— Que mundo pequeno, Norah! Sua mãe é modelo?
— Era advogada.
— Era?
— Ela faleceu há um ano, vítima de um acidente de carro.
— Norah... — Mason esticou a mão sobre a mesa até
entrelaçar nossos dedos. — Sinto muito, eu não sabia.
— Tudo bem. — Forcei um sorriso, sem querer ficar triste ao
pensar na minha mãe. — Imagino como deve ter sido crescer ao
lado de um ícone da moda como a sua mãe.
— Por ela, eu seria modelo, mas nasci apaixonado por futebol,
não tinha como fugir do meu destino. — Mason sorriu e, caramba,
ele era bonito mesmo. — Apesar de ter frustrado os seus planos, ela
e meu pai sempre me apoiaram. Eles adoram afirmar que são meus
fãs número um.
— Imagino que sejam, que bom que você tem o apoio deles,
sei como isso é importante. Meus pais também sempre me apoiaram
em meu desejo de ser atriz.
— E como esse sonho surgiu para você?
Eu comecei a contar para Mason sobre minha mãe adorar
musicais e como isso acabou me influenciando. Ele ouviu tudo
atentamente e eu senti parte do meu nervosismo ir embora. Estava
sendo uma boba por estar tão insegura. Mason sempre se mostrou
um cara legal e extrovertido, era lógico que com ele a conversa
fluiria bem. Nós escolhemos nosso prato e, assim que o garçom se
afastou, pude notar como Mason não conseguia tirar os olhos de
mim.
Eu estava na frente dele, era a sua única acompanhante à
mesa, então, era óbvio que ele só tinha a mim para olhar, mas
mesmo eu, que não tinha muita experiência com flertes e encontros,
sabia o que aquela expressão em seu rosto significava. Mason
realmente achava que eu estava bonita. Ele me observava com
admiração e ter consciência disso me deixou meio tímida, mas
também poderosa. De uma forma muito louca, amaciou o meu ego,
e eu nem sabia que precisava disso para me sentir melhor naquela
noite.
— Sua mãe parecia ser uma mulher incrível, Norah, e fez
muito bem em te levar ao seu primeiro musical. Eu vi a forma como
você canta, consegue imprimir emoção em cada nota, eu fiquei tão
envolvido ao observá-la na frente daquele piano que, por um
momento, não parecia que eu estava em uma sala de música da
faculdade. Era como se eu tivesse sido transportado para outro
lugar. Não sei explicar.
Não pude conter o meu sorriso ao ouvir aquilo, a euforia que
tomou conta do meu peito. Eu amava a minha arte, era
completamente apaixonada pelo que fazia, e saber que Mason se
sentira daquele jeito me deixou extremamente feliz.
— Está falando a verdade?
— Claro que sim. — Ele estreitou um pouco os olhos. — Não
confia no talento que você tem?
— Sim, eu confio, mas é sempre um choque quando escuto
alguém falar que se sentiu tocado pelo que faço.
— Pois acostume-se com isso, receber elogios vai se tornar a
sua realidade em breve. — Mason sorriu e voltou a tocar a minha
mão por cima da mesa. — Acredita que eu não ia à festa de
comemoração do Crimson Tide naquela noite?
— Não ia? Por quê?
Observei rapidamente as nossas mãos unidas, seus dedos
longos e com unhas curtas. As mãos de James eram mais bonitas. E
eu não fazia ideia do porquê estava comparando a mão dos dois.
Tentei tirar aquilo da minha cabeça.
— Eu tinha chegado na cidade há poucos dias, não conhecia
ninguém, mas um dos jogadores reservas acabou me chamando
para tomar uma cerveja depois do jogo e me convenceu a ir com ele
para a casa do quarterback. Eu só fui porque sentia que seria bom
começar a me enturmar e pegar mais intimidade com os outros
jogadores do time. Nunca imaginei que encontraria a garota mais
bonita de todas saindo de um banheiro fedendo a maconha.
Eu ri, deixando o garfo dentro do prato.
— Você nunca vai se esquecer disso, não é?
— Como poderia esquecer? Foi um primeiro encontro bem
impactante e que me fez repensar muitas coisas.
— Como o quê, por exemplo?
— Como o fato de que eu havia prometido a mim mesmo que
iria focar exclusivamente no time e não me envolver com ninguém.
Olha onde estou agora. — Mason sorriu e olhou para a minha boca
conforme acariciava o dorso da minha mão. — Jantando com a
garota bonita que não fuma maconha e que, ainda por cima, é a
irmã protegida do quarterback.
— Não leve em consideração as ameaças do meu irmão.
— Eu respeito o seu irmão e, se tivesse uma irmã mais nova,
também a protegeria. Sei como os homens podem ser idiotas,
principalmente quando são jogadores de futebol. Já vi muita garota
saindo chorando de festas, até mesmo de vestiários, depois de levar
um fora de um jogador. Entendo Logan por não querer que você se
torne uma delas.
— E você já foi um desses jogadores? — perguntei com
curiosidade.
— Não. Minha mãe não me ensinou apenas a me vestir, ela
também me ensinou a respeitar as mulheres.
— Então, eu nunca estive errada por admirar Heather
Goldberg.
Mason riu.
— Nunca mesmo. Minha mãe é uma mulher extraordinária,
mas, voltando ao que eu estava dizendo, não acho que seu irmão
esteja errado.
— Mesmo assim, você ignorou todas as ameaças dele e está
aqui comigo agora.
— Não ignorei, apenas as relevei, porque Logan deixou claro
que não queria nenhum idiota cercando você e eu não sou um
idiota. — Mason me deu um sorrisinho confiante e eu sorri como
uma boba. — Quero mostrar isso para você primeiro antes de
mostrar para ele, afinal, você é a pessoa mais importante dessa
história.
Lembrei-me de James falando que eu não estava agindo como
uma adolescente por estar me encontrando escondida com Mason.
Ele tinha razão. Nós estávamos apenas conhecendo um ao outro,
meu irmão não precisava saber disso ainda. Eu não conseguiria
aturar o seu surto por algo tão bobo quanto um primeiro encontro.
— Eu sei que você não é um idiota, Mason.
— Porque foi isso que James te contou — concluiu.
— Também, mas porque você sempre foi simpático e honesto
comigo. E porque, aparentemente, não sente medo do meu irmão, o
que eu não posso dizer sobre os garotos da faculdade.
— Logan realmente colocava medo em todos eles?
— Sim. Meu irmão era pior antes, acredite, melhorou muito
depois que começou a namorar com a minha cunhada.
— Sorte a minha ter entrado na faculdade esse ano, então.
Mason piscou para mim e eu senti um frio na barriga. Ele ia
continuar a falar, mas algo às minhas costas chamou a sua atenção
e o fez desviar os olhos de mim. Eu me virei a tempo de ver o que
ele estava olhando e fiquei surpresa quando vovó Emory se
aproximou e fechou completamente a nossa distância, parando ao
meu lado na mesa.
— Norah, como é bom ver você, minha querida!
— Vovó Emory. — Soltei a mão de Mason e me levantei para
abraçá-la. — Que surpresa a encontrar por aqui. Está com Jonathan
e Louise?
— Não, eu estava com Samantha, uma amiga que veio passar
as férias no Alabama, mas ela já se foi. Quando a vi aqui, precisei
me aproximar para cumprimentá-la.
— É muito bom ver a senhora — falei com sinceridade, me
afastando para poder apontar para Mason, que havia acabado de se
levantar. — Esse aqui é Mason, um ami...
— Ah, meu Deus, está tudo rodando...
Vovó Emory cambaleou de repente e só não caiu no chão,
porque fui mais rápida e a amparei. Mason se aproximou correndo,
me ajudando a colocá-la sentada em minha cadeira conforme a
senhora balbuciava coisas estranhas e começava a passar mal. Senti
minhas pernas ficarem bambas, o terror me deixando enjoada.
— Vovó Emory! Por favor, fale comigo!
— Norah, minha querida... Acho que vou desmaiar...
— Meu Deus, chame uma ambulância, Mason!
— Claro, agora mesmo...
— Não! — Vovó Emory gritou e agarrou a minha mão com
uma força surpreendente. — Ligue para James, preciso do meu neto
aqui, por favor, Norah.
— Mas, vovó Emory, a senhora precisa de um médico.
— Não, eu preciso do meu neto! — Ela me olhou bem séria,
mas logo voltou a apresentar vertigem, sua cabeça caindo mole para
o lado. — Por favor, não estou me sentindo bem...
Eu olhei apavorada para Mason, vendo os clientes e
funcionários do restaurante começarem a se aproximar. Foi o
jogador quem tomou as rédeas da situação.
— Vou ligar para James.

— Vovó!
James entrou no restaurante de repente, ofegante e suado
como se tivesse acabado de correr uma maratona. Seus olhos
arregalados se encontraram com os meus conforme se aproximava
de onde a senhora estava, ainda parecendo prestes a desmaiar,
apesar de já ter tomado água e continuar segurando a minha mão.
Ele se ajoelhou ao lado da avó e tocou o seu rosto com cuidado.
— Vovó, eu vim o mais rápido que pude. O que está sentindo?
Vamos para o hospital.
— Não é preciso hospital, só quero que você e Norah me
levem para casa. Sinto que preciso me deitar... Não trouxe meu
remédio de pressão.
— Vovó, sabe que não pode sair sem o seu remédio na bolsa!
Meu Deus, poderia acontecer algo mais grave! Eu vou levá-la ao
hospital.
— Não quero ir para o hospital.
— Sem discussão, vovó! — James se ergueu e a pegou em
seus braços.
Vovó Emory era uma senhora baixinha e magra, com o cabelo
crespo muito bem-cuidado e cheio. Parecia mais nova do que
realmente era, mas a sua saúde frágil deixava bem claro a sua
idade.
— Também acho melhor ir para o hospital, vovó Emory, e se
for algo mais grave? — falei, sentindo Mason parar ao meu lado. Ele
pousou a mão em minha cintura e o gesto não passou despercebido
por James, muito menos por sua avó, que já não parecia mais estar
prestes a desmaiar.
Até sua cabeça cair mole de novo contra o peito do neto.
— Norah tem razão, no hospital o médico poderá tranquilizar a
todos ao afirmar que não é nada grave — disse Mason com um tom
preocupado.
Ele não saiu do nosso lado nem por um segundo e foi quem
pediu para que o garçom trouxesse água. Também fez com que os
curiosos se afastassem para que vovó Emory pudesse respirar.
— Sim, vocês têm razão, eu acho que é melhor mesmo ir ao
hospital... Quero que James e Norah me levem... — Sua voz soou
fraca e deixou o meu coração apertado.
E se fosse algo grave? Eu não queria pensar naquilo. Precisava
acompanhar os dois para ter certeza de que vovó Emory ficaria bem.
Virei-me para Mason com um olhar de desculpa.
— Eu vou com eles, tudo bem?
— Claro. Se quiser, posso acompanhar vocês, estou com o
meu carro aqui.
— Não precisa... — A voz de vovó Emory soou às minhas
costas e eu me virei a tempo de ver uma expressão de dor passar
pelo seu rosto. — Não quero dar trabalho para mais um jovem.
— Não seria trabalho algum — afirmou Mason, mas vovó
Emory tinha razão, não havia motivo para prendê-lo conosco em um
hospital.
— Está tudo bem, eu vou no banco de trás com vovó Emory
enquanto James dirige. Muito obrigada por ter ficado ao nosso lado.
— Não precisa agradecer. — Mason se inclinou em minha
direção e meu coração disparou em um misto de surpresa e
ansiedade ao pensar que me beijaria na boca, mas seus lábios se
encontraram com a minha bochecha. — Me mantenha informado,
ok?
Confirmei com a cabeça e nos afastamos depois de James
agradecer a ajuda de Mason. Fui logo atrás deles, pegando meu
sobretudo com o maître, e abri a porta do carro de James para que
ele pudesse acomodar vovó Emory no banco traseiro. Assim que ela
se sentou, pude ouvir a sua voz de dentro do veículo:
— Peça para que Norah vá ao seu lado, querido, eu preciso me
deitar um pouco.
James murmurou alguma coisa para ela e me deu um olhar
apreensivo ao fechar a porta.
— Ela desmaiou em algum momento, Norah? — perguntou ele
rapidamente.
— Não, mas apresentou vertigem. Acho que é melhor mesmo
levá-la ao hospital.
James concordou e deu a volta para poder ocupar o lugar do
motorista enquanto eu me sentava no banco do passageiro. Virei-me
para trás, encontrando vovó Emory deitada no banco, seus olhos
ligeiramente abertos acompanhando tudo. Estiquei-me e segurei a
sua mão conforme James colocava o carro em movimento.
— Fique falando comigo, vovó. O que está sentindo?
— Agora estou melhor. — Sua voz soou menos cansada. —
Podemos ir para casa.
— Nada disso, vamos para o hospital — James afirmou com
urgência.
— Não preciso de hospital, James.
— Precisa, vovó Emory, apenas para descartar a possibilidade
de que seja algo mais grave — falei.
Vovó Emory revirou os olhos e se ergueu sem muita
dificuldade, recostando-se contra o banco.
— Já estou melhor, não estão vendo? Acho que foi a comida
do restaurante. Estou apenas um pouco enjoada agora.
Eu me virei para James e o encontrei encarando a avó pelo
espelho retrovisor, seus olhos se estreitando conforme seus braços
ficavam tensos ao segurar o volante.
— A senhora não está mentindo sobre passar mal, está?
— Eu? Mentindo? Olha como fala comigo, James McHugh! Sou
sua avó!
— Exatamente, e eu a conheço muito bem.
— James. — Toquei em seu joelho e seus olhos se
encontraram com os meus rapidamente. — Claro que sua avó não
está mentindo. Pode ter sido apenas uma queda de pressão.
— Isso mesmo, foi só uma queda de pressão — afirmou vovó
Emory com muita convicção. — E agora eu já estou melhor. Leve-me
para casa.
— Eu deveria levá-la para o hospital e então o médico deixaria
bem claro se a senhora está mentindo ou não.
— Por que eu mentiria sobre isso? — perguntou ela com um
tom de desafio na voz.
James bufou e voltou a focar na direção, tomando o caminho
para a casa dos seus pais. Eu olhei para trás a tempo de ver vovó
Emory com o que parecia ser um leve sorriso nos lábios, mas a
expressão sumiu rápido demais. Fiquei confusa. Por que ela mentiria
sobre estar passando mal? Aquilo não fazia o menor sentido.
Voltei a segurar a sua mão e seguimos em silêncio até
entrarmos na mansão da família McHugh. James estacionou e saiu
do carro, dando a volta no veículo para voltar a tomar a avó nos
braços, que não protestou. Ela acariciou o peito do neto conforme
entrávamos na casa em estilo vitoriano.
— Eu te amo, meu neto, nunca se esqueça disso.
James pareceu ficar menos tenso ao ouvir aquilo e eu sorri. A
relação dos dois era tão bonita quanto a minha com a minha avó. Os
pais de James, que estavam na sala de TV, logo se levantaram assim
que entramos no cômodo, os dois ficando nervosos ao ver o filho
carregando a matriarca da família nos braços.
Fui eu que expliquei tudo o que aconteceu conforme a
levávamos para o segundo pavimento da casa. James acomodou
vovó Emory em sua cama e Louise foi buscar o seu remédio de
pressão.
— Mãe, por que não me ligou? Eu já estava ficando
preocupado, prestes a ir ao restaurante, pois fiquei esperando sua
ligação para que eu fosse buscá-la e estava demorando demais —
disse Jonathan ao se sentar ao lado de vovó Emory.
— Eu vi Norah jantando com um rapaz e me aproximei para
cumprimentá-la, acabei me sentindo mal de repente. Ah, obrigada,
querida — agradeceu à Louise pelo remédio e o copo de água. —
Não imaginei que isso fosse acontecer, só pedi para que Norah
ligasse para James porque não queria preocupar vocês.
— Não é melhor irmos para o hospital? — perguntou a mãe de
James.
— Não, eu estou melhor agora, só preciso descansar. Vou
tomar um banho e dormir. — Vovó Emory olhou para mim e sorriu.
— Muito obrigada por ter ficado comigo, minha querida. Você é a
neta que eu não tive, especial demais para mim.
— Eu nunca a deixaria sozinha, vovó Emory.
— Claro que não, você é amorosa, gentil, tem uma alma doce
e um coração maior ainda. O homem que se casar com você vai ser
o mais sortudo do mundo e aquele que te perder vai se arrepender
amargamente.
Eu apenas sorri, ficando com as bochechas quentes de
vergonha por conta do seu elogio fora de hora. Ao meu lado, James
perguntou:
— Tem certeza de que está se sentindo melhor, vovó?
— Sim, meu querido, eu tenho certeza. Pode ir em paz. Direto
para casa, ouviu? Você e Norah.
Nós ficamos mais um tempinho com vovó Emory, até ela
praticamente nos expulsar ao afirmar que estava bem e que tomaria
um banho. Saímos do seu quarto e nos despedimos dos pais de
James após o jogador pedir, pelo menos cinco vezes, para que eles o
avisassem caso a avó voltasse a sentir alguma coisa. Deixamos a
mansão e James pareceu respirar mais tranquilo pela primeira vez
desde que entrara no restaurante.
— Está tudo bem agora, James. Não aconteceu nada grave
com a sua avó.
— Sei disso, mas tomei um susto. Minha avó já tem certa
idade, qualquer coisa que aconteça com ela me deixa tenso.
— Eu sei, você a ama muito e ela te ama ainda mais. — Sorri,
tocando em seu ombro. — Sua avó é forte, tenho certeza de que vai
permanecer ao nosso lado por muitos anos ainda.
— Tem razão. — James me deu um sorrisinho. — Ela não vai
embora até ter certeza de que estou casado e sendo pai de pelo
menos três filhos.
Eu ri. Sabia que aquele era o maior sonho da vida da sua avó.
— Pois trate de realizar esse desejo dela — falei, apenas
imaginando como James seria um marido maravilhoso e um pai
melhor ainda.
Vovó Emory disse que o homem que ficasse comigo seria o
mais sortudo do mundo, mas eu acreditava que sortuda de verdade
seria a mulher que, um dia, ganharia o coração de James McHugh.
Eu tinha certeza de que minha avó estava mentindo.
Obviamente, assim que recebi a ligação de Mason, não
desconfiei de que vovó poderia estar encenando. Ela era uma
senhora, eu sabia que às vezes tinha picos de pressão quando
estava nervosa e que seu coração já não era tão forte quanto antes,
realmente acreditei que pudesse estar passando mal. Apenas
quando dei partida no carro e a vi se sentar no banco como se não
estivesse sentindo mais nada, foi que comecei a desconfiar.
Seu discurso no telefone voltou com tudo em minha cabeça, a
indignação em seu tom de voz, principalmente quando falei que
também estava indo a um encontro. Foi um erro meu, deveria ter
ficado quieto sobre aquilo. Talvez não impedisse minha avó de tentar
arruinar o encontro de Norah com Mason, mas com certeza não
seria um motivo a mais para fazer com que a matriarca dos McHugh
se intrometesse daquela forma na minha vida — e na vida de Norah,
que não imaginava que minha avó queria dar uma de cupido para
cima de nós dois.
Preferi não contar nada para a irmã do meu melhor amigo,
pois não queria que ela ficasse preocupada ou com medo de que
minha avó pudesse fazer algo para atrapalhar o seu envolvimento
com Mason. Eu conversaria com a senhora Emory McHugh e a faria
entender que Norah e eu não gostávamos um do outro da forma
como ela gostaria, que éramos apenas amigos. Minha avó precisava
começar a respeitar isso.
Encontramos a casa toda escura quando chegamos, o que não
fora uma surpresa, afinal, Benjamin raramente passava um final de
semana sem ir para festas e Logan dissera que iria dormir na casa
de Avalon. Acendi a luz a tempo de ver Norah tirando o sobretudo e
levei um novo soco no estômago ao notar como ela estava bonita.
Obriguei-me a tirar os olhos de cima dela antes que as palavras de
minha avó começassem a fazer uma lavagem em meu cérebro.
— Preciso de uma bebida — resmunguei enquanto ia para a
cozinha.
Abri a geladeira e peguei uma cerveja, desejando algo mais
forte. Talvez, fosse melhor mandar uma mensagem para Benjamin e
perguntar onde ele estava. Festa, música alta, bebida e uma garota
formariam o combo perfeito para fechar aquela noite desastrosa.
— Também quero uma — Norah disse atrás de mim.
Peguei uma cerveja para ela e a encontrei do outro lado da
ilha central da cozinha. Seus olhos bonitos me acompanharam
conforme eu abria as duas bebidas e estendia uma em sua direção.
Dei um gole longo, sentindo a cerveja bater com tudo em meu
estômago vazio. Seria inteligente da minha parte comer alguma
coisa, mas a bebida parecia mais interessante naquele momento.
— Conte-me como foi o encontro com Alicia, estou curiosa! —
Norah pediu com um sorrisinho por trás da garrafa.
— Foi legal.
Norah pousou a garrafa sobre a bancada e arqueou uma
sobrancelha.
— Legal? Só isso?
Lembrei-me de sua amiga. Alicia estava muito bonita usando
um vestido vermelho e justo, rosto maquiado e um sorriso enorme
quando entrou no restaurante. Nós começamos a conversar assim
que nos sentamos à mesa, mas eu sentia minha cabeça longe. Em
Norah, especificamente. Se ela estava gostando do encontro com
Mason, se ele a estava tratando como ela merecia, se estava
babando nela como eu babei ao ver como estava extraordinária
naquela noite.
Eu me senti um babaca e mal conseguia compreender o que
estava acontecendo com a porcaria da minha cabeça. Estava na
companhia de uma garota bonita e inteligente, que tinha um papo
divertido e mal conseguia tirar os olhos de cima de mim, mesmo
assim, estava pensando na irmã do meu melhor amigo. Qual era o
meu problema?
Quando meu celular tocou, quase agradeci a Deus pela
interrupção. Alicia não merecia estar desperdiçando a sua noite de
sexta-feira com um idiota como eu e, dependendo da ligação, eu
teria a desculpa perfeita para encerrar aquele encontro desastroso.
Tomei um susto ao ver que era Mason, mil coisas passaram pela
minha cabeça, todas sobre Norah. Nunca imaginei que ele estaria
me ligando para falar sobre a minha avó, o que era bem irônico, na
verdade.
Vovó nem precisava ter se esforçado tanto para arruinar meu
encontro com Alicia. Eu mesmo estava fazendo um bom trabalho ao
não conseguir tirar Norah da minha cabeça.
— Alicia é uma garota incrível. Muito bonita, divertida e
inteligente, mas receber a ligação de Mason falando sobre a minha
avó tirou o brilho da noite — falei parte da verdade. Saber que
minha avó estava passando mal me fez esquecer de toda a confusão
que meu cérebro estava arrumando.
— James, não fique assim. Sua avó está bem agora, com
certeza foi só uma queda de pressão. Acho que você e Alicia podem
tentar de novo um dia.
— Sim, um dia, quem sabe. Isso se ela ainda quiser se
encontrar comigo depois de hoje à noite.
— Claro que ela vai querer, Alicia parece estar realmente
interessada em você.
— E você não sente nem um pouco de ciúmes ao saber disso?
— Puta merda. Meus olhos se arregalaram assim que a pergunta
insana saiu da minha boca. Precisei me questionar pela milésima vez
qual era a porra do meu problema. Forcei uma risada alta demais. —
Afinal, eu sou um grande gostoso...
Norah pegou um pano de prato que estava ali por perto e
jogou em minha direção.
— Você é um idiota, isso sim. — Sua risada me deixou aliviado.
Norah levara a minha pergunta na brincadeira. — E o que sinto não
é realmente ciúmes, é só...
— Só...? — Instiguei, curioso demais para ouvir o que tinha a
me dizer.
— É só medo de perder a intimidade que temos caso um de
nós dois comece a namorar — Norah disse mais baixo, olhando para
a cerveja ao invés de me encarar. — Quando me mudei para cá,
você ainda namorava a vaca da Megan. Nós éramos amigos, mas
não tanto como somos agora e eu sinto que criamos um laço mais
forte desde que você ficou solteiro. Tenho medo de que isso se
perca.
Eu larguei a cerveja na bancada e dei a volta na ilha da
cozinha, parando ao lado de Norah e tocando em seus ombros até
fazer com que olhasse para mim. Os saltos da sua bota a deixavam
mais alta, mas ela ainda batia abaixo do meu queixo. Notar aquilo
me fez sorrir.
— Nós não iremos perder nada. Você sempre será a minha
baixinha e se algum babaca tentar mudar isso, vai se ver comigo.
Norah riu e eu fiquei encantado, quase sem piscar. Ela parecia
se tornar mais bonita a cada vez que eu a via e não conseguia
entender como aquilo era possível.
— E se a sua namorada quiser mudar isso?
— Ela não vai conseguir. — Puxei-a para mim até sentir os
seus braços ao redor da minha cintura e a sua cabeça em meu peito.
— Algumas coisas precisarão mudar, é claro. Você não vai mais
poder invadir a minha cama e implorar para dormir comigo de
conchinha.
— Ei, eu não faço isso! E só dormimos de conchinha duas
vezes.
— Porque você implorou...
— Eu nunca implorei! ­— Minha risada ecoou pela cozinha
quando senti seu soquinho fraco nas minhas costelas. — E tenho
certeza de que você vai sentir falta de dormir comigo.
— Não vou sentir falta de acordar com um mar de cachos no
meu rosto e com a sensação de que perdi um braço por conta dos
músculos dormentes.
— Vai sim, eu tenho certeza. Você também precisa encontrar
uma namorada que jogue videogame tão bem quanto eu, ou ela vai
ficar com ciúmes ao ver que você só não consegue vencer de mim.
— Isso é mentira, já que eu finjo perder para que você não
fique triste.
Norah se afastou e me encarou com os olhos estreitos.
— Mentiroso! Eu sou mil vezes melhor do que você no
videogame e posso provar. Vamos estrear o jogo de zumbi.
— Vamos! — Peguei as nossas cervejas e comecei a me dirigir
à sala. Virei-me a tempo de ver Norah me seguindo. — Se eu vencer,
quero receber café da manhã na cama pelo próximo mês.
— Se eu vencer, você vai ter que me fazer uma surpresa no
meu aniversário. Uma surpresa gigantesca!
— O quê? Que surpresa?
Norah parou com as mãos na cintura.
— Você sabe qual é o significado da palavra surpresa?
— Sim, mas... Seu aniversário é só em junho.
— Exatamente. Sabe o que isso significa? — Norah se
aproximou de mim e eu neguei com a cabeça. — Que você tem
bastante tempo para criar algo incrível para mim. É melhor já
começar a pensar, porque vai perder esta noite, James McHugh!
A danada deu dois tapinhas em meu peito e passou à minha
frente para ir até a sala. Eu fiquei parado no mesmo lugar, pensando
em como poderia surpreender uma garota que já tinha tudo, afinal,
Norah era rica. Sacodi a cabeça, livrando-me do pensamento.
Eu não precisaria pensar em nada, pois Norah iria perder.

Acordei com uma ressaca filha da puta que não tinha nada a
ver com bebida.
Era uma ressaca moral.
Norah me venceu não apenas uma, mas duas vezes, o que me
fez perder a nossa aposta no critério de desempate após a terceira
rodada. Eu venci no primeiro round e fui um bobo quando ela pediu
revanche. A filha da mãe me venceu na segunda partida e decidimos
jogar uma terceira vez para desempatar.
Foi a derrota mais agridoce da minha vida, pois tentei ficar
puto e demonstrar revolta, mas ver Norah pulando no meio da sala
às quatro da manhã, com um sorriso que ia de orelha a orelha, me
impediu de sentir qualquer outra coisa que não fosse alegria por vê-
la tão feliz. Eu parecia o Logan ao ver qualquer conquista de Avalon
e pensar nisso me deixou com o estômago gelado.
Meu melhor amigo era completamente apaixonado pela sua
namorada.
Eu estava muito longe de sentir algo sequer semelhante por
Norah.
Ela bebeu pelo menos uma dúzia de cerveja após a vitória e
eu precisei colocar a sua bunda bêbada na cama quando percebi
que havia extrapolado na bebida. Norah não tinha o costume de
beber daquela forma. O sorriso se recusou a sair do seu rosto
conforme eu acomodava sua cabeça no travesseiro e puxava a
coberta sobre o seu corpo. Fiquei alguns minutos apenas a
admirando dormir e me senti meio bobo por causa disso, sem querer
pensar demais no que eu estava sentindo.
Não pude ignorar o sentimento como tanto queria. No fundo,
eu estava feliz por Norah estar encerrando aquela noite comigo,
mesmo saindo como perdedor após mais uma rodada de videogame
com ela e sabendo que precisaria pensar em uma surpresa
grandiosa para o seu aniversário. Norah não me deixaria esquecer
daquilo.
Deixei o seu quarto, tomei um banho e caí na cama. Acordei
com o despertador e a sensação de que a ressaca moral não era tão
ruim assim. Eu aceitaria perder mil vezes para Norah, apenas para
ver aquele sorriso bobo e alegre em seu rosto pelo resto da vida.
Realmente me importava com aquela garota, de uma forma
como nunca me importei com qualquer outra mulher em minha vida.
Encontrei uma mensagem da minha mãe assim que peguei o
celular. Ela informou que minha avó passara bem a noite e que
acordara disposta, o que me fez lembrar do que a senhorinha
esperta aprontara. Dei um pulo da cama e tomei uma chuveirada
para despertar, saindo do quarto em seguida. Encontrei Logan na
cozinha, suado e com roupa de academia.
— Avalon te expulsou tão cedo assim? — perguntei.
— No meu relógio é quase meio-dia — disse ele, dando uma
olhada para algo atrás de mim. Segui a direção para onde estava
olhando e não vi nada.
— O que foi?
— Pensei que estivesse acompanhado quando vi aquele monte
de garrafa de cerveja vazia na mesinha de centro.
— Bebi com a sua irmã — falei, vendo-o arquear uma
sobrancelha. — E perdi para ela de novo no videogame.
Abri a geladeira a tempo de ouvir a gargalhada de Logan ecoar
pela cozinha.
— Não acredito que perdi isso. É sempre um evento quando
vocês jogam juntos.
— Estou feliz por você e Ben não estarem aqui, ninguém
precisava ver a minha derrota.
— Eu discordo, queria muito ter visto isso. — Logan agarrou a
garrafa de isotônico que joguei para ele e abri outra para mim. — Só
você mesmo para passar uma noite de sexta-feira jogando com a
minha irmã.
Pensei em tudo o que havia acontecido ontem. Se Logan
imaginasse...
— Passar um tempo com Norah é sempre um privilégio.
— Sim, eu sei disso, minha irmã é a melhor pessoa que
conheço. — Ele bebeu o isotônico quase todo de uma só vez. — E
isso me lembra de que eu preciso passar mais tempo com ela.
— Sim, precisa mesmo. Talvez você consiga sondar o que ela
quer de aniversário.
— Aniversário? Como assim? Estamos indo para fevereiro e
minha irmã só faz aniversário em junho.
— Eu sei, mas nós fizemos uma aposta ontem. Se eu
perdesse, teria que fazer uma surpresa no aniversário dela. Você
sabe que eu perdi, agora, preciso pagar a aposta. — Joguei a
garrafa de isotônico no lixo após dar o último gole. — Como meu
melhor amigo, você precisa me ajudar com isso.
Logan voltou a rir e se aproximou de mim apenas para dar
dois tapinhas em meu ombro.
— Vou ver o que posso fazer, mas não prometo nada... — O
filho da mãe começou a se afastar, mas manteve um olho sobre
mim. — Sabe como é, eu gosto de ver meus amigos sofrerem, é
sempre muito divertido.
— Vai se foder, estrelinha dourada. — Logan me soprou um
beijo e continuou a rir da minha cara conforme subia a escada. — E
cuide da sua irmã, ela vai acordar de ressaca.
— Depois de ter feito uma aposta com você e te derrotado,
com certeza cuidarei dela. Minha irmã merece o mundo.
Dei o dedo do meio para ele, mesmo sabendo que não
conseguiria ver, pois já estava praticamente no topo da escada, e
sorri. Eu amava a minha vida e a minha amizade com Logan. Não
faria nada que pudesse colocar nossa irmandade em risco.

— A senhora mentiu ontem à noite!


Vovó ergueu o rosto para mim quando parei à sua frente,
escondendo-a do sol fraco do inverno. Ela adorava passar um tempo
nos jardins da mansão, pois sempre amou flores e jardinagem.
Aquela parte em especial era o seu refúgio quando precisava ler,
receber amigas para um chá ou apenas refletir, o que parecia estar
fazendo agora. E, pela sua expressão, Emory McHugh não tinha um
pingo de peso na consciência.
— Não sei do que está falando.
— Vovó, precisa ser sincera comigo. — Sentei-me ao seu lado
no banco e a olhei bem sério. — Porque eu já sei a verdade. A
senhora mentiu.
Vovó Emory soltou um suspiro profundo e tocou em minha
mão.
— Sim, eu menti, mas foi por uma boa causa.
— Uma boa causa? Não há justificativa para isso, vovó. Saúde
é coisa séria!
— Seu futuro e o de Norah também é uma coisa séria!
— Vovó... — Apertei a ponte do nariz com a mão que ela não
segurava, mas minha avó não me deixou continuar.
— Sei o que vai me dizer. Que Norah é apenas sua amiga, que
nunca ficarão juntos da forma como imagino... Sei de tudo isso,
James.
— Se sabe, por que continua insistindo nessa história?
— Porque eu vejo além do que você vê, meu filho. — Vovó
Emory deu um tapinha em minha mão. — Homens, geralmente, têm
uma visão limitada sobre as coisas, mas as mulheres são diferentes,
principalmente uma mulher experiente como eu. Vejo como cuida da
Norah, como se importa com ela.
— Sim, porque eu gosto dela, vovó. Eu a amo como uma irmã.
— Um irmão não fica tenso quando vê um rapaz abraçando a
cintura da sua irmã.
— O quê? — Franzi o cenho. — Do que está falando?
— Viu como você não vê o que eu vejo? Percebi a forma como
você ficou quando o loiro abraçou Norah pela cintura, praticamente
marcando território sobre a menina. E não se engane, aquele rapaz
não é bobo, ele sabe que você é um concorrente.
— Concorrente? Vovó, a senhora está realmente vendo coisas
que não existem. Não fiquei tenso quando Mason abraçou Norah, eu
estava tenso porque pensei que a senhora estivesse passando mal.
— Sim, querido, eu sei como estava preocupado comigo e
sinto muito por ter o deixado desesperado daquele jeito.
Estreitei os olhos para ela.
— A senhora não sente nada.
— Está bem, eu não sinto. — Vovó Emory deu de ombros e eu
quase sorri, mas precisava demonstrar minha indignação para ela e
fui mais forte. — Quer dizer, eu sinto um pouco. Sei que brinquei
com algo sério, mas precisava fazer alguma coisa. Aquele rapaz
estava prestes a beijar Norah, James!
Eu não queria — e jamais admitiria —, mas fiquei tenso. Tentei
disfarçar, principalmente porque minha avó me observava com olhos
de águia e ainda segurava a minha mão, mas a tensão em meus
músculos e a pressão em meu peito me pegaram de repente,
completamente de surpresa. Engoli em seco e lutei para que vovó
não percebesse nada.
— Eles estavam em um encontro, vovó, era lógico que algo
assim aconteceria.
— Se você admitisse que gosta dela de verdade, não correria o
risco de ter um outro homem beijando a boca da sua garota.
— Norah não é minha garota, vovó! — Levantei-me, ficando
nervoso de repente, acuado por ela. — Norah é a irmã caçula do
meu melhor amigo. A senhora conhece Logan, sabe como ele é
protetor com Norah, como afasta qualquer cara do caminho dela. Há
um acordo tácito entre nós dois, algo que não posso quebrar, e isso
envolve Norah. Logan nunca me perdoaria se eu a olhasse de outra
forma.
Vovó estalou a língua no céu da boca e revirou os olhos.
— Isso tudo é bobagem...
— Não, não é bobagem. Sou amigo de Logan desde que era
um moleque, vi Norah crescer, ela sempre foi como uma irmã para
mim.
— Mas não é sua irmã — disse ela. — Norah é uma mulher
adulta agora e Logan vai ser um rapaz muito idiota se arrumar
confusão porque vocês dois querem ficar juntos. Não há homem no
mundo que seja melhor para a irmã dele do que você!
— Mas nós não queremos ficar juntos, vovó! — Fui mais duro
daquela vez, enfático, mas minha avó apenas cruzou os braços e
virou o rosto para o lado, como uma adolescente rebelde. Respirei
fundo e me obriguei a ser paciente, agachando-me na sua frente até
ter as suas mãos nas minhas. — Por favor, entenda isso, tudo bem?
Um dia, eu vou encontrar a mulher da minha vida, me casar e te dar
muitos bisnetos, mas ela não será a Norah.
— Tudo bem, James, eu não vou mais me meter. A vida é sua,
você sabe o que faz.
Entendi que ficou magoada comigo, mas não me desculpei,
apenas dei um beijo em sua testa e a ajudei a se levantar para que
pudéssemos almoçar. Uma hora, vovó entenderia que eu tinha razão
e deixaria de lado aquele sonho louco de que Norah e eu ficássemos
juntos.
— Nunca mais vou beber na minha vida — resmunguei assim
que abri os olhos, dando de cara com Logan sentado na beirada da
minha cama.
Meu irmão riu da minha cara e me estendeu a mão, ajudando-
me a ficar sentada na cama. Eu senti quando ele entrou em meu
quarto devagar e acendeu a luz do abajur em minha mesinha de
cabeceira. Pelo menos ele não abriu as cortinas, tinha certeza de
que minha cabeça estaria doendo muito mais se a luz do dia
estivesse entrando pelas janelas.
— James me contou sobre tudo o que aconteceu ontem à
noite — disse ele, quase me fazendo ter um ataque do coração.
— Tudo?
— Sim. Sobre as partidas de videogame e a bebedeira. Queria
ter visto a derrota dele para você.
O sorriso que se abriu em meus lábios foi de alívio.
— Seria ótimo ter expectadores. Da próxima vez, eu gravo
para você.
— Não precisa, da próxima vez, estarei aqui. — Meu irmão se
aproximou mais de mim e segurou a minha mão. — Estou com
saudades de você. Que tal fazermos alguma coisa juntos hoje?
— Com a Avalon e a Aubrey? — perguntei, pois sempre
saíamos em grupo agora que Logan estava namorando.
— Não, só eu e você, um programa de irmãos. — Logan
arqueou uma sobrancelha. — Ou acha que apenas James é bom em
fazer o papel de irmão mais velho? Ele está saindo mais com você
do que eu ultimamente.
Eu ri alto ao perceber o sentimento bobo nos olhos de Logan.
— Não acredito que está com ciúmes, Logan Miller III!
— Sim, eu estou. Sei também que não fui um irmão presente
no último ano, quero mudar isso.
— Você sempre foi o melhor irmão do mundo — afirmei
conforme apertava sua mão com a minha. — Mesmo quando me
irrita quando o assunto é homens.
— Podemos passar o dia de hoje sem citar homens e namoro?
Revirei os olhos, apenas para não perder o costume, e
concordei conforme sorria.
— Sim, podemos.
— Ótimo! — Logan se esticou e pegou um copo de água em
cima da minha mesinha de cabeceira junto com duas pílulas, dando-
os para mim. — Remédio para ressaca. Tome um banho, se arrume
e vamos sair para almoçar, ok?
— Sim, Sr. Miller III. Mais alguma coisa?
Logan parou ao lado da minha cama, já de pé, e sorriu para
mim.
— Sim. Eu amo você, pirralha.
Meu coração ficou acelerado no peito.
— Também amo você, seu bobo.
Meu irmão bagunçou o meu cabelo e saiu rápido do meu
quarto quando ameacei jogar o travesseiro em sua direção.
Fazia frio naquela tarde de sábado e o sol não ajudava em
nada a esquentar a temperatura, mas isso não impediu que Logan e
eu nos divertíssemos. Nós fomos almoçar em um dos restaurantes
favoritos da minha mãe, conhecido por seus famosos pratos de
frutos do mar, e me senti nostálgica conforme comia e conversava
com o meu irmão.
Por um momento, senti medo de que Logan se retraísse,
apesar de ter sido ideia sua almoçarmos ali, mas ele ficou bem. Nós
lembramos de momentos da nossa infância, rimos de histórias bobas
do passado e de viagens que fizemos em família. Havia em Logan
uma leveza que reconfortava o meu coração. Era lógico que ele
ainda sofria pela perda da nossa mãe, assim como eu, mas o tempo
estava curando as nossas dores.
— Ela adoraria ver o quanto você está amando a faculdade —
disse Logan quando o garçom se afastou após trazer a sobremesa.
— Na verdade, eu sei que ela está amando acompanhar a sua
trajetória, porque nossa mãe jamais ficaria longe de nós dois.
Minha garganta pinicou, como se mil agulhas estivessem a
espetando, e precisei piscar mais forte para conter as lágrimas.
— Sim, ela nunca nos abandonaria. Tenho certeza de que a
mamãe também sente muito orgulho de você, Logan.
Meu irmão sorriu, mas vi certo tremor em seus lábios. Ele
estava emocionado, assim como eu, e com saudades, também. Nós
sempre sentiríamos a falta dela.
— De nós dois. — Ele apertou a minha mão por cima da mesa
antes de roubar a colher dos meus dedos e enfiá-la em meu sorvete
de morango.
— Logan! Quando você vai parar de ficar roubando as minhas
sobremesas? — Precisei me esticar para tirar a colher da mão dele
enquanto o idiota ria com a boca cheia de sorvete.
— Nunca. Você sabe que o papel de um irmão é perturbar a
vida do outro, certo?
— É mesmo? — perguntei, roubando um profiteroles dele. —
Não vou me esquecer disso.
Passamos os próximos minutos roubando a sobremesa um do
outro e voltamos a rir como duas crianças. Percebi como estava com
saudades do meu irmão. Sempre fomos unidos, nossa diferença de
idade não era tão grande e eu adorava acompanhar Logan para todo
canto quando mais nova. O terror da minha adolescência foi quando
ele começou a ter permissão para ir a festas e eu não. Apesar disso,
Logan nunca me deixou de lado, sempre fazendo questão de sair
comigo em tardes de domingo. James sempre nos acompanhava e
lembranças como aquela eram muito especiais para mim.
Senti falta de James conosco, sempre formamos um bom trio,
mas passar aquele tempo sozinha com o meu irmão depois de tanto
tempo estava sendo maravilhoso. Deixamos o restaurante e fomos
direto para o centro de patinação no gelo que frequentávamos
quando mais novos. Era um local enorme, que sempre ficava
movimentado no inverno. Senti-me como uma criança de novo
conforme pegávamos os patins no balcão.
— Vai mesmo patinar comigo? — perguntei conforme nos
sentávamos em um dos inúmeros bancos perto dos armários de
ferro, onde deixamos os sapatos.
— Claro que sim, acha que vou ficar apenas te olhando?
— Você não pisa em uma pista de gelo há anos, Logan.
Assim que decidira que seria um jogador profissional, Logan
começou a cuidar mais do seu corpo e não gostava de fazer nada
que pudesse causar alguma lesão séria. Eu o entendia, afinal, um
único tombo poderia comprometer a sua carreira para sempre.
— Por isso mesmo, estou com saudades. — Ele se ergueu e
me estendeu a mão. — Não vou fazer nada arriscado, juro.
Pousei minha mão na sua e confiei nele. Fomos juntos para a
pista de gelo, que estava cheia de adolescentes e crianças
acompanhadas pelos pais, e senti um frio na barriga quando
comecei a deslizar. Eu amava patinar quando criança, principalmente
porque era algo que minha mãe amava fazer. Ela não gostava muito
de esquiar, mas adorava patinar.
Comecei a rir quando Logan quase escorregou, quase me
levando junto de bunda no chão, mas conseguimos nos estabilizar.
Juntos, fomos devagar para o centro da pista, passando vergonha
perto das crianças que corriam ao nosso redor, como se tivessem
nascido com patins de lâminas nos pés. Uma delas parou de repente
na nossa frente, arregalando os olhos ao quase trombar contra
Logan. O garoto, que não devia ter mais do que dez anos, encarou o
meu irmão com as bochechas vermelhas pelo esforço e pelo frio.
— Você é Logan Miller III, não é? O quarterback do Crimson
Tide?
Logan me olhou por um momento, parecendo surpreso pelo
menininho ter o reconhecido.
— Sim, sou eu mesmo.
O garoto abriu um sorriso enorme com dois dentes faltando na
lateral da boca.
— Eu sabia! — Ele se virou para trás e acenou para outros dois
garotos. — Eu disse que era o Logan! Eu disse, vocês não
acreditaram em mim! — Entusiasmado, o menino voltou a olhar para
o meu irmão conforme os amigos se aproximavam devagar. — Eu
sou o seu maior fã! Um dia, vou ser um quarterback igual a você!
— É mesmo? — Logan sorriu, todo bobo, e se inclinou em
direção ao garoto. — Qual é o seu nome?
— Thomas. E esses são Graham e Will. — Thomas apontou
para os meninos que pararam ao seu lado. — Graham quer ser
running back igual Benjamin Ryan e Will quer ser wide receiver
como James McHugh.
Pousei minha mão em meu peito, pensando em como os
meninos ficariam bobos como meu irmão estava naquele momento.
Um dia, eles foram como aqueles garotos, cheios de ídolos em quem
se inspiraram. Agora, eram eles que inspiravam a nova geração.
— Se vocês se dedicarem e estudarem muito, com certeza
serão ainda melhores do que nós três. Só não podem desistir e
precisam ser responsáveis.
— Eu sei, meu pai sempre diz que para ser um jogador de
verdade, é preciso se dedicar — disse Will.
— E a gente se dedica muito — afirmou Graham com os olhos
arregalados. Ele estava tão admirado quanto os amigos.
— Você pode tirar uma foto com a gente? — perguntou
Thomas.
— Posso, mas só se vocês prometerem que não vão desistir
dos seus sonhos.
— Nós não vamos, QB! — A voz de Will saiu com muita
certeza.
— E se aceitarem ir como meus convidados no primeiro jogo
dessa temporada.
Os garotos se entreolharam, boquiabertos, e começaram a
falar ao mesmo tempo que aceitavam, que não podiam acreditar
naquele convite. Um deles perguntou se Logan estava falando sério.
Eu comecei a rir quando meu irmão precisou pedir calma para eles e
explicou que o convite era verdadeiro, mas que precisava pegar o
contato dos responsáveis dos garotos para poder combinar tudo com
eles. Foi Thomas quem saiu correndo à procura do pai e eu
aproveitei o momento para poder tirar fotos dos outros dois meninos
com o celular de Graham.
O pai de Thomas logo se aproximou, parecendo tão encantado
quanto o filho, e trocou algumas palavras com Logan. Vi a
admiração pelo meu irmão nos olhos do homem mais velho e fiquei
muito feliz. Logan merecia todo o reconhecimento possível, pois ele
não era apenas um jogador excepcional, era também um homem
maravilhoso, com um dos maiores corações que eu conhecia. Após
pegar o contato do pai de Thomas e tirar mais fotos, os meninos se
afastaram e Logan me encarou com um sorriso ainda surpreso no
rosto.
— Isso aconteceu mesmo?
Era a primeira vez que Logan era reconhecido por crianças.
Geralmente, torcedores mais velhos paravam para trocar uma ou
duas palavras com eles e os estudantes da faculdade já estavam
acostumados a vê-lo e o cercava no Maeve’s Bar. Cruzei meu braço
no dele e fomos patinando juntos até as traves que protegiam a
pista.
— Sim, aconteceu, e é melhor se acostumar, QB! Quando
estiver em um time profissional, não só esses meninos, mas muitos
outros, terão um poster seu colado na parede do quarto. Você será o
ídolo deles.
— Nunca parei para pensar sobre isso, Norah. Sobre como
posso ser uma influência para meninos como eles, não apenas eu,
mas Ben, James e todos os outros jogadores. Precisamos fazer mais
do que jogar, temos que ser um bom exemplo para esses meninos.
— É verdade e você já é um bom exemplo.
— Ano passado eu não era.
— Disse bem, ano passado. Aquele Logan ficou para trás. —
Dei um beijo em sua bochecha fria e meu irmão sorriu.
— Queria que Ben e James estivessem aqui. Eles iam adorar
isso.
— Sim, eles iam, mas não sei se esse lugar é grande o
suficiente para suportar o ego imenso de vocês três juntos.
— Engraçadinha. — Ele riu e apertou o meu nariz. — Vou ao
banheiro. Tome cuidado para não cair de bunda no chão durante a
minha ausência.
— Foi você quem quase me derrubou quando pisamos no gelo,
Logan.
Ele se afastou e me deu um sorriso debochado.
— Impossível, o ídolo daqueles três garotos jamais
escorregaria em uma pista de gelo.
Revirei os olhos para o egocêntrico do meu irmão conforme ele
patinava para a saída da pista. Voltei a patinar pensando em como
aquele dia estava sendo incrível e que seria maravilhoso repeti-lo,
talvez com Avalon, Aub, James e Ben nos acompanhando. Eles com
certeza iriam se divertir.
Um casal passou por mim, seguindo uma garotinha que usava
a fantasia da Elsa de Frozen por cima da roupa de frio, me
arrancando uma risada. Estava muito fofa. Distraída, observei ela
quase escorregar, mas seu pai a salvou e a pegou no colo, fazendo-a
rir conforme rodopiava sobre o gelo. Lembrei-me do meu pai e de
quando ele tirava a máscara de advogado sério para curtir com a
família quando eu era criança.
Como Logan Miller II seria como avô? O pensamento passou
rápido pela minha cabeça quando senti alguém se aproximar ao meu
lado e parar na minha frente. O sorriso de Mason me fez parar de
repente, poucos centímetros antes de trombar com o seu corpo alto
e forte.
— Ah, meu Deus! — A risada que escapou do fundo da minha
garganta foi de pura surpresa e um pouco de nervosismo.
— Desculpa. Assustei você?
— Só um pouco. — Sorri de verdade e olhei rapidamente à
nossa volta, procurando por meu irmão, mas não havia sinal dele. —
O que está fazendo aqui?
— Patinando — Mason respondeu o óbvio e eu me senti uma
estúpida. Ele riu e se aproximou, tomando a minha mão na sua. —
Cheguei faz pouco tempo e vi você aqui na pista com o seu irmão.
Fiquei me perguntando se eu deveria me aproximar.
— Veio sozinho? — A pergunta pulou da minha boca sem que
eu pudesse conter e Mason sorriu de forma mais aberta.
Será que ele estava pensando que eu estava com ciúmes ou
algo assim? Eu tinha certeza de que não estava, sentia apenas
curiosidade, e aquilo me abalou um pouco. Eu deveria me sentir
enciumada, certo? Estávamos conhecendo um ao outro, fomos a um
encontro na noite passada, eu estava interessada nele.
Ainda assim, aquela era a primeira vez naquele dia que eu
pensava em nosso encontro ou em Mason. Alguns alertas se
acionaram em minha cabeça.
— Sim, vim sozinho, mas vou me encontrar com um colega de
curso aqui. Na verdade, eu mandei uma mensagem para você mais
cedo, perguntando se queria vir patinar comigo, mas não recebi
nenhuma resposta.
— Minha nossa, Mason. — Tirei a mão da dele e peguei meu
celular no bolso interior do meu casaco. Meus dedos estavam
levemente dormentes pelo frio, mas consegui mexer na tela e ver a
notificação da sua mensagem. — Sinto muito! Logan me chamou
para almoçar e não peguei o celular desde então. Estamos fazendo
um programa de irmãos.
— Não tem problema, eu entendo. Só queria saber se está
tudo bem depois de ontem à noite. Como está a avó de James?
— Está bem. Foi só uma queda de pressão. — Olhei
novamente à minha volta e senti meu coração ficar acelerado ao ver
Logan voltando para a pista. Insegura, olhei para Mason. — Se você
puder não comentar sobre ontem à noite perto do Logan...
— Não vou falar nada. — Mason me deu um sorriso seguro e
eu me senti como uma criança escondendo uma estripulia do pai.
Era ridículo. — Mas acha que ele vai me dar um soco por estar aqui
falando com você?
Senti que Mason queria aliviar o clima e me permiti sorrir.
— Não, meu irmão não é tão homem das cavernas assim.
Mason pousou a mão sobre o peito e me deu um olhar
divertido.
— Fico aliviado. Ele está se aproximando.
Meu irmão parou ao meu lado um momento depois e, para a
minha surpresa, abriu um sorriso para o tight end do time conforme
esticava a mão para cumprimentá-lo.
— Mason, que coincidência encontrar você aqui.
— Sim. Nicholas, um dos meus colegas de curso, me falou
sobre o centro de patinação e senti vontade de conhecer, marcamos
de nos encontrar aqui. — Sua resposta foi para o meu irmão, mas
seus olhos mal saíram de cima de mim.
— Você e minha irmã já se conhecem? — Logan olhou de
Mason para mim e não soube identificar se ele suspeitava de algo ou
não. Fui rápida em responder:
— Claro que sim, ele foi à festa de comemoração do título do
Crimson Tide lá em casa, lembra?
— Isso mesmo, nós nos conhecemos lá, James nos apresentou
— acrescentou o jogador. Fiquei feliz por ele ter deixado a história
da maconha de lado. Mason pareceu olhar para alguém às minhas
costas e acenou. — Nicholas chegou. Foi bom ver vocês,
principalmente você, Norah. — Ele piscou para mim e eu senti um
frio na barriga de nervosismo e emoção. — Nos vemos na segunda,
Logan.
Mason acenou e se afastou e eu o acompanhei com o olhar
até se aproximar de um cara ruivo que aparentava ter a mesma
idade que a dele. Eles se cumprimentaram com um sorriso e um
tapinhas nas costas.
— Mason está a fim de você — Logan afirmou, me fazendo
piscar e tirar os olhos de cima do jogador.
— O quê?
— Você ouviu. — Meu irmão me fez passar o braço pelo dele e
fomos juntos até a saída da pista. — Mas prometemos não falar
sobre homens ou namoros hoje, certo?
— Sim — respondi meio aturdida.
— Então, vou cumprir com a minha promessa.
— Você também prometeu que não ia mais colocar medo nos
garotos, Logan.
— Estou cumprindo essa promessa também. Se eu tivesse
colocado medo em Mason, ele nem chegaria perto de você.
— Talvez, ele não sinta medo de você.
— Pode ser. — Logan segurou as minhas mãos, me ajudando a
sair da pista de gelo. — Mas ele vai sentir medo se, por um acaso,
desapontar você e machucar o seu coração.
— Machucar o meu coração? — Eu ri, mas meu irmão falava
sério. — Logan, não sou uma mocinha indefesa, sei cuidar de mim
mesma.
— Eu sei e confio em você, vou tentar ser um irmão menos
troglodita e controlador. — Ele deu um beijo em minha têmpora. —
Confie em mim também.
Mordi o lábio, ficando com peso na consciência e o peito
apertado por estar escondendo coisas do meu irmão. Logan estava
se esforçando, talvez, eu pudesse realmente confiar nele. Fiquei com
isso em mente conforme caminhávamos em direção aos armários
para pegar os nossos sapatos e sair dali.
— Mason está de olho na minha irmã.
Eu parei com o garfo a caminho da minha boca e Benjamin
quase se engasgou com o café enquanto Logan se sentava no banco
em frente à ilha central da cozinha e cruzava os braços como um
garotinho mimado de sete anos de idade. Ben me encarou com os
olhos arregalados e eu forcei a panqueca, que ainda estava em
minha boca, a descer pela minha garganta.
— Por que você acha isso? — perguntei depois de um tempo,
tentando adivinhar o que passava pela cabeça de Logan.
— Eu não acho, tenho certeza.
— Por quê? — Benjamin questionou. Ele ainda vestia a roupa
da noite passada e chegara em casa há uns vinte minutos. — Sua
irmã comentou alguma coisa com você?
Eu franzi o cenho, pois não tinha pensado naquela
possibilidade e nem acreditava que Norah falaria algo sobre Mason
para Logan, do contrário, esconder do irmão que ela estava
conhecendo melhor o novo jogador do Crimson não faria o menor
sentido. Logan bufou.
— Claro que não, acredito que N​ orah só falaria algo comigo
se o babaca quisesse namorar com ela ou algo assim.
— E a culpa disso é sua — falei, vendo seus olhos chocados se
encontrarem com os meus. — Se você não fosse tão controlador
com ela, Norah se sentiria mais confortável para conversar sobre
isso com você.
— Controlador? Não sou controlador, sou apenas um irmão
protetor.
— Protetor até demais — comentou Ben.
— E isso é um crime?
— Não, não é um crime, mas você sabe que exagera, Avalon
até puxou a sua orelha sobre isso.
— Valente puxa a minha orelha por qualquer coisa — reclamou
ele, mas eu apenas sorri, pois não havia raiva em seu tom de voz.
— Você ainda não explicou por que acha que Mason esteja a
fim da sua irmã — lembrou Benjamin.
Logan coçou a cabeça e fez uma careta.
— Norah e eu passamos a tarde juntos ontem e encontramos
com Mason no centro de patinação. Eu tinha ido ao banheiro e,
quando voltei, vi os dois conversando e percebi o olhar do idiota
para a minha irmã. Não sei se Norah notou, mas ficou bem claro
para mim que ele está interessado.
A panqueca pareceu pesar em meu estômago assim que
Logan se calou e eu não entendi o porquê. Sabia que Norah e Mason
estavam saindo, era óbvio que o jogador olharia para ela com
interesse. E duvidava muito que Norah não notara o sentimento em
Mason. Como um idiota curioso, quis saber sobre o que
conversaram, se marcaram outro encontro. Perguntaria a Norah
depois.
— Mason parece ser uma boa pessoa — falei depois de um
tempo em silêncio, sentindo um gosto amargo em minha boca
conforme sentia o olhar de Logan e Benjamin sobre mim. — Não
ouvimos nada estranho sobre ele desde que chegara ao Alabama,
ele é comprometido com o time e responsável... Talvez seja o cara
ideal para a sua irmã.
Logan apoiou os cotovelos na mesa e esfregou os olhos. Ele
parecia preocupado de verdade e senti um aperto no peito, a culpa
se instalou na boca do meu estômago. Eu não deveria esconder
nada do meu melhor amigo, era errado pra caralho. Por mais que
fosse um pouco sem noção quando o assunto era Norah, Logan era
o melhor irmão do mundo para ela e eu sabia que era protetor ao
extremo porque não queria que Norah se machucasse.
Quase abri a boca e contei tudo, mas, então, me lembrei do
olhar suplicante de Norah e de como ela se sentia sufocada pelo
cuidado excessivo do irmão. Senti-me em um cabo de guerra, sendo
fiel à garota que era tão especial para mim e um traidor para o meu
melhor amigo.
Duraria pouco tempo, só até Norah decidir se ficaria de
verdade com Mason ou não.
Logan me perdoaria quando visse sua irmã feliz, eu tinha
certeza. Só esperava que Mason realmente a fizesse feliz, ficando
com ela ou não. Se ele machucasse Norah, eu arrebentaria a cara do
babaca.
— É, talvez ele seja, mas, e se não for? — Logan olhou para
mim e para Ben, completando baixinho: — Não quero que minha
irmã corra o risco de ter o coração partido por algum filho da puta.
— Logan, nós sabemos o quanto você ama Norah e como luta
para protegê-la, mas nem sempre você vai conseguir. Sua irmã é
adulta, ela tem o direito de fazer suas próprias escolhas. Nem
sempre ela vai acertar, talvez quebre a cara e se machuque em
algum momento, porque isso faz parte da vida. Caberá a você
apenas cuidar dela e ser um bom irmão — disse Benjamin. Ele
poderia ser o mais festeiro e mulherengo entre nós três, mas, às
vezes, sabia dar conselhos como ninguém.
— Ben tem razão, o que é raro — brinquei para aliviar o clima
e os dois riram antes de Benjamim me dar o dedo do meio. —
Mostre para Norah que você respeita as escolhas dela e que sempre
irá apoiá-la. Quando ela entender isso, com certeza vai se abrir e
não esconderá mais nada de você.
Logan suspirou e pareceu mais tranquilo.
— É, vocês têm razão.
— É claro que nós temos. O que seria de você sem a gente? —
Benjamin zombou, se esticando para bagunçar o cabelo do QB.
— Eu seria bem feliz, tenho Avalon agora, não preciso de mais
nada.
— É mesmo? Então por que não foi encher os ouvidos dela
com essa merda? — questionei em tom de risada.
— Porque Avalon já está cansada de me alertar sobre a minha
irmã, decidi dar um descanso para ela. — Ele riu, mas parou de
repente e estreitou os olhos para mim. — Espere um segundo, você
disse que se Norah visse a minha mudança, não esconderia mais
nada de mim. Que merda é essa? Minha irmã está escondendo
alguma coisa de mim?
Benjamin me encarou como se eu fosse o maior idiota do
século e foi exatamente daquela forma que me senti enquanto
buscava alguma resposta decente para dar para Logan. Forçando
uma risada, eu sacodi a cabeça.
— Foi só modo de dizer, Logan. Você mesmo disse que se
Norah estivesse interessada em Mason, só te contaria quando
quisesse algo sério com ele — respondi, talvez um pouco rápido
demais, mas Logan pareceu se convencer e desamarrou a cara.
— Verdade, você tem razão — murmurou. — Espero que ela
leve em consideração a forma como agi ontem. Não fui um
troglodita e nem comentei sobre a minha suspeita de que Mason
está a fim dela.
— Já é um grande passo, QB! — Benjamin comemorou com
um sorriso tenso.
— Sim, estou até impressionado comigo mesmo — disse
Logan. — Vou subir, prometi que iria tomar café com Valente e Aub
e já estou atrasado. Obrigado por me ouvirem. E eu estava
brincando, ok? Preciso ter vocês dois na minha vida.
— Nós não acreditamos em você nem mesmo por um
segundo, estrelinha dourada — assegurei, vendo-o rir e sair da
cozinha. Benjamin deu um soco em meu ombro assim que ficamos
sozinhos. — Ei, o que foi isso?
— Você não sabe mentir, porra! Se Logan fosse um pouquinho
mais esperto, sacaria na hora que você está acobertando a Norah.
— Está chamando Logan de burro?
— Sim, e você de idiota e péssimo mentiroso.
— Que ótimo amigo você é — ralhei, vendo-o cruzar os braços.
— Sou mesmo um ótimo amigo e sinto que vou me foder
quando Logan descobrir a verdade e ficar puto com você.
— Logan não ficará puto comigo, porque Norah e Mason
formarão um casal apaixonado. No final, ele vai me agradecer, estou
cuidando da irmã dele.
— Torça mesmo para isso acontecer, babaca. — O idiota deu
um soco mais leve em meu ombro. — Vou dormir. Fiquei mais
cansado com essa conversa do que por ter passado a noite acordado
entre as pernas de uma garota.
— Claro, você fode mal pra cacete.
— Como você sabe? Nunca fodi você.
— Ouvi boatos por aí... — Dei de ombros, segurando um
sorriso, mas Ben apenas riu.
— Lembra do que eu disse? Você é um péssimo mentiroso,
James McHugh.
Eu nem pude o contestar, porque Benjamin tinha razão.

Aproveitei que Benjamin e Norah estavam dormindo e que


Logan saíra para poder ficar em meu quarto, dando um jeito na
bagunça de roupas e sapatos espalhados. Eu não me orgulhava do
fato de não ser muito organizado, mas também não gostava de viver
na bagunça. Pelo menos minhas câmeras estavam intactas,
ocupando um lado inteiro do meu closet. Foi a elas que me dirigi
assim que terminei de colocar as roupas limpas nas gavetas.
Peguei minha câmera Nikon D850, a última que adquiri no final
do ano passado. Ela era excelente, uma lente poderosa, resolução
de 45,7 megapixels, perfeita para fotos em ambientes externos e
internos. Provavelmente não se tornaria a minha fiel companheira
como a Canon EOS-1DX, que era excepcional para fotos em
movimento, mas eu já tinha em mente o momento perfeito para
usá-la pela primeira vez.
Duas batidas na porta do meu quarto me fizeram sair do
closet. Encontrei Norah abrindo a porta e um sorriso bonito se abriu
em seus lábios quando pedi para que entrasse.
— Estou atrapalhando?
— Claro que não. Estava só babando nessa belezinha — falei,
erguendo a câmera em minha mão.
Norah se aproximou e pegou a câmera com cuidado. Ela sabia
que uma parte vital da minha vida estava em suas mãos naquele
momento. Eu cuidava de cada uma das minhas câmeras como se
elas fossem bebês recém-nascidos.
— É linda. Quer dizer, parece como todas as outras que você
tem, mas é linda — disse ela, me arrancando uma risada.
— Ela não é nada parecida com as outras, cada uma tem um
elemento especial.
— E qual é o elemento especial dessa aqui? — perguntou
conforme posicionava o visor ocular da câmera na frente do olho
direito, fechando o esquerdo.
— Ela é excelente em autofoco rápido e disparo contínuo em
alta velocidade, sem contar que é poderosa na resolução.
— Hum... — Norah fez um biquinho, muito concentrada
enquanto girava o anel de zoom. Ela desceu o rosto lentamente com
a câmera ainda posicionada na frente do olho direito. — Realmente,
a resolução dela é muito boa. Agora eu tenho certeza de que você
tem seis gominhos no abdômen.
Eu pousei a mão aberta na frente da minha barriga nua, sem
saber se ria ou se lutava para ignorar a sensação esquisita que
tomou conta do meu corpo com as palavras de Norah. A garota já
tinha me visto sem camisa milhares de vezes, assim como vira
Benjamin, portanto, nunca passou pela minha cabeça que prestasse
atenção no meu corpo. Saber daquilo mexeu comigo, mas não quis
pensar muito sobre aquilo. Aproximando-me, tomei a câmera das
mãos dela.
— Ei, me devolva isso. Queria tirar uma foto sua.
— Uma foto minha? Por quê?
— Porque... — Norah parou por um momento, parecendo
buscar a resposta certa, me deixando curioso. — Porque eu quero
aprender a mexer na câmera. Você poderia me explicar.
Não parecia ser a resposta que ela realmente queria me dar,
mas deixei passar.
— Sim, posso fazer isso um dia — falei, posicionando o visor
ocular em meu olho. Ajustei o zoom e foquei no rosto dela, seus
olhos castanhos reluziam sob a luz amarela do meu quarto e seus
cabelos caíam em cascatas em uma profusão de cachos rebeldes.
Norah estava linda. — Mas quero fotografar você agora.
— Me fotografar? Nem pensar! — Ela se aproximou e colocou
a mão na frente da lente da câmera. — Eu estou horrível, acabei de
acordar. A única coisa que fiz foi escovar os dentes e tirar a remela
dos olhos.
— E, mesmo assim, você está linda — falei, abaixando a
câmera. — Você não precisa de maquiagem ou qualquer outra coisa
para destacar a sua beleza, Norah. É deslumbrante exatamente do
jeito que é.
Seus lábios se abriram, sem palavras, e eu me obriguei a dar
um passo para trás, tentando entender que merda estava
acontecendo comigo. Não era como se eu nunca tivesse elogiado
Norah, pelo contrário, sempre deixei bem claro o quanto a achava
bonita, mas sabia que minhas palavras soaram de forma diferente.
E eu não fazia ideia do que aquele diferente significava.
Não significa nada. Não surta, James.
Limpei a garganta e continuei antes que ela respondesse
alguma coisa:
— Para provar que não estou exagerando, quero fazer um
convite para você.
— Um convite? — Sua voz soou levemente ofegante, mas eu
ignorei.
Eu ignoraria tudo de esquisito que estava acontecendo
naquele dia.
— Sim. Na verdade, é um favor. — Pousei a câmera sobre a
bancada onde ficava o meu laptop e me virei para Norah. — Ou a
cobrança de uma dívida. — Sorri.
— Cobrança de uma dívida? O que estou devendo para você?
— Esqueceu que me fez uma proposta semanas atrás,
baixinha? Eu ajudaria e acobertaria você com Mason e você me faria
um favor em troca.
Norah fez uma careta antes de bater os cílios. Garotinha
esperta.
— É verdade. Acredita que acabei me esquecendo da
promessa de levar café da manhã na cama para você?
— Pois é. Se esqueceu das massagens também.
— Isso é mentira! Fiz massagem em você semana passada.
— Se esqueceu das massagens. No plural.
Seus olhos se reviraram, como de costume, e eu ri.
— E esse é o convite que você tem para me fazer? Está me
convidando para levar café da manhã na cama para você e fazer
massagem nos seus ombros?
— Não. O que eu quero é mais específico. — Encostei-me na
bancada e cruzei os braços, ignorando o olhar de Norah em meus
músculos rígidos. — Quero que pose para mim.
Seus olhos voaram dos meus bíceps e se chocaram com os
meus, arregalados. Seus lábios bonitos voltaram a se abrir de novo e
ficaram daquele jeito por alguns segundos.
— O quê?
— Quero que pose para mim — repeti.
— Posar como? Nua?
— Norah! — Não consegui conter o susto e a risada que
explodiu no fundo da minha garganta, fruto de um nervosismo que
eu nem sabia de onde vinha. — Claro que não. De onde tirou isso?
— Eu... Eu não sei. — Ela se sentou na beirada da minha
cama, parecendo confusa. Suas bochechas ficaram vermelhas e eu
achei adorável. — Só veio isso na minha cabeça. Desculpa.
Eu me aproximei e me sentei ao seu lado, colocando um cacho
atrás da sua orelha.
— As fotos são para um projeto da faculdade. Eu me mataria
antes de deixar qualquer foto sua nua ser exposta por aí.
— Isso quer dizer que você quer me fotografar nua, mas não
vai mostrar para ninguém?
— Norah, não! — Eu ri e toquei em sua bochecha, fazendo
questão de que olhasse para mim. — Não haverá fotos nuas,
entendeu? Você estará vestida.
— Ah... — Norah desviou os olhos dos meus e piscou rápido
duas vezes antes de abrir um sorriso meio forçado. — Que bom.
Imagina, seria esquisito ficar pelada na sua frente.
— Sim, seria.
— Pois é, seria muito esquisito. Esquisito mesmo — reforçou,
me fazendo ficar confuso. Mais do que nunca, eu queria estar na
cabeça dela naquele momento. — E como serão as fotos?
— Eu ainda estou rascunhando o ensaio. O tema do projeto é
um editorial de moda.
— Editorial de moda? Sabia que a mãe de Mason foi editora-
chefe da Burn Fashion por muitos anos?
— É mesmo? — Aquilo era uma surpresa para mim. Até onde
sabia, Mason era herdeiro de uma rede de hotéis.
— Sim! Que coincidência, não é? Se eu a conhecer antes da
sessão de fotos, posso pedir algumas dicas para ela.
Conhecer a mãe de Mason. Caramba. Então Norah estava
mesmo gostando do tight end e queria algo sério com ele. Engoli o
bolo que se formou em minha garganta e sorri.
— Sim, seria incrível. Isso significa que você aceita posar para
mim?
— Eu poderia negar? Não disse que estou em dívida com
você?
— Claro que você poderia negar, no fundo, sabe que eu nunca
exigiria nada de você — admiti e Norah riu, me abraçando forte pelo
pescoço.
— Por isso que eu te amo! E é claro que eu aceito. No fundo,
eu nunca conseguiria dizer não para você. — Ela piscou para mim,
praticamente repetindo as minhas palavras, e se afastou,
levantando-se da minha cama. — Vou tomar um banho. Por que
você não pede alguma coisa para almoçarmos? Vou pular o café da
manhã.
Eu concordei e a vi sair do meu quarto, fechando a porta atrás
de si. Fiquei um tempo sentado em minha cama, repassando a
nossa conversa em minha cabeça. Como podemos passar de fotos
nuas da Norah para ela citando que poderia conhecer a mãe de
Mason?
Sua futura sogra.
Resolvi ignorar aquilo e entrei no aplicativo de comida em meu
celular.
Posar nua para James.
De onde aquela ideia maluca surgira?
Parada no meio do meu quarto, ainda de pijama, eu tentava
encontrar uma resposta para aquela pergunta. Perdi cinco minutos
da minha vida e não cheguei a lugar algum. Minha mente
simplesmente se calou após colocar aquele pensamento louco em
minha cabeça e ter me feito verbalizá-lo na frente de James. Senti-
me uma idiota e cobri o rosto com as mãos, tentando reencontrar o
meu equilíbrio.
Foi apenas um pensamento intruso, como aqueles que a gente
tinha quando via uma ponte e sentia vontade de jogar o celular lá de
cima. Não era algo consciente, nem tinha nada a ver com algum
desejo oculto que eu mantinha escondido em algum lugar esquecido
em minha mente. Porque eu não queria posar nua para James,
aquilo era óbvio.
Nós éramos apenas amigos. O fato de eu ter tido uma
quedinha boba por ele quando era mais nova não tinha nada a ver
com isso.
E James era o melhor amigo do meu irmão.
Se Logan me ouvisse falando aquele tipo de sandice, me
colocaria em um manicômio.
Para a minha sorte, James levara tudo na brincadeira, chegou
a rir de mim quando a pergunta absurda escapou da minha boca.
Ele não fazia a menor ideia de que, em um momento muito curto da
minha adolescência, eu senti algo diferente por ele, então, não
pensaria que eu sentia vontade de ficar pelada na frente dele.
Porque eu não sentia. Era óbvio que não.
Soltando um suspiro resignado, me joguei na cama e peguei o
meu celular. Vi que recebi uma mensagem de Mason, o que me
deixou com um friozinho na barriga, mas não abri a conversa e
resolvi mandar uma mensagem para John.
Eu: Ei, já chegou em casa? Como foi conhecer os seus
sogros?
John e Peter, seu namorado, viajaram naquele final de semana
para a casa dos pais de Peter em Washington. Meu amigo estava
nervoso, apesar de Peter ter afirmado que seus pais não tinham
qualquer preconceito e estavam ansiosos para conhecê-lo.
John: Acabamos de chegar! Foi incrível, Norah, eu
preciso te contar todos os detalhes. Os pais de Peter são
maravilhosos e a mãe dele faz a melhor comida do mundo,
eu juro!
Fiquei sorrindo como uma boba ao ver o seu entusiasmo,
muito feliz por pelo menos os seus sogros serem pessoas incríveis,
já que seus pais não aceitavam a sua orientação sexual. John
morava em uma república e decidira se assumir no primeiro ano de
faculdade. Segundo ele, estar morando longe de casa, sem a
pressão constante dos pais, que eram muito religiosos, lhe dera a
coragem que precisava para se livrar das amarras que ainda o
prendiam.
Eu sentia muito orgulho de John. Ele era uma das pessoas
mais incríveis que eu conhecia, era gentil, companheiro, sempre
tinha os melhores conselhos e era extremamente talentoso.
Costumávamos falar que, um dia, performaríamos juntos na
Broadway e eu não duvidava nem por um segundo de que o nosso
sonho iria se realizar.
Eu: John, estou tão feliz! Você merece ter um
namorado maravilhoso e sogros melhores ainda.
John: Namorado maravilhoso e gostoso! Juro que
tentei me comportar durante esse final de semana, mas
Peter não me deixou em paz. Ainda bem que as paredes da
casa dos pais dele não eram finas.
Eu: Que sorte a de vocês, seria terrível se os pais de
Peter ficassem traumatizados com a sua visita.
John: Eu seria expulso da família antes mesmo de
entrar.
Sua mensagem me arrancou uma risada.
John: Agora eu preciso saber como foi o seu encontro
com o novo jogador gostoso! Quero detalhes, Norah Miller!
Pensei na minha noite de sexta-feira e em como tudo terminou
de uma maneira inesperada. Eu não imaginava exatamente como
terminaria, mas pensei que rolaria alguma coisa a mais entre mim e
Mason, talvez um beijo, mas vovó Emory passando mal no meio do
restaurante fez com que o nosso jantar tomasse um rumo diferente.
No fundo, mesmo sem querer admitir, eu estava um pouco
aliviada. Não que não quisesse ficar com Mason ou ser beijada por
ele, mas porque eu sentia que colocara muita pressão em mim
mesma naquela noite. Estava nervosa, insegura, com medo de falar
ou fazer algo errado. Mason era um homem, não um garoto como os
que eu costumava sair e beijar escondido quando era adolescente.
Aparentemente, ele gostou do nosso jantar e, no rápido encontro
que tivemos no dia anterior, demonstrou interesse em sair comigo
novamente.
John: E você quer sair com ele de novo?
Fiquei alguns segundos encarando a tela do celular, pensando
na pergunta que John enviara depois de eu ter contado detalhes do
jantar com Mason e do nosso encontro inesperado.
Eu: Sim, eu quero.
John: Quer mesmo? Você não parece tão animada
assim.
Eu: O quê? Não, eu estou muito animada! Estou
animada de verdade! Mason é muito gentil, simpático, além
de lindo e gostoso, como você mesmo disse. Claro que estou
animada.
John: Está falando tudo isso para mim ou para si
mesma?
Eu: Para você, que não está confiando em mim.
John: Confio em você, mas, acima tudo, eu conheço
você. Sabe o que senti enquanto me contava sobre a noite
de sexta-feira?
Eu: O quê?
John: Que você ficou mais animada ao passar a
madrugada jogando com James.
Eu fiquei boquiaberta e me sentei no meio da cama, sentindo
meu coração ficar acelerado.
Eu: Claro que não. Devo ter passado essa impressão
porque fiquei feliz por ter ganhado de James.
John: Você sempre ganha dele, Norah.
Eu: Uma vitória não anula a outra. E James está
conhecendo Alicia, se esqueceu disso?
John: Conhecendo é uma palavra muito forte, eles
tiveram um encontro apenas.
Eu: Nada os impede de se encontrarem de novo.
O impacto das minhas próprias palavras me pegou de uma
forma inesperada. Engoli em seco, tentando ignorar o incômodo ao
pensar em James e Alicia saindo juntos mais uma vez. Fui eu que
arranjei o encontro dos dois, então, por que me sentia assim agora?
Se tivesse que ser honesta comigo mesma, estava me sentindo
daquela forma desde sexta-feira à noite.
John: Tem razão. Sabe se James quer sair com ela mais
uma vez?
James não parecia tão animado assim, mas Alicia era uma
mulher muito bonita e eu sabia que James não negaria se ela
demonstrasse interesse em mais um encontro.
Eu: Acredito que sim.
John: Vocês dois parecem tão animados quanto eu
quando era obrigado a ouvir os sermões homofóbicos do
líder da igreja que meus pais frequentam. Sabe o que eu
acho?
Eu: Tenho até medo de perguntar...
John: Que vocês dois, juntos, se bastam. Tem certeza
de que são apenas amigos?
Eu: Vou ignorar essa sua pergunta sem cabimento e ir
tomar banho, John.
John: Não ignore, apenas pense sobre ela. Amo você,
minha atriz favorita.
Eu: Também amo você, meu ator favorito.
Deixei o celular em minha cama e corri para o banheiro, indo
na contramão do conselho de John. Não pensei sobre a sua
pergunta, simplesmente fingi que ele nunca a fizera para mim,
ignorando o aperto em meu peito e a confusão imensa em minha
cabeça.
Acordei mais tranquila naquela segunda-feira, decidida a
ignorar aquele domingo confuso. Passara boa parte da madrugada
trocando mensagens com Mason e a forma como ele conseguia
arrancar risadinhas de mim me deixou mais animada. Isso
demonstrava que John estava errado nas mensagens que trocamos
no dia anterior.
Encontrei a cozinha agitada com Logan, James e Benjamin
preparando shakes de proteína e Avalon e Aubrey, que dormiram em
nossa casa naquela noite, fazendo uma montanha de ovos mexidos.
Comi junto com eles, rindo das besteiras que diziam, e não permiti
que meus olhos vagassem muito para James. Talvez, as palavras de
John tivessem mexido mais comigo do que eu imaginara — isso e a
forma ridícula como agi ontem, quando James me propôs posar para
ele.
Ainda podia sentir as minhas bochechas ficarem quentes de
vergonha a cada vez que me lembrava da palavra “nua”.
Meu Deus, eu queria me matar.
— Quer uma carona? — James perguntou assim que peguei a
minha bolsa de cima do sofá.
— Não precisa, vou de carro. Hoje temos a primeira reunião
com a professora de Prática de Cena, vamos começar a ver todos os
detalhes para a peça que iremos encenar no final do semestre.
— Você não tinha me contado nada sobre isso! — Logan
apareceu na sala de repente junto com Avalon e Aubrey, me dando
um sorriso animado. — Vamos poder assistir à peça?
— Claro que sim, será no teatro da faculdade.
— Eu também? Ou só os alunos? — Aubrey perguntou,
parecendo ansiosa.
— Todo mundo. Confesso que estou nervosa.
— Não fique, você vai arrasar, eu tenho certeza — afirmou
James.
— Nós temos certeza! Já sabe qual será a peça e o seu papel?
— perguntou Avalon.
— Não, acredito que Sra. O’Neal vai nos contar os detalhes
hoje durante a reunião.
— Se tiver alguma atriz gostosa escalada, passa meu número
para ela — disse Benjamin de repente, descendo a escada. — Não o
meu número oficial, ok? O meu número das garotas.
Benjamin era aquele tipo de homem que meu irmão lutava
para manter longe de mim. O que pegava e não se apegava, que
tinha pavor de relacionamentos e que, mesmo sem querer, deixava
um rastro de corações quebrados pelo campus.
— Número das garotas? O que é isso? — Aubrey deu um olhar
confuso para Benjamin.
— Você não vai querer saber o que é isso — Logan comentou
com desagrado. — Aliás, por que a minha irmã tem o seu número
das garotas?
— Na verdade, eu quero saber sim. O que isso significa? —
Aubrey insistiu.
Benjamim soltou um suspiro pesado, bem falso, e se
aproximou de Aub, tocando nos ombros dela.
— Princesa, um homem precisa saber escolher entre a guerra
e a paz. Eu escolhi a paz, por isso tenho um número de celular só
para as garotas, entendeu? Assim, elas ficam separadas da minha
vida privada e eu posso escolher se vou falar com elas ou não.
Aubrey ficou um tempo olhando fixamente para Benjamin,
antes de fazer uma careta de desprezo e tirar as mãos dele dos seus
ombros.
— Você é nojento!
— Eu já disse isso para ele — James comentou, parando ao
meu lado.
Meu coração idiota disparou do nada.
— Não sou nojento, princesa, sou inteligente.
— Não, você é nojento. Um homem de verdade não faz esse
tipo de coisa!
— Um homem de verdade? — Benjamin riu, como se Aubrey
não tivesse a menor ideia do que estava falando.
— Sim! Você pode ser um pegador e respeitar as mulheres ao
mesmo tempo — disse ela com a cara amarrada, muito parecida
com Avalon. Seu rosto estava vermelho como a cor dos seus
cabelos.
— Mas eu respeito as mulheres! — Benjamin pareceu quase
ofendido.
— Não entendo esse tipo de respeito, onde você pode transar
com elas, mas elas não podem ter acesso a sua “vida privada”, que
de privada não tem nada. Todo mundo conhece a sua fama, Ben.
— Está bem, Aub. — Avalon tocou o braço da irmã, puxando-a
para perto de si. — Já chega.
— Mas você não acha isso um absurdo, Ava?
— Benjamin é um homem adulto, capaz de cuidar da própria
vida. Não devemos nos meter.
— Isso mesmo, sua irmã tem razão, eu sou um homem adulto
e você, princesa, é uma criança.
Foi a vez de Aubrey parecer ofendida.
— Eu não sou uma criança! Vou fazer quinze anos mês que
vem!
— Ok, é uma adolescente.
— E sou mais ética e responsável do que você!
Eu me sentia assistindo um jogo de ping-pong, olhando de um
para o outro conforme discutiam. Não sabia se ria por Benjamin
estar se importando de fato com as palavras de Aubrey ou se ficava
chocada por ela estar dando uma surra verbal nele, porque era
lógico que eu concordava com a irmã da minha cunhada.
— Já chega! Vá para o carro, Aubrey! — Avalon ordenou,
usando aquela sua voz de mãe. Aubrey estreitou os olhos para
Benjamin, fez um biquinho irritado e nos virou as costas, saindo de
casa. Avalon sacudiu a cabeça. — Desculpa, Ben. Aubrey tem uma
mania irritante de achar que é sempre dona da razão e que é mais
velha do que a sua idade.
— Mas ela tem razão — disse meu irmão e Avalon deu um
olhar sério para ele. — Quer saber? Vou para o carro acalmar a
minha cunhada.
Meu irmão deixou um beijo em minha testa e saiu, logo sendo
acompanhado por Avalon após ela se despedir da gente. Com as
mãos na cintura, Benjamin se virou para mim e para James.
— São seis e meia da manhã de uma segunda-feira e eu
acabei de levar um esporro de uma adolescente que nem deve ter
beijado na boca ainda. Mereço isso?
— Merece — falei, arrumando a alça da minha bolsa em meu
ombro. — Porque Aubrey tem razão e, no fundo, você sabe disso.
Essa história de ter um número para garotas é ridícula, Benjamin
Ryan. Cresça! Um bom dia para vocês.
Soprei um beijo para os dois e saí de casa. Fui dirigindo até a
faculdade e, assim que estacionei, ouvi meu celular anunciar uma
notificação. Fiquei surpresa ao ver que eram mensagens de
Benjamin. Do seu número oficial.
Ben: Excluí o número das garotas.
Ben: Não foi fácil, doeu no meu peito, mas vocês estão
certos.
Eu: Aubrey está certa, foi ela quem esfregou isso na
sua cara.
Ben: Ela acha que pode falar qualquer coisa para mim,
igual a Avalon fala para o Logan, só porque eu a chamo de
princesa. Essa menina está muito mal-acostumada, mas eu
gosto da pirralha.
Eu ri ao ler a sua mensagem e fiquei aliviada por Aubrey ser
apenas uma garota de quase quinze anos, o que significava que ela
ficaria longe da mira de Benjamin.
Sorte a dela.
A peça escolhida pela Sra. O’Neal foi o clássico Romeu e
Julieta, de Shakespeare. Não seria um musical, o que John e eu
suspeitávamos desde o início, mas eu estava animada mesmo assim.
Com o roteiro e algumas falas de Julieta em mãos, deixei a sala de
reunião ao lado do meu amigo depois de ter me inscrito para ser a
protagonista. Os testes para o elenco aconteceriam no próximo mês.
— Tenho certeza de que iremos passar e viveremos Romeu e
Julieta nos palcos! — John disse, animado, me fazendo passar o
braço pelo seu conforme saíamos do prédio.
— Está pronto para escalar as trepadeiras e subir até a sacada
do meu quarto, querido Romeu?
— Claro, minha querida Julieta. Vamos fugir juntos e viver o
nosso amor proibido longe das nossas famílias!
Ele colocou a mão sobre o peito, na altura do coração, já
incorporando o personagem e me fazendo rir. Aquela estava bem
longe de ser uma história cômica, mas John sabia dar um toque de
humor em tudo o que fazia.
— Minha primeira aula de hoje foi com Alicia e ela não parou
de falar sobre James nem por um segundo — disse ele, mudando
completamente de assunto. — Além de ter mencionado mil vezes o
quanto ele é bonito, coisa que eu já sei, pois tenho dois olhos que
funcionam muito bem, ela também afirmou que ele foi muito
simpático e galante com ela. Pelo jeito que estava animada, se
James a convidar para sair, Alicia vai correndo.
— Que... Que bom — murmurei, mas limpei a garganta em
seguida, me obrigando a dar uma resposta mais firme. — Vou contar
isso para James, tenho certeza de que ele vai adorar saber.
— Se gostou de sair com Alicia, com certeza ele vai ficar
animado. — John deu dois tapinhas em minha mão atrelada ao seu
braço. — Seja sincera, eles formariam um casal bonito, não é?
— Sim. Eu acho que sim.
— Sim, com certeza formariam. Isso se James estiver mesmo
interessado em Alicia...
Desvencilhei-me do seu braço e parei à sua frente, dando a
John um olhar estreito. Estava frio do lado de fora do prédio e
precisaríamos caminhar até o estacionamento, mas eu queria
encarar meu amigo e observar de perto a sua expressão quando
fosse responder o que eu estava prestes a perguntar:
— Aonde quer chegar com tudo isso, John?
— Eu? Não quero chegar a lugar algum...
— Você é um excelente ator, mas não me engana. Somos
amigos desde o início da faculdade, o conheço muito bem. Seja
sincero comigo.
John soltou um suspiro e me olhou com um pouco mais de
seriedade.
— Sabe o que Alicia me disse? Além de tudo o que já te
contei?
— Não. O que ela disse?
— Disse que James, apesar de ter sido muito caloroso com
ela, parecia estar com a cabeça longe, e vivia olhando para o celular.
Quando recebeu a ligação, pareceu quase aliviado.
— Aliviado? Impossível. Mason ligou para avisar que a avó dele
estava passando mal.
— Sim, ele pareceu aliviado antes de descobrir o motivo da
ligação.
Sacodi a cabeça, sem entender o que aquilo queria dizer,
muito menos aonde John queria chegar.
— Isso não faz o menor sentido.
— Faz sentido na minha cabeça. James a levou para jantar
com Mason, acho que ele não relaxou durante o jantar com Alicia,
porque ficou pensando em você.
— Pensando em mim? John...
— Sim, ele deve ter ficado preocupado com você — John me
interrompeu. — Como amigo.
Estreitei os olhos.
— Da forma como você está falando, não parece uma
preocupação de amigo.
— Isso é você que está dizendo. — John me deu um sorrisinho
antes de voltar a ficar sério. — Desculpa, eu não quero confundir
você, Norah, só que não consegui parar de pensar na nossa
conversa ontem e depois do que Alicia me contou, acabei juntando
alguns pontos...
— Que pontos?
— E se você e James não sentirem apenas amizade um pelo
outro?
— Norah?
Eu me virei a tempo de ver Mason se aproximando de onde
John e eu estávamos, ainda em frente ao prédio onde tivemos a
reunião. Meu coração disparou por inúmeros motivos, o primeiro
deles foi a teoria louca de John, que eu ainda não sabia de onde
surgira, e, o segundo, foi a aparição repentina de Mason. Ele olhou
para mim e depois para John com o semblante meio confuso antes
de abrir um sorriso.
Meu Deus, será que ele ouviu alguma coisa do que John disse?
— Oi, Mason! — Aproximei-me dele e o cumprimentei com um
abraço antes de dar um passo para o lado. A mão dele permaneceu
em minha cintura. — O que faz aqui?
— Seu irmão deixou escapar que você teria uma reunião hoje.
Ele está orgulhoso, espalhando para todo mundo que você vai
encenar a primeira peça na faculdade.
Eu sorri com o peito aquecido. Podia mesmo imaginar Logan
fazendo aquilo.
— Talvez eu não passe no teste e fique auxiliando todo mundo
na coxia.
— Ela está sendo modesta, porque sabe que vai passar e será
a protagonista — disse John dando um passo em nossa direção.
— Eu tenho certeza de que sim — Mason murmurou, me
olhando com aquele sorrisinho despretensioso.
Mordi o lábio e respirei fundo, me sentindo subitamente
nervosa. Lembrei-me da boa educação que minha mãe me deu e
resolvi apresentar formalmente os dois.
— Mason, este é John, meu amigo e, John, esse é Mason, o
novo tight end do time.
— E futuro namorado dela. — Mason piscou conforme estendia
a mão para apertar a de John, que soltou uma risada efusiva
enquanto eu corava até a raiz dos cabelos.
— Boa sorte para passar por Logan e James — disse meu
amigo enquanto cumprimentava o jogador.
— James eu já conquistei. Ele é praticamente o nosso cupido.
— Dizem que ele é um pouco ciumento com a Norah...
— Isso é mentira — cortei John, vendo-o arquear uma
sobrancelha e me dar um sorrisinho idiota. — John está apenas
brincando.
— Sim, eu estou brincando — confirmou ele, dando um passo
para trás. — Preciso ir agora, Peter está me esperando para irmos
para a sua casa. Nos vemos amanhã, Norah?
— Claro que sim. — Aproximei-me dele e o abracei,
sussurrando em seu ouvido: — Vamos ter uma conversa bem séria
amanhã, engraçadinho.
— Então talvez eu falte — sussurrou de volta antes de se
afastar com um sorriso. — Até mais, Mason. Cuide bem da minha
amiga, não é apenas o James que se preocupa com ela.
Meu Deus, eu mataria John!
— Norah não corre qualquer risco comigo — garantiu Mason
ao voltar a me abraçar pela cintura.
John acenou e se afastou, me deixando sozinha com Mason.
Alguns poucos alunos transitavam por ali, mas como estávamos bem
longe do centro de treinamento, eles não ligavam muito para o fato
de o novo jogador do time estar parado em frente ao prédio onde
ficava o teatro da faculdade. Virei-me de frente para Mason e toquei
em seus ombros fortes, sentindo suas mãos agora em minha cintura.
— Fiz mal em vir até aqui?
— Claro que não. Eu estou surpresa, mas adorei a visita.
— Se está surpresa, é porque não deixei claro o bastante o
meu interesse por você. — Seus olhos desceram pelo meu corpo e
eu me senti esquisita. Um pouco invadida, mas aquilo era uma
besteira sem tamanho, obviamente, pois Mason nunca foi nada além
de maravilhoso comigo. — Aceita almoçar comigo?
Eu estava faminta e comeria um lanche rápido na cafeteria da
faculdade antes de ir para casa, então, o convite de Mason chegara
em boa hora. Seria incrível passar mais um tempo ao seu lado e
faria com que as palavras de John parassem de me deixar confusa.
— Claro! Se quiser, posso sugerir o restaurante.
— Eu ia pedir exatamente isso. Ainda não conheço muita coisa
por aqui. — Começamos a andar juntos com a sua mão na minha.
Senti seu olhar sobre mim. — E quero descobrir quais são os seus
lugares favoritos.
— Você vai ser um namorado dedicado. — Arrisquei a brincar,
esperando que Mason não notasse que minha mão estava suando
frio.
— Você não imagina o quanto.
Eu apenas sorri e segui com ele até o estacionamento.

Deixei o centro de treinamento sentindo cada músculo do meu


corpo rígido e dolorido após a mudança que o treinador fizera no
treino de cardio. Eu tinha uma ótima resistência para corrida, mas o
treinador parecia estar ainda mais sádico ao montar a grade de
exercícios para a nova temporada. Segundo ele, precisávamos estar
preparados para o início dos treinos dentro de campo.
— Estou morto de fome, vamos parar em algum lugar para
almoçar antes de ir para casa? — Benjamin perguntou assim que me
alcançou a caminho do estacionamento. — Logan foi encontrar com
Avalon, porque você sabe que ele não consegue respirar direito
quando está longo dela.
A risada que soltei foi muito mais pela careta de Benjamin do
que pelo fato de que ele estava certo. Logan já não sabia mais como
viver longe da Valente dele.
— Você soa quase com inveja.
— O quê? Inveja? Você tá maluco. — Sua expressão de horror
me divertiu.
— Fala verdade, está doido para conhecer uma Valente
também.
— Nem fodendo. Olha, podemos não falar sobre mulheres
hoje? Ainda estou sensível por ter excluído o número das garotas.
— Não acredito que você realmente fez isso.
Benjamin fechou a cara, quase parecendo arrependido, e eu
podia jurar que estava mesmo. Ele não era extremamente babaca,
não enganava as garotas e, aquelas que insistiam em tentar
conquistar de verdade o running back, faziam aquilo por sua conta e
risco. Nenhuma nunca conseguiu. Benjamin parecia ser realmente
blindado contra o amor, talvez por tudo o que vivenciou na infância e
adolescência, e eu não sabia ao certo o que pensar sobre aquilo.
Me encantei por Megan, me apaixonei por ela e quebrei a cara.
Por algum tempo, fiquei como Benjamin, meio amargurado, sem
querer pensar em me envolver sério com alguém de novo, mas eu
sentia que havia superado aquilo. Já não pensava mais em Megan
nem na sua traição. Obviamente, era algo que sempre me
acompanharia, pois eu acreditava que não nos esquecíamos
daqueles que, um dia, brincaram com os nossos sentimentos, mas
eu não era radical como Ben.
E, no fundo, nunca amei Megan de verdade. Ter aquela
certeza dentro de mim era o que me provava que, um dia, eu
poderia me apaixonar de novo e viver um relacionamento verdadeiro
como o dos meus pais.
— Sim, eu fiz. Fiquei me sentindo mal com o que Aubrey me
falou, sabe? — Benjamin bufou. — Não acredito que uma pirralha
me atingiu desse jeito.
— É porque você se importa com ela. Sempre levamos em
consideração a opinião de quem nos importamos.
— Sim, eu gosto dela, acho a garota uma fofa e gostei que
usou a minha camisa na final, para me dar apoio moral. — Ben riu.
Ainda me lembrava da sua cara de surpresa quando Aubrey
apareceu vestida com a sua camisa no dia anterior ao jogo e
afirmou que a usaria durante a partida. — Ela disse que me daria
sorte e deu mesmo.
— E todas as outras garotas que usaram a sua camisa naquele
dia?
— Elas deram sorte para o meu pau. Ele se divertiu muito na
festa da vitória.
— Você é um idiota do caralho — ralhei, dando um soquinho
em seu ombro e ouvindo a sua risada.
— Não tenho culpa se você foi dormir sozinho naquela noite,
mesmo estando cercado por garotas que estavam doidas para ir
para a sua cama.
Eu apenas dei de ombros, sem saber como responder àquilo.
Curti muito naquela noite, bebi demais, mas não estava no clima
para ficar com ninguém. Benjamin pareceu que ia continuar o
assunto, mas franziu o cenho e parou no início do estacionamento,
me fazendo parar também. Um assobio saiu da sua boca.
— Parece que Mason está mesmo investindo na Norah.
Eu segui o seu olhar e vi Mason e Norah se dirigindo para o
carro dela de mãos dadas. A garota sorria de algo que o jogador
havia acabado de falar e eu engoli em seco, surpreso por encontrá-
los juntos em plena segunda-feira. Nem mesmo tinha visto Mason
deixar o centro de treinamento, como já estava grudado em Norah
daquele jeito?
— Acha que vai rolar algo sério entre eles? — Ben perguntou
ao meu lado.
— Não sei. — Minha resposta saiu meio anasalada. Eu sentia
um bolo na garganta conforme os observava.
Mason parou com Norah em frente ao Audi dela e os dois
trocaram mais algumas palavras. Senti meu peito ficar apertado,
meu coração começar a disparar, quando ele tomou o rosto dela nas
mãos e começou a se aproximar. O babaca iria beijá-la? Bem ali, na
frente de todo mundo, em plena luz do dia? Sem pensar direito, dei
um passo para frente, mas Benjamin segurou o meu braço e me
encarou com confusão.
— O que está fazendo? — Eu olhei para ele, depois para
Mason e Norah. — Não está pensando em dar uma de Logan e ir até
lá atrapalhar o lance da Norah, está?
O lance da Norah.
Norah não era uma garota para se ter um lance, porra! E não,
eu não estava querendo ir até lá para agir como Logan, eu estava...
Eu nem sabia ao certo o que estava prestes a fazer, mas segurei a
minha respiração mesmo assim quando Mason aproximou o rosto do
dela e... beijou a sua bochecha.
Soltei todo o ar que estava em meus pulmões, a ponto de
sentir meus ombros relaxarem. O tight end deu um passo para trás
e se afastou de Norah, acenando para ela e atravessando para
entrar em sua BMW. Eles não iriam sair juntos. Ótimo.
Deixaria para pensar depois sobre o porquê de me sentir tão
aliviado sobre aquilo.
— James? — Virei-me para Benjamin, encontrando-o com o
cenho franzido. — O que está acontecendo?
— Nada. — Limpei a minha garganta para que a minha voz
saísse mais firme. — Não está acontecendo nada. Vamos embora?
Eu faço o almoço.
Benjamin continuou a me dar um olhar especulativo, cheio de
desconfiança, e eu fiquei me perguntando sobre o que estava
passando pela sua cabeça. Era melhor que eu não soubesse, afinal.
Minha mente já estava confusa o suficiente. Por fim, Ben apenas
assentiu.
— Vamos logo, estou morrendo de fome.
Fomos cada um para o seu carro e, já ocupando o lugar do
motorista, vi que Norah não tinha saído ainda e resolvi mandar uma
mensagem rápida para ela.
Eu: Omelete ou macarrão com queijo para o almoço?
Aproveita que estou te dando a chance de escolher.
Sua resposta chegou momentos depois:
Norah: Estou indo almoçar com Mason.
Porra. Meu coração sofreu um solavanco no peito e o alívio
que senti simplesmente desapareceu. Como um idiota, perguntei:
Eu: Agora?
Norah: Sim. Ele veio me encontrar no prédio onde eu
estava tendo a reunião com a professora O’Neal e me
convidou.
Eu: Seu irmão linguarudo entregou a sua localização.
Norah: Sim, Mason me contou.
Logan era um fofoqueiro do caralho! Respirei fundo e me
obriguei a parar de surtar. Que merda estava acontecendo comigo,
afinal? Eu sabia que Mason era um cara legal, ele parecia realmente
interessado em Norah e ela parecia retribuir o sentimento. Não
precisava me preocupar com nada, nem sentir aquele aperto
esquisito no peito.
Eu: Tudo bem, então. Divirta-se. Qualquer coisa, você
sabe que pode me ligar.
Norah: Eu sei disso. Faça macarrão com queijo, vou
comer no jantar.
Eu: Vou pensar no seu caso.
Deixei o meu celular de lado após mandar beijos para ela e
coloquei meu carro em movimento, me obrigando a ignorar toda
aquela merda que estava acontecendo comigo em relação a Norah.
Levei Mason a um restaurante que se parecia com os pubs
europeus e serviam o melhor peixe com fritas do Alabama, além de
ser conhecido por vender a autêntica cerveja Guinness. Nós
pegamos uma mesa mais afastada dos clientes e rapidamente
fizemos os nossos pedidos. Eu não queria beber, mas Mason pediu
uma cerveja e eu acabei aceitando.
— A nós dois. — Mason sorriu, animado, erguendo o copo em
minha direção.
— A nós dois.
Brindamos e dei um gole na bebida escura e levemente
adocicada. Era a cerveja favorita da minha mãe, mas não quis
pensar demais nela e acabar me emocionando na frente de Mason.
— Nem acredito que estou sozinho com você de novo. —
Mason esticou a mão sobre a mesa até entrelaçar os dedos nos
meus. — Não consegui parar de pensar em você durante o final de
semana inteiro.
Eu abri a boca e, por um momento, quase falei que também
não consegui parar de pensar nele, mas seria mentira. Não era certo
começar uma relação com mentiras, por mais inocentes que fossem.
— Também senti a sua falta e queria ver você de novo.
— É mesmo?
— Sim.
— Que bom, porque estou gostando mesmo de você, Norah —
disse Mason e senti o tom da conversa mudar um pouco, ficar mais
séria. — Sei que pode parecer rápido demais, mas eu sinto tudo com
intensidade, sempre fui assim. Quando quero uma coisa, faço de
tudo para conseguir.
— Isso é... bom — murmurei, tentando encontrar as palavras
certas.
Aquilo era bom, não era? Ser obstinado, focado em seus
objetivos, ter certeza do que queria e não desistir no meio do
caminho.
— Por isso gosto de honestidade, gosto de saber que não sou
o único a estar me entregando enquanto a outra parte não está na
mesma página que eu. — Seus olhos claros ficaram mais sérios e eu
senti a minha garganta subitamente seca. — Eu ouvi o que John
perguntou quando estava me aproximando de vocês.
— O que ele perguntou? Sobre...
— Sobre você e James.
Fechei os olhos por um segundo. No fundo, eu sabia que
Mason ouvira, ele estava próximo demais quando anunciou a sua
presença e John havia acabado de fazer aquela pergunta sem
sentido.
— Mason, não dê ouvidos para John. Ele tem essa mania de
ver coisas onde não existem.
— Será mesmo? Ou você e James nutrem sentimentos um
pelo outro e eu estou me intrometendo? Se for isso, Norah, prometo
me afastar e seremos apenas amigos.
Mason ameaçou afastar a mão da minha, mas eu a segurei
mais forte, colocando minha outra mão por cima das nossas ainda
entrelaçadas.
— Não! James e eu somos apenas amigos, nós nos
conhecemos desde que eu era criança, não há nada entre nós dois.
— Tem certeza?
— Claro que sim!
— Porque, na festa de comemoração do time, ele foi bem
territorial com você e disse que você era a garota dele.
Meu estômago ficou agitado com a lembrança, como se mil
formigas estivessem andando no interior da minha barriga, e minha
pele ficou arrepiada. Eu me lembrava daquilo. Da forma como James
me abraçou pelos ombros e pareceu estufar o peito quando Mason
disse que um dia, talvez, eu usasse a camisa dele e não mais a do
wide receiver.
— James estava bêbado. Foi apenas um ciúme bobo, como de
um irmão.
— Nunca ouvi Logan falando que você é a garota dele —
Mason insistiu com os olhos levemente estreitos.
Eu suspirei, me sentindo em um beco sem saída. Como faria
Mason acreditar que entre mim e James não existia nada além de
amizade?
Porque realmente não existia.
Dormimos de conchinha duas vezes? Sim.
Senti-me incomodada quando ele saiu com Alicia? Sim.
Eu babava em seu corpo quase todos os dias? Sim.
Tive uma paixão boba por ele quando era adolescente? Sim.
Mas isso não queria dizer que entre nós dois havia mais do
que amizade ou que eu sentisse algo mais por James. Eu não sentia.
Nem poderia sentir. Logan jamais perdoaria James se ele tocasse de
qualquer outra forma em mim e eu nunca me perdoaria se colocasse
em risco amizade dos dois.
— Juro que não há nada mais do que amizade entre James e
eu, Mason — afirmei com a voz mais firme, torcendo para que
acreditasse em mim, porque aquela era a única verdade que eu
conhecia. — Somos muito unidos porque nos conhecemos há anos,
mas é só isso.
— Então, o que há entre mim e você pode continuar
acontecendo?
— Sim. — Eu sorri e acariciei o dorso da sua mão com o meu
polegar. — Também estou muito interessada em você e não quero
que nada fique entre nós dois.
Mason sorriu, parecendo satisfeito, e tomou mais um gole da
cerveja. Seu olhar percorreu todo o meu rosto, desde a minha testa
até parar em meus lábios.
— Que bom, Norah, porque conhecer você naquela festa
trouxe um novo sentido à minha vinda para o Alabama.
Suspirei, me sentindo encantada com as suas palavras, mas ao
mesmo tempo pressionada. Ignorei aquele sentimento fora de hora
e sorri, tentando aproveitar o almoço e a companhia do jogador.

Passei um bom tempo deitada em minha cama assim que


cheguei em casa, pensando no almoço com Mason. Era engraçado
como o nosso corpo podia reagir de formas semelhantes, mas por
motivos completamente diferentes. Perto de Mason eu sentia as
mãos suarem frio, meu coração se acelerar um pouco, a timidez me
dominar, mas tudo proveniente de um certo nervosismo que eu não
sabia explicar de onde vinha.
Mason era um cara maravilhoso. Bonito, divertido, carinhoso.
Ele me dava olhares intensos, que mexiam comigo, e sempre me
pegava de surpresa quando me tocava, fosse na mão ou na cintura.
Ainda podia sentir o seu beijo em minha bochecha e o certo receio
que me atingiu quando pensei que ele beijaria a minha boca.
Era aquilo que me deixava confusa. Eu deveria querer o beijo
dele, não o temer. Sentei-me na cama, soltando um suspiro de
frustração. O que estava acontecendo comigo?
Senti vontade de ir até James para conversar com ele, mas
fiquei com um pouco de vergonha. De alguma forma, conversar
sobre Mason com James parecia estranho para mim, outra coisa que
eu não entendia, pois foi para ele que contei quando dei o meu
primeiro beijo quando ainda era uma menina.
Mas, naquela época, você ainda o via apenas como um amigo.
Silenciei a voz em minha cabeça e saí de vez da cama. Vovó
me enviara uma mensagem mais cedo, pedindo para que eu fosse
jantar com ela, pois meu pai estava viajando e ela estava sozinha
em casa. Perguntei se Logan também deveria ir, mas, segundo a
matriarca, seria um jantar apenas de meninas. Sorri com aquilo,
sentindo ainda mais falta da minha mãe, mas vovó ocupava bem
aquele espaço materno em meu peito.
Tomei um banho rápido e me vesti, encontrando James e
Benjamin no sofá. Ben dormia e James se levantou assim que me
viu.
— Aonde vai toda bonita desse jeito?
— Jantar com a minha vó — falei e James pareceu surpreso.
Talvez acreditasse que eu fosse me encontrar com Mason de novo.
— E obrigada pelo elogio, nem me arrumei direito.
— Você está sempre linda para mim. — O jogador tomou a
minha mão e me levou até a cozinha. — Como foi o almoço com
Mason?
— Foi ótimo. Ele parece mesmo interessado em mim e eu
estou tentando me acostumar com isso.
James deixou o celular sobre a ilha da cozinha e abriu a
geladeira. Eu não consegui desviar o olhar da sua bunda dura bem-
marcada sob a calça de moletom cinza que caía com perfeição em
sua cintura. Era uma pena que ele estivesse usando uma camiseta
naquele momento. Mordi a língua, obrigando o pensamento
inapropriado a sair da minha cabeça. James pegou uma garrafa de
água dentro da geladeira, um copo sobre a bancada, e voltou para
perto de mim na ilha central.
— Tentando se acostumar? Como assim?
— Os homens, geralmente, não demonstram interesse por
mim, eles apenas fogem com medo do meu irmão.
James deu um sorrisinho e sacodiu a cabeça conforme tomava
um gole da água gelada.
— Não são homens, são covardes — disse ele.
— E Mason não parece ser covarde.
James parou com o copo a caminho da boca, ficando sério de
repente, seus ombros se tensionando. Por um momento, me
perguntei se eu havia falado algo de errado.
— Sim, ele não parece ser covarde — concordou baixinho,
franzindo levemente o cenho.
Senti que iria falar mais alguma coisa, mas seu celular vibrou
sobre a bancada de granito com uma nova notificação de
mensagem. O nome de Alicia na tela me causou um rebuliço por
dentro, me pegando completamente de surpresa, mesmo sabendo
que não deveria. Eles saíram juntos e estavam se conhecendo, era
óbvio que deveriam estar trocando mensagens. Obriguei-me a não
ficar pensando sobre o que conversavam, se estavam marcando de
sair novamente, talvez para transar. Afastei-me da ilha e James
arregalou um pouco os olhos, dando a volta para me encontrar.
— Preciso ir, vovó tem o costume de jantar cedo.
Seu celular vibrou de novo e James olhou com certa irritação
para o aparelho, me deixando confusa. Por fim, apenas concordou
com a cabeça.
— Claro. Tome cuidado na pista, estava chovendo agora há
pouco.
— Pode deixar, irmãozinho.
Ele riu e se aproximou para deixar um beijo em minha testa,
fazendo meu coração ficar acelerado por um motivo completamente
diferente de quando Mason se aproximava de mim.
— Estou bem longe de ser o seu irmão, Norah. — Sua voz
soou grave e meio rouca, me deixando arrepiada. — Se precisar de
alguma coisa, me liga.
James se afastou e eu engoli em seco, torcendo para que
meus mamilos não despontassem sob a minha blusa, porque eles
simplesmente endureceram. Droga, aquilo era ruim. Era ruim pra
caramba. Acenei para ele e saí quase correndo de casa, respirando o
ar frio do lado de fora a caminho do meu carro.
Fiz o caminho até a mansão tentando não pensar naquelas
reações do meu corpo a James. Sempre reagi a ele, mas nunca
daquela forma tão... intensa e inapropriada. Nem poderia colocar a
culpa no frio, porque o aquecedor estava ligado dentro de casa e ele
funcionava muito bem. A culpa era totalmente minha e do meu
sistema nervoso traidor.
Cheguei à minha antiga casa com o céu já escurecendo e
fiquei surpresa ao ouvir vozes vindas da sala de estar. Sorri ao
encontrar vovó Meredith acompanhada por vovó Emory, as duas
conversando e tomando um drinque. Nada de chá para elas, pelo
visto.
— Por que começaram a beber sem mim? — perguntei,
anunciando minha presença.
As duas se levantaram e abracei bem forte cada uma,
sentando-me entre elas no sofá. Vovó pediu para que servissem uma
taça de cosmopolitan para mim e apontou para vovó Emory.
— Foi ela que me influenciou a tomar um drinque em plena
noite de segunda-feira.
— Estamos velhas, não mortas, sua avó precisa entender isso.
E eu não aguento mais tomar chá, estou bem longe de ser a Rainha
da Inglaterra para tomar chá o dia todo — disse vovó Emory, me
fazendo rir.
— A senhora está certa, mas deveria mesmo estar bebendo
depois de passar mal na sexta-feira?
— Disse bem, isso aconteceu na sexta-feira, eu já estou ótima
e minha saúde está perfeita! — Ela deu dois tapinhas em meu
joelho. — Obrigada por se preocupar comigo, querida.
Eu apenas balancei a cabeça, querendo dizer que não
precisava me agradecer, e aceitei o drinque que a governanta me
entregou. Precisei me levantar para cumprimentá-la com um abraço,
e logo voltei a ficar sozinha com minhas duas avós, a de sangue e a
de coração.
— Emory me contou que a encontrou no restaurante com um
rapaz... — Eu sabia que vovó puxaria aquele assunto.
— Um rapaz bonito — comentou vovó Emory. — Mas meu
James é mil vezes mais bonito do que ele, não é, Norah?
Quase cuspi a bebida ante à sua pergunta, mas consegui
controlar a minha surpresa. Engoli sem me engasgar e sorri.
— Os dois são bonitos...
— Mas James é mais — concluiu ela e, bem, vovó Emory não
mentia. James era mesmo mais bonito, mas como eu poderia falar
aquilo sem que soasse estranho?
— Conte-me mais sobre o rapaz com quem estava jantando —
pediu minha avó, me salvando de responder.
— O nome dele é Mason e é o novo jogador do time de
futebol, nós estamos ficando mais próximos.
— Próximos? O que isso significa? — vovó Emory perguntou
com olhos de águia sobre mim.
Pensei no almoço com Mason e em nossa conversa, na forma
clara como foi comigo e demonstrou o seu interesse. Ele queria algo
sério e eu também queria aquilo. Queria me apaixonar, namorar,
viver um romance como do meu irmão com Avalon. Eu a via sorrindo
e suspirando quando achava que ninguém estava observando, tão
apaixonada por meu irmão quanto ele era por ela. Será que me
sentiria daquela forma por Mason em algum momento?
— Estamos conhecendo melhor um ao outro. Aquele jantar foi
o nosso primeiro encontro.
— E como foi? Você gostou de passar um tempo com ele? —
perguntou minha avó.
— Sim, eu gostei. — As duas senhoras se encararam
rapidamente, parecendo desconfiadas da minha resposta, e eu
decidi ser mais enfática: — Gostei muito! Mason é um cara incrível e
parece estar mesmo gostando de mim.
— E você está gostando dele? — vovó Emory questionou.
— Estou. Como eu disse, ainda estamos nos conhecendo, mas
estou gostando dele, sim.
— Você não parece tão entusiasmada, querida — minha avó
comentou.
— Eu estou entusiasmada! Nós almoçamos hoje novamente e
foi ótimo.
— Eles ainda estão se conhecendo, Meredith — disse vovó
Emory, tocando em minha mão. — Para se conquistar confiança e
afeto demora um tempo.
Eu concordei com a cabeça, com um entusiasmo verdadeiro,
quase aliviada pelas palavras de vovó Emory. Eu precisava falar
aquilo para mim mesma. Que os sentimentos, às vezes, demoravam
para surgir, e que eles iam muito além de uma simples atração.
Porque era claro que eu me sentia atraída por Mason. Ele era um
homem lindo, chamou a minha atenção desde a nossa primeira
interação, e foi o único cara com coragem suficiente para se
aproximar de mim sem medo do meu irmão.
— Tem razão, mas quando conheci meu falecido Logan, eu
simplesmente tive certeza de que ele era o homem certo. Ele fazia o
meu coração ficar acelerado apenas por estar ao meu lado ou olhar
para mim, seu toque me deixava com um frio na barriga delicioso e
a sua voz... Eu ficava arrepiada apenas em ouvi-la.
Fiquei presa às palavras da minha avó, à expressão saudosa
em seu rosto, o brilho em seus olhos. Novamente, me peguei
pensando em como nosso corpo podia reagir de maneira
semelhante, ainda que por sentimentos diferentes. E fiquei
assustada. Porque não me sentia daquela forma por Mason, mas
sentia por Jam...
Não. Pare com isso, Norah! Pare agora mesmo!
— Era dessa forma que eu me sentia por Joseph. — Foi a vez
de vovó Emory sorrir. — Sei que parece uma bobagem dita por duas
velhas, mas acredite, Norah, nosso coração simplesmente sabe
quando o homem certo está por perto. Ele nos avisa. Nem sempre
sabemos interpretar os seus sinais, às vezes demoramos um pouco
para ouvi-lo, mas ele sempre sabe.
— Esse rapaz, Mason, causa algo parecido em você?
Abri e fechei a boca, sem saber o que responder. Talvez o meu
silêncio já fosse uma resposta, mas eu precisava dizer alguma coisa.
Qualquer coisa.
— Ele me causa frio na barriga, sim, e meu coração se acelera
um pouco — murmurei, querendo fugir do olhar delas e, ao mesmo
tempo, simplesmente confessar que não era Mason quem me
causava todas as reações que descreveram.
Mas eu não poderia falar nada porque, primeiro, James jamais
sentiria qualquer uma daquelas coisas por mim e, segundo, ele era o
melhor amigo do meu irmão. Ficar com Mason escondida de Logan
era uma questão de sobrevivência da minha independência, mas
pensar em fazer algo parecido com James? Seria uma traição.
E eu nem precisaria me preocupar com aquilo, pois nunca
ficaríamos juntos daquele jeito. Sabia daquilo quando me apaixonei
rapidamente por James quando mais nova e continuava sabendo
agora.
— Acho que todos esses sentimentos que descreveram vão
surgir com o tempo, com a convivência. Nem todo mundo tem a
sorte de vocês duas de se apaixonar à primeira vista — brinquei e
elas sorriram.
— Pode ser que tenha razão, mas você nunca sentiu isso por
ninguém? — vovó Emory perguntou, olhando dentro dos meus
olhos.
— Nunca — menti, desviando do olhar dela.
— Tem certeza? — perguntou minha avó.
— Sim. — Terminei o meu drinque e fiquei aliviada quando
anunciaram que o jantar já estava servido. — Vamos comer? Estou
morrendo de fome!
Nós nos levantamos e fui com as duas senhoras até a sala de
jantar, torcendo para que mudassem de assunto durante a refeição.
As últimas duas semanas passaram praticamente se
arrastando entre as aulas na faculdade, treinos físicos intensos e
reuniões com os técnicos do time. Estávamos em fevereiro, mas os
meses passavam em um piscar de olhos e o tempo sempre parecia
correr contra a gente. Precisávamos estar preparados, tanto física
quanto mentalmente, para o início da temporada, e aquele era o
momento de dar o nosso sangue para podermos apresentar a
melhor performance quando os jogos começassem.
Nosso time era unido e até mesmo os novatos, como Mason,
já haviam se enturmado. O tight end era o tipo de cara que se
tornava rapidamente o amigo de todos, até mesmo Logan, que
desconfiava do interesse do jogador por sua irmã, ia com a cara
dele. Eu não tinha nada contra Mason, pelo contrário, fui eu mesmo
que incentivei Norah a dar uma chance para ele, mas me sentia cada
vez mais incomodado com a sua presença, o que era uma idiotice
tremenda da minha parte.
No fundo, uma voz em minha cabeça alertava que eu estava
com ciúmes, mas eu não dava muita bola para ela.
Norah e Mason estavam cada vez mais próximos, almoçavam
quase todos os dias juntos e Norah vivia trocando mensagens com
ele. Não sabia se eles já haviam se beijado, pois não tive coragem
de perguntar para Norah, mas sentia que, se ainda não havia
acontecido, em algum momento, aconteceria. A garota parecia
entusiasmada com o jogador e eu só podia ficar feliz por ela
finalmente estar vivendo a sua vida como tanto queria.
O problema, era que eu não estava tão feliz assim.
Ciúmes. Você está com ciúmes, James McHugh. Está perdendo
a sua garota para Mason.
Minha garota.
Eu falava aquilo para Norah, mas nunca com segundas
intenções. Ela era minha garota por ser especial, por eu a ter visto
crescer, por ter sido o escolhido por ela para saber os seus segredos
e guardá-los comigo. Ela não era minha no sentido amoroso. E o
ciúme que eu sentia também não tinha nada a ver com aquilo, era
só um sentimento bobo de amizade. Estava com medo de perder a
intimidade que tinha com Norah, apenas isso, e sentia que esse
medo não era infundado.
Ela parecia distante de mim. Desde a conversa que tivemos
em meu quarto, Norah estava estranha, hesitante, e eu não sabia o
motivo.
Não queria perdê-la e era apenas por isso que me sentia
daquele jeito sobre ela e Mason.
​ stacionei em frente ao Maeve’s e atravessei a rua correndo
E
até o bar. Era sábado à noite, o lugar já estava praticamente cheio,
mas eu não precisava de uma mesa. Logan guardara um banco ao
seu lado em frente ao balcão, seu lugar cativo para ficar perto de
Avalon. O quarterback era aquele tipo de namorado e eu ainda me
pegava rindo ao pensar em como ele babava em cima da sua
Valente.
— Ainda não acredito que dispensou uma festa em pleno
sábado à noite para ficar tomando cerveja comigo — disse assim
que me sentei ao seu lado.
Estava mesmo rolando uma festa na casa de um dos alunos
populares da UA, Benjamin havia até mesmo postado stories do
lugar lotado, mas não senti vontade de ir. Fiquei em casa, jogado no
sofá, sem muito ânimo para sair, até ser surpreendido por Norah
descendo a escada toda arrumada. Ela estava linda usando uma
calça jeans muito justa, uma blusa preta levemente transparente,
colada ao corpo, e botas de salto médio. Uma jaqueta de couro
estava pendurada em seu braço.
Eu sabia por que ela havia se arrumado daquela forma, mas
perguntei do mesmo jeito. R ecebi um sorriso nervoso dela
enquanto me respondia:
— Mason me chamou para sair com ele, parece que descobriu
um pub parecido com aquele que costumamos frequentar e quer
conhecê-lo comigo.
Eu engoli em seco e assenti, sem conseguir tirar os olhos dela.
— Não vai precisar da minha ajuda para encobrir os seus
rastros de Logan? — Fiz de tudo para que a pergunta saísse da
minha boca em um tom de brincadeira e Norah acreditou em mim,
pois riu.
— Não será preciso, meu irmão já está no Maeve’s e disse que
vai dormir com a Avalon. — Ela ficou em silêncio por um segundo e
eu senti que suas próximas palavras cairiam como uma bomba em
meu colo. — Acho que está chegando a hora de parar de me
esconder do meu irmão.
Foi realmente como se uma bomba tivesse explodido, mas não
no meu colo. Foi dentro de mim e eu fiquei assustado pra caramba.
Eu sentia que aquilo aconteceria em algum momento. Via a
movimentação de Mason para cima da Norah, a intimidade
crescendo entre eles. Porra, eu a incentivei a conhecer melhor o
jogador, praticamente dei o aval para que ele se aproximasse dela.
Norah era uma mulher linda, inteligente e amorosa, Mason não seria
idiota de deixá-la escapar. E não deixou. Ele a conquistou e eu me
sentia...
Eu me sentia estranho e confuso pra caralho.
Ainda assim, forcei um sorriso.
— Que bom, Norah. Você merece isso, de verdade.
O peito de Norah subiu e desceu com uma respiração profunda
e eu nunca me senti tão longe dela quanto naquele momento, ainda
que poucos metros a mantivessem afastada de mim.
— Não daria certo se você não tivesse me ajudado no início de
tudo.
Pois é, eu ajudei mesmo. Se Norah estava pensando em contar
para o irmão que estava se envolvendo com Mason, era porque eu
agira de maneira correta. Precisava me lembrar disso mais vezes,
até a minha mente se acostumar com aquela nova realidade.
Norah estava prestes a namorar sério. Ela já não era mais a
minha garota.
Para a minha surpresa, Norah se aproximou até onde eu
estava no sofá e deixou um beijo estalado em minha bochecha, me
dando a oportunidade de sentir mais de perto o cheiro do seu
perfume. Meu peito se apertou, como se já estivesse sentindo a sua
falta.
— Eu te amo, James McHugh. Nunca se esqueça disso.
— Por que eu esqueceria?
— Porque quando você namorou com a Megan, eu quase me
esqueci de que você ainda me amava e não quero que isso aconteça
com você.
Eu estreitei os olhos para ela e forcei um novo sorriso.
— Você ainda não está namorando com Mason... Ou está?
— Ele não fez o pedido.
— Então, ainda não está — afirmei e aquilo, mesmo sem
querer, me deixou um pouco aliviado. — Mas pode ficar tranquila,
não vou me esquecer de que você me ama profundamente, a ponto
de quase não conseguir respirar.
Norah soltou uma gargalhada e eu acabei rindo também,
sentindo saudades de apenas passar um tempo com ela. A última
vez que ficamos sozinhos de verdade foi naquela manhã em meu
quarto, onde ela achou que posaria nua para mim. Aquela conversa
sempre ficava se repetindo em minha mente.
— Não precisa exagerar desse jeito. — Uma buzina soou do
lado de fora e Norah se afastou de mim. — Estou indo. Procure algo
para fazer, não fique sozinho em casa.
— Sim, senhora. Mais alguma recomendação?
— Seja consciente e use camisinha.
— Não pretendo transar e espero que você também não!
Eu me ergui do sofá a tempo de ver Norah caminhar até a
porta de casa, seus cachos longos chegando à cintura fina e quase
batendo em sua bunda gostosa moldada pelo jeans. Ela tocou a
maçaneta e virou apenas o rosto em minha direção.
— Não vai ser hoje que eu vou perder a virgindade, pode ficar
tranquilo.
E foi naquele momento que eu descobri que meu coração era
forte pra caralho, pois se não tive um ataque fulminante naquele
exato segundo, era porque o órgão era mais resistente do que eu
imaginava.
Sentei-me no sofá me sentindo um pouco atordoado. Eu
desconfiava que Norah era virgem, mas nunca tive certeza, afinal,
não convivia com a garota vinte e quatro horas por dia e passamos a
morar juntos apenas no ano passado. O fato de ela nunca ter
namorado não queria dizer nada. Perdi a virgindade com uma garota
que também era virgem e nunca namoramos.
Ter aquela certeza me deixou com o coração acelerado e uma
gota de suor gelado desceu pela minha nuca. Norah era virgem e
Mason que teria o privilégio de ser o primeiro homem dela.
Caralho, eu não queria pensar naquilo.
Por isso, enviei uma mensagem para Logan, apenas para
confirmar se ele estava no Maeve’s, e entrei em meu carro logo
depois de ele responder. Dirigi meio aéreo até o bar e ainda me
sentia assim conforme Avalon colocava uma long neck na minha
frente e Logan aguardava pela minha resposta.
— Eu sou um bom amigo, não queria te deixar esperando pela
sua Valente sozinho. — Pisquei para Avalon, apenas para irritar o
QB, e ela riu enquanto ele estalava a língua no céu da boca.
— Para de roubar meu apelido, James!
— Não vou parar, a maior diversão da minha vida é te deixar
puto, estrelinha dourada.
— Você precisa arrumar outra fonte de diversão. Uma
namorada, talvez? — Logan sugeriu e a imagem de Norah apareceu
em minha mente.
Ah, não.
Não mesmo, porra!
Dei um gole longo na cerveja, esperando que o álcool
dominasse a minha cabeça.
— Por que todo casal apaixonado acha que os solteiros
precisam começar a namorar?
— Porque a gente quer que vocês tenham a mesma felicidade
que a gente — Avalon respondeu, apoiando os braços no balcão. —
Não tem ninguém na sua mira, jogador?
— Não — respondi bem rápido, antes que Norah aparecesse
em minha mente de novo. — E eu estou muito bem assim, curtindo
a minha solteirice.
— Curtindo como, se está aqui comigo? Eu sei que sou bonito
e gostoso, mas já tenho dona. — Logan apontou para Avalon, dando
um sorriso safado para ela.
— Essa é a sua forma discreta de dizer que é para eu ir
embora?
— Não, estou feliz por ter você aqui, tem tempo que não
tomamos uma cerveja juntos e apenas relaxamos um pouco. —
Logan encostou a garrafa na minha e deu um gole na bebida. — Só
falta o Ben, mas o idiota é guiado pelo pau.
— Aposta quanto que ele vai reclamar quando descobrir que
bebemos juntos hoje? — perguntei com uma risada. Benjamin não
dispensava uma festa, a não ser para passar um tempo comigo e
com Logan. Se tivéssemos planejado melhor, ele estaria conosco
naquele momento.
— Claro que vai reclamar, ele ama um drama. Ainda está
resmungando pelos cantos por ter excluído o número das garotas. —
Logan revirou os olhos e eu ri, me lembrando do sermão de Aubrey
para cima de Benjamin.
Avalon se afastara para encher canecas de chope, mas foi
olhando para ela que eu respondi ao QB:
— Aub não nega de quem é irmã.
— Verdade. — Logan abriu um sorriso bobo. — Eu amo essa
mulher, sabe? Amo pra caralho. E Aubrey... Ela é como minha
irmãzinha, sou doido por aquela garota, e já estou com medo de
como será o futuro quando ela entrar para a faculdade. — Eu
gargalhei alto ao ouvir aquilo, desviando da tampinha da garrafa de
cerveja que Logan jogou em minha direção. — Isso não tem graça,
idiota.
— Desculpa, mas tem sim. Só você se preocuparia com isso,
Logan. Aubrey é uma criança ainda, preserve a saúde do seu
coração, cara.
— Eu sei disso, mas ela quer ser líder de torcida. Como posso
ficar tranquilo?
— Pode ficar tranquilo vivendo o presente e parando de se
preocupar com o futuro.
— No presente, eu tenho a minha irmã para cuidar, e sei que
Norah está aprontando alguma coisa... — Ele bateu com o dedo na
própria têmpora. — Meu sexto sentido está me avisando.
— É mesmo? E o que ele está dizendo?
— Que Norah está conhecendo alguém, talvez o Mason... Sabe
de alguma coisa?
Observei bem os olhos de Logan e sua expressão, procurando
por qualquer indício de que estivesse suspeitando de mim, mas não
encontrei nada. Aquilo me deixou aliviado e culpado ao mesmo
tempo.
— Não. — Mentir para ele foi terrível, mas eu não trairia a
confiança de Norah, nunca. — Mas se sua irmã realmente estiver
conhecendo Mason e se sentir que algo sério pode acontecer entre
eles, ela vai te falar, Logan. Confie nela.
— Estou confiando, por isso que não estou tentando descobrir
nada. E porque Valente disse que faria greve de sexo se eu me
intrometesse demais na vida de Norah.
Eu ri de novo, sem conseguir me conter. Parecia que não era
apenas Benjamin que era guiado pelo pau.
— Avalon sabe como convencer você.
— Sim, ela sempre usa aquela porra de boceta mágica. —
Logan bufou e se ergueu do banco enquanto eu ainda ria. — Vou ao
banheiro, não deixe ninguém batizar a minha bebida.
— Fique tranquilo, vou ficar de olho para que Valente não
coloque nenhuma pílula azul na sua cerveja.
O quarterback me deu o dedo do meio e se afastou, me
deixando sozinho no meio daquela multidão, mas não por muito
tempo. Logo senti alguém parar ao meu lado e fiquei surpreso ao
ver que era John, amigo de curso de Norah. Ele sorriu para mim e
nos cumprimentamos rapidamente enquanto Avalon se aproximava
para pegar o pedido dele.
— James, que surpresa o encontrar por aqui. Achei que estaria
na festa de Carter.
— Não sou tão previsível assim. — Sorri. — Mas por que você
não está lá?
— Peter e eu não estávamos a fim de ouvir música alta e
sentir o cheiro de maconha hoje — disse ele, apontando para o
namorado que estava em uma mesa ao fundo do bar. Acenei para
Peter quando nossos olhos se encontraram. — Vou querer duas
cervejas, Avalon. Mesma marca de sempre.
— Vou pegar para você.
Avalon se afastou e John se virou para mim.
— E por que você não foi para a festa?
— Acho que pelo mesmo motivo que você — respondi, porque
não tinha mesmo outra explicação.
— Mas você deveria estar lá.
— Deveria? Por quê?
Avalon voltou com as cervejas e ficou por ali, passando um
pano no balcão e recolhendo porta-copos abandonados.
— Porque Norah está lá com Mason e sei que ela não gosta
muito de festas assim. Vai se sentir melhor se você estiver lá.
Eu franzi o cenho ao ouvir aquilo.
— Norah não está lá, ela me disse que iria a um pub com
Mason.
— Parece que eles mudaram de ideia no meio do caminho.
Aquilo me deixou mais confuso ainda. Norah não era do tipo
que mudava de ideia de uma hora para a outra e, como John
mesmo dissera, não gostava muito daquele tipo de festa. Senti os
olhos de Avalon sobre nós dois.
— Mas Mason é um cara legal, não é? Ele vai cuidar dela,
tenho certeza. — John sorriu e pegou as cervejas. — Obrigado,
Avalon, daqui a pouco Peter aparece aqui para pedir mais duas.
O amigo de Norah se afastou e Avalon manteve os olhos sobre
mim. Não soube ler a sua expressão.
— Será mesmo que Norah está na festa de Carter?
— Não sei, mas John não teria motivos para inventar isso.
— Então, talvez seja mesmo melhor você ir até lá. Não vou
falar nada sobre isso para Logan, pode ficar tranquilo.
— Vai mentir para ele?
— Mentir? Não, omitir. — Avalon sorriu. — Eu sei, mais ou
menos, sobre a proposta que Norah fez para você, até a incentivei,
acho que ela precisa começar a viver e Logan a prende muito.
Fiquei surpreso ao ouvir aquilo, não imaginava que Avalon
soubesse.
— Agora estou aliviado por ter aceitado ajudar Norah — falei,
vendo Avalon sorrir.
— Você fez bem, é um amigo maravilhoso para ela, James.
— Espero mesmo que eu seja — murmurei.
— Você é, por isso eu sei que vai sair daqui e ir até a festa de
Carter confirmar se Norah está lá.
Porra, a garota estava namorando com Logan há menos de um
ano, mas já conhecia cada um de nós como ninguém. Confirmei com
a cabeça e me levantei, deixando o dinheiro para pagar a cerveja
sobre o balcão.
— Eu vou. Obrigado por tudo, Avalon.
Ela apenas sorriu e eu saí do Maeve’s. Dirigi tenso, sem
entender direito por que Mason e Norah mudaram os planos para
aquela noite e o que aquilo significava. Talvez, eles quisessem
apenas curtir uma festa, dançar, fazer algo diferente e eu estivesse
me preocupando à toa. De qualquer forma, eu me certificaria de que
Norah estava bem.
Não tinha vaga na rua de Carter e precisei estacionar na rua
de trás e ir até a sua casa a pé. Da esquina, eu já conseguia ouvir a
música alta e o falatório de quem ocupava a calçada. Vi copos
vermelhos jogados pela grama assim que me aproximei e pessoas
espalhadas em frente à residência imponente de aluno da UA,
conversando e fumando. Estava prestes a entrar, quando um casal
do outro lado da rua me chamou a atenção.
Meu estômago ficou gelado quando os reconheci.
Norah estava encostada em uma BMW, carro que eu sabia ser
de Mason, e o jogador estava à sua frente, com as duas mãos no
rosto dela. Senti-me novamente no estacionamento da faculdade,
com a mesma apreensão, mas com a certeza de que, daquela vez,
eu não veria apenas um beijo no rosto. As mãos de Norah estavam
na cintura do tight end e os dois conversavam baixinho, Mason falou
algo que arrancou um sorriso da garota.
Mesmo de longe, eu conseguia ver tudo, e não sabia se isso
era um privilégio ou uma maldição, nem o que significava a
dormência na ponta dos meus dedos, o coração acelerado e o bolo
que se formou em minha garganta, conforme observava Mason
aproximar o rosto do de Norah, seu nariz tocar o dela, até seus
lábios se encontrarem.
Mason a beijou. Não tinha ideia se era a primeira vez que o
jogador fazia aquilo, mas, com certeza, era a primeira vez que eu
me sentia paralisado daquele jeito.
Nem mesmo ao pegar Megan na cama com o seu primo eu me
senti daquela forma. Naquela noite, eu me senti traído e enganado,
e tive a certeza de que tudo o que havia entre nós dois chegara ao
fim.
Agora, eu me sentia diferente. Não me sentia traído ou
enganado. Porra, eu nem tinha o direito de me sentir daquela forma.
Eu sentia como se estivesse perdendo algo muito importante. Algo
que sempre foi meu e nunca dei o devido valor.
Assustado, dei um passo para trás e esbarrei em alguém. Mãos
femininas pousaram em meu ombro e o rosto de Alicia apareceu em
meu campo de visão.
— Vem comigo — ela pediu.
Eu apenas peguei a sua mão e a segui.
A casa de Carter estava lotada, como era o esperado, e Alicia
me guiou até o quintal imenso do estudante, onde havia mais
pessoas. Puffs estavam espelhados pelo local e nos dirigimos para
um deles, onde Alicia me colocou sentado como se eu fosse um
boneco sem cérebro. Era daquele jeito que eu me sentia, tendo em
vista que apenas uma parte de mim reparava em meu entorno e
tinha consciência sobre onde estava, todo o resto ainda estava do
lado de fora da casa, observando Norah ser beijada por aquele filho
da puta.
— Vou pegar uma cerveja e já volto.
Alicia se afastou e aproveitei que estava sozinho para tentar
sair daquele torpor. Minhas têmporas pulsaram por conta da música
alta e do cheiro de maconha e vodca derramada, e senti uma
vontade imensa de simplesmente sair dali. E levar Norah junto
comigo.
— Pare com isso — exigi para mim mesmo em voz baixa,
passando os dedos pelos meus cabelos. — Controle-se, James! Que
merda está acontecendo com você?
— Voltei! — Alicia se aproximou e, para a minha surpresa,
simplesmente se sentou de lado em meu colo. Segurei a cerveja que
estendeu para mim e a observei sem reação. — Beba um pouco,
James, vai te fazer bem.
Quis que ela saísse de cima de mim, mas não consegui falar
nada. Dei um gole na cerveja, que infelizmente não estava tão
gelada quanto deveria, e olhei fixamente para a porta por onde
Norah e Mason teriam que passar, caso quisessem acessar o quintal
da residência.
— James? — Alicia tocou em meu rosto, fazendo com que eu
olhasse para ela de novo. — O que está acontecendo?
Como eu poderia explicar para a garota sentada em meu colo
que eu estava morrendo de ciúmes da sua amiga? Porque aquela era
a verdade, ainda que eu não quisesse admitir. Eu estava cheio de
ciúmes, porra! Dei mais um gole na bebida, me sentindo
incomodado com Alicia, com a festa, com tudo aquilo.
— Nada.
— Você disse que não viria para a festa e, de repente, eu o
encontro do lado de fora, observando Norah com Mason... John
comentou comigo que você era bastante protetor com ela, assim
como o quarterback, mas não acreditei que fosse extremo desse
jeito.
Alicia e eu trocávamos mensagens de vez em quando e eu
sentia que a garota queria que eu a convidasse para um encontro de
novo. A questão era que eu não sentia vontade de passar um tempo
sozinho com ela. Não porque Alicia não fosse bonita ou interessante,
eu apenas não estava a fim de me envolver com alguém naquele
momento. Aquela sensação era estranha demais e eu não sabia
como lidar com ela.
Nunca fui um mulherengo como Benjamin, mas também não
negava sexo quando me era oferecido, e eu sabia que Alicia passaria
uma noite comigo sem que eu precisasse me esforçar muito para
convencê-la. Ela estava claramente atraída por mim e o James que
eu conhecia não desperdiçaria aquela chance. Mas esse James
esquisito, que estava morrendo de ciúmes de Norah e que só
conseguia pensar na caçula do seu melhor amigo, repudiava a ideia
de se envolver com a garota sentada em meu colo — ou com
qualquer outra.
— Eu decidi vir de última hora. Não esperava encontrar Norah
por aqui, fiquei surpreso — menti sem olhar nos olhos dela.
— E por que não me avisou que viria? — Havia um sorrisinho
sedutor em seus lábios. Suas unhas desceram lentamente pelo meu
pescoço, mas eu não senti nada. Sua boca tocou a minha orelha. —
Quis me fazer uma surpresa?
Deixei a cerveja de lado e pousei minhas mãos na cintura de
Alicia, prestes a tirá-la do meu colo. Precisava colocar um ponto final
naquilo, pois eu não me sentia interessado por ela e era injusto
deixar que a garota interpretasse errado os meus sinais. Em nossas
mensagens, nunca dei a entender que queria me encontrar com ela
de novo ou lhe dei esperanças, mas talvez Alicia estivesse
entendendo tudo errado. Era meu dever ser honesto com ela.
— Alicia, eu não quero...
— Acalme-se, jogador. Deixe-me mostrar para você como
podemos ser bons juntos.
Eu abri a boca para negar, mas Alicia foi mais rápida e colou os
lábios nos meus. Fiquei por um momento sem reação, os olhos
ainda abertos conforme Alicia fechava os dela. Suas mãos me
seguraram firmes pelo pescoço e sua língua pedindo passagem em
minha boca foi o que me fez reagir. Levantei-me sem que ela
esperasse, afastando-a de mim pela cintura. Alicia me encarou com
os olhos arregalados, seu rosto ficando vermelho.
— James, o que foi? Não quer o meu beijo?
— Eu...
Meus olhos se detiveram em um par de pupilas cor de mel e
um rosto pálido. Norah estava bem ali, sozinha, a poucos passos de
onde eu estava, com os lábios entreabertos e uma expressão
chocada. Ela piscou, parecendo voltar à realidade, e me deu as
costas, começando a se afastar.
— Você gosta dela.
Voltei a olhar para Alicia e percebi que seu olhar intercalava
entre mim e onde Norah estava um segundo atrás.
— Alicia, eu não...
— Tudo faz sentido agora! Como não percebi antes? Você foi
muito educado e simpático comigo em nosso primeiro encontro, mas
parecia distante, o tempo todo olhando para o celular. Norah estava
com Mason naquela noite, certo? Ela comentou comigo e com John
que se encontraria com o jogador e você sabia.
Engoli em seco, me sentindo um babaca, ainda que não
tivesse dado esperanças para Alicia.
— Sim, eu sabia, mas você está entendendo tudo errado...
— Estou? — Alicia soltou uma risadinha amarga e tocou em
meu peito com o dedo indicador. — Acho que é você que não está
entendendo nada, James, nem mesmo os seus próprios
sentimentos.
Foi a minha vez de rir.
— Você mal me conhece, não pode falar sobre o que sinto ou
não.
— Tem razão, mas eu sei reconhecer quando um homem não
está interessado em mim e, sim, em outra garota. — Alicia suspirou
e deu um passo para trás. — Agora entendo por que nunca deu a
entender que queria sair comigo de novo. Só respondia as minhas
mensagens para ser educado, não é?
— Alicia, você é uma garota incrível. — Tomei as suas mãos
nas minhas, querendo muito que acreditasse em mim. — Tenho
certeza de que ainda vai encontrar o cara perfeito para se relacionar,
mas esse cara não sou eu. Estou em outro momento da minha vida
agora.
— Sim, você tem razão em tudo. Eu sou mesmo uma garota
incrível e você jamais vai conseguir se interessar por mim ou por
qualquer outra pessoa, porque está de quatro pela Norah. — Não
havia maldade ou ressentimento em seu tom de voz. — Só que eu
acho que você deu espaço demais para que Mason avançasse,
James. Norah parece gostar dele de verdade.
Eu havia entendido aquilo nas últimas semanas, que Norah
estava se apaixonando pelo jogador, mas ouvir da boca de outra
pessoa pareceu deixar tudo mais real e a dor que senti em meu
peito foi diferente de qualquer outra que já tenha me atingido.
Tentei ignorar a sensação, mas não consegui, apenas disfarcei como
me sentia em frente à Alicia.
— Quero que Norah seja feliz, acredite em mim quando falo
que ela é apenas minha amiga. — Apertei o ombro da garota e
forcei um sorriso. — Talvez possamos ser amigos também, Alicia.
— Sim, talvez. Você é um homem incrível, James. Espero que
Norah perceba isso.
Alicia me deu um beijo na bochecha e se afastou sem olhar
para trás, me deixando sozinho no meio da multidão. Olhei à minha
volta à procura de Norah, mas não a encontrei em lugar algum. Teria
ido embora com Mason? Para a nossa casa ou para a casa dele?
Minha dor de cabeça pareceu aumentar. Norah afirmou que não iria
para a cama com o jogador, mas, e se mudasse de ideia? E se ele
fosse sedutor e insistente?
— James? Por que não me avisou que viria para a festa, seu
babaca? — Benjamin me abraçou pelo pescoço de repente e o cheiro
da cerveja se misturava ao seu perfume. Meu amigo já estava mais
embriagado do que sóbrio.
— Viu Norah por aí?
Benjamin se afastou e parou na minha frente, me dando um
olhar desconfiado, apesar de pesado pelo álcool.
— Não me diga que resolveu dar uma de Logan e veio até aqui
atrás da garota?
Talvez Ben estivesse mais sóbrio do que embriagado, afinal.
— Não. Quer dizer, sim. Norah disse que iria para um pub com
Mason, mas parece que os dois resolveram vir para cá.
— E daí?
— E daí que Norah não gosta muito de festas assim, você sabe
disso. Vim aqui para me certificar de que ela está bem.
Benjamin franziu o cenho e me deu um olhar ainda mais
desconfiado enquanto apoiava as duas mãos na cintura.
— Você tá esquisito.
— Como é que é? — Forcei uma risada, querendo que ele
parasse com aquela especulação.
— É isso mesmo, você tá esquisito pra caralho desde que
Norah passou a sair com o tight end.
— Impressão sua, Ben...
Comecei a me afastar, mas Benjamin me segurou pelo pulso,
parando na minha frente.
— É melhor mesmo que seja uma impressão minha, porque se
não for, James... Você vai estar fodido pra caralho. — Ben se
aproximou de mim e me segurou pelos ombros, seus olhos
levemente bêbados sondando os meus. — E você não quer estar
fodido pra caralho, quer?
— Claro que não. — Desvencilhei-me dele e forcei um sorriso.
— Pode ficar tranquilo, minha preocupação com a Norah é
puramente fraternal.
— Fraternal? Mas não foi você que disse para Norah que
estava bem longe de ser o irmão dela?
Minha boca caiu aberta e me vi sem palavras, lembrando-me
da conversa rápida que tive com Norah na cozinha semanas atrás,
antes de ela ir jantar com sua avó. Benjamin estava dormindo na
sala! Como ele sabia daquilo?
— Seu idiota! Você não estava dormindo porra nenhuma!
— Tenho o sono leve. — O running back sorriu. — E ouvidos
que funcionam bem demais.
— Apenas quando você quer — acusei.
— Pode ser, mas não é isso que está em discussão aqui. —
Benjamin voltou a apertar o meu ombro, ficando mais sério. —
Cuidado, James. Entendo que se preocupe com a Norah, afinal, a viu
crescer e ela sempre foi especial para você, mas não confunda as
coisas. É melhor voltar a vê-la como uma irmãzinha, acredite em
mim, vai evitar muito problema no futuro. — Ele deu dois tapinhas
em meu ombro e falou antes de se afastar: — E sim, eu a vi aqui na
festa, mas ela já foi embora com Mason há uns cinco minutos.
Porra! Por que aquele idiota não me disse nada antes?
Benjamin se afastou de vez e eu fui embora quase correndo,
minha mente escolhendo ignorar o aviso do meu melhor amigo por
enquanto. Eu sabia que Ben estava certo, mas, naquele momento,
eu não estava sendo muito racional. Entrei em meu carro e pensei
em enviar uma mensagem para Norah, mas a imagem de seus olhos
arregalados ao me verem com Alicia me fez desistir.
Pensei por um momento para onde ela e Mason iriam. Estava
cedo ainda, passava da meia-noite e era sábado. Será que teriam
ido ao pub ou para algum outro lugar? Tentei não pensar na casa do
jogador e resolvi arriscar. Fui direto para nossa casa e encontrei a
sala escura assim que entrei, apenas a luz da cozinha acesa da
mesma forma que deixei antes de sair.
No segundo pavimento, parei em frente à porta de Norah e
respirei fundo antes de bater. Recebi apenas o silêncio como
resposta e meu coração pareceu se partir no peito. Minha garota
não estava em casa. Ela ainda estava com Mason e talvez aquele
fosse o recado do universo para que eu simplesmente parasse de
me sentir daquele jeito terrível, como se fosse um cachorro
abandonado. Não tinha o direito de ficar daquele jeito. Porra, eu não
tinha direito a nada quando o assunto era Norah!
Afastei-me do seu quarto e fui em direção ao meu, mas parei
antes de entrar ao ouvir o barulho da porta sendo aberta lá
embaixo. Sabia que não era Logan, pois ele dormiria com Avalon, e
com certeza não era Benjamin, pois duvidava muito que ele chegaria
em casa antes das sete da manhã. Virei-me em direção à escada e
desci quase correndo, encontrando a sala iluminada e Norah tirando
a jaqueta de couro que usara naquela noite.
Nossos olhos se encontraram e ela pareceu surpresa em me
ver. Eu havia guardado o carro na garagem, portanto, não tinha
como Norah saber que eu já estava em casa. Por um momento,
apenas olhamos um para o outro, um mundo de sentimentos e
palavras girando dentro de mim e simplesmente querendo sair pela
minha boca, mas me contive, porque ainda não os entendia. Eu não
fazia ideia do que realmente estava acontecendo comigo nem o
porquê.
Norah sempre fora importante para mim. Eu a amava e aquilo
era inegável, sempre me importei com ela, era uma das poucas
pessoas por quem eu daria a minha vida se precisasse, mas eu faria
o mesmo por Logan e por Benjamin, pelos meus pais e minha avó.
Nem por isso, sentia ciúmes deles ou queria rasgar a minha pele ao
vê-los sendo beijados por outro alguém. Mas eu me sentia daquele
jeito por Norah e era inadmissível, pois nunca me senti daquele jeito
por ela.
Norah já beijou outros rapazes antes, eu não era idiota. E ela
tinha o direito de viver a própria vida. O único que não tinha direito
a alguma coisa era eu.
— Achei que ainda estaria na festa, não sabia que você iria —
disse ela, sua voz ecoando dentro de mim.
— Fui por sua causa.
— Minha causa? — Norah arqueou uma sobrancelha e quase
sorriu, ironia tomando conta da sua expressão. — Não parecia ser
por minha causa enquanto a sua boca estava colada na de Alicia.
— E a sua boca estava colada na de Mason — retruquei, o
ciúme falando mais alto do que deveria. — Acha que eu não vi?
Norah ergueu o queixo e seu pescoço fino e bonito começou a
ficar avermelhado.
— Não me importo se você viu.
— Não se importa? É sério? Pensei que fôssemos amigos,
Norah.
— E nós somos — ela respondeu com os ombros caindo aos
poucos. — Somos amigos, apenas amigos. Precisamos nos lembrar
disso, James.
A garota bonita ia passar por mim, mas eu fui mais rápido e
tomei sua cintura fina em minhas mãos, fazendo com que parasse
na frente do meu corpo. Seu cheiro me deixou levemente
embriagado, mexeu com meu sistema nervoso e quase me impeliu a
enfiar o rosto em seu pescoço e sentir o aroma mais de perto.
— Se esqueceu disso em algum momento? De que somos
amigos?
Diga que sim.
Diga que sente o mesmo que eu, que está tão confusa quanto
eu estou.
Mas Norah me jogou um balde de água fria.
— Claro que não, só quis reforçar que não há mais nada entre
nós dois além de amizade. — Um sorriso forçado apareceu em seus
lábios antes de ela acariciar meus braços e se afastar. — Boa noite,
James.
Norah me deu as costas e me senti o maior idiota do mundo
por ter a deixado partir.
Eu estava enlouquecendo!
Era assim que me sentia conforme chutava minhas botas no
meio do quarto e começava a tirar as roupas. O tecido parecia
arranhar a minha pele sensível, eu me sentia quente e irritada, com
vontade de bater em alguma coisa. Nunca fui uma pessoa violenta,
mas depois do choque que senti ao ver James e Alicia aos beijos,
com ela no colo dele, o frio que me congelou no lugar e me impediu
de piscar enquanto os via, cedeu lugar a um calor incessante
conforme saía do quintal de Carter e ia atrás de Mason.
O tight end não entendeu nada quando pedi para que me
levasse embora. Com duas cervejas nas mãos, no meio da cozinha
lotada de pessoas bêbadas, Mason pareceu confuso e chegou a me
perguntar se tinha feito alguma coisa de errado. A culpa que senti
por estar sendo uma idiota com ele não fez nada para que a minha
raiva passasse, ainda assim, tentei ser gentil e menti. Falei que
minha menstruação tinha descido de repente e que precisava ir para
casa, pois não tinha absorvente comigo.
Eu teria rido da expressão de susto de Mason se não estivesse
com os sentimentos tão à flor da pele. O jogador deixou as cervejas
na hora e me pegou pela mão, saindo comigo da festa. Em seu
carro, foi gentil ao perguntar se eu não queria passar em uma
farmácia, mas neguei, alegando que tinha tudo em casa e que só
precisava chegar o mais rápido possível, pois estava com medo de
sujar a minha roupa. Eu me sentia uma farsa a cada vez que uma
nova mentira saltava da minha boca e a irritação comigo mesma
apenas crescia.
Estava com raiva de mim e de James por me fazer sentir
daquele jeito.
Conscientemente, eu sabia que ele não tinha culpa, muito
menos Mason. Eu que era uma bomba prestes a explodir, confusa,
meio acuada, parecendo viver uma vida que não era minha. Amava
atuar, mas não fora dos palcos. A Norah que obriguei a me tornar
nas últimas semanas estava bem longe de ser eu de verdade.
Mason parou em frente à minha casa e me deu um olhar
gentil, que só me fez ficar ainda pior.
— Tem certeza de que está tudo bem? Você ficou calada
depois que nos beijamos.
Eu havia me esquecido completamente do nosso beijo quando
vi James beijando Alicia. Uma dor intensa pulsou em minha cabeça,
a culpa me golpeando bem forte.
— Sim, está tudo bem. Eu amei o beijo, Mason.
— Que bom, porque eu estava ansioso para finalmente beijar
você. — Mason tocou em meu rosto com delicadeza, mas me puxou
para mais perto de si quando seus dedos se fecharam em minha
nuca. — E quero muito mais do que apenas beijá-la, Norah, mas sou
um homem paciente.
Ele tomou a minha boca de novo, em um beijo diferente do
que me deu naquela noite. Foi mais intenso, violento até, e eu não
soube direito como retribuir, pois me pegou de surpresa. Toda
aquela sua impetuosidade me tocou de uma forma que não gostei.
Tentei me afastar, mas Mason me manteve firme pela nuca,
desacelerando aos poucos, até me beijar com mais gentileza, sem
pressionar os dentes em meus lábios. Ele finalizou o beijo com um
selinho demorado, que se estendeu pela minha bochecha até parar
em minha orelha esquerda.
— Vá, não quero que você fique constrangida por sujar o
banco do meu carro. — O jogador riu e eu apenas pisquei, sem
saber como reagir. — Já estou sentindo a sua falta.
— Eu... eu também — murmurei, dando um beijo rápido em
sua bochecha antes de sair da BMW.
Chegar em casa e encontrar com James foi algo muito
inesperado. Eu podia jurar que ele encerraria aquela noite na cama
de Alicia, mas vê-lo bem ali, descendo as escadas e se aproximando
de mim, me pegou completamente de surpresa. Nossa conversa
também foi estranha, e eu acabei perdendo o pouco controle que
tinha sobre as minhas emoções.
A forma como falei com ele sobre o beijo que deu em Alicia na
festa... Onde eu estava com a cabeça?! Que direito eu tinha de jogar
aquilo na cara de James?
Nenhum. Você não tem direito nenhum, Norah!
Eu deveria estar pulando de felicidade por finalmente ter
beijado Mason depois de duas semanas saindo com ele. O jogador
era lindo e, como mesmo dissera, paciente. Não fez qualquer avanço
sem que eu permitisse e, naquela noite, perguntou se poderia me
beijar antes de tocar os meus lábios com os seus. Foi um beijo bom,
delicado, que eu nem imaginava que um homem do tamanho de
Mason pudesse dar. Por que eu não estava obcecada por aquele
momento especial como estava pelo choque que senti ao ver James
com Alicia?
Fui eu que insisti para que os dois saíssem juntos!
Praticamente joguei James no colo de Alicia, pelo amor de Deus!
Irritada, fui até o banheiro e entrei debaixo do chuveiro. A
água quente só me irritou um pouco mais, por isso, mudei para a
água gelada mesmo estando no inverno, com a esperança de que a
baixa temperatura diminuísse a sensação de um caldeirão prestes a
explodir dentro de mim. Não adiantou muita coisa. Saí do banho
ainda nervosa, escovei os dentes e me deitei, ignorando meu celular
ao lado do travesseiro.
Assim que fechei os olhos, vi James com Alicia em seu colo na
minha mente. As mãos dele estavam na cintura dela! As mesmas
mãos que tocaram a minha cintura quando cheguei em casa, como
se ele tivesse o direito de me tocar, de me deixar confusa daquele
jeito, enquanto permanecia como o rei do Alabama, intocável. Se
James ainda sentisse pelo menos um por cento do que me causava,
eu estaria feliz, o problema era que eu sabia que o jogador só me
via como uma irmãzinha. Eu deveria passar a vê-lo daquele jeito
também.
Afastar-me um pouco de James foi a forma que encontrei para
tentar organizar os meus sentimentos. Ficar comparando as minhas
reações a ele com a forma como Mason fazia eu me sentir estava
me deixando muito confusa. Também não era justo com o outro
jogador o que o meu peito insistia em me fazer sentir. Realmente
acreditei que a minha queda por James ficara no passado, mas
estava começando a me perguntar se eu não havia me enganado
durante todo aquele tempo.
Não importava. James continuaria a ser o meu amigo e Mason
estava me conquistando. Eu deveria me agarrar àquilo e parar de
me importar com o que James fazia com outras garotas ou com a
forma como ele me fazia sentir.
Rolei na cama por boa parte da madrugada e acordei tarde no
domingo, me sentindo cansada pela noite maldormida. Enrolei para
sair do quarto e soltei um suspiro de alívio quando encontrei apenas
Benjamin na cozinha, parecendo cheio de ressaca enquanto tomava
uma xícara de café.
— Bom dia, dorminhoca. Não acredito que acordei antes de
você mesmo tendo chegado em casa com o dia já raiando.
Sorri e deixei um beijo na bochecha de Ben antes de me dirigir
até a cafeteira.
— Não cansa dessa vida de cafajeste, Benjamin?
— Claro que não, essa é a melhor parte da faculdade, depois
do futebol, é claro. — Seus olhos me acompanharam enquanto eu
me sentava ao seu lado em frente ao balcão da cozinha. — Vi você
com Mason ontem à noite.
Assoprei o café e dei um gole, tentando entender aonde
Benjamin queria chegar com aquilo.
— Sim, nós resolvemos dar uma passadinha na festa ontem.
Foi Mason quem mudou os nossos planos assim que entrei em
seu carro na noite passada. Segundo ele, não tinha conseguido
reserva no pub e, por ser uma casa nova na cidade, estava lotada.
Estranhei, pois não era preciso reservar uma mesa em locais como
aquele, mas resolvi não discutir e aceitei quando ele perguntou se
eu não queria ir à festa, já a caminho da casa de Carter.
Não era o meu tipo de entretenimento favorito, mas pensar
em ir com Mason àquela festa cheia de alunos da UA me causou
certa comoção, porque eu sabia que qualquer outro cara do campus
hesitaria antes de ser visto comigo por causa do meu irmão. Mason
era mesmo diferente de todos os outros.
— Mas logo sumiram... Ou eu fiquei bêbado demais e a perdi
de vista?
— Não sei se você ficou bêbado demais, porque viemos
embora cedo — respondi com uma risada. — Eu não o vi por lá.
— Deveria ter procurado por mim onde havia uma
aglomeração de mulheres. Elas ficam ao meu redor como abelhas
em torno do mel.
— Pelo amor de Deus, Benjamin! — Ouvir aquilo me arrancou
uma risada sincera e o running back riu comigo por um tempo. —
Você consegue mesmo conquistar alguma garota com essas
cantadas idiotas?
— Mas é claro que sim! Nenhuma delas resiste a mim.
— Parece que elas não têm muito critério para homens, na
verdade — brinquei e Benjamin colocou a mão sobre o peito,
fazendo uma careta de dor.
— Nossa, Norah, você acabou de quebrar o meu coração.
— Desculpe-me. Ligue para algum dos seus contatos, com
certeza terá alguém para cuidar de você. — Arqueei uma
sobrancelha. — Quer dizer, você tem algum contato depois de ter
excluído o número das garotas?
— Não fale sobre isso, é um tópico sensível para mim.
— Ainda não superou, Ben?
— Como vou superar o fato de que uma pirralha me colocou
contra a parede daquele jeito? Sério, eu espero que vocês nunca
comentem sobre isso por aí, vai acabar com a minha reputação.
— E todos nós sabemos que a sua reputação já não é muito
boa... — comentei com uma risada.
— Minha reputação é ótima! Do trio formado por mim, Logan e
James, eu sou o melhor, sabe por quê?
— Por quê?
— Porque, mesmo sendo taxado de mulherengo, eu consigo
conciliar muito bem o sexo e o futebol na minha vida. Logan está se
ajustando agora que conheceu Avalon e está apaixonado, mas
James, por exemplo, não deve ver uma boceta desde o ano passado
e está começando a ficar confuso sobre algumas coisas.
Eu fiquei paralisada ao ouvir aquilo, a xícara com café a
caminho da minha boca, meus olhos sem piscar sobre Benjamin.
Estava chocada com aquela revelação. James não estivera com
nenhuma garota ainda? Estávamos no segundo mês do ano, para
homens como ele, era tempo demais.
— Tem certeza disso? — perguntei baixinho.
— Disso o quê?
— Que James não esteve com ninguém ainda.
— Não é como se eu fosse o segurança particular do pau dele,
mas sou seu amigo, sempre saímos juntos... A não ser que esteja
comendo alguma garota no sigilo, James parece ter virado um
monge.
Pensei em Alicia, mas não acreditava que ela e James tivessem
chegado tão longe, pois com certeza ela contaria para John. Éramos
amigas, mas Alicia era mais próxima de John do que de mim, já que
faziam mais aulas juntos.
— E sobre o que ele está confuso?
— Como? — Benjamin pareceu não entender a minha
pergunta, dei um desconto a ele por saber que estava com ressaca.
— Você disse que James está começando a ficar confuso sobre
algumas coisas... Que coisas são essas?
Ben arregalou um pouco os olhos e se levantou de repente,
deixando a xícara vazia sobre a bancada de granito.
— Ainda estou meio bêbado e sempre falo demais quando tem
álcool correndo solto pelo meu organismo — disse ele, fugindo da
minha pergunta. — Mas pode ficar tranquila, não vou comentar
sobre a sua presença na festa ao lado de Mason para Logan.
Eu nem mesmo tinha pensado sobre aquilo. Ter aparecido na
festa com Mason com certeza geraria burburinhos e chegaria aos
ouvidos do meu irmão. Respirei fundo, tentando conter o
nervosismo. Estava mesmo na hora de parar de esconder o meu
envolvimento com jogador.
— Obrigada por isso, mas não tem problema se Logan
descobrir. Pretendo conversar com ele em breve.
— É mesmo? — Benjamin pareceu surpreso de verdade. —
Então, o que está rolando entre você e Mason é sério — concluiu.
— Não posso chamar de namoro, mas, sim, é sério. — Sorri,
tentando parecer mais animada do que realmente me sentia. — Vai
me ajudar a conter o meu irmão se ele ficar enchendo o meu saco?
Benjamin riu e concordou com a cabeça.
— Claro que sim, sabe que pode contar comigo sempre. Não
quero relacionamentos para mim, mas não tenho nada contra quem
quer se amarrar a uma pessoa só.
Estreitei os olhos para o jogador, achando graça de tudo
aquilo.
— Você ainda vai se apaixonar, Benjamin Ryan, e eu estarei de
camarote assistindo tudo.
— Que Deus me proteja desse tipo de maldição. — O running
back fez o sinal da Cruz, mesmo estando bem longe de ser um
homem religioso. — Vou voltar a dormir, aproveite a casa só para
você.
— Só para mim? Onde está James?
— Saiu cedo, disse que passaria o dia na casa dos pais.
Benjamin me deixou sozinha na cozinha e eu senti um peso
sair do meu peito, aliviada por James estar longe, ao mesmo tempo
em que sentia a sua falta de maneira absurda. Disposta a não
pensar sobre aquilo, decidi que faria o mesmo que ele e passaria o
dia com meu pai e minha avó.

O teste de elenco para a peça da Sra. O’Neal aconteceria no


dia seguinte e eu estava nervosa pra caramba. Era John que, apesar
de também estar escalado para fazer o teste de protagonista,
conseguia tirar um pouco da minha tensão quando estávamos
juntos. No intervalo das aulas daquela segunda-feira, nós decidimos
ir até a cafeteria tomar algo quente, porque as temperaturas
estavam baixas naquele dia, e colocar um pouco do papo em dia. Eu
sentia que ele queria me falar alguma coisa, mas estava hesitante.
Pegamos dois caramelos latte e nos sentamos em uma mesa
perto da janela fechada, onde o sol fraco entrava pelo vidro. John
me olhou com certo receio, mas respirou fundo e falou tudo o que
parecia entalado em sua garganta.
— Sei que você provavelmente vai querer me matar, mas fui
eu que contei para James que você estava na festa do Carter.
— O quê? — Apoiei o copo na mesa e o encarei boquiaberta.
— John, por que fez isso?
— Porque não gostei de Mason ter resolvido te levar para
aquela festa sem nem ao menos conversar com você antes!
— Mas ele não resolveu nada sozinho, perguntou se eu queria
ir e concordei.
John me deu um olhar condescendente.
— Norah, talvez você não perceba, porque parece um pouco
enfeitiçada pelo jogador, mas foi ele quem resolveu, sim, que vocês
iriam para a festa. Como Mason foi capaz de deixar para te avisar
sobre as mudanças de plano para a noite que passariam juntos
quando você já está dentro do carro dele?
Pisquei ao ouvir aquilo, atônita. Não havia pensado por aquele
lado, mas John parecia estar exagerando.
— Pela forma como está falando, parece que ele planejou tudo
de modo calculado.
— Não sou ninguém para afirmar que Mason agiu com
maldade, nem tenho motivos para isso. Ele nunca foi rude com você,
pelo contrário, parece ser um príncipe, mas nem mesmo o mais
gentil dos homens está imune de cometer um erro. Como seu
amigo, achei prudente checar se você estava mesmo segura.
— E resolveu fazer isso mandando James ir atrás de mim no
seu lugar?
John riu por cima do copo de café.
— Achei que você gostaria mais de ver o seu amigo gostoso
do que o seu amigo gay.
Dei um tapinha no braço dele, fazendo de tudo para não rir,
pois aquele era um assunto sério.
— Saiba que James fez tudo, menos checar a minha
segurança. O encontrei aos beijos com Alicia na festa.
A boca de John caiu aberta conforme ele pousava o copo
sobre a mesa.
— Está falando sério?
— Muito sério.
— Mas Alicia não comentou nada comigo sobre esse beijo.
Tivemos aula juntos agora há pouco. — Ele franziu o cenho. — Que
estranho. Ela estava tão animada sobre James, por que não me
falou que se beijaram no sábado?
— Não faço ideia, mas sei muito bem o que vi. — Suspirei,
tentando tirar a imagem dos dois juntos da minha cabeça. — Mas
agradeço por ter se preocupado comigo, mesmo sendo
desnecessário. Mason e eu nos beijamos.
— O quê?! — John praticamente gritou, chamando a atenção
de todo mundo na cafeteria, e eu quase me joguei sobre ele para
poder calar a sua boca. — Como só me diz isso agora? Deveria ter
me contado sobre o beijo ainda no sábado à noite! Como conseguiu
esperar por tanto tempo para compartilhar isso comigo?
Eu ri, mas aquilo acendeu um novo alerta em minha cabeça,
porque John tinha razão. Quando estávamos eufóricos, não
esperávamos por um encontro presencial para contar qualquer
novidade. Eu esperei porque simplesmente não me sentia tão
eufórica quanto deveria.
— Queria ver a sua empolgação pessoalmente — respondi,
torcendo para que ele acreditasse. John arqueou uma sobrancelha.
— E onde está a sua empolgação?
— Bem aqui! — Sorri mais abertamente. — Estou feliz! Acho
que finalmente encontrei o cara certo, sabe? E sinto que meu irmão
não vai arrumar problema com Mason, eles se dão bem no time e o
jogador tem uma reputação impecável. Não há qualquer motivo para
Logan tentar atrapalhar a nossa relação.
John esticou as mãos sobre a mesa e tocou as minhas,
entrelaçando os nossos dedos.
— Norah, você tem certeza de que é isso mesmo que quer?
— Claro que sim. Você me conhece, sabe que desejo me
apaixonar e viver um romance há bastante tempo. Finalmente me
sinto pronta para isso.
— Não duvido que se sinta pronta, apenas estou perguntando
se é mesmo com Mason com quem você quer ficar.
Engoli em seco o bolo que ameaçou se formar em minha
garganta e fui mais forte do que o peso em meu peito ou o meu
subconsciente, que ameaçou formar a imagem de James em minha
cabeça.
— Sim, é com ele que quero ficar. — Sorri, torcendo para que
John acreditasse em mim.
E, o mais importante de mim, torcendo para que eu
acreditasse em mim mesma.
Acelerei a velocidade na esteira, querendo descontar toda
frustração que eu sentia nas passadas rápidas, castigando os meus
músculos. O suor escorria pelo meu corpo, ameaçava entrar em
meus olhos, mas eu apenas passava as mãos pela testa e
prosseguia, sentindo falta da violência dentro de campo, onde às
vezes era preciso empurrar jogadores com o peso do nosso corpo
para poder chegar à end zone o mais rápido possível.
O que eu queria mesmo, era poder dar uns socos. Em minha
casa, na academia que usei durante toda a minha adolescência,
tinha um saco de pancadas que seria perfeito agora. Era apenas
segunda-feira e eu já me sentia um merda.
— Ei, cara, tá tudo bem?
Tensionei a mandíbula ao ouvir a voz de Mason ao meu lado.
Pela minha visão periférica, o vi subir na esteira que antes estava
desocupada e começar um trote leve. Onde estava Logan ou
Benjamin e por que os idiotas não estavam usando aquela esteira ao
meu lado?
— Tudo ótimo. — Obriguei-me a responder sem ofegar.
— Parece que você está fugindo e não correndo. — Mason riu.
— Posso até apostar por que está assim.
Ah, ele não podia mesmo. Ou talvez, sim, ele pudesse. Olhei-o
rapidamente, me questionando se Mason imaginava que eu estava
com raiva por ele estar tocando em Norah, sendo que fui eu mesmo
que a entreguei em uma bandeja de prata em suas mãos.
— É mesmo? Qual é o seu palpite?
— Mulher. — A sobrancelha de Mason se arqueou conforme
me dava um sorrisinho. — Eu o vi com uma garota na festa de
Carter no sábado. O que houve? Ela não beijava bem? Ou foi o
contrário, te beijava tão bem que o deixou com gostinho de quero
mais?
Eu me apoiei nos braços da esteira e pisei nas laterais,
parando de correr por um momento. Olhei para Mason sem qualquer
humor, tentando entender o que aquele idiota queria de verdade.
— O que o faz pensar que tem intimidade o suficiente comigo
para me perguntar esse tipo de coisa?
Mason arregalou os olhos, parecendo ofendido, mas não gostei
do que vi neles. Havia algo diferente em seu olhar naquele dia,
parecia dissimulado, assim como a sua postura ao imitar a minha
posição na esteira.
— Estou com Norah agora, pensei que pudéssemos ser
amigos.
— Até onde sei, você e Norah estão se conhecendo apenas.
Aquele sorrisinho irritante voltou a moldar a boca do infeliz.
— Nós passamos dessa fase, já nos conhecemos muito bem,
se é que me entende.
Eu parei a esteira com um aperto tão forte que quase afundou
o botão e me aproximei daquele idiota, fazendo de tudo para não
meter a mão na sua cara.
— Se você tem qualquer apreço pela porra desse seu rostinho,
vai parar de falar sobre Norah com esse tom de merda! Você me
entendeu? Ou, da mesma forma que abri caminho para que se
aproximasse dela, eu posso mandá-lo para bem longe.
O tight end engoliu em seco e olhou à nossa volta, mas não
tirei meus olhos de cima dele. Não me importava com quem
estivesse por perto, nem mesmo Logan. Não gostei da forma como
Mason falou, não estava gostando nada daquele seu olhar de
malandro e o tom cheia de segundas intenções. Ele desligou a
esteira e me olhou sem o cinismo de antes.
— James, você me interpretou mal, eu jamais desrespeitaria
Norah, em qualquer circunstância. O que quis dizer, é que...
— Não importa o que você quis dizer, importa apenas o que eu
entendi, e não gostei dessa merda, Mason!
— Certo, me desculpe — pediu em um tom de arrependimento
que fez a minha raiva apaziguar um pouco. — Por isso e por achar
que poderíamos ser amigos. Você é o melhor amigo da minha
garota, pensei que talvez pudéssemos começar uma amizade
também.
Minha garota.
Puta merda, eu queria tanto socar aquele babaca! Mas como
não podia, apenas respirei fundo, ainda ofegante pela corrida, e
concordei com a cabeça.
— Não sou contra a iniciar uma amizade com você. Se você e
Norah realmente ficarem juntos de verdade, vamos conviver
bastante, não é mesmo?
— No que depender de mim, Norah será a minha namorada.
Estou apaixonado por ela, James.
Outros jogadores conversavam pela academia, uma música de
fundo tocava, mas não consegui ouvir nada, só a voz de Mason em
minha cabeça, afirmando que queria namorar com Norah e que
estava apaixonado por ela. Que homem na face da Terra não
estaria? Norah era maravilhosa, linda, esperta, inteligente,
espirituosa e talentosa. Brilhava tanto que, às vezes, me cegava. Me
cegava para muitas coisas, inclusive para o sentimento que fazia o
meu coração bater mais forte a cada dia que passava.
— Foi isso mesmo que ouvi? Está apaixonado pela minha irmã,
Mason?
A academia caiu em silêncio de verdade quando a voz de
Logan se propagou pelo ambiente. Ergui os olhos e o encontrei atrás
de Mason, com Benjamin ao seu lado, ambos suados por estarem
fazendo exercícios como todos nós. Mason se virou e desceu da
esteira, me impelindo a segui-lo. Busquei no olhar de Logan a sua
raiva por mim, pois isso deixaria claro que ele ouvira parte da minha
conversa com o tight end, mas não encontrei nada. Talvez Logan
tivesse ouvido apenas a última frase de Mason. Parei ao seu lado,
esperando pela resposta do jogador.
— Sim, é isso mesmo que você ouviu, Logan. Estava pensando
em chamar você para ter uma conversa séria.
— Uma conversa séria? O que isso deveria significar? — Logan
cruzou os braços, intimidador. Ele era poucos centímetros mais alto
do que Mason, mas aquela diferença se tornou gritante. — Não sou
idiota, desconfiava de que estava saindo com a minha irmã e já ouvi
os boatos de que vocês foram vistos juntos na festa de Carter na
noite de sábado.
Era óbvio que a fofoca rolaria solta pelo campus. Todo mundo
sabia como Logan era protetor com Norah e nenhum outro babaca
teve colhão suficiente para enfrentá-lo e se aproximar dela. Saber
que Mason foi o único que teve aquela coragem me deixou com um
gosto amargo na boca.
— Sim, Norah e eu estamos saindo juntos, não há motivo para
negar isso. Estávamos conhecendo melhor um ao outro.
— E em nenhum momento você pensou em pedir o meu aval
para se aproximar de Norah?
— James concordou comigo de que não haveria problema em
sair com ela antes de falar com você.
Aquele filho de uma puta!
Logan se virou em minha direção lentamente, seus olhos
sérios e sua expressão indecifrável me atingindo como um soco.
Precisei me agarrar à raiva que sentia por Mason para não sucumbir
ao olhar do meu melhor amigo.
— James não é nada da Norah, eu sou — Logan disse aquilo
olhando em meus olhos e eu abri a boca, sem palavras. O que ele
havia acabado de falar.... Porra, me machucou pra caralho. O
quarterback voltou a olhar para Mason. — E você deveria, sim, ter
falado comigo antes de sequer pensar em se aproximar da minha
irmã!
Mason abaixou a cabeça, sua arrogância habitual
simplesmente desaparecendo conforme concordava com Logan.
— Sim, eu sei disso. Me desculpe, Logan, de verdade. Estava
entusiasmado demais com a ideia de conhecer melhor a sua irmã e
todo mundo me alertou sobre como você sempre foi muito protetor
com ela. Fiquei com receio de que me proibisse de chegar perto
dela.
Estreitei os olhos, tentando enxergar se havia falsidade
naquele seu discurso. Não vi nada demais em seus olhos e percebi
que Mason parecia mesmo estar sendo sincero. Era eu que estava
procurando coisa onde não existia, querendo qualquer motivo
plausível para mandar aquele babaca para longe de Norah.
— Juro que tenho a melhor intenção do mundo com Norah.
Sua irmã é a mulher mais maravilhosa que conheço e, desde que
cheguei ao Alabama, fiquei encantado com ela. Não vai se
arrepender de me dar uma chance de provar que estou sendo
verdadeiro.
Todo mundo dentro da academia ficou tenso, esperando pela
resposta de Logan. Os treinadores não estavam conosco naquela
manhã, então, aquela conversa estava sendo a atração do momento
para os jogadores. Eu fiquei mais tenso do que todos eles juntos,
esperando pela resposta de Logan e sem saber como ele iria reagir a
mim quando tudo aquilo terminasse.
— Vou conversar com Norah primeiro para saber o que ela
sente por você, depois, voltamos a conversar. — Logan olhou para o
Apple Watch em seu pulso e começou a se afastar. — Nosso treino
acabou.
Passei por Mason como um raio e consegui entrar no vestiário
logo atrás de Logan, sentindo Benjamin atrás de mim. O QB abriu o
armário com um safanão e soube que estava com raiva. Raiva de
mim.
— Logan...
— Agora não, James.
— Qual é, Logan, vamos conversar...
Logan bateu o armário após pegar suas roupas e me olhou
com a mandíbula tensa e olhos prestes a saltar fogo.
— Eu disse que agora não, porra!
Ele me deu as costas e Benjamin parou ao meu lado,
apertando meu ombro com solidariedade.
— Você o conhece, James, sabe que Logan precisa de um
tempo quando está com raiva — disse baixinho, pois outros
jogadores começaram a entrar no vestiário, seus olhos voando para
cima de mim. — Ele vai ouvir você quando estiver pronto.
O problema era saber quando Logan estaria pronto. Eu o
conhecia muito bem, o babaca era orgulhoso e gostava de remoer
seus sentimentos antes de explodir. Frustrado, segui o exemplo de
Benjamin e fui tomar banho, ignorando Mason, que estava no canto
do vestiário, mexendo em seu armário. Se aquele filho da puta
ousasse olhar em minha direção, voltaria para casa com um olho
roxo.

Logan provavelmente foi passar o dia com Avalon, pois não foi
para casa conosco e simplesmente não atendia qualquer ligação
minha ou respondia minhas mensagens. Decidi seguir o conselho de
Benjamin e dar tempo para ele, mas começou a anoitecer e fui
ficando ansioso. Logan e eu nunca brigamos de verdade. Éramos
amigos literalmente desde o nascimento, nossas avós eram amigas,
sempre estudamos na mesma escola, ele era o irmão que nunca
tive. Ser ignorado por ele daquela forma era algo que eu não sabia
direito como lidar.
Norah chegou em casa com o céu já escuro depois de ter
passado a tarde ensaiando para o teste da peça de teatro na casa
de John e fiquei esperando pelo que iria falar. Mason com certeza
devia ter conversado com ela e contado o que acontecera na
academia, no entanto, não vi nada diferente em sua expressão.
Bom, nada diferente do seu novo habitual, sempre um pouco
distante de mim.
— O que houve? — Ela deixou o casaco no gancho atrás da
porta e se aproximou. — Parece tenso.
Ela não sabia de nada. Mason não contara nada para ela? Abri
a boca para responder, mas a porta de casa se abriu de repente e
Logan entrou, seguido por Avalon. Eu me ergui do sofá e o observei
passar pela irmã como se mal a tivesse visto e parar bem na minha
frente com a expressão fechada. Ele ainda estava com raiva de mim,
o que era compreensível.
— Desde quando você se tornou um traidor do caralho, porra?!
— Logan... — Avalon se aproximou e tocou no ombro do
namorado, mas o QB não tirou os olhos de cima de mim. — Lembre-
se do que conversamos.
— Sei muito bem o que conversamos, mas agora chegou a vez
de conversar com esse mentiroso!
— Ei! — Norah correu em nossa direção, quase parando entre
nós dois. — O que está acontecendo? Por que está falando com
James assim?
Logan finalmente se virou para Norah e ela deu um passo para
trás ao ver a raiva em seus olhos. Aquilo me deixou puto e tirou
parte da ansiedade que eu sentia.
— Com você eu converso depois!
— Você não vai ser um merda com ela, Logan! — falei,
entrando na frente de Norah. — Desconte a sua raiva em mim.
— Mas é em você mesmo que vou descontar! Você mentiu
para mim, porra!
— Sobre o quê? — Norah perguntou baixinho parando ao meu
lado, mas eu nem precisava olhar para ela para ter certeza de que a
garota já sabia a resposta.
— Sobre você e Mason! — Logan cuspiu, apontando para a
irmã e depois para mim. — Quantas vezes eu te perguntei se sabia
algo sobre os dois e você disse que não, James? Mentiu na minha
cara, porra!
— Sim, eu fiz isso. Menti para você, Logan — confidenciei sem
raiva em meu tom de voz, pois sabia que havia errado. — Mas foi
por uma boa causa...
— Boa causa? — Logan riu com escárnio. — Existe mentira
boa agora?
— Você mentiu que estava namorando com Avalon e conheceu
a mulher da sua vida, então, sim, existe mentira boa — Norah
rebateu e Logan trincou a mandíbula.
— Isso é diferente!
— Não, não é diferente! Norah pediu a minha ajuda e eu dei.
Amo você, Logan, sabe disso, mas também amo muito a sua irmã e
estarei do lado dela sempre que precisar de mim. Porque eu posso
não ser nada dela, como você mesmo disse para Mason hoje de
manhã, mas sentimento é algo que não se compra, é algo que não
tem nada a ver com sangue. Pensei que soubesse disso, afinal,
sempre afirmou que éramos irmãos.
— Irmãos não mentem um para o outro — Logan murmurou
entredentes, parecendo abalado, mas não querendo dar o braço a
torcer.
— Tem razão, não estou aqui para fingir que não errei. Sim, eu
errei em mentir para você, mas não me arrependo. — Olhei para
Norah e vi seus olhos cheios de lágrimas em cima de mim. Tentei
sorrir para ela. — Norah parece feliz. Ela está vivendo pela primeira
vez, está se aventurando, se apaixonando, e eu faria tudo de novo,
ainda que machucasse a mim mesmo ao saber que estaria mentindo
para você, apenas para vê-la desse jeito. Não mudaria nada do que
fiz.
Norah ofegou e algumas lágrimas caíram pela sua bochecha
sem que ela precisasse piscar. Senti vontade me aproximar dela e
secá-las, de socar Logan por fazê-la chorar, de tirá-la dali e
simplesmente ficar sozinho com ela, em qualquer lugar. Éramos bons
juntos, fosse apenas conversando, sentados lado a lado em uma
sala de cinema ou jogando videogame, onde ela sempre gargalhava
ao vencer de mim. Eu sentia falta daquilo. Porra, eu sentia falta de
tanta coisa!
Sentia falta dela. Caramba, sentia uma falta absurda de Norah
em minha vida.
Mas ela não era minha. Nunca foi e jamais seria.
— Bom saber que você mentiria de novo se fosse necessário.
Fico me perguntando que tipo de amizade é essa onde mentiras são
aceitas!
Norah se virou para Logan e o encarou de cima a baixo, seu
rosto passando da palidez para a vermelhidão em poucos segundos.
— Não posso acreditar que mesmo depois de ouvir tudo isso,
mesmo depois de ter conhecido Avalon, de estar feliz em um
relacionamento, você continua sendo tão egoísta, Logan!
— Egoísta? — Logan pareceu ofendido e Avalon tentou falar
alguma coisa, mas ele a interrompeu. — Eu estou sendo egoísta?!
Meu amigo é um traidor e minha irmã não confia em mim para
contar as coisas, mas eu sou egoísta?!
— Já parou para pensar por que eu não confio em você? —
Norah perguntou, dando um passo para perto dele. — Será que em
algum momento você realmente olhou para mim ou sempre se
escondeu atrás desse discurso idiota de que só queria me proteger?
— Eu quero proteger você! Sei como são os homens, Norah, e
você é importante demais para mim, não quero nunca que se
machuque.
— Mas você me machucou e nem mesmo percebeu! — Ela
gritou e eu senti vontade de abraçá-la. Sua mágoa vinha do fundo
da alma. ­— Nunca olhou para mim como uma pessoa, sempre como
a sua irmãzinha, nunca levou em consideração o que eu queria, o
que eu pensava! Parece que você nunca olhou para mim de verdade,
Logan, e eu nunca pensei em julgá-lo sobre isso. Você sempre viveu
em um impasse com o papai, depois, nós perdemos a nossa mãe, e
eu abri mão de tudo para estar do seu lado. Nunca me importei
sobre isso. Passei o último ano ignorando tudo para cuidar de você,
para te manter vivo, porque não suportaria perdê-lo! Eu senti medo
de que você me deixasse também, como a mamãe me deixou. Senti
medo de que morresse.
— Norah...
Logan estava pálido, boquiaberto, e quando tentou tocar em
Norah, ela deu um passo para trás.
— Quando Avalon entrou em nossas vidas e eu vi que ela
estava conseguindo acessar uma parte do seu coração que eu
jamais conseguiria, fiquei feliz. E quando percebi que vocês se
amavam e que você não corria mais riscos de fazer uma besteira, eu
me senti em paz, mas também me senti perdida. Qual era o sentido
da minha vida, afinal? Sempre me vi entre você e meu pai, fosse
antes da morte da mamãe ou depois, sempre me vi agindo mais
como a sua irmã mais velha do que o contrário. Então, de repente,
eu já não precisava mais ir a festas apenas para poder tomar conta
de você ou acordar no meio da madrugada para te resgatar bêbado
de algum lugar. Pela primeira vez na vida, eu podia viver por mim,
mas não sabia como fazer isso, Logan. Sempre vivi às suas sombras
e nunca me importei, de verdade, mas entendi que eu queria
começar a viver por mim e James me ajudou a fazer isso.
Norah se virou para mim e sorriu em meio às lágrimas,
tomando a minha mão.
— Recorri a ele porque você me sufocou, não com a sua dor
ou o seu luto, nunca com isso, mas com a sua proteção exagerada.
Eu amo o seu lado protetor, mas não preciso me esconder atrás
dele. Eu sou uma mulher adulta, que simplesmente quer viver. Eu
posso errar e me machucar, isso faz parte da vida, ninguém pode
evitar, nem mesmo você. Preciso que entenda que eu quero e
mereço ser livre, e não posso ser livre se você continuar querendo
me prender. — Norah soltou a minha mão e se aproximou de Logan,
secando uma lágrima que acho que nem mesmo ele percebeu que
havia caído. — Deixe-me encontrar um outro sentido para a minha
vida que vai além de você, Logan. Porque até mesmo quando tenta
me proteger, está pensando mais em você do que em mim.
Norah se afastou e simplesmente subiu os degraus que a
levariam para o seu quarto. Eu a acompanhei com o olhar até ela
sumir de minhas vistas, querendo ir até ela e simplesmente abraçá-
la, tomar aquela dor que eu nem imaginava que ela sentia.
Logan se sentou no sofá e coçou os olhos com força para
tentar impedir que as lágrimas voltassem a cair, mas foi em vão.
Avalon se sentou ao lado dele e acariciou as suas costas com pesar.
— Sou um irmão de merda! — Ele resmungou com a voz rouca
e embargada, dando um soco de leve na própria cabeça. — Sou um
irmão ruim pra caralho!
— Claro que não, Logan. Você é um bom irmão, só que errou
como qualquer outra pessoa é capaz de errar — Avalon falou.
— Errei a minha vida toda, pelo visto! — O QB riu sem humor.
— Como não percebi como Norah se sentia? Como não dei valor aos
sentimentos dela? — Seus olhos vermelhos se chocaram com os
meus. — Você tem razão, afinal, sempre teve. Sangue não quer
dizer nada. Você é para Norah um irmão bem melhor do que eu. —
Logan se ergueu e, para a minha surpresa, tocou a minha nuca
antes de encostar a testa na minha. — Obrigado por isso. Obrigado
por ter visto o que eu não vi e por ter cuidado tão bem dela. Eu te
devo um pouco mais da minha vida agora.
— Pare de besteira, Norah te ama e você sempre será o
melhor irmão do mundo para ela.
— Não como você. — Não havia inveja em sua voz, apenas um
pesar que apertou o meu coração.
Logan estendeu a mão para Avalon e foi com ela em direção à
escada. Eu os acompanhei com o olhar, assim como acompanhei
Norah, e me senti um merda quando me vi sozinho no meio da sala.
Porque Logan estava errado.
Nunca fui como um irmão para Norah, porque dentro do meu
peito não havia mais qualquer sentimento fraternal por ela.
Eu amava Norah, mas de uma forma completamente diferente
do que o meu melhor amigo imaginava.
Duas batidas na porta do meu quarto me fizeram erguer a
cabeça do travesseiro, onde havia me enterrado desde o momento
em que me afastei de Logan. Engoli em seco, pensando que poderia
ser o meu irmão, mas a voz do outro lado me tranquilizou.
— Sou eu, James. Posso entrar?
Limpei as lágrimas que ainda insistiam em descer e respondi
que sim. James entrou em meu quarto com o semblante abatido,
mas tentou sorrir. Eu me senti ainda mais culpada ao ver a tristeza
em seus olhos, pois com certeza James era a última pessoa que
merecia estar no meio de tudo aquilo. Ele se aproximou de mim e se
sentou ao meu lado na cama, puxando a minha mão e entrelaçando
os nossos dedos.
Por um momento, ficamos apenas em silêncio, sua companhia
diminuindo gradativamente o meu nervosismo. Parecia bobagem,
mas senti medo durante aquele tempo em que me obriguei a ficar
afastada de James. Medo de perdermos a nossa amizade, o nosso
companheirismo, porque eu não fazia ideia de como lidar com a
tormenta que ele causava em meu coração.
— Sinto muito. — Fui a primeira a falar, mas não tive coragem
de encará-lo enquanto as palavras deixavam a minha boca. — Sinto
muito por ter feito aquela proposta idiota para você, por ter pedido
para que mentisse para o meu irmão. Sei o quanto Logan é
importante na sua vida, o quanto você o ama, e agora estão
brigados por minha causa.
James tocou em meu queixo, um costume que tinha desde
quando eu era mais nova, e me fez olhar em seus olhos. Vi que ele
não me culpava, mas aquilo não fez com que o sentimento deixasse
o meu peito.
— Não se desculpe, baixinha. Não ouviu nada do que eu disse
para Logan? Eu faria tudo de novo, Norah, mil vezes, apenas para te
ver feliz.
Meu queixo tremeu e me senti ainda pior, porque eu não
estava feliz de verdade. Não conseguia ficar, ainda que tentasse
muito, porque entendi que não era por Mason que eu estava
apaixonada. Tive a real noção dos meus sentimentos quando James
falou tudo aquilo para Logan olhando em meus olhos.
Eu vi aquele homem lindo, alto, forte, com um coração
enorme, gentil e amoroso, simplesmente enfrentando o seu melhor
amigo de infância, seu irmão de alma, por mim. Afirmando que me
amava e que não se arrependia de ter me ajudado, mesmo sabendo
que colocaria em risco a sua relação com Logan. Meu coração...
Pensei que ele fosse saltar pela minha garganta, de tão rápido que
batia. Ele parecia gritar em meu peito, berrar com uma força que
nunca ouvi antes, que nunca senti antes, e exigia que eu o ouvisse.
Não me deixou mais ignorá-lo. Esfregou em minha cara que eu
amava James como homem e tirou a venda dos meus olhos.
Ter aquela percepção, aquela certeza, me deixou abalada, me
fez repensar em toda a minha vida até aquele momento. E me fez
querer chorar, porque eu sabia que um relacionamento entre mim e
James era impossível. Ele me amava como uma irmã e, mesmo se
não amasse, havia Logan em nosso caminho. Se meu irmão agiu
daquela maneira apenas porque James me ajudou a chegar perto de
Mason, o que faria se sonhasse que eu estava apaixonada pelo seu
melhor amigo?
Não queria imaginar. Não queria pensar naquilo.
— Eu o agradeço por isso — falei, levando sua mão até a
minha boca e dando um beijo nos nós dos seus dedos. — Mas não
quero que faça mais nada por mim. Não quero nunca mais colocar
em risco a sua amizade com Logan, eu sei o quanto se amam, não
podem perder tudo o que construíram até aqui por minha causa.
— Não vamos perder nada, seu irmão é cabeça-dura, mas
você deu um choque de realidade nele com tudo o que falou. —
James soltou a minha mão e passou o braço pelos meus ombros até
ter a minha cabeça encostada em seu peito. Seu coração batia tão
forte quanto o meu. ­— Seu discurso foi devastador. Não imaginava
que se sentia daquele jeito.
Mordi o lábio para impedir que mais lágrimas se derramassem,
porque não aguentava mais chorar. Foi em vão, no entanto, pois elas
se acumularam em meus olhos e caíram mesmo assim.
— Acho que nem eu tinha dimensão do que realmente sentia.
Eu apenas... explodi. Amo meu irmão, James, amo profundamente,
mas estava tão cansada. Venho me sentindo cansada há muito
tempo e nem percebi.
— Você passou por muita coisa no último ano, perdeu a sua
mãe e não conseguiu processar direito o luto, focou em Logan e
esqueceu de cuidar de si mesma, mas isso acaba agora. — James
deu um beijo longo em minha testa e solucei em meio ao choro.
Minha alma se aqueceu por ele não ter pedido para que eu parasse
de chorar. — Está na hora de pensar em você, Norah, exatamente
como vem fazendo. Precisa viver a sua vida sem culpa, por mais que
seja difícil após essa briga com o seu irmão. Acredito que Logan
finalmente entendeu que a proteção dele te sufocava e vai tentar
mudar.
— E você e ele? E se a relação de vocês nunca mais voltar a
ser a mesma? Nunca vou me perdoar se isso acontecer, James.
— Acho que seu irmão já não está tão bravo comigo, antes de
subir, me agradeceu por ter cuidado de você. — Havia algo diferente
em seu tom de voz ao falar aquilo, mas não consegui identificar ao
certo o que era. Mal conseguia lidar com os meus sentimentos
naquele momento. — Só espero que tudo isso tenha valido a pena,
que Mason seja o cara certo para você. Se aquele babaca sequer
pensar em te machucar, eu juro por Deus, Norah, que vou
arrebentar a cara dele, acabar com a sua carreira e fazer com que se
arrependa do dia em que pensou em chegar perto de você.
Ergui-me do peito de James e fiquei surpresa ao ver o brilho
da raiva em seus olhos. O wide receiver era uma das pessoas mais
calmas que eu conhecia. Pouca coisa era capaz de realmente tirar
James do sério, por isso, não entendi de onde surgira aquele
sentimento tão feroz dentro dele.
— Por que está falando isso? Descobriu algo sobre Mason que
eu não sei?
— Não, não descobri nada sobre ele, mas essa é uma
promessa que estou fazendo para você agora. — James tomou meu
rosto em suas mãos, limpando delicadamente as minhas lágrimas
com o polegar. — Não serei como Logan, jamais irei te sufocar ou
cortar as suas asas, quero que seja livre, quero que viva cada
experiência que quiser, porque não há no mundo uma pessoa que
mereça mais isso do que você. — Os olhos dele ficaram rasos de
lágrimas. — Mas sempre estarei por perto, cuidando de você, sendo
o homem que você precisa que eu seja. Seu amigo, seu irmão,
qualquer coisa que quiser de mim, você terá, entende isso?
Eu ofeguei e, por um segundo de loucura, eu quase implorei
para que ele simplesmente fosse o meu homem. Meu homem e de
mais ninguém, mas não podia fazer aquilo, não tinha aquele direito
e não suportaria ouvir de James que ele não me via como nada além
de sua irmã mais nova.
— Você entende, Norah? — perguntou mais uma vez,
sondando os meus olhos.
— Sim — sussurrei em resposta, segurando seus pulsos. Eram
grossos demais, meus dedos não se encontravam ao redor deles. —
Sim, eu entendo. Sempre estarei do seu lado também, James,
sendo... sendo a sua irmã. — Doeu intensamente dentro de mim
dizer aquilo. — Sua melhor amiga.
James fechou os olhos por um segundo e respirou fundo,
como se absorvesse minhas palavras. Quando voltou a erguer as
pálpebras, um sorrisinho bonito se abriu no canto dos seus lábios.
— Para sempre? — perguntou.
— Sim, para sempre.
O jogador me puxou novamente de encontro ao seu peito e foi
a minha vez de fechar os olhos enquanto o abraçava com força.
Respirei fundo, querendo guardar o seu cheiro dentro de mim, o
calor do seu corpo em minha pele, o toque gentil das suas mãos
grandes em minhas costas, porque não sabia quando teria outra
oportunidade de estar tão perto e íntima de James outra vez.

Pensei que não conseguiria dormir naquela noite, mas estava


tão emocionalmente exausta, que apaguei sem nem ao menos
perceber. Acordei antes do toque do despertador, apenas porque
senti que não estava mais sozinha. Ao abrir os olhos, encontrei
Logan deitado ao meu lado, fazendo um cafuné em minha cabeça
com o cenho levemente franzido.
Ele forçou um sorriso assim que percebeu que eu despertara,
mas ficou um tempo sem falar nada, como se estivesse me dando
alguns minutos para decidir se iria expulsá-lo ou não. Jamais faria
algo do tipo. Logan e eu nunca brigamos e, por mais que eu tivesse
falado demais na noite anterior, não queria que ficasse um clima
ruim entre nós dois. Eu o amava e apenas queria que Logan me
entendesse e me visse de verdade.
— Oi — ele murmurou depois de prolongar o silêncio.
— Oi.
— Você me odeia?
Havia uma preocupação genuína nos olhos de Logan e aquilo
me fez rir baixinho.
— Não, eu não te odeio. Jamais seria capaz de odiar você.
Meu irmão soltou a respiração que estava prendendo e me
puxou para um abraço muito forte. Beijou os meus cabelos tantas
vezes, que cheguei a perder a conta. Senti-me tão bem em seus
braços, tão acolhida e amada, que as lágrimas que voltaram a
encher os meus olhos tinham um significado completamente
diferente da noite anterior.
— Sabe o que eu senti quando fiquei mais velho e finalmente
entendi que você era a minha irmãzinha e não uma intrusa que
queria roubar os meus pais de mim?
— Não — respondi com um sorriso em meio às lágrimas. —
Mas estou esperando você me contar.
— Eu senti... Senti que eu nunca estaria sozinho no mundo,
que eu tinha que ser forte para poder cuidar de você, porque você
não era apenas a minha irmã, era um presente. Um presente que
não pedi, mas que nossos pais me deram mesmo assim. Acreditei
tanto nisso, Norah, que não consegui ver que você já não era mais a
garotinha que eu precisava ficar correndo atrás, evitando que caísse
de cara no chão quando resolvia correr ou andar de bicicleta.
Simplesmente não vi quando você cresceu, não percebi quando se
tornou madura, nem mesmo quando tomou as rédeas quando me
perdi e cuidou tão bem de mim. Você tem razão, nossos papéis se
inverteram e fui egoísta demais para não perceber. Mesmo quando
eu queria cuidar de você, acabava pensando mais em mim, no meu
papel de irmão mais velho, na promessa que fiz aos nossos pais de
protegê-la para sempre. Eu não queria falhar, principalmente com
você, mas falhei. Falhei por um tempo longo demais.
Eu fiquei quieta, deixando que Logan falasse, pois sentia que
ele precisava desabafar assim como eu desabafei na noite anterior.
Nós permanecemos abraçados, com a minha cabeça em seu peito,
da forma mais fraternal e sincera que poderia existir.
— Mas não quero continuar falhando. Não quero ser o seu
opressor, pelo contrário, quero ser o seu melhor amigo, assim como
você é minha melhor amiga. Talvez eu não mereça, sei que fui um
idiota por muito tempo, que não levei em consideração os seus
sentimentos e as suas vontades, mas prometo que vou me esforçar
e provar para você que pode confiar em mim. Sou o seu irmão e não
quero... — A voz dele embargou, mas Logan limpou a garganta e
prosseguiu: — Não quero perder o presente que nossos pais me
deram.
Sentei-me na cama e obriguei Logan a fazer o mesmo, pois
queria olhar em seus olhos. Eram tão bonitos quanto os do nosso
pai. Na verdade, Logan se parecia muito mais com o Sr. Miller II,
enquanto eu era uma cópia da minha mãe, mesmo assim, nos
completávamos. Eu não poderia viver sem ele e sabia que meu
irmão também não conseguiria viver sem mim.
— Você nunca vai me perder — garanti, entrelaçando os
nossos dedos. — Nunca, ouviu isso?
— Mesmo eu sendo um idiota?
— Você não é idiota, apenas age como um às vezes, o que é
um defeito, mas eu amo mais as suas qualidades. Você é altruísta e
tem um coração enorme, Logan, também sabe reconhecer quando
erra e não hesita em se redimir. Eu amo você e confio na sua
palavra, sei que vai cumprir com tudo o que me disse.
— Eu prometo a você — garantiu e eu vi a verdade em seus
olhos. — Me perdoa por ter sido o pior irmão de todos os tempos?
— Nem se quisesse muito, você conseguiria ser o pior irmão
de todos os tempos — ri e ele me deu aquele sorriso bonito que eu
tanto amava e que fazia Avalon suspirar pelos cantos. — Mas eu te
perdoo, sim. Com uma condição.
— Qual?
— Que você converse com James e o perdoe por ter mentido,
ele só fez aquilo porque implorei, não teve culpa de nada, Logan.
Meu irmão ficou um tempo em silêncio, mas logo concordou
com a cabeça, me fazendo sentir um alívio imenso.
— Sim, eu vou conversar com ele, também preciso me
desculpar por algumas merdas que falei.
— Ótimo. Não quero que vocês briguem, principalmente por
minha causa.
— Não vamos mais brigar. E sobre Mason... Eu já desconfiava
que vocês estavam saindo juntos. Não fiquei com raiva por causa
disso, Norah, mas porque James mentiu para mim. Agora eu
entendo que mentiu porque estava sendo fiel a você e sinto que
preciso agradecer a ele por ser tão leal e por te amar como eu te
amo.
Te amar como eu te amo. Como um irmão. Lutei para não
deixar aquilo me abalar.
— Então vai logo atrás dele fazer as pazes — exigi e Logan riu.
— Eu vou. — Meu irmão beijou as minhas mãos e se levantou
da minha cama. — Desça para tomar café da manhã com a gente.
— Encontrarei com vocês em alguns minutos.
Logan deixou o meu quarto e eu me joguei de costas na cama,
sentindo como se um rolo compressor tivesse passado por cima de
mim, mas tranquila por ter a certeza de que nada abalaria a minha
relação com o meu irmão ou a sua amizade com James.
Abri a porta do meu quarto e dei de cara com Logan no
corredor, com o punho erguido como se estivesse prestes a bater e
anunciar a sua presença. Por um momento, fiquei sem reação, mas
o QB foi rápido em quebrar o gelo e pedir:
— Podemos conversar?
Como eu diria não? Se Logan não estivesse ali, eu com certeza
iria atrás dele em algum momento. Confirmei com a cabeça e
entramos juntos em meu quarto. Observei sua sobrancelha se
arqueando lentamente conforme dava uma olhada à nossa volta.
— Você continua o mesmo bagunceiro de sempre.
Eu não poderia negar. Havia roupas e sapatos espalhados, mas
eu arrumaria tudo em breve.
— É um dom que eu tenho, você sabe. Se soubesse que ia
receber visita, eu teria dado um jeito em tudo isso.
Logan estreitou os olhos para mim.
— Se tivesse arrumado a porcaria do seu quarto para me
receber, eu ficaria ofendido. Já tirei muita toalha de cima da sua
cama apenas para ficar sentado ao seu lado enquanto jogávamos
videogame quando éramos mais novos. ­— O QB sorriu e se
aproximou de mim. — E essas são sempre as minhas melhores
lembranças, as tardes que passávamos juntos jogando e vendo
vídeo na internet, falando sobre futebol e garotas, fazendo planos
com o que faríamos com o nosso dinheiro quando entrássemos para
um time profissional.
— Planejamos nossa viagem para Vegas, lembra disso?
— Sim. Nós fecharíamos vários cassinos e viraríamos a noite
em festas, com muita bebida e sexo. — Nós gargalhamos com a
lembrança e senti algo agridoce enquanto voltávamos ao passado.
— Isso não vai mais acontecer, não é? Pelo menos não a parte
do sexo com mulheres diferentes a cada noite.
— Sinto muito por ter frustrado os nossos planos, mas o meu
coração falou mais alto. — Logan enfiou as mãos nos bolsos e me
deu um olhar levemente saudoso. — Ainda podemos fazer isso,
sabe? Podemos ir para Vegas, eu aproveito e me caso com Valente
tendo o cover do Elvis como celebrante e, durante a nossa noite de
núpcias, você e Ben podem se divertir com as mulheres
desconhecidas.
— É um bom plano — falei, sem querer pensar muito no fato
de que eu queria uma mulher muito conhecida por nós dois.
— Minha irmã também vai, é claro, provavelmente com o
idiota do Mason, mas acredito que até lá eu já vou ter me
acostumado a ter o jogador como meu cunhado.
— É, acredito que sim — murmurei, querendo
desesperadamente trocar de assunto. — Isso significa que ainda sou
o seu melhor amigo?
Logan me olhou por um tempo, as mãos ainda no bolso da
calça jeans, nossas lembranças nos rondando. Eu não conseguia me
recordar de algum momento em que não tive aquele babaca na
minha vida e simplesmente não podia imaginar viver sem a amizade
de Logan. Não existiria James sem aquele quarterback teimoso e
talentoso ao meu lado.
— Você sempre foi, James, e sempre vai ser. Acredito que não
há nada que você ou eu possamos fazer que será capaz de acabar
com a nossa irmandade. Porque não somos apenas amigos, somos
irmãos. Esqueça o que eu falei ontem, sangue nunca quis dizer nada
e nós sabemos disso. Eu fui um idiota. Você pode me perdoar?
Perdoá-lo? Puta merda! Se Logan ao menos imaginasse tudo o
que eu sentia, as coisas que passavam em minha cabeça em relação
a Norah, jamais abriria a boca para me fazer aquela pergunta. Era
eu que precisava do seu perdão. Aproximei-me e o abracei bem
forte, sentindo-o retribuir rapidamente.
— Não preciso perdoar você por nada, pelo contrário. Preciso
pedir perdão para você. Eu menti, Logan, e...
— Foi por uma boa causa, agora entendo isso. — Meu amigo
deu um passo para trás e apertou os meus ombros. — Não tem
motivo para me pedir perdão. E eu preciso agradecer mais uma vez
por ter cuidado da minha irmã e estado ao lado dela quando fui
idiota demais para não fazer isso. Sei o quanto se importa com
Norah, você é como um irmão para ela e acredito que jamais
deixaria Mason se aproximar se não tivesse a certeza de que ele é
um cara digno da minha irmã.
— Nunca, Logan. Só a apoiei nessa ideia maluca depois de ir
atrás de informações sobre Mason. Ele tem a reputação impecável,
nenhum escândalo envolvendo garotas e, desde que chegara ao
Alabama, mal foi visto com outras meninas em festas.
Aparentemente, o babaca é o homem perfeito.
— Ele nunca será perfeito o suficiente para a minha irmã.
— Concordo com você.
— Mas se Norah gosta dele como você diz, só me resta
conhecer melhor o jogador e dar um voto de confiança para ele.
Concordei com a cabeça, sem saber ao certo o que falar sobre
aquilo. No fundo, um lado egoísta queria que Logan fosse bem duro
com Mason, a ponto de fazer o babaca desistir de Norah, mas eu o
ignorei. Era apenas o meu ciúme falando alto e eu deveria aprender
a controlar aquele sentimento.
Nós trocamos mais algumas palavras e descemos juntos,
encontrando Avalon e Benjamin conversando na cozinha. O running
back nos encarou com os olhos arregalados.
— Vocês não vão se matar, vão? Avalon acabou de me contar
tudo o que aconteceu ontem. Não acredito que resolveram fazer
barraco justo no dia em que eu não estava em casa!
— Não, a gente não vai se matar, pode ficar tranquilo — Logan
respondeu conforme se aproximava de Avalon e a abraçava por trás.
— Já fizemos as pazes.
— Tão rápido assim? Você já foi mais durão, QB. — Benjamin
riu e eu estreitei os olhos para ele.
— Devo contar ao Logan que você sabia de tudo?
— O quê? Você sabia, Benjamin?
Ben arregalou os olhos, erguendo rapidamente as mãos.
— Eu não sabia de tudo. Quer dizer, sim, eu sabia, mas era
mais ou menos. Bem mais ou menos. E falei para James que era
uma loucura.
O quarterback se afastou da namorada e parou na frente de
Ben com os braços cruzados.
— Em nenhum momento você pensou em me contar?
— E tirar o doce da boca da Norah? Ah, não, a garota não
merecia isso... — Benjamin forçou uma risada ao ver os olhos
estreitos de Logan. — Eu só fui um bom amigo para ela, ok? E se
James está vivo, com todos os membros ainda grudados ao corpo,
você não tem o direito de tocar em mim.
Logan sacodiu a cabeça e se afastou indo em direção à
geladeira.
— Estou cercado por traidores. Vocês têm sorte por eu amar
cada um, do contrário, faria picadinho de vocês.
­ Não, eles têm sorte por você namorar uma mulher incrível

como eu, que sempre coloca a sua cabeça no lugar — disse Avalon e
eu não pude deixar de concordar.
— Obrigado, Valente. — Benjamin segurou a mão de Avalon e
deu um beijo no momento em que Logan se virou para os dois. Eu
comecei a rir.
— Saia de perto da minha mulher, seu idiota!
— Foi só um beijo inocente!
— O soco que vou dar na sua cara não vai ser nada inocente!
— Pelo menos ele está brigando com você só por causa do
beijo e não por a ter chamado de Valente — falei e Benjamin me
deu o dedo do meio.
— Você é meu fã ou hater, seu babaca?
Soprei um beijo em sua direção e me virei assim que senti a
presença de Norah entrando na cozinha. Tentei não olhar para ela
como um idiota apaixonado, mas acredito que falhei, porque ela
parecia ainda mais bonita naquela manhã, com o cabelo preso em
um rabo de cavalo que me deu ideias que nem sequer deveriam
passar pela minha cabeça. Como meu pulso enrolado nele, puxando-
a em minha direção para que eu pudesse beijar a sua boca
enquanto a comia de quat...
— Se estão rindo desse jeito, é porque acredito que fizeram as
pazes.
Foi o som da voz dela que me trouxe de volta, mas o meu pau
já tinha sofrido as consequências da imagem que minha mente
criou. Pigarreei e resolvi ir até a geladeira pegar tudo o que eu
precisava para bater o meu shake de proteína, torcendo para que o
ar gelado do aparelho ajudasse a diminuir a ereção que ameaçava
se formar em minha calça.
— Depende, estou pensando em enfiar essa faca na jugular do
Benjamin — disse Logan, erguendo a faca de passar manteiga.
— Você não teria essa coragem, QB.
— Quer apostar?
— Valente, controle o seu namorado!
Pude ouvir Avalon começar a rir enquanto Logan e Benjamin
ainda fingiam discutir. Coloquei tudo na bancada onde ficava a pia e
senti Norah parar ao meu lado, me estendendo uma banana.
— Sei que vai precisar disso. — Ela piscou para mim e deixou a
fruta na bancada, me fazendo engolir em seco. Seus lábios estavam
rosados e brilhantes e eu sabia que o gloss que usava tinha cheiro
de morango, porque sempre que ela o passava em meu carro, o
aroma fluía pelo ar. Quis muito descobrir como seria a mistura do
morango com o sabor da sua boca. — James, está tudo bem?
— Sim. — Forcei uma risada e olhei rapidamente para trás. —
Contei para Logan que Ben sabia da nossa mentirinha, por isso os
dois estão desse jeito.
— Agora tudo faz sentido. — Norah riu e fiquei feliz por vê-la
daquele jeito. Parecia em paz, apesar de haver uma sombra em seus
olhos.
— Está tudo bem agora, Norah. Não precisa mais se preocupar
com nada.
A garota bonita me olhou por um tempo, o sol fraco do
inverno entrando pela janela fechada que ficava atrás da pia e
deixando suas írises cor de mel ainda mais claras e intensas. Havia
algo misterioso em Norah naquele momento e fiquei curioso para
desvendar cada um dos seus pensamentos. Por fim, ela apenas
sorriu e soltou um suspiro profundo.
— Sim. — Seus olhos se desviaram dos meus e senti falta
deles. — Está tudo bem agora.
O treinador Coben apontou para o slide projetado no quadro
branco, explicando uma série de novas estratégias que havia criado
para o time junto com o treinador Fred, responsável pela defesa. Ao
mesmo tempo em que me sentia ansioso para voltar a treinar em
campo, sabia que meu pai só estava esperando por isso para voltar
a me mandar mensagens todos os dias, exigindo um relatório do
meu rendimento, que eu quase nunca enviava. Amava meu pai, mas
sempre me perguntava se eu seria um filho ruim se bloqueasse o
seu número da minha agenda telefônica.
— Você e Logan chegaram juntos no centro de treinamento,
conversando e sorrindo. — A voz de Mason soou baixa ao meu lado.
Nem percebi quando o jogador irritante se sentou na cadeira vazia
ao lado da minha. Mantive meu olhar para frente. — Fiquei feliz por
isso. Não queria que brigassem, James.
— É mesmo? Não foi o que pareceu.
Tive tempo para refletir ontem à noite e voltar à conversa
entre Mason e Logan na manhã anterior. Não esperava que o tight
end continuasse a esconder o seu envolvimento com Norah, tendo
em vista que se autointitulava apaixonado por ela, mas realmente
não esperava que ele me citasse e contasse para Logan que eu sabia
de tudo. Não por achar que ele me protegeria de certa forma, mas
por acreditar que protegeria Norah. Uma coisa era ela sair com ele
sem o conhecimento do irmão mais velho, outra, era ela esconder
isso dele com a ajuda de outra pessoa.
Mason não me pareceu tão corajoso naquele momento,
praticamente se escondendo atrás do meu aval para que se
aproximasse de Norah. E a forma como me entregou para Logan
soava quase maldosa a cada vez que eu me lembrava da situação na
academia.
— Claro que não queria que vocês brigassem. O que eu
ganharia com isso, James?
Virei meu rosto em sua direção. A sala de reunião estava
escura para que pudéssemos enxergar melhor o slide, mas tinha
iluminação suficiente para que eu conseguisse olhar na cara daquele
babaca.
— Me diz você. — Joguei contra ele. Mason soltou uma
risadinha.
— Eu não ganharia nada, é claro.
— Será, Mason? Ou tem medo da influência que eu tenho
sobre Logan e acreditou que seria mais fácil convencê-lo a deixar
que você fique com Norah se me tirasse do caminho?
— Não entendi... Você é uma ameaça ao meu relacionamento
com Norah?
— Não sou. — Observei bem de perto a sua reação, o sorriso
já havia desaparecido dos seus lábios. — Por enquanto.
A mandíbula dele ficou cerrada e gostei de ter provocado uma
reação no jogador que não tivesse nada a ver com o seu excesso de
confiança, que quase beirava a arrogância, e o seu sorrisinho cínico.
— Por enquanto? O que isso quer dizer?
— Quer dizer que é melhor você tomar cuidado, porque se
cometer um deslize com Norah, eu serei uma ameaça ao
relacionamento de vocês. Agora volte a usar o seu título de jogador
impecável e preste atenção na explicação do treinador Coben.
Voltei a olhar para frente, mas fiquei bem atento a Mason. Ele
ficou em silêncio, ainda olhando para mim durante um tempo, antes
de sair da cadeira ao meu lado e voltar para o lugar de onde não
deveria ter saído.
Sentei-me ao lado de John no teatro da faculdade e
entrelaçamos os nossos dedos. A Sra. O’Neal estava sentada à mesa
em frente ao palco junto com o seu ajudante de direção e o diretor
de elenco. Os três seriam os responsáveis pela escolha do elenco e
estavam deliberando agora que os testes haviam terminado.
Estava nervosa. A discussão com Logan na noite passada me
desconcentrou totalmente para o teste de hoje e, apesar de termos
feito as pazes e o clima entre ele e James ter voltado ao normal, eu
ainda sentia os efeitos dos últimos acontecimentos. Estava morrendo
de medo de não ter ido bem no teste. John não podia me dar o seu
veredito, pois todos os candidatos esperavam do lado de fora pela
sua vez, e no teatro ficavam apenas as três pessoas que tinham o
meu destino nas mãos naquele semestre.
Queria muito o papel de Julieta. Estar nos palcos era o meu
maior sonho e conquistar aquela protagonista seria apenas o início
da estrada que eu queria tanto trilhar.
A Sra. O’Neal subiu no palco com a sua prancheta em mãos e
nos deu um sorriso animado. Ela era baixinha, usava óculos de grau
pequeno na ponte do nariz e sempre se vestia com muitas roupas
coloridas. Era, com certeza, a minha professora favorita. Além disso,
ela era inteligente e justa. Já tinha ouvido histórias de alunos que
passaram meses puxando o saco dela para serem escolhidos para as
suas famosas peças na UA, mas, apesar de tratá-los bem, Sra.
O’Neal nunca se deixou ser influenciada pelo tratamento dos alunos
para com ela.
A professora era muito ética e por isso que era tão respeitada
e admirada, além do seu currículo extenso e maravilhoso.
— Tenho aqui o resultado do teste de elenco. Preciso ressaltar
que todos vocês foram maravilhosos em cena, o que dificultou
bastante a minha vida e a dos meus amigos ali sentados. — A
professora apontou para os dois homens à mesa e uma série de
risadinhas nervosas e ansiosas explodiu pelo teatro. — E que estou
muito orgulhosa por ter alunos tão talentosos. Uma salva de palmas
para vocês.
John e eu nos encaramos ao soltar a mão suada um do outro
e batemos palmas junto com os outros alunos. Um tempo se passou
e voltamos a dar as mãos quando a Sra. O’Neal avisou que
começaria a falar os resultados. Ela anunciaria primeiro os
personagens secundários, para o nosso tormento.
— Sinto que vou ter uma síncope a qualquer momento — John
sussurrou em meu ouvido. — Principalmente porque você ainda não
me contou detalhes do que aconteceu ontem.
Eu havia comentado por alto com John sobre a discussão com
Logan, porque queria contar tudo pessoalmente. Seria também uma
forma de desabafar sobre tudo o que vinha acontecendo dentro de
mim. Confiava em John e sabia que para ele eu poderia parar de
mentir sobre os meus verdadeiros sentimentos — afinal, meu amigo
parecia já desconfiar de cada um deles.
— Eu vou contar, só preciso descobrir se serei ou não a Julieta
antes.
— É claro que você será! Eu não aceito outra Julieta para o
meu Romeu. — John se inclinou um pouco mais em minha direção.
— Até porque, sua maior concorrente é a Heather e nós dois
sabemos o quanto essa garota é metida.
— John! — Dei um tapinha em seu braço e abafei uma risada
conforme ouvia a comemoração discreta daqueles que estavam
sendo escolhidos para o elenco. — Ela é talentosa.
— E metida. — Ele fez uma careta. — E você é mil vezes mais
talentosa do que ela.
— Opinião de amigo não conta.
— Claro que conta, ou você me fez acreditar que o Romeu
seria meu apenas por ser minha amiga?
— Lógico que não! Não há outro ator melhor do que você para
esse papel.
— E não há outra atriz melhor do que você para ser Julieta.
Sorri para o meu melhor amigo e voltamos a prestar atenção
no anúncio de Sra. O’Neal. A escalação dos personagens secundários
chegou ao fim e ela logo iniciou o dos personagens principais da
trama. Os primeiros a serem revelados foram os senhores Capuleto,
pais de Julieta, seguidos pelos Montecchio, pais de Romeu. O frio se
intensificou em minha barriga. Estava chegando a hora.
Após o anúncio de quem faria Frei Lourenço, Nurse — ama de
Julieta —, Tybalt Capuleto — primo de Julieta —, Benvólio
Montecchio ­— primo de Romeu —, e Mercúrio, que era amigo de
Romeu, chegou o momento de anunciar quem faria o papel
principal. Eu mal conseguia ouvir a professora por causa da força
com a qual o meu coração batia e parecia retumbar em meus
ouvidos.
Apertei a mão de John com força, sentindo-o fazer a mesma
coisa comigo, e fechei os olhos quando a Sra. O’Neal começou a dar
o resultado.
— Romeu será interpretado por... — A filha da mãe fez
suspense, mas eu não abri os olhos. — John Fitzgerald.
— Ah, meu Deus! — John gritou ao meu lado, me puxando
para um abraço e eu retribuí ainda de olhos fechados, sorrindo para
ele.
— E, finalmente, nossa eterna Julieta será interpretada por...
— Sentia que eu poderia desmaiar a qualquer momento. — Norah
Miller!
— Eu sabia! Eu sabia, caramba! — gritou o meu amigo.
John me puxou pelos pulsos e me fez ficar de pé para me
abraçar com força, mas eu quase não tinha reação. Estava em
choque. Sabia que havia um sorriso em meu rosto, que fazia minhas
bochechas doerem de tão grande que ele era, mas eu mal conseguia
raciocinar. John pegou meu rosto entre as mãos e olhou em meus
olhos com os dele rasos de lágrimas.
— Nós passamos, Norah! Nós passamos, porra! — sussurrou
no final e eu quase me engasguei com a risada histérica que surgiu
no fundo do meu peito.
— Nós passamos mesmo. Não é mentira.
— Claro que não. Esse é só o primeiro de muitos papéis que
faremos ao longo da nossa carreira. É melhor o mundo se preparar
para nós dois, porque estamos chegando com tudo!
Eu o abracei com força, minha ficha finalmente começando a
cair. Foi inevitável pensar na minha mãe, no quanto ela sempre me
incentivou e apoiou. Eu sabia que estava olhando por mim onde
quer que estivesse e esperava que se sentisse orgulhosa. Aquela era
só a primeira de muitas conquistas.
Após passar a euforia da revelação, Sra. O’Neal pediu para que
fôssemos ao palco e falou algumas palavras, reafirmou o quanto
éramos talentosos e se disse orgulhosa do nosso elenco. Momentos
depois, ressaltou como aquele era um trabalho sério e que, pelos
próximos meses, estaríamos imersos em ensaios constantes e
desafiadores. Eu me sentia preparada para tudo aquilo e estava
ansiosa para que pudéssemos começar. A primeira reunião de elenco
ficou marcada para a semana seguinte e logo fomos liberados.
John e eu saímos de mãos dadas do teatro, rindo como duas
crianças, e ele logo pegou o celular dentro do bolso da calça jeans
quando chegamos ao lado de fora do prédio.
— Preciso avisar ao Peter!
Meu amigo se afastou já com o celular na orelha e eu corri
para pegar o meu dentro da minha bolsa. Não pensei muito na hora
de ir até as chamadas recentes e ligar para a única pessoa que fazia
o meu coração bater de forma tão descompassada. A voz grave de
James soou do outro lado da linha e um arrepio de desejo e
felicidade levantou todos os pelinhos do meu corpo.
­— Oi, baixinha.
— Eu passei! Eu passei, James!
— No teste de elenco? Era hoje?
— Sim! E eu serei a Julieta!
— Puta merda, Norah! Eu sabia, porra! Sabia que esse papel
seria seu, meu amor! — James praticamente gritava do outro lado
da linha, tão feliz pela minha conquista quanto eu fiquei por ele
quando ganhou a temporada de futebol ao lado dos meninos no ano
passado. — Parabéns! Você merece isso e muito mais. Esse será o
primeiro papel de muitos na carreira brilhante que você está
construindo.
— Obrigada. — Eu funguei, me sentindo uma boba. — Que
droga, eu vou chorar!
— São lágrimas de alegria, você merece se emocionar.
Precisamos comemorar! Conte ao seu irmão, vamos sair juntos hoje
à noite.
— Sim, eu sinto que preciso beber alguma coisa para ver se a
ficha cai de verdade.
James riu e eu senti o meu peito apertar de saudade dele. Se
estivesse aqui agora, eu estaria jogada em seus braços fortes,
sentindo o cheiro da sua pele com a minha cabeça pressionada
contra o seu peito.
— Faremos isso mais tarde, então. — Ele ficou em silêncio por
um segundo, mas logo voltei a ouvir a sua voz: — Norah?
— Sim?
— Estou orgulhoso pra caralho de você. Eu te amo.
Daquela vez, eu não fiquei triste ao ouvir aquilo, pois
simplesmente ser amada por James, da maneira que fosse, já me
deixava feliz.
— Eu também te amo.
Nós desligamos e John voltou a se aproximar com um sorriso
gigante. Ele me abraçou e rodopiou comigo, sem se importar com os
alunos que passavam à nossa volta e nos olhavam como se
fôssemos malucos. Assim que me colocou no chão, perguntou:
— O que vamos fazer hoje à noite para comemorar?
— Não sei, mas com certeza faremos alguma coisa! Acabei de
falar com James e...
— James? Pensei que estivesse falando com Mason. — John
arqueou uma sobrancelha e, antes que eu pudesse perguntar para
ele o que aquela expressão em seu rosto significava, ele apontou
para algo atrás de mim com o queixo. — De qualquer forma, acho
que não conseguirá mais fugir do seu futuro namorado agora.
Mason está vindo.
Eu me virei a tempo de ver Mason se aproximando. Pelo
menos ele não nos pegara de surpresa daquela vez. John acenou
para o jogador assim que ele fechou a nossa distância e se afastou
depois de deixar um beijo em minha bochecha, avisando que
encontraria com Peter no estacionamento.
— Me mande uma mensagem avisando sobre o que faremos
mais tarde! — disse em voz alta conforme se distanciava.
— O que ele quis dizer? Já tem planos para mais tarde e não
me avisou? — Mason tocou a minha cintura e me puxou em sua
direção com pouca delicadeza, um contraste com a forma como
tocou os lábios nos meus em um beijo calmo e sem língua. — Estava
pensando que poderíamos sair hoje à noite.
— Eu fiz o teste para viver a Julieta hoje e passei!
Não contara para ninguém que o teste seria naquele dia,
portanto, a surpresa nos olhos de Mason era compreensível, mas ele
logo franziu o cenho.
— Por que não me disse que era hoje?
— Eu não disse para ninguém, fiquei com medo de ficar mais
nervosa com a expectativa de todo mundo sobre mim.
— É compreensível... — Ele deu um sorrisinho e enrolou um
cacho do meu cabelo em seu dedo. — Mas eu não sou ninguém,
sou?
— Claro que não, Mason...
— Então, você deveria ter me avisado. — Engoli em seco com
a pressão que estava jogando sobre mim. Por fim, Mason sorriu
abertamente. — Eu teria acampado aqui na frente, espalhado
cartazes pelo campus, apenas para mostrar a minha torcida por
você.
Meu coração desacelerou um pouco, mas eu ri mais de
nervosismo do que por achar engraçado o que acabara de falar.
— Não preciso de nada disso...
— Mas eu faria, porque você merece todo apoio do mundo. —
Ele me deu um outro beijo, estalado daquela vez. — Vi que estava
no celular enquanto me aproximava. Estava tentando ligar para
mim? Deixei meu celular no carro.
— Não, eu estava falando com James.
— Com James? — Mason inclinou um pouco o rosto e apertou
um pouco mais a minha cintura. — Ele te ligou?
— Não, fui eu que liguei para ele para contar que passei no
teste.
— E ligou para mim também?
— Eu ligaria agora, mas você está aqui na minha frente. —
Sorri, mas Mason não sorriu. Ele parecia tenso e acariciei o seu
peito. — O que foi?
— Você contou para mais alguém que passou no teste?
— Não, por enquanto, apenas você e James sabem. E John, é
claro, porque ele fez o teste comigo, inclusive, vai viver o Romeu ao
meu lado, não é incrível?! Estou muito animada, John e eu somos
amigos, sonhamos com o momento de contracenar juntos e está
acontecendo! — Eu estava tão empolgada, que demorei um pouco
para entender que Mason parecia não acompanhar a minha euforia.
Ele continuava sério, quase enigmático enquanto me dava um olhar
desconfiado. — O que houve? Por que está me olhando assim?
— Você passou no teste, está realizando um sonho, e James
foi a primeira pessoa em quem você pensou para contar essa
notícia? Não eu, que sou o cara com quem você está no momento?
— Mason apertou um pouco mais a minha cintura e eu me assustei.
— Mason, não foi por maldade... Eu nem pensei sobre isso...
— O que torna tudo pior e me faz pensar que, talvez, John
tinha razão quando perguntou se há apenas amizade entre você e
aquele babaca.
— O quê? Babaca? Não chame James assim! — Apoiei minhas
mãos em seu peito e o empurrei para trás. — Me solta, Mason!
— Soltar você? Nós estamos juntos, Norah!
— E podemos deixar de ficar juntos agora mesmo se você não
fizer o que eu pedi.
Mason piscou, parecendo surpreso com a minha atitude, e deu
um passo para trás, erguendo as mãos. Havia raiva em seu olhar,
mas seu semblante logo relaxou.
— Desculpa. Estou sendo um idiota.
— Sim, está. James é meu amigo e não quero que o insulte
dessa forma, ouviu bem? Nunca mais!
— Não vou fazer mais isso. Não tenho nada contra James,
Norah, eu juro, mesmo quando ele me ameaça quando ninguém
está vendo ou quando você pensa primeiro nele e depois em mim.
— James está ameaçando você?
Aquilo não fazia o menor sentido. Mason apertou a ponte do
nariz por um tempo, parecendo arrependido por ter soltado aquela
informação. Por fim, voltou a olhar para mim e se aproximar de onde
eu estava.
— Esqueça o que eu disse, tudo bem? Acho que estou com
ciúmes, apenas isso.
— E inventou essa história de ameaça por causa disso?
— Não inventei. — Mason tocou o meu rosto e suspirou. —
James está estranho comigo e hoje disse que pode ser um problema
para nós dois. Sinceramente, não sei por que está agindo assim,
acho que ele ficou com raiva por Logan ter descoberto que ele nos
ajudou a ficar juntos, mas, pelo que percebi, eles não brigaram. O
clima entre eles está ótimo. Não sei o que está acontecendo.
— Eles discutiram ontem, mas já fizeram as pazes. Logan
entendeu que James só queria me ajudar.
— Que bom, fico feliz em ouvir isso, eles são amigos desde
crianças, não é mesmo? Não é certo que briguem por nossa causa.
— O jogador voltou a tomar a minha cintura nas mãos e sorriu. —
Você me desculpa por ser um idiota ciumento? Prometo que isso não
vai mais acontecer, só agi assim porque já estava tenso com essa
situação com James e descobrir que ele foi a primeira pessoa em
quem você pensou para contar que passou no teste me deixou, sei
lá, um pouco inseguro.
Sondei os seus olhos, vendo que parecia sincero, e concordei
com a cabeça. No fundo, me senti um pouco culpada, porque Mason
tinha razão. Eu estava com ele agora, mas foi em James que eu
pensei para contar a novidade antes de qualquer outra pessoa.
Qualquer homem ficaria com ciúmes. Se eu estivesse em seu lugar,
talvez também ficasse desconfortável.
— Eu desculpo você, mas só se me se desculpar por ter ligado
para James primeiro.
— Vamos esquecer isso. — Mason sorriu e tocou o nariz no
meu. — E comemorar a sua vitória mais tarde.
Deixei que voltasse a me beijar, mas já não me sentia tão feliz
quanto antes.
Escolhemos comemorar no pub que Norah e Mason não
conseguiram conhecer no sábado. O local estava cheio para uma
terça-feira, mas conseguimos uma mesa que comportasse todo
mundo. Eu mal conseguia tirar os meus olhos da garota exultante à
minha frente. Norah estava tão feliz, que o sentimento chegava a ser
contagioso. Logan estava morrendo de orgulho da irmã, mas ele não
era o único.
Eu sentia que não a havia abraçado o suficiente desde que a vi
mais cedo em nossa casa.
Sentia que eu deveria ter feito mais do que apenas verbalizar
como eu estava orgulhoso dela.
Quando nos vimos mais cedo, senti vontade de cometer uma
loucura e simplesmente beijar a sua boca. O desejo surgiu de
repente, em um rompante tão poderoso, que eu quase deixei que
me dominasse, mas fui mais forte. Apenas a abracei com força, por
um longo tempo, ouvindo a sua risada feliz enquanto me contava
todos os detalhes sobre o teste e o nervosismo que sentiu.
Não fiquei chateado por Norah não ter me contado que o teste
seria realizado naquela manhã, porque entendia que estava ansiosa
e respeitava a sua escolha de querer se concentrar sem precisar se
preocupar com qualquer elemento externo. Aquilo provava como ela
era responsável e focada em seu futuro, preocupada com o seu
trabalho, como sempre se esforçava para dar o seu melhor. Ela
pareceu quase insegura ao perguntar se eu estava chateado por ter
guardado segredo sobre o teste, mas ficou aliviada quando garanti
que não. Apenas um idiota ficaria chateado por daquilo.
Passamos uma parte da tarde juntos e agora estávamos no
pub com Logan, Avalon, Benjamin, John, Peter e Alicia. Esta última
estava sentada ao lado de John e seu namorado e me
cumprimentou com um sorriso e um beijo no rosto. Não parecia
chateada comigo e fiquei feliz ao notar aquilo. Também percebi os
olhos atentos de Norah sobre nós dois e a confusão que tomou
conta do seu semblante quando Alicia escolheu se sentar perto do
casal e não próxima a mim.
Provavelmente, acreditava que eu ainda estava me envolvendo
com a sua amiga. Não tivemos tempo para conversar sobre o que
ela viu no sábado à noite, mas eu explicaria que não havia mais
nada entre mim e Alicia. Na verdade, nunca houve nada entre nós
dois.
Avalon se sentou ao meu lado com um sorriso alegre no rosto
e deu um gole em seu drinque enquanto olhava para Norah e Logan.
Os dois estavam em uma videochamada com o pai, que estava
viajando em uma conferência e só retornaria na próxima semana.
— Parece que foi Logan quem ganhou em um prêmio, ele está
tão feliz! Estou aliviada por ver os dois unidos de novo depois de
ontem à noite — comentou a ruiva.
— Eu também estou. Senti medo de que brigassem de
verdade. Eu me sentiria ainda mais culpado.
— Sabe que não precisa sentir qualquer culpa, não é? Você
apenas agiu como um amigo verdadeiro para Norah e Logan
entendeu isso.
— Eu sei, mas é inevitável. Logan sempre confiou em mim,
odiei ter que mentir para ele.
— Como disse Norah, a mentira foi por uma boa causa. —
Avalon olhou para frente e sorriu, arqueando uma sobrancelha. —
Vamos ver como Logan vai se comportar de agora em diante.
Eu segui a direção do seu olhar e vi Mason entrando no pub
com aquela sua pose confiante. Seus olhos percorreram o local até
encontrar a nossa mesa e bateram em mim antes de seguirem para
Norah. Um sorriso infeliz se abriu em seus lábios ao contemplá-la de
cima a baixo.
Minha garota... Norah estava linda demais naquela noite,
usando um vestido azul colado ao corpo, que terminava centímetros
demais acima dos seus joelhos e com um decote que ia até o meio
das suas costas. Com os cabelos soltos, ele quase não era visível,
mas minha mão coçava para tocar a pele exposta por debaixo dos
seus cachos sedosos. Saber que Mason teria aquele privilégio tornou
ainda mais amargo o gole que dei na cerveja.
O jogador se aproximou completamente e Logan o seguiu com
o olhar. Ele já havia encerrado a videochamada com o pai, poderia
ter se afastado da irmã, mas não foi isso que fez. Ficou ao lado de
Norah e o meu lado racional e ciumento quase me fez abrir a boca
para pedir que não se afastasse dela, que ficasse ao lado da garota
o tempo todo, mas me controlei.
Permaneci calado enquanto Mason parava ao lado de Norah e
cercava a sua cintura com o braço, pousando a mão no quadril dela,
perto demais da sua bunda. O tight end sortudo do caralho deu um
beijo no canto dos seus lábios, sussurrou algo em seu ouvido que a
fez sorrir, e só depois se virou para Logan, estendendo a mão para o
QB.
— Obrigado por não ter me proibido de estar com Norah hoje
à noite.
Logan o encarou com uma sobrancelha arqueada e apertou a
mão dele com uma força exagerada, mas Mason fingiu que não
sentiu nada.
— Minha irmã gosta de você, meu melhor amigo garantiu que
você não é um babaca, então, vou te dar um voto de confiança, mas
se pensar em magoá-la, vou fazer com que se arrependa de ter
olhado para Norah.
Eu garanti que ele não era um babaca? Porra, garanti mesmo.
Senti como se eu tivesse aberto ainda mais espaço para ser atacado
pelo time adversário.
— Logan, controle-se — Norah pediu com um sorriso tenso. —
Essa é para ser uma noite feliz e não cercada por ameaças.
— Não foi uma ameaça, foi apenas um aviso. — Por fim,
Logan sorriu e deu um beijo na testa da irmã antes de se afastar.
Vi de relance o QB se sentar ao lado da namorada, mas meus
olhos permaneceram fixos em Norah e Mason. O tight end se
aproveitou do aval de Logan e cercou Norah com as duas mãos em
sua cintura, falando algo baixinho que não consegui ouvir. Tentei ler
os seus lábios, mas a sensação de queimação em meu estômago,
que se espalhou rapidamente pelos membros do meu corpo, me
impediu de me concentrar o suficiente.
Não vi ou ouvi mais nada ao meu redor. Mal consegui piscar e
observei, como que em câmera lenta, Mason aproximar o rosto do
de Norah até ter a boca dela na sua. Cada músculo do meu corpo se
retesou. Senti-me ser atingido e nem sabia direito de onde tinha
vindo o golpe.
Na verdade, eu sabia sim.
O golpe viera daquele jogador filho de uma puta, que estava
com a minha garota nos braços! E o pior de tudo? Era que a culpa
por ele ter conseguido se aproximar dela e ganhar espaço, era toda
minha.
Dei Norah de bandeja nas mãos dele, exatamente como minha
avó alertou semanas atrás. Sentia como se a minha conversa com
ela tivesse acontecido há milênios, pois o James que a confrontou
naquele dia, que afirmou com todas as letras que não sentia nada
por Norah, não se parecia em nada com o James que estava
morrendo de ciúmes agora.
Levantei-me da cadeira de repente e me afastei a passos
largos dali, antes que eu perdesse o pouco do controle que ainda me
restava. Fui até o banheiro e joguei água gelada em meu rosto,
observando meu semblante furioso no espelho, a mandíbula cerrada
e o cenho franzido. Tinha consciência de que eu não deveria me
sentir daquele jeito, mas conseguiria controlar um sentimento que
não era nada racional?
— Cara, que merda está acontecendo com você?
Vi Benjamin atrás de mim pelo reflexo do espelho e respirei
fundo, puxando duas folhas de papel para poder secar o meu rosto.
­— Nada.
— Nada? — Meu amigo riu com certo espanto. — Acha mesmo
que me engana? Ou que vai conseguir enganar qualquer pessoa
dentro desse pub?
Virei-me para Benjamin, dividido ainda entre os ciúmes, a raiva
e o medo que começou a me deixar gelado.
— Estou falando a verdade.
— Está falando porra nenhuma! Acha que ainda não saquei o
que está acontecendo, James? — Ben se aproximou de mim e
cruzou os braços. — Eu te fiz uma pergunta.
— Então me dê a resposta. O que acha que está acontecendo,
Benjamin?
O running back sorriu com incredulidade.
— Precisa mesmo que eu diga, não é? Porque não consegue
falar em voz alta.
Não, eu não conseguia mesmo. Não contara a ninguém sobre
os meus sentimentos, simplesmente porque eu sabia que, quando o
fizesse, eles não seriam mais um segredo. Se tornariam reais e eu
temia perder o controle de tudo caso isso acontecesse.
— Está gostando da Norah — Ben finalmente disse e minha
garganta ficou seca. Ele sacodiu a cabeça. — Não, não é apenas
isso, certo? Está apaixonado por ela.
— Benjamin...
— Você está. Não sei se percebeu, mas eu não fiz uma
pergunta.
— E eu não ia negar à sua afirmação.
Ben abriu a boca, sem palavras, e eu senti uma parte do peso
que carregava indo embora, simplesmente evaporando do meu
peito. Respirar se tornou um pouco mais fácil. Não imaginava que
dividir aquele segredo com alguém me faria sentir aquilo. Benjamin
correu as mãos pelos cabelos e me olhou como se eu fosse insano.
— Como você deixou isso acontecer?
— Acha que eu sei? Nem percebi quando comecei a me
apaixonar, Benjamin! Não é como se eu pudesse controlar os meus
sentimentos.
— Ah, você pode sim! Era só ter um pouco de força de
vontade, porra!
— Força de vontade? O que você acha? Que eu simplesmente
decidi me apaixonar pela irmã do meu melhor amigo, porra?! — A
pergunta saiu por entre os meus dentes, tão baixo quanto eu
poderia falar. Sentia medo de que Logan aparecesse no banheiro de
repente e ouvisse tudo. — Eu amo Norah, sempre amei, mas não
era desse jeito! Tudo mudou de repente dentro de mim e eu não
consigo explicar o porquê!
— Será que foi de repente mesmo? Ou você já estava
apaixonado por ela antes e só não se deu conta disso porque não
tinha que se preocupar com a concorrência?
— Pare de falar desse jeito, Norah não é uma mercadoria para
ter concorrência!
— Sei que sou um babaca, mas você sabe muito bem o que eu
quis dizer, James! — Benjamin estava sério como nunca vi antes. —
Norah sempre esteve ao seu lado, literalmente à distância de uma
mão, mas isso mudou agora. Ela quis começar a viver e deixou outro
cara se aproximar. Um cara que não era você. Era muito fácil ignorar
o que sentia quando podia dormir de conchinha com ela sem peso
na consciência, certo? Mas não vai mais poder fazer isso agora,
porque Norah já não é mais sua.
Porra, eu quis socar a cara de Benjamin pela primeira vez na
vida, porque ele tinha razão em tudo o que havia acabado de falar,
eu apenas não tinha pensado por aquele lado.
Minha avó sempre teve razão, afinal. Havia, sim, sentimentos
diferentes dentro de mim por Norah, eu que não tinha prestado
atenção nisso, porque, como Benjamin acabara de esfregar na
minha cara, a garota bonita sempre esteve ao meu lado e eu não
corria o risco de perdê-la para ninguém. Só que eu perdi e não sabia
como lidar com isso.
— Estou fodido — murmurei, encostando-me à bancada da
pia. — Estou fodido pra caralho, Ben!
— Sim, você está. — Benjamin era conhecido por nunca
dourar a pílula. — E vai fazer o que sobre isso?
Ergui minha cabeça e olhei para ele com confusão.
— Não é óbvio?
— Não para mim.
— Vou ficar no meu canto e deixar Norah viver a vida dela.
Mason e ela estão apaixonados e vão continuar juntos.
— E como você pretende esconder o que sente por ela? Não
vai poder ficar agindo como se quisesse quebrar a cara do jogador a
cada vez que ele beijar a boca de Norah, ou esse seu segredo vai se
tornar público rapidinho, James.
— Eu vou me controlar, pode ficar tranquilo.
— Tranquilo? Eu estou tudo, menos tranquilo! Se Logan
descobre essa merda...
— Ele só vai descobrir se você contar.
Benjamin apoiou as mãos na cintura e olhou para o teto
enquanto respirava fundo.
— Achei que eu estava livre dos seus segredos agora que
Logan descobriu que você estava ajudando Norah, mas pelo visto,
eu não posso ter um segundo de paz, não é?
— Benjamin, por favor. — Desencostei-me da bancada e me
aproximei do meu amigo, tocando em seus ombros. — Sei que estou
pedindo muito...
— É, está mesmo.
— Mas você não pode contar para o Logan. Estou apaixonado
por Norah? Sim, mas não farei nada sobre isso, não tem por que ele
saber.
— É óbvio que eu não vou contar, seu idiota! Acha que quero
ver meus melhores amigos brigados? — Benjamin deu um soquinho
em meu braço quando voltei a dar um passo para trás. — Mas você
precisa se controlar, James, ou Logan vai perceber o que está
acontecendo e não vai querer saber se você tocou em Norah ou não.
Essa sempre foi a primeira regra dele, que nós dois nos
mantivéssemos longe da sua irmã nesse sentido.
— Sei disso, cresci ouvindo essa merda, mas nunca pensei que
eu me tornaria um filho da puta que deseja quebrar a principal regra
da nossa amizade. — Bufei, me sentindo cansado. — Vou me
controlar, eu juro.
— Ótimo. — Benjamin me olhou por mais tempo, ainda sério,
mas acabou sorrindo. — E eu pensando que a minha dor de cabeça
tinha acabado quando Logan conheceu Avalon e se apaixonou. Por
que tive que arrumar amigos tão problemáticos?
— Não sou tão problemático assim.
— Não, só está correndo o risco de o Logan arrancar a sua
cabeça, e nem estou falando da de cima. — Ben passou o braço pelo
meu ombro e me levou em direção à porta. — Vamos sair logo
daqui, antes que comecem a pensar que você está me pagando um
boquete.
— Vai se foder, idiota.
Benjamin riu e eu me afastei conforme voltávamos para a
nossa mesa. Tomei novamente o meu lugar ao lado de Avalon e Ben
ocupou a cadeira vazia ao lado da minha. Logan me olhou com o
cenho franzido.
— Está se sentindo mal?
Eu estava me sentindo mal pra caralho, mas, obviamente, não
foi o que respondi.
— Não, eu estou bem.
— Tem certeza? — Foi Avalon quem perguntou, seus olhos
maquiados com delineador preto me encarando profundamente.
Depois de Benjamin ter entendido tudo com tanta rapidez, estava
com medo de que mais alguém à mesa tivesse feito o mesmo. —
Você se levantou tão de repente, pensei que estivesse passando
mal.
— Ele só queria mijar, Valente, não se preocupe — Ben
respondeu por mim.
— E você foi lá segurar o pau dele? — Logan perguntou com
um sorrisinho.
— Nunca ouviu falar em mão amiga? — Ben retrucou.
— Vocês são nojentos! — Avalon resmungou com uma risada.
— Não ligue para eles, Ava, são dois porcos — falei e dei um
gole em minha cerveja, que já estava quente, tentando relaxar.
— Três com você, idiota. — Benjamin me deu um cutucão com
o cotovelo.
Dei a ele um sorriso de agradecimento e respirei fundo,
decidindo parar de ignorar o casal à minha frente. Mason e Norah
estavam sentados do outro lado da mesa e o jogador parecia
monopolizar a sua atenção com um braço sobre os seus ombros
delicados e a outra mão com os dedos entrelaçados nos dela. Em
algum momento, Avalon pediu licença para ir ao banheiro e senti
Logan se aproximar de mim.
— Também não consigo parar de olhar para eles. É esquisito
ver minha irmã namorando, não é?
— Você não imagina o quanto — murmurei e senti o olhar de
Benjamin sobre mim. Sabia que ele queria que eu me controlasse,
mas não consegui me segurar: — Eles ainda não estão namorando.
— O babaca não fez o pedido oficial, mas acredito que fará em
breve. — Logan soltou um suspiro. — Vou ter um cunhado. Pelo
menos ele gosta de futebol tanto quanto eu e minha irmã está feliz
ao seu lado. Isso é tudo o que importa. Estou feliz por Norah.
Claro que estaria, Mason era, aparentemente, o par perfeito
para a sua irmã. Eu apenas sorri para Logan e não consegui
comentar mais nada. Havia um limite para mentiras e eu sentia que
estava vivendo uma farsa naquela noite.
James estava estranhamente calado.
Eu tinha Mason ao meu lado, meus amigos e irmão estavam
comigo, mas meus olhos sempre iam para cima do wide receiver do
Crimson Tide. Sentado à minha frente, James bebia uma cerveja e
ria de vez em quando de alguma besteira que Benjamin soltava em
voz alta. Sentia seus olhos em mim, intensos de uma forma
diferente, mas sempre que eu o olhava de volta, James os desviava.
Era como se quisesse me esconder alguma coisa e fiquei me
questionando se tinha algo a ver com Alicia.
John e eu a convidamos naquela noite e, enquanto me
arrumava, me preparei psicologicamente para ver ela e James
juntos. Realmente acreditei que sentariam lado a lado e talvez
trocassem uns beijos, mas fiquei surpresa quando ela apenas o
cumprimentou quando chegou e se dirigiu para perto de John. O
bichinho da curiosidade só faltava me devorar enquanto eu os
observava tão distantes um do outro e James parecendo mal notar
que Alicia estava entre nós.
— Aquele dia foi tão insano! O time adversário parecia
disposto a nos derrubar em campo, mas nós conseguimos derrotá-
lo! Foi surreal ver a derrota estampada na cara daqueles idiotas,
principalmente na de Gavin Foster.
— Gavin Foster? Quem é esse? — perguntei para Mason, me
obrigando a parecer mais empolgada do que realmente me sentia ao
ouvir as suas aventuras com o time do ensino médio da escola.
— É o atual quarterback do Clemson Tigers. Jogamos por
times rivais durante todo o ensino médio apenas para nos
encontrarmos na universidade. — Mason sorriu. — Não posso
afirmar que somos amigos.
— Por quê?
— Gavin não é uma pessoa muito social. Tem poucos amigos...
Ele é esquisito.
— Meu irmão também tem poucos amigos, isso não quer dizer
nada.
— É diferente, Gavin parece não fazer questão de se
aproximar dos outros jogadores. É um metido do caralho. — Mason
deixou a cerveja sobre a mesa e se aproximou ainda mais de mim.
Ele parecia mais solto agora depois de ter tomado algumas cervejas.
— A gente podia fazer algo juntos no sábado, o que acha? Você não
conheceu o meu apartamento ainda.
O apartamento dele.
Eu poderia não ter muita experiência com relacionamentos,
mas não era burra, sabia muito bem o que significava quando um
homem convidava uma mulher para a casa dele — uma casa onde
ele morava sozinho. Acho que Mason viu o receio em meu olhar, pois
abriu um sorriso e colocou delicadamente alguns cachos do meu
cabelo para trás.
— Não precisa ficar assim, não vai acontecer nada que você
não queira, Norah. Eu dou a minha palavra.
O problema era que eu deveria querer, não? Mason era quase
meu namorado agora, era um homem bonito, beijava muito bem,
tinha um olhar e um sorriso sedutor, mas meu corpo não parecia
reagir a ele como deveria e aquilo me deixava insegura. Como eu
poderia ir para a cama com ele se ainda não me sentia cem por
cento confortável?
Senti um par de olhos castanho-escuros sobre mim. Virei meu
rosto em direção a James e, daquela vez, ele não desviou o olhar.
Percebi que cercava a garrafa de cerveja apoiada na mesa com as
duas mãos e que seus dedos estavam tensos. Ele não piscou e eu
senti que precisava responder algo para Mason antes que o jogador
notasse meu olhar para James e voltasse a pensar que havia algo
entre nós que ia além de amizade.
— Eu vou pensar sobre isso. — Estiquei-me e deixei um beijo
em seus lábios antes de me afastar. — Vou ao banheiro rapidinho.
— Quer que eu vá com você? Fico esperando na porta.
— Não precisa.
Sorri para Mason e deixei a mesa sem olhar para trás. Foi
como respirar pela primeira vez. Desde que chegara, o jogador não
tirava as mãos de cima de mim, mal pude conversar com as outras
pessoas à mesa. Sem contar que Mason parecia gostar muito de
falar sobre si mesmo, contou-me quase todos os seus feitos no time
da escola e eu não aguentava mais ouvir falar sobre futebol. Morava
em uma casa com três jogadores e nunca me senti sufocada
daquele jeito.
Usei o reservado, pois realmente estava apertada, e fiquei
surpresa ao encontrar com Alicia do lado de fora, lavando as mãos
na pia. Ela me viu pelo reflexo do espelho e me deu um sorriso
caloroso.
— Norah, nem conseguimos conversar!
— Desculpa, mal estou conseguindo dar atenção para vocês —
falei com uma careta de pesar enquanto usava a pia ao lado dela. —
Mas estou muito feliz com a sua presença, Alicia.
— E eu estou feliz por terem me convidado. — Nós duas
secamos as mãos, mas não tive pressa para sair do banheiro. Queria
ficar um pouco mais por ali antes de voltar para perto de Mason. —
Não julgo você por estar um pouco dispersa hoje, afinal, tem uma
companhia muito mais atraente ao seu lado.
Eu ri ao ouvir aquilo.
— Mason é mesmo muito bonito, não é?
— Sim, mas não acho que exista algum homem feio nesse
time. Deus parece ter escolhido cada um a dedo. — Ela mordeu o
lábio e se aproximou de mim como se fosse me contar um segredo.
— Estou saindo com Thomas Brown.
— O inside linerbacker[1]?
— Ele mesmo! — Alicia me deu um sorriso animado. — Nos
conhecemos no sábado na festa de Carter.
Não consegui disfarçar a minha confusão ao descobrir aquilo.
— Você e James não estavam juntos na festa de Carter? Eu vi
vocês dois se beijando no quintal.
— James é um homem maravilhoso, mas nosso encontro não
deu muito certo. E está tudo bem, sabe? Não fiquei magoada por ele
não ter querido continuar a sair comigo.
— James disse isso para você?
— Sim, com todas as letras depois que eu o beijei. Pensar
nisso me deixa um pouco arrependida. Estava claro na expressão
dele que não me queria, mas acabei forçando mesmo assim. O que
importa, foi que eu entendi tudo quando James interrompeu o beijo.
— Entendeu o quê? Que ele não queria continuar a sair com
você?
— Sim, mas foi além disso. Entendi que James está
apaixonado por outra pessoa.
Alicia me deu um olhar sugestivo, mas eu apenas fiquei ainda
mais confusa. E em choque. James estava apaixonado? Por quem? A
imagem de Megan voltou à minha mente, mas eu não quis acreditar
que era por aquela traidora que ele ainda nutria sentimentos. James
mal falava sobre ela e, quando a infeliz era citada, ele não
demonstrava qualquer reação.
— Torço para que ele tome coragem e demonstre para ela o
que sente — Alicia voltou a falar, chamando a minha atenção. — Eu
acredito que não há nada mais poderoso do que um sentimento
verdadeiro e que o amor é a única força capaz de unir qualquer
pessoa, mesmo aquelas que são proibidas uma para a outra.
— Então você sabe por quem ele está apaixonado?
— Eu? Ah, não, claro que não, James não me disse o nome
dela. — Alicia sorriu, mas a intensidade em seu olhar não diminuiu
nem um pouco. — Mas com certeza é uma mulher muito especial
para ter despertado o coração do jogador.
— Sim... — murmurei ainda em choque, sem saber o que
pensar sobre tudo aquilo. — Com certeza ela é muito especial.
— Tente descobrir mais sobre ela, Norah. — Suas mãos
tocaram as minhas com carinho. — Talvez você possa se
surpreender.
Alicia se afastou depois de me dar um sorriso e me deixou
sozinha no banheiro. Encarei-me no espelho e percebi como estava
pálida. Sentia minhas mãos geladas e meu estômago se retorcendo
com nervosismo. James estava mesmo apaixonado? Por quem? E
por que não percebi aquilo?
— Talvez Alicia possa ter entendido tudo errado — falei para
mim mesma, mas logo tive um choque de realidade. — No entanto,
se ela estiver certa, você não tem nada a ver com isso, Norah. Está
com Mason agora e James não é nada seu além de melhor amigo.
Fazendo de tudo para deixar de lado o choque que aquela
revelação me causou, saí do banheiro e tomei um susto ao ver
James deixando o banheiro masculino. Ele sorriu ao perceber que
era eu e senti vontade de jogar um monte de perguntas em seu
colo. Quem era ela? Eu a conhecia? Ela era da faculdade? Eles já
haviam transado?
Benjamin estava enganado, afinal. James não havia se tornado
um monge coisa nenhuma! Pensar naquilo me deixou com raiva.
— Está curtindo a sua noite, baixinha?
— Claro! Mason e eu estamos juntos, Logan não está surtando
por causa disso... Como eu não estaria curtindo?
James pareceu surpreso e até um pouco abalado com a minha
resposta, me deixando um pouquinho culpada. Só um pouquinho,
porque logo me lembrei da conversa que tive com Alicia e do que ela
me contou. Eles mal se conheciam, se Alicia sabia que James estava
apaixonado, era porque ele contara aquilo para ela. Como tinha
coragem de falar algo daquela magnitude para a minha colega de
curso e não para mim, que era, segundo as suas palavras, sua
melhor amiga?
— Tem razão, Mason e você estão juntos mesmo, afinal, ele
mal te deixa respirar. Está em cima de você como um tarado —
comentou ao cruzar os braços, o couro da sua jaqueta quase
estourando para conter seus músculos.
— Isso demonstra como ele me deseja. — Sorri com certa
raiva, querendo... Querendo que James sentisse por mim o mesmo
ciúme que me causava. Ele descruzou os braços e ficou muito sério
de repente. — Ou acha que o nosso namoro vai ser como o do
século passado e que só vamos transar depois do casamento?
James veio para cima de mim de repente, me obrigando a
encostar contra a parede às minhas costas. Suas mãos pousaram
uma de cada lado da minha cabeça e eu não me senti nem um
pouco presa ou sufocada por ele. Apenas senti o meu corpo começar
a arder, como se o fogo lambesse a minha pele de dentro para fora.
— Acho que você deveria pensar melhor nas coisas que fala
para mim.
— Por quê? Te incomoda saber que Mason vai tocar em mim?
A respiração de James ficou mais rápida e ele estava tão perto,
que eu podia sentir o seu peito tocar o meu. Poucos centímetros
separavam as nossas bocas e eu nunca me senti tão próxima a ele
antes e tão distante ao mesmo tempo. Se eu apenas me esticasse
um pouco em sua direção, poderia finalmente sentir a textura dos
seus lábios e...
Não, Norah! Nem pense nisso!
— Sim, me incomoda. Me incomoda pra caralho! — James
respondeu baixinho, sua voz saindo ainda mais grave e rouca. Meus
mamilos endureceram e, daquela vez, eu não achava que passaria
despercebido por ele. — Não quero imaginar aquele filho da puta
colocando as mãos em você ou tirando as suas roupas, Norah!
— Por quê? — Minha voz saiu em um tom parecido com o
dele.
Eu senti sede, mas era uma sede diferente. Não queria água
ou qualquer coisa alcoólica, eu queria algo que apenas James
poderia me dar, ainda que ele não imaginasse aquilo. O frio em
minha barriga deu lugar a um calor que desceu pelo meu baixo
ventre e se alojou em minha calcinha. Senti meu clitóris ficar
sensível como o bico dos meus seios e aquilo era um sinal de como
James conseguia me deixar prestes a explodir sem ao menos me
tocar, enquanto Mason não me causava qualquer faísca.
— É melhor que você não saiba a resposta. — O jogador
encostou a testa na minha e fechou os olhos, respirando bem fundo,
como se quisesse guardar o meu cheiro em sua memória. — Preciso
ir embora. Curta o resto da sua noite.
James deixou um beijo em minha testa e se afastou de
repente. Só naquele momento percebi o risco que corríamos, com
pessoas saindo e entrando nos banheiros feminino e masculino. Um
dos nossos amigos poderia ter nos flagrado daquele jeito. Mason e
Logan poderiam ter nos flagrado em uma posição que deixava muita
margem para suposições.
Afastei-me da parede me sentindo zonza e com os
sentimentos à flor da pele. O desejo ainda corria solto por minhas
veias e eu não estava acostumada a sentir nada tão intenso quanto
aquilo. Como poderia disfarçar diante de todo mundo o que acabara
de acontecer? Enchi os meus pulmões de ar e o expeli lentamente,
tentando reencontrar o meu equilíbrio e me preparar para voltar à
mesa.
James cumprira com o que me disse no corredor do banheiro.
A primeira coisa que percebi, era que ele não estava mais no pub
quando voltei ao salão, e senti um aperto no peito. Minha mente
começou a girar com inúmeras possibilidades de para onde ele teria
ido ou quem ele iria encontrar. Tentei tirar aquilo da cabeça e forcei
um sorriso ao me sentar ao lado de Mason.

— Não acredito que estou carregando a minha irmãzinha


bêbada para a cama!
A voz de Logan soou bem longe em meus ouvidos e eu ri
abafado contra o seu peito. Ele havia me pegado no colo em algum
momento e nem percebi que havíamos saído do carro em frente à
nossa casa.
— Essa é... a minha vingança contra... vo-você — solucei e
alguém riu alto às costas do meu irmão.
— Está certíssima, Norah! Já colocou a bunda bêbada de
Logan muitas vezes na cama, chegou a hora dele. — Foi Ben quem
comentou.
Acho que meu irmão respondeu alguma coisa, mas meus olhos
estavam muito pesados e não consegui os manter abertos por muito
tempo. Tinha a sensação de que tudo à minha volta rodava e não
conseguia me lembrar de muita coisa das últimas horas, apenas que
perdi um pouco o controle sobre a bebida depois que James fora
embora.
Pensar nele me fez abrir os olhos e percebi que estava deitada
em uma cama. Com a visão meio embaçada, notei Logan tirando
minhas sandálias com um sorrisinho divertido.
— James está... em casa?
— O quê? — Logan perguntou ao se aproximar de mim.
— James... Ele foi embora... Me deixou sozinha no bar...
— Ele não te deixou sozinha, nós estávamos com você.
— Eu sei, mas James é im-importante para mim. — Senti
meus olhos se encherem de lágrimas e uma parte levemente
consciente do meu cérebro me alertou sobre eu ser uma bêbada
patética. — E ele foi embora... Eu não quero bri-brigar com ele,
Logan, nunca...
— Ei... — Senti as mãos do meu irmão em meu rosto
enquanto ele soltava uma risada. — Vocês não brigaram, Norah.
James não estava se sentindo bem, por isso precisou ir embora. Eu
vou pedir para ele vir aqui, ok?
— Tá bom... Logan... — Chamei meu irmão assim que ele se
levantou. — Vo-você acha que James vai abandonar a gente se na-
namorar de novo?
Solucei mais uma vez e senti a bile se alojar em minha
garganta. Ah, não. Eu odiava vomitar.
— Que tipo de pergunta é essa, Norah? — Logan continuou a
rir. Eu era uma bêbada divertida para ele, pelo visto. — Você não
está falando coisa com coisa, maninha. Vou chamar o James.
Ouvi o clique suave da porta se fechando e meus olhos
acabaram indo pelo mesmo caminho, mesmo que eu estivesse
lutando muito para controlá-los. Minha mente ficou oscilando entre a
consciência e a inconsciência, até que senti dedos delicados tocarem
o meu rosto e o meu cabelo. Lutei para abrir os olhos e sorri ao ver
James sentado ao meu lado.
Então me lembrei de que ele realmente tinha ido embora do
pub e parei de sorrir.
— Você me abando-donou. — Minha voz saiu em sussurro e
ouvi meu irmão dizendo ao longe:
— Eu falei que ela não estava fazendo muito sentido.
— Deixa comigo, vou fazer de tudo para entender o que ela
quer dizer.
— Sei disso. — Logan parecia sorrir, mas eu não conseguia ver
onde ele estava. — Vou para o meu quarto, qualquer coisa, é só me
chamar.
Ouvi a porta se fechando novamente e os olhos de James
voltaram para mim. Ele afastou o meu cabelo dos ombros e desceu
os dedos pelo meu braço, me deixando toda arrepiada, até pegar a
minha mão.
— Você estava dizendo que eu te abandonei... — disse ele, e
entendi que queria que eu continuasse a falar.
Sentia minha mente confusa, mas logo me lembrei do
sentimento de indignação que me acompanhava desde cedo.
— Sim! Vo-você — solucei de novo e James deixou a minha
mão para acariciar as minhas costas, aproveitando que eu estava
deitada de lado na cama. — Você disse que ia embora e foi de ve-
verdade.
— Eu estava com dor de cabeça, Norah, por isso vim embora.
Sinto muito, não sabia que ficaria chateada.
— Mentira — sussurrei e, pela forma como ele arregalou os
olhos, entendi que eu não havia errado em minha suposição. — Você
decidiu ir em-embora porque está apaixonado.
— O quê? — Mesmo com a minha visão embaçada, consegui
ver quando seus olhos se arregalaram ainda mais. — Quem te disse
isso?
— Alicia. Você co-contou isso para ela e não para mim. Isso é
traição, James!
James ficou um tempo em silêncio antes de sacodir a cabeça.
— Não contei nada para ela, Alicia que deduziu isso.
— Mentira sua. A verdade, é que Ben se enga-ganou.
— Benjamin se enganou com o quê? — James parecia meio
desesperado agora.
— Ele disse que você tinha se tornado um mo-monge, que não
fazia mais sexo, mas é me-mentira! Você faz se-sexo e está
apaixonado por alguma garota!
— Norah... — Havia um tom de risada na voz de James. —
Não estou transando com ninguém, se é isso que te preocupa.
Queria dizer mais uma vez que era mentira, no entanto, meus
olhos pesavam demais e eu sentia que estava perdendo a luta para
o sono e o álcool. Foi então que me lembrei de que precisava falar
mais uma coisa e voltei a abrir um pouco as pálpebras.
— Mason quer fazer sexo comigo no sábado à noite...
— Como é que é? — Já não parecia mais haver risada alguma
no tom de voz de James.
— Ma-mas eu não quero fazer sexo com ele... Não me deixe
sair com ele no sábado, James...
Minha língua pareceu pesar ainda mais do que os meus olhos
e desisti de continuar a falar. Dormi tranquila ao saber que James
estava comigo naquele momento e não com outra garota.
Mal consegui dormir.
Depois que Norah fechou os olhos e pareceu pegar
definitivamente no sono, a cobri com o edredom e saí do seu quarto.
Fui interceptado por Logan no meio do corredor, mas garanti que
sua irmã estava bem e que não precisava se preocupar. Falei que ela
estava chateada por eu ter ido embora mais cedo e que me
desculpei. O QB não parecia preocupado, pois acabou rindo no final
e me desejou boa noite antes de voltar para o seu quarto.
No silêncio, sentado em minha cama, eu fiquei repassando
aquela conversa estranha com Norah em minha cabeça. Por um
momento, ela pareceu estar com ciúmes, mas aquilo só podia ser
coisa da minha imaginação.
Ficou óbvio que ela realmente estava sentida por eu ter ido
embora, e tinha que confessar que me arrependi assim que cheguei
em casa, me sentindo o maior idiota do mundo por ter me afastado
quando, na verdade, eu deveria ficar por perto para manter um olho
nela e em Mason, mas eu não suportava mais ver aquele filho da
puta em cima dela, mal a deixando respirar. Se ficasse mais um
pouco ali, perderia a cabeça, principalmente depois da nossa
conversa no corredor do banheiro.
Conseguia me lembrar nitidamente do momento em que perdi
a luta que travava comigo mesmo e cerquei Norah sem pensar nas
consequências. Qualquer um poderia nos ver daquela forma, mas eu
não me importei. Ela estava tão perto de mim, que eu podia sentir o
seu hálito quente, com um cheiro doce por conta da bebida que
tomava, tocando em minha bochecha. O calor do seu corpo pequeno
envolvia o meu e o tesão misturado com a raiva pelo que Norah me
falava se tornou um componente poderoso dentro das minhas veias.
Queria calar a boca dela com a minha, até que o nome
daquele jogador infeliz nunca mais saísse dos seus lábios! Eu
veneraria Norah bem ali, naquele corredor, com a minha língua, as
minhas mãos e o meu pau, apagaria Mason da sua memória e o
babaca nunca mais seria uma ameaça. A questão era que Norah não
me queria.
Porque, se ela me quisesse, eu teria esquecido da minha
promessa a Logan, da sua principal regra, e tomaria a sua irmã
naquele momento.
Passei as mãos pelos cabelos, precisando me levantar da
cama. Andei de um lado para o outro no meio do quarto, me
sentindo enjaulado, meu peito apertado, minha mente jogando
teorias de um lado para o outro. Fui embora do pub com a certeza
de que havia tomado a decisão certa de me manter afastado do
novo casal, pois era uma tortura vê-los juntos e tentar suportar o
ciúme que eu sentia, agora, eu já não tinha certeza de nada.
Norah estava com ciúmes de mim? Ou eu estava louco?
E aquela história de que Mason queria transar com ela, porra?!
Eu daria um soco no idiota se ele estivesse na minha frente
naquele momento. Era óbvio que eu sabia que o jogador queria
levar Norah para cama, mas evitava pensar sobre aquilo. Imaginar
os dois juntos daquele jeito me dava vontade quebrar alguma coisa,
incendiar uma cidade, e nunca me senti daquele jeito. Gostava de
pensar que eu era um homem racional em relação aos meus
sentimentos, mas com Norah eu sentia tudo de forma mais intensa.
Era como se eu nunca tivesse me apaixonado verdadeiramente
antes.
“Ma-mas eu não quero fazer sexo com ele... Não me deixe sair
com ele no sábado, James...”
Suas palavras meio emboladas, ditas naquela voz baixinha e
quase vulnerável, deixaram o meu peito apertado. Norah estava
sendo verdadeira, eu sabia disso, pois o álcool geralmente nos dava
coragem para colocar para fora alguns segredos que guardávamos.
O medo que eu sentia agora, era de que Norah resolvesse dar uma
de corajosa e aceitasse ir para cama com Mason mesmo sem
vontade. Eu não fazia ideia se entre quatro paredes aquele idiota
agiria como um homem de caráter ou pararia caso minha garota
pedisse.
De qualquer forma, eu não deixaria Norah correr aquele risco.
Ela me fez um pedido, talvez nem se lembrasse dele na manhã
seguinte, mas eu o atenderia. Aquele filho da puta não tocaria nela
no sábado — nem ousaria chegar perto de levá-la para cama antes
que Norah se sentisse verdadeiramente preparada. Aquilo eu iria
garantir.
Acabei voltando para a cama e dormi com o céu já ficando
claro. Tive menos de duas horas de sono, mas acordei motivado. Na
cozinha, encontrei Benjamin e Logan já preparando o café da manhã
e tirei das mãos do meu melhor amigo o remédio e a água que
segurava.
— Eu levo isso para Norah, pode deixar — falei para Logan.
— Sempre tão prestativo, James McHugh... — Benjamin
comentou, mas apenas eu notei a segunda intenção em sua voz.
— Faça isso, algo me diz que Norah vai gostar mais de ver
você do que a mim — disse Logan.
— Claro, quem fica feliz ao acordar sendo obrigado a encarar
essa sua cara feia? Só Avalon é corajosa o suficiente para aturar
isso...
Benjamin se abaixou quando Logan jogou uma casca de ovo
nele e eu ri ao deixá-los para trás. Entrei no quarto de Norah e a
encontrei ainda dormindo. Provavelmente, nem sequer ouvira o
toque do despertador. Deixei tudo o que carregava sobre a mesinha
de cabeceira e me sentei ao seu lado na cama, sacudindo de leve os
seus ombros. Assim que abriu os olhos, um gemido doloroso
escapou da sua boca.
— Apague essa luz, por favor. Minha cabeça quer me matar.
— Isso se chama ressaca — falei com uma risada. — E sinto
muito, mas só Deus pode transformar o dia em noite, meu amor.
— Foi para isso que Ele fez o homem inventar as cortinas —
ela resmungou.
— A culpa não é minha se você se esqueceu de fechá-las
ontem à noite. — Peguei o copo e o analgésico sobre a mesinha de
cabeceira, apontando-os para ela. — Sente-se e tome isso, não vai
fazer um milagre na sua vida, mas com certeza vai ajudá-la a se
levantar para tomar um banho e ir para a faculdade.
Norah se sentou de repente e arregalou os olhos.
— Ah, meu Deus, hoje ainda é quarta-feira!
— Sim.
Ela tomou o copo da minha mão e enfiou o analgésico na
boca, secando a água em seguida. Uma careta surgiu em sua
expressão.
— Como vocês conseguem agir normalmente depois de
passarem a noite enchendo a cara?
— É um dom adquirido por aqueles que não podem extrapolar
a média mínima de faltas, ou seriam expulsos do time. — Toquei em
seu cabelo com carinho e me levantei. — Sei que é difícil, mas
precisa reagir. Ou quer que eu ligue para John e diga a ele que você
vai faltar hoje?
— Não, eu sou uma garota responsável. — Norah aceitou a
mão que estendi e saiu da cama. Ela ainda usava o vestido da noite
anterior e ele parecia mais curto em suas coxas naquele momento.
Desviei o olhar. — Tenho uma vaga de lembrança de ver você aqui
no meu quarto ontem à noite...
— Você chegou chorando com saudades de mim e eu vim aqui
garantir que estava vivo e bem.
A boca de Norah caiu aberta, sem palavras, e a vermelhidão
começou a subir pelo seu pescoço em direção ao rosto.
— Isso é mentira.
— Juro que é verdade, pode perguntar ao seu irmão.
— Que droga! — Ela escondeu o rosto com as mãos por um
segundo antes de erguer a cabeça novamente. — Falei alguma
besteira?
— Quase nada.
Eu havia decidido não citar sobre a proposta de Mason. Meu
plano era, basicamente, empatar a foda do babaca sem deixar claro
que eu sabia quais eram os seus planos, pois não queria que Norah
ficasse constrangida.
— Quase nada? O que eu disse, especificamente?
Sorri para ela e me aproximei até nossos corpos ficarem bem
próximos um do outro. Norah pareceu prender a respiração quando
toquei na lateral do seu rosto e aquela foi a primeira vez que me
permiti observar de verdade a sua reação à minha proximidade e ao
meu toque. O desejo me atacou com força quando percebi que eu a
abalava. Não era loucura da minha cabeça e, agora, a garota nem
poderia colocar a culpa no álcool. Por mais que ele ainda estivesse
em sua corrente sanguínea, ela já não estava mais bêbada.
Desci a ponta dos meus dedos pela sua mandíbula até chegar
ao pescoço bonito, onde os pelinhos mais sensíveis estavam
arrepiados. Olhando em seus olhos e descendo-os para a sua boca,
falei em voz baixa:
— Você estava preocupada.
— Eu... eu estava? — Norah ofegou, cambaleando um pouco.
Segurei a sua cintura com uma mão, apenas para estabilizá-la, mas
não consegui me afastar. Mantive meus dedos ali. — Com o quê?
— Com a possibilidade de eu estar apaixonado ou transando
com alguém. — Sua boca voltou a se abrir e eu sorri, lambendo
meus lábios subitamente secos. Meu pau estava semiereto na calça
e eu sentia as minhas bolas doloridas de desejo por aquela garota.
Não sabia ao certo o que eu estava fazendo naquele momento, mas
abaixei minha cabeça e sussurrei em seu ouvido mesmo assim. —
Não precisa se preocupar, Norah. Não estou trepando com ninguém.
Passei a ponta do meu nariz pelo seu pescoço e pude jurar
que Norah soltou um gemido baixinho. Seus dedos apertaram a
minha camisa na altura da cintura e eu pensei que me afastaria, mas
ela não o fez. Manteve-me no lugar e eu respirei o seu cheiro mais
uma vez. Mesmo misturado ao cheiro do álcool, ainda era o aroma
que eu mais amava na porra do mundo inteiro.
— Por que está me falando isso? — perguntou baixinho.
— Porque você perguntou.
— E não me deu a sua... resposta ontem? — Ela estava
nervosa, mas não com medo, e aquilo me fez sorrir com o rosto
ainda perto demais do seu pescoço fino e arrepiado.
— Dei, mas achei que seria melhor reforçar, fiquei com medo
de que não se lembrasse ao acordar.
Ergui a minha cabeça e encarei seus olhos pesados, não por
causa da bebida, mas por minha causa. Porra! Se eu me
aproximasse apenas mais um pouco de Norah, ela entenderia
exatamente como mexia comigo. Meu pau estava duro pra caralho e
eu sentia que precisaria tocar uma punheta pensando nela pela
primeira vez na vida. Norah mordeu o lábio, seu rosto ainda corado,
e respondeu:
— Eu... eu me lembro muito bem.
— Ótimo. — Deixei um beijo em sua bochecha, perigosamente
perto da boca, e me afastei. Torci para que Norah não olhasse para
baixo, pois tinha certeza de que a minha ereção grossa estava visível
sob a calça. — Tome um banho, baixinha, eu te dou uma carona até
a faculdade.
Norah concordou com a cabeça, seus olhos se arregalando, e
eu me virei para sair do seu quarto. Assim que toquei a maçaneta da
porta, pude ouvir a sua pergunta soando levemente ofegante:
— E sobre estar apaixonado, James? Qual foi a resposta que
me deu?
Parei por um momento, sendo pego completamente de
surpresa. Virei apenas o meu rosto para ela e fui sincero:
— Eu não respondi nada.
— E o que isso quer dizer? Que Alicia interpretou errado os
seus sinais?
Olhei em seus olhos brilhantes, pensei na forma como reagiu a
mim naquele momento, como pareceu enciumada na noite passada,
e tomei uma decisão definitiva.
— Não, Alicia não interpretou nada errado. Estou realmente
apaixonado, Norah, só não posso ficar com a garota que desejo.
Ainda.
A palavra brilhou em minha mente, quase escapou pela minha
boca, mas eu fui mais forte do que ela e permaneci calado enquanto
saía de seu quarto.
Precisava de um plano para conquistar Norah e o principal: sair
vencedor da guerra que precisaria travar para tê-la ao meu lado.

Norah permaneceu quieta durante o nosso trajeto para a


faculdade, alegando estar com dor de cabeça e, pela sua expressão,
parecia realmente estar incomodada com a enxaqueca que a ressaca
causava. Pensei em acompanhá-la até o prédio onde estudava, mas
dei de cara com Mason assim que saí do carro no estacionamento.
Ele me deu um olhar de poucos amigos, mas sorriu ao abrir a porta
do lado do carona e estender a mão para ajudar Norah a sair.
— É bom te ver, meu amor. — Ele a beijou na boca por um
tempo longo demais e eu fechei as mãos em punhos diante da sua
provocação. Porque, pelo seu olhar, aquela porra foi uma
provocação. — Obrigado por ter dado uma carona para Norah,
James. Eu mesmo a teria buscado, mas ela disse que você foi mais
rápido do que eu em se oferecer para trazê-la.
— Cuido de Norah desde antes de você sonhar em conhecê-la,
Mason — falei, dando a volta no carro e parando ao lado da garota
que olhava para nós dois um pouco chocada. Toquei em seu queixo
e fiz com que olhasse para mim. — Está se sentindo melhor?
— Sim, eu estou. — Norah forçou um sorriso. — Obrigada pela
carona.
— Sabe que não precisa me agradecer por nada, nunca —
afirmei olhando em seus olhos e deixei um beijo em sua bochecha.
Os lábios de Norah tremeram com um sorriso verdadeiro quando me
afastei. — Tenha uma boa aula.
Afastar-me e deixar Norah com Mason me custou muito, mas
eu sabia que não podia simplesmente atacar de uma vez. Diferente
do futebol, com relação a Norah, eu deveria ser cauteloso. Demorei
vinte e dois anos para entender a verdadeira importância da garota
em minha vida, então, teria que exercitar a paciência para desfazer
a merda que fiz e tirá-la das mãos daquele sanguessuga idiota.
Ao final das aulas, precisei me reunir rapidamente com o meu
grupo de Fotografia Editorial para poder discutir sobre as ideias que
tive para a minha parte do projeto e ouvir as ideias deles.
Aprovamos e ajustamos o que não estava encaixando e soube que
eu tinha o motivo perfeito para atender ao pedido de Norah e
impedir que se encontrasse com Mason no sábado à noite.
Após o treino pesado na academia, onde Mason se manteve o
mais distante possível de mim, o treinador Coben nos chamou para
uma reunião de última hora. Com a sua inseparável prancheta em
mãos, ele esperou que todos nós nos acomodássemos antes de
começar a falar:
— Uma ONG que financia o tratamento de pessoas com câncer
está precisando de ajuda financeira e alguns empresários apoiadores
da causa se juntaram para criar um final de semana solidário, onde
as atrações principais serão os jogos de futebol. Todo o valor
arrecadado com os ingressos será revertido em doação para a ONG
e nós recebemos o convite hoje de manhã para participar. É um
evento beneficente, portanto, vocês não são obrigados a participar,
mas acredito que não irão negar. Conheço cada um nesta sala e
tenho orgulho de ser treinador desse time porque confio no caráter
de vocês. Preciso que se inscrevam na lista para poder confirmar a
participação do Crimson Tide no evento.
Ninguém ousou negar aquele convite. Não era a primeira vez
que nosso time era convidado para participar de ações beneficentes
e, pelo menos para mim, era sempre um prazer poder jogar por uma
causa nobre. Após deixar os nossos nomes na lista, o treinador
Coben avisou que o treino em campo seria adiantado em uma
semana, pois o jogo aconteceria dali a um mês. Precisávamos nos
preparar, apesar de ainda não sabermos qual seria o nosso
adversário.
Ainda que fosse um evento solidário, nós queríamos vencer,
sempre.
Estava a caminho do estacionamento quando ouvi meu celular
anunciar uma nova mensagem. Tirei o aparelho do bolso e franzi o
cenho ao ver que era de um número que não estava em meus
contatos.
ID Desconhecido: James, preciso muito falar com você,
é urgente.
Parei de caminhar e senti um medo repentino de que aquela
mensagem fosse de Norah. E se ela tivesse perdido o celular e
estivesse enviando a mensagem através do aparelho de outra
pessoa? Cauteloso, perguntei:
Eu: Quem é?
ID Desconhecido: Megan.
Li a mensagem sem poder acreditar que depois de todo aquele
tempo, Megan estava mesmo me mandando uma mensagem.
Irritado, fui logo nas configurações para bloquear. Não dei tempo
para que me enviasse mais nada. Megan estava no meu passado e
eu estava focado em resolver o meu futuro e ficar com a mulher que
eu amava.
Passei o resto daquela semana tentando descobrir quem era a
garota por quem James estava apaixonado. Sim, eu sabia que não
deveria me importar com aquilo, eu estava com Mason, apesar de
ainda não termos oficializado nada, e precisava me esquecer do que
James me fazia sentir, mas simplesmente não conseguia controlar a
curiosidade e a porcaria dos ciúmes!
Mason e eu nos víamos todos os dias. Ele se comprometeu a
me buscar em casa na quinta e na sexta-feira, mesmo que eu
tivesse um carro, alegando que queria passar o máximo de tempo
possível comigo. Eu gostava dele, mas estava começando a me
sentir sufocada a cada vez que ficava em sua presença. Em seu
carro, ele dirigia com uma mão no volante e a outra em minha perna
e o seu toque não me causava qualquer reação. Quando ele me
abraçava e me beijava, eu ficava esperando sentir aquele arrepio
que James me causava, a sensibilidade em minha pele, mas nunca
sentia nada.
Estava começando a me perguntar se eu fizera a escolha certa
em permanecer com Mason. Poderia ter usado a reação de Logan
com a descoberta sobre nós dois para poder me afastar, não parecia
certo insistir em ficar com o jogador quando ele não me causava as
reações certas. As mesmas reações que James me causava. Sabia
que era injusto comparar os dois, afinal, eu tinha consciência de que
nutria pelo wide receiver sentimentos que Mason parecia bem longe
de causar em mim, mas eu esperava que pelo menos na questão
física, o outro jogador me fizesse sentir alguma coisa a mais.
As pessoas se envolviam apenas sexualmente e não pareciam
ter qualquer problema quanto a isso. Benjamin era uma dessas
pessoas. Por que eu não conseguia simplesmente me sentir excitada
com os toques e os beijos de Mason? Qual era o meu problema?
— Norah? Está me ouvindo?
Pisquei duas vezes para espantar os pensamentos que me
consumiam e encarei John. Estávamos mais uma vez na cafeteria da
faculdade, aproveitando os minutinhos de intervalo.
— Desculpa, não estou sendo uma companhia muito presente
hoje, não é?
— Sim, sua cabeça parece estar longe. Quer falar sobre isso?
Tomei um gole do meu café, que já estava morno àquela
altura, e tentei pensar sobre o que eu falaria primeiro. Eram muitas
questões, muitas dúvidas, e eu me sentia em um beco sem saída.
— Mason me chamou para conhecer o apartamento dele
amanhã. — Observei a reação de John e ele apenas arqueou as
sobrancelhas.
— E você não parece nem um pouco animada para conhecer a
cama dele. — Meu amigo se aproximou de mim, inclinando-se do
outro lado da mesa. — Porque nós sabemos o que esse convite
significa.
Apenas concordei com a cabeça e olhei pela janela ao nosso
lado. Os alunos iam e vinham pelo campus, a maioria apressada
para não chegar atrasada na próxima aula, com certeza com
problemas bem mais sérios que os meus. No entanto, eu não
poderia ser negligente comigo mesma. Transar para mim não era tão
simples, eu era virgem e sentia que não estava pronta para dar
aquele passo ainda. Pelo menos não com Mason.
— Não quero ir — murmurei para John ainda olhando para a
janela. — Mas estou com vergonha de negar.
Mason parecia ansioso demais por aquele momento. Em todos
os nossos encontros, ele só falava sobre isso, chegou a me
perguntar o que eu queria comer e beber, pois providenciaria tudo
do meu gosto. Tinha certeza de que qualquer outra mulher ficaria
lisonjeada, mas eu só queria fugir. John tocou em minhas mãos e eu
tomei coragem para encará-lo.
— Se você não quer ir, não vá. Está estampado na sua testa
que você não se sente confortável com a ideia de ficar sozinha com
ele naquele apartamento, Norah, que ainda não está pronta para dar
esse passo tão importante. Lembre-se de uma coisa: você não é
obrigada a fazer uma coisa apenas para agradar um homem ou
quem quer que seja. Se Mason realmente gosta de você, vai
entender isso.
As palavras de John tiraram um pouco do peso que eu sentia
pressionando o meu peito. Meu amigo tinha razão, eu não precisava
fazer nada que não queria e não iria fazer.
— Você está certo, vou falar com ele e recusar o convite.
Podemos fazer outra coisa, não é mesmo? Sair para comer ou
dançar, sem que eu precise conhecer as partes íntimas dele.
John começou a rir e apertou os meus dedos, me fazendo
sorrir também.
— É isso aí, garota! Mas continue, sei que não é apenas isso
que está a perturbando.
— Consegue ler mentes agora?
— Ainda não, mas conheço você. Está estranhamente calada
desde a nossa comemoração no pub e sei que é porque tem algo a
incomodando.
Eu respirei fundo e contei o realmente não me deixava em paz
desde a noite de terça-feira.
— Alicia me disse que James está apaixonado e ele confirmou.
A boca de John caiu aberta e eu contei todos os detalhes
daquela história. Voltar à manhã de quarta-feira sempre mexia
comigo, pois a forma como James me olhou, como me tocou,
pareceu diferente de todas as outras vezes em que interagimos. Eu
já era acostumada com o seu toque, mas não daquele jeito, sua
mão possessiva em minha cintura, seu nariz em meu pescoço, seu
corpo enorme tão próximo do meu. Sua voz rouca e sussurrada em
meu ouvido ainda me causava arrepios. Eu sentia que podia me
liquefazer em suas mãos.
Até ele soltar a bomba de que estava apaixonado e jogar um
balde de água fria sobre mim.
— Ele não disse o nome dela?
— Não! — Bufei de frustração e me recostei na cadeira,
cruzando os braços. — Não faço ideia de quem essa garota seja e
isso está me enlouquecendo!
— Por quê? James é apenas seu amigo, a vida amorosa dele
não deveria te abalar dessa forma — John comentou com um
sorrisinho. Ele me olhava como se conseguisse enxergar dentro de
mim e eu cansei de mentir. Estava na hora de contar o que eu sentia
pelo menos para uma pessoa em que eu confiava.
— Gosto dele, John — falei baixo, quase em um tom de
lamento, porque estar apaixonada por alguém proibido não era algo
sensual como em livros e filmes. Era triste. — Tentei negar para mim
mesma por muito tempo, coloquei em minha cabeça que não sentia
mais nada por James e comecei a me envolver com Mason para
garantir que eu tinha razão, para provar que o melhor amigo do meu
irmão não ocupava um espaço enorme em meu peito, mas foi tudo
em vão. Eu sou uma farsa.
— Norah... — John esticou as mãos sobre a mesa e eu as
segurei, sentindo o seu toque solidário. — Eu entendo você,
realmente entendo. Acha que James não sente algo parecido por
você, não é?
— Não acho, eu tenho certeza. Ele nunca demonstrou nada,
John.
— A forma como James olhava para você e Mason no pub
pareceu uma demonstração bem real para mim. — Eu franzi o
cenho. Eu senti o olhar de James sobre mim no bar, mas não
interpretei da mesma forma que John. — James estava morrendo de
ciúmes, Norah. Confesso para você que até agora eu não entendi
como Logan não percebeu, pois era nítido para qualquer um naquela
mesa.
— Não... — murmurei, incrédula. — Você está enganado.
— Não estou, tenho certeza do que vi. E sabe o que eu acho,
Norah? — Apenas olhei para John e esperei que ele continuasse. —
Que a garota por quem James está apaixonado é você.

John colocou mais um problema em minha cabeça, como se


eu já não estivesse louca o suficiente. Mal consegui prestar atenção
na última aula e, quando deixei a sala, me misturei entre os alunos
já pedindo um carro de aplicativo para ir embora o mais rápido
possível. Não queria ver Mason naquele momento, não com a dúvida
que John implantara em minha cabeça horas atrás.
Mandei uma mensagem para o jogador, inventando uma
desculpa de que não pude esperá-lo para ir embora porque recebi
uma mensagem da minha avó pedindo para ir visitá-la, e fui direto
para casa. Passei o resto da tarde em meu quarto, dedilhando o meu
violão que estava perdido dentro do meu closet e tentando usar a
música para silenciar o turbilhão em minha cabeça. Perdi noção do
tempo, como sempre acontecia quando eu estava estudando peças e
canções, e só me dei conta de que estava anoitecendo quando ouvi
batidas em minha porta e olhei pela janela antes de pedir para que
entrassem.
Meu coração disparou quando James abriu a porta e sorriu
para mim. Seus olhos correram pelo violão em meu colo e algumas
partituras que eu espalhara pela cama.
— Não acredito que está cantando e não me chamou para ser
o seu expectador. Sabe que sou seu fã número um — disse ele ao se
sentar na minha frente.
— Deixe Logan ouvir você falando isso.
— Logan precisa aceitar a verdade. ­
James tocou em alguns dos papéis espalhados e eu não
consegui tirar os meus olhos dele. Era o homem mais bonito que já
vi na vida. Sua pele negra era exuberante, o maxilar forte e bem
cortado o deixava com aspecto ainda mais masculino, e os cachos
em seu cabelo faziam minhas mãos pinicarem para tocá-lo. O
jogador ergueu a cabeça, me pegando no flagra quase babando
nele, e tentei disfarçar conforme desviava o olhar.
— Vim aqui cobrar a minha dívida — James disse de repente,
capturando a minha atenção. — Já tenho um esboço para aquele
trabalho da faculdade que te falei e queria saber se você está livre
amanhã à noite para que possamos tirar algumas fotos. Não serão
as fotos oficiais do projeto, mas apenas um ensaio para que eu
possa ter certeza de que a minha ideia está boa ou se precisarei
alterar alguma coisa.
Mesmo sem saber, James havia acabado de me dar a desculpa
perfeita para que eu recusasse o convite de Mason. Um sorriso de
alívio se abriu em meus lábios e eu me segurei para não deixar o
violão de lado e me jogar sobre ele para demonstrar a minha
gratidão.
— Claro! Estou livre. Nossa, eu estou super livre! — Talvez eu
estivesse um pouquinho entusiasmada ao dar a resposta, mas James
apenas riu antes de se levantar da minha cama.
— Ótimo. Vamos precisar escolher algumas roupas suas para
as fotos. — Ele me estendeu a mão e eu deixei meu violão de lado
para poder segurá-la. Assim que fiquei de pé, o filho da mãe me deu
um sorrisinho nada inocente. — Afinal de contas, você não estará
nua como tanto deseja.
Senti meu rosto pegar fogo e soltei sua mão para der um
tapinha em seu peitoral musculoso.
— Não quero posar nua para você.
Passei por ele a caminho do meu closet e soltei um gritinho de
surpresa quando James segurou minha cintura por trás e me puxou
de encontro ao seu corpo, deixando o meu coração acelerado e me
fazendo estremecer. Sua voz soou mais baixa e pecaminosa do que
deveria em meu ouvido:
— Não foi o que pareceu quando conversamos naquele dia.
— Eu... eu apenas entendi errado quando você me falou sobre
as fotos.
— Em nenhum momento eu dei a entender que você
precisaria ficar sem roupa na minha frente, gatinha. — James
parecia sorrir às minhas costas conforme me fazia andar até o
closet. Ele não tirou as mãos da minha cintura e eu estava
começando a acreditar que o seu toque era capaz de romper o lado
racional do meu cérebro. — Essa sua mente pervertida que criou
isso.
Virei-me de frente para James quando entramos em meu
armário, infelizmente fazendo com que o jogador tirasse as mãos de
mim. Senti falta do seu toque imediatamente.
— Não tenho a mente pervertida.
— Isso é questionável. — James sorriu e se aproximou de mim
até minhas costas se encontrarem com as prateleiras onde ficavam
os meus sapatos. — Mas eu prometo que não vou contar para
ninguém sobre o seu desejo de ficar peladinha na minha frente.
Abri a boca para negar, mas a verdade, era que eu queria
mesmo ficar sem roupa alguma na frente de James. Em nossa
primeira conversa sobre as fotos eu ainda não tinha ciência disso,
mas meu subconsciente parecia muito certo do que queria. James
pareceu desistir de continuar a me provocar, mas manteve o sorriso
no rosto conforme andava pelo meu closet e mexia em minhas
roupas. Eu limpei a garganta e me forcei a ter um diálogo normal
com o melhor amigo do meu irmão.
— Diga-me qual é a sua ideia, talvez eu possa ajudar na
escolha do figurino.
— Quero fazer um ensaio totalmente em tons brancos, roupas,
cenário, plano de fundo. Quero mostrar como as cores claras
conseguem se destacar sem que uma se sobreponha sobre a outra.
— Vai ficar incrível, James — falei, já conseguindo visualizar
mais ou menos o que ele queria. — E como você pensa no cenário?
— Se o nosso ensaio de amanhã der certo, vamos precisar ir
para a minha casa em Aspen. Meu quarto tem uma parede toda em
vidro, com as montanhas cobertas de neve ao fundo, acredito que
ficará perfeito.
­ Com o seu talento para fotografia, qualquer coisa que fizer

ficará perfeito.
James sorriu para mim, parecendo tímido como sempre ficava
quando recebia elogios relacionados à sua paixão por fotografia, e
logo se voltou para as minhas roupas. Eu o ajudei a pegar todas as
peças brancas que eu tinha no armário e, depois de selecionarmos
as que se encaixariam melhor com a ideia que ele tinha mente,
James me deixou sozinha.
Eu corri até o celular jogado em minha cama e me preparei
para mandar uma mensagem para Mason, recusando o seu convite
para ir até o seu apartamento na noite seguinte. Expliquei que eu
precisaria ajudar James em um trabalho da faculdade e torci para
que o jogador não ficasse muito chateado. A resposta que recebi me
provou que a minha torcida não valera de nada.
Mason: Você vai me trocar pelo James, foi isso que
entendi?
Eu: Não vou trocá-lo, Mason. Eu já tinha combinado
com James que o ajudaria nesse trabalho, só não sabia que
dia seria.
Mason: E precisa mesmo ser amanhã? Ele não pode
marcar para outro dia?
Eu: Não, não pode.
Mason: Então venha ao meu apartamento hoje. Quero
muito passar um tempo com você, Norah.
Eu respirei fundo, me obrigando a não ficar irritada com a sua
insistência.
Eu: Não posso, marquei de jantar com a minha avó.
Mason: Mas você não a viu hoje quando saiu da
faculdade?
Droga, havia me esquecido da desculpa que dei para ele mais
cedo.
Eu: Sim, mas ela pediu para que eu voltasse mais tarde
e aceitei. Vovó se sente muito solitária quando meu pai está
viajando.
Mason: Sabe o que está parecendo, Norah? Que você
não quer me ver e está me dando uma desculpa atrás da
outra.
Enterrei meu rosto no travesseiro e soltei um gemido
frustrado, me sentindo culpada, porque era exatamente aquilo. Eu
não queria ver Mason.
Mason: Eu fiz alguma coisa que você não gostou?
Eu: Não, Mason, você não fez nada, eu juro.
Mason: Então estou começando a acreditar que James
é mais importante para você do que eu e o pior, Norah, ele
sabe disso e está tentando te afastar de mim.
Eu: Claro que não, James jamais faria isso.
Mason: Ele faria, tenho certeza. Um homem sabe
quando alguém está interessado na sua mulher.
Quase respondi falando que eu não era a mulher dele, mas
consegui me impedir. Eu não queria brigar, muito menos por causa
de uma suposição de Mason.
Eu: Acho melhor a gente se falar depois, Mason.
Mason: Sim, aproveite a companhia do seu “amigo” e
cuidado para Logan não começar a pensar o mesmo que eu.
Acho que ele não perdoaria James tão fácil de novo.
Deixei meu celular de lado e voltei a gemer de frustração,
querendo acalmar meu coração que batia rápido demais no peito por
um motivo completamente errado.
Ele batia com esperança de que Mason estivesse certo.
Passei a tarde de sábado ajudando James a montar o cenário
em seu quarto. Ele tinha uma parede branca onde sua TV ficava
afixada, mas ao lado do aparelho havia um espaço livre onde
colocamos uma cortina branca para usar como plano de fundo para
as fotos. Ajeitamos toda a iluminação com o refletor parabólico[2] e
fontes de luz contínua, e quando terminamos, fui tomar um banho e
me arrumar para o ensaio.
Estava nervosa. Nunca havia posado e confiava em James,
mas precisaria controlar o meu coração teimoso e o friozinho de
expectativa em minha barriga. Preparei a minha pele do jeito que ele
pediu, caprichando um pouco mais no pó translúcido para diminuir
qualquer ponto de oleosidade, e não passei sombra nos olhos,
apenas máscara de cílios.
Vesti a primeira roupa que separamos — e que não tinha nada
a ver com as peças que ele tirou do meu armário. Uma blusa social
branca de James e uma cueca boxer da mesma cor nunca usada por
ele. Olhei-me no espelho após prender os cabelos e me senti...
sensual. Sexy de uma forma diferente ao vestir as roupas de James.
A blusa ainda guardava um aroma residual do seu perfume, me
dando a sensação de que eu estava em seus braços.
Tirei aquilo da minha cabeça e segui direto para o seu quarto,
ouvindo apenas o silêncio que se propagava pela casa, já que
Benjamin e Logan não estavam. Entrei no quarto de James após
bater na porta e o encontrei configurando uma das suas inúmeras
câmeras. O jogador havia separado pelo menos quatro delas para
usar naquela noite.
Seus olhos fitaram os meus por um segundo antes de
descerem lentamente pelo meu corpo. Eu estava vestida, mas, por
um momento, me senti nua sob o seu olhar atento e poderoso. Uma
expressão diferente tomou conta do rosto de James enquanto ele
passava a língua rapidamente pelos lábios bem-desenhados, me
deixando arrepiada, quase como se ele estivesse me acariciando
mesmo estando tão distante. Eu não usava sutiã e temi que meus
mamilos ficassem muito aparentes, pois já os sentia intumescer.
— Norah, você está linda. — James deixou a câmera de lado e
se aproximou de mim, pegando em minha mão e me fazendo dar
uma voltinha. — Jogue todas as suas roupas fora e use apenas as
minhas agora.
Eu soltei uma risada, sentindo parte da minha ansiedade
ceder.
— Por quê? Acha que eu combino mais com um estilo
masculino?
— Acho que você fica gostosa pra caralho com as minhas
roupas.
Eu não esperava pela sua resposta e fiquei um momento sem
reação. James estava agindo diferente comigo desde a manhã em
que admitiu que estava apaixonado. Lembrar daquilo me fez dar um
passo para trás.
— Sinto muito, mas não vou me desfazer do meu closet.
— Não tem problema, você pode usar as minhas roupas
apenas quando estiver sozinha comigo, ou pode não usar nada e
satisfazer o seu desejo de ficar nua para mim.
O calor que me invadiu no pub quando James me encurralou
contra a parede começou a surgir em meu interior, me deixando
excitada por conta das coisas que o jogador dizia. Sacodi a cabeça e
sorri para ele enquanto revirava os olhos.
— Você nunca vai esquecer disso?
— Nunca. — James sorriu e voltou a pegar em minha mão,
levando-me para o cenário que montamos. — Sente-se, por favor,
vou bater uma foto sua só para ter certeza de que não preciso
mudar nada no cenário.
Sentei-me em uma das banquetas que pegamos na cozinha e
James se afastou para pegar a câmera fotográfica. Ele se posicionou
a alguns metros de mim e eu mordi o lábio, ficando um pouco
nervosa.
— O que você quer que eu faça?
— Apenas olhe para mim — pediu, tirando rapidamente a
câmera da frente do rosto. Seu olhar sério e sensual me atingiu,
deixando-me sem ar. — Você não faz ideia do quanto é bonita,
Norah. Não precisa fazer qualquer esforço para destacar a sua
beleza.
— Não precisa ficar me enchendo de elogios, eu não vou fugir,
James. — Brinquei, mas James me deu apenas um sorrisinho e
disse:
— Olhos em mim.
Eu lambi os lábios e arrumei melhor a minha postura, olhando
para a câmera — para ele. Meu coração pulsava intensamente e, só
naquele momento, percebi que tocava uma música ao fundo. Sua
batida sensual me envolveu e só notei que James batera a foto
quando o clique suave da câmera se misturou ao som da canção. O
jogador olhou a foto no visor e sorriu conforme se aproximava de
mim.
— Veja isso e me diga se estou mentindo sobre você ser a
mulher mais linda que meus olhos já viram.
Peguei a câmera das suas mãos com cuidado e olhei para o
visor digital, ofegando baixinho. James havia capturado apenas o
meu rosto em um ângulo perfeito e, por um momento, não
reconheci a garota ali. Era eu, logicamente, mas havia uma
diferença da minha imagem ali do que a que eu via todos os dias ao
me olhar no espelho. Não me achava feia, mas, na câmera de
James, eu realmente estava linda.
Havia um destaque para os meus olhos, que pareciam mais
claros por conta da luz branca, meus lábios rosados pelo batom que
passei e as bochechas em um tom parecido com a minha boca.
Minha pele estava muito bonita, com um brilho diferente por conta
da iluminação artificial, e eu sabia que a foto só tinha aquele
resultado porque James estava por trás da câmera. Um sorriso se
abriu em meu rosto e James tocou em meu queixo com delicadeza,
me fazendo olhar para ele.
— Gostou?
— Sim. James... Tem noção do quão talentoso você é? Não
estamos em um estúdio profissional e, mesmo assim, você
conseguiu esse resultado.
— Não ficaria tão incrível se a minha modelo não fosse você —
disse ele e eu quase suspirei. Seus olhos correram para o visor da
câmera antes de voltarem para mim. — Espero que entenda que
essa é a forma como eu te vejo, Norah. Como o mundo vê você.
Caramba.
Havia algo realmente diferente em James, no seu olhar, na
forma como falava comigo, no seu toque, e as palavras de John
voltaram com força total em minha cabeça. Será que ele estava
certo? James estaria... apaixonado por mim? Engoli em seco quando
ele tomou a câmera da minha mão e se afastou, deixando-a sobre a
sua cama antes de voltar a se aproximar de mim.
— Preciso ajeitar um pouco a blusa, quero que o seu ombro
fique exposto, tudo bem?
— S-sim, claro.
Senti-me meio idiota por gaguejar, mas eu estava assustada
pra caramba com a possibilidade de que John estivesse certo e mal
conseguia ter um pensamento coerente naquele momento. James
olhou em meus olhos e abriu alguns botões da blusa, quase
chegando à curva dos meus seios. Ele deve ter notado a minha pele
arrepiada e, pior do que isso, meus mamilos duros sob o tecido
quando desceu o olhar para o meu colo, mas não disse nada.
Estremeci de leve quando seus dedos resvalaram em minha pele ao
afastar a gola da camisa e arrumá-la do jeito que queria, abrindo-a e
deixando meu ombro esquerdo exposto.
Eu não estava indecente, pelo contrário. James era muito alto,
portanto, sua camisa terminava na altura das minhas coxas e,
mesmo tendo aberto alguns botões, não dava para ver os meus
seios, mesmo assim, a forma como ele me olhou me fez sentir
novamente como se eu estivesse nua. Precisei morder o lábio para
não soltar um gemido sem querer, sentindo aquela onda de calor se
espalhar em meu baixo ventre e descer até a vagina.
— Quero você assim — disse ele com a voz grossa antes de se
afastar. Só naquele momento percebi como o calor do seu corpo
envolvia e aquecia o meu. James pegou a câmera e voltou a se
posicionar. — Olhos em mim por enquanto, ok? Você pode virar um
pouco de lado e levantar o ombro se quiser, mas sem curvar o
corpo.
— Sim, senhor — respondi em tom de brincadeira, tentando
dissipar a tensão que eu sentia, e James sorriu.
Ele voltou a posicionar a câmera na frente do rosto e eu tentei
relaxar um pouco mais a postura, inclinando apenas o meu tronco
para o lado direito enquanto elevava um pouco o ombro esquerdo.
— Isso, está linda.
Ouvi o clique da câmera novamente, mas, daquela vez, James
não parou. Ele continuou a tirar várias fotos, capturando ângulos
diferentes enquanto eu me mantinha na pose. Segui sua orientação
quando me pediu para abrir um pouco os lábios e olhar para o lado,
sem virar o rosto. Ouvi mais cliques e mudei novamente de posição.
Alguns minutos se passaram antes que ele voltasse a se aproximar,
deixando a câmera pendurada em seu pescoço.
— Posso deixar o outro ombro livre?
Eu apenas concordei com a cabeça, sentindo minha garganta
ficar seca ao pensar em sentir as suas mãos em mim de novo.
James afastou a manga da blusa do meu ombro direito e seus dedos
me tocaram durante todo o processo, descendo desde o osso da
clavícula até o início do meu braço. Seus olhos seguiram o trajeto,
como se ele também não pudesse piscar enquanto mantinha as
mãos em mim.
Sem que eu esperasse, James se inclinou e deixou um beijo
em meu ombro desnudo, me arrancando um ofego que saiu alto
demais.
— Linda — sussurrou em meu ouvido antes de se afastar.
Aquilo... Aquilo era um golpe muito baixo! Abri a boca para
puxar o ar com mais eficiência para dentro dos meus pulmões,
aproveitando que James ainda estava de costas para mim, e me
ajeitei melhor no banco. A cueca de James que eu usava estava
molhada e o jogador não tinha feito praticamente nada. Ao mesmo
tempo, ele fizera tudo diferente do nosso normal.
James não beijava o meu ombro.
Não me olhava como se estivesse cheio de desejo.
Não sussurrava em meu ouvido com aquela voz rouca e que
pingava desejo sexual.
Eu me sentia prestes a enlouquecer.
Como se não tivesse feito nada e fosse o rei do autocontrole, o
jogador se virou para mim.
— Vamos continuar.
Eu concordei silenciosamente e, então, desci meus olhos pelo
seu corpo. James usava uma blusa de meia-manga azul-escura e
uma calça de moletom preta. Vestia roupas comuns de ficar em casa
naquela época de inverno, mas eu notei que havia algo diferente
bem ali, na região do seu...
James estava com uma ereção. Ou pelo menos com o início de
uma ereção.
O volume na sua região pélvica era visível, mas por conta do
tecido grosso e escuro, poderia passar despercebido se eu não
tivesse olhado com tanta atenção. Fiquei chocada, levemente
boquiaberta, e meu clitóris pulsou com uma força que me fez
estremecer. James não parecia ter notado que eu percebi,
concentrado ao mexer em alguma função da câmera, mas eu tinha
visto muito bem.
Continuava a ver agora e não fazia a menor noção de como
prosseguir com aquela sessão de fotos depois de notar que o
jogador estava tão excitado quanto eu.
— Fique de pé, Norah, por favor. — Fiz como pediu e James se
aproximou e foi para trás de mim. Virei-me a tempo de ver ele
mexer rapidamente na cortina e voltei a ficar de frente para as luzes.
De repente, o senti bem atrás do meu corpo, afastando a baqueta.
Dei um pulinho quando seus dedos tocaram em meus cabelos. —
Vou apenas bagunçar um pouco os cachos para que eles apareçam
mais na foto, ok?
— Cla-claro.
James parou de repente com os dedos enfiados em meu
cabelo e perguntou:
— Está tudo bem, Norah?
Como ele tinha coragem de me perguntar aquilo enquanto
estava de pau duro por mim? Mordi a língua para não deixar a
pergunta escapar.
— Sim, tudo. Por que não estaria?
— Está muito quieta.
— É porque estou concentrada. Não quero que o fotógrafo se
arrependa de ter me escolhido para ser a sua modelo.
James riu atrás de mim e tocou em minha nuca com cuidado.
Eu fechei os olhos, sentindo cada músculo do meu corpo ficar mole
de repente. Sua voz soou muito próxima do meu ouvido novamente:
— Me arrependo de muitas coisas, Norah, tanto sobre o que
fiz e o que deixei de fazer por ser estúpido demais para não
enxergar o que estava bem na minha frente, mas nunca vou me
arrepender de ter escolhido você.
Eu abri os olhos e senti que as palavras de James tinham um
significado maior do que aparentavam. Elas me tocaram tão
profundamente que não pude me segurar. Virei-me em sua direção e
encontrei suas írises castanhas e intensas sobre mim. Por um
momento, não consegui falar nada e James também não. Apenas
suas mãos se moveram lentamente, descendo pelos meus ombros
nus até os meus braços cobertos pela sua camisa, parando em
minhas mãos.
— Por que está me dizendo isso? — perguntei baixinho, quase
com medo de ouvir a sua resposta.
— Porque é como eu me sinto. — James deu um passo em
minha direção e tocou em meu rosto com a ponta dos dedos. —
Estou cansado de lutar contra algo que percebi que não tenho o
menor controle, Norah. E, quer saber de uma coisa? Eu não quero
ter controle.
Suas duas mãos tomaram o meu rosto e eu perdi o fôlego
quando o seu corpo se colou ao meu. Eu senti tudo. Sua respiração
levemente ofegante, seu cheiro maravilhoso, seu pau muito duro em
minha barriga. Minhas mãos tremeram quando as ergui para tocar
em sua cintura e o mundo pareceu parar de rodar quando entendi o
que aconteceria.
O que finalmente aconteceria.
James ia me beijar.
Eu apenas fechei os olhos e aguardei. Meu coração pulando
como um louco no peito, minhas pernas tremendo, cada parte de
mim ansiando por aquele momento. Estremeci quando senti seu
nariz tocar o meu, antes de seus lábios passearem sobre o meu
rosto como o toque leve de asas de borboleta. Pelo menos um
milhão delas voavam pelo meu estômago naquele momento, me
provando o que eu já sabia.
Nenhum outro homem me causou algo como aquilo. Nenhum
outro homem seria capaz de me fazer sentir daquele jeito.
— James... — Seu nome escapou dos meus lábios sem
controle algum e James soltou um gemido rouco quando finalmente
me beijou.
Foi suave e forte ao mesmo tempo. Um encontro de lábios que
me fez perder completamente o controle sobre o meu corpo, sobre
as minhas emoções. Quase pude sentir as lágrimas se acumularem
em meus olhos conforme retribuía, querendo sentir muito mais do
que aquilo. Eu queria a língua de James dentro da minha boca, suas
mãos por todo o meu corpo, seu pau dentro de mim. Era para ele
que eu estava pronta, para mais ninguém.
Meu coração, meu corpo e minha alma o queriam, e quando
pensei que finalmente o teria apenas para mim, a voz alegre de
Benjamin soou alta demais do lado de fora do quarto, fazendo-nos
dar um passo para trás, ofegantes e assustados.
— A festa estava horrível e resolvi voltar mais cedo. Alguém
quer pizza?
Eu mataria Benjamin com as minhas próprias mãos!
Antes que eu pudesse imaginar qual método de tortura usaria,
o filho da mãe entrou em meu quarto sem bater na porta, olhando
para a tela do celular. Norah deu mais um passo para trás,
afastando-se de mim, e Benjamin ergueu a cabeça. Tanto ele quanto
Logan sabiam que eu tiraria fotos de Norah naquela noite para um
trabalho da faculdade, por isso, Ben não estranhou o cenário
montado em meu quarto ou a minha proximidade com a caçula dos
Miller.
Esperava que ele continuasse distraído e não percebesse o
meu pau duro pra caralho dentro da calça.
— E então, vão querer pizza? Estou pensando em pedir duas
de pepperoni e uma marguerita.
Não consegui responder, se abrisse a boca, seria para xingar
aquele empata beijo do caralho. Foi Norah quem nos salvou de um
silêncio constrangedor.
— Eu acho ótimo, estou mesmo ficando com fome e tenho
certeza de que James também está.
— Ok, vou pedir. Querem uma cerveja? Vou lá embaixo pegar
umas pra gente.
Benjamin nos deu as costas antes que pudéssemos responder
e saiu, deixando a porta do meu quarto aberta. Norah se virou
lentamente para mim com o rosto ficando vermelho e uma risada
nervosa querendo escapar da sua boca.
— Ah, meu Deus... ­— Ela riu e se sentou na banqueta que
coloquei ao lado do cenário que montamos. Um segundo depois,
escondeu o rosto com as mãos. — Minha nossa, James...
— Ei... — Aproximei-me dela a passos largos e fiz com que
erguesse a cabeça para que eu pudesse olhar em seus olhos. ­— Está
tudo bem.
— Mas... nós nos beijamos — sussurrou como se as paredes
pudessem ouvir.
— Vamos conversar sobre isso depois, quando estivermos
sozinhos, ok?
Norah puxou uma respiração profunda e eu quis mais do que
nunca tomar a sua boca na minha de novo. Mal consegui sentir o
sabor dela, porra! Benjamin ainda me pagaria por aquilo.
— Tudo bem.
— Só preciso que saiba que não foi um erro. — Minhas
palavras a pegaram de surpresa, pude ver em seus olhos. — E que
eu queria fazer muito mais do que apenas beijar a sua boca. — Ouvi
os passos de Benjamin se aproximando no corredor. — Não se
esqueça disso.
Pisquei para Norah e me afastei um momento antes de
Benjamin entrar em meu quarto carregando três latinhas de cerveja.
— Vou ficar aqui acompanhando a sessão de fotos — disse ele
após deixar duas latinhas sobre a bancada do meu quarto e abrir a
sua. Em seguida, se sentou na beira da minha cama.
— Vai ficar aqui nos atrapalhando, você quer dizer.
— Nunca! Vocês nem ouvirão o som da minha voz.
— Disso eu duvido muito, Ben — comentou Norah com uma
risada.
— Está querendo dizer que eu falo demais?
— Sim. — Aproveitei o momento para trocar de câmera e o
encarei com uma sobrancelha erguida. — Você tem uma língua que
mal cabe na boca.
— Talvez isso seja verdade, afinal, nenhuma garota reclamou
da minha língua, pelo contrário, muitas me chamam de o rei do sexo
oral.
Norah gargalhou e eu revirei os olhos, prendendo uma risada.
Era difícil ficar com raiva daquele idiota, mesmo quando ele
atrapalhava o meu primeiro beijo com a minha garota.
— Elas com certeza não tinham um parâmetro melhor —
resmunguei.
— E quem seria o parâmetro melhor? Você? — Eu apenas o
encarei com um sorrisinho e Benjamin fez uma careta. — Duvido
que você seja melhor chupando uma boceta do que eu.
— Pode respeitar a Norah, por favor? — pedi, mas a garota se
divertia ao ouvir o nosso embate.
— Foi mal, Norah.
— Já estou acostumada com esse tipo de conversa vindo de
vocês — disse ela. — Acha que é fácil morar em uma casa com três
homens?
— Imagino que seja difícil, ainda mais quando um deles é
gostoso pra caralho. — Benjamin apontou para si mesmo e Norah riu
mais alto. Eu o encarei bem sério.
— Você não disse que nós não ouviríamos o som da sua voz?
— Sim, mas vocês nem estão trabalhando.
— Vamos começar agora — avisei, voltando para perto de
Norah depois de regular a câmera do jeito que eu queria.
— Ok, vou ficar quieto e fingir que você está tirando foto de
Norah e não inventando uma desculpa para ficar olhando para ela.
— Virei-me para Benjamin e daquela vez ele sentiu que eu estava
ficando puto de verdade. Esticando o pescoço, ele pareceu procurar
por Norah, já que eu estava entre eles dois. — É brincadeira, Norah!
Sacodi a cabeça e me virei para Norah, encontrando-a com as
sobrancelhas arqueadas e um sorrisinho desenhando seus lábios
bonitos. Lábios que beijei pela primeira vez na vida e que me
deixaram viciado. Decidi retomar o foco.
— Fique de pé por favor, gatinha, e posicione-se novamente.
Norah fez o que pedi e eu voltei a fotografá-la.

Eu queria gritar para o mundo inteiro ouvir que James havia


me beijado. Estava tão eufórica, que poderia sair pulando pelo
quarto ou flutuando como um balão de gás, mas, como não podia,
simplesmente passei parte da madrugada alugando John e surtando
com o meu amigo.
“Eu disse que era por você que ele estava apaixonado, Norah!
EU DISSE!”
Aquela foi a frase que mais li — e ouvi em seus áudios — e, a
cada vez que John a enviava, eu soltava gritinhos de animação e
incredulidade com a cara enfiada no travesseiro. A forma como
James me olhou, como me tocou, tudo o que me disse, rodopiava
pela minha cabeça. Algo em meu peito me dizia que John não
estava louco em supor que era por mim que James estivesse
apaixonado, porque eu vi cada sentimento bem ali, refletido nos
olhos escuros do jogador. Conhecia James desde o meu nascimento
e ele nunca olhara daquele jeito para mim. Nossos abraços eram
inocentes, os beijos que dava em minha testa e minha bochecha,
também.
Mas aquele beijo?
Ele não teve nada de inocente, mesmo que sua língua nem
tivesse entrado em minha boca. Fiquei imaginando o que teria
acontecido se Benjamin não tivesse chegado bem naquele momento.
Senti o desejo de James por mim com o seu pau duro pressionado
contra a minha barriga e minha boceta ficou tão melada, que eu
sabia que não recuaria se o jogador me colocasse em sua cama. Eu
iria até o fim com James simplesmente porque o amava e desejava.
Pensei em Mason e senti culpa, mesmo sabendo que eu não
poderia mandar em meus sentimentos. Realmente tentei sentir por
ele tudo o que sentia por James, mas não consegui. Precisava
conversar com o tight end e terminar tudo entre nós dois.
Dormi bem tarde, mas não fiquei enrolando muito na cama e
logo me levantei. Fiquei surpresa ao encontrar todo mundo já de pé
na cozinha, inclusive Aubrey, que dormiu em nossa casa naquela
noite.
— Bom dia, dorminhoca! Nosso pai ligou. Ele já está de volta e
quer que almocemos com ele — disse Logan assim que pisei na
cozinha.
Meus olhos percorreram o cômodo até encontrarem James de
costas para mim na pia. Ele se virou e veio em minha direção
carregando um potinho de vidro com frutas vermelhas e o entregou
para mim, deixando um beijo em minha bochecha.
— Bom dia. Morangos e mirtilos, sei que você gosta. — O
jogador piscou para mim e se afastou, me deixando com o rosto
prestes a pegar fogo.
Droga, eu deveria disfarçar melhor. James ser atencioso
comigo e piscar para mim era normal. Tão normal que Logan nem
pareceu perceber o que acabara de acontecer, continuou devorando
seus ovos com bacon sentado entre Avalon e Aubrey. Esta última
observava tudo com aqueles olhos espertos e só os tirou de cima de
mim quando Ben parou ao seu lado e a abraçou pelos ombros.
— Engraçado... Você recebeu frutas vermelhas nas mãos,
princesa?
— Não.
— Pois é, nem eu. Parece que James tem uma pessoa favorita
nessa casa. — Havia um tom de provocação na voz de Benjamin que
me deixou alerta.
Será que ele percebera alguma coisa? Torci muito para que
não.
— Eu nunca neguei isso, ou acha que minhas pessoas favoritas
são você e Logan?
— Não deveríamos ser? Somos seus melhores amigos!
— Vocês são insuportáveis, isso sim.
— Ele fala isso, mas, no fundo, nós sabemos a verdade. Ele
não viveria sem a gente, Ben — comentou meu irmão com uma
risada.
— Acordaram carentes hoje? Benjamim eu até entendo,
porque voltou para casa cedo e chupando dedo, mas você, Logan?
— James provocou. — Não cuidou dele essa noite, Valente?
— Meus ouvidos estão sangrando! — Aubrey reclamou e
Benjamin gargalhou ao seu lado ainda a abraçando pelos ombros.
— Cuidar quer dizer dormir abraçadinhos de conchinha —
disse Avalon, claramente querendo perturbar a irmã mais nova.
— Ah, sim, e eu ainda sou uma criancinha que acredita em
Papai Noel — reclamou ela enquanto revirava os olhos.
— Mas você é uma criancinha... — Ben zombou e soltou um
gemido em meio à risada quando Aubrey deu uma cotovelada de
leve em suas costelas.
— Sai daqui, Ben!
O running back finalmente parou de perturbar a garota e nós
tentamos tomar o café da manhã no meio daquele caos. Assim que
terminamos, eu decidi subir para tomar um banho e me preparar
para ir para a casa do meu pai, mas fui interceptada no corredor em
frente ao meu quarto por James. Ele parou na minha frente,
fazendo-me encostar contra a parede, e colocou um cacho do meu
cabelo atrás da orelha.
— Como você está?
Surtando, querendo me agarrar em você e nunca mais soltar.
— Bem. — Foi tudo o que respondi com a respiração ficando
meio ofegante. — E você?
— É difícil responder a essa pergunta. Estou sentindo e quero
fazer muita coisa, mas ainda não posso, não sem antes conversar de
verdade com você.
— Vamos fazer isso mais tarde. Benjamin deve sair e Logan
com certeza vai passar um tempo com a Ava no Maeve’s.
— Sim. — Os olhos de James sondaram os meus e desceram
até a minha boca. Senti sua mão se espalmar na lateral do meu
pescoço e subir lentamente até a linha da minha mandíbula. Quando
seu polegar tocou o meu lábio, eu estremeci, ficando arrepiada dos
pés à cabeça. — A próxima vez que eu beijar a sua boca, vai ser
com a certeza de que você é só minha.
Ofeguei, sendo pega de surpresa com a intensidade das suas
palavras, e fechei os olhos quando James deixou um beijo demorado
em minha bochecha. Ele se afastou em seguida, pois também iria
almoçar com os pais naquela tarde, e eu entrei em meu quarto,
precisando me encostar contra a porta e pressionar a mão em meu
peito. Senti medo de que meu coração pulasse de lá a qualquer
momento de tão incontrolável que batia.
Logan foi dirigindo até a casa do nosso pai e fiquei observando
como ele parecia feliz quando Avalon, Aubrey e eu estávamos
reunidas. Um sorrisinho não saía do seu rosto enquanto batucava o
volante ao ritmo da música que tocava no sistema de som do carro,
seus olhos voando para mim e Aub pelo retrovisor enquanto
conversávamos com Ava. Eu não queria imaginar qual seria a sua
reação se descobrisse que James e eu nos beijamos na noite
passada e preferia ignorar o medo que sentia ao pensar naquilo.
O almoço com o papai e a vovó era sempre maravilhoso, mas
naquele dia tínhamos um motivo a mais para comemorar. Meu pai
ergueu um brinde à minha conquista e pareceu emocionado
enquanto olhava para mim. Quase chorei, mas consegui conter a
emoção enquanto tomava um gole do vinho branco que ele tirara de
sua adega apenas para aquele almoço. Logan Miller II era um
apreciador da bebida e tinha safras especiais que custavam uma
fortuna. Ele e minha mãe adoravam viajar pelas vinícolas italianas
juntos.
Foi pensando nela que entrei na nossa biblioteca, onde havia
uma estante cheia de porta-retratos. Peguei um onde ficava a última
foto que tirara com ela, no Natal de 2021. Como poderia imaginar
que a perderia poucas semanas depois? Se eu soubesse, a teria
abraçado mais e repetido mil vezes o quanto a amava. Senti meu pai
parar ao meu lado e passar o braço pelos meus ombros. Com a
outra mão, ele acariciou o rosto da minha mãe na foto.
— Pode ter certeza de que ela está muito orgulhosa de você.
Não consegui conter as lágrimas ao ouvir aquilo.
— Isso é golpe baixo — comentei enquanto encostava minha
cabeça em seu peito. Meu pai soltou uma risada emocionada.
— Sei disso, mas é a verdade. Sua mãe sempre se orgulhou
muito de você e do seu irmão e me arrependo por ter perdido tanto
tempo tentando mudar o destino de Logan e ignorando os avisos
dela de que eu deveria o apoiar na carreira que escolhesse. Quero
que saiba que eu apoio você, Norah, e que tenho orgulho do
caminho que está trilhando.
— Obrigada, pai. Ouvir isso é importante demais para mim.
— Sim, tenho consciência disso, porque também foi
importante para mim quando meu pai olhou nos meus olhos e
deixou claro que se sentia orgulhoso pelas minhas conquistas. —
Papai se afastou e secou as minhas lágrimas com delicadeza. —
Você e seu irmão são a melhor parte de mim, Norah. Não o meu
legado como advogado, o império que construí ou o dinheiro que
conquistei, mas vocês. Quero apenas que sejam felizes.
— Nós somos felizes apenas por ter um pai incrível como o
senhor — falei e meu pai sorriu.
— Sei que sou cabeça-dura às vezes...
— Só às vezes?
— Tudo bem, quase sempre, mas estou tentando melhorar. Por
exemplo, seu irmão me disse que você está conhecendo um rapaz
na faculdade e eu nem a pressionei para me passar a ficha completa
do idiota que está tentando conquistar a minha filha.
Revirei os olhos ao ouvir aquilo, apesar de ainda sentir graça.
— Acho que está me pressionando agora.
— Eu estou? Sinto muito, não percebi.
— Você nunca foi tão dissimulado, Sr. Miller II!
— Talvez eu saiba uma técnica ou outra sobre atuação — disse
ele com as sobrancelhas arqueadas. — Só me diga se ele é um
homem decente e se está a tratando bem.
Não foi em Mason que eu pensei para responder àquilo, mas,
sim, em James. E percebi que, depois de ontem, talvez eu pudesse
continuar a pensar nele daquele jeito, como o homem que, um dia,
eu apresentaria ao meu pai. Não seria fácil, eu sabia, tínhamos um
enorme obstáculo no caminho que se chamava Logan Miller III, mas
uma garota podia sonhar.
— Ele é o homem mais incrível que já conheci.
Meu pai ficou calado por um tempo, olhando dentro dos meus
olhos. Fiquei tentando entender o que ele queria encontrar, mas, por
fim, ele respondeu.
— Você está apaixonada.
— Sim. — Finalmente dei um sorriso sincero ao confirmar
aquilo. — Eu estou perdidamente apaixonada por ele, papai.
— Bom... — O Sr. Miller II coçou a cabeça como se não
soubesse lidar com aquilo. — Quando se sentir preparada,
apresente-me a ele. Quero conhecer o homem que roubou o
coração da minha filha.
Eu fiquei aliviada ao ouvir aquilo e concordei. Meu pai era
muito mais tranquilo do que Logan e eu me senti feliz por aquilo,
pois não sabia se conseguiria aguentar a pressão dos dois homens
Miller na minha vida.
Já estava anoitecendo quando recebi uma mensagem de
James perguntando se poderíamos jantar juntos e conversar. Eu
nem pensei em negar. Inventei uma desculpa para a minha família,
avisando que encontraria com John, e me despedi de todos. Papai
insistiu para que eu pegasse um dos seus carros esportivos na
garagem, mas o tempo estava muito feio, com nuvens carregadas
no céu, e eu tinha um certo trauma de dirigir na chuva depois do
acidente da minha mãe, por isso, resolvi pedir um carro de
aplicativo.
Senti-me ansiosa, com aquelas borboletas voando sobre o meu
estômago de novo. Dentro do carro, recebi uma nova mensagem,
daquela vez de Mason. Não nos falávamos desde sexta-feira e meu
peito ficou apertado com a culpa.
Mason: Norah, podemos conversar? Não precisa ser no
meu apartamento, eu só quero olhar para você e assegurar
que está tudo bem entre nós dois. Me desculpe por ser um
babaca ciumento.
Mason: Meu pai está na cidade e eu estou em um dos
seus hotéis visitando-o, ficarei aqui até mais tarde. Venha
me encontrar, por favor. Vou te passar o endereço.
O carro parou em frente ao restaurante e eu pensei se deveria
responder ou não. Decidi que faria aquilo depois que conversasse
com James, apesar de, no fundo, eu saber que terminaria com
Mason de qualquer maneira, pois não era justo prendê-lo a mim
quando eu estava apaixonada por outro homem. Agradeci ao
motorista e saí do carro, tomando um susto ao ver James na porta
do restaurante conversando com uma mulher. Ela tocava em seu
braço e parecia tentar segurar a sua mão.
Curiosa, aproximei-me um pouco, mas a distância não me
permitia ouvir o que falavam, por isso, apenas observei. Um casal
saiu do restaurante e a luz vinha que do interior do estabelecimento
me permitiu reconhecer quem estava com James. Dei um passo para
trás ao perceber que era Megan. Ela parecia agitada, mas James
estava de costas para mim e eu não conseguia saber qual era a sua
expressão. Fiquei sem saber o que fazer. Deveria me aproximar ou
não? Megan me deu a resposta quando se aproximou
completamente de James e tomou o rosto dele nas mãos, ficando na
ponta dos pés.
Ah, meu Deus. Eles iam se beijar.
Antes que eu testemunhasse aquilo acontecendo, dei as costas
para os dois e tirei o meu celular do bolso. Sem pensar direito,
coloquei o endereço que Mason me mandou por mensagem e pedi
um carro de aplicativo. Pingos grossos de chuva começaram a cair e
quase deixei o celular ir ao chão. Minhas mãos tremiam.
— Norah!
Ouvi a voz de James atrás de mim e o que me fez virar em sua
direção foi a raiva que começou a inflamar as minhas veias. Megan
ainda estava parada em frente à porta do restaurante enquanto o
jogador se aproximava a passos rápidos de mim e havia uma
expressão de arrependimento no rosto dela.
— Norah, o que está fazendo? Saia da chuva.
— Eu estou indo embora. Não vou mais atrapalhar você e a
Megan.
Um trovão estourou no céu e a chuva começou a cair pra valer,
gelada e grossa. James arregalou os olhos e sacodiu a cabeça com
desespero, se aproximando ainda mais de mim.
— Não sei o que você pensa que viu, mas posso assegurar que
entendeu errado, Norah.
— Entendi errado? Vocês estavam prestes a se beijar!
— O quê? Não! — James tentou me tocar, mas eu me afastei.
— Norah, me escute...
— Não quero ouvir nada, James! Eu pensei... — Parei por um
momento, mal conseguindo o enxergar por conta da chuva. —
Acreditei que era por mim que você estava apaixonado, mas sempre
foi por ela, não é? Você nunca a esqueceu!
— Norah, não é nada disso... — Dei as costas para James
quando vi o carro se aproximar da calçada, mas ele me segurou pela
mão me impedindo de prosseguir. O ciúme estava me corroendo e
foi a ele que me agarrei para não começar a chorar como uma idiota
na frente do jogador. — Vamos para casa, você está encharcada,
depois nós conversamos.
Desvencilhei-me dos seus braços e o olhei com raiva quando vi
Megan correndo em nossa direção no meio da chuva. Aquela vaca!
Se eu ficasse ali por mais um segundo, perderia completamente o
controle das minhas emoções.
— Estou indo me encontrar com Mason.
Não fiquei para saber qual seria a reação de James. Entrei no
carro e pedi para o motorista sair dali o mais rápido possível.
Um trovão enorme estourou no céu quando Norah escapou
das minhas mãos e entrou no carro. Por um segundo, eu fiquei
completamente atônito, apenas observando-a fechar a porta do
veículo e desaparecer das minhas vistas após me falar que se
encontraria com Mason. Então, foi só pensar em Norah nos braços
daquele filho da puta, deixando que ele beijasse a boca que deveria
ser apenas minha, que eu senti uma descarga de adrenalina explodir
em minhas veias e reagi.
— James! Espera, por favor!
O carro em que Norah estava arrancou na calçada e eu corri
em direção a minha Range Rover que estava estacionada poucos
metros à frente. Senti Megan atrás de mim, mas não parei para
olhar para ela ou ouvi-la. Não entendia por que estava tão obstinada
a me perseguir quando deixei claro que não queria ter mais nenhum
tipo de contato com ela, mas não perderia o meu tempo naquele
momento nem mesmo para mandá-la ficar distante de mim.
Entrei em meu carro e pisei firme no acelerador. A chuva
torrencial mal me permitia enxergar o veículo da frente, mas
coloquei meus limpadores de para-brisa para trabalharem ao
máximo e consegui visualizar que havia um carro entre o meu e o
veículo onde Norah estava. Dei seta para a esquerda, querendo
ultrapassá-lo, mas o filho da puta não me deu passagem, me
obrigando a fazer uma loucura sem pensar muito nas
consequências.
O semáforo fechou, mas o carro de Norah conseguiu passar
antes que ficasse vermelho. Aproveitando que não vinha nenhum
carro no sentido contrário, ultrapassei o babaca na minha frente e
passei pelo sinal sem nem olhar para os lados. Conscientemente, eu
sabia que corria o risco de ter causado um acidente, mas estava
além da racionalidade naquele momento. Só conseguia pensar no
olhar ferido e cheio de raiva de Norah enquanto acreditava que
Megan e eu quase nos beijamos. Eu jamais beijaria a boca daquela
víbora novamente, porra!
Mas conseguia entender Norah e a sua insegurança. Ela ainda
não sabia o que eu sentia e deveria estar confusa com a minha
mudança de atitude, com o beijo que dei nela na noite anterior. Eu
explicaria tudo se Megan não tivesse atravessado o meu caminho de
novo com a sua insistência em querer falar comigo.
Consegui me aproximar da traseira do carro do Uber e buzinei.
Estava chovendo demais e eu só queria que Norah aceitasse entrar
no meu carro e que me deixasse levá-la para casa. Ela estava
vulnerável e com raiva de mim e eu não confiava em Mason para
ficar ao seu lado com ela naquele estado, principalmente depois da
sua insistência disfarçada de convite para levá-la para a cama.
O motorista do Uber acelerou ao invés de diminuir a
velocidade, me obrigando a fazer o mesmo. Buzinei mais uma vez e
só não meti meu carro na frente do dele porque sabia que a pista
estava escorregadia demais e não colocaria Norah em perigo.
Cheguei perto da sua traseira novamente e tomei um susto quando
meu celular começou a tocar. O atendi pelo sistema digital do carro,
meu coração disparando ainda mais ao ver que era Norah me
ligando.
— Pare com isso, James!
— Norah, por favor, vamos conversar. Peça para que o
motorista pare no acostamento e venha para o meu carro.
— Eu quero que você pare com isso! A pista está perigosa,
não quero que se meta em um acidente! Você ultrapassou um sinal
vermelho, porra!
Apesar do nervosismo, eu sorri. Minha garota poderia estar
puta comigo, mas ainda se preocupava.
— Acho que não faz a menor ideia das coisas que eu faria por
você, Norah. — Eu a ouvi ofegar do outro lado da linha e voltei a
insistir. — Por favor, saia do carro, nem que seja para me bater e me
xingar, ainda que eu não mereça.
— Você merece sim!
Norah desligou de repente, sem se despedir, e eu vi o veículo
da frente dar seta para a direita. Estávamos em uma rua cheia de
prédios comerciais, fechados àquela hora, e apenas um carro ou
outro passava ao nosso lado. O Uber finalmente estacionou e eu
parei logo atrás dele, saindo do carro no mesmo instante em que
Norah. Precisei dar crédito ao motorista quando ele saiu do carro
também, mesmo em meio à tempestade, me dando um olhar
desconfiado.
— A senhora tem certeza de que quer mesmo fazer isso?
— Sim, eu tenho. Obrigada por se preocupar.
O motorista ainda nos encarou por mais alguns segundos
antes de entrar no carro e partir. Um outro trovão estourou no céu e
as luzes dos postes se apagaram, provavelmente por conta de uma
queda de energia, mas os faróis do meu carro iluminavam Norah e o
seu semblante fechado. Sabia que ela estava com raiva de mim, por
isso, me aproximei devagar.
— Não ouse tocar em mim! — Gritou, dando um passo para
trás.
— Tudo bem, mas se você quiser me bater, vai ter que chegar
mais perto do que isso. — Sorri, o que pareceu a enfurecer.
— Está achando que eu estou brincando, James?! Só desci do
carro porque fiquei com medo de que você provocasse um acidente!
— Eu nunca colocaria a sua vida em risco.
— Mas pareceu querer colocar a sua vida em risco quando
ultrapassou o sinal daquele jeito! — Norah finalmente se aproximou
e, pegando-me de surpresa, espalmou as mãos em meu peito,
tentando me empurrar. — O que você tem na cabeça?!
— Você — falei, tomando seu rosto em minhas mãos. Seus
cabelos caíam em cascatas pelos seus ombros e alguns fios se
grudavam em sua bochecha. Tirei-os do meio do caminho. — Eu
tenho você em minha cabeça, Norah.
— Mentiroso! — Ela deu um soquinho em meu peito, seguido
por outro e mais um. — Você é um mentiroso! Eu o vi com a Megan,
eu...
— O que você viu? — questionei, ficando mais sério. Não havia
mais graça em nada daquilo. — Diga-me, Norah, o que você viu?
— Vi vocês dois prestes a se beijar.
— Não... — Peguei-a pela cintura quando tentou escapar,
colando seu corpo molhado ao meu. — Você viu Megan desesperada
para me tocar, não eu prestes a beijá-la.
— Você não parecia nada incomodado com o toque dela! —
Sua voz saiu por entredentes enquanto voltava a me empurrar. —
Me solta, James!
Eu soltei e foi como perder uma parte intrínseca de mim.
Norah e eu nunca brigamos e agora que eu parecia estar tão perto
de tê-la, aquela merda acontecia? Não, eu não iria aceitar!
— Se você me deixar explicar...
— Explicar o quê? Que, no fundo, você ainda ama Megan e
nunca a esqueceu? Ainda me lembro das vezes em que chegou em
casa bêbado, às vezes sendo carregado por Ben, porque estava
sofrendo por ela! Eu mesma já fui te resgatar em um bar porque
você mal conseguia andar! Deveria ter me lembrado disso mais
vezes, assim, eu não teria me enganado nem deixaria que chegasse
perto de mim como fez ontem!
Fiquei em choque ao ouvir aquilo, mas não deixei que Norah
saísse vencendo naquela discussão. Seus argumentos eram válidos,
principalmente sobre eu ter enchido a cara algumas vezes após
descobrir a traição, mas todo o resto não era. Aproximei-me dela,
fechando mais uma vez a nossa distância.
— Sim, eu fiz mesmo tudo isso, porque gostava de Megan e
descobrir que estava sendo traído daquele jeito me machucou,
Norah! O que queria que eu fizesse? Que eu desse pulos de alegria
por ter descoberto que minha namorada trepava com o próprio
primo pelas minhas costas?!
Norah finalmente demonstrou algo diferente de raiva e
pareceu arrependida. Seu rosto estava vermelho de raiva e passou a
ficar mais pálido.
— Não. Você tinha o direito de sofrer e ficar com raiva —
murmurou.
— Sim, eu tinha, mas isso passou, Norah! Eu não sinto mais
nada por Megan, seja dor, paixão ou raiva, sabe por quê? — A
garota apenas balançou a cabeça com os olhos arregalados e a
respiração ofegante. Pisquei para espantar a água da chuva
torrencial que queria me impedir de enxergar e tomei seu rosto em
minhas mãos. — Porque nunca cheguei perto de sentir por Megan o
que só sinto por você! Eu amo você, Norah, só você! Será que
entende isso? Será que sabe o que isso significa?
Eu podia jurar que ouvi um soluço escapar da garganta de
Norah, mas o barulho da tempestade me impediu de ter certeza. Ela
entreabriu os lábios bonitos e molhados pela chuva, seus olhos
arregalados demais não deixando os meus.
— Não sei exatamente quando o meu amor por você mudou,
mas sei com toda certeza que não posso mais viver sem você, sem o
seu toque, seu olhar, seu cheiro, sem a porra do seu beijo que eu
mal consegui provar! Nada mais importa para mim do que você! Eu
estou disposto a enfrentar tudo para tê-la ao meu lado, mas não
posso fazer isso se não confiar na minha palavra, se não acreditar
em mim.
Tomei a sua cintura com uma mão e enfiei a outra nos cabelos
da sua nuca, puxando-a completamente de encontro ao meu corpo.
Norah precisou se segurar em meus ombros para se apoiar e pude
sentir seu hálito quente tocar os meus lábios.
— Megan não significa mais nada para mim, Norah, e eu não
tive a menor pretensão de beijá-la hoje ou qualquer outro dia depois
que descobri que ela me traía. A única mulher capaz de me deixar
louco de desejo, de vontade de beijá-la e de me enfiar bem fundo
na sua boceta, é você!
A minha voz saiu rouca no final e eu não pude mais me
segurar. Mandei a calma e a paciência para a puta que pariu e beijei
Norah exatamente do jeito que queria ter feito na noite passada,
firme, intenso, enfiando minha língua na boca dela e implorando
para que me entregasse tudo de si. Para a minha felicidade, a garota
não se conteve. Norah me agarrou firme pela nuca e me beijou com
tanta força, que a chuva gelada caindo sobre as nossas cabeças
pareceu se tornar lava derretida em minha pele.
Eu me sentia prestes a pegar fogo no meio daquela estrada
deserta e escura, com Norah em meus braços e o mundo desabando
em forma de água.
Seu sabor explodiu com força em meu cérebro e me fez
desejar mais. Era ainda melhor do que eu imaginara, tão viciante
quanto pensei que seria, e soube que não conseguiria mais viver
sem o sentir todos os dias.
Um novo trovão explodiu no céu, iluminando tudo e fazendo
Norah estremecer. Sem pensar muito, puxei-a para o meu colo
segurando firme em sua bunda deliciosa e caminhei em direção ao
meu carro, abrindo a porta traseira e entrando com ela ainda
agarrada a mim. Coloquei-a deitada sobre o banco e pairei acima do
seu corpo, voltando a tomar a sua boca assim que bati a porta com
força atrás de mim.
Finalmente pude ouvir Norah gemer entre os meus lábios e o
meu pau pulsou dentro da calça, endurecendo completamente. O
desejo me golpeou com força, me fazendo esquecer de onde
estávamos ou do perigo que corríamos. A única coisa que eu sabia,
era que o interior do carro estava quente o suficiente por conta do
aquecedor e que a boca de Norah na minha era a porra do paraíso.
Mordi seu lábio com um pouco mais de delicadeza depois do
meu ataque repentino e segui uma trilha pelo seu queixo e lateral da
mandíbula. Queria sentir o gosto da sua pele. Mais do que isso, eu
queria sentir o gosto da sua boceta, mas por aquilo eu poderia
esperar. Norah estremeceu abaixo do meu corpo, roçando a
bocetinha por cima do meu pau coberto pelas roupas quando lambi
o seu pescoço cheiroso e ainda molhado pela chuva, capturando
cada gotinha em minha língua, antes de deixar um chupão em cima
da sua jugular.
— Ah, meu Deus, James...
Norah gemeu mais alto, jogando cabeça para trás e me dando
acesso a tudo. Sua blusa tinha um decote arredondado, que deixava
à mostra o início da curva dos seus seios, e foi lá onde enfiei o meu
nariz, respirando forte o seu cheiro e lambendo o vale entre os seus
peitos até onde minha língua alcançava. Senti suas unhas em
minhas costas por cima da minha jaqueta e foi a minha vez de
estremecer.
— Quero mais — Norah pediu com a voz ofegante, me
surpreendendo ao tomar meu rosto em suas mãos e me puxar
novamente em direção à sua boca. — Quero sentir você, James. —
Sua mão direita alcançou a minha e foi a minha vez de gemer
quando pressionou minha palma contra o seu seio. — Toque-me.
Faça o que quiser comigo.
— Não me diz isso. — Minha voz saiu mais rouca do que
antes, quase irreconhecível, e meus lábios roçaram os dela no
processo. — Não vou tirar a sua virgindade dentro desse carro, no
meio de uma estrada, Norah. Quero estar em um local seguro
quando for fazer amor com você.
Um sorriso se abriu em seus lábios.
— Fazer amor? Então você é romântico, James McHugh?
— Só com você, mas não se engane. — Passei meus lábios
pelos dela lentamente e sussurrei: — Ser romântico não quer dizer
que eu não estou louco para conhecer cada detalhe da sua boceta e
te ver delirando sobre o meu pau enquanto goza gostoso para mim.
Norah abriu os lábios para puxar a próxima respiração e eu
aproveitei para beijá-la, antes que eu perdesse a cabeça. Corri
minha palma aberta pelo seu seio, sentindo o bico durinho por baixo
da roupa, e soube que precisava ter ao menos o gosto dos seus
peitos bonitos em minha boca. Ergui um pouco o meu tronco, o
máximo que dava dentro do carro, e tirei o seu casaco pesado pela
água da chuva. Senti seu ventre tremer sob o meu toque quando
comecei a levantar a sua blusa encharcada e Norah se ergueu
apenas o suficiente para que eu conseguisse tirar a roupa do seu
corpo. Surpreendendo-me, levou as mãos às costas e desabotoou o
sutiã.
Nunca senti tanta raiva da escuridão como naquele momento!
A pouca luz que entrava pelas janelas não era nada, mas aquilo não
pareceu desanimar Norah. Ela segurou a minha mão e voltou a se
deitar no banco, arrastando a ponta dos meus dedos pela sua
barriga nua até chegar ao seu seio direito.
Eu me apoiei com a outra mão em cima da sua cabeça e tomei
o peito todo entre os meus dedos, sentindo como era durinho, com
a pele arrepiada. Norah ofegou e ergueu o quadril em direção ao
meu, provavelmente desesperada para sentir o meu toque também
no meio das suas pernas. Eu chegaria lá naquela noite, não com o
meu pau, mas com os meus dedos. Só sairia daquele carro depois
de fazer aquela garota gritar o meu nome enquanto gozava.
Acariciei o mamilo sensível com o meu polegar, bem devagar, e
desci de boca em direção ao outro, fazendo Norah gemer de prazer
e surpresa. Rodeei-o com a língua e o suguei entre os meus lábios,
mamando firme enquanto acariciava o outro lentamente,
confundindo-a com o ritmo do meu toque e da minha sucção. Norah
arranhou o couro da minha jaqueta em desespero e soltou um
choramingo que me fez sorrir conforme eu ia para o outro peito e o
tomava em minha boca.
Meu pau doía de tão duro enquanto eu imaginava tudo o que
iria fazer com ela e minha mente duelava entre o desejo e o choque
por tudo aquilo estar mesmo acontecendo. Não era um sonho, eu
estava mesmo com Norah, mamando gostoso no seu peito enquanto
descia minha mão pela sua barriga até levantar a saia que ela usava.
Havia uma meia-calça grossa no meio caminho, própria para aquela
época de inverno, mas Norah me ajudou a descer a peça pelas suas
pernas, deixando-a enrolada na altura da sua coxa. Ergui minha
cabeça e pairei sobre os seus lábios, sentindo sua respiração e a
minha se encontrarem.
— Ainda quer isso? — Precisei perguntar, mesmo desconfiando
de qual seria a sua resposta.
— Sim. Eu quero tudo com você, James. — Norah passou a
mão pelo meu rosto e eu quis muito enxergar os seus olhos cor de
mel naquele momento.
— Tudo?
— Tudo.
Eu não queria estragar aquele momento, mas a pergunta
escapou da minha boca sem que eu tivesse qualquer controle:
— E o Mason?
— Nunca cheguei perto de sentir por Mason o que só sinto por
você — Norah repetiu as minhas palavras e eu fechei os olhos por
um momento, encostando minha testa na dela. — Eu te amo.
Sempre amei você, James. Só você.
Eu não fazia ideia do que tinha feito para merecer aquilo —
para merecer aquela garota —, mas eu agradecia. Porra, eu
agradecia e venceria qualquer guerra para tê-la comigo.
A forma com que beijei Norah foi tão intensa e feroz como o
beijo que trocamos do lado de fora do carro, mas teve um sabor
diferente, especial. Eu me senti um sortudo do caralho por tê-la só
para mim, por saber que Norah estava tão apaixonada por mim
quanto eu por ela. Ainda com a sua boca na minha, toquei o meio
das suas coxas e subi até a virilha, encontrando a calcinha de renda
que cobria a bocetinha intocada. Estava encharcada e eu sabia que
não era apenas pela água da chuva. Quando a coloquei de lado, tive
a certeza.
A boceta de Norah estava quente e toda babada para mim,
desde os lábios até o clitóris inchado e sensível, que pulsou contra o
meu dedo quando o toquei. A garota gemeu de encontro a minha
boca, desesperada, e tentou abrir mais as pernas, me dando todo
acesso possível. Não a desapontei. Acariciei a bocetinha toda com a
minha mão, que parecia ser enorme comparada a ela, e afastei
ainda mais os pequenos e grandes lábios, tocando-os para cima e
para baixo com os meus dedos médio e indicador abertos como se
fosse uma tesoura.
Norah mordeu a minha boca e desceu uma mão até a minha
cintura, alcançando o meu pau duro por cima da calça jeans. Ela
apenas o massageou e choramingou em meus lábios enquanto eu
gemia rouco e cheio de tesão, me segurando para não gozar.
— James, por favor, me faz gozar...
Ouvir Norah implorar para que lhe desse um orgasmo com
certeza entrou para o top 1 das coisas que eu mais amava escutar.
Tomei sua boca na minha em um novo beijo e parei de torturá-la,
finalmente acariciando o seu clitóris durinho com os meus dedos.
Meu pau pulsou de encontro à sua mão, louco para sair do cativeiro
da calça, mas eu o ignorei, focado em minha garota e nos seus
gemidos, no rebolar lento do seu quadril e na forma como aquela
bocetinha babava gostoso para mim, cheia de tesão.
Arrisquei sondar a sua entrada e enfiei o dedo indicador,
ouvindo Norah gemer mais alto. Ela não reclamou de dor e eu
continuei. Comecei a foder a sua boceta por dentro e por fora, meu
dedo em seu interior escorregadio e muito apertado, e a minha
palma cuidando do clitóris sensível.
A garota largou a minha boca para gemer mais alto e eu senti
que estava muito perto de gozar quando sua bocetinha começou a
sofrer espasmos, seu canal vaginal sugando meu dedo para dentro
enquanto o grelinho pulsava bastante. Acelerei meus movimentos,
sabendo que era disso que Norah precisava, e ela explodiu em um
orgasmo poderoso, gemendo alto o meu nome, rebolando contra a
minha mão e meu dedo, melando a minha pele com o seu tesão.
Seus dedos finos apertaram o meu pau por cima da calça
conforme perdia o controle em meio ao orgasmo e foi a minha vez
de gemer, sentindo um arrepio descer pela base da minha coluna e
se concentrar em minhas bolas. Fiquei teso, ainda mais duro sob o
jeans, e gemi rouco de encontro ao pescoço de Norah quando
simplesmente perdi a batalha e me entreguei ao orgasmo, gozando
forte dentro da calça como a porra de um adolescente.
As palavras de Logan voltaram com tudo à minha mente e, por
mais que fosse estranho pra caralho pensar no meu amigo naquele
momento, principalmente porque era a sua irmã que estava debaixo
de mim, eu não consegui controlar a risada silenciosa que explodiu
no fundo da minha garganta enquanto ainda sentia os tremores
causados pelo orgasmo.
“Você ainda vai encontrar alguma garota que vai te deixar com
tanto tesão, que também vai gozar na calça.”
Eu duvidei, mas Logan estava certo. Eu encontrei a garota e
ela era a mulher da minha vida. Por Norah, eu gozaria na calça
quantas vezes fossem necessárias.
Eu a beijei firme, saindo do seu interior e tocando apenas no
clitóris, mas Norah riu baixinho e tentou fechar as pernas. Não
obteve muito sucesso, afinal, eu estava entre elas, mas entendi que
estava sensível e deixei a sua boca antes de tirar a mão da sua
boceta melada. Não sabia se Norah conseguia me enxergar direito
em meio à penumbra, por isso, fiz questão de gemer enquanto
levava meus dedos à minha boca e sentia o seu sabor único na
ponta da minha língua. Meu pau sofreu um espasmo terrível dentro
da calça, como se eu não tivesse acabado de gozar.
— Porra, como você é deliciosa — murmurei com a voz grossa
e me abaixei sobre ela. — Sinta. — Beijei a sua boca e Norah gemeu
ao sentir o seu gosto mais íntimo em minha língua. Afastei-me o
suficiente para sussurrar: — Mal posso esperar para provar tudo isso
de novo com a minha boca bem enterrada no meio da sua boceta.
— Minha nossa, James...
— Vou passar minha língua lentamente por cada dobrinha
antes de mamar bem gostoso no seu clitóris durinho — murmurei
com a boca roçando na dela.
Norah apertou mais um pouco o meu pau e eu gemi, já
imaginando tudo, querendo começar naquele instante, mas sabia
que não podia. Já havíamos corrido risco demais, por isso, dei um
beijo em sua boca e tirei a sua mão do meu pau.
— Não, James...
— Precisamos ir — falei, tateando pelo chão do carro até achar
o seu casaco. — Já passamos tempo demais aqui e você precisa tirar
essa roupa molhada e tomar um banho quente.
— Mas você... Você não gozou.
Eu sorri com a sua preocupação e dei um beijo estalado em
seus lábios antes de me erguer e ajudá-la a se sentar no banco.
Estiquei-me e acendi a luz no painel do carro, observando seu rosto
vermelho e os lábios inchados pelos meus beijos.
— Acha mesmo que não gozei?
Os olhos de Norah desceram até a altura do meu quadril. Eu
sabia que o fato de a calça estar molhada pela água da chuva não
permitia que ela visse a mancha de sêmen no tecido, mas seus olhos
brilharam mesmo assim conforme passava a língua pelos lábios.
— Você gozou?
— Pra caralho. — Inclinei-me levemente sobre ela e rocei
minha boca em seus lábios. — Sabe quando foi a última vez que
gozei na calça, Norah?
— Não. — Sua voz saiu em um sussurro. — Mas também não
sei se quero saber. — Sua honestidade me arrancou uma risada.
— Eu era um adolescente no início da puberdade e descobri
que passar a mão por cima do meu pau duro me causava uma
sensação muito boa. Só depois eu entendi que era um orgasmo e
que deveria gozar fora da calça, assim, a sujeira se tornava menor.
Norah riu baixinho e afastou um pouco o rosto do meu.
— Então, não foi por causa de uma garota?
— Não, nunca foi por causa de uma garota. Só você tem esse
poder sobre mim.
Eu tomei a sua boca na minha em um beijo que me deixou de
pau duro mais uma vez e decidi que era hora de irmos para casa.
Ajudei-a a vestir o casaco e o fechei até o seu pescoço. Queria
ter alguma peça de roupa seca por ali, mas não tinha nenhuma,
infelizmente. Pulamos para os bancos da frente e a puxei para mais
um beijo antes de dar partida no carro e sair dali.
Eu me sentia uma pedra de gelo conforme corria com James
para dentro de casa, mas mesmo tremendo da cabeça aos pés, um
sorriso de euforia — e incredulidade, precisava confessar —, se
recusava a sair do meu rosto. Caía uma garoa fina e muito gelada
agora, mas logo ficamos protegidos pelo telhado da nossa casa
enquanto James abria a porta. Ele me permitiu entrar primeiro e não
paramos em qualquer outro cômodo, fomos direto para o segundo
pavimento e entramos em meu quarto.
— Tire logo essa roupa molhada e tome um banho quente, ok?
— pediu o jogador depois de me deixar no banheiro.
Sim, eu precisava mesmo tirar aquela roupa e ir para debaixo
do chuveiro, mas meus olhos ávidos por James desceram
lentamente pelo seu corpo alto e forte, parando na ereção que ainda
marcava a sua calça jeans escura. Ela parecia se recusar a ceder,
mesmo depois de James afirmar que tinha gozado junto comigo.
Observá-la me encheu de ideias e me deixou excitada mais uma vez.
Antes que o jogador pudesse sair do meu banheiro, caminhei em
sua direção, observando o sorrisinho no canto dos seus lábios. Só
parei quando as suas costas se encontraram com a parede.
— Quero algo antes de tomar banho.
— É mesmo? — James me puxou em sua direção pela cintura,
enfiando a outra mão em meus cabelos. — O quê?
Ele sabia o quê, não era bobo, mas queria que eu falasse. Eu
estava surpresa com a minha desenvoltura e coragem. Só havia sido
tocada da forma que James fizera comigo por um garoto no final do
ensino médio e foi horrível. Ele parecia não saber o que estava
fazendo e eu também não sabia como o ensinar. Acreditava que
havia ido bem na punheta, porque ele gozou, mas não sabia se eu
era realmente boa naquilo ou se o fato de estarmos escondidos
dentro do banheiro, no meio do baile de formatura, o ajudou a
chegar lá mais rápido para não sermos pegos.
O fato era que, depois daquele dia, nunca mais tive um
momento íntimo com um homem até hoje à noite no carro com
James. Sempre que eu pensava em sexo, me sentia tímida, e tinha
certeza de que não teria coragem de abrir a boca para externar o
que eu sentia, mas com James eu me senti tão segura, que em
momento algum pensei em inibir os meus sentimentos ou controlar
o meu desejo. Eu pedi para que ele me tocasse, para que me fizesse
gozar, não tive vergonha de me entregar e mesmo agora, em um
ambiente iluminado, vendo os seus olhos sobre mim, eu ainda me
sentia corajosa. Por isso, falei:
— Fazer você gozar fora da calça dessa vez.
Nunca pensei que conseguiria fazer um homem do tamanho e
da força de James estremecer, mas foi o que aconteceu. Os
músculos do peitoral do jogador sofreram um abalo sobre as minhas
mãos e um gemido baixo e rouco escapou do fundo da sua garganta
quando comecei a descer meus dedos na direção da sua calça.
James não me deteve. Ele me olhava como se eu fosse uma deusa,
quase como se não pudesse acreditar que aquilo estava mesmo
acontecendo, espelhando as minhas emoções.
Eu tiraria um tempo antes de dormir para pensar em tudo o
que acontecera antes de ele me pegar no colo e me levar para o seu
carro. Agora, eu só queria desabotoar o seu jeans e tocá-lo. Olhei
para James quando cheguei à sua calça e ele passou a língua pelos
lábios antes de me responder.
— Faça isso. Faça o que quiser comigo, Norah. Sou todo seu.
— Mordi o lábio com força, ficando excitada novamente, e James
pediu antes que eu prosseguisse: — Tire o seu casaco, quero ver os
seus peitos bonitos enquanto toca punheta para mim.
Não pensei, simplesmente tirei as mãos dele e comecei a
desabotoar meu casaco, dando-lhe um sorriso.
— Você não sabe se eles são bonitos, não conseguiu ver nada
dentro do carro.
— Eu tenho certeza de que eles são tão bonitos e sensuais
quanto você.
Era por isso que eu não me sentia insegura com James. Ele
afirmava com palavras o que eu via em seus olhos, me dando a
certeza de que não estava mentindo para me agradar. Empurrei o
casaco dos meus ombros e senti meus mamilos enrijecerem ainda
mais quando fiquei nua da cintura para cima. A temperatura dentro
de casa estava muito agradável por conta do aquecedor, portanto,
não era por causa do frio que meus seios estavam tão sensíveis.
Eu sentia os bicos mais inchados do que o normal, culpa do
que James fizera comigo no carro. Como se não pudesse se conter, o
jogador se aproximou e tomou meus seios em suas mãos, me
fazendo fechar os olhos por um segundo por conta do golpe de
prazer que irradiou pelo meu corpo e se espalhou pela minha
boceta.
— Lembra do que eu te disse ontem enquanto tirava as fotos?
— James perguntou baixinho, me impelindo a abrir os olhos e
encará-lo. Ele abaixou o rosto, até o seu nariz tocar o meu.
— Você... disse muitas coisas — murmurei com a respiração
ofegante. James acariciou os meus mamilos com o polegar e precisei
apertar as coxas uma contra a outra.
— Sim, mas teve algo em específico que fiz questão de
afirmar. — Seus lábios fizeram uma trilha pela minha bochecha até a
minha orelha direita. — Eu disse que você é a mulher mais linda que
meus olhos já viram e eu não menti, Norah. — Seus olhos voltaram
a se encontrar com os meus e vi muitos sentimentos brilhando em
suas irises castanhas. — Ter você assim na minha frente é um
privilégio, um que não vou desperdiçar.
Minha garganta pinicou e lágrimas quase vieram aos meus
olhos, mas eu me recusava a chorar em um momento como aquele,
por isso, segurei James pelo pescoço e tomei a sua boca pela
primeira vez na vida. Aquele beijo sensual e gostoso foi iniciativa
minha e, meu Deus, foi perfeito. Tudo entre nós dois era perfeito.
James me permitiu tirar a sua camisa molhada e me puxou com
tudo para dentro dos seus braços, fazendo meus mamilos roçarem
em sua pele lisa, nossos corações batendo forte e perto demais um
do outro.
Nosso beijo foi longo e me deixou toda excitada. Eu sentia que
poderia gozar de novo com apenas um toque de James entre as
minhas pernas, mas queria dar prazer a ele naquele momento e me
afastei, voltando a tocar no fecho do seu jeans. Seu pau parecia
mais marcado no tecido, como se aquilo fosse possível, e me vi
ansiosa quando terminei de desabotoar e descer o zíper da sua
calça, até revelar o início da sua cueca boxer cinza também úmida
pela chuva. Ergui meus olhos e James apenas sorriu conforme
tocava novamente em meus seios.
— Sou todo seu, Norah — repetiu com a voz pingando desejo.
Eu acreditei nele. Acreditei em James ainda sob a tempestade
e sabia que, após aquela noite, nossa vida nunca mais seria a
mesma.
Arrastei minhas unhas pela sua barriga trincada e enfiei a mão
direita em sua cueca, arregalando um pouco os olhos ao tocar a sua
ereção toda melada e descobrir que, assim como acontecia quando
eu tocava em seus pulsos, meus dedos não se encontravam em
volta do membro grosso. Puxei seu pau para fora e lambi os lábios
ao observá-lo. A pele escura e sedosa envolvia o membro grosso e
coberto de veias, estendendo-se pelo comprimento longo. A cabeça
era bem-desenhada e bruta, em um vermelho muito forte no tom
cereja, e expelia uma gota de lubrificação, que começou a escorrer
lentamente pela sua extensão.
James não mentiu. Ele gozou mesmo no carro, seu pau ainda
estava melado pelo orgasmo recente e eu senti minha vagina pulsar
e ficar ainda mais lubrificada.
Eu fiquei sem palavras por um momento. Não tinha visto
muitos paus na minha vida — apenas um antes de James e outros
pela internet —, mas com certeza o do wide receiver era o mais
bonito e sensual de todos. Eu senti vontade de simplesmente me
ajoelhar e adorá-lo com a minha boca, mas senti medo de fazer algo
errado, portanto, o envolvi com a minha mão e o toquei lentamente,
sentindo a pele sedosa e quente. Era como seda envolvendo aço,
suavidade e dureza juntas.
— Porra... — James jogou a cabeça para trás enquanto gemia
e empurrou o quadril em minha direção. Sua cabeça melada tocou a
minha barriga nua e eu senti a minha boceta babar de encontro à
calcinha. Meu clitóris doía, sensível e excitado.
— Você é lindo — afirmei, dando um beijo em seu peito bem
na altura do coração. Seu pau pulsou em minha mão, me fazendo rir,
e James segurou meu cabelo perto da nuca com uma mão até ter
meus olhos nos seus mais uma vez.
— E você é perfeita pra caralho.
— Não sou. Nem sei direito o que estou fazendo.
— Norah, não tem como você fazer nada errado. Estou me
segurando para não gozar apenas por saber que sua mão está no
meu pau. — James pareceu verdadeiro e eu acelerei um pouco mais
o movimento, antes de passar o polegar pela sua glande e espalhar
a lubrificação que escorria pela sua extensão. O jogador gemeu mais
uma vez. — Você sabe muito bem o que está fazendo.
— Estou seguindo os meus instintos. — Fui sincera e James
sorriu.
— Então eu também vou seguir os meus.
Sua boca cobriu a minha e James nos virou de repente,
fazendo as minhas costas ficarem contra a parede. Gemi em sua
boca ao sentir suas mãos descerem pela lateral do meu corpo até a
minha saia. Ele a ergueu e encontrou a minha meia-calça, descendo-
a pelas minhas coxas junto com a calcinha daquela vez. Senti seus
dedos subindo lentamente pela parte interna da minha coxa,
encontrarem a virilha e seguirem por entre os meus lábios sensíveis
até o meu clitóris.
Gememos juntos daquela vez e ter suas mãos entre as minhas
pernas me impeliu a aumentar a velocidade do meu toque em seu
pau. Usei a outra mão para tocar as suas bolas pesadas e James
mordeu meu lábio, chamando meu nome baixinho antes de abaixar
a cabeça em direção aos meus seios e meter um mamilo na boca.
Não consegui fechar os olhos, mesmo os sentindo pesados pelo
prazer, pois queria ver James fazer aquilo. E eu vi. Ele me olhou
conforme lambia meu bico duro e inchado e enfiava um dedo em
minha boceta, até o fundo.
Eu não sentia dor, apenas um prazer alarmante, que se
espalhava pela minha vagina e atingia cada ponto do meu corpo.
Quando James mordiscou meu mamilo, eu vi estrelas.
— Gostosa.
Sua voz saiu em um grunhido conforme ia para o outro peito e
usava o polegar para massagear meu clitóris em movimentos
circulares e intensos. Eu empurrei meu quadril em sua direção e
James acelerou os movimentos do dedo em meu interior.
— Rebola para mim, Norah... — O jogador subiu com os lábios
pelo meu pescoço até parar em minha boca e eu obedeci. —
Imagine que é o meu pau dentro de você, te comendo bem gostoso,
bem enterrado no seu interior enquanto você rebola.
— Ah, James...
Fechei os olhos, sem suportar o prazer, visualizando tudo o
que ele me dizia. Eu quase podia sentir a pressão da cabeça bruta
do seu pau pedindo passagem em meu interior e me enlouquecendo
de desejo. Precisei segurar a sua ereção com as minhas duas mãos
para não perder o ritmo da punheta. O membro grosso e enorme
pulsou com força e James movimentou o quadril em minha direção
mais uma vez.
— Imagine, Norah, ele indo até o fundo e voltando,
arrombando essa bocetinha pequena e delicada que você tem —
sussurrou enquanto me comia com mais força com o dedo, indo até
o fundo e voltando, seu polegar não deixando meu clitóris em paz.
— Está tão ansiosa quanto eu para que isso aconteça?
Abri os olhos e encarei o sorriso safado em seus lábios. Um
gemido rouco escapou por eles quando eu aumentei a velocidade da
punheta, sentindo seu pau enrijecer ainda mais, ficar duro como
uma barra de ferro.
— Sim, eu estou ansiosa. Quero viver tudo com você, James.
— E você vai — garantiu, me segundo mais firme pelos
cabelos perto da nuca. — Estamos apenas começando, Norah.
James selou a promessa com um beijo e eu me perdi na
sensação dos seus lábios nos meus, dos seus dedos em minha
boceta, me comendo, tocando meu clitóris inchado e sensível, a
velocidade aumentando gradativamente e minando a minha
consciência. Deixei de ser racional e me entreguei a James, tocando
seu pau com mais força, sentindo-o melar a minha barriga e pulsar
em minhas mãos.
Nós gememos juntos e o orgasmo me pegou de repente, me
fazendo perder a força nas pernas. James tirou a mão dos meus
cabelos e me agarrou pela cintura, me mantendo firme entre o seu
corpo e a parede enquanto eu gozava em sua mão, meu canal
vaginal sugando seu dedo para dentro de mim, meu clitóris pulsando
sem parar. James não parou de me beijar e ter a sua língua na
minha só potencializou a sensação enlouquecedora do orgasmo.
Quando a onda avassaladora passou, eu mordi seu lábio
inferior e me afastei, olhando para baixo. A glande de James estava
mais inchada e lubrificada, e sua voz rouca soou em meu ouvido
assim que ele terminou de mordiscar o lóbulo da minha orelha.
— Vou gozar, Norah.
Minha boceta sofreu um espasmo como se eu não tivesse
acabado de ter um orgasmo, e James gemeu, sentindo tudo, pois
ainda mantinha o dedo bem enterrado dentro de mim. Ele encostou
a testa na minha e lambeu os meus lábios, movimentando o quadril,
gemendo grave e baixinho, até meu nome sair mais alto dos seus
lábios e o primeiro jato do seu esperma molhar as minhas mãos e
barriga.
Eu gemi com ele, surpresa e cheia de desejo, e não pude
piscar enquanto James gozava e gemia rouco, roçando a glande em
minha barriga e me cobrindo com a sua porra grossa, branquinha e
quente. Ele não parou. Permaneceu duro enquanto jorrava, e tomou
a minha boca na sua quando terminou, me dando um beijo firme
com muita língua e mordidinhas.
Eu continuei a tocá-lo por mais um tempo, assim como James
permaneceu com a mão entre as minhas pernas. Não queria me
afastar dele, mas sabia que precisava. Logan chegaria em breve e
sabia que James e eu tínhamos muita coisa para conversar. Ele
deixou a minha boca e encostou a testa na minha, ofegante e
suado, se recuperando do orgasmo assim como eu.
— Vou terminar tudo com Mason — soltei de repente, ainda
com o seu pau em minhas mãos e seu dedo enterrado em minha
boceta.
James afastou o rosto do meu e o alívio que vi em sua
expressão me tocou profundamente.
— Isso significa que você acredita em mim? Sobre Megan?
— Se eu não acreditasse, não estaria com você agora. —
James soltou uma respiração profunda assim que me calei. —
Sempre confiei em você, James, só fiquei insegura e com ciúmes.
Pensei que eu tinha entendido tudo errado sobre os seus
sentimentos por mim.
James tirou lentamente o dedo do meu interior, me fazendo
gemer baixinho, pois estava sensível, e segurou a minha cintura com
a mão que antes estava entre as minhas pernas.
— Eu entendo, nós não tínhamos conversado ainda, eu
esperava contar tudo para você no restaurante, mas Megan surgiu
de repente um pouco antes de você chegar. Ela me mandou uma
mensagem essa semana por um número desconhecido, mas eu
bloqueei, e hoje à noite, não quis ouvir o que tinha para me dizer.
Ela tocou meu rosto na tentativa de me fazer ouvi-la, mas eu não
quero mais nada com Megan, Norah. Nunca quis desde aquela noite
em que rompi tudo com ela.
— Eu sei disso. — Subi minhas mãos pelo seu corpo até tocar
o seu peitoral. — Como ela sabia que você estava no restaurante?
— Não faço ideia, mas o pai dela é o prefeito da cidade e tem
muitos seguranças, talvez ela tenha colocado um deles para seguir
os meus passos.
— Isso é muito preocupante, James. O que acha que ela quer
com você depois de todo esse tempo?
Megan e James estavam separados há quase um ano e, desde
então, ela nunca mais tentou entrar em contato com ele, nem
mesmo nas primeiras semanas após o término para tentar uma
reconciliação.
— Não faço ideia, mas também não tenho a menor a vontade
de descobrir. Se ela aparecer no meu caminho de novo, vou
denunciá-la para a polícia. Talvez Megan pense que eu não vou fazer
nada apenas porque aceitei manter segredo sobre a sua traição e
por ser filha de quem é, mas está enganada. Minha condição para
não colocar a boca no mundo naquela época, justamente quando o
seu pai estava prestes a ser eleito, foi a promessa dela de se manter
longe do meu caminho. Se ela quebrar isso, eu não serei tão
condescendente de novo.
— Sim, você está certo. Ela precisa parar com essa
perseguição.
James concordou com a cabeça e tocou em meu rosto,
olhando bem fundo dentro dos meus olhos.
— Só você importa para mim, Norah, nada mais. Sei que
temos um caminho a percorrer e que não será fácil por conta do seu
irmão, mas não vou desistir de você.
— Também não vou desistir de você — garanti, mesmo que
sentisse medo da reação de Logan e que a amizade entre ele e
James corresse perigo.
— Eu te amo — sussurrou o jogador e eu suspirei, ainda sem
acreditar que o seu amor era como o meu.
— Eu te amo — retribuí a declaração e o beijei.
Marquei um encontro com Mason na cafeteria da faculdade,
mas ele insistiu para que almoçássemos juntos e decidi aceitar.
Sentia que devia aquilo a ele, uma conversa justa e não um
encontro rápido em um café. Eu estava triste por saber que
provavelmente iria magoá-lo, mas se antes eu já sentia que
precisava colocar um ponto final em nosso envolvimento, agora que
James e eu nos declaramos um para o outro, eu tinha certeza.
Pelo menos ter passado aquela manhã com John e contado
tudo para ele me ajudou a ficar mais calma. Meu amigo só faltou
gritar no meio do campus que sabia que tinha razão desde o início
sobre James e eu, me arrancando uma série de risadinhas, e me
acalmou sobre Mason. O fato de não termos começado a namorar
me deixava menos aflita. Teria sido bem pior se o tight end tivesse
me feito o pedido oficial.
Após a primeira reunião de elenco com a Sra. O’Neal, eu fui
direto para o restaurante em um dos hotéis do pai de Mason. O
maître me levou até a mesa onde o jogador já esperava por mim. O
sorriso alegre que Mason me deu ao me ver me deixou com um
aperto no peito, que piorou quando eu esquivei o rosto e não permiti
que beijasse a minha boca, algo que já estava acostumado a fazer
todas as vezes que nos encontrávamos. Nós nos sentamos de frente
para o outro e observei a confusão em sua expressão.
— Aconteceu alguma coisa?
Esperei que o garçom deixasse o cardápio conosco e se
afastasse antes de responder:
— Preciso ter uma conversa séria com você, Mason.
— Norah, se for sobre a nossa última conversa, preciso que
você me deixe falar primeiro. — Pensei em negar, afinal, seria inútil
ouvir qualquer coisa que ele tivesse para me dizer, mas Mason tocou
a minha mão sobre a mesa e insistiu: — Por favor.
Fiquei sem graça de negar e acabei concordando enquanto
afastava minha mão da dele, que tentava a todo custo entrelaçar os
nossos dedos.
— Tudo bem.
— Eu sinto muito pelo que falei para você naquelas
mensagens, Norah. Sei que me excedi e fui um idiota ao sentir
ciúmes de James. Vocês são amigos há anos e eu não tenho o
direito de desconfiar da relação que há entre ele e você, mas acabei
perdendo a cabeça e sendo mais passional do que racional. Gosto
muito de você e não quero colocar em risco o que temos por conta
de algo tão bobo. Você pode me desculpar?
Eu fiquei um tempo em silêncio, sem saber ao certo como
responder aquilo, porque, no fundo, Mason tinha razão em sentir
ciúmes. Talvez, assim como John, ele conseguisse enxergar algo
entre mim e James que eu me obrigava a ignorar e aquilo me deixou
ainda mais culpada. Se eu não tivesse insistido em mentir para mim
mesma, jamais teria me relacionado com Mason e não me sentiria
uma babaca agora por estar prestes a terminar tudo com ele.
— Não há nada para desculpar, Mason.
— Claro que há, eu fui um imbecil naquelas mensagens,
Norah, não confiei em sua palavra, mesmo me garantindo diversas
vezes que só existe amizade entre você e James.
Existia. Tudo mudou desde sábado à noite, mas eu não
contaria aquilo para Mason. Terminaria com ele deixando meu
envolvimento com James de fora da nossa conversa, primeiro,
porque não queria magoar o jogador e, segundo, porque James e eu
estávamos juntos em segredo ainda.
— Mason, está tudo bem, eu juro.
— Tem certeza?
— Sim, eu tenho.
— Que bom, Norah! — Mason sorriu e voltou a tentar pegar a
minha mão, mas fui mais rápida daquela vez e pousei as duas sobre
o meu colo. Ele franziu o cenho. — Se está mesmo tudo bem, por
que não quer que eu toque em você?
— Porque, como eu disse antes, nós precisamos conversar.
O garçom voltou a se aproximar para anotar os nossos
pedidos, mas Mason o mandou se afastar apenas com um gesto
arrogante de mão. O homem saiu em silêncio e eu fiquei em choque
ao observar a sua falta de educação.
— Sobre o que quer conversar?
Fiquei um pouco irritada. Aquele não era o jeito correto de
tratar qualquer pessoa. Respirei fundo para não me deixar ser
influenciada por aquele sentimento, mas ele me ajudou a ir direto ao
ponto.
— Não podemos mais ficar juntos.
Observei atentamente a reação de Mason e esperei que me
dissesse alguma coisa, mas ele ficou por um tempo em silêncio,
apenas me olhando com as sobrancelhas ainda franzidas. Não
consegui identificar em sua expressão o que ele pensava e, por mais
que seus olhos continuassem tão azuis quanto o céu em um dia de
verão, eles não me passaram nada.
— O quê? — Foi tudo o que me perguntou.
— Não podemos mais...
— Deixe-me reformular a minha pergunta — pediu conforme
apoiava os cotovelos sobre a mesa e se aproximava de mim. — Por
quê? Acho que eu tenho o direito de saber o motivo, certo?
— Claro que sim e eu vou explicar.
— Ótimo. — Ele voltou a se recostar na cadeira e me deu um
olhar sério, quase tão arrogante quanto o gesto de mão para o
garçom. — Estou curioso para ouvir.
— Sinto que estamos indo rápido demais e meus sentimentos
parecem não estar acompanhando o que vem acontecendo entre
nós dois, Mason. O que sinto por você não é forte o suficiente para
que comecemos um relacionamento sério.
Era o melhor que eu podia fazer, pois não queria ser uma
estúpida com Mason e afirmar com todas as letras que eu estava
bem longe de estar apaixonada por ele. Mais um tempo se passou e
percebi como o jogador parecia diferente naquele dia. Geralmente,
Mason era efusivo, falava muito e era compreensivo. Seu jeito calado
e quase enigmático estava me pegando de surpresa.
— E você descobriu tudo isso nesses três dias em que ficamos
afastados?
— Foi o único momento que eu tive para pensar.
— Para pensar sozinha ou com a ajuda de alguém?
— O quê?
— Eu acredito que as pessoas à nossa volta influenciam muito
a nossa forma de pensar e agir. Por que você acha que casais
apaixonados não conseguem ficar longe um do outro, Norah? Porque
o fato de estarem juntos faz com que o sentimento ganhe força. —
Mason voltou a apoiar os cotovelos na mesa e me deu um sorriso
parecido com todos os outros que sempre me dava, gentil e amável.
— Acredito que você está confusa, linda, justamente por estarmos
afastados nesses últimos dias. Vamos fazer o seguinte. Meu pai vai
passar a semana na cidade e seu jatinho estará disponível durante o
final de semana. Que tal viajarmos juntos? Tenho certeza de que
essa dúvida sobre o que sente por mim vai passar rapidinho.
Eu pisquei, me sentindo confusa de verdade ao ouvir aquele
discurso sem sentido de Mason. Ele me olhava como se tivesse
acabado de ter a melhor ideia do século e eu me sentia incrédula,
processando suas palavras em minha cabeça. Percebi que eu deveria
ser mais clara com ele.
— Mason, acho que não me entendeu. Eu não estou confusa.
— Sim, você está.
— Não, Mason. Eu simplesmente não estou apaixonada por
você.
O sorriso sumiu gradativamente dos seus lábios, seus olhos
deixaram aquele brilho perspicaz de lado. Eu me senti culpada, mas,
ao mesmo tempo, um peso saiu das minhas costas. Eu não
precisava mais enganar a mim mesma em relação a Mason.
— Está mentindo — Mason acusou. Não foi uma pergunta,
mas uma afirmação.
— Por que eu mentiria sobre isso?
— Não sei, mas percebe que não faz sentido, Norah? Estamos
saindo juntos há semanas, eu mal consigo tirar você da minha
cabeça, falei para mim mesmo que eu poderia conciliar o futebol
com o nosso relacionamento, passei por cima das regras do seu
irmão para poder ficar com você e agora vira para mim, do nada, e
diz que não sente o mesmo que eu? Isso não pode ser verdade!
Eu senti o sangue ser drenado do meu rosto aos poucos,
ficando realmente arrependida por ter entrado no caminho de
Mason, apesar de saber que eu não fiz nada de forma proposital.
Acreditei de verdade que eu poderia me apaixonar por ele, que o
sentimento se tornaria real em meu peito conforme o tempo fosse
passando, mas simplesmente não aconteceu.
— Mason, eu sinto muito, de verdade. Nunca quis magoar
você e é justamente por isso que estou aqui agora, sendo sincera
sobre os meus sentimentos antes de darmos o próximo passo sobre
o que estava acontecendo entre nós dois.
— “Estava acontecendo entre nós dois”. — Ele soltou uma
risadinha amarga e jogou o guardanapo de pano em cima da mesa
com frustração. — Você já está falando no passado, Norah. Quer
mesmo que eu acredite que se importa com os meus sentimentos?
— É claro que eu me importo, Mason. Você é especial para
mim. Sei que é um cara maravilhoso, sempre me tratou bem e foi
incrível comigo...
— Mesmo assim, você não conseguiu se apaixonar por mim.
— Ninguém manda no coração, Mason.
— E se mandasse, você escolheria se apaixonar por mim? —
Eu fiquei em silêncio, porque sabia que Mason não gostaria da
minha resposta. Apesar disso, ele entendeu muito bem qual seria e
riu mais uma vez. — Eu devo ser mesmo um idiota.
— Não, você não é. — Insisti e, daquela vez, fui eu que toquei
a sua mão. — Eu apenas não sou a garota certa para você, Mason.
Tenho certeza de que ainda vai encontrar alguém especial.
— Não quero outra pessoa, Norah, eu quero você! — Ele
entrelaçou nossos dedos com uma força desnecessária,
desesperado. — Por favor, reconsidere. Me dê mais uma chance. Nós
vamos no seu ritmo, prometo que nunca mais irei insistir para que
passemos a noite juntos, esqueça meu convite sobre a viagem de
final de semana, esqueça tudo de idiota que já fiz e aceite ficar
comigo de novo, por favor.
— Eu não posso — murmurei, puxando minha mão de volta.
Mason trincou a mandíbula e fechou as mãos em punhos.
— É por causa de James, não é? Eu nunca me enganei, você
realmente gosta dele.
— Mason...
Eu ainda tentei negar, mas Mason ergueu a mão, fazendo eu
me calar.
— Não precisa mentir ou assumir nada, Norah, eu já sei.
Qualquer idiota que observasse com um pouquinho mais de atenção,
perceberia a verdade, mas eu quis me enganar.
— Você está errado.
— Não estou. — Mason se ergueu de repente e o barulho da
cadeira se arrastando no chão ecoou pelo restaurante chique. — Seu
irmão permitiu que eu me aproximasse porque eu não era nada para
ele, mas James? — Mason quase sorriu ao sacodir a cabeça. — Acho
difícil que Logan entenda que seu melhor amigo está apaixonado
pela sua irmãzinha.
Pegando-me completamente de surpresa, Mason saiu de trás
da mesa e deu a volta até parar ao meu lado. Deixou um beijo em
minha bochecha e sussurrou em meu ouvido:
— Boa sorte, Norah, você vai precisar.
O jogador saiu e me deixou sozinha no meio do restaurante,
completamente atônita e, se fosse sincera comigo mesmo, com
medo. Porque, no fundo, Mason tinha razão em cada palavra que
disse.

Era difícil olhar para Logan sabendo que eu estava o


enganando de novo — daquela vez, de um jeito ainda mais sério e
profundo. Nem mesmo para Benjamin eu quis contar que estava me
envolvendo com Norah, porque decidimos esperar um pouco mais
para conversar com o seu irmão e eu não queria que Ben se sentisse
culpado por estar nos acobertando.
Eu queria conversar com Logan e contar tudo, assim como
Norah, mas nós dois chegamos a um acordo tácito de que
queríamos aproveitar, pelo menos um pouco, aquela fase de
mudança do nosso relacionamento antes que a bomba explodisse e
tivéssemos que lidar com o temperamento explosivo do quarterback.
No entanto, eu sabia que não conseguiria manter segredo por muito
tempo, porque Logan era meu melhor amigo e esconder algo tão
sério dele me dava vontade de cortar meus próprios pulsos.
Aquela semana foi difícil. Eu estava dividido entre ser um filho
da puta com o meu melhor amigo e tentar controlar o desejo que
sentia pela minha garota. Estar no mesmo cômodo que Norah e não
poder beijar a sua boca ou tocá-la de forma íntima estava acabando
comigo. Aproveitávamos qualquer momento sozinhos para curtir um
pouco mais o outro, mas não chegamos tão longe quanto nós dois
queríamos.
Eu sentia que tudo mudaria quando fôssemos juntos para a
minha casa em Aspen, mas a culpa por querer viajar com Norah por
um motivo além do que apenas tirar fotos suas para o trabalho da
faculdade, estava me matando. Eu sabia que não podia desabafar
com Benjamin e, fora ele, eu confiava apenas em Logan para falar
sobre a minha vida privada — além de Norah, que era o centro de
toda aquela questão —, e precisava muito conversar com alguém e
colocar todas as minhas dúvidas para fora. Por isso, fui atrás da
minha avó.
Saí do treino de campo naquela quarta-feira gelada e fui direto
para a casa dos meus pais. Os dois estavam fora, mas minha avó já
aguardava por mim, pois eu mandara uma mensagem para ela mais
cedo, avisando que a visitaria. Assim que me viu, ela ergueu aquelas
sobrancelhas bem-feitas e me olhou com atenção, parecendo
enxergar dentro de mim. Nós nos abraçamos e me sentei ao seu
lado no sofá.
— Diga-me, o que aconteceu?
— Vovó, desse jeito fica parecendo que eu só venho visitá-la
quando preciso de alguma coisa.
— Deixe de besteira, sabe que isso não é verdade. Eu apenas
sei quando meu neto vem atrás de mim em busca de um conselho.
Eu sorri, me dando conta de que minha avó tinha uma
sabedoria única. Ela poderia ser implacável quando queria alguma
coisa, gostar de tudo à sua maneira, mas parecia sempre saber o
que estava acontecendo à sua volta. Como ela mesma dizia, via
coisas que ninguém mais conseguia ver.
— A senhora tinha razão. Eu amo a Norah, vovó. — Seus olhos
se arregalaram e sua boca caiu aberta. Sua expressão de surpresa
me deixou confuso. — Por que está me olhando assim? A senhora
mesmo deixou claro diversas vezes que já sabia disso.
— Sim, eu sabia. Estou chocada com o fato de você ter
descoberto isso antes que Norah completasse dez anos de casada
com outro homem e estivesse prestes a parir o terceiro filho dele!
— Meu Deus, vovó. — Eu gargalhei, mesmo sendo um assunto
sério. — A senhora não existe, sabia?
— Eu existo sim, meu querido, e estou feliz por estar viva e
com saúde para ver você conquistando o amor da sua vida. — Ela
sorriu e deu um tapinha em minha mão. — Norah já sabe? Porque
aquela menina é louca por você, se ainda não contou para ela, está
perdendo o seu tempo aqui comigo.
— Sim, ela já sabe.
— Mas isso é um milagre! Você fez tudo sem que eu
precisasse armar mais nenhum plano para juntar os dois! Não
acredito nisso, preciso contar para Meredith!
— Vovó, por favor, deixe que Norah decida quando contar para
a avó dela.
— Sim, é claro, você tem razão. — Ela balançou a mão, como
se tivesse extrapolado na empolgação, mas eu tinha certeza de que
ligaria para a avó de Norah e contaria tudo assim que eu fosse
embora. — E por que está aqui e não com a sua garota, James?
— Porque ainda não contamos para Logan.
— Isso é óbvio, se tivessem contado, eu saberia.
— Claro, a senhora e a avó de Norah não param de fofocar
nem por um segundo.
— Não fofocamos, apenas trocamos informações. Agora, me
diga, vai deixar que mais tempo se passe ficando longe de Norah,
quando poderia estar agora mesmo com ela?
— Como eu disse, ainda não contamos para Logan e...
— E daí? Logan tem a vida dele, que está muito bem
resolvida, inclusive! Você precisa focar na sua vida e no seu
relacionamento com Norah.
— Mas a senhora sabe o que Logan pensa sobre isso, vovó.
Estou com medo da reação dele quando contarmos tudo.
— Você vai contar para ele agora?
— Não agora, mas em breve.
— Então, deixe para se preocupar com isso quando o
momento chegar. — Minha avó segurou a minha mão. — Meu pai
sempre foi muito rígido comigo sobre garotos. Na minha época era
tudo diferente, não era certo uma menina beijar a boca de um rapaz
que não fosse seu namorado e, mesmo quando firmavam
compromisso, sexo só poderia acontecer depois do casamento. Era
terrível! Sabe o que fiz?
— Não, mas juro que não ficarei surpreso quando me contar.
Minha avó riu.
— A janela do meu quarto dava para a lateral da minha casa e
a construção era baixa, portanto, eu conseguia fugir sem que meus
pais percebessem. Uma noite, eu escapei pela janela, entrei no carro
do seu avô e fizemos amor pela primeira vez no banco de trás do
veículo. Foi um dos momentos mais especiais da minha vida. Por ele,
sempre valeu a pena correr todo tipo de risco, porque eu sabia que
seu avô era o amor da minha vida. Ele não me desonrou ao tirar a
minha virgindade, ele me amou naquela noite e continuou a me
amar até o seu último dia de vida.
Vovó se emocionou e eu beijei a sua mão.
— Estou te contando isso para que saiba que, quando fazemos
algo por amor, tudo vale a pena. Ficar com Norah nesse momento
não é uma traição a Logan, é ser fiel aos seus sentimentos. Pare de
pensar um pouco nas outras pessoas e pense em si mesmo e na
garota que você ama, James. Deixe para se preocupar com os
problemas quando eles baterem na sua porta.
Eu concordei com a cabeça, sentindo parte da minha culpa
desaparecer. Ela ainda existia, é claro, mas minha avó tinha razão.
Passei tempo demais ignorando meus sentimentos por Norah por
causa da minha fidelidade a Logan, mas agora que eu confessara
para mim mesmo e para a minha garota o que eu sentia, não
perderia mais tempo. Eu agarraria cada chance que tinha para ficar
com ela antes que a tempestade chegasse.
— A senhora tem razão.
— Claro que eu tenho. Os mais velhos sempre têm razão.
Agora saia daqui e vá ficar com Norah!
— Farei isso, preciso apenas de um favor da senhora antes.
Saí da casa dos meus pais com a chave da casa de Aspen em
mãos e a certeza de que faria com que aquele final de semana fosse
tão memorável para mim e para Norah, quanto aquela noite especial
era para a minha avó.
Eu havia ido apenas duas vezes na mansão de inverno dos
McHugh em Aspen, no Colorado, quando era criança. Tinha poucas
memórias do lugar, mas uma delas era especial. Com a ajuda de
Logan e James, eu consegui fazer o meu primeiro boneco de neve e
ainda conseguia me recordar da alegria infantil que senti quando
enfiei uma cenoura no centro do seu rosto. Lembrar daquele
momento enquanto entrava na casa luxuosa, toda em madeira e
vidro, me trouxe um sorriso no rosto e uma sensação indescritível de
saudosismo.
Olhei para James enquanto ele deixava as nossas malas em
um canto na sala e me dei conta, mais uma vez, de como ele
sempre esteve em minha vida, fosse nos momentos mais
importantes ou não. Como pude, um dia, pensar que o sentimento
que eu tinha por ele permaneceria igual com o passar dos anos? Era
óbvio que eu me apaixonaria por aquele homem incrível quando me
tornasse mais velha, simplesmente porque não podia ser diferente.
Meu coração jamais escolheria outra pessoa para amar que
não fosse James.
Ele começou a caminhar em minha direção com um sorriso
desenhando seus lábios bonitos. Havia uma tranquilidade nos olhos
de James que eu não via há bastante tempo e aquilo me acalmava.
Eu sabia que estávamos apenas adiando o momento em que
precisaríamos encarar meu irmão, mas queria deixar para me
preocupar com aquilo quando chegasse a hora de contar tudo para
Logan.
Naquele momento, há muitos quilômetros de distância do
Alabama, em uma casa que ficava em meio a montanhas cobertas
por neve, eu queria apenas me entregar para James e aproveitar
cada segundo ao seu lado. Suas mãos cercaram a minha cintura e
me puxaram de encontro ao seu corpo alto e forte.
— O que você quer fazer agora? Andar um pouco pela cidade
ou tirar essa roupa e pousar nua para mim?
Eu não consegui segurar a risada.
— Posar nua para você? Até onde me lembro, você disse que
eu posaria com roupa.
— Isso foi antes de você me seduzir.
— Eu o seduzi? Como?
— Com esses olhos bonitos. — James aproximou a boca das
minhas pálpebras, me fazendo fechá-las para que pudesse deixar
um beijo sobre os meus olhos. — Essas bochechas que ficam
coradas quando você está excitada ou com vergonha. — Ele deixou
um beijo sobre elas e abri os olhos a tempo de ver o seu sorriso. —
Essa boca esperta e deliciosa, que sempre diz coisas que tiram a
minha paz e me deixam de pau duro.
James me beijou lentamente, de uma forma sensual e que
espalhou arrepios pelo meu corpo. Eu não podia mentir, estava
excitada desde o momento em que saímos de casa e entramos no
jatinho da sua família. A expectativa pelo que aconteceria naquele
final de semana estava me deixando ansiosa, mas não nervosa. Eu
sabia que não voltaria virgem para o Alabama e o medo que sempre
senti ao pensar em minha primeira vez, simplesmente havia
desaparecido, pois eu sabia que me entregaria para o homem da
minha vida.
Meus lábios escaparam da boca de James após ele deixar uma
série de mordidinhas nele e tomei a minha decisão.
— Acho melhor concluirmos o seu trabalho agora, porque algo
me diz que você nem vai tirar suas câmeras da mala se eu ficar nua
na sua frente.
Foi a vez de James gargalhar e a sua risada ecoou pela sala
grande onde estávamos.
— Entendeu agora por que eu falei que sua boca é esperta? —
Ele tocou em meu lábio inferior antes de me dar mais um beijo e se
afastar. — Vamos comer alguma coisa e aproveitar o resto da luz do
dia para tirar as fotos.
F ​oi o que fizemos. Não éramos os melhores cozinheiros
do mundo, mas nos divertimos na cozinha da mansão enquanto
preparávamos um almoço rápido. Macarrão com queijo, nosso prato
preferido quando crianças. Após deixarmos todas as louças dentro
da máquina de lavar, subimos até o seu quarto e eu perdi o fôlego
com a vista para as montanhas.
Como James dissera, havia uma parede toda de vidro no
cômodo e eu poderia ficar sentada na poltrona que estava ali por
perto por horas, apenas admirando a neve caindo e as montanhas
altas pintadas de branco. Aproximei-me para observar melhor e senti
os braços fortes de James cercarem a minha cintura, seu corpo
quente e cheiroso tocando as minhas costas.
— É lindo, James. Não me lembrava dessa vista.
— Quando você veio aqui com seus pais e Logan, meu quarto
ainda era no segundo pavimento da casa. Apenas quando fiquei
mais velho foi que pedi para que meu pai transformasse o sótão no
meu quarto.
— Que bom que ele permitiu, é o cômodo mais lindo da
mansão.
— Sim, por isso que pensei em fazer as fotos aqui. A neve
caindo lá atrás vai apenas complementar a sua beleza — sussurrou
em meu ouvido, me fazendo rir.
— Você é tão brega quando está apaixonado.
— Não sou brega, sou romântico! — Seu tom era quase
ofendido, mas eu sabia que estava apenas brincando. Virei-me em
seus braços e encontrei seu sorriso.
— Gosto dessa sua versão romântica — confessei, ficando na
ponta dos pés para beijá-lo, mas James afastou um pouco o rosto.
— Pelo seu olhar, imagino que goste mais da minha versão
que sussurra putaria no seu ouvido enquanto toco essa bocetinha
gostosa que você tem.
Senti meu rosto ficar quente de vergonha e tesão.
— Isso eu não posso negar.
James sorriu e finalmente me deixou beijá-lo, descendo as
mãos enormes até a minha bunda. Seus dedos apertaram cada
nádega com intensidade, grudando ainda mais o meu corpo ao seu
e me permitindo sentir o início da sua ereção. Senti minha calcinha
ficar ainda mais pegajosa com a lubrificação que voltou a escorrer
do meu canal vaginal.
— Vai logo colocar a roupa que escolhemos enquanto eu
arrumo tudo por aqui, Norah, ou juro que vou te jogar na minha
cama e só deixarei você escapar quando precisarmos voltar para
casa — sussurrou em minha boca com aquela voz enrouquecida que
me deixava ainda mais excitada.
Escapei dos seus braços e fui correndo abrir a minha mala.
Pelos próximos minutos, fiquei me arrumando em seu banheiro
enorme, que tinha até uma jacuzzi onde caberia facilmente quatro
pessoas. Precisei desviar meus olhos dela, pois minha mente já
começou a imaginar James e eu lá dentro, completamente nus.
Vesti a saia longa que escolhemos, em um tecido leve e quase
transparente. Ela tinha fendas nas duas pernas, que começavam
bem acima do início das minhas coxas. Era sensual, mas não vulgar,
assim como o top rendado que fazia conjunto com a saia. Suas
mangas eram mais grossas e ficavam caídas em meus braços.
Deixei o meu cabelo solto a pedido de James e repeti a mesma
maquiagem do primeiro ensaio que fizemos em casa. Quando deixei
o banheiro, encontrei o cenário praticamente finalizado. Daquela
vez, James havia coberto o chão, que era de madeira, com um
cobertor branco e grosso. Parte da roupa de cama cobria um puf
que ele tinha no quarto, formando uma espécie de encosto para
quando eu me sentasse no chão.
Seus olhos encontraram os meus assim que me aproximei e
senti um friozinho delicioso se espalhar pela minha barriga ao
reconhecer o desejo em sua expressão. James deixou a câmera
fotográfica pendurada em seu pescoço e se aproximou de mim.
— Porra, você está uma deusa, Norah! — Ele me beijou, mas
quando tentou enfiar a língua em minha boca, o afastei.
— Vai borrar o meu batom!
— Não importa, você passa de novo...
Tentou se aproximar de mim, mas não deixei, escapando dos
seus braços.
— Vamos perder a luz do dia. Você é o fotógrafo e sou eu que
preciso te lembrar disso?
— Levando em consideração que sua beleza está me
distraindo, acho justo que você tente colocar a minha cabeça no
lugar.
— Qual das duas?
James me encarou meio boquiaberto e com a sobrancelha
arqueada. Eu ri, excitada e com vergonha, bem do jeito que ele
parecia gostar.
— Não me provoque desse jeito, Norah, ou vai descobrir
rapidinho onde minha cabeça está doida para ficar.
Estremeci com a nossa conversa cheia de duplo sentido e
fiquei mais ansiosa ainda para que James me mostrasse tudo.
Nós voltamos a ficar sérios e o ajudei a ligar todas as luzes e
deixar tudo pronto para o início das fotos. Daquela vez, eu estava
menos nervosa e foi mais fácil começar a posar. James era muito
comprometido e realmente amava a fotografia — talvez tanto ou até
mais do que o futebol. Ele me ajeitou no cenário, posicionando-me
como queria, e começou a sessão, me deixando livre para mudar de
pose e pegando diversos ângulos comigo de pé.
Perdi o fôlego ao ver o resultado de algumas fotos,
percebendo que estava ainda mais bonito que eu imaginara. O
cenário era mesmo todo branco, mas os tons diferentes se
mesclavam e não apagavam um ao outro. A neve caindo do lado de
fora, o céu coberto de nuvens, a cor do edredom no chão, minha
roupa ganhando destaque com a luz natural e artificial do ambiente,
formaram um conjunto espetacular.
James tinha um talento único, algo que não tinha como ser
ensinado de fato. Era um dom que ele apenas aprimorava na
faculdade. Não consegui me controlar e o beijei, muito orgulhosa,
arrancando um sorriso dele ao elogiá-lo. Ele sempre ficava meio
tímido quando alguém reconhecia o seu talento para a fotografia.
— Quero tirar mais algumas fotos com você sentada agora,
pode ser? Use o puf como apoio para as costas.
Eu concordei e me sentei. James se aproximou e arrumou o
meu cabelo, jogando-o por cima do edredom e espalhando os
cachos como se fossem um manto, em seguida, voltou a se erguer e
parou acima do meu corpo.
— Olhos em mim — pediu conforme colocava a câmera na
frente do rosto. — Pode erguer o joelho esquerdo, por favor? Isso...
Você é perfeita, Norah.
Segurei um sorriso e ouvi os cliques suaves da câmera
conforme James batia as fotos. Ele me deixou livre para usar os
braços como queria e comecei a me sentir cada vez mais sensual
conforme ele afastava a máquina fotográfica para me olhar. Seus
olhos pareciam ter vida própria e corriam lentamente pelo meu
corpo, deixando-me mais uma vez excitada e me fazendo perder
parta da concentração.
Decidi que não queria mais posar para o seu trabalho de
faculdade e sim para James. Ele voltou a bater as fotos e, pegando-
o de surpresa, levei minhas mãos até as alças que, agora, estavam
sobre os meus ombros. Desci cada uma lentamente, tirando primeiro
o braço esquerdo de dentro dela, em seguida, o direito. James
afastou a câmera do rosto e me encarou com certa confusão,
arregalando os olhos quando levei minhas mãos às minhas costas e
desabotoei o top, que fechava como se fosse um sutiã.
— Norah... — Sua voz saiu mais grave quando a peça
escorregou pela minha barriga, desnudando meus seios. ­— O que
está fazendo?
— Posando para você.
Ergui meus quadris e me apoiei nas pontas dos pés para poder
tirar a minha saia. James pareceu engolir em seco e eu sorri quando
me livrei da peça de roupa, ficando apenas com a calcinha branca de
renda, que era pequena e deixava muito pouco para a imaginação.
— Norah... — Seu tom soou quase como um aviso e meus
mamilos ficaram ainda mais rígidos. Eu sentia meus seios pesados,
como se o sangue estivesse todo concentrado naquela parte do meu
corpo, além do clitóris intumescido escondido pela minha calcinha.
— Continue, James — pedi, tomando coragem e tocando meus
seios. Gemi baixinho com o golpe de prazer, desejando que fosse
seu toque e não o meu. Desci meus dedos pela minha barriga. — Eu
quero posar nua para você.
Observei o volume crescendo rapidamente no centro da sua
calça e fiquei ainda mais excitada. James limpou a garganta e voltou
a posicionar a câmera na frente do rosto.
— Ninguém nunca vai ver essas fotos — garantiu e eu apenas
concordei com a cabeça.
— Eu sei disso, confio em você.
O primeiro clique soou pelo quarto e eu fechei os olhos por um
segundo, sentindo o desejo me levar à loucura. Mordi o lábio e voltei
a massagear meu seio com a mão esquerda, descendo a outra em
direção a minha boceta. James soltou um gemido rouco quando
enfiei meus dedos dentro da calcinha e rebolei ao me tocar, abrindo
os olhos e o encontrando ainda com a câmera na frente do rosto.
Ele mexeu no que pensei ser zoom da máquina e meu gemido se
misturou à nova série de cliques que soou pelo cômodo.
Meu dedo resvalou em meu clitóris melado e vi estrelas, me
sentindo mais sexy do que nunca. James se ajoelhou de repente
entre as minhas pernas e pediu baixinho:
— Afaste a calcinha. Deixe-me ver o que você está fazendo
com essa boceta gostosa, Norah.
Meu peito subiu e desceu com a respiração ofegante conforme
eu obedecia. Tirei a mão do meu seio e afastei a renda da peça
íntima, revelando meus dedos entre os lábios escorregadios da
minha vagina. James soltou um gemido grave e lambeu os lábios.
Sua mão esquerda tocou o interior da minha coxa, subindo
lentamente até a virilha. Sem que eu esperasse, enfiou um dedo em
minha boceta, me fazendo jogar a cabeça para trás com o assalto de
prazer que se espalhou pelo meu corpo, e voltou a fotografar
enquanto me comia.
— James... — Chamei por ele em um gemido cheio de
necessidade. Meus quadris se ergueram sozinhos em sua direção,
minha boceta engolindo o seu dedo e meu clitóris ficando cada vez
mais sensível.
— Porra, você está escorrendo, Norah... — disse ele, afastando
a câmera do rosto.
— Sim... Eu preciso de você — confidenciei o que James já
sabia. Ergui meu tronco e tirei as mãos do meio das minhas coxas
para tocar em seu rosto. — Quero que me faça sua, James. Agora.
James não perguntou se eu tinha certeza, porque ele sabia
que era aquilo que eu queria. Que foi por ele que esperei todo
aquele tempo, mesmo que não tivesse consciência daquilo. Sem o
menor cuidado, o jogador tirou a corda da máquina do seu pescoço
e a deixou de lado, tirando o dedo da minha boceta e me puxando
com tudo para cima do seu colo. Sua boca atacou a minha em um
beijo faminto, cheio de um desejo primitivo e sensual, que arrancou
o pouco fôlego que eu tinha e me deixou em uma corda bamba.
Eu sentia que podia explodir a qualquer momento, mesmo
tendo uma rasa consciência de que estávamos apenas começando.
James desceu as mãos pela minha cintura até a minha bunda,
apertando com força as nádegas e me fazendo roçar em sua ereção
dura ainda escondida sob a calça jeans. Gemi com a fricção
poderosa em meu clitóris, rebolando sobre o seu colo enquanto o
beijava com paixão, meu coração batendo forte no peito, uma fina
camada de suor cobrindo a minha pele, mesmo que lá fora o mundo
estivesse congelando.
Devagar, James me deitou sobre o edredom e mordeu o meu
lábio inferior antes de se afastar. Ele pairou sobre mim e desceu o
olhar pelo meu corpo, em uma carícia ainda mais íntima do que
quando me tocava. Eu fiquei arrepiada apenas por ser o alvo do seu
desejo mais íntimo e profundo. Senti minha alma se conectando à
dele naquele momento quando seus olhos voltaram a encontrar os
meus.
— Eu não sabia que ansiava tanto por esse momento até
agora, Norah — sussurrou. Seus dedos tiraram alguns fios de cabelo
do meu rosto e meus olhos ficaram rasos d’água. — Não fazia ideia
de que passei todos esses anos apenas aguardando a hora certa
para amar você e te fazer minha, muito menos que eu já era seu
desde o dia em que entrou em minha vida. Mas aqui estamos agora
e eu nunca abrirei mão de você. Estaremos juntos pela eternidade,
Norah, até depois que eu fechar os meus olhos e nunca mais os
abrir. Essa é a dimensão do meu amor por você.
Meu queixo tremeu e não pude impedir que algumas lágrimas
escorressem pela lateral do meu rosto. James as secou com os
lábios e eu aproveitei para tomar seu rosto em minhas mãos e falar
olhando em seus olhos:
— Eu sou sua, James. Para sempre.
Seus lábios voltaram a encontrar os meus e nosso beijo foi
repleto de amor e saudosismo. Um saudosismo que me fazia lembrar
do tempo que passamos lado a lado, mas aprisionando o que
sentíamos verdadeiramente um pelo outro. Foi emocionante e
sincero, um dos beijos mais bonitos que já trocamos, mas logo se
transformou em mais. Meu sangue parecia fogo líquido em minhas
veias e me senti ansiosa para ir até o fim.
Ajudei James a se despir, livrando-o da blusa de manga
comprida que usava e seguindo para a sua calça e cueca. Ele ficou
completamente nu, a luz do dia que entrava pela parede de vidro
fazendo sua pele negra brilhar bem diante dos meus olhos e
parecendo deixar o seu pau grande e grosso ainda mais imponente.
Eu o toquei, sentada sobre o edredom com James ajoelhado entre
as minhas pernas, e ele voltou a me beijar, gemendo baixinho e
rouco conforme sentia minhas mãos em seu membro duro e
pulsante.
Sua cabeça babava e parecia ainda mais inchada e sensível
naquele dia, pois James estremeceu quando meu polegar rodeou
aquela parte em específico. Espalhei a sua lubrificação e toquei para
cima e para baixo, sentindo as veias dilatadas espalhadas pelo seu
pau.
Eu ficaria daquele jeito por muito mais tempo, apenas
masturbando-o e ouvindo seus gemidos, mas James logo voltou a
pesar o corpo sobre o meu e me fez voltar a deitar sobre o
edredom. Sua boca desceu lentamente pelo meu pescoço,
espalhando chupões e mordidas, até seus lábios se encontrarem
com meus seios. O jogador não teve pressa, roçou meus mamilos
sensíveis com os dentes antes de mordiscar cada um, e só depois
fechou os lábios sobre o bico duro, me fazendo arquear as costas
em sua direção.
Eu olhei para a neve caindo do lado de fora e gemi, ficando
com a visão embaçada pelo prazer conforme James mamava em
cada um dos meus seios e levava a outra mão ao meio das minhas
pernas. Pensei que iria me tocar, mas ele fez melhor do que isso.
Tomou seu pau na mão e fez a glande acariciar a minha boceta por
cima da calcinha, roçando a renda melada em meu clitóris.
— Meu Deus, James...
O filho da mãe sorriu e eu quase gozei. Estava com tanto
tesão, que meu corpo sofria espasmos. Senti meus olhos começarem
a pesar com a sensação avassaladora de prazer, mas James segurou
o meu cabelo perto da nuca e ergueu um pouco a minha cabeça.
— Abra os olhos — pediu de repente, seus lábios roçando em
minha bochecha. Lutei para atender o seu pedido e encontrei seu
rosto pairando sobre o meu. Minhas mãos estavam em suas costas e
nem tinha me dado conta de que minhas unhas estavam fincadas
em sua pele. — Quero que afaste a calcinha e deixe essa bocetinha
nua para o meu pau, Norah. — Seus dentes morderam o meu lábio
devagar. James sussurrou entre eles: — Vamos, faça isso.
Minha mão estava trêmula, mas fiz como pediu e afastei minha
calcinha para o lado. James enfiou a língua em minha boca e me
deu um beijo rápido e intenso, antes de se erguer entre as minhas
pernas e voltar a tomar o pau grande em sua mão. Mordi o lábio e
gemi abafado quando roçou a cabeça inchada e bruta entre os lábios
da minha vagina, pressionando levemente a minha entrada antes de
subir em direção ao meu clitóris.
O contato tão íntimo me deixou sem fôlego, o prazer me
pegando completamente de surpresa. A visão era pornográfica e a
sensação que eu tinha, era de que não suportaria a carícia por muito
tempo. Sua glande lisa escorregou para cima e para baixo em meu
ponto mais sensível e excitado, me deixando à beira de um orgasmo
avassalador. James gemeu junto comigo e subiu a outra mão até o
meu pescoço, inclinando-se um pouco sobre o meu corpo e me
aprisionando com o seu calor e o seu pau entre as minhas pernas.
— Essa bocetinha é minha, Norah. Sabe disso, não é? — Eu
apenas concordei com a cabeça, mas James não pareceu satisfeito.
Ele parou a carícia do seu pau em meu clitóris, me deixando
desesperada por mais. — Responda, gatinha. Quero ouvir a sua voz.
— Sim. — Toquei em sua cintura estreita, arranhando seus
quadris com as unhas. — Você sabe que sim. Continue, James, por
favor.
— Você nunca precisa implorar para mim — disse baixinho,
inclinando-se ainda mais para roçar a boca na minha. — Estarei
sempre pronto para comer você e te fazer gozar, Norah. É só me
olhar e eu arrumarei um jeito de estar dentro de você no minuto
seguinte.
Eu ofeguei, porque sabia que James cumpriria aquela
promessa safada sem nem pensar uma segunda vez. Ele me beijou
novamente, voltando a roçar o pau em meu clitóris, e eu movi o
quadril em sua direção, sentindo-o soltar a base do membro e deitar
o corpo sobre o meu, sem soltar o seu peso, e começar a
acompanhar os movimentos do meu quadril.
Senti que James estava me comendo sem estar dentro de
mim. Seu pau agora estava pressionando completamente entre os
lábios sensíveis da minha boceta, indo para cima e para baixo, me
permitindo sentir cada espasmo que sofria, a curva bem-desenhada
da sua cabeça bruta acariciando meu clitóris com intensidade.
Minha entrada piscou, jorrando lubrificação, e senti que iria
gozar. James gemeu comigo, mordeu meus lábios, meu queixo, meu
pescoço, até desaparecer de cima do meu corpo e enfiar o rosto
entre as minhas coxas. Ele tirou a minha calcinha em menos de um
segundo e eu soltei um grito quando senti sua língua golpear o meu
clitóris em uma lambida longa e deliciosa.
Ainda tentei segurar, mas quando ele começou a me chupar,
simplesmente explodi em um orgasmo que me fez tremer da cabeça
aos pés de encontro ao edredom. James soltou um gemido
satisfeito, mas não parou de sugar o feixe de nervos inchado para
dentro dos lábios e aumentou a intensidade do meu orgasmo ao
enfiar dois dedos em minha boceta. Eu os suguei para dentro,
sensível, mas muito excitada, e senti uma nova onda de prazer me
atingir, gozando de novo em pouquíssimos segundos. Foi tão
potente, que os músculos da minha barriga ficaram rígidos e
doeram, meu corpo tensionou, meus quadris se ergueram do chão
apenas para esfregar minha boceta em seu rosto.
Eu me sentia escorrer entre as pernas e James segurou minha
cintura com cuidado, parando de chupar meu clitóris e começando a
lamber toda a minha boceta. Cada pelinho do meu corpo estava
arrepiado e me sentia muito sensível lá embaixo, mas o jogador
parecia saber disso, pois evitou o ponto onde eu pulsava e apenas
manteve os dedos dentro de mim em um vai e vem leve e constante
enquanto corria a língua por cada dobrinha da minha vagina.
Toquei em sua cabeça com a mão trêmula, enfiando meus
dedos nos cachos sedosos do seu cabelo, e James ergueu o rosto
para me fitar, deixando um beijo delicado em cima do meu clitóris e
sorrindo ao me ver estremecer.
— Quero passar o dia aqui — disse ele e respirou fundo,
parecendo querer guardar o meu cheiro mais íntimo dentro de si. —
Chupando essa bocetinha e fazendo você perder a voz de tanto
gozar.
— Eu aceito. — Minha voz estava mesmo rouca de tanto gritar
por conta dos orgasmos poderosos que James me dera. — Mas só
depois que você fizer amor comigo.
— Estou fazendo amor com você.
— Só depois que você me comer. — Fui mais explícita e ele
sorriu.
— Estou comendo você, Norah. — O filho da mãe passou a
língua pelo meu clitóris e enfiou os dedos até o fundo em meu canal
estreito e melado, me deixando ainda mais excitada.
— Me comer com o seu pau, James McHugh. — Ele arqueou
uma sobrancelha. — Acha que só você pode falar putaria?
— Não, mas eu amo ouvir cada palavra suja que sai dessa sua
boca bonita. — James se ergueu sobre o meu corpo, mas não tirou
os dedos de dentro de mim. Seu pau ainda mais duro e melado
tocou o meu ventre. — Quer mesmo ir adiante?
— Você sabe que sim. — Tomei seu rosto em minhas mãos e
passei meu polegar pelos seus lábios que ainda brilhavam com o
meu gozo. — Faz amor comigo, James. Seja o primeiro e único
homem da minha vida.
James respirou fundo e pude sentir o seu coração bater tão
forte contra o meu quando começou a me beijar. Meu gosto estava
por toda a sua boca, meu cheiro estava em sua pele e eu nunca me
senti tão viva e pertencente a qualquer outra pessoa. Todo
pensamento se esvaiu, se transformou em fumaça em minha mente,
e meu corpo se abriu quando senti James substituir seus dedos pelo
seu pau, sua glande roçando a minha entrada com cuidado.
Não senti medo da dor, ainda assim, ela me atingiu e minha
vagina se retraiu quando James começou a me penetrar, cedendo
espaços aos poucos para o seu membro tão grande. Foi doloroso,
mas sua boca na minha, seu toque em meu corpo, seu peso
acolhedor sobre o meu, me distraiu, tornou tudo suportável, e James
foi até o fim, tão lento e paciente quanto era possível, parando no
fundo da minha boceta com o pau todo enterrado em meu interior.
Lágrimas escaparam dos meus olhos e percebi que não eram
por conta da sensação ardida lá embaixo e, sim, porque eu estava
emocionada. Porque aquele momento realmente estava acontecendo
e não era mais parte de um sonho que eu acreditava ser louco e
impossível de se realizar. James ergueu a cabeça e secou minhas
lágrimas com o polegar. Seus olhos também brilhavam e havia uma
emoção muito semelhante à minha dentro deles.
— Eu te amo — sussurrou bem pertinho da minha boca, seu
nariz acariciando o meu lentamente. — Prometo que vou viver o
resto dos meus dias para honrar esse presente que está me dando,
Norah.
— A minha virgindade? — perguntei em tom de brincadeira,
mas James ergueu novamente o rosto e olhou em meus olhos.
— O seu coração.
Ofeguei, surpresa e emocionada, completamente sem
palavras. Puxei James para um beijo e ele me deixou ditar o ritmo, a
intensidade e a duração, gemendo junto comigo e pulsando em meu
interior. Bem baixinho, pedi para que se movimentasse com os meus
lábios entre os seus e James me obedeceu, saindo lentamente do
meu interior e voltando, começando a fazer amor comigo com
delicadeza e paixão.
Doía, eu não podia negar, mas havia muito mais do que a
pontada de dor que me atingia. Havia um prazer diferente, que
crescia conforme James roçava o osso púbico em meu clitóris e meu
canal vaginal sofria espasmos, apertando-o dentro de mim, lutando
para contê-lo. Desci minhas mãos pela sua nuca, suas costas
definidas e levemente suadas, até chegar em sua bunda dura,
puxando-o ainda mais para dentro de mim, querendo que fosse mais
rápido e intenso.
James parecia entender os meus sinais e me comeu mais
rápido, sem nunca tirar a boca da minha. Não precisávamos de
palavras naquele momento, não precisávamos de mais nada do que
aquilo ali, seu corpo dentro do meu, suas estocadas deliciosas e
levemente dolorosas em meu interior, minha boceta melada o
acolhendo e o meu clitóris recebendo suas carícias ritmadas. Sem
que eu esperasse, James substituiu seu osso púbico pelos seus
dedos em meu grelinho inchado e senti minha mente rodar, todo o
meu corpo se conectar com o que estava acontecendo entre as
minhas pernas.
Seu ritmo se tornou mais cadenciado e firme, seus dedos
acariciaram meu clitóris com mais vontade e eu o arranhei, sentindo
dor e prazer, meu coração se acelerando, tudo se avolumando
dentro de mim. Uma sensação diferente se apoderou do meu baixo
ventre, não tão intensa quanto quando James me chupou, mas
ainda assim deliciosa, e entendi que iria gozar. Rebolei de encontro
ao seu corpo, com seu pau dentro de mim, e James gemeu mais
alto, chupou a minha língua, me comeu com mais força e eu explodi.
O orgasmo me atingiu e eu chamei por James com sua boca
ainda na minha. Ele não me soltou, não tirou a mão do meio das
minhas pernas, apenas rebolou em meu interior, me fazendo sentir
um novo tipo de prazer e gozar ainda mais gostoso. Quando senti
tudo dentro de mim se acalmar, James tomou meu rosto entre as
suas duas mãos, me beijou mais firme e começou a me comer bem
forte e rápido, gemendo sem parar, sua barriga dura roçando a
minha, seu osso púbico voltando a roçar em meu clitóris, seu pau
parecendo endurecer um pouco mais e exigir mais espaço em meu
interior.
Eu o deixei extravasar todo o seu prazer, pois sabia o que
aconteceria em instantes. Ansiei por aquilo, por sentir James
explodindo como eu explodi e, quando aconteceu, pude jurar que eu
gozei com ele novamente, pois estremeci de encontro ao seu corpo
ao sentir o primeiro jato do seu esperma quente jorrar dentro de
mim. James meteu de forma quase violenta em minha boceta
conforme gozava forte, me enchendo de tesão, derramando-se em
meu interior por segundos que pareceram durar horas.
Eu não queria que acabasse nunca. Poderia sentir James gozar
daquele jeito intenso pelo resto da minha vida.
Ele se acalmou depois de um tempo, assim como eu, mas não
saiu de dentro de mim. Toquei de leve as suas costas suadas, sua
nuca, e quando subi para o seu rosto, James afastou a boca da
minha e ergueu a cabeça para olhar em meus olhos. Ficamos
daquele jeito por longos minutos, o silêncio sendo preenchido com o
nosso amor. Então, lentamente, James saiu de dentro de mim e se
deitou ao meu lado, puxando-me de encontro ao seu peito.
Fechei os olhos e sorri, desejando nunca mais sair dos seus
braços e ser amada daquela forma por ele para sempre.
Senti o mundo voltar a girar lentamente conforme meu
coração diminuía as suas batidas. Do lado de fora, o dia cedia lugar
para a noite e, dentro daquele quarto, eu sentia a minha vida mudar
irremediavelmente. Se antes eu achava que não poderia viver sem
Norah, agora, eu tinha certeza. Provar seu sabor mais íntimo, sentir
seu corpo se entregar completamente ao meu, estar dentro dela, vê-
la gozar tão gostoso diversas vezes, e poder gozar dentro dela
mudou tudo de figura.
Fechei os olhos por um momento, acariciando suas costas e
sentindo seus dedos passearem por meu peito. Então, algo soou em
meu cérebro, como um alerta tardio, e eu me ergui, colocando a
cabeça de Norah apoiada no edredom. Desci meus olhos pelo seu
corpo, notando rapidamente a expressão confusa em seu rosto, e
parei no centro das suas coxas levemente afastadas. Meu pau sofreu
um espasmo. O filho da mãe ainda estava semiereto e o senti
endurecer progressivamente enquanto eu via a minha porra
escorrendo de dentro da boceta de Norah.
— Não usamos camisinha. — Encontrei os seus olhos e os vi
levemente arregalados, como se Norah só tivesse se dado conta
disso naquele momento, assim como eu. Senti-me um idiota
irresponsável. — Norah, sinto muito por não ter lembrado. Estou
limpo, fiz meus exames recentemente por conta do time e não estive
com ninguém desde então, mas isso não é justificativa. Estou me
sentindo um imbecil por ter esquecido o preservativo!
— Ei, tudo bem, James. — Norah sorriu e se sentou. Suas
mãos tocaram em meu pescoço e depois o meu rosto, tentando me
acalmar. — Eu também esqueci, a responsabilidade não era apenas
sua, mas nossa.
— Eu sei disso. — Encostei minha testa na dela, fechando os
olhos por um segundo conforme tocava a sua cintura. — Mas era a
minha obrigação ter lembrado.
— Era minha obrigação também, mas não estou preocupada
com isso. Confio em você e estou protegida, não corremos o risco de
uma gravidez... A não ser que meu anticoncepcional falhe, mas não
acredito que isso vá acontecer.
Fiquei mais tranquilo em ouvir aquilo. Eu queria ser pai dos
filhos de Norah, mas não agora. Éramos novos demais, tínhamos
uma vida para conquistar. Precisávamos dar um passo de cada vez.
— Mesmo assim, se quiser que usemos camisinha, precisa me
falar.
— Você quer usar? — perguntou ela com uma sobrancelha
arqueada.
— Não importa o que eu quero, apenas o que você quer.
— Claro que importa o que você quer. Somos um casal agora,
apesar de você não ter me pedido em namoro oficialmente, e
precisamos decidir tudo juntos.
Eu ri alto com a sua indireta disfarçada e a fiz se deitar
novamente no edredom, pairando acima do seu corpo com as
minhas mãos ao lado da sua cabeça.
— Eu pretendia fazer isso hoje à noite, em um jantar
romântico, mas você é muito apressadinha.
— É verdade? — Seus olhos se arregalaram de surpresa.
— Sim, é verdade. Reservei horário em um dos melhores
restaurantes da cidade... Não acredito que está estragando a minha
surpresa, Norah!
— Ai, que droga! — Ela escondeu o rosto entre as mãos
enquanto ria. — Esqueça o que eu disse e eu vou esquecer sobre o
pedido de namoro durante o jantar, o que acha?
— Acho que agora é tarde demais. Espere aqui.
Deixei um beijo em sua boca e me levantei, caminhando até a
minha mochila no canto do quarto. Peguei uma caixa vermelha de
veludo em tamanho retangular e voltei para onde Norah estava,
observando seus olhos descerem pelo meu corpo e pararem em meu
pau duro, simplesmente ignorando o presente em minhas mãos.
Safada. Podia jurar que aquela bocetinha, mesmo estando dolorida,
já estava com saudade de ser comida por mim.
A garota finalmente percebeu o que eu segurava quando voltei
a me ajoelhar ao seu lado. Ela se sentou e ficou alternando o olhar
entre a caixa em minhas mãos e o meu rosto.
— Ainda não é um anel, mas foi uma forma que encontrei para
tornar esse nosso final de semana ainda mais especial.
Abri a caixa e revelei o colar que comprara para ela no dia
anterior. Era uma corrente de ouro, bem fina, com um pingente de
coração cravejado com pequenas esmeraldas. Elas me lembravam os
olhos de Norah, que, apesar de serem cor de mel, tinham pequenos
raios verdes espalhados pelas irises.
— Minha nossa, James... — Ela tocou no colar com reverência.
— É maravilhoso. Eu nem sei o que dizer.
— Apenas me diga se aceita namorar comigo, mesmo sabendo
que precisaremos enfrentar o seu irmão em breve.
— É claro que eu aceito! — Ela subiu sobre as minhas coxas,
deixando a bocetinha melada de porra muito perto da minha ereção.
Dei risada quando Norah começou a espalhar beijos pelo meu rosto.
— Eu aceito tudo com você, James!
— Tudo?
— Tudo. — Seus olhos bonitos pareciam brilhar ainda mais
enquanto ela sorria. — Eu te amo, James McHugh, e só sairei do seu
lado se um dia você não me quiser mais.
— Esse dia nunca vai chegar — garanti. Tirei o colar da caixa e
pedi para que levantasse os cabelos longos para que eu pudesse
colocar a joia em seu pescoço. Prendi em sua nuca e o pingente
ficou no meio do seu colo bonito. — Ficou perfeito em você.
— Ele nunca mais sairá daqui — prometeu.
Eu acreditei em sua palavra e a puxei para um novo beijo, me
segurando para não começar a fazer amor com ela de novo. Sabia
que devia estar dolorida e não queria machucá-la. Nós ficamos
daquele jeito por um tempo, apenas trocando beijos e carícias, mas
quando percebi que o céu já estava totalmente escuro do lado de
fora, pedi para que fosse se arrumar, pois não queria perder a
reserva no restaurante.
Meu plano era jantar, fazer o pedido de namoro e depois fazer
amor com a minha garota, mas gostei da nossa mudança de rota.
Combinava muito mais conosco simplesmente não seguir um roteiro.
Saímos de casa duas horas depois e fomos direto para o
restaurante italiano que era intimista e pequeno, muito concorrido
na região, principalmente por casais naquela época de inverno. Só
consegui uma mesa porque o filho do dono era um velho conhecido
da minha família, do contrário, teria que levar Norah para outro
lugar.
Ela estava esplendorosa com um vestido manga longa preto
colado ao corpo e sapatos de salto fino. Também me vesti
adequadamente, quebrando o estilo esportivo da minha calça jeans
com um sobretudo azul-escuro.
Eu mal conseguia tirar os olhos de cima de Norah, mesmo
depois de termos escolhido o vinho e os nossos pratos. Minhas mãos
procuravam as suas constantemente por cima da mesa e o colar em
seu pescoço estava me dando ideias. Eu a queria na minha cama,
usando apenas ele, com as pernas abertas para mim e aquela
bocetinha pequena babando na minha boca.
— Por que está me olhando assim? — Norah perguntou, me
trazendo de volta à realidade.
Tomei um gole do vinho e me ajeitei sobre a cadeira, ficando
aliviado pelo guardanapo de pano estar em cima do meu colo,
escondendo o início da minha ereção.
— Assim como?
Observei as bochechas de Norah ficarem coradas e, assim
como eu, ela deu um gole no vinho para disfarçar.
— Você sabe como.
— Acho que eu não sei. Por que você não me diz?
Os olhos de Norah correram pelo restaurante. Uma música
suave tocava ao fundo e, apesar de ser pequeno e acolhedor, havia
uma distância segura entre uma mesa e outra. Ninguém nos ouviria
e eu estava ansioso para ouvir aquela boquinha soltando putaria.
— Você está me olhando como se... estivesse com fome —
murmurou no final e meu pau terminou de endurecer dentro da
calça.
— Deve ser porque eu estou.
— De comida? — Sua sobrancelha se arqueou.
A filha da mãe sabia muito bem a resposta, mas queria ouvir
em voz alta. Tomei sua mão na minha sobre a mesa e a fiz ficar com
a palma aberta e virada para cima. Tracejei um caminho lentamente
desde a área descoberta do seu pulso até o centro da palma
pequena e delicada. Norah estremeceu.
— Estou com fome de você, Norah — falei olhando em seus
olhos, mas os dela estavam fixos nos movimentos do meu dedo no
centro da sua mão. Comecei a fazer círculos pequenos na palma,
bem lentamente. — Estou morrendo de vontade de sentir o seu
gosto na minha língua de novo, sua bocetinha melando a minha
boca enquanto você rebola para mim e implora para gozar.
— James... — Norah se movimentou na cadeira,
provavelmente apertando a coxa uma na outra. Meu pau começou a
babar de encontro à cueca.
— Sabe eu quero, Norah?
— O quê? — Sua respiração estava levemente ofegante e eu
quase podia ver seus mamilos duros sob o tecido grosso do vestido.
— Quero você montada em mim, quicando no meu pau
enquanto mamo gostoso nos seus seios. — Voltei a correr meu dedo
até o seu pulso e subi lentamente de volta para a palma. Seus dedos
sofreram leves espasmos. — Usando apenas o colar que te dei hoje
e gozando bem gostoso para mim.
— Vamos embora — ela pediu de repente, fechando a mão ao
redor do meu dedo. — Vamos fazer isso, James.
Eu sorri e tentei relaxar sobre a cadeira, excitado pra caralho e
doido por ela.
— Não, precisamos jantar antes.
— Não estou com fome.
— Claro que está, apenas almoçamos hoje — respondi com
um sorriso e Norah pareceu quase irritada. Seus olhos se estreitaram
para mim.
— Você não pode me falar tudo isso e simplesmente achar que
eu ficarei aqui sentada, esperando para comer um prato de
macarrão!
— Não é qualquer macarrão, conheço o chef desse restaurante
e ele faz um ravioli espetacular.
— É mesmo? — Sua sobrancelha voltou a se arquear. — Então
acho que eu preciso dar uma passadinha rápida no banheiro e
cuidar da situação em que você me deixou antes que o prato
chegue.
Eu arregalei os olhos quando ela tirou a mão sob a minha e
arrastou a cadeira, prestes a se levantar.
— Norah, o que você...
— Já volto, James.
A filha da mãe soprou um beijo para mim e saiu da mesa
rebolando aquela bunda bonita sob o vestido colado ao corpo. Eu
fiquei boquiaberto por um segundo, sem acreditar que Norah estava
indo ao banheiro para se masturbar.
Ela não faria aquilo, certo?
Levantei-me em um impulso e fechei o sobretudo na frente do
meu corpo para que a minha ereção não escandalizasse os clientes.
Consegui alcançar Norah a tempo de vê-la entrar no corredor vazio
onde ficavam os banheiros. Ela se virou, como se soubesse que eu a
seguiria, e soltou uma risadinha ao entrar no banheiro para
cadeirantes, deixando a porta encostada para mim. Encontrei-a
perto da pia, mordendo o lábio inferior. Passei a chave na porta e
estreitei os olhos.
— Você entrou no banheiro errado — disse ela, colocando para
jogo o seu talento como atriz.
— Você também, ou não viu a placa informando que esse
banheiro é exclusivo para cadeirantes?
Norah arregalou os olhos, falsamente chocada.
— Não percebi! Eu me enganei.
— E me enganou também quando deu a entender que viria
para o banheiro se masturbar?
— Eu dei a entender isso?
Eu me aproximei a passos lentos, mas parei centímetros antes
de o meu corpo cercar o dela.
— Sim, você deu. Vim aqui apenas para ver se eu não me
enganei.
Pensei que Norah continuaria sendo dissimulada, mas ela
apenas sorriu e, para a minha surpresa, ergueu o vestido até a
cintura, revelando a calcinha de renda que usava. Era verde daquela
vez e o centro estava mais escuro por conta da sua lubrificação.
Seus dedos colocaram a lingerie de lado e meu pau doeu quando ela
começou a tocar o clitóris vermelhinho e inchado, separando os
lábios melados da boceta.
— Não se enganou, mas já que está aqui... Você poderia me
ajudar, não é?
Abafei com a mão em sua boca o gemido alto que quase
ecoou pelo banheiro quando a virei de costas para mim, deixando-a
de frente para o espelho acima da pia. Tirei a mão da sua cintura e
joguei seu cabelo longo para o lado, apenas para poder fechar
minha boca sobre o seu pescoço e chupar a pele delicada e
cheirosa. Os joelhos de Norah se dobraram levemente e ela voltou a
gemer abafado por conta do chupão e do meu pau duro
pressionando sua bunda.
— Garotinha safada! Eu queria que tivéssemos um jantar
romântico, mas você está louca por uma putaria, não é, Norah? —
Ela me olhou pelo espelho e concordou com a cabeça, me fazendo
soltar uma risada baixa. — Acho que criei um monstro. — Desci a
minha mão da sua boca para o seu pescoço e puxei seu rosto em
minha direção, colando minha boca na dela. — Controle o volume da
sua voz, porque seus gemidos são só meus. Não sou um homem
que gosta de compartilhar.
Tomei sua boca na minha e abri o zíper da minha calça,
colocando o meu pau para fora antes de descer a calcinha pelas
suas coxas. A peça parou em seus tornozelos e Norah liberou um
deles da tira fina para poder abrir as pernas para mim quando sentiu
minha glande em sua entrada.
— Continue tocando a bocetinha, prometo ir bem devagar, não
quero machucar você.
— Você nunca me machucaria — ela sussurrou, me deixando
mais duro e cheio de tesão com a sua confiança em mim.
Beijei a sua boca para abafar nossos gemidos e curvei um
pouco o seu corpo sobre a bancada para poder penetrá-la. Fui o
mais lento possível, sentindo-a muito apertada, apesar de
escorregadia, seus músculos do assoalho pélvico se contraindo sem
parar. Substituí seus dedos pelos meus em seu clitóris e usei a outra
mão para segurar a sua cintura. Fui até o fundo e parei bem
enterrado em sua boceta, deixando meus dedos trabalharem no
grelinho inchado.
— Está doendo muito?
Norah era virgem até poucas horas atrás, nós nem devíamos
estar transando tão rápido de novo, mas ela me enlouquecia.
Observei seus olhos pesados de tesão pelo espelho e um sorriso se
abriu em seus lábios inchados pelos meus beijos.
— Um pouco, mas não quero que pare. — A filha da mãe deu
uma reboladinha gostosa, me fazendo trincar a mandíbula para não
gemer. — Continue, James. Você disse que eu não precisaria
implorar.
— E não precisa mesmo — garanti em seu ouvido, saindo do
seu interior e estocando de leve. Norah mordeu o lábio com força e
eu esfreguei seu clitóris com vontade, acelerando apenas um pouco
o movimento do meu quadril. — Pode me pedir para parar quando
quiser, amor.
— Não vou pedir.
Algo dentro de mim me dizia que Norah realmente não pediria.
Ela fechou os olhos e se entregou completamente, gemendo
baixinho como pedi e encontrando meus movimentos. Eu meti
gostoso em sua boceta apertada, ficando ainda mais excitado com a
visão maravilhosa do meu pau sumindo e voltando todo melado com
os fluidos dela e meus, nossa essência mais íntima unida daquela
forma.
Norah mordeu a própria mão e eu senti que, apesar de
provavelmente estar dolorida, afinal, eu era grosso e grande demais
e ela era pequena e apertada, a garota estava com tanto tesão por
mim, que estava prestes a gozar. Caprichei no toque dos meus
dedos em seu clitóris durinho, meti firme em sua boceta, sem
violência ou exagero, e precisei me segurar quando minhas bolas
começaram a pulsar em necessidade, um arrepio gostoso se
espalhando pelo meu corpo e anunciando meu orgasmo.
Levantei minha mão da sua cintura para o seu pescoço e a fiz
encostar a cabeça em meu peito, deixando-a na altura ideal para
receber minha língua em sua boca.
— Goza para mim, meu amor. Pode gemer do jeito que quer,
não vou deixar nenhum filho da puta te ouvir.
Tomei sua boca na minha e Norah se segurou em mim pela
nuca, arranhando a minha pele e choramingando mais alto em meus
lábios quando começou a gozar. Não parei de comer a sua boceta ou
de acariciá-la, engolindo seu prazer, sentindo seus espasmos em
meu pau muito duro e sensível dentro dela. Explodi em seu interior
com força, apertando seu pescoço e beijando a sua boca com
violência, enchendo aquela bocetinha deliciosa com o meu sêmen
mais uma vez.
Eu viveria para aquilo, para deixar Norah toda melada com a
minha porra, marcada por mim.
Liberei a sua boca com o pau ainda agasalhado em sua boceta
e Norah me encarou pelo espelho com a respiração ofegante e toda
vermelha, uma expressão deliciosa de quem havia sido bem comida.
Sorri e beijei o seu pescoço suado, saindo lentamente do seu interior
e vendo a sua careta. Aquilo me preocupou.
— Machuquei você? — perguntei, virando-a de frente para
mim.
— Não, mas estou dolorida de verdade agora. Acho que você
não vai poder entrar aqui mais tarde.
Eu sorri ao ver o desapontamento em sua expressão e beijei a
sua boca antes de me ajoelhar na sua frente e colocar novamente a
sua calcinha. Subi com a lingerie pelas suas pernas bonitas, dando
um beijo na junção dos lábios da sua bocetinha antes de escondê-la
das minhas vistas e voltar a me erguer.
— Isso não vai me impedir de fazer você gozar mais algumas
vezes essa noite. Eu tenho dedos muito habilidosos e uma boca que
está morrendo de vontade de chupar você.
— Talvez a minha boca esteja com vontade de fazer o mesmo
com você — disse ela e meu pau, que mal tinha perdido a ereção,
parecia pronto para endurecer de novo. — Mas nunca paguei um
boquete antes, você vai ter que me ensinar.
— Eu sou um ótimo professor, sabia disso? — perguntei,
descendo seu vestido.
— É mesmo? Vamos testar isso mais tarde, Sr. McHugh. Agora
eu acho melhor sairmos daqui.
— Está com medo? Você parecia tão corajosa quando saiu da
mesa.
— Não achei que você me seguiria.
— Norah, você pode ser uma excelente atriz, mas nunca vai
conseguir mentir para mim. Você tinha certeza de que eu a seguiria.
Ela riu e guardou o meu pau dentro da calça, ficando na ponta
dos pés para me beijar. Apesar de estar de salto, sua cabeça ainda
batia na altura dos meus ombros.
— Sim, eu tinha certeza. Não tenho culpa se você é previsível.
— Previsível? Isso é uma ofensa. — Dei um tapa em sua
bunda e Norah tentou conter a risada. — Só por causa disso, vai
passar o resto do jantar toda melada com a minha porra. Não vai se
limpar antes de sairmos daqui.
Norah arqueou uma sobrancelha para mim e se dirigiu para a
porta, me dando um olhar sobre o ombro antes de sair.
— E quem disse que eu queria me limpar?
A garota me deixou sozinho dentro do banheiro e eu precisei
ajeitar o meu pau na calça enquanto ria e dava um tempo para que
ela pudesse chegar à mesa antes de mim.
Ainda bem que meu coração era forte, ou eu não sabia se
continuaria vivo por mais tempo ao lado de Norah.
Acordei naquele domingo com uma vontade imensa de nunca
mais sairmos daquela casa. Sabia que em algumas horas teríamos
que voltar à realidade, mas acordar com Norah em meus braços,
depois de ter passado a noite sendo livre ao seu lado e fazendo
amor com ela era a única realidade que eu queria.
Observei a neve cair lá fora e a abracei mais apertado,
sentindo sua cabeça em meu peito. A única certeza que eu tinha,
era que não abriria mão de Norah, nem mesmo pela amizade de
Logan. Ele teria apenas duas opções quando descobrisse sobre nós
dois: aceitar o nosso amor ou me odiar para sempre. Não queria
perder a sua amizade, Logan era o irmão que meus pais não me
deram, mas se eu tivesse que escolher, não havia a menor sombra
de dúvida de que Norah seria a minha única opção.
Eu esperava que não precisássemos chegar àquele ponto.
Logan podia sentir raiva de mim, poderia até mesmo se sentir traído
por eu ter quebrado a sua confiança, mas teria que entender que o
meu amor pela sua irmã não era um desrespeito a ele. Torcia para
que o quarterback tivesse aprendido algo após a discussão com
Norah e que entendesse que nem tudo girava ao redor do seu
umbigo, apesar de ele ser, sim, importante demais para mim e para
a sua irmã e de eu ter negado o que sentia por bastante tempo
apenas porque não queria desrespeitar a nossa amizade.
— Está acordado há muito tempo?
Tomei um susto ao ouvir a voz de Norah e sorri ao encontrá-la
acordada com a cabeça sobre o meu peito.
— Não muito. Acabei perdendo o sono quando percebi que
uma garota linda estava dormindo nos meus braços.
Norah riu baixinho e acariciou o meu peito.
— Você é tão galanteador, James McHugh. Quem diria?
— Aprendi com a minha avó, ela sempre disse que um homem
precisa ser romântico com a sua garota.
— Lembre-me de agradecer à vovó Emory por isso. — Os
olhos claros de Norah focaram em meu peito antes de encontrarem
os meus. — Não quero voltar para casa.
— Eu estava pensando isso agora mesmo. — Afundei meus
dedos em seus cachos até tocar a sua nuca. — Mas não podemos
fugir, Norah, não agora que estamos juntos.
— Eu sei, mas podemos aproveitar mais um tempinho em
segredo? Eu quero conversar com o meu irmão, mas, ao mesmo
tempo, tenho medo da reação dele e de que a nossa relação fique
abalada por conta disso.
— Não precisa se preocupar sobre nós dois. Não importa qual
seja a reação de Logan, nós continuaremos juntos, Norah. A não ser
que você não me queira mais.
— É claro que eu vou querer você, essa não é a questão, mas
sei que será difícil convivermos como um casal enquanto meu irmão
não nos aceitar.
— Então eu vou procurar outro lugar para ficar. — Os olhos de
Norah se arregalaram. — Não me olhe assim. Aquela casa é muito
mais do seu irmão e sua do que minha, se Logan e eu tivermos uma
discussão séria, eu vou sair, Norah.
— Claro que não, James. Aquela casa é tão sua quanto nossa
e de Benjamin. Você não sairá de lá nem o meu irmão.
Talvez Norah não entendesse, mas, ainda que nós três
fôssemos os donos daquela casa, afinal, a compramos juntos, eu
seria visto por Logan como o errado naquela história. Era o seu
melhor amigo, sabia desde sempre que ele não queria que eu me
metesse com a sua irmã e, ainda assim, estava com ela agora. Não
suportaria ficar na mesma casa que ele sabendo que me odiava.
— Vamos deixar para nos preocupar com isso quando o
momento chegar, ok?
Norah subiu em meu corpo, acomodando a bocetinha nua bem
em cima do meu pau, e cercou a minha cabeça com as mãos. Meus
olhos desceram até os seus seios bonitos e o colar em seu colo.
Senti o início de uma ereção, mas tentei me conter, pois sabia que
Norah ainda estava dolorida.
— Estou falando muito sério, James. Se você pensar em sair
de casa, eu vou com você.
— Não vai, não, seu irmão só vai me odiar ainda mais se isso
acontecer — falei, tocando em sua cintura sob o edredom grosso.
— Isso é problema dele, não meu.
Eu ri com a sua resposta.
— Pensei que você acordaria mais calma depois de ter gozado
duas vezes na minha boca antes de dormir.
— Eu estou calma. — Norah sorriu e, para o meu desespero,
rebolou sobre o meu colo, roçando a boceta em meu pau semiereto.
— Mas vou ficar nervosa e fazer greve de sexo se você pensar em
sair de casa.
— Como é que é?
Eu gargalhei ao ouvir aquilo e Norah se sentou completamente
sobre o meu colo, pegando-me de surpresa ao arrastar a bunda
gostosa até o início das minhas coxas, deixando espaço suficiente
para tomar meu pau nas mãos. Ela me acariciou delicadamente, me
fazendo ficar completamente duro.
— É isso mesmo que você ouviu. Vivi durante vinte anos sem
sexo, posso muito bem fazer um voto rápido de castidade.
— Depois de ter dado essa boceta para mim? Eu duvido,
gatinha. — Toquei em seus seios e Norah mordeu o lábio para não
gemer e me dar razão.
— Eu vou conseguir, sim.
— Preciso lembrá-la de como você estava ontem? Deu para
mim no banheiro de um restaurante e aquela foi só a segunda vez
que fez sexo, Norah. Você é uma safada que não vai saber viver sem
o meu pau.
— Isso é mentira. — Ela ofegou, mas não conseguia parar de
sorrir. — E não se esqueça de que eu estou com o seu pau na minha
mão agora, posso ser bem malvada com ele se eu quiser.
— Ele é todo seu, assim como eu. Pode fazer o que tiver
vontade.
— Posso mesmo? — Norah apertou um pouco mais a base e
subiu apertado até a cabeça. Minha glande começou a babar e meu
corpo ficou arrepiado com o tesão.
— Você sabe que sim.
A garota sorriu e passou o polegar pela cabeça sensível do
meu pau, me fazendo latejar de desejo e apertar com um pouco
mais de força os seus mamilos. Gememos juntos e minha boca caiu
aberta quando Norah levou o polegar melado pelo meu pré-gozo até
os lábios, chupando o dedo de uma forma quase pornográfica.
— É gostoso, mas... — A filha da mãe lambeu o lábio,
deixando-os brilhantes com a sua saliva. — Eu acho que deve ficar
ainda melhor se eu provar direto do seu pau, não é?
Sem me dar tempo para responder, Norah se ajoelhou entre as
minhas pernas e segurou meu pau com as duas mãos, colocou a
língua para fora e deu uma lambida lenta em minha glande, me
fazendo chamar o seu nome em um gemido rouco e longo. Os
músculos da minha barriga se retesaram e Norah me deu um sorriso
safado antes de murmurar:
— Nunca fiz isso antes, você sabe, então, me diga se eu fizer
alguma coisa errada.
— Impossível você errar — falei de um jeito meio desesperado
e toquei em seu rosto. — Só tome cuidado com os dentes.
Norah concordou com um aceno e eu perdi o fôlego quando vi
seus lábios bonitos cobrirem a cabeça do meu pau. Ela poderia
nunca ter pagado um boquete na vida — e o meu lado territorial
gostava pra caralho disso —, mas era curiosa e, com certeza, já
tinha visto alguns vídeos por aí, pois soube direitinho como sugar a
minha glande e me fazer tremer sobre a cama conforme descia a
boca pelo meu pau.
Eu era grande e mais grosso do que a maioria, não esperava
que Norah me engolisse, mas ela pareceu disposta a ir até onde seu
limite permitia. Segurou meu pau com uma mão e passou a outra
pelo meu abdome, meu peitoral, e desceu até as minhas bolas
quando começou realmente a me chupar, subindo e descendo a
cabeça lentamente pelo meu membro conforme me sugava, sua
saliva escorrendo pela minha pele escura e sensível, me deixando
ainda mais duro e louco de prazer.
Segurei a sua nuca sob os cabelos e abri um pouco mais as
minhas pernas. Senti uma vontade imensa de meter em sua boca,
mas não podia ser afoito e não queria assustá-la. Queria que Norah
brincasse comigo como desejasse e ela parecia ansiosa para isso.
Seus olhos não deixaram os meus e quando a mão que segurava a
base do meu pau começou a me masturbar, eu vi estrelas.
— Caralho, que delícia, gatinha... — Minha voz saiu rouca e
Norah acelerou o movimento de sucção, deixando as bochechas
levemente côncavas conforme subia com a boca pelo meu pau.
Liberei mais pré-gozo, ficando ainda mais duro e sensível. — Não
vou durar muito, Norah.
Não queria demorar para gozar, pois sabia que meu pau era
grande e não queria que Norah ficasse desconfortável me chupando
por uma eternidade. Seus olhos brilharam, espelhando o desejo que
eu sentia, e sua língua voltou a circular minha glande novamente,
me fazendo fechar os olhos por um segundo apenas. Eu não queria
perder o espetáculo que era Norah com o meu pau na boca. Ela
voltou a chupar mais forte daquela vez, fazendo o barulho de sucção
e coisa melada ecoar pelo quarto, e eu me senti prestes a perder a
batalha.
— Como você mama gostoso, Norah, puta que pariu.
Apertei seus cabelos entre os meus dedos, sem forçar demais
a sua cabeça em direção ao meu membro duro. Norah gemeu
abafado e eu senti minhas bolas enrijecerem, meu pau sofrendo
leves espasmos em sua boca.
— Vou gozar — avisei, deixando a encargo dela engolir ou
não. Norah apenas me olhou e me chupou com vontade, me
fazendo sorrir. — Quer que seja na sua boca? — Ela respondeu com
um aceno de cabeça e eu enrijeci, já imaginando como seria. —
Caralho, você me deixa louco, Norah.
Pude jurar que vi um sorriso em seus lábios cheios pelo meu
pau, mas foi passageiro, pois Norah começou a dar tudo de si. Sua
mão subiu e desceu mais rápido pela minha ereção, apertando bem
gostoso a base e me fazendo enlouquecer, enquanto metia meu pau
na boca até onde conseguia, mamando e me deixando todo melado
com a sua saliva. Seus dentes encostaram duas vezes no meu pau,
mas eu já estava com a cabeça longe demais para sentir qualquer
dor, sendo invadido pela sensação do orgasmo que me fez esporrar
com força dentro da boca gulosa.
Norah arregalou os olhos com o primeiro jato, tomando um
susto, e afastou os lábios melados de porra do meu pau, apenas
para voltar um segundo depois e me chupar enquanto engolia. Eu
gravei cada detalhe daquela cena em minha cabeça, gemendo seu
nome e gozando gostoso enquanto a garota me dava um olhar cheio
de tesão, com meu sêmen escorrendo pela sua boca até o pescoço.
Senti que eu poderia gozar de novo em tempo recorde, sem
nem mesmo amolecer.
Puxei Norah para mim pelas axilas quando terminei de
esporrar e montei em seu corpo, recolhendo a minha porra da sua
pele até beijar a sua boca. Meu cheiro e gosto estavam impregnados
nela e tive certeza de que eu não perderia a ereção nunca mais
enquanto Norah estivesse por perto. Ficaria sempre duro e pronto
para ela, onde quer que estivéssemos.
Ela gemeu em minha boca, afastando bem as pernas para que
eu me acomodasse entre as suas coxas, e deixei meu pau roçar em
sua bocetinha toda melada. Norah estremeceu sob mim, rebolando o
quadril de encontro ao meu, toda excitada e gostosa, me deixando
maluco.
— Quero você — pediu desesperada entre os meus lábios,
arranhando a minha nuca e minhas costas. — Por favor, James.
Como eu poderia dizer não?
Tomei meu pau ainda duro pra caralho em minha mão e meti
lentamente em sua boceta, acolhendo seu gemido em minha boca.
Fui tão devagar quanto era possível, mas Norah não pareceu sentir
dor, apenas um leve desconforto, que sumiu da sua expressão
quando parei no fundo apertado e melado da sua bocetinha.
Esperei que se acostumasse comigo, beijando seus lábios, seu
pescoço cheiroso, seus seios bonitos, e comecei a me mover em seu
interior quando sua voz ofegante soou pelo quarto, implorando para
que eu a fodesse.
E eu fodi.
Pela primeira vez fui mais rápido e mais firme, tomando seus
cabelos em minhas duas mãos e deixando sua boca bem perto da
minha, observando sua expressão bêbada de prazer conforme eu a
comia bem gostoso. Norah me acompanhou, erguendo os quadris,
roçando o clitóris inchado em meu osso púbico, e senti que ela não
duraria muito. Estava excitada demais depois de mamar no meu pau
e eu, que tinha acabado de gozar em sua boca, já me sentia pronto
para deixar aquela boceta cheia de porra de novo.
Norah jogou a cabeça para trás em minhas mãos, deixando o
colo exposto com o pingente do colar um pouco acima dos seus
seios e eu perdi a cabeça, querendo marcá-la como minha não só
naquele momento, como pelo resto da eternidade. Soube, naquele
exato segundo, que eu não esperaria muito para fazer com que
Norah se tornasse completamente minha.
Aquela garota seria minha esposa.
Ela seria mãe de todos os meus filhos.
Ela dormiria e acordaria ao meu lado, tendo a certeza de que
seria amada para sempre, fosse com o meu corpo, com as minhas
mãos, minha língua, meu pau, meu coração ou a minha alma.
Como se soubesse exatamente sobre a dimensão dos meus
pensamentos, Norah voltou a me olhar nos olhos e segurou o meu
rosto entre as suas mãos. Não disse nada, mas não foi preciso. Senti
seu amor por mim em seu olhar e na forma como chamou o meu
nome em desespero ao gozar gostoso no meu pau, se liquefazendo
sob o meu corpo e me apertando em seu interior, praticamente me
sugando como a sua boca fizera momentos antes.
Não me segurei e a segui, gozando bem agasalhado em sua
boceta e tomando sua boca na minha em um beijo que disse muito
mais do que qualquer palavra poderia.

Estávamos a duas semanas do jogo beneficente que


aconteceria no estádio do Crimson Tide e, naquela segunda-feira, o
treinador Coben anunciou que enfrentaríamos o Clemson Tigers.
Parecia uma coincidência irônica do destino o fato de que jogaríamos
contra o antigo time de Mason. Os jogadores o zoaram no meio da
reunião antes do treino em campo, mas o treinador logo pediu
silêncio e começou a falar dos pontos fortes do nosso time
adversário.
Eu conhecia muito bem o Clemson Tigers, apesar de nosso
time não fazer parte da mesma conferência[3]. Os Tigers eram, com
certeza, o único time que conseguia confrontar o nosso e aquilo nos
deixou ansiosos para o jogo, apesar de sabermos que era apenas
uma ação beneficente e não um campeonato. Aquilo, no entanto,
não fazia diferença para nenhum de nós naquela sala. Éramos
competitivos e depois de quase três meses fora do campo,
queríamos sair como vencedores daquela disputa.
Após estudarmos os pontos fortes e fracos do nosso time
adversário — com a ajuda de Mason, infelizmente, afinal, ele jogara
no time pertencente à Carolina do Sul antes de chegar ao Alabama
— fomos direto para o campo. Nos aquecemos e o treinador Coben
se aproximou junto com um de seus assistentes. Ele chamou por
mim e por Mason, explicando-nos sua estratégia para nós dois no
jogo e adiantando nossas posições.
Agi da forma mais profissional e ética possível, deixando de
lado qualquer desavença entre mim e o jogador, e ouvi atentamente
os planos do treinador. Basicamente, teríamos que jogar juntos em
uma rota combinada, para confundirmos a defesa do outro time.
Que sorte a minha. Posicionamo-nos na área marcada pelo treinador
em campo e esperamos enquanto ele ia falar com Logan sobre
aquele novo plano de jogo para o ataque.
— Esqueci de te dar os parabéns — Mason falou ao meu lado
assim que ficamos sozinhos. Eu o encarei, sentindo que viria alguma
provocação da sua parte, mas perguntei mesmo assim:
— Parabéns? Pelo quê?
— Você sabe pelo quê. — Mason sorriu e colocou o capacete,
mas não o protetor de dentes, para o meu azar. Aquilo o impediria
de ficar falando merda no meu ouvido. — Conseguiu o que queria,
não é? Tem Norah apenas para você agora, soube até que viajaram
juntos. — Seus olhos encontraram os meus sob o capacete e senti
vontade de afundar o apetrecho de segurança em sua cabeça. —
Logan comentou sobre isso comigo no bar da Maeve, fiquei surpreso
por ele ainda não saber que sua irmã rompeu comigo. Talvez Norah
tenha ficado com medo de falar e ele acabar descobrindo que ela
está com você.
— Cale a boca — ordenei com a voz baixa, mas séria. — Se
Norah terminou com você, isso significa que você não tem mais
nada a ver com a vida dela.
— Ainda assim, ela está me usando de escudo para que o
irmão não descubra que vocês estão juntos.
— É nisso que acredita? Que Norah e eu estamos juntos?
— Eu tenho certeza. Ao contrário do QB, eu não sou um idiota
que acredita que meu melhor amigo não fica de pau duro para a
minha irmã.
Eu quase empurrei Mason ali e tirei aquele capacete da sua
cabeça para dar um soco na sua cara, mas me segurei. Não valeria a
pena ser suspenso do time por causa dele. Aquele merda não
conseguiria o queria comigo.
— O que você acha ou deixa de achar não importa para mim,
muito menos para Norah. Entenda uma coisa, Mason. — Aproximei-
me dele, até não restar quase nenhum centímetro entre mim e
aquele filho da puta. — Norah não gosta de você. Quanto antes
aceitar isso, melhor.
— Melhor para quem? Para você?
— Não, para você, porque se não tirar Norah da cabeça ou se
pensar em desrespeitar a decisão dela de se manter afastada de
você, eu vou quebrar a porra da sua cara e fazer com que se
arrependa de um dia ter olhado na direção dela.
Afastei-me de Mason sem dar a ele qualquer chance de
resposta e voltei a me concentrar no treino.
Os ensaios para a peça começaram naquela semana e eu
estava simplesmente encantada com o texto preparado pela Sra.
O’Neal e os dois alunos selecionados para serem os seus assistentes
de roteiro. Aquela seria uma releitura um pouco mais moderna de
Romeu e Julieta, mas sem perder a verdadeira essência clássica da
obra mais famosa de Shakespeare.
Poder trabalhar com John estava sendo incrível e todo o elenco
escalado era maravilhoso. Nos entrosamos rapidamente e marcamos
o primeiro encontro oficial com todo mundo no Maeve’s Bar naquele
final de semana. Cheguei feliz, mas cansada pra caramba em casa
naquela sexta-feira, segurando o meu caderno pesado com o texto
para a peça. Alguns alunos mantinham tudo arquivado digitalmente
em tablets e celulares, mas eu era adepta à moda antiga e gostava
de ter tudo impresso, para poder esmiuçar o roteiro e fazer
anotações à mão. Sentia que eu absorvia melhor todo o conteúdo
daquela maneira.
Logan se levantou do sofá assim que me viu entrar em casa e
me ajudou com a minha bolsa pesada e o texto da peça, segurando
tudo para que eu pudesse tirar o meu casaco.
— O que está carregando aqui dentro? Chumbo? — perguntou
enquanto deixava tudo em cima do sofá.
— Material impresso sobre Romeu e Julieta. Quer ler tudo
comigo?
— Não, eu passo essa tarefa incrível. — Meu irmão riu e se
jogou no sofá. — Estou quebrado. Duas semanas treinando em
campo e sinto que meu corpo já não aguenta mais.
— Nunca pensei que você fosse tão molenga, QB — falei, me
sentando ao seu lado. — Se eu espalhar essa fofoca pelo campus, a
sua reputação vai por água abaixo.
— Por isso que você tem que manter essa boquinha fechada.
— Logan tocou em meu nariz. — Mas o treinador está pegando
pesado. O Clemson Tigers é um time forte demais e o quarterback
deles se destacou muito no ano passado.
— Mason chegou a comentar comigo sobre o jogador, parece
que eles não se davam muito bem.
— Por quê? — Meu irmão arqueou uma sobrancelha. —
Detalhes sobre os bastidores de outros times sempre me agradam
muito.
— Porque você é um fofoqueiro!
— Fofoqueiro não, curioso. Mason não te falou o motivo?
— Não especificamente. Ele disse que sempre jogaram em
times rivais durante o ensino médio, mas que acabaram juntos
jogando pelo Tigers. Segundo Mason, eles não eram amigos.
— Deve ser por conta da rivalidade dos times de colégio —
refletiu Logan.
— Provavelmente. — Fiquei um tempo em silêncio ao lado do
meu irmão e percebi que eu já não precisava mais esconder aquela
informação dele. — Terminei tudo com Mason.
Logan arregalou os olhos e eu sabia que o pegara
completamente de surpresa.
— O quê? Quando? Por quê?
— Calma. — Ri baixinho da sua confusão. — Semana passada.
— Semana passada? E resolveu me contar só agora?
— Estava digerindo a minha decisão ainda.
Aquilo não era mentira. Precisei de um tempo para me
recompor no meio daquela bagunça que minha vida sentimental se
transformara. A discussão com James, nossa declaração um para o
outro, romper com Mason, assumir meus sentimentos pelo melhor
amigo do meu irmão... Tudo aquilo exigiu muito de mim e só me
senti verdadeiramente em paz depois de passar aquele final de
semana incrível com James em Aspen.
— E agora está se sentindo pronta para me contar? — Logan
me deu um olhar compreensível, que apertou o meu peito.
Não queria magoar o meu irmão, nunca, mas sabia que era
daquela forma que ele se sentiria quando soubesse o que de fato
estava acontecendo na minha vida.
— Sim, estou. Terminei com Mason porque entendi que eu não
estava apaixonada por ele, Logan.
— Tem certeza? Quer dizer, é claro que você deve ter certeza,
são os seus sentimentos, mas vocês dois pareciam tão entrosados
no pub naquela noite. Pensei que sentisse algo especial por ele.
— Eu me forcei a acreditar nisso enquanto estávamos juntos,
mas percebi que estava me enganando. Mason é uma ótima pessoa,
não pense que ele fez algo errado comigo, só não é o homem certo
para mim.
— E existe algum homem certo para você? Eu duvido muito. —
Logan resmungou em tom de brincadeira, me fazendo rir. — Ele não
comentou nada sobre o rompimento de vocês quando nos
encontramos no Maeve’s na semana passada.
— Vocês se encontraram?
— Sim. Eu até comentei sobre a sua viagem com James para
Aspen. Pensando melhor agora, Mason pareceu um pouco surpreso,
mas não fez qualquer comentário sobre vocês terem terminado,
apenas disse que sabia que você estava ajudando James em um
trabalho da faculdade.
— Sim, ele sabia disso, comentei que serviria como modelo
para James, mas rompi com ele antes de James acertar os detalhes
da viagem.
Logan ficou um tempo calado e quis muito entender o que
estava passando pela sua cabeça, mas ele apenas sorriu e me puxou
para um abraço.
— Fico feliz que ele não tenha roubado o seu coração.
— Logan, não seja ridículo.
— Estou brincando. — Ele riu quando dei um soquinho em seu
estômago. — Obrigado por ter confiado em mim para contar tudo
isso. Se Mason por acaso não respeitar a sua decisão, me avise, e eu
vou resolver tudo com ele.
— Deixe a sua versão sanguinária de lado, estrelinha dourada.
Você não vai precisar fazer nada — afirmei, deixando um beijo em
sua bochecha. — Eu sei me defender muito bem, caso precise.
— Eu sei que sim, mas sou seu irmão, pelo menos essa parte
você precisa me deixar desempenhar.
— A parte em que defende a minha honra? — Eu ri.
— Exatamente.
— Você sabe que estamos no século XXI, certo?
— Sim, eu sei, mas não ligo para essa merda. Sou seu irmão e
sempre estarei por perto para defender você quando precisar de
mim.
Eu sabia que sim. Apesar de ser chato e ciumento, Logan era o
melhor irmão do mundo para mim. Esperava que ele continuasse tão
compreensivo quando chegasse a hora de James e eu contarmos
sobre o nosso envolvimento para ele.
Como se soubesse que era alvo dos meus pensamentos, o
wide receiver desceu a escada usando apenas uma calça de
moletom branca caindo de forma pecaminosa em sua cintura. Tentei
controlar meus olhos gulosos sobre ele, mas não consegui. Ainda
sentia James dentro de mim, me comendo bem forte naquela
madrugada, após entrar escondido em meu quarto. Queria me jogar
em seus braços e começar tudo de novo agora mesmo.
— Suas camisas rasgaram, por acaso? — perguntou meu
irmão e eu pisquei, me obrigando a tirar os olhos de cima de James,
apesar de saber que o filho da mãe queria andar pela casa daquele
jeito apenas para me provocar.
— Elas estão apertadas em mim. Acho que estou mais
musculoso, o que acha, Norah?
Eu abri a boca a boca para responder quando parou na minha
frente e fez um muque com o braço, mas meu irmão foi mais rápido:
— Não infle ainda mais o ego desse idiota, por favor.
— Eu só quero saber a opinião dela, cara.
— Não, você quer arrancar um elogio da minha irmã, mas
Norah é inteligente demais para cair no seu papinho. — Logan se
levantou e apontou para o meu material sobre o sofá. — Aproveita
toda essa autoestima e prove que está mais forte levando as coisas
de Norah para o quarto dela. Vou subir, porque preciso finalizar um
trabalho para entregar na segunda-feira.
Meu irmão foi para o andar de cima e James esperou para
ouvir a porta dele se fechando antes de beijar rapidamente a minha
boca, acariciando sua língua na minha e me deixando excitada.
— Diga a verdade, eu não estou mais gostoso do que ontem?
— Não sei, acho que preciso ver você sem roupa para poder
dar o meu veredito.
— Norah... Seu irmão ficaria chocado com as coisas que saem
dessa sua boca.
— Acho que ele ficaria chocado com que vem entrando na
minha boca quase todas as noites.
James me deu um olhar atônito pela minha ousadia e eu ri,
empurrando o seu ombro para poder me levantar do sofá. O jogador
me pegou firme pela cintura antes que eu pudesse escapar.
— Não acredito que teve coragem de falar isso.
— Foi você quem me provocou — defendi-me. — Não jogue a
culpa em mim.
— Você é a única culpada por isso aqui. — James pressionou o
início da sua ereção em minha barriga e mordi o lábio para não
soltar um gemido. Ele se inclinou e sussurrou em meu ouvido: —
Não vou conseguir esperar até mais tarde para estar dentro de você.
Se eu te comer agora, promete gemer baixinho?
— Sim — respondi sem precisar pensar uma segunda vez e
James deixou um beijo em meu pescoço antes de se afastar e pegar
meu material em cima do sofá.
— Vamos, gatinha. Preciso de você.
Eu também precisava dele, por isso, logo o segui. Entramos
em meu quarto e só tive tempo de passar a chave na porta antes de
James me puxar pela cintura e beijar a minha boca. Minhas roupas e
as dele foram parar no chão em poucos segundos e precisei abafar
meu gemido com um travesseiro quando o jogador me fez deitar na
cama e caiu de boca no meio das minhas pernas.
James lambeu meu clitóris e desceu até enfiar a língua em
minha entrada, usando o nariz para acariciar o ponto em que eu
pulsava a ponto de doer. Suas mãos tomaram os meus seios,
manipulando os mamilos, e quando pensei que iria gozar com os
seus lábios chupando meu clitóris inchado, James agarrou a minha
cintura e me fez virar de bruços na cama, parando entre as minhas
pernas afastadas e tampando a minha boca ao entrar com tudo em
minha boceta.
Fechei os olhos com força para não gemer alto demais, pois
mesmo com sua mão em minha boca, tive medo de que Logan
pudesse ouvir alguma coisa, caso resolvesse passar em frente à
porta do meu quarto naquele momento. James espalhou o meu
cabelo para o lado sobre a cama e lambeu a minha nuca, meu
pescoço, subiu até a minha orelha e mordiscou o lóbulo antes de
começar a me comer bem rapidinho, mal tirando o pau do meu
interior.
Choraminguei, tentando rebolar contra ele e arrastando meu
clitóris excitado na cama.
— Sou louco por você — sussurrou no pé do meu ouvido, me
deixando toda arrepiada. — Não consigo mais respirar sem estar ao
seu lado, Norah, sem sentir o seu cheiro, seus beijos, ou o calor
dessa bocetinha apertada em volta do meu pau. — Gemi mais um
pouco, arranhando a cama, e James arrastou os lábios pela minha
bochecha. — Eu te amo pra caralho.
Eu também o amava, mas James não parecia querer ouvir
aquilo agora, porque ele já sabia sobre os meus sentimentos. Ele
sentia a cada vez que me olhava ou que estava dentro de mim.
Substituindo a sua mão pelos seus lábios, o jogador me beijou,
segurando-me firme pelo pescoço e apoiando a outra mão na cama
acima da minha cabeça.
Eu o sentia tão grande e grosso dentro de mim, que cada
terminação nervosa ficou sensível pelo atrito do seu pau em meu
interior. A sensação de explosão se avolumou em meu baixo ventre,
concentrou-se em meu clitóris, que eu ainda roçava em minha cama,
e me fez entrar em combustão quando comecei a gozar. James
respirou forte, me beijou mais firme e me seguiu momentos depois,
gozando junto comigo e me marcando como sua mais uma vez.

Reservamos uma mesa enorme no Maeve’s Bar e aquela era,


provavelmente, a primeira vez que alunos da UA, que não eram
necessariamente fãs do Crimson Tide, se reuniam por um motivo
que não tinha nada a ver com futebol. Nós brindamos ao sucesso do
nosso elenco e da primeira semana de ensaio, e pude sentir os olhos
de James sobre mim quando dei o primeiro gole em minha cerveja.
Ele estava sentado em frente ao balcão ao lado de Logan e
Benjamin, a poucos metros de onde eu estava.
— Se não quer que seu irmão perceba que está rolando algo
entre você e James, acho melhor parar de ficar olhando para ele a
cada cinco segundos — John sussurrou em meu ouvido e eu senti
meu rosto ficar quente por ser pega no flagra pelo meu melhor
amigo.
— Não consigo. Já viu como James é lindo? E o melhor de
tudo, ele é todo meu.
— Eu sei disso, sua filha da mãe sortuda! — John me deu um
tapinha na bunda, me fazendo rir. — E James parece pensar o
mesmo de você, já que não consegue desviar o olhar. Não sei como
seu irmão ainda não notou o que está acontecendo. Logan é cego
ou se faz de idiota?
— Ei, não fale assim do meu irmão!
— Desculpa, mas é tão nítido! Quando vocês vão contar a
verdade para ele?
— Em breve.
— Sabe que essa resposta é muito relativa, certo? Em breve
pode ser daqui a poucas horas ou daqui a dois anos.
— Não vamos demorar tudo isso. — Resolvi ficar de costas
para James, apenas para não cair em tentação e ficar babando
sobre ele de novo. — James está esperando apenas porque eu pedi.
Sei que estou sendo covarde, John, mas não quero que eles percam
a irmandade que criaram desde que eram crianças, sabe? Falei para
James que queria aproveitar um pouco mais os nossos momentos
juntos, e isso é verdade, mas, no fundo, estou me sentindo culpada
por saber que a amizade dois vai sofrer um abalo enorme por minha
causa.
Meu maior medo era que a amizade de James e Logan
rachasse definitivamente. Conhecia meu irmão, ele era orgulhoso
demais e muito cabeça-dura. Se ficou daquela forma quando
descobriu que James me ajudou a ficar mais próxima de Mason,
como reagiria ao saber que estávamos juntos?
— Norah, você precisa confiar no sentimento que une os dois.
Seu irmão pode ficar chateado, mas ele conhece James melhor do
que ninguém, sabe que ele nunca brincaria com os seus
sentimentos, e que se resolveu passar por cima da lealdade a ele
para ficar com você, é porque te ama de verdade.
— O problema é que Logan não é tão racional assim. Ele é
impulsivo e, na hora da raiva, diz coisas terríveis. Tenho medo de
que acabe falando alguma coisa que pode abalar para sempre a
amizade dos dois.
— Sabe o que eu acho? — John perguntou e eu apenas neguei
com a cabeça. — Que você está sofrendo por antecipação. Pode
pensar em inúmeras maneiras sobre como seu irmão vai reagir, mas,
a verdade, é que não tem como saber. Só vai descobrir quando
contar a ele. Se eu fosse você, pararia de esconder o que está
acontecendo e contaria tudo de uma vez, antes que Logan descubra
de outra forma e seja pior.
Respirei fundo, sentindo um aperto no peito, pois John tinha
razão. Seria melhor encarar de uma vez o meu irmão e acabar logo
com aquele sofrimento, até porque, eu me sentia péssima a cada
vez que me lembrava que estava escondendo algo tão sério dele e
sabia que James se sentia pior do que eu. Não era justo obrigá-lo a
mentir ainda mais para Logan por causa da minha covardia.
— Farei isso — concordei e John sorriu.
— Isso aí, garota, mas não hoje! Nós viemos comemorar essa
noite, então, esqueça todos os seus problemas e beba comigo!
Nós brindamos mais uma vez e eu virei pelo menos três
cervejas antes de precisar escapar da minha nova rodinha de amigos
para poder ir ao banheiro. Aliviei-me em um dos reservados e saí
logo depois de lavar as mãos, dando de cara com James no corredor.
Ele me encurralou contra a parede, como naquela noite no pub, e eu
ri, levemente embriagada e começando a ficar excitada.
— O que está fazendo? Alguém pode aparecer a qualquer
momento.
— Eu sei, só precisava fazer isso. — James tomou minha
cintura em uma mão e o meu rosto em outra antes de me dar um
beijo delicioso de língua, que durou pouco mais de dez segundos.
Sua testa tocou a minha por um momento. — É terrível ficar tão
perto e tão longe de você ao mesmo tempo, sabia? Principalmente
quando aquele babaca está respirando o mesmo ar que o seu.
Afastei meu rosto para poder olhar para ele.
— De quem está falando?
— De Mason, ou preciso me preocupar com algum outro idiota
e não estou sabendo disso? — Ele me deu um sorriso provocador e
eu ri, me sentindo alegre por conta da bebida e um pouco mais
excitada por saber que James estava com ciúmes.
— Nem sabia que Mason estava aqui.
— Que bom. Ele não ousou chegar perto de você e espero que
continue assim. — James me deu um selinho rápido e se afastou. —
Volte para os seus amigos, mais tarde eu cuidarei dessa sua
bundinha bêbada.
— Não estou bêbada!
— Mas vai ficar, eu sei disso.
Eu apenas ri e soprei um beijo para ele antes de me afastar, já
sentindo uma falta absurda do calor do seu corpo perto do meu.
Mason se manteve completamente afastado de mim e eu fiz o
mesmo, saindo do caminho dele sempre que cruzávamos no centro
de treinamento. Infelizmente, precisávamos nos falar em campo ou
nas reuniões do time, mas, fora isso, não tínhamos qualquer
interação. Eu sentia que Logan percebia que nós não nos dávamos
bem, mas ele nunca comentou nada comigo.
Acreditava que o QB pensava que rolava algum tipo de
inimizade entre nós dois porque Mason dera com a língua nos
dentes sobre eu ter conhecimento do envolvimento dele com Norah
e, por isso, não estranhava o fato de não conversarmos nada além
do essencial quando éramos obrigados a estar juntos.
Ainda assim, eu sentia o olhar de Mason sobre mim quando
pensava que eu não estava prestando atenção, cheio de raiva
contida. Ele tinha certeza de que eu estava com Norah e parecia não
aceitar aquilo muito bem. O que me tranquilizava, era saber que ele
não se aproximara novamente da minha garota desde que
romperam semanas atrás. Norah havia me garantido que nem
mesmo por mensagem Mason tentou manter contato com ela e eu
esperava que continuasse assim.
Em três dias nós jogaríamos contra o Clemson Tigers e eu já
podia sentir a pressão do meu pai sobre mim. Ele me ligara no início
daquela semana, afirmando que não apenas estaria no jogo, como a
nossa empresa doara alguns milhares de dólares para a ONG e seria
uma das patrocinadoras do evento beneficente. Acabei descobrindo
por ele que o pai de Mason, que era dono de uma rede de hotéis,
também aceitara patrocinar, e que o prefeito da cidade estaria
presente.
A preocupação do meu pai era de que eu não focasse o
suficiente no jogo, pois Megan com certeza acompanharia seus pais.
Eu quase revirei os olhos ao ouvir aquilo. Megan já não significava
mais nada para mim, mas meu pai sempre achava que sabia de tudo
sobre a minha vida e acreditava que eu ainda estava apaixonado por
ela. Jonathan McHugh não poderia estar mais enganado.
— Encare esse jogo como se fosse o início da temporada,
James. O Clemson Tigers deve vir com tudo esse ano e com certeza
usará esse jogo para provar isso. Você não pode falhar, filho!
Perdi um pouco da ansiedade e adrenalina pela partida após
aquele telefonema. Deitado ao lado de Norah em sua cama, contei
tudo para ela no meio da madrugada e fui sincero sobre como me
sentia pressionado pelo meu pai. Apesar de Logan suspeitar sobre
aquilo, nunca me permiti me abrir o suficiente para ele como estava
fazendo para Norah agora. Seus dedos acariciaram o meu cabelo
conforme eu desabafava com a cabeça deitada em seu peito.
— Às vezes, eu tenho vontade de simplesmente sair do time e
desistir de tudo. — Senti Norah parar com o carinho em minha
cabeça, provavelmente surpresa com a minha sinceridade. — Amo o
futebol, Norah, mas meu pai acaba sufocando esse sentimento com
a sua exigência pela perfeição. Não importa se eu fizer a melhor
partida da minha vida, se eu for elogiado por críticos do esporte, ele
sempre tem algum comentário para tecer sobre a minha atuação em
campo, geralmente acompanhado de uma crítica, e isso vem me
deixando cansado.
— James, eu não imaginava que você se sentisse assim.
— Sei disso, ninguém imagina, talvez apenas Logan, mas
nunca fui sincero dessa forma com ele. Nós temos um sonho desde
pequenos, Norah, seu irmão e eu. Jogarmos juntos em um time da
NFL e conquistar o mundo. — Sorri ao lembrar de nós dois ainda
moleques, planejando todo o nosso futuro. — Como posso contar
para Logan que me sinto assim? Não quero desapontá-lo. Na
verdade, eu não quero desapontar ninguém.
— Deite-se no travesseiro e olhe para mim. — Fiz como pediu
e Norah se virou para ficar de frente para mim. Sua mão tocou a
minha bochecha com carinho. — Às vezes, precisamos parar de
pensar nas outras pessoas, James. Você precisa fazer o que te faz
feliz. Meu irmão vai entender isso, porque ele te ama mais do que
ama o futebol, e seu pai precisará entender isso também, porque
esse esporte não pode ter mais importância na vida dele do que
você.
— Não sei. Meu pai nunca superou o fato de ter sido obrigado
a se afastar do futebol por causa da morte do meu avô. Ele assumiu
os negócios porque precisava e, quando nasci, jogou sobre mim o
sonho que não pôde realizar. Não posso falhar com ele, entende?
— Sabe o que eu entendo? Que não é certo que você se sinta
se dessa forma por causa do seu pai. Eu sei que você ama o futebol,
eu sinto isso a cada vez que te vejo em campo, sempre dando o
melhor de si, mas seu pai está fazendo você perder o encanto pelo
esporte que ama, James. O sonho do seu pai está ofuscando o seu.
As palavras de Norah me acertaram como um murro e fizeram
com que a fumaça que insistia em embaçar a minha visão,
simplesmente se dissipasse. Finalmente entendi o que estava
acontecendo comigo em relação ao futebol, como eu de fato me
sentia.
Eu amava a fotografia. Aquela era, com certeza, uma das
minhas maiores paixões, mas o futebol era o que eu amava de
verdade, sempre foi a minha verdadeira vocação, só que a cobrança
do meu pai estava fazendo aquele sentimento começar a se apagar.
Não poderia deixar aquilo acontecer. Eu me tornaria um jogador
profissional, mas nos meus termos, dando o melhor de mim porque
eu queria, não porque precisava satisfazer o lado crítico e sempre
insatisfeito de Jonathan McHugh.
Não deixaria o sonho dele ofuscar o meu, como Norah dissera.
Éramos pessoas diferentes e não era minha obrigação realizar o seu
sonho frustrado, mas, sim, realizar o meu sonho, do jeito que eu
queria. Se meu pai realmente me amasse, como eu acreditava que
amava, entenderia aquilo e sentiria orgulho de mim.
Norah soltou um gemidinho assustado quando eu a puxei para
mim e a beijei com força, arrancando uma risadinha do fundo da sua
garganta.
— Você tem toda razão!
— Geralmente, eu sempre tenho razão.
— Isso é questionável.
— Questionável? — Norah estreitou os olhos para mim. —
Diga isso mais uma vez e eu vou colocar você para fora do meu
quarto, Sr. McHugh.
— Você não faria isso. — Subi sobre o seu corpo e afastei a
coberta, deixando-a toda exposta para mim. Beijei seu pescoço,
lambi cada um dos seus mamilos e comecei a descer pela sua
barriga. — Não quando eu estou louco para passar os próximos
minutos chupando a sua bocetinha.
— Serão minutos longos? — perguntou levemente ofegante,
afastando as coxas para me dar espaço suficiente entre as suas
pernas. — Ou curtos? Se forem curtos, é melhor nem começar.
Arqueei uma sobrancelha quando cheguei à sua virilha.
— Está exigente, futura Sra. McHugh.
Norah me encarou boquiaberta e eu dei uma lambida em seu
clitóris enquanto sorria.
— O que... do que você me chamou?
— De futura Sra. McHugh. — Dei mais uma lambida em seu
clitóris e Norah estremeceu, apesar do choque em sua expressão. —
Porque é isso que você é. Um dia, será minha esposa e mãe dos
meus filhos, Norah. Essa é a única certeza que eu tenho na vida.
Deixei um beijo sobre a sua barriga, onde um dia ela geraria o
nosso bebê, e voltei a dar atenção à bocetinha que eu amava, vendo
o seu sorriso emocionado e ouvindo seu gemido baixinho ao se
entregar para mim.

— Acho que merecemos uma bebida depois do dia de hoje! —


disse Ben ao colocar dois packs de cerveja sobre a bancada da
cozinha. — O treinador só faltou comer o nosso cu, estou todo
quebrado!
— Cadê o seu porte de atleta? — questionei com uma risada
enquanto grelhava uns hambúrgueres na frigideira. Prometi para
Norah que ela encontraria fritas e hambúrguer quando chegasse em
casa e eu era um namorado que não desapontava a sua garota.
— Deve ter ficado perdido no meio do campo — Logan que
respondeu ao entrar na cozinha e se aproximar de mim. — Como
adivinhou que estou com vontade de comer hambúrguer? Você é o
melhor amigo de todos os tempos!
— Estou preparando isso para a sua irmã.
— Norah tem o estômago de uma formiga, ela não vai comer
tudo isso. — Apontou para os dois hambúrgueres na frigideira e
mais dois em cima da pia ainda congelados na embalagem.
— Talvez eu esteja fazendo alguns para vocês, mas só se
Benjamin garantir que a cerveja vai ficar gelada a tempo de os
sanduíches ficarem prontos.
— Isso eu posso garantir! — disse o running back já colocando
as bebidas no freezer. — Vou tomar um banho enquanto isso, quero
tudo pronto quando eu descer.
— Não quer um boquete também não? — perguntei e
Benjamin riu.
— Boquete e boceta a gente nunca nega.
— Você é nojento, caralho, sai daqui! — Logan xingou
enquanto gargalhava e Benjamin nos deixou sozinhos na cozinha. —
Que tal fritar mais alguns hambúrgueres? Avalon está de folga hoje,
pensei em passar a noite com ela, mas acho melhor pedir para que
venha para cá com Aubrey.
— Claro, farei isso.
— Ótimo! Vou ligar para ela.
Logan se afastou da cozinha e eu fui pegar mais
hambúrgueres no congelador. Norah chegaria em casa um pouco
mais tarde naquele dia, pois começariam a pegar as medidas dos
atores para a confecção do figurino da peça, e eu já estava com
saudades. Sentia-me como um idiota insuportavelmente apaixonado
e que não sabia viver sem a sua garota. Muito parecido com Logan,
na verdade.
— Pode me emprestar o seu celular? Acho que deixei o meu
na bolsa de Valente quando almoçamos mais cedo.
— Está aí em cima do balcão, você sabe a senha — avisei,
colocando mais carne para grelhar.
— Espero que Avalon escute tocar. Acho melhor ligar para o
celular dela, tem o número dela na agenda?
— Claro que sim. Adicionei o contato dela como Valente — ri
ao encará-lo e Logan me deu o dedo do meio.
— Vai se foder, idiota. — Logan voltou a mexer em meu celular
e eu virei a carne. Estava no ponto que eu gostava, bem macia
suculenta. — Mas que porra é essa?
— O quê? — Virei-me para Logan com um sorriso. — Não
acredito que você está procurando o contato da sua namorada em
meu celular com o apelido que deu para ela, Logan. Eu estou
brincando. — Ri alto, mas achei estranho Logan não me
acompanhar. Ele continuou a olhar sério para o meu celular e eu
senti o meu sangue começar a ficar gelado nas veias. Apaguei o
fogo e me aproximei dele. — Logan, o que houve?
— Você está comendo a minha irmã?
Seus olhos golpearam os meus e eu parei no meio do
caminho, a ilha da cozinha ficando entre nós dois. Abri a boca, sem
palavras, e Logan se ergueu da banqueta onde se sentara minutos
antes, ainda com o meu celular na mão. Ele apertou o aparelho com
tanta força, que as juntas dos seus dedos ficaram brancas.
— Me responde, James, você está comendo a minha irmã,
porra?!
— Logan... Se acalme...
— Me acalmar? Você está pedindo para eu me acalmar?! — Ele
gritou e se aproximou de mim, contornando o móvel que nos
separava e jogando o celular em minha direção. Agarrei o aparelho
no ar por puro reflexo. — Me explique que porra é essa antes de eu
poder dar o soco que quero na sua cara!
Senti minhas mãos trêmulas quando virei a tela do celular para
cima e vi as mensagens que Norah enviara dois minutos atrás. Dois
minutos. Cento e vinte segundos que simplesmente mudariam toda
a minha vida. Era uma foto dela, apenas de lingerie na frente de um
espelho de corpo todo. Parecia estar em um provador.
Norah: Estou aqui tirando as medidas para o figurino e
esqueci de contar que comprei uma lingerie nova pensando
em você. Gostou?
Norah: Talvez eu deixe você tirá-la do meu corpo mais
tarde.
Norah: Te amo!
Fechei os olhos por um segundo, me sentindo o maior idiota
do século por ter deixado Logan se aproximar do meu celular.
Minhas mensagens com Norah já não tinham mais qualquer
inocência e até nudes trocamos algumas vezes — sempre em
visualização única, o que eu agradecia agora. Como pude me
esquecer disso e nos colocar em risco daquele jeito?
Eu sabia o porquê. Logan e eu sempre tivemos acesso a tudo
na vida um do outro, ele usava meu celular quando precisava, assim
como eu pegava seu aparelho às vezes, porque éramos melhores
amigos. Não tínhamos segredos, até agora. Até eu estragar tudo.
— Logan...
Seu punho foi com tudo na minha cara e eu deixei que me
batesse porque merecia. Não por estar com Norah, mas por quebrar
a sua confiança, por ter permitido que ele descobrisse sobre nós
dois daquela maneira tão ridícula, praticamente reduzindo o meu
relacionamento com a sua irmã em sexo, quando era muito mais do
que isso.
Meu celular caiu no chão e eu me apoiei na bancada atrás de
mim, sentindo o gosto de sangue explodir em minha língua. A lateral
da minha boca estava cortada, mas me preparei para um novo golpe
de Logan, que não veio. Ele preferiu chutar as banquetas e derrubá-
las no chão.
— Eu sabia, porra! Eu sabia que tinha alguma coisa errada
entre vocês, mas não quis acreditar! — Logan gritou, chutando mais
uma banqueta no chão. — Não quis acreditar que meu melhor
amigo estava trepando com a minha irmã bem debaixo do meu
nariz!
— Logan, me escuta, não é nada disso...
— Não é nada disso? — Logan se aproximou de mim com o
rosto vermelho de raiva e apontou para o celular no chão. — Tem
coragem de olhar na minha cara e mentir para mim depois da
mensagem que Norah acabou de te enviar?
— Que porra é essa? — Benjamin apareceu todo molhado,
com uma toalha enrolada na cintura. Seus olhos se arregalaram ao
ver as banquetas no chão e a minha boca sangrando. — O que está
acontecendo aqui?
— Você sabia! — Logan acusou, se aproximando de Benjamin
e o empurrando pelos ombros. — Você sabia, porra!
— Sabia do quê? — Benjamin gritou de volta sem entender
nada e eu me aproximei dos dois, colocando-me entre eles.
— Pare com isso, Logan, Benjamin não sabia de nada!
— Então não vai mais mentir sobre estar comendo a minha
irmã? — Questionou o QB em um grito furioso e eu senti Benjamin
enrijecer atrás de mim.
— Puta merda, James... Você está fazendo isso?
Eu apenas engoli em seco, sentindo tanta coisa, que mal sabia
por onde começar. Logan riu sem humor e me deu um olhar
atordoado, cheio de raiva e incredulidade.
— Sim, ele está! Esse traidor falso do caralho!
Logan ia sair da cozinha, mas percebi que eu não podia deixar
que ele se afastasse daquele jeito. Precisava me explicar e fazer com
que entendesse que o que havia entre mim e Norah era muito mais
do que sexo ou uma traição à nossa amizade. Fui atrás dele e o
segurei pelo pulso, esquivando-me do novo soco que tentou dar em
mim.
— Pare, Logan! Me escute, por favor!
— Não tenho nada para escutar de você! — Ele conseguiu
soltar o pulso da minha mão e me empurrou. Tínhamos a mesma
altura, mas Logan estava cheio de raiva e isso o deixou mais forte,
conseguindo me fazer dar um passo para trás. Aquilo não me deteve
e voltei a me aproximar.
— Sei que está com raiva de mim e tem razão em se sentir
assim...
— Tenho? Caramba, James, obrigado por me permitir sentir
raiva de você!
— Mas eu amo a sua irmã! — Gritei mais alto do que ele,
ignorando seus insultos e pegando-o pela camisa para que calasse a
boca me escutasse. — O que está acontecendo entre nós dois é
amor, Logan, você sabe o que é isso, ama a Avalon, sei que vai me
entender.
— Entender você? — Logan soltou uma risadinha cheia de
raiva. — Sabe o que eu entendo, James? Que você é um filho da
puta traidor que fez a única coisa que pedi para que não fizesse
desde o início da nossa amizade. E entendo que é um covarde,
porque se realmente amasse a minha irmã como diz, se não
quisesse apenas trepar com ela bem debaixo do meu nariz, teria me
encarado como homem e contado isso para mim! Essa é a única
coisa que eu entendo.
Logan me obrigou a soltá-lo e eu o fiz, atônito, sem saber
como reagir às suas palavras que me atingiram com mais força do
que o soco que deu na minha cara. Ele pegou a chave do seu carro
sobre a mesinha de centro e saiu, batendo a porta atrás de si,
deixando apenas o estrondo da madeira e das batidas do meu
coração ecoarem pela sala.
— Não acredito nisso, James... — Benjamin comentou ao parar
na minha frente.
— Vá atrás dele — pedi, me dando conta de que Logan estava
nervoso demais para dirigir e que poderia se meter em um acidente.
Se alguma coisa acontecesse com ele... Porra, eu nunca iria me
perdoar. — Vá atrás dele, Ben, por favor.
Benjamin apertou o meu ombro em solidariedade e foi
correndo para o quarto colocar uma roupa. Saindo do torpor, voltei à
cozinha e peguei o meu celular do chão, ligando para Avalon para
avisar sobre a forma como Logan saíra de casa e torcendo para que
ele estivesse indo para a casa dela.
Entrei no Maeve’s Bar tão furioso, que simplesmente esqueci
que Valente estava de folga naquela noite e só me lembrei quando
já estava em frente ao balcão, procurando por ela. Antes que eu
pudesse dar meia-volta e ir para o seu apartamento, ela surgiu do
nada, vindo ao meu encontro sem a maquiagem pesada de
costume, usando apenas um short jeans muito curto que sempre me
deixava de pau duro e uma blusa escura com estampa xadrez que
terminava acima do seu umbigo.
— Logan! O que aconteceu? — perguntou ao parar na minha
frente e tomar meu rosto em suas mãos.
— Como sabia que eu estava vindo para cá?
— James me ligou, disse que você saiu nervoso de casa, mas
não me explicou o motivo. O que houve? É algo com a sua avó ou
seu pai? Sua irmã?
Aquele filho da puta! Só em pensar no nome de James, eu
sentia vontade de voltar para casa e dar mais um soco na sua cara
de traidor. Tomei a mão de Avalon, disposto a ir para sua casa, mas
fomos interceptados de repente quando Benjamin parou na nossa
frente, descabelado e ofegante.
— Porra, nunca mais me dê um susto como esse, entendeu?
Como sai de casa daquele jeito? Podia ter sofrido um acidente,
Logan!
— Saia da minha frente, não quero falar com você. — Minha
voz saiu por entredentes quando tentei passar por ele, mas
Benjamin era teimoso demais quando queria e voltou a se colocar
em meu caminho.
— Eu não sabia de nada, Logan, juro para você!
— Sabia sobre o quê? Alguém pode me explicar o que está
acontecendo? — perguntou Avalon soltando a minha mão e
cruzando os braços. — Qual dos dois vai abrir a boca e falar?
— James e Norah estão juntos — Ben respondeu e ouvir aquilo
me deixou mais furioso ainda.
— Juntos é o caralho, aquele filho da puta está apenas
comendo a minha irmã!
— Meu Deus! — Avalon colocou a mão na frente da boca,
chocada. Por que ela não estava com raiva como eu? — Acho que
todos nós precisamos de uma bebida. Por que não pegam aquela
mesa ali no canto e esperam por mim?
Benjamin tentou tocar em meu cotovelo para me levar em
direção à mesa, mas eu me soltei e segui sozinho, aceitando apenas
porque precisava mesmo de álcool para digerir aquilo — e porque
Valente havia sugerido. Sentei-me e cruzei os braços, furioso,
balançando a perna para cima para baixo. Avalon voltou com uma
garrafa de uísque, um balde pequeno de gelo e três copos sobre
uma bandeja, deixando-a sobre a mesa e se sentando ao meu lado.
Eu me servi, ignorando o gelo e dando um gole generoso na
bebida forte, sentindo-a descer queimando.
— Devagar, Logan, não faça com que eu me arrependa de ter
trazido uísque! — pediu Valente e eu apenas concordei com a
cabeça, tocando em sua perna por debaixo da mesa. Só em ter a
sua presença ao meu lado eu já me sentia um pouco menos irritado.
— Como descobriu sobre essa história de James e Norah?
— Da pior forma possível, vendo uma mensagem da minha
irmã para aquele filho da puta! Ela enviou uma foto quase pelada
para ele, porra!
— Que merda! — Benjamin murmurou enquanto servia uma
dose para ele e Avalon. — Precisa se acalmar, Logan, e me ouvir.
— Ouvir o quê? Se não sabia que eles estavam juntos, então,
não tem nada para me falar!
Eu queria muito, mas não acreditava nem por um segundo que
Benjamin não sabia daquela merda. Se ele soube sobre Mason, o
que impedia que ele soubesse sobre James estar tocando na minha
irmã? Na minha irmãzinha, porra! Servi mais uma dose e bebi sob o
olhar sério de Avalon.
— Eu disse a verdade, não sabia que eles estavam juntos, mas
sabia que James estava apaixonado pela Norah.
Eu ri alto e senti os olhos de alguns poucos clientes sobre
mim. Ainda era cedo, mal anoitecera, mas eu sabia que em breve o
lugar estaria lotado e eu seria o centro das atenções. Ótimo!
— Apaixonado? Como James estava apaixonado por Norah se
a ajudou a ficar com Mason dois meses atrás, porra?! Está achando
que eu sou idiota?
— Claro que não, Logan...
— Mas é o que parece se acha mesmo que vou acreditar nisso.
A verdade é que James resolveu passar por cima da nossa amizade,
de toda a nossa história, porque começou a desejar a minha irmã!
Eu via os olhares dele para cima dela, a forma diferente como a
estava tocando e tratando, sempre tentando disfarçar, mas mal
conseguindo! Só que eu não quis acreditar que ele estava sendo
canalha a ponto de estar... Não, eu nem quero repetir essa merda
em voz alta!
Trepando com a irmã.
Aquele filho da puta, que se dizia ser o meu melhor amigo,
estava comendo a minha irmã! O pensamento me deixava com a
sensação de que havia uma corda em meu pescoço, me deixando
sufocado.
— Não acho que James faria isso, Logan — disse Valente,
chamando a minha atenção. — Não acredito que ficaria com a sua
irmã se não tivesse sentimento envolvido.
— Havia sentimento envolvido, sim. Era tesão reprimido que
aquele babaca sentia por ela!
— Não, Logan. Se parar de ser cabeça-dura e me ouvir, vai
entender que não é nada disso...
— Por que está aqui? — perguntei para Benjamin,
interrompendo-o. — Porque James te mandou, é isso? Ele é tão
covarde que precisou mandar você aqui em sua defesa para poder
me convencer de que ama a minha irmã?
— Não, Logan, James só me pediu para vir atrás de você
porque nós dois ficamos preocupados com a forma como saiu de
casa. Eu estou tentando conversar com você simplesmente porque
vocês dois são os meus melhores amigos e não quero que fiquem
brigados por conta de uma besteira.
— Besteira?! Ele estar comendo a minha irmã é uma besteira
para você, Benjamin?
— Logan, fique calmo! — Valente tocou em meu peito, me
fazendo recostar na cadeira de novo. — Olhe para mim — pediu bem
séria e eu obedeci. — Sei que está com raiva e que quando fica
assim não quer ouvir ninguém, mas precisa parar de agir dessa
maneira impulsiva e ouvir o que as pessoas têm a dizer para você.
Escute Benjamin, ele é seu melhor amigo e se está aqui, é porque se
importa com os seus sentimentos.
Eu respirei fundo e concordei com a cabeça, sabendo que
Avalon tinha razão. Ela sempre tinha, afinal. Vi Ben dar um olhar
agradecido para ela e tomar um gole de uísque antes de começar a
falar.
Ele explicou sobre a proposta que minha irmã fizera para
James e o momento em que o babaca aceitou ajudá-la a se
aproximar de Mason. Sobre aquela história eu já sabia, mas se
Benjamin achava necessário me contar tudo de novo, eu iria ouvir,
exercitando a minha paciência. Chegou ao momento em que Norah
e o jogador começaram a sair juntos e sobre a forma como James
passou a reagir àquilo.
— No início, eu tinha apenas uma suspeita de que James
estava com ciúmes e achei que era porque sempre foi muito
apegado a Norah. Apenas naquela noite no pub foi que entendi que
o que ele sentia não era nada fraternal e o confrontei no banheiro
sobre o que sentia por sua irmã e James confirmou que estava
apaixonado por ela.
— Você sabia disso durante todo esse tempo e nem pensou
em me contar?
— Não cabia a mim, Logan. Precisa me entender, sou seu
amigo, mas também sou amigo de James, se eu contasse para você,
estaria quebrando a confiança dele.
— Mas pôde quebrar a minha confiança ao esconder isso de
mim?
— Escondi de você porque, até aquele momento, James
apenas estava apaixonado e não tinha nada com Norah. Eu acredito
que ele não me contou que estava com ela porque não queria pedir
que eu mantivesse segredo de você.
— Ou simplesmente porque era mais fácil transar com a minha
irmã sem precisar dar explicação para ninguém — retruquei.
— Não, Logan. Você conhece James há muito mais tempo do
que eu, foram criados praticamente como irmãos, sabe que ele
jamais tocaria em Norah se realmente não a amasse. Eu vi o dilema
dele naquela noite, como estava sofrendo e dividido entre os ciúmes
que sentia ao ver sua irmã com Mason, a descoberta de que estava
apaixonado por ela e a lealdade a você.
— Vamos supor que tudo isso seja verdade. Por que James
não veio conversar comigo sobre o que sentia pela Norah?
— Por que ele sabia que você reagiria assim? — Foi Avalon
quem perguntou e eu a encarei sem demonstrar que estava abalado.
— James te conhece melhor do que ninguém, Logan, ele sabia que
você reagiria mal e que, provavelmente, nem ia querer ouvir o que
ele tinha para dizer.
— Isso não é verdade! — defendi-me, mas Valente estreitou
os olhos para mim.
— Não é verdade? Tem certeza? Eu te amo e você sabe, não
estou falando isso para te magoar, mas você é muito cabeça-dura,
Logan! E quando o assunto é sua irmã, sempre passou por ela como
um rolo compressor. Estamos aqui discutindo sobre James, mas já
parou para pensar em Norah? Em como ela se sente? Sua irmã te
ama e jamais aceitaria ficar com James se não nutrisse sentimentos
verdadeiros por ele, pois ela com certeza pensou na sua reação
quando descobrisse tudo. Talvez tenha sido ela que pediu para que
James mantivesse segredo, já pensou nisso?
Eu fiquei quieto por um tempo, sentindo meu peito se revolver.
Avalon ter citado Norah me fez perceber que em nenhum momento
eu pensei nos sentimentos dela. De novo. Será que eu estava sendo
egoísta mais uma vez? Mesmo depois de ter prometido a minha irmã
que eu iria mudar?
— Acredito que Norah possa mesmo amar James — falei
depois de alguns minutos, sendo observado de perto por Valente e
Benjamin. — Mas não consigo acreditar que ele sinta o mesmo por
ela.
— Por quê? Acha que sua irmã não é digna de ser amada por
um homem como James? — perguntou Avalon e suas palavras me
atingiram com força.
— O quê? É claro que não! Norah é digna de todo o amor do
mundo! — Defendi a minha irmã, confuso com a pergunta de
Valente. — E o que quer dizer sobre “ser amada por um homem
como James”?
— Um homem honesto, íntegro, que sempre a tratou com
muito amor e respeito e que é o melhor amigo do mundo para você
desde que os dois eram moleques e ainda usavam fraldas! — Avalon
me deu um olhar meio condescendente, como se não acreditasse
que estava precisando me falar o óbvio.
— Avalon tem razão, Logan. James é mesmo tudo isso e você
sabe. Sei que está com raiva, principalmente pela forma como
descobriu tudo, mas não pode apagar da sua mente o cara incrível
que aquele babaca é apenas porque está se sentindo traído por ele e
por sua irmã.
Voltei a cruzar os braços e não consegui impedir o filme que
começou a passar pela minha cabeça. James e eu juntos desde
crianças, aprendendo a jogar futebol, correndo pela minha casa,
jogando videogame no quarto dele, ficando mais velhos e
começando a falar sobre garotas. Foi para ele que contei quando
transei pela primeira vez e foi para mim que James confessou estar
apaixonado por uma menina da nossa escola. Nós sempre estivemos
juntos, eu conhecia a sua alma e me sentia sufocado naquele
momento por estar duvidando da lealdade dele, da nossa amizade
de anos.
Só que Avalon e Benjamin tinham razão. James era mesmo um
cara incrível e, talvez...
Talvez.
Ele fosse o cara certo para a minha irmã.
— Merda... — Abri a garrafa de uísque e olhei para Avalon ao
meu lado. — Desculpa, Valente, mas eu preciso beber.
Avalon apenas concordou com a cabeça, como se soubesse
que eu precisava extravasar de alguma forma, e ficou ao meu lado
junto com Benjamin enquanto eu dava um gole atrás do outro no
uísque. Senti meu corpo começar a pesar e minha mente ficar mais
aérea, trazendo mais lembranças à tona. A forma como Norah
sempre olhou para James como se ele fosse a pessoa mais especial
do universo, o cuidado que ele tinha com a minha irmã, a forma
como era protetor.
Porra, minha irmã confiava mais em James do que em mim!
Aquilo me pegou bem fundo de repente e funguei, virando o rosto
para o lado.
— Logan? — Avalon tocou em meu rosto, mas me recusei a
olhar para ela ou para Ben. — Você está chorando?
— Não — resmunguei, sentindo minha língua mais pesada por
conta da bebida. A gargalhada de Benjamin machucou os meus
ouvidos.
— Você está chorando sim, cara! Não acredito nisso!
— Sou eu que n-não acredito — solucei — que isso está
acontecendo. É a minha irmãzinha, Ben! Valente. — Virei-me para a
minha garota e minha mente bêbada ignorou o fato de que ela
queria rir de mim. — Imagina se, de repente, o Ben... — Apontei
para o meu amigo. — Decide que quer na-namorar a Aub? Entende
como isso não faz sentido?
— Não faz sentido mesmo, até porque, minha irmã tem
quatorze anos, Logan.
— Vamos supor que ela seja ma-mais velha. — Revirei os
olhos.
— Vamos supor merda nenhuma, você sabe que eu não quero
me amarrar a ninguém e agora quer usar a Aubrey como exemplo?
Mesmo se eu quisesse muito me apaixonar, jamais tocaria na garota
que você considera a sua irmã mais nova, Logan — Benjamin
comentou com uma risada, como se eu estivesse louco. Estreitei os
olhos.
— James também me prometeu que nunca tocaria na minha
irmã e olha só o que aconteceu. Agora o babaca está apaixonado
por ela!
— Isso quer dizer que você acredita nos sentimentos dele? —
Avalon jogou a pergunta em meu colo.
Tomei mais um gole do uísque e observei a garrafa abaixo da
metade sobre a mesa. Eu não queria admitir, mas agora que estava
mais calmo — e bem menos sóbrio —, precisava ser honesto. Eu
conhecia James, por mais que estivesse com raiva dele agora, e
sabia que não seria tão baixo a ponto de tocar em Norah se não a
amasse. E minha irmã era a garota mais incrível e doce que eu
conhecia. Como meu melhor amigo não se apaixonaria por ela?
— Sim — murmurei e ouvi Benjamin falar “graças a Deus”. —
Mas ainda estou puto e não quero falar com aquele babaca tão
cedo.
— James vai respeitar isso e dar um tempo para você
processar tudo — Benjamin garantiu.
— Ligue para ele. — Vi a surpresa nos olhos do meu amigo e
da minha namorada com o meu pedido. — E peça para colocar uma
bolsa de gelo naquela boca. Eu o soquei, sabia, Valente? Isso é uma
droga. Isso é ruim pra caralho...
Sacodi a cabeça, me sentindo péssimo, e Avalon me abraçou
pelo pescoço, deixando um beijo no canto da minha boca.
— James vai te perdoar.
— Não quero o… perdão dele — resmunguei.
— Claro que quer, e você vai perdoá-lo também. A amizade de
vocês não vai acabar nunca.
Fechei os olhos ao ouvir as palavras de Avalon e torci para que
estivesse certa.
Logan passou os últimos dois dias na casa de Avalon e eu
decidi dar um tempo para que meu irmão esfriasse a cabeça, apesar
de estar louca para falar com ele, abraçá-lo e lhe dar uns tapas por
ter socado James e ser tão teimoso.
Demorei para entender o que havia acontecido quando
cheguei em casa duas noites atrás e encontrei James sentado no
sofá com uma expressão de derrota no rosto e a boca sangrando.
Ele me contou cada detalhe com a voz embargada e uma tristeza no
olhar que partiu o meu coração em mil pedaços. Foi inevitável me
sentir culpada por tudo aquilo — por causar uma briga entre ele e
meu irmão e por ter sido imprudente ao enviar aquela mensagem
para James, mesmo que aquele tipo de conversa fizesse parte do
nosso “novo normal”.
Apesar de James garantir que não me culpava, acabei
chorando em seus braços enquanto processava tudo o que
acontecera. Acabei ligando para Avalon em certo momento da noite,
para me certificar de que Logan estava bem, e ela me tranquilizou
ao contar que ele ouvira tudo o que Benjamin dissera a nosso favor
e deixou claro que acreditava nos meus sentimentos e nos de
James. Ela me disse que meu irmão estava bêbado — o que me
preocupou muito —, mas garantiu que ele estava usando a bebida
apenas porque estava com dor de cotovelo e que cuidaria dele.
Só fiquei tranquila quando Benjamin chegou em casa com um
semblante calmo e riu ao dizer que Logan pediu para que James
colocasse gelo na boca — coisa que eu já havia feito mais cedo. O
olhar que James me deu reconstruiu uma parte do meu coração,
pois vi a esperança neles. Esperança de que sua amizade com o meu
irmão não estivesse perdida para sempre.
O jogo beneficente aconteceria naquela tarde de domingo e
James acordou bem cedo para poder ir para o centro de
treinamento. Eu o encontrei debaixo do chuveiro antes das sete da
manhã e tirei a minha roupa antes de entrar no box e o abraçar por
trás, dando um beijo em seu ombro forte. Ele se virou em minha
direção com um sorriso e tomou meu rosto nas mãos, dando um
beijo delicado em minha boca.
— Ainda é muito cedo, não deveria estar acordada.
— Senti a sua falta na cama. Como está se sentindo?
James estava muito calado naqueles dias, não que estivesse
me ignorando, mas estava o sentindo mais introspectivo, assim
como eu estava também. Sentia que só voltaríamos à normalidade
depois que conversássemos de verdade com o meu irmão.
— Queria dizer que estou tranquilo, mas seria mentira. Estou
ansioso para ver Logan. Não faço ideia de como irá reagir na minha
presença.
— Acho que ele não vai te dar outro soco — brinquei e deu
certo, pois James riu.
— Também acho que não, mas se ele der, vou aceitar calado.
— Nada disso, um soco já foi um exagero, se Logan pensar em
te dar outro, eu vou ter que dar um soco nele por você.
— Desde quando você se tornou tão violenta?
— Só me torno violenta para defender aqueles que eu amo —
falei, ficando na ponta dos pés para que nossos lábios se
encontrassem. — E eu amo você.
Beijei a sua boca com amor e sua língua dançou sensualmente
com a minha, me deixando sem fôlego e cheia de desejo. Não
fizemos amor desde a confusão com Logan e eu sentia uma saudade
absurda de James. Acho que ele sentia o mesmo, pois aprofundou o
beijo, arrancando um gemido do fundo da minha garganta, e desceu
as mãos enormes pelas minhas costas até chegar em minha bunda.
Ele me impulsionou, fazendo minhas pernas rodearem a sua cintura.
— Também amo muito você. — Sua voz saiu em um sussurro
e eu ofeguei em seus lábios ao sentir a cabeça gostosa do seu pau
pressionar a minha entrada. — Mais do que já amei qualquer outra
pessoa em minha vida, Norah.
Eu sabia que James estava sendo sincero e a forma como suas
palavras me tocaram, como seu pau me invadiu até o fundo, me
trouxe lágrimas aos olhos. Porque eu tinha certeza de que, mesmo
que aquilo quebrasse o seu coração, James abriria mão da sua
amizade com Logan apenas para ficar comigo se fosse preciso. Mas
não seria. Eu jamais permitiria que chegasse àquele ponto.
James fez amor comigo como se estivesse desesperado para
me sentir e eu retribuí o seu sentimento, beijando a sua boca e
arranhando a sua nuca, acolhendo-o dentro de mim quando
começou a acelerar seus movimentos. Seu pau me tocou bem no
fundo da boceta, me fazendo ver estrelas ao olhar para o teto do
banheiro, e o prazer me fez gemer o seu nome sem qualquer pudor.
Com as minhas costas pressionadas contra o azulejo gelado,
James me segurou firme pela bunda, apertando com força as
minhas nádegas, e me comeu com fome, olhando em meus olhos,
compartilhando seu ar, seu amor, sua alma comigo. Eu fui pega de
surpresa pelo orgasmo quando beijou a minha boca e o senti
extravasar sem qualquer controle, metendo com muita força em
minha boceta enquanto gozava dentro de mim.
James me marcou naquela manhã, mais uma vez, e quando
terminou, eu o encarei com um sorriso emocionado.
— Não precisa se sentir ansioso por hoje, meu irmão te ama e
vai nos aceitar — garanti, simplesmente sentindo uma certeza que
vinha do fundo do meu peito. — Jogue com a sua alma, mostre para
todo mundo o profissional incrível que você é e não permita que
ninguém deixe você duvidar da sua capacidade e da sua lealdade —
falei bem sério, olhando em seus olhos. James sabia que eu estava
falando sobre seu pai, sobre Logan, sobre como ele se sentia no
mais íntimo do seu ser.
Seus olhos se encheram de lágrimas e vi algo brilhar em suas
írises escuras. Gratidão.
— Eu não seria nada sem você, preciso que saiba disso —
confidenciou e eu acreditava, pois também não seria nada sem ele.
— Eu te amo.
— Eu te amo.
Dei um beijo em sua boca e torci para que aquele fosse um
dos melhores dias da sua vida.

A primeira pessoa que vi ao entrar no vestiário já cheio do


nosso time, foi Logan. Ele estava mais ao fundo, concentrado perto
de Benjamin. Como se sentisse a minha presença, seus olhos se
encontraram com os meus e o lugar pareceu entrar em um silêncio
profundo enquanto eu encarava o meu melhor amigo. Não consegui
ler muita coisa em sua expressão, mas fiquei tranquilo ao perceber
que já não parecia sentir tanta raiva de mim.
Se alguém percebeu como estávamos distantes, não disse
nada. Eu duvidava que os jogadores do time perderiam tempo
observando minha relação com QB, mas não deixei transparecer que
estávamos abalados. Era importante que todo mundo acreditasse
que estava tudo normal, para que não estremecesse a confiança do
time.
Nós nos arrumamos e, para a minha surpresa, Logan se
aproximou de mim antes que saíssemos do vestiário, perto da hora
do jogo.
— Precisamos ter uma conversa muito séria mais tarde.
— Eu sei disso, só estava esperando que você estivesse
pronto, Logan — murmurei de volta para ele.
Logan apenas concordou com a cabeça e saiu. Benjamin
começou a caminhar ao meu lado e me deu um sorriso confiante.
— Vai ficar tudo bem, seu idiota. Na verdade, precisa ficar
tudo bem, porque não aguento mais aturar vocês dois
choramingando.
— Não estou choramingando.
— Está, sim. Nunca pensei que diria isso, mas vocês
conseguem ser mais insuportáveis separados do que juntos.
Aquilo me arrancou uma risada sincera e dei um soco de leve
no braço de Ben, abaixo do nosso equipamento de proteção.
— E você está morrendo de saudade da gente, pode confessar.
— Talvez. — Benjamin ergueu o punho para mim e toquei o
meu com o dele. — Vamos vencer hoje.
— Vamos vencer hoje — repeti nosso lema e segui em frente
ao seu lado.
O Bryant-Denny Stadium, estádio do Crimson Tide, estava
lotado. Nós nos posicionamos no lugar indicado e observamos o time
do Clemson Tigers surgir no campo. Nos cumprimentamos com
apertos de mãos e eles logo foram para o seu lugar marcado,
esperando, assim como todos nós, pelo discurso do dono da ONG.
Eu sentia orgulho de jogar por causas tão especiais quanto
aquela e sabia que meus companheiros mais próximos se sentiam
da mesma forma. Era sempre um prazer colocar o nosso talento em
campo para impulsionar boas ações. Enquanto o dono discursava, eu
encontrei minha família na primeira fileira da arquibancada ao lado
do pai e da avó de Logan, e ignorei o olhar atento do meu pai,
agarrando-me às palavras de Norah.
Sorri ao ver que minha garota usava a minha camisa. Mesmo
que Norah sempre a usasse — substituindo-a, às vezes, pela camisa
de Benjamin quando ele reclamava —, daquela vez, o sentimento
que me invadiu foi diferente. Eu sabia que ela estava usando a
minha camisa porque era a minha mulher agora e não mais a minha
amiga. Ao seu lado, estava Avalon com a camisa de Logan e Aubrey
com a camisa de Benjamin. Eles fizeram as pazes depois que o idiota
contou a ela que excluiu o número das garotas.
O jogo começou e meu pai não mentiu quando disse que o
Clemson Tigers viria com tudo para cima do nosso time. Por
estarmos em casa, a multidão nos impulsionava, cantando o nosso
grito de guerra, e eu fiz como Norah pediu. Dei tudo de mim
naquele jogo.
A partida começou com Clemson Tigers atacando. Nosso time
de defesa se posicionou e foi rápido em impedir que Gavin Foster
arremessasse a bola, pelo menos cinco dos nossos jogadores se
jogando em cima do quarterback forte e alto. Foi literalmente por
milésimos de segundos, caso contrário, Gavin teria conseguido
lançar a bola para o wide receiver que estava a postos.
Eles se reorganizaram para a segunda jogada e, daquela vez,
o quarterback conseguiu lançar a bola para o running back, que
começou a correr pelo campo. Nós gritamos e senti vontade de
entrar em campo para fazer alguma coisa, mas respirei com mais
tranquilidade quando o jogador foi interceptado por outros dois
jogadores da linha de defesa do Crimson antes de se aproximar
demais da end zone.
Nossa sorte não durou muito, infelizmente, pois os Tigers
conseguiram marcar um ponto ao acertar o goal post ao final do
primeiro quarto. Estávamos apenas começando e tinha certeza de
que aquele jogo seria nosso. O QB do time adversário poderia ser
ágil e talentoso, mas nós tínhamos Logan Miller III ao nosso lado e
eu sabia que ninguém mais amava aquele time como o meu melhor
amigo.
Logan me deu um olhar firme quando nos posicionamos e eu
retribuí, fazendo o mesmo com Benjamin. Éramos um trio, por mais
que houvesse outros jogadores importantes ao nosso redor. Senti
Mason ao meu lado, posicionado da forma como o treinador Coben
ordenou, mas ignorei a sua presença.
A partida começou e Logan rapidamente recebeu a bola,
lançando-a no ar para mim. Eu a peguei e corri com ela debaixo da
axila, batendo com os ombros em três jogadores que tentaram me
cercar enquanto meu time tentava bloqueá-los — Mason entre eles,
o que me surpreendeu um pouco, pois cheguei a pensar que nosso
ódio mútuo o faria prejudicar o desempenho do time.
O pensamento sobre o tight end passou bem rápido pela
minha cabeça, pois dei o máximo do meu corpo e da minha
agilidade para me aproximar da end zone do Clemson Tigers. Senti
mais dois jogadores tentando me derrubar, mas passei por eles
como um flash, usando as palavras de Norah naquela manhã como o
meu maior incentivo. Eu quase podia ouvir a sua voz gritando o meu
nome no meio da multidão e lancei a bola para a end zone
marcando um touchdown para ela.
Meus olhos a encontraram no meio do público que berrava e
os meus companheiros de time vieram correndo para cima de mim
comemorar. Nós nos separamos em poucos segundos e nos
preparamos para continuar minutos depois.
O resto do jogo passou por mim como um borrão. Eu estava
tão concentrado, que mesmo depois de termos marcado mais um
ponto acertando o goals post, eu não relaxei. Apenas quando
chegamos ao final, com o placar inegavelmente a nosso favor, foi
que me permiti comemorar com o meu time e senti braços demais
me cercando.
Aquela vitória era nossa, mas ia além disso. Era uma vitória
pessoal. Não era um jogo da temporada, eu sabia disso, mas foi o
primeiro jogo em anos em que me entreguei sem pensar nas
possíveis críticas do meu pai e sem sentir o peso que ele exercia
sobre mim. Sorri e abracei Benjamin com força, nós dois já sem o
capacete. Ele havia marcado um touchdown incrível, que nos
permitiu desempatar com o Clemson na última rodada.
— Você foi foda pra caralho! Estou orgulhoso! — disse ele,
como se soubesse que aquele jogo fora diferente para mim.
— Também estou orgulhoso demais de você!
Nós nos abraçamos mais uma vez e senti uma falta terrível de
Logan. Ele estava comemorando com outros dois jogadores e Ben
me deu um olhar solidário.
— Vocês ainda vão comemorar essa vitória hoje à noite,
acredite em mim!
Agarrei-me às suas palavras com toda a minha força. Nós
voltamos a nos reunir em campo quando o dono da ONG se
aproximou para nos cumprimentar. Assim que ele se afastou, eu fui
falar com os jogadores do Clemson e apertei firme a mão do
quarterback quando fechei a nossa distância. Eu simpatizava com
ele, talvez, por saber que também não ia com a cara de Mason.
— Você foi foda em campo, parabéns!
— Você também. O que foi aquele touchdown? — Gavin sorriu.
— Admiro muito o time de vocês, de verdade. Mereceram ganhar a
última temporada. Espero que permitam que um outro QB tome
uma cerveja com vocês mais tarde.
Eu sorri para ele e concordei com a cabeça.
— Você e os outros jogadores serão mais do que bem-vindos
hoje à noite.
— Vou levar apenas os melhores comigo. — Ele se aproximou
um pouco mais de mim, como se fosse contar um segredo. — Nem
todos prestam fora de campo.
Pensei em Mason e entendi rapidamente o que ele quis dizer.
— Vou esperar por você e pelos melhores jogadores dentro e
fora de campo, então.
Nós sorrimos e eu fui cumprimentar aqueles com quem não
tinha falado ainda. Momentos depois, voltei a me reunir com o meu
time e o dono da ONG fez mais um breve discurso e anunciou que
sua equipe de voluntários havia preparado um vídeo em
homenagem a todos que participaram daquela ação solidária.
Nos telões espalhados pelo estádio, um vídeo com as fotos dos
patrocinadores começou a passar. Vi meu pai entre eles e não pude
deixar de me sentir orgulhoso, principalmente quando percebi que
ele era o único homem negro entre tantos empresários importantes.
Ele poderia ser exigente demais comigo, mas eu sentia muito
orgulho do império que construiu, ainda mais em um país tão racista
quanto o nosso.
Após os patrocinadores, vieram fotos do prefeito, alguns
organizadores, os reitores da faculdade e, por fim, fotos dos dois
times, primeiro do Clemson e, por último, o nosso. Senti alguém
parar ao meu lado, mas estava concentrado demais no vídeo,
achando legal a homenagem, portanto, só ouvi a voz de Mason:
— Emocionante, não? Ainda não acredito que vencemos,
espero que o dinheiro arrecadado ajude muitas pessoas.
Eu concordei, afinal, aquele era o desejo de todos que
estavam ali. Pelo menos, eu acreditava que sim.
— Vai ajudar, essa é uma ONG séria — afirmei, pois meu pai
pesquisara bastante sobre a instituição antes de aceitar o convite
para ser um dos patrocinadores.
— Sei disso. Achei legal da parte deles fazer essa homenagem.
Eles pediram uma foto para você?
Virei-me para Mason e franzi o cenho.
— Não. Eles pediram para você?
— Sim. — Ele olhou para o telão e sorriu. — Ali está a foto que
eu mandei para eles.
Voltei a olhar para o telão e senti uma onda de choque passar
pelo meu corpo quando, ao invés de encontrar uma foto de Mason,
encontrei uma foto minha e de Norah aos beijos em frente ao
banheiro do Maeve’s. Ouvi alguns companheiros de time
comentando sobre a foto tão fora de contexto da homenagem e vi
Logan se virar para mim com o cenho franzido em confusão. Ao meu
lado, Mason comentou com ironia:
— Achei que seria emocionante mostrar para todo mundo que
há um novo casal apaixonado entre nós.
Eu me virei para aquele filho da puta e vi a sua máscara
finalmente cair bem na minha frente. Havia maldade em seus olhos
e logo entendi a sua intenção. Ele não queria que todo mundo
soubesse que Norah e eu estávamos juntos, mas apenas uma
pessoa em específico: Logan. Seus olhos correram para o
quarterback, mas, antes que ele pudesse abrir aquela boca imunda,
eu o atingi com um soco tão forte, que Mason caiu no chão.
A multidão gritou, mas eu perdi completamente a minha razão
e me joguei sobre Mason, voltando a socar aquela sua cara de
menininho mimado que não aceitava perder. Ele sorriu para mim,
mesmo com a boca ensanguentada e o nariz quebrado, e tentou
falar alguma coisa, mas um outro punho atingiu a sua cara, fazendo-
o virar o rosto para o lado. Ergui os olhos e fiquei chocado ao ver
que era Logan.
— Quem esse filho da puta pensa que é para expor minha
irmã e você assim, porra?! — Logan gritou e eu me levantei de cima
de Mason apenas para trazê-lo comigo pela camisa do time.
O babaca se ergueu, tonto, e eu o atingi de novo, antes de ser
agarrado por trás. Mason cambaleou e quase caiu em cima de
alguém atrás dele. Vi que era Gavin. O quarterback — que poderia
facilmente se tornar o meu mais novo melhor amigo — empurrou
Mason com força e deu um chute na parte de trás do seu joelho,
fazendo o tight end perder o equilíbrio e cair ajoelhado no chão.
— Eu não sei por que está apanhando, mas com certeza
mereceu cada soco que levou. Na verdade, você merece uma surra
há muito tempo! — disse o QB do outro time e alguém logo o
segurou por trás. Percebi que quem me segurava era Benjamin e
que Logan também estava sendo contido.
Sem perder aquela arrogância que agora Mason parecia não
querer mais disfarçar, ele ergueu a cabeça com um olho inchado, o
nariz torto e a boca sangrando, e sorriu para Gavin.
­ Cuidado, Gavin, ou eu posso revelar o seu segredo e tornar

você a chacota da Carolina do Sul.
Gavin não se intimidou. Ele tentou se soltar, mas como não
conseguiu, falou mesmo de longe:
— É você que precisa ter cuidado, Mason, pois eu sei o que
você fazia na Carolina do Sul antes de ser transferido para o
Alabama. Se eu revelar o seu segredo, posso acabar com a porra da
sua carreira!
Mason finalmente pareceu abalado e seguranças se
aproximaram junto com a polícia, médicos, os reitores da faculdade
e todos os empresários importantes que estavam reunidos no
estádio. Eu não consegui tirar os olhos de cima de Mason e,
enquanto ele era levado para receber os primeiros socorros, só
consegui pensar nas palavras de Gavin.
Fiquei tão chocada ao ver uma foto minha e de James aos
beijos no telão, exposta de forma horrível para que todos pudessem
ver, que demorei a entender o que estava acontecendo no meio do
campo. Da distância em que eu estava, só vi James partir para cima
de alguém e o susto pela sua reação me deixou ainda mais
assustada. Nunca vi James agir de forma violenta com qualquer
pessoa. Foi Avalon quem agarrou a minha mão, me fazendo sair da
arquibancada e entrar no campo ao lado do meu pai quando, de
repente, Logan se ajoelhou ao lado de James no chão e socou o
jogador caído no meio da grama.
Só quando chegamos mais perto, foi que reconheci o homem
ensanguentando. Mason ficou de pé apenas porque James o ergueu,
mas parecia sem equilíbrio e sorria de forma arrogante. Seguranças
não deixaram que a gente se aproximasse, mesmo com os protestos
do meu pai, e o falatório da multidão não me permitiu ouvir o que os
jogadores diziam um para o outro. Percebi que o quarterback do
time adversário também se metera na briga e o lugar se tornou um
pandemônio quando a polícia se aproximou.
— Vamos esperar tudo se acalmar e depois entramos no
vestiário — meu pai pediu, levando Avalon e eu para um lugar mais
seguro onde ficava a equipe técnica do Crimson.
Eu olhei para trás, tentando ter um vislumbre da confusão,
mas perdi James de vista. Seguranças, médicos, empresários que eu
não conhecia e até mesmo os reitores da faculdade se aproximaram
de onde ele estava e aquilo me deixou nervosa. Os telões estavam
apagados, mas nossa foto juntos em frente ao banheiro do Maeve’s
Bar, no final de semana em que comemorei ao lado dos meus
amigos de teatro, ainda estava em minha mente.
Mason tirara aquela foto e a colocara no telão? Por quê? Eu só
conseguia pensar naquilo, apesar de estar confusa. Pensei que ele
tivesse aceitado o nosso término. Nunca mais me procurou desde a
nossa última conversa e eu não tinha conhecimento de qualquer
briga entre ele e James nos bastidores do time. Mas se o wide
receiver chegara ao ponto de socá-lo, bem como o meu irmão, era
porque Mason merecia.
— Pai, sobre aquela foto... — Tentei me explicar, mas meu pai
apenas apertou o meu ombro.
— Não estou preocupado com o conteúdo da foto, Norah, mas
com quem a tirou e fez com que aparecesse naquele telão para que
milhares de pessoas vissem. O filho da puta que fez isso vai pagar.
— Papai garantiu, dando um beijo rápido em minha testa.
Sequei minhas mãos suadas em minha calça jeans e Avalon
passou o braço pelo meu.
— Acha que foi Mason? — perguntou baixinho para mim
quando os dois times finalmente começaram a sair de campo.
— Para James e Logan reagirem daquela forma, acredito que
sim, mas não entendo por que ele faria isso.
— Talvez você não o conheça da forma que imaginava.
Concordei com a cabeça, me sentindo muito mal, apesar de
saber que a culpa não era minha. Pelo menos, não totalmente.
Como poderia imaginar que Mason faria algo tão covarde e exporia
James e eu daquela forma? Na minha cabeça, ainda não fazia
sentido. Aquela ação não combinava com o homem que ele se
mostrou ser para mim.
Após a confusão passar, meu pai conseguiu que um dos
funcionários do time nos levasse até onde meu irmão e James
estavam. Descobrimos que eles não estavam no vestiário com os
outros, mas em uma sala menor junto com o treinador Coben, um
dos reitores da faculdade e Jonathan McHugh, pai de James, que
olhava para o filho com irritação. Meu irmão e namorado estavam
sentados, ambos de braços cruzados enquanto o treinador e o reitor
disputavam para ver quem falava mais alto. Assim que nos viram, os
dois se levantaram.
Quis correr para os braços de James, mas vi em seus olhos o
pedido para que eu tivesse cautela, por isso, me mantive ao lado de
Avalon. O reitor mal percebeu a nossa presença enquanto falava que
era um absurdo aquele tipo de comportamento, que aquele era um
evento que traria muita visibilidade para a universidade e que James
e Logan precisavam de uma punição severa, talvez, uma expulsão.
Aquilo fez o meu coração ficar ainda mais acelerado.
­ Acho que nenhuma medida definitiva tem que ser tomada

agora — disse o treinador.
— E o senhor, por mais que seja o reitor da faculdade, não
tem autoridade para expulsar qualquer jogador do time. Isso fica a
cargo da comissão técnica. — A voz do pai de James soou irritada.
— Por que estão conversando sobre a punição deles e não
sobre o crime que aconteceu lá fora?
— Estamos falando sobre isso, agressão é crime, Sr. Miller! —
O reitor estava com o rosto vermelho.
— Expor uma foto íntima sem o consentimento das vítimas
também é um crime, Sr. Dawson.
— Está falando sobre aquela foto do beijo? Não entendi por
que ela estava no vídeo, deve ter sido um engano...
— Não foi um engano! Mason Goldberg deu um jeito de fazer
aquela foto aparecer no telão e foi por isso que parti para cima dele!
Sei que errei, mas ele expôs a minha namorada na frente de
milhares de pessoas e assumiu isso para mim! O que queriam que
eu fizesse?
— Nada! Você não tinha que ter feito nada, James! Deixasse
para resolver isso depois! — Jonathan ralhou.
— É claro, pai, porque para o senhor não existe nada mais
importante do que o time ou o futebol, mas para mim, Norah é mais
importante do que tudo! Eu jamais ficaria quieto enquanto aquele
filho da puta ficava rindo com a expressão satisfeita por ter exposto
a intimidade da minha mulher na frente de todo mundo!
A sala caiu em silêncio e eu... Eu amei James ainda mais. Não
pude me manter distante por mais tempo e me aproximei sem que
ele percebesse, o abraçando com força. Ele ainda usava o
equipamento de proteção sob o uniforme, mas aquilo não me
incomodou nem me impediu e tomar seu rosto suado em minhas
mãos e beijar delicadamente a sua boca.
Não me importei se meu irmão estava vendo, meu pai, o reitor
da faculdade, ninguém. Só me importei com aquele homem incrível,
que havia sido tão exposto quanto eu, mas que colocava a minha
honra acima de qualquer coisa, inclusive do futebol.
— Eu amo você — sussurrei entre os seus lábios para que
apenas James ouvisse.
— Também amo você. — Ele tomou o meu rosto entre as
mãos e me deu um olhar aflito. — Me perdoe, Norah, nunca
imaginei que aquele filho da puta seria tão baixo a ponto de tirar
uma foto escondido de nós dois e expor dessa forma...
— Eu sei disso, a culpa não é sua, James. Mason me enganou.
Ele não é nada do que eu pensei que fosse.
— Não, ele não é, mas conversamos sobre isso depois.
Percebi que James sabia sobre algo que eu não tinha
conhecimento, mas concordei com a cabeça e segurei a mão dele
antes de voltar a encarar os homens naquela sala. Avalon agora
estava ao lado de Logan e meu pai retomou a palavra.
— Acredito que o certo a se fazer agora, é deixar James e
Logan irem para o vestiário, enquanto nós nos reunimos para
conversar de maneira civilizada sobre tudo o que aconteceu.
— Concordo — disse o treinador.
O reitor fez um aceno positivo com a cabeça, parecendo um
pouco mais calmo depois da defesa de James, e eu dei mais um
beijo no jogador antes de deixar que ele fosse para o vestiário com
o meu irmão. Assim que eles saíram, aproximei-me do meu pai.
— Por favor, pai, não deixe que eles sejam expulsos.
— Eles não serão, pode ficar tranquila — garantiu e a sua
confiança me deixou mais calma. — É melhor vocês duas irem para
casa agora, não há mais nada que possam fazer aqui.
— Seu pai tem razão, Norah — disse Avalon, segurando a
minha mão.
Nós nos despedimos do meu pai e eu dei um olhar sério para o
reitor antes de sair. Aquele velho filho da mãe! Se ele ousasse
expulsar James e Logan do time, eu nem sabia o que seria capaz de
fazer. Nós saímos juntas da sala e logo encontramos o caminho que
nos levaria direto para o estacionamento de pessoas credenciadas,
já que Avalon garantiu que Aubrey tinha ido embora com a minha
avó e a família de James quando a confusão começou.
— Ainda não acredito em tudo isso, Ava... — comentei quando
saímos do estádio e fomos em direção aonde meu carro estava
estacionado.
— Também estou chocada, mas confio no seu pai, sei que ele
não vai deixar que Logan e James levem uma punição severa.
— Sim, também confio nele, mas...
— Norah?
Virei-me entre as fileiras de carros estacionados e tomei um
susto ao encontrar com Megan a alguns metros de onde eu estava.
Ela saiu do lado de um automóvel vermelho e conversível e
simplesmente começou a se aproximar de mim.
— Quem é ela? — Avalon perguntou baixinho ao meu lado e
só então me dei conta de que ela nunca tinha visto a ex de James
pessoalmente.
— Megan, a ex-namorada de James.
— E o que ela quer com você?
Bom, eu não fazia ideia, mas depois de James ter me dito que
Megan vinha o perseguindo, resolvi que estava na hora de descobrir.
Esperei que ela se aproximasse completamente e cruzei os braços,
olhando-a de cima a baixo. Pelo menos ela não teve a cara de pau
de usar a camisa de James. Ao contrário da maioria das pessoas
presente no jogo naquela tarde, ela não usava a camisa de nenhum
dos dois times.
— Oi. — Megan parecia quase sem graça. Seus cabelos pretos
estavam presos em um rabo de cavalo, evidenciando seu rosto
bonito e sempre bem-maquiado.
— O que você quer, Megan? Nós não temos nada para
conversar e acredito que você e James também não tenham
nenhum assunto para resolver.
— Realmente, nós não temos. — Sua resposta me pegou de
surpresa e me deixou confusa. — Mas eu precisava muito falar com
ele depois que descobri que você e Mason estavam juntos, Norah.
Acho que agora não estão mais, depois daquela foto que apareceu
no telão, mas sinto que preciso contar sobre o que sei mesmo
assim. Poderia me ouvir?
Olhei para Avalon em busca de um conselho e ela apenas
concordou com a cabeça, apesar do olhar desconfiado que dava
para Megan. Apenas por curiosidade, resolvi aceitar.
— Tudo bem, mas o que tiver que me falar, vai ter que ser
aqui, e depois eu quero que suma da vida do James.
— Farei isso. Ao contrário do que pensa, não estou como louca
atrás do James porque quero reatar com ele...
Eu ri ao ouvir aquilo.
— James nunca vai querer reatar com você.
— Tenho consciência disso e, como falei, não quero ter nada
com ele. — Megan respirou fundo. — Pode não acreditar em mim,
Norah, mas me arrependo do que fiz com James. Meu primo e eu...
Nós nos amamos e eu fui boba em acreditar que poderia apagar
esse sentimento ficando com outra pessoa. Agi como uma
irresponsável quando aceitei namorar com James, não me preocupei
com os sentimentos dele e acabei o traindo e magoando
profundamente. Sei que nada do que eu fizer vai poder apagar a dor
que causei a ele, mas acredito que estou fazendo o certo ao estar
aqui falando com você, contando tudo o que sei, porque James te
ama, ele sempre te amou, mesmo quando estava comigo. Ele
poderia não saber disso, mas eu sentia.
Fiquei em choque com as suas palavras e, por um momento,
quase me coloquei em seu lugar. Eu também não resolvi ficar com
Mason mesmo gostando de James? Mas logo tirei aquilo da cabeça.
Eu jamais me permitiria ficar com James ou ir para cama com ele
caso estivesse em um relacionamento sério com Mason. Sentimentos
não eram uma escolha, mas traição, sim. E Megan escolheu trair de
James da forma mais suja possível.
— E o que você precisa me contar?
— Mason não é o bom-moço que acredito que ele demonstrou
ser para você. — Eu fiquei rígida e senti Avalon ficar tensa ao meu
lado. — Ele não resolveu mudar de cidade e de faculdade à toa,
Norah. Mason fez isso porque estuprou a filha de um homem
importante quando ela estava na Carolina do Sul no final do ano
passado e os pais dele fizeram um acordo milionário para que esse
homem não o denunciasse para a polícia.
Meu coração disparou com tanta força no peito, que eu
cheguei a dar um passo para trás. Fiquei ligeiramente tonta com
aquela informação, minha mente jogando as palavras de um lado
para o outro. Avalon apertou a minha mão com força e perguntou:
— Como sabe disso? Quem é a garota que ele estuprou?
Megan nos deu um olhar profundo e vi medo dentro deles.
Medo e coragem.
— Sei disso porque eu fui a vítima de Mason quando me
hospedei no hotel do pai dele na Carolina do Sul.

Dei um copo de água para Megan e me sentei no sofá ao lado


de Avalon. Resolvi convidar a ex-namorada de James para nos
acompanhar até em casa, pois era visível como ficou nervosa após
contar que foi vítima de Mason. Megan tremia e não deixei que
dirigisse, a convenci de que seria melhor aceitar vir comigo e Avalon
em meu carro e aqui estávamos agora, com ela sentada à nossa
frente, mal conseguindo nos encarar.
Deixei de lado toda raiva que sentia dela por ter traído James
quando ainda namoravam e segurei sua mão assim que terminou de
beber a água. Nem por um momento eu duvidei da palavra de
Megan ou me deixei ser influenciada por seu passado com James.
Estava nítido em seu olhar, em sua postura, que falava a verdade, e
eu podia imaginar como devia ser difícil estar na minha frente agora,
me contando tudo aquilo, apenas porque queria me proteger
daquele predador disfarçado de bom-moço.
— Meus pais, como devem imaginar, não aceitam que eu seja
apaixonada por Rob, mesmo ele sendo o meu primo de segundo
grau. Meu pai ficou furioso por James ter descoberto a minha traição
em época de eleição e me proibiu de chegar perto do meu primo.
Mandou-o para fora do país assim que James rompeu comigo e
passou os próximos meses me apresentando a filhos de aliados
políticos e empresários. Foi em um desses eventos armados por meu
pai, que conheci Mason. Ele se mostrou um verdadeiro príncipe para
mim e, juro, se eu não amasse tanto Rob, provavelmente teria me
apaixonado por ele.
Megan fez uma pausa e Avalon se aproximou dela, apertando
levemente a sua mão na minha. Podia imaginar como aquele
assunto era delicado para a minha cunhada, mas ela em momento
algum demonstrou que sairia do lado da ex-namorada de James. Eu
poderia entender Megan, pois Mason também se apresentou como
um homem incrível para mim, simpático e carismático, muito gentil.
Se eu não fosse tão apaixonada por James, provavelmente sentiria
algo mais profundo por Mason.
— Meu pai percebeu a nossa interação durante a festa e
acabou aceitando um convite do pai de Mason para assistirmos a
uma partida do Clemson Tigers na Carolina do Sul e nos
hospedarmos no seu hotel. Após a partida, Mason me convidou para
ir com ele à festa de comemoração do time, pois ganharam naquela
noite, e eu aceitei. A partir do momento em que aceitei a bebida que
ele me deu, minha memória começa a ficar difusa, mas sei o que ele
fez comigo. Lembro-me de me sentir muito tonta, enjoada, e pedir
para que ele me levasse embora. Então, tenho flashes de Mason me
carregando para o elevador do hotel do seu pai e, depois, me
colocando na cama da suíte. Quando acordei no dia seguinte, estava
sozinha. Eu sentia muita dor na região íntima e estava... Estava suja
com sêmen. Sêmen dele.
— Meu Deus, Megan... Eu sinto muito. — Minha garganta
pinicou e lágrimas vieram aos meus olhos. — Eu realmente sinto
muito.
Sabia que minhas palavras eram inúteis naquele momento,
que nada do que eu ou Avalon disséssemos, tiraria de Megan aquela
dor, o fato de ter sido violada de uma forma tão violenta, sem nem
ao menos ter a chance de se defender.
— A primeira coisa que fiz, foi ligar para a minha mãe. Eu me
sentia mal fisicamente, acredito que por causa da droga que Mason
colocou em minha bebida, portanto, minha mãe aceitou me levar
para o hospital sem o conhecimento do meu pai. Os médicos
detectaram que fui abusada e drogada e minha mãe exigiu saber
quem havia feito aquilo comigo. Eu contei para ela, ela contou para
o meu pai e quando pensei que eu poderia sair do hospital para ir a
uma delegacia, meu pai não permitiu. Disse que o pai de Mason
estava investindo dinheiro na sua candidatura, eles eram parceiros
de negócio e não poderia colocar tudo em risco, principalmente
depois de ter vencido a eleição. Então, ele fez um acordo com o pai
de Mason e cobrou dois milhões de dólares para não denunciar
aquele estuprador desgraçado.
— Eu não acredito. Isso é revoltante, Megan! Que tipo de pai
faz algo assim? — Avalon perguntou, mas logo pareceu arrependida.
— Sinto muito, eu não queria...
— Você está certa. Eu me perguntei isso naquele momento e
continuo me questionando todos os dias. A revolta que eu sinto só
não é maior do que o meu medo de que Mason faça mais vítimas,
porque eu não fui a primeira garota que ele estuprou. O babaca
confessou para o pai que já tinha feito aquilo mais duas vezes.
Então, com a ajuda do meu pai, ele foi transferido rapidamente para
cá. Acredito que o pai daquele idiota ficou com medo de que as
outras vítimas do filho abrissem a boca e denunciassem aquele
bastardo.
— Que absurdo! — Eu me levantei do sofá, pois estava
nervosa demais para ficar sentada. — Como não percebi que ele era
esse monstro? Meu Deus, não acredito que fui tão burra!
— Não tinha como você saber, Norah, homens como Mason
são mestres em enganar e manipular — disse Avalon. — Não se
culpe por ter acreditado na versão que ele mostrou para você.
— Avalon tem razão, Norah. Quando uma amiga, que sabe
tudo o que aconteceu comigo, me contou que viu você e Mason
juntos em um pub, eu me desesperei. Soube que precisava contar
para James quem Mason era de verdade e alertá-lo para que fizesse
você se afastar dele. Queria que alguém tivesse feito isso por mim.
— Obrigada — pedi, aproximando-me dela e me abaixando
para poder abraçá-la. — Obrigada por isso, Megan, pela sua
coragem e por ter se preocupado.
— Não precisa agradecer e nem se culpar por ter confiado em
Mason. Eu também me enganei, confiei nele quando nos
conhecemos, aceitei ir com ele para aquela festa... Eu me
arrependo, mas Rob me ajudou a entender que eu não tenho culpa.
Ainda estou em um processo para aceitar isso, confesso, me sinto
uma burra por ter confiado em Mason, mas preciso começar a
acreditar que ele é o único culpado pelo que fez comigo.
— Sim, ele é, Megan — disse Avalon enquanto apertava a mão
dela.
Eu fiquei em silêncio por um momento, revivendo cada
encontro que tive com Mason, sua facilidade em me fazer rir, todas
as palavras certas que saíam da sua boca, a forma como se
aproximava de forma sorrateira, mas que parecia muito natural. Ele
era o cara perfeito. Mas então me lembrei de como seu olhar
começou a mudar e me incomodar, como seu toque foi se tornando
mais agressivo, como suas palavras começaram a se tornar
tendenciosas.
E a noite em que me levou para a festa de Carter. A mudança
de planos sem me consultar, a forma como me deixou no meio da
casa lotada de estudantes bêbados para pegar uma bebida para nós
dois. Meu coração começou a ficar mais acelerado. Mason tinha a
intenção de me dopar naquela noite e abusar de mim?
Eu preferia não saber. A ignorância era uma benção às vezes e
eu me agarraria a ela.
Ouvi a porta da frente se abrindo e me virei a tempo de ver
James, Logan e Benjamin entrando. Eu corri até o wide receiver e o
abracei com toda a minha força, quase abrindo a boca para
agradecer por ter ouvido John naquela noite e ter ido atrás de mim
na festa de Carter. Se eu não tivesse encontrado James no quintal
com Alicia e ficado chocada com o beijo dos dois, provavelmente,
me forçaria a ficar naquela festa mesmo sem querer e aceitaria a
bebida de Mason. Eu não queria imaginar o que poderia ter
acontecido comigo.
— Norah... — James pegou meu rosto entre as mãos e deu um
olhar confuso para Megan. — O que está acontecendo?
Eu me virei para Megan e deixei nas mãos dela a decisão de
contar sobre o seu maior trauma ou não. Ela pareceu me entender e
expôs Mason mais uma vez na frente de todos nós.
Fiquei um tempo debaixo do chuveiro, deixando a água quente
cair com força sobre os meus ombros que se recusavam a relaxar. As
palavras de Megan, a dor em seus olhos, simplesmente se
recusavam a sair da minha cabeça. E eu não queria que elas
desaparecessem. Eu me lembraria delas todos os dias, para nunca
mais deixar de confiar na minha intuição. Algo em Mason sempre me
acionou um alerta, desde a noite em que o encontrei com Norah em
frente ao banheiro da nossa casa na festa de comemoração do
Crimson.
Ter pesquisado sobre a sua vida e não encontrado qualquer
mácula acabou me fazendo ignorar aquela vozinha que insistia em
dizer que eu não deveria gostar ou confiar nele. Ao fazer isso, deixei
o caminho livre para que aquele filho da puta estuprador se
aproximasse de Norah, tocasse nela, a beijasse e quase firmasse um
relacionamento. Se ele tivesse feito qualquer coisa com ela... Eu o
mataria com as minhas próprias mãos e jamais me perdoaria.
Todos nós ficamos comovidos com o trauma que Megan
passou e eu não deixei que saísse de nossa casa sem antes
conversar seriamente com ela e perguntar se não queria denunciar
Mason. Eu sabia como o pai de Megan podia ser manipulador,
convivi durante meses com aquele homem sendo o meu sogro e vi a
forma como agia.
Podia entender como conseguiu fazer com que Megan se
calasse sobre o abuso sexual que sofrera, mas aquele tipo de crime
não poderia mais ficar impune. Homens como Mason precisavam ser
detidos, ter suas carreiras e vidas destruídas. Ele não poderia
continuar a transitar como um homem livre quando era a porra de
um predador sexual!
E se já tivesse feito alguma vítima aqui no Alabama e não
sabíamos? O dinheiro comprava muita coisa, mas não podia mais
comprar a liberdade daquele desgraçado.
Foi Avalon e Norah que conseguiram convencer Megan a sair
das amarras do pai e denunciar Mason. Talvez por saber do passado
da namorada de Logan, Megan pareceu mais confiante e percebi
como ficou surpresa com o apoio incondicional de Norah. Não havia
espaço para qualquer mágoa do passado quando Megan decidiu
passar por cima de tudo apenas para alertar Norah sobre o perigo
que corria nas mãos de Mason.
Fiquei ainda mais arrependido por não ter dado a ela a chance
de me falar o que queria quando tentou se reaproximar de mim.
Norah não teria corrido mais riscos nas mãos daquele filho da puta.
Não tinha como voltar atrás, eu sabia, mas podíamos dar um basta
naquela situação. Megan foi embora após aceitar conversar com o
pai de Norah no dia seguinte e eu passei a próxima hora
simplesmente agarrado a minha garota, como se quisesse garantir
para mim mesmo que estava tudo bem.
Sabia que precisava enfrentar uma série de coisas ainda, como
a decisão da comissão técnica do time sobre a minha agressão a
Mason, a conversa que precisava ter com Logan, mas deixei tudo de
lado para ficar com ela. Apenas agora tinha conseguido me afastar e
precisei de um banho para tentar colocar a minha cabeça no lugar e
entender tudo o que estava acontecendo.
Eu não descansaria até ver Mason atrás das grades, não
apenas por tudo o que fizera com Megan, mas pelo risco que fizera
Norah correr no tempo em que ficaram juntos e pelas outras vítimas
que seu pai certamente calou, afinal, tinha poder, dinheiro e
influência para jogar qualquer ameaça contra Mason para debaixo
dos panos.
Pensar naquilo me fez lembrar das palavras de Gavin no
momento da briga. Naquela hora, não entendi o que ele quis dizer,
mas agora não conseguia deixar de me perguntar se, talvez, fosse
sobre os abusos de Mason que ele estivesse falando. Com isso em
mente, saí do chuveiro e peguei meu celular em cima da cama.
Eu não tinha o contato do quarterback do Clemson Tigers, mas
sabia que Thomas, o inside linerback do Crimson, tinha o número
dele, pois se conheciam há algum tempo. Consegui com ele o celular
do jogador e não perdi tempo em ligar. Gavin atendeu após o
segundo toque:
— Alô?
— Oi, Gavin, aqui é James McHugh, o wide...
— O cara que se tornou o meu ídolo por socar a cara do filho
da puta do Mason Goldberg — me interrompeu e eu acabei rindo
enquanto me sentava na beira da cama.
— Posso dizer o mesmo para você, afinal, foi quem derrubou
Mason de joelhos na nossa frente.
— Ele merecia. Quer dizer, não sei exatamente o que fez para
você, mas sei que o babaca merecia uma surra há muito tempo.
— Tem a ver com algum caso de abuso na época em que ele
ainda era jogador do Clemson Tigers?
Gavin passou um tempo em silêncio, mas não me arrependi de
ter ido direto ao ponto. Cada minuto que perdíamos era um tempo a
mais que Mason tinha para fazer novas vítimas.
— Como sabe disso?
— Conheci a história de uma de suas vítimas e me lembrei do
que você disse para Mason em campo. Acredito que tenha o mesmo
pensamento que eu e que queira ver aquele estuprador de merda
atrás das grades. Se sim, poderia me encontrar amanhã para me
contar tudo o que sabe sobre ele?
— Claro que sim, pode contar comigo. — Gavin não hesitou. —
Está na hora de fazer Mason pagar por todo mal que já causou.
Eu respirei mais aliviado ao ouvir aquilo e agradeci antes de
encerrar a ligação. Gavin era um bom homem e isso explicava o
porquê de Mason não gostar dele. Provavelmente, aquele filho da
puta só se tornava amigo de abusadores, afinal, um merda sempre
reconhecia outro.
Estava terminando de me vestir no closet quando ouvi duas
batidas na porta do meu quarto. Pedi para que entrasse, achando
que era Norah, mas paralisei ao encontrar Logan quando saí de
dentro do armário. Ele me encarou após dar uma olhada geral em
meu quarto.
— Pouco tempo namorando com Norah e ela já o obrigou a
manter o seu quarto organizado?
Eu abri e fechei a boca por um segundo antes de tentar
segurar uma risada. Como ele sabia daquilo?
— Resolvi me policiar depois de ela ter me dado uma série de
esporros sobre eu ser bagunceiro e ter mania de deixar toalha
molhada em cima da cama.
— Pelo menos ela está te colocando na linha, coisa que nunca
consegui. — Logan me deu um olhar levemente debochado e cruzou
os braços antes de perder o tom de brincadeira. — Não vou
perguntar se você a ama, porque já sei disso. Eu sempre soube.
Lógico que pensei que fosse um amor de amigo ou forte o suficiente
como o amor de um irmão e fui pego de surpresa com a mudança
dos sentimentos de vocês dois, mas preciso que saiba que eu
acredito em você, James. Sei que não tocaria em Norah se não a
amasse.
Um peso enorme saiu dos meus ombros e eu precisei me
segurar para não partir para cima de Logan e dar um abraço
apertado nele.
— É claro que eu a amo, Logan. Eu a amo tanto que mal
posso começar a explicar.
— Então por que não me disse isso? Por que preferiu ficar
escondido com a minha irmã ao invés de falar comigo?
— Porque eu sabia que você ficaria puto e tive medo de
estragar a nossa amizade.
— É claro que eu ficaria puto! Estamos falando da minha irmã
e sempre pedi para que se mantivesse longe dela, ainda assim,
deveria ter me falado, James. Era só conversar comigo, eu poderia
demorar a entender, mas uma hora iria aceitar, assim como estou
aceitando agora.
— É sério? — Arregalei os olhos, pois esperava por tudo,
menos ouvir aquelas palavras tão rapidamente.
— Sim, é sério. Posso ser cabeça-dura, como Valente adora
esfregar na minha cara, mas não sou idiota. Eu sei que não haverá
no mundo um homem melhor para a minha irmã do que você. Se
não soubesse disso antes, teria descoberto hoje, quando o vi partir
para cima de Mason sem pensar nas consequências, colocando em
risco toda a sua carreira apenas para defendê-la.
— Você também fez isso, socou Mason comigo para defender
Norah.
— Não apenas para defender ela, mas você também. — Suas
palavras me paralisaram. — Aquele desgraçado expôs vocês dois
daquele jeito porque pensou que eu não soubesse que estavam
juntos. E se eu tivesse descoberto naquele momento? Eu teria dado
um soco na cara dele mesmo assim, depois socaria você, é claro. E
então, eu me arrependeria, assim como me arrependi de ter socado
você na nossa cozinha naquela noite. — Logan quase sorriu, mas
logo ficou sério. Eu, por outro lado, não consegui esconder tão bem
as minhas emoções.
— Eu mereci aquele soco.
— Sim, você realmente mereceu, não por amar a minha irmã,
mas por ter escondido tudo de mim e por ter ido para cama com ela.
Eu nunca vou te perdoar por isso, seu babaca. Ela é minha
irmãzinha! — A revolta de Logan me fez soltar uma risada. — Isso
não é nada engraçado, James.
— Você vai me perdoar, sabe por quê?
— Duvido muito disso, mas agora quero saber o porquê.
— Porque, um dia, Norah e eu vamos te dar muitos sobrinhos
e você será o padrinho de cada um deles — falei, aproximando-me
de Logan. A raiva foi sumindo aos poucos da sua expressão. — E
então, você nem vai se lembrar do que Norah e eu precisamos fazer
para trazer cada criança ao mundo.
— Eu nem quero me lembrar! Já estou traumatizado o
suficiente depois de ler aquela mensagem. — Ele me olhou com uma
sobrancelha arqueada. — Eu vou ser mesmo padrinho de todas as
crianças?
— Você tem a minha palavra.
— E desde quando a sua palavra vale de alguma coisa?
Prometeu que nunca tocaria na minha irmã e olha onde estamos
agora.
— Você acabou de concordar que não há no mundo um
homem melhor para Norah do que eu.
— E daí? Como irmão mais velho, eu tenho o direito de ficar
revoltado pelo tempo que eu quiser.
— Para de ser idiota. — Eu ri e o segurei pelos ombros,
voltando a ficar sério. — Me desculpa por ter escondido tudo isso de
você. Tem razão em tudo, Logan, em sentir raiva, em ter se sentido
traído por mim, até mesmo em ficar decepcionado por eu ter
quebrado a promessa que fiz para você quando ainda éramos
moleques, mas preciso que saiba que, por Norah, eu faria qualquer
coisa. Eu a amo como nunca amei qualquer outra pessoa na minha
vida e vou fazer da sua irmã a mulher mais feliz do mundo, pode ter
certeza disso.
— Se eu não tivesse essa certeza, não estaria aqui agora. —
Logan me deu um sorrisinho. — Eu desculpo você, seu babaca. E
acho melhor parar de mentir, sei que está com Norah só porque
queria uma desculpa para se tornar meu irmão de verdade.
— Eu sou seu irmão de verdade e isso nunca vai mudar — falei
com um sorriso enquanto puxava Logan para um abraço apertado.
— Amo você, idiota.
— Me ama mesmo? Então prova. Só volte a tocar na minha
irmã depois do casamento — disse ele ao se afastar.
— Desculpa, mas eu não te amo tanto assim.
Logan revirou os olhos, tentando manter a postura de durão,
mas acabou se desarmando quando Norah abriu uma frestinha da
porta e revelou a sua presença e a de Avalon e Benjamin. Eu
comecei a gargalhar ao perceber que os três estavam ouvindo tudo
no corredor.
— Agora que já fizeram as pazes, a gente pode entrar?
Eu concordei com a cabeça e Norah veio correndo para os
meus braços com um sorriso emocionado, sendo seguida por Avalon
e Benjamin.
— Por que não entraram antes, já que ficaram com a orelha
grudada na porta? — perguntou Logan.
— Porque queríamos que vocês conversassem a sós — disse
Avalon ao ser abraçada por ele.
— Na verdade, elas queriam, por mim, eu estaria aqui dentro
com um balde de pipoca e ainda daria a minha opinião quando
tivesse a oportunidade.
— Você não cansa de ser insuportável? — perguntei para Ben
e ele pousou a mão no peito, fingindo estar ofendido.
— Logan te perdoou por minha causa e é assim que você me
trata?
— Na verdade, Logan o perdoou por minha causa — Avalon
retrucou.
— Desculpa, Valente, mas eu tive o trabalho mais pesado...
— Claro que não! Eu que o aturei bêbado e chorando no meu
ombro quando você foi embora...
— Eu não chorei!
— Chorou sim — Benjamin e Avalon disseram praticamente
juntos.
Deixei os dois discutindo, enquanto Logan tentava se defender,
e abracei Norah com mais força por um momento antes de tomar
seu rosto em minhas mãos.
— Agora nada mais nos impede de ficar juntos. Está feliz?
— Muito! — Ela sorriu e o brilho em seus olhos me dizia tudo o
que eu precisava saber. — Mas confesso que só ficarei em paz
quando Mason estiver na cadeia.
— Eu também. Ele não vai sair impune, Norah, pode ter
certeza. Eu só sinto muito por ter deixado aquele filho da puta se
aproximar de você.
— Não se culpe, você não tinha como saber, James, assim
como eu também não poderia adivinhar que ele era esse monstro.
— Mas ele me deu sinais de que era um covarde e eu acabei
ignorando. Até tentou colocar Logan contra mim ao contar que eu
sabia que você e ele estavam saindo juntos.
— Mason fez isso? — Norah franziu o cenho. — Por que não
me disse?
— Não quis influenciar você na época, achei apenas que ele
queria me afastar, pois estava desconfiando dos meus sentimentos
por você. Não imaginei que ele fosse um estuprador, isso nunca
passou pela minha cabeça.
— Como eu disse antes, você não tinha como saber. O que
importa é que ele não conseguiu fazer nada de ruim comigo e que
vai pagar por todos os crimes que cometeu.
— Sim, isso é tudo o que importa.
Eu precisava pensar naquilo mais vezes para poder me livrar
da culpa que sentia por ter deixado aquele predador se aproximar
da minha garota. Norah me deu um sorriso e eu a beijei, finalmente
podendo tocá-la como eu queria sem precisar esconder de ninguém.
Ao fundo, ouvi Logan dizer:
— Vocês podem me respeitar? Eu preciso de um tempo para
me acostumar com a ideia de que são namorados agora! — Eu
apenas ergui o dedo do meio para ele enquanto sentia Norah sorrir
com a boca na minha. Benjamin gargalhou, assim como Avalon, e
Logan resmungou: — Vai se foder, James!
Continuei a beijar Norah sem qualquer preocupação ou peso
na consciência.
Após Gavin Foster afirmar que acreditava que uma de suas
colegas de curso foi vítima de Mason, nós conseguimos contatá-la e
conversar diretamente com ela. Seu nome era Brittany Lovell e sua
história era muito parecida com a de Megan, o que nos fazia
acreditar que Mason tinha um modus operandi. Eles se conheceram
no campus e dias depois ele a convidou para ir a uma festa de
fraternidade. Lá, ele a drogou e cometeu o abuso sexual em um dos
quartos da casa, deixando-a sozinha logo depois.
Brittany nos contou que foi Gavin quem a ajudou a ir para casa
de madrugada e que ele a viu chegar na festa com Mason. Sua
primeira reação foi negar quando o quarterback perguntou se ela
havia sido abusada pelo jogador, mas depois que o choque passou,
Brittany resolveu ir atrás do tight end e confrontá-lo.
A garota afirmou para Mason que sabia o que ele fizera com
ela, mas o filho da puta apenas riu e disse que ninguém acreditaria
em sua palavra. A ameaçou com o poder e a influência da sua
família, alegando que a faria ser expulsa da faculdade caso o
denunciasse ou contasse para alguém sobre o que havia acontecido.
O fato de Mason nem sequer ter tentado negar me deixou ainda
mais revoltado.
Brittany morava em uma república estudantil e conseguiu
entrar na universidade porque era bolsista. O medo de que Mason
cumprisse com a sua ameaça a fez desistir de denunciar, mas depois
de conversar conosco, ela aceitou entrar com uma ação conjunta
com Megan. O pai de Norah as representaria e eu mal podia esperar
para ver aquele desgraçado na cadeia.
Logan e eu fomos convocados para uma reunião com o comitê
do time para prestar explicações sobre a briga no final da partida.
Apresentamos a nossa defesa alegando que Mason expusera uma
foto íntima minha e de Norah na frente de milhares de pessoas e o
próprio dono da ONG afirmou que, após uma investigação interna,
feita a pedido do meu pai e do pai de Logan, descobriu que o
voluntário responsável por editar o vídeo de homenagem, foi
contatado por Mason e recebeu um valor do jogador para que
colocasse a foto no vídeo.
A comissão pediu alguns minutos para avaliar a nossa defesa,
mas eu estava confiante de que não levaríamos uma punição severa
e Logan também. No final, recebemos apenas uma suspensão
disciplinar e ficaríamos no banco durante duas semanas, proibidos
de treinar e participar de reuniões do time.
Assim que deixamos o prédio do comitê, meu pai pediu para
que eu fosse com ele para casa. Eu sabia que em algum momento
ele ia querer conversar comigo, por isso, aceitei. O segui de carro e,
assim que chegamos, falei rapidamente com a minha avó e minha
mãe, que me bombardearam de perguntas sobre o meu
relacionamento com Norah, e prometi que contaria tudo para elas
após conversar com o meu pai. Fui com ele até o seu escritório e
permaneci quieto quando se virou para mim com o semblante
severo.
— Está feliz, James? Poderia ter sido expulso do time!
— Mas não fui expulso.
— Mas poderia ter sido! Não pensou nisso nem por um
momento antes de agir com violência dentro de campo?
— Não — respondi sem a menor hesitação e meu pai ficou
ainda mais nervoso.
— Não é possível, James! Como tem coragem de olhar na
minha cara e negar com a maior tranquilidade? Você poderia ter
arruinado completamente a sua carreira, o maior sonho da sua vida,
por causa de uma besteira!
— Uma besteira? — Eu perdi toda calma que estava sentindo.
— Aquele filho da puta expôs a minha intimidade e a de Norah na
frente de milhares de pessoas e o senhor tem coragem de falar que
isso é uma besteira?
— Não tinha nada de mais naquela foto, vocês estavam
apenas se beijando!
— E daí? Isso não dá a ele o direito de expor minha vida e a
de Norah daquela forma!
— Assim como não dá o direito de você colocar em risco a
carreira dos seus sonhos, James!
— Dos meus sonhos ou dos seus sonhos, pai?
Meu pai parou no meio do escritório com as mãos na cintura e
a mandíbula trincada. Seus olhos se arregalaram e parte da sua ira
desapareceu.
— Como é que é?
— O senhor ouviu muito bem a minha pergunta.
— Ouvi, mas não entendi aonde quer chegar. O futebol sempre
foi o seu sonho, James!
— Tem razão, assim como sempre foi o seu sonho, um que
nunca realizou.
— Não realizei porque precisei largar tudo para assumir os
negócios da família! Eu era apenas um garoto quando o seu avô
morreu, se eu não tomasse a frente da empresa, tudo iria ruir!
— Sim, eu sei disso, pai, e admiro muito a sua luta para cuidar
dos negócios que meu avô deixou e a sua força para triplicar o
nosso patrimônio. A questão aqui não é essa.
— Então qual é a questão, James?!
— A questão é que o senhor incutiu o seu sonho frustrado em
mim e quer que eu siga cada um dos seus passos sem levar em
consideração o que eu quero, pai! Eu amo o futebol, tenho o sonho
de ser um jogador profissional, mas pensei em desistir de tudo por
sua causa.
Meu pai ficou pálido, o choque tomando conta de todo o seu
rosto.
— Por minha causa? Por quê?
— Realmente não percebe o que faz comigo, não é? O que
sempre fez comigo, pai.
Eu parei por um momento, me obrigando a conversar com ele
e não mais gritar, como estávamos fazendo segundos antes.
— O senhor coloca sobre mim uma pressão gigantesca. Não
importa o que eu faça, o quanto me dedique, aos seus olhos, eu
sempre preciso melhorar e me superar. Na sua opinião, eu não posso
beber demais, curtir uma festa com os meus amigos, esquiar mesmo
estando em Aspen com a minha mãe, me apaixonar ou defender a
honra da minha namorada quando um babaca acha que tem o
direito de a expor na frente de um monte de pessoas. O senhor quer
que eu seja um robô, sem sentimentos, sem vontade, sem
liberdade, e que funcione apenas dentro de campo para dar o meu
melhor, porque eu não posso apenas realizar os meus sonhos, ter as
minhas conquistas, eu preciso fazer tudo isso pelo jovem Jonathan
que precisou abrir mão do esporte para poder se dedicar à família.
Os olhos do meu pai se arregalaram e ele perdeu
completamente a postura rígida e defensiva. Vi seus ombros caírem
com o peso das minhas palavras.
— James, eu nunca...
— Nunca quis fazer isso? Acredite em mim, eu sei — afirmei,
vendo a surpresa brilhar em seus olhos. — Sei que não faz nada
disso de propósito, pai, que nem ao menos percebe o quanto é
exigente comigo, mas cansei de ignorar a forma como o senhor me
faz sentir, cansei de carregar o peso de duas vidas sobre os meus
ombros. Não quero realizar os seus sonhos, quero realizar os meus,
à minha maneira, sem precisar me preocupar se irei decepcioná-lo.
Quero jogar e dar o meu melhor por amor ao futebol e não porque
sei que vou ser cobrado até a exaustão pelo senhor quando a
partida terminar. Não vou deixar que o meu amor pelo esporte
desapareça por conta da pressão que o senhor coloca em cima de
mim.
Meu pai engoliu em seco e se sentou em um dos sofás do
escritório. Eu apenas o observei em silêncio, deixando que digerisse
tudo o que falei. Amava o meu pai, ele era um dos homens que eu
mais admirava no mundo, sempre iria respeitá-lo, mas nunca mais
deixaria que dominasse a minha vida como fazia desde quando eu
era um moleque.
— Nunca imaginei que se sentisse assim — disse ele depois de
um tempo, voltando a ficar de pé. — Eu juro, James, algo desse tipo
nunca passou pela minha cabeça, mas sei que tem razão. Sempre
fui muito rígido com você, desde criança, e acho que isso tem a ver
com a minha vontade de o assistir trilhando os passos que eu queria
dar quando tinha a sua idade. Eu não pude fazer isso e depositei
minha frustração em você. Não percebi como isso o magoava
porque sempre vi nos seus olhos o amor pelo futebol, o mesmo
amor que eu sinto até hoje.
— Nós amamos o futebol, pai, mas eu sinto que a nossa
relação está se desgastando justamente por causa disso e eu não
quero que isso continue a acontecer. Quero que o senhor esteja ao
meu lado me apoiando, me ajudando a tomar decisões importantes,
mas não ditando a minha vida como costuma fazer. Sou um homem
adulto agora e quero dar orgulho ao senhor sendo o jogador que eu
quero ser e não um atleta moldado por você.
Pensei que meu pai continuaria a me olhar com espanto e
arrependimento, mas foi a minha vez de ficar surpreso ao ver a
admiração tomar conta do seu rosto. Sem que eu esperasse, ele me
abraçou muito forte, de uma forma que não fazia há bastante
tempo.
— Eu já sinto orgulho de você e sinto muito por não ter
deixado isso claro a cada oportunidade que tive, James. Você é o
melhor jogador que conheço e me sinto um idiota por ter feito você
duvidar da sua capacidade em algum momento. Me perdoe, filho.
Eu não fazia ideia de que precisava ouvir o meu pai dizer
aquilo até aquele momento. Abracei-o mais forte por um tempo
antes de dar um passo para trás.
— Não há o que perdoar, pai.
— Claro que há e nós dois sabemos disso, mas acredito que o
tempo será o nosso aliado. Eu vou me esforçar para o ser o pai que
você merece, filho. Estarei do seu lado e prometo nunca mais tentar
passar por cima das suas decisões ou dos seus sonhos.
Meu pai tinha razão. Eu sabia que ele não mudaria de
comportamento de uma hora para a outra, mas ter sido sincero com
ele e exposto tudo o que eu sentia me deixou aliviado e com
esperança de que a nossa relação se tornasse cada vez mais
saudável com o passar do tempo.

Mason foi expulso do nosso time assim que a verdade sobre


ele ser um estuprador saiu na imprensa. Mesmo antes disso, o clima
entre ele e todos os jogadores estava péssimo. Nós éramos como
uma família e era lógico que meus companheiros de time ficariam do
meu lado e do lado de Logan depois do babaca ter armado para que
aquela foto aparecesse no vídeo feito pela ONG.
Durante o tempo em que infelizmente permanecera entre nós
— após cumprir uma suspensão mais rígida do que a minha e de
Logan —, Mason ficou isolado e cada vez mais irritadiço. Ele era
expulso com frequência do treino pelo treinador Coben, pois vivia
querendo arrumar confusão comigo, e semanas antes da expulsão,
ficou no banco, sem poder treinar. Harry, o tight end reserva, tomou
o seu lugar nos treinos e começou a fazer parte oficialmente do time
titular.
Após a notícia se espalhar, novas vítimas apareceram, inclusive
duas estudantes da UA, e Mason foi preso. Como uma avalanche, foi
descoberto diversos esquemas ilícitos do seu pai, como lavagem de
dinheiro e empresas fantasmas. O pai de Megan, atual prefeito,
também foi envolvido na investigação, mas como Megan finalmente
conseguiu se livrar das garras dele após a denúncia, eu decidi não
me inteirar dos detalhes.
O que importava de fato, era que Mason pagaria pelos seus
crimes, assim como seu pai, e nunca mais faria outras vítimas.
Com o babaca fora de cena, pude me dedicar ainda mais à
faculdade e ao futebol. Meu grupo e eu tiramos a nota máxima no
projeto de Fotografia Editorial e recebi muitos elogios da professora
e dos profissionais que ela convidara para participar da banca
examinadora. As fotos de Norah ficaram incríveis, mas eu sabia que
o resultado não seria o mesmo se não fosse ela a posar para mim.
Olhar para cada uma delas impressa sempre me fazia voltar à Aspen
e à nossa primeira vez juntos.
Os meses passaram depressa e entre os ensaios de Norah
para a peça que estrearia dia dezesseis de junho e a preparação
para a nova temporada que começaria em setembro, eu quase me
esqueci do aniversário da minha garota, que cairia no dia seguinte à
sua estreia nos palcos do teatro da faculdade.
Passei um tempo pensando no que poderia dar para Norah.
Ela era uma menina rica, tinha tudo o que queria, portanto, algo
material não seria memorável o suficiente e ela queria uma
surpresa. Provavelmente se esquecera do pedido que fez para mim
meses atrás quando me venceu no videogame, mas eu não deixaria
de cumprir com a minha promessa.
Eu finalmente decidi como a surpreenderia quando estava
andando pela rua e passei em frente a uma loja. Um objeto me
chamou a atenção e eu apenas o comprei sem pensar direito nas
consequências. Contei todo o meu plano para Logan, que quase
morreu engasgado com um pedaço de panqueca, e para Benjamin,
que me chamou de maluco e riu da minha cara enquanto batíamos
nas costas do quarterback.
Precisei contar tudo para John também, pois precisaria da sua
ajuda para surpreender Norah. Ela nem percebeu a minha
movimentação ou desconfiou de que eu estava armando alguma
coisa com o seu melhor amigo, pois estava ansiosa por causa da
peça, estudando metodicamente todo o roteiro, apesar de saber de
trás para frente cada fala de Julieta.
Na noite da estreia, eu me sentei na primeira fileira junto com
a nossa família e amigos e vi a minha garota brilhar em cena. Norah
era espetacular, mas disso eu já sabia. Sua confiança em cima do
palco conquistou não só a mim, mas a cada espectador presente no
teatro lotado, e sua química com John, o amor sofrido de Romeu e
Julieta representado por eles, arrancou lágrimas dos olhos da minha
avó ao meu lado. Ela sabia de todo o meu plano e sorriu para mim
quando terminamos de ovacionar Norah e todos os atores no palco
ao final da peça.
Aproveitei aquele momento de distração para poder sair do
meio do público e fui até a coxia. Peguei com um dos alunos, que
fazia parte da equipe técnica, o buquê de rosas vermelhas que pedi
para John guardar para mim, junto com um microfone, e esperei a
professora de Norah terminar de fazer o seu discurso de
agradecimento. Ao final, ela disse:
— Peço para que todos permaneçam no teatro, pois o nosso
espetáculo ainda não acabou. Preparamos uma surpresa como ato
final.
Precisei pedir permissão para Sra. O’Neal, afinal, ela era a
organizadora da peça teatral e eu não poderia simplesmente invadir
o palco sem o seu aval. A professora aceitou prontamente, chegou a
ficar emocionada com a minha ideia, e se posicionou em um lugar
no palco de onde conseguia me ver atrás da cortina pesada de
veludo vermelho. Ela ergueu o polegar e eu respirei fundo antes de
entrar. Não estava nervoso, mas ansioso, e com um pequeno receio
de que tudo desse errado.
Foi John quem cutucou uma Norah confusa, que parecia não
entender o que estava acontecendo após o discurso da professora, e
a fez olhar para mim. Um refletor me acompanhou conforme eu
caminhava em sua direção com o buquê nas mãos e Norah colocou
as duas mãos na frente da boca, em completo choque.
Ela estava linda com os cabelos soltos e um vestido branco e
longo, que tinha um decote ousado na altura das costelas e descia
pelas suas pernas em um tecido levemente transparente. O figurino
seguia a formatação da peça que, apesar de ser um clássico, tinha
um leve toque de modernidade. Entreguei o buquê em suas mãos e
sorri ao ver seus olhos já cheios de lágrimas antes mesmo que eu
abrisse a boca.
— Meu Deus, James! — ela sussurrou, abraçando o buquê
com força, sem saber se olhava para ele ou para mim.
— Eu sei que o seu aniversário é só amanhã, mas você me
pediu para que eu preparasse uma surpresa caso perdesse a nossa
aposta, lembra disso? — perguntei usando o microfone. Apesar de
ter uma multidão nos observando no teatro lotado, eu olhava apenas
para ela.
— S-sim — respondeu entrecortado com as lágrimas já
descendo dos seus olhos.
— Eu confesso que fiquei um tempo pensando em que
surpresa poderia fazer para você, qual presente poderia te dar. Você
merece o mundo, Norah, mas isso eu não posso te dar, pois sei que
você tem capacidade suficiente para conquistá-lo. Acho que todos
aqui perceberam isso. — O público gritou e Norah soltou uma
risadinha nervosa e emocionada. — Foi então que eu percebi que
nenhum presente seria grandioso o bastante ou chegaria à altura do
que você merece. E entendi que, às vezes, nossas palavras e gestos
contam muito mais do que qualquer outra coisa. Você sabe bem
disso, não é? Fez cada um de nós aqui presente se emocionar e
sorrir ao contar a história de um amor profundo e trágico.
Norah apenas concordou com a cabeça, tentando limpar as
lágrimas com a ponta dos dedos.
— Enquanto te assistia, percebi que nossa história também foi
contada com palavras e gestos que foram se moldando com o
tempo, se expandindo, chegando a lugares que nenhum de nós dois
pensou que chegaria, assim como o meu amor por você. O
sentimento inocente que tomava conta do meu peito se transformou
em algo tão grande, que já não cabia mais apenas em mim. Eu
precisava mostrar para você e para o mundo, tudo o que me fazia
sentir. Tinha a necessidade de que você entendesse que minhas
palavras tinham um outro significado e que meus gestos, cada
toque, abraço e olhar, eram de um homem que te amava como
nunca amou outra pessoa na vida.
Aproximei-me dela e toquei em suas bochechas molhadas com
carinho, sentindo que eu também poderia chorar a qualquer
momento.
— É por isso que estou aqui agora. Não encontrei um presente
à sua altura, Norah, mas tenho algo comigo que já é e sempre será
seu, mesmo depois que meus olhos se fecharem e não abrirem
mais. O meu coração. — Eu me ajoelhei e Norah me olhou
boquiaberta, seus olhos se arregalando conforme me assistia tirar a
caixinha de veludo do bolso. John correu em minha direção e
segurou o microfone perto do meu rosto. — Aceita se casar comigo?
Norah não precisava de um microfone, pois tinha um preso em
seu vestido na altura do seu busto, por isso, John apenas se afastou.
Um sorriso enorme se abriu nos lábios da minha garota e o meu
coração, que sempre foi todo dela, disparou como um louco em meu
peito.
— Sim! Sim, James, mil vezes sim!
Coloquei o solitário de diamante com pequenas esmeraldas em
volta no seu dedo anelar e me levantei apenas para tomá-la em
meus braços. Ouvi aplausos, assovios e gritos, mas não prestei
atenção em absolutamente nada a nossa volta enquanto Norah
olhava em meus olhos e dizia com toda a emoção do mundo que me
amava profundamente.
— O meu coração também é todo o seu, James. Para sempre.
Eu acreditei nela e tive a certeza de que a nossa eternidade
estava apenas começando.
Las Vegas, janeiro de 2024

— A minha avó vai me matar! — Foi a primeira coisa que falei


assim que me encarei no espelho.
— Ela vai querer matar o Logan também — Avalon comentou
ao meu lado enquanto passava um delineador preto nos olhos.
— E acho que a avó de James vai matar todos vocês — Aubrey
falou com uma risada e se aproximou com o celular na mão. — Mas
eu estou filmando tudo para a posteridade, então, talvez elas não
fiquem tão chateadas assim. Vocês estão lindas!
Observei meu vestido branco com alças leves caídas nos
ombros e um corpete justo que valorizava meu colo e minha cintura,
cravejado com pequenas pedrinhas brilhantes. A saia descia
levemente rodada até os meus pés. O vestido de Avalon também era
branco, no entanto, era mais ousado, todo colado ao corpo, com
uma fenda enorme na coxa esquerda, onde ela ostentava uma meia-
arrastão preta. Em seus pés estavam seus inseparáveis coturnos,
enquanto nos meus, havia sandálias prateadas de salto alto.
Em meu dedo anelar e no dela estava o nosso anel de noivado
— Logan fizera o pedido há dois dias, no meio do campo de futebol
após o Crimson Tide vencer mais um campeonato — e em meu
pescoço estava o colar que James me dera no dia em que me pediu
em namoro.
— Vocês estão lindas! — Aubrey comentou e, quando nos
viramos em sua direção, ela estava com lágrimas nos olhos. — Eu
não estou chorando, ok? Foi só um cisco que caiu no meu olho!
— Ah, Aub! — Avalon foi a primeira a abraçar a irmã e eu logo
a segui, abraçando as duas. — Eu te amo muito.
— Eu também te amo muito. Amo vocês duas. Não acredito
que aceitaram a ideia maluca daqueles dois!
— O amor nos faz cometer certas loucuras, Aub — falei,
secando sua bochecha com a ajuda de Avalon.
— Tipo fretar um jatinho e vir para Las Vegas apenas para se
casar tendo um Elvis Presley fake como celebrante? — perguntou ela
com deboche e Avalon e eu gargalhamos.
A ideia da viagem não era exatamente aquela, mas se tornou
quando um Logan bêbado na noite após o jogo, lembrou a James
que eles tinham planejado viajar para Vegas quando eram mais
novos. Meu noivo, que também estava embriagado, disse que estava
na hora de realizarem aquele sonho e Benjamin, que era
provavelmente o mais bêbado dos três, começou a rir e disse que
tínhamos que fazer algo memorável naquela cidade, afinal,
estaríamos em Las Vegas.
E foi então que James e Logan se olharam e gritaram que
iriam se casar. Os dois cercaram Avalon e eu com aquela ideia
maluca e nós apenas rimos, mas, no dia seguinte, acordamos e os
encontramos na sala, cheios de ressaca, tentando fretar um jatinho.
Quando entrei no avião particular, ainda incrédula, comecei a rir e
pensei que aquela ideia não era tão absurda assim.
Agora, Avalon e eu estávamos dentro de uma suíte do hotel
mais caro da cidade do pecado, vestidas de noiva após andar por
todas as lojas à procura do traje perfeito, e com uma adolescente de
quinze anos usando um vestido rosa de seda, pois seria nossa dama
de honra e entraria com Benjamin levando nossas alianças — que eu
esperava, do fundo do coração, que James tivesse comprado, afinal,
era a única missão que demos para ele e Logan, além de
encontrarem a capela perfeita para o casamento.
Ouvimos batidas na porta e Aubrey foi correndo atender.
Benjamin entrou ajeitando a gravata borboleta e fazendo uma
careta.
— Estou parecendo um pinguim?
— Sim — Aubrey respondeu. — Mas um pinguim apresentável.
— Isso era para ser um elogio, princesa?
— Eu não preciso falar que você está bonito, seu ego já é
inflado demais. — Aubrey sorriu e Benjamin deu uma voltinha.
— Mas eu quero ouvir um elogio seu.
— Vai ficar querendo.
— Poxa, você machuca o meu coração assim, Aubrey. — Ben a
encarou com uma sobrancelha arqueada. — Você está linda,
princesa. — Aub ficou com as bochechas coradas. — Mas depois do
casamento vai ficar trancada na suíte, porque vi muito moleque
transitando pelo hotel e não quero que nenhum deles fique de
gracinha para cima de você.
Aubrey continuou com as bochechas vermelhas, mas de raiva
daquela vez.
— Eu não vou ficar trancada coisa nenhuma!
— Veremos isso mais tarde.
— Avalon, eu não vou mais entrar com ele no casamento!
Eu ri ao observar a interação dos dois. Benjamin parecia
sempre disposto a irritar a coitada da Aubrey, que perdia facilmente
a paciência com ele. Ben tomou o braço de Aubrey, fazendo-a
entrelaçar ao dele apesar da má vontade da garota.
— Desculpa, princesa, mas você não tem escolha. Vamos?
Consegui uma limosine.
A boca de Aubrey caiu aberta. Foi ela quem pediu uma
limusine, não nós, as noivas.
— Você conseguiu mesmo? — Benjamin apenas concordou
com a cabeça, se achando. Aubrey soltou um gritinho e deu beijo no
rosto dele. — Você é o melhor, Ben! Deve ser incrível ser rico!
Vamos, garotas!
Nós saímos da suíte e observar a empolgação de Aubrey
enquanto entrávamos no automóvel luxuoso foi um dos pontos altos
da noite. Ela ficou mexendo em tudo enquanto eu sentia um frio na
barriga e ria como uma boba. Estava mesmo prestes a me casar?
Depois do pedido de casamento de James, achei que esperaríamos
pela formatura e só então pensaríamos em oficializar a nossa
relação, mas aqui estava eu, vestida de noiva, prestes a me casar
com o homem da minha vida em Vegas!
Nós chegamos à capela pequena e Benjamin nos ajudou a sair
da limusine, entrando na igrejinha com Aubrey um momento depois.
Avalon e eu demos as mãos e sorrimos uma para a outra quando
Love Me Tender, de Elvis Presley, começou a tocar. Mal podia
acreditar que estava prestes a me casar com o homem que eu
amava ao lado do meu irmão e da garota que se tornara a minha
melhor amiga e confidente. A vida nunca cansava de nos
surpreender.
Entramos juntas e ver James no altar, esperando por mim,
encheu o meu coração de amor e gratidão. Nossa história passou
como um filme pela minha cabeça e, como se fosse possível, eu o
amei ainda mais. Ele era muito mais do que o homem que se
tornaria o meu marido; era meu porto seguro, meu melhor amigo,
meu confidente, o homem que me enlouquecia na cama e fora dela.
James era o único amor da minha vida.
Ele se aproximou junto com Logan quando chegamos perto do
altar e deu um beijo em minha boca, quebrando todo o protocolo,
apesar do cover do Elvis não parecer muito preocupado com isso. Na
verdade, ele parecia estar levemente bêbado e aquilo me fez rir.
— Você sabe que precisaremos nos casar de novo, certo?
Minha avó jamais aceitará isso — James sussurrou em meu ouvido
quando paramos em frente ao altar.
— Eu me casarei com você quantas vezes for preciso.
O jogador bonito sorriu para mim e nos viramos para o
celebrante. Elvis falou sobre amor e companheirismo, citou as letras
de algumas músicas do cantor falecido, e até conseguiu arrancar
algumas lágrimas minhas no meio da cerimônia. Quando ele pediu
as alianças, Benjamin e Aubrey correram para fora da capela e
voltaram segundos depois de braços dados ao som de And I Love
You So, também de Elvis, cada um carregando uma caixinha de
veludo preta.
Aubrey deu a dela para Logan e Benjamin entregou a sua para
James. Nós nos viramos um para o outro e repetimos as palavras do
Elvis fake conforme trocávamos as alianças. Assinamos os papéis e
eu chorei mais um pouco, afinal, era meu casamento e tinha o
direito de ficar emotiva. Soltei um gritinho quando James me fez
deitar sobre o seu braço e beijou a minha boca.
— O amor é lindo! — Aubrey gritou antes de jogar uma chuva
de arroz sobre nós quatro. — Agora só falta você, Benjamin.
— Você nunca vai me ver em um altar, princesa — disse ele
com um sorriso sorrateiro conforme jogava arroz junto com Aub.
— Nunca é um tempo muito longo, alguém ainda vai roubar o
seu coração.
— Que coração? Eu nem sei se tenho um.
— Todos os homens que disseram isso dentro dessa capela,
voltaram para se casar aqui — disse o Elvis, tirando uma garrafa de
uísque de trás do móvel do altar. Ele apontou para Benjamin antes
de dar um gole. — Você também vai voltar.
— Nada contra você, seu Elvis, mas eu não vou voltar, não.
— Tem certeza de que o casamento é válido? — Logan
perguntou bem baixinho, inclinando-se em nossa direção. — Estou
achando esse Elvis muito esquisito.
— Como assim? Vocês não sabem se o casamento é real? —
perguntei com os olhos arregalados.
— James garantiu que seria real — Logan respondeu.
— Mas você é o advogado aqui, é quem entende das leis —
disse James.
— Foi você que encontrou a capela! — Logan acusou.
— Eu pesquisei na internet e todo mundo estava falando muito
bem — James se defendeu.
— Vocês nos trouxeram para casar em uma capela que
encontraram no Google? — Avalon perguntou alto demais e o Elvis
se virou para nós quatro.
— Nós temos as melhores avaliações — disse ele. — Ninguém
nunca se divorciou depois de se casar aqui.
— É mesmo? Que interessante. Como o senhor sabe disso? Os
casais voltam para contar que permaneceram juntos? — Aubrey
perguntou com verdadeira curiosidade.
— Não, eu sei disso, porque ninguém sai casado daqui. É tudo
de mentirinha. — Ele deu de ombros como se não tivesse dito nada
de mais. Entregou os papéis de casamento falsos nas nossas mãos e
apontou para a porta ao final da capela. — Agora vocês precisam ir,
outro casal está chegando para realizar o seu sonho de se casar em
Vegas!
Nós nos olhamos, seis pares de olhos estupefatos, e nos
viramos quando um casal mais bêbado do que o Elvis falso entrou
cambaleando na capela.
— Agora eu entendi por que os homens voltam para se casar
aqui. É porque não existe casamento nenhum — Ben comentou
tentando conter uma risada.
— Eu não acredito nisso! Logan Miller III, eu vou te matar!
Avalon ergueu o vestido e saiu pisando duro da capela,
enquanto Logan corria atrás dela. James me deu um olhar ainda
chocado e, antes que eu pudesse controlar, comecei a gargalhar.
Simplesmente me deu uma crise de riso tão grande, que minha
barriga começou a doer. Eu não sabia se era de nervosismo, mas
não consegui parar. James me puxou pela mão e saímos da capela a
tempo de ver Avalon entrando na limusine que ainda nos aguardava.
Assim que entrei no carro, ouvi Logan pedindo para que
Avalon se acalmasse enquanto pegava o celular.
— Se você me disser que vai pesquisar por outra igreja no
Google, eu juro que vou pegar um táxi e ir direto para o aeroporto,
Logan!
— A culpa não foi minha, Valente, foi de James!
— Minha nada! Nenhuma avaliação na internet estava dizendo
que a capela não realizava casamento de verdade!
— De quem foi mesmo essa ideia de se casarem em Vegas? —
Benjamin perguntou.
— Dele! — Logan e James responderam juntos, um apontando
para o outro.
— Então vocês dois precisam dar um jeito nisso — respondeu
ele, como se não fosse óbvio.
— Não dá para encontrar uma igreja de verdade com outro
Elvis falso? — Aubrey perguntou.
— Já não sei mais se quero me casar — Avalon resmungou.
— Ah, você quer sim, Valente! Não vai me abandonar agora!
— Vamos ficar calmos, ok? — pedi, finalmente me
controlando. Eu ainda queria rir, mas segurei a emoção fora de hora.
— Será que a recepção do hotel não pode nos indicar uma capela?
Porque muita gente se casa em Vegas, não é possível que todas as
igrejas sejam falsas.
— Boa ideia, gatinha. Vou ligar para o hotel — disse James já
tirando o celular do bolso, mas Benjamin foi mais rápido.
— Deixa que eu faço isso, se por um acaso cairmos em um
novo golpe, pelo menos vocês dois ainda vão sair de Vegas com
uma aliança de noivado no dedo.
Eu puxei James para um beijo, nem um pouco irritada com
aquela situação maluca, e vi Logan arrancar um sorriso de Avalon ao
sussurrar algo no ouvido dela quando me afastei. Minha cunhada
pareceu menos irritada e Benjamin abaixou a divisória que nos
separava do motorista.
— Siga para esse endereço, por favor. — Ben deu o nome da
rua para o homem ao volante e se virou para todos nós. — Acho que
agora vai dar tudo certo. Nunca pensei que justamente eu teria que
arrumar o casamento dos meus melhores amigos. Sinceramente...
Eu voltei a rir e Aubrey nos fez tirar as alianças, guardando-as
novamente na caixinha. Um tempo se passou e finalmente paramos
em uma nova capela. Os homens saíram para confirmar a legalidade
do casamento realizado no local e, após confirmarem que não era
um golpe, Benjamin voltou e nos ajudou a sair do carro.
Avalon e eu demos as mãos novamente e rimos ao entrarmos
juntas na igrejinha, encontrando um Elvis sóbrio daquela vez. A
cerimônia foi mais emocionante, talvez porque o celebrante não
estava embriagado e, quando trocamos as alianças de novo, eu senti
que poderia fazer aquilo pelo resto da minha vida.
Eu aceitaria me casar com James quantas vezes fossem
necessárias, em Vegas, no Alabama ou na Antártica, naquela e em
qualquer outra vida, se tivéssemos o privilégio de viver mais de uma
vez. Eu sabia que meu coração encontraria o dele e que nunca
ficaria sozinha ou perdida.
— Eu te amo, Norah McHugh — ele sussurrou em minha boca
quando o Elvis sóbrio nos declarou como marido e esposa.
— Eu te amo para sempre, James McHugh.
Nós nos beijamos e senti que aquela seria apenas uma das
inúmeras aventuras e felicidades que a vida nos reservava.
Que coisa boa poder escrever os agradecimentos desse livro
que foi tão aguardado por mim e por todos vocês, leitores que se
apaixonaram por James e Norah em Acordo Perfeito. Espero que
tenham se encantado ainda mais por eles nesse livro e que já
estejam ansiosos pelo livro do Ben.
Meu primeiro agradecimento vai para Deus, porque eu sei que
sem Ele, nada seria possível. Obrigada por estar sempre ao meu
lado, iluminando a minha mente, me dando inspiração, me
abençoando com esse dom e me guiando por um caminho melhor.
Te amo, Deus.
Mãe, obrigada por estar sempre ao meu lado, mesmo
estranhando quando eu te deixo vendo filme sozinha aos domingos
para poder escrever. Te amo muito, obrigada por todo o apoio e ser
a minha melhor amiga.
Luana, obrigada por estar comigo em todos os momentos,
aturando os meus surtos quando eu chego te contanto sobre um
novo enredo, mesmo sabendo que eu só devo escrever em 2050. Te
amo, migs!
Minha família, sei que vocês não vão ler isso aqui (só minhas
tias têm o hábito de leitura, mas só leem livro físico) mas agradeço
mesmo assim por todo o apoio e carinho. Amo vocês!
Minhas parceiras maravilhosas, obrigada por todo o apoio,
divulgação e surtos! Ter vocês ao meu lado tornou esse lançamento
ainda mais especial.
Minhas meninas do WhatsApp, amo vocês!
E a você, leitor, que chegou até aqui. Muito obrigada por estar
sempre comigo, acompanhando e divulgando cada lançamento. É
por você que escrevo. Espero te encontrar novamente muito em
breve.
Com amor, Tamires Barcellos.
Clique aqui e seja redirecionado aos meus outros romances.
Espero que se apaixone por cada um deles.
[1]
Faz parte da defesa do time. É o responsável por ocupar a parte central do
campo e comandar o restante da equipe.
[2]
Um refletor grande em forma de cúpula, direcionando a luz de maneira
controlada e concentrada.
[3]
As conferências atléticas agrupam escolas com interesses e localizações
semelhantes. Cada conferência tem seu próprio cronograma de competições e
campeonatos.

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