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Vias aéreas
2017
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Introdução
A abordagem da via aérea é o dia a dia do anestesiologista. Na atualidade há
uma proliferação de cursos e projetos de ensino e treinamento em via aérea. Esses
fatos geraram uma diminuição nos números de complicações neurológicas e morte
decorrentes de via aérea difícil. O segredo da abordagem segura é o reconhecimento
antecipado da via aérea difícil que permite uma preparação adequada e maiores
taxas de sucesso.
História Clínica
A avaliação pré-operatória é essencial para considerar qual o melhor método
para manter e proteger a via aérea durante a cirurgia, bem como quando problemas
são prováveis. Nos pacientes cirúrgicos, em geral, a prevalência de intubação
traqueal difícil é baixa e os testes têm fraco poder preditivo. Isso significa que o
paciente pode ser avaliado como normal, mas se mostrar difícil.
Um previsor simples e mais seguro é o histórico de via aérea difícil. O contrário
não é necessariamente verdadeiro: uma história sem problemas no manuseio da via
aérea é sugestiva de facilidade futura, mas não é garantia.
Na anamnese, é importante perguntar sobre anestesia anterior e eventuais
dificuldades com a via aérea, história de diabetes e de hipotireoidismo. Durante a
anamnese e o exame físico, devem ser usados os sentidos de visão, audição, olfato e
tato para procurar indícios de patologia.
A incidência de via aérea difícil não é maior nos pacientes com doenças da
hipófise que na população geral, exceto para aqueles com acromegalia, nos quais é
três vezes mais frequente.
Nos pacientes com diabetes mellitus de longa data, estima-se que a dificuldade
de intubação é dez vezes maior do que nos pacientes normais. A síndrome de
limitação da movimentação da articulação se dá em 30-40% dos
insulinodependentes e parece ocorrer por causa da glicosilação de proteínas
tissulares nos pacientes com hiperglicemia crônica. O hipotireoidismo apresenta
macroglossia importante.
Algumas síndromes já devem ser encaradas como possíveis alterações de vias
aéreas e provável IOT difícil:
Exame Físico
Nos pacientes diabéticos de longa data, ocorrem alterações articulares
importantes. Essa limitação articular é mais bem vista quando as mãos do paciente
assumem a posição de “sinal da prece” (veja figura abaixo). Tipicamente, é incapaz
de estender as articulações interfalangeanas dos quarto e quinto dedos. Postula-se
que esse mesmo processo afeta a coluna cervical, a articulação temporomandibular
e a laringe.
Sinal da prece
Noel Rosa
A distância interincisivos deverá ser maior que 3 cm para que a lâmina do
laringoscópio possa ser posicionada entre os dentes superiores e inferiores. Essa
distância avalia a abertura da boca.
Avalie o tamanho dos dentes (comprimento dos dentes incisivos superiores) e
suas condições. Nos pacientes com incisivos longos, a lâmina do laringoscópio é
desviada em direção cefálica, dificultando a laringoscopia.
Intubação
Antes de qualquer possibilidade de intubação, a pré-oxigenação é essencial.
Classicamente, a pré-oxigenação pode ser realizada com o O2 a 100% e ventilação
espontânea com máscara facial bem acoplada à face do paciente por 3 a 5 minutos.
Essa técnica fornece até 10 minutos de reserva de O2 após a apneia em pacientes
sadios.
Intubação Nasal
A intubação traqueal por via nasal é de mais difícil realização, porém, é mais
bem tolerada pelo paciente. Por proporcionar menor desconforto, essa via foi,
durante algum tempo, considerada a preferida para intubações prolongadas em UTI.
Essa técnica pode ser utilizada caso a IOT não seja possível ou mediante
procedimentos cirúrgicos intraorais ou da orofaringe. Algumas contraindicações a
sua realização podem ser citadas, como coagulopatia severa, fratura de base do
crânio, cirurgia nasal recente, epistaxe e alteração anatômica da cavidade nasal.
A mucosa nasal deve ser previamente instilada com anestésico local e
vasoconstritor, o que proporciona maior conforto para o paciente, além de diminuir
o sangramento e deixar mais espaço livre para a passagem do tubo. A anestesia da
região nasal é feita com facilidade através de cotonetes embebidos com anestésico
local e anestesia dos nervos etmoidais anterior e palatinos maior e menor, todos
ramos do trigêmeo. Eles fornecem inervação da mucosa nasal e nasofaringe.
É importante esvaziar todo o ar contido no interior do balonete e lubrificar o
tubo antes do início de sua introdução. Os tubos aramados são uma boa escolha, por
serem maleáveis, reduzindo o risco de traumas, apesar de sua introdução ser um
pouco mais difícil. A laringoscopia é idêntica àquela realizada por via oral. Uma vez
que o tubo alcance a orofaringe, a pinça de Magill deve ser utilizada para facilitar a
Intubação Acordado
O método mais seguro para garantir o controle da via aérea é a intubação
acordado. Apesar disso, muitos anestesiologistas relutam em realizar essa técnica,
principalmente por causa da falta de uma associação pessoal com um acidente
decorrente do manejo inadequado das vias aéreas, do sentimento de que a técnica é
muito estressante emocional e fisicamente para o paciente, da falta de treinamento
e do medo de litígio ou de que o paciente possa recusar o procedimento.
Na explicação do procedimento para o paciente, idealmente na avaliação pré-
anestésica, deve-se tentar estabelecer uma relação médico-paciente que facilite a
confiança e a colaboração, além de expor as razões para uma intubação acordado, as
complicações potenciais, o tipo de anestesia da via aérea e as eventuais alternativas
para se obter sua cooperação. É importante obter o consentimento informado no fim
da entrevista.
Os objetivos primordiais da sedação para intubação acordado são: ansiólise e
manutenção do padrão ventilatório espontâneo. É desejável também certo grau de
analgesia e amnésia. Idealmente, o paciente deve estar tranquilo, cooperativo e
orientado ou apenas responsivo ao comando verbal (respectivamente, níveis 2 e 3 da
escala de Ramsay).
A melhor maneira de sedar um paciente é, a princípio, obter um acesso venoso
confiável e selecionar uma combinação adequada de agentes (benzodiazepínicos e
opióides). Dos benzodiazepínicos, um dos mais eficazes é o midazolam, um
composto solúvel em água que tem uma meia-vida muito mais curta (2-4 horas) do
que outros benzodiazepínicos. Os opióides, como fentanil, morfina ou meperidina,
são muitas vezes associados ao midazolam. Eles não só proporcionam analgesia,
mas também suprimem o reflexo da tosse, permitindo que o paciente tolere melhor
o procedimento. O propofol é um hipnótico que oferece sedação de excelente
qualidade no que se refere ao conforto para o paciente. Entretanto, deve ser utilizado
com bastante cuidado em razão do risco de depressão respiratória e cardiovascular.
A dexmedetomidina, um agonista alfa 2 adrenérgico, tem sua indicação na intubação
acordado pelo fato de que, como agente único, promove sedação, analgesia e
redução da resposta hemodinâmica à intubação sem causar depressão respiratória.
Algumas técnicas podem anestesiar topicamente as vias aéreas e auxiliam na
IOT acordado. Nebulização (aerossol) com lidocaína é uma delas. Para essa técnica,
basta um nebulizador simples com 4-6 mililitros de lidocaína 4%. As vantagens dessa
técnica incluem facilidade de aplicação e de segurança. A via aérea superior também
pode ser anestesiada com várias combinações de spray e gel com anestésicos locais.
A lidocaína é largamente utilizada e existe em várias apresentações (líquida, spray,
geleia).
Dispositivos Supraglóticos
A máscara laríngea (ML) é um dispositivo supraglótico idealizado pelo
anestesiologista britânico A. Brain. Ela é o protótipo dos dispositivos supraglóticos.
Inicialmente, foi utilizada no ambiente cirúrgico como um método para permitir uma
ventilação mais efetiva. No entanto, a partir de 1995, foi incluída no algoritmo de via
aérea difícil da Sociedade Americana de Anestesiologia. Atualmente, a ML pode
substituir o tubo traqueal, atuando como via aérea definitiva ou temporária nas
situações urgentes (“ventilo, mas não intubo”) ou emergenciais (“não ventilo e não
intubo).
A ML consiste em um tubo curvo, semelhante ao tubo endotraqueal, acoplado
em um coxim pneumático elíptico em forma de máscara na extremidade distal. Ela
foi projetada para sobrepor as estruturas supraglóticas e se alojar na hipofaringe,
fazendo uma ponte entre a extremidade para a ventilação da ML e a abertura glótica,
contornando as vias aéreas superiores. Após a inserção correta da ML, um rápido
acesso às vias aéreas inferiores é criado. Para a inserção da ML, não é necessário usar
Bougie
Guia (GIT) ou introdutor semirrígido para intubação traqueal, também
chamado de Bougie, foi desenvolvido com a finalidade de facilitar a intubação
orotraqueal. Esse dispositivo, uma vez introduzido na traqueia sob laringoscopia
direta, vai servir em um segundo tempo como um condutor para o tubo, guiando-o
em seu trajeto pela orofaringe e através das estruturas laríngeas até que este possa
finalmente atingir a luz traqueal.
Fibroscopia
O endoscópio flexível (ou fibroscópio) para intubação é um dispositivo que
consiste de um cabo (corpo com ocular e alavanca de controle de flexão da
extremidade distal) e uma haste (tubo de inserção) acoplada a um tubo. O
fibroscópio é inserido através da cavidade oral ou nasal para alcançar a traqueia
depois de passar pela abertura glótica. Colocada dentro da traqueia, essa haste
servirá de guia para o tubo durante a intubação. A vantagem primordial da intubação
endoscópica é que a extremidade do fibroscópio pode ser manobrada através das
vias aéreas com a visualização das estruturas anatômicas enquanto o paciente está
completamente acordado e respirando espontaneamente. E isso é particularmente
importante quando o paciente apresenta VAD antecipada, tendo como causa, por
exemplo, uma massa supraglótica, para evitar uma situação de risco de vida
potencial do tipo “não intubo-não ventilo”. Comparada a intubação por
laringoscopia, a intubação por fibroscopia é benéfica quando existe qualquer tipo de
doença das vias aéreas, tais como tumores na laringe ou na faringe. Uma haste
relativamente fina do fibroscópio pode passar pelas obstruções anatômicas.
Utilizando-se um acesso nasal limitado ou ausente, a abertura da boca não
compromete a intubação. Pode-se visualizar tanto pela ocular do fibroscópio ou pelo
monitor acoplado através de uma câmera.
Cricotireoidostomia
Cricotireoidostomia também chamada de laringostomia, laringotomia,
cricotirotomia ou coniotomia é a abertura realizada na membrana cricotireóidea
para o acesso emergencial à via aérea infraglótica. Realiza-se a cricotireoidostomia
apenas em situações emergenciais, quando a intubação oral ou nasal falhou, e não é
possível ventilar o paciente. No algoritmo da VAD, essa situação crítica é descrita
Introdução
A prática clínica mudou desde a publicação original do algoritmo de via aérea
difícil em 2004. Fatores que contribuem para resultados ruins associados ao manejo
e deficiências relacionadas a conduta, comunicação, planejamento, equipamento e
treinamento. Agentes farmacológicos e videolaringoscópios foram introduzidos e
mais pesquisas se concentraram em estender a duração da apneia sem dessaturação,
melhorando a pré-oxigenação e otimizando a posição do paciente.
Essas diretrizes fornecem uma série sequencial de planos para serem utilizados
quando a intubação traqueal falha e são projetados para priorizar a oxigenação,
enquanto se limita o número de intervenções, a fim de minimizar trauma e
complicações.O princípio de que os anestesistas devem ter planos antes de executar
as técnicas primárias ainda é verdadeiro.
Dificuldade de intubação
Se houver dificuldade para IOT após a indução da anestesia geral (VAD não
prevista) ou após a opção de induzir um paciente com VAD reconhecida (por
exemplo, paciente não cooperativo), a ênfase agora é manter a oxigenação usando
um dispositivo supraglótico.
A decisão sobre qual dispositivo supraglótico deve ser usado para deve ter sido
feita antes da indução da anestesia, e esta escolha deve ser determinada pela
situação clínica, pela disponibilidade e experiência do operador. Dispositivos
supraglóticos de segunda geração tem vantagens potenciais no resgate de vias
aéreas e eles são os de escolha.
Pressão cricoide diminui o espaço hipofaríngeo e impede a inserção de
dispositivos supraglóticos. A pressão na cricoide deve ser removida se a
laringoscopia for difícil ou durante a inserção de um supraglótico.
As tentativas repetidas de inserir um supraglótico aumentam o trauma das vias
aéreas e pode atrasar a decisão de aceitar a dificuldade de intubação e atrasar
técnicas alternativas para manter a oxigenação. Posicionamento bem-sucedido é
mais provável na primeira tentativa. Mudança para um supraglótico alternativo pode
ser bem-sucedida. Um máximo de três tentativas de inserção de supraglóticos é
Extubação
Consideração importante que em 2013, a ASA abordou protocolo de
extubação na VAD. Todo paciente deve permanecer com guia introdutor ou bougie
até que se haja total certeza que não ocorrerá necessidade de nova IOT.