Você está na página 1de 5

Intoxicação Alimentar (Responsabilidades) - Professor Johnny

INTOXICAÇÃO ALIMENTAR com resultado morte ou desconforto/desarranjo


- Esfera civil - INDENIZAÇÃO MATERIAL (ressarcimento do valor gasto na
compra do alimento, despesas com médicos, exames medicamentos etc),
DANOS MORAIS, e se o caso LUCROS CESSANTES;

- Esfera administrativa - Penalidades impostas pelas agências de Vigilância


Sanitária, como multas, interdição e fechamento, por exemplo.
- Esfera criminal: responsabilização por homicídio culposo, se houve morte.

FUNDAMENTO LEGAL

Código de Defesa do Consumidor

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o


importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de
projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele


legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias
relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor
qualidade ter sido colocado no mercado.
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será
responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior,
quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser
identificados;

1
Intoxicação Alimentar (Responsabilidades) - Professor Johnny

II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor,


construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá
exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua
participação na causação do evento danoso.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor
dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes,
entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante
a verificação de culpa.
Art. 15. (Vetado).
Art. 16. (Vetado).
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as
vítimas do evento.
Código Civil

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

2
Intoxicação Alimentar (Responsabilidades) - Professor Johnny

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de


culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Nexo de causalidade
Na seara da Responsabilidade Civil, o nexo causal é a ligação entre a conduta
do agente e o resultado danoso. Ou seja, é preciso que o ato ensejador da
responsabilidade seja a causa do dano e que o prejuízo sofrido pela vítima seja
decorrência desse ato. Impõe-se que se prove a ligação causal entre a conduta
do agente e o resultado danoso.
Em outras palavras, deve ficar comprovado que o alimento/comida servida pelo
restaurante causou a intoxicação alimentar, a qual resultou em mal-estar ou
morte do cliente
(O nexo de causalidade é o vínculo fático que liga o efeito à causa, ou seja, é a
comprovação de que houve dano efetivo, motivado por ação, voluntária,
negligência ou imprudência daquele que causou o dano).

QUEIMADURA CAUSADA EM CLIENTE, AO SE SERVIR EM BUFÊ DE


RESTAURANTE - RESPONSABILIDADE CIVIL
Restaurante é responsável pelos danos causados a cliente, quando não fornece
a segurança que se espera do estabelecimento. Em Primeira Instância, o
restaurante foi condenado ao pagamento da importância de R$ 5.000,00 por
danos morais decorrentes de queimadura sofrida pelo autor em suas
dependências. Segundo o Relator, as provas juntadas aos autos comprovam
que o cliente se queimou em bandeja superaquecida, onde estavam expostos
os alimentos sem qualquer medida de precaução. Destacou que "o fornecedor
de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados ao consumidor decorrentes de inadequada
prestação dos serviços, especialmente quando não fornece a segurança que se
espera do estabelecimento (art. 14),
§ 1º, do CDC)". No presente caso, os Julgadores, apesar de reconhecerem a
falha na prestação do serviço e o dever de reparação por dano moral em virtude
da violação da integridade física do autor, entenderam que o valor fixado na
sentença deve ser reduzido, haja vista a queimadura ter sido de leve intensidade
e de rápida recuperação. Assim, a Turma Recursal condenou o restaurante a
pagar ao autor a importância de R$ 2.000,00 a título de danos morais.
Acórdão n. 1034239, 07003974120178070005, Relator Juiz AISTON
HENRIQUE DE SOUSA, 1ª

3
Intoxicação Alimentar (Responsabilidades) - Professor Johnny

Turma Recursal, Data de Julgamento: 28/7/2017, Publicado no DJe: 28/8/2017.


Segunda Seção define que corpo estranho em alimento gera dano moral mesmo
sem ingestão
A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou o entendimento
de que é irrelevante a efetiva ingestão do alimento contaminado por corpo
estranho – ou do próprio corpo estranho – para a caracterização do dano moral,
pois a compra do produto insalubre é potencialmente lesiva à saúde do
consumidor.
Por maioria, o colegiado de direito privado dirimiu a divergência existente entre
as duas turmas que o compõem – Terceira e Quarta Turmas – quanto à
necessidade de deglutição do alimento contaminado ou do corpo estanho para
a caracterização do dano moral indenizável.
Relatora do recurso especial, a ministra Nancy Andrighi afirmou que "a distinção
entre as hipóteses de ingestão ou não do alimento insalubre pelo consumidor,
bem como da deglutição do próprio corpo estranho, para além da hipótese de
efetivo comprometimento de sua saúde, é de inegável relevância no momento
da quantificação da indenização, não surtindo efeitos, todavia, no que tange à
caracterização, a priori, do dano moral".
No caso julgado, o consumidor pediu indenização contra uma beneficiadora de
arroz e o supermercado que o vendeu, em razão da presença de fungos, insetos
e ácaros no produto. O juiz condenou apenas a beneficiadora, por danos
materiais e morais, mas o tribunal de segundo grau, considerando que o alimento
não chegou a ser ingerido pelo consumidor, afastou a existência dos danos
morais.
Barata, preservativo e outros elementos estranhos
Em seu voto, Nancy Andrighi explicou que o Código de Defesa do Consumidor
(CDC) protege o indivíduo contra produtos que coloquem em risco sua
segurança (artigo 8º do CDC). Ela lembrou que o código prevê a
responsabilidade objetiva do fornecedor de reparar o dano causado pelo produto
defeituoso, conceituado como aquele que não oferece a segurança esperada
(artigo 12, caput, e parágrafo 1º, inciso II, do CDC).
"A presença de corpo estranho em alimento industrializado excede os riscos
razoavelmente esperados em relação a esse tipo de produto, caracterizando-se,
portanto, como um defeito, a permitir a responsabilização do fornecedor", disse
a magistrada.
Ela mencionou que os recursos já julgados no STJ tratam da presença dos mais
diversos elementos indesejados em embalagens de produtos alimentícios, como
fungos, insetos e ácaros, barata, larvas, fio, mosca, aliança, preservativo,
carteira de cigarros, lâmina de metal e pedaços de plástico, pano ou papel-
celofane.

4
Intoxicação Alimentar (Responsabilidades) - Professor Johnny

De acordo com a relatora, é impossível evitar totalmente o risco de contaminação


na produção de alimentos, mas o Estado – sobretudo por meio da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – estipula padrões de qualidade de
produtos alimentícios e fixa os níveis aceitáveis para contaminantes, resíduos
tóxicos e outros elementos que possam trazer perigo à saúde.
"É razoável esperar que um alimento, após ter sido processado e transformado
industrialmente, apresente, ao menos, adequação sanitária, não contendo em si
substâncias, partículas ou patógenos com potencialidade lesiva à saúde do
consumidor", ressaltou.
Dano moral presumido decorre da exposição ao risco
Nancy Andrighi afirmou que a jurisprudência do STJ tem cada vez mais
reconhecido a possibilidade de indenização independentemente da
comprovação de dor ou sofrimento, por entender que o dano moral pode ser
presumido diante de condutas que atinjam injustamente certos aspectos da
dignidade humana.
Ao votar pelo restabelecimento da sentença, a relatora afirmou que o dano moral,
no caso de alimento contaminado, decorre da exposição do consumidor ao risco
concreto de lesão à sua saúde e integridade física ou psíquica. Segundo ela,
havendo ou não a ingestão do alimento, a situação de insalubridade estará
presente, variando apenas o grau do risco a que o indivíduo foi submetido – o
que deve se refletir na definição do valor da indenização.
A posição vencida no julgamento – que vinha sendo seguida pela Quarta Turma
– considerava que, para a caracterização dos danos morais no caso de alimento
contaminado por corpo estranho, seria indispensável comprovar a sua ingestão
pelo consumidor.

Você também pode gostar