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RITOS, MITOS E

SÍMBOLOS NAS
MANIFESTAÇÕES
RELIGIOSAS

MARIANA OLIVEIRA ARANTES

ACESSE AQUI ESTE


MATERIAL DIGITAL!
EXPEDIENTE

Coordenador(a) de Conteúdo Revisão Textual


Kevin Santos Carla C. Farinha
Projeto Gráfico e Capa Ilustração
Arthur Cantareli Silva Andre Luis Azevedo da Silva, Bruno
Editoração Cesar Pardinho Figueiredo, Geison
Matheus Silva de Souza Ferreira da Silva
Design Educacional Fotos
Lúcio Carlos Ferrarese Shutterstock
Curadoria
Cléber Rafael Lopes Lisboa

FICHA CATALOGRÁFICA

C397 Centro Universitário Leonardo da Vinci.


Núcleo de Educação a Distância. ARANTES, Mariana Oliveira.
Ritos, Mitos e Símbolos nas Manifestações Religiosas /
Mariana Oliveira Arantes. - Florianópolis, SC: Arqué, 2023.

208 p.

ISBN papel 978-65-6083-044-8


ISBN digital 978-65-6083-039-4

“Graduação - EaD”.
1. Ritos 2. Mitos 3. Símbolos 4. Religião 5. EaD. I. Título.

CDD - 392.5

Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722.

Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Impresso por:
150489
RECURSOS DE IMERSÃO

P E N SA N D O JU NTO S APROFU NDANDO

Este item corresponde a uma proposta Utilizado para temas, assuntos ou


de reflexão que pode ser apresentada por conceitos avançados, levando ao
meio de uma frase, um trecho breve ou aprofundamento do que está sendo
uma pergunta. trabalhado naquele momento do texto.

ZOOM NO CONHECIMENTO

PRODUTOS AUDIOVISUAIS Utilizado para desmistificar pontos


Os elementos abaixo possuem recursos que possam gerar confusão sobre o
audiovisuais. Recursos de mídia tema. Após o texto trazer a explicação,
disponíveis no conteúdo digital do essa interlocução pode trazer pontos
ambiente virtual de aprendizagem.
adicionais que contribuam para que o
estudante não fique com dúvidas sobre
o tema.

P L AY N O CO NH E C I M E NTO

Professores especialistas e
INDICAÇÃO DE FIL ME
convidados, ampliando as
discussões sobre os temas por
Uma dose extra de
meio de fantásticos podcasts.
conhecimento é sempre
bem-vinda. Aqui você
terá indicações de filmes
E U I ND I CO
que se conectam com o
Utilizado para agregar um tema do conteúdo.
conteúdo externo.

INDICAÇÃO DE L IVRO
E M FO CO

Utilizado para aprofundar o Uma dose extra de

conhecimento em conteúdos conhecimento é sempre

relevantes utilizando uma bem-vinda. Aqui você terá

linguagem audiovisual. indicações de livros que


agregarão muito na sua
vida profissional.

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SUMÁRIO

7 UNIDADE 1

O UNIVERSO RITUALÍSTICO DAS CULTURAS E


RELIGIOSIDADES SEMITAS E ORIENTAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

O UNIVERSO RITUALÍSTICO DAS CULTURAS E


RELIGIOSIDADES INDÍGENAS E AFRICANAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

O UNIVERSO RITUALÍSTICO DAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES


AFRO-BRASILEIRAS E MOVIMENTOS ESPIRITUALISTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

79 UNIDADE 2

OS MITOS DENTRO DAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES SEMITAS E ORIENTAIS . . . 80

OS MITOS DENTRO DAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES INDÍGENAS E AFRICANAS . 104

OS MITOS DENTRO DAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES AFRO-BRASILEIRAS E


MOVIMENTOS ESPIRITUALISTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124

145 UNIDADE 3

OS SÍMBOLOS NAS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS SEMITAS E ORIENTAIS . . . . . . 146

OS SÍMBOLOS NAS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS INDÍGENAS E AFRICANAS . . . 168

OS SÍMBOLOS NAS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS AFRO-BRASILEIRAS E NOS


MOVIMENTOS ESPIRITUALISTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190

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UNIDADE 1
TEMA DE APRENDIZAGEM 1

O UNIVERSO RITUALÍSTICO DAS


CULTURAS E RELIGIOSIDADES
SEMITAS E ORIENTAIS

MINHAS METAS

Compreender os conceitos de Sagrado e de Profano.

Analisar o conceito de rito na cultura e na religiosidade.

Conhecer os principais textos que tratam dos ritos nas religiosidades e culturas
semitas e orientais.

Ter contato com os ritos na cultura e religiosidade semita.

Ter contato com os ritos nas culturas e religiosidades oriental.

Discorrer sobre os hibridismos ritualísticos entre o universo cultural e religioso


semita e religiosidade oriental.

Propor uma inserção deste conteúdo no cotidiano escolar da Educação Básica.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Estudante, iniciaremos nosso ciclo de aprendizagem refletindo sobre as dificul-
dades que encontramos em respeitar manifestações religiosas que diferem das
nossas próprias, ou seja, a importância da palavra tolerância no estudo das dife-
rentes religiosidades. Geralmente, seu contrário, a intolerância, costuma ser fruto
da falta de conhecimento sobre as diversas tradições religiosas.
No Ocidente, foi desenvolvido um conceito de religião amplamente emba-
sado em tradições judaico-cristãs monoteístas, fato que contribui para o pouco
entendimento que temos de tradições religiosas orientais e para as representações
exóticas e preconceituosas que existem em produções fílmicas e literárias.
É importante chamar a atenção para esses pontos se queremos avançar no es-
tudo do universo ritualístico das distintas tradições religiosas semitas e orientais.

VAMOS RECORDAR?
A fim de continuar pensando sobre a dificuldade de
entendermos diferentes pontos de vista, convido você a ouvir
a Dra. Ana Beatriz Barbosa falando sobre Intolerância Religiosa.

DESENVOLVA SEU POTENCIAL


Iniciaremos o conteúdo deste ciclo apresentando os principais conceitos que
aparecem na Base Nacional Curricular Comum relacionados ao ensino reli-
gioso. Os autores Dionísio Felipe Hatzenberger e Thais Janaina Wenczenovicz,
no texto A Epistemologia do Ensino Religioso: um Estudo a partir da BNCC,
publicaram uma tabela de sua autoria que demonstra importantes definições
desses conceitos:

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

ZO O M N O CO NHEC I M ENTO

Principais conceitos do Ensino Religioso presentes na BNCC


Conceito: Descrição contida na BNCC (2017)
Imanência: dimensão concreta do sujeito.
Transcendência: dimensão subjetiva, simbólica do sujeito.
Alteridade: a percepção das diferenças, que possibilita a distinção entre
o “eu” e o “outro” e “nós” e “eles”, cujas relações dialógicas são mediadas por
referenciais simbólicos (representações, saberes, crenças, convicções, valores)
necessários à construção das identidades.
Identidade: caráter singular e diverso do ser humano.
Finitude: condição frente à qual os sujeitos e as coletividades sentiram-se de-
safiados a atribuir sentidos e significados à vida e à morte.
Práticas Espirituais ou Ritualísticas: incluem a realização de cerimônias,
celebrações, orações, festividades, peregrinações, entre outras.
Ritos: narram, encenam, repetem e representam histórias e acontecimentos
religiosos. O rito é um gesto que aponta para outra realidade.
Símbolo: uma coisa que significa outra.
Espaços e Territórios Sagrados: montanhas, mares, rios, florestas, tem-
plos, santuários, caminhos, entre outros, que se distinguem dos demais por
seu caráter simbólico. Esses espaços constituem-se em lócus de apropriação
simbólico cultural, em que os diferentes sujeitos se relacionam, constroem, de-
senvolvem e vivenciam suas identidades religiosas.
Lideranças Religiosas: pessoas incumbidas da prestação de serviços religiosos.
Sacerdotes, líderes, funcionários, guias ou especialistas, entre outras designações,
desempenham funções específicas: difusão das crenças e doutrinas, organização
dos ritos, interpretação de textos e narrativas, transmissão de práticas, princípios
e valores etc. Portanto, os líderes exercem uma função pública, e seus atos e
orientações podem repercutir sobre outras esferas sociais, tais como economia,
política, cultura, educação, saúde e meio ambiente.
Manifestações Religiosas: é expressão da religiosidade na sociedade,
composta por um conjunto de elementos (símbolos, ritos, espaços, territóri-
os e lideranças).
Mitos: eles representam a tentativa de explicar como e a razão pela qual a
vida, a natureza e o cosmos foram criados. Apresentam histórias dos deuses
ou heróis divinos, relatando, por meio de uma linguagem rica em simbolismo,
acontecimentos nos quais as divindades agem ou se manifestam. O mito é um
texto que estabelece uma relação entre imanência (existência concreta) e tran-
scendência (o caráter simbólico dos eventos). Ao relatar um acontecimento, o
mito situa-se em determinado tempo e lugar e, frequentemente, apresenta-se
como história verdadeira, repleta de elementos imaginários.

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UN I AS S ELV I

Divindades: seres, entes ou energias que transcendem a materialidade do


mundo. São representados de diversas maneiras, sob distintos nomes, formas,
faces e sentidos, segundo cada grupo social ou tradição religiosa.
Crenças: um conjunto de ideias, conceitos e representações estruturantes de
determinada tradição religiosa. As crenças fornecem respostas teológicas aos
enigmas da vida e da morte, que se manifestam nas práticas rituais e sociais
sob a forma de orientações, leis e costumes.
Narrativas Religiosas: são preservadas e passadas de geração em geração
pela oralidade. Desse modo, ao longo do tempo, cosmovisões, crenças, ideia(s)
de divindade(s), histórias, narrativas e mitos sagrados constituíram tradições
específicas, inicialmente, orais. Em algumas culturas, o conteúdo dessa tradição
foi registrado sob a forma de textos escritos.
Doutrinas Religiosas: um conjunto de princípios e valores. Elas reúnem
afirmações, dogmas e verdades que procuram atribuir sentidos e finalidades
à existência, bem como orientar as formas de relacionamento com a(s)
divindade(s) e com a natureza.
Ideias de Imortalidade: ancestralidade, reencarnação, ressurreição, trans-
migração, entre outras, que são norteadoras do sentido da vida dos seus
seguidores. Essas informações oferecem aos sujeitos referenciais tanto para
a vida terrena quanto para o pós-morte, cuja finalidade é direcionar condutas
individuais e sociais.
Códigos Éticos e Morais: definem o que é certo ou errado, permitido ou proibi-
do. Esses princípios éticos e morais atuam como balizadores de comportamen-
to, tanto nos ritos como na vida social.
Filosofias de Vida: ancoram-se em princípios cujas fontes não advêm do uni-
verso religioso. Pessoas sem religião adotam princípios éticos e morais cuja
origem decorre de fundamentos racionais, filosóficos, científicos, entre outros.
Esses princípios, geralmente, coincidem com o conjunto de valores seculares
de mundo e de bem, tais como: o respeito à vida e à dignidade humana, o trata-
mento igualitário das pessoas, a liberdade de consciência, crença e convicções
bem como os direitos individuais e coletivos.
Fonte: adaptado de Hatzenberger e Wenczenovicz (2019).

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CONCEITOS DE SAGRADO E DE PROFANO NO SÉCULO XX

Ao longo do século XX, os estudos sobre as religiões e religiosidades contaram


com aprofundamentos teóricos de diversos autores, os quais se tornaram refe-
rências na área. Entre os vários conceitos desenvolvidos por tais teóricos, os con-
ceitos de sagrado e profano se destacaram por abordarem aspectos relacionados
à natureza das religiões, sobretudo, nas obras do autor romeno Mircea Eliade.
Em 1957, foi publicado seu livro O Sagrado e o Profano: a Essência das Reli-
giões, que apresenta definições do sagrado pautadas na oposição entre o sagrado
e o profano, seguidas de discussões sobre o espaço e o tempo sagrados. Uma das
inovações propostas na obra foi a análise de experiências religiosas, a qual Eliade
se diz, claramente, devedor do historiador das religiões e teólogo Rudolf Otto. No
livro A Ideia do Sagrado, publicado em 1917, Otto define o sagrado como ganz
Andere, algo que é distinto de todo o resto, o “inteiramente outro”.
Seguindo uma linha de definição por oposição, ou seja, aquilo que não é,
Eliade afirma que o sagrado é algo contraposto ao profano. Nas experiências
religiosas vividas pelos seres humanos, percebemos, na realidade, qualidades
sagradas e profanas, ou seja, distintas umas das outras. Em sua conceituação
de sagrado, Eliade utiliza a palavra grega hierofani para abordar a manifes-
tação do sagrado na realidade vivida. Segundo o autor:

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UN I AS S ELV I


Poder-se-ia dizer que a história das religiões – desde as mais primi-
tivas às mais elaboradas – é constituída por um número considerá-
vel de hierofanias, pelas manifestações das realidades sagradas. A
partir da mais elementar hierofania – por exemplo, a manifestação
do sagrado num objeto qualquer, urna pedra ou uma árvore – e
até a hierofania suprema, que é, para um cristão, a encarnação de
Deus em Jesus Cristo, não existe solução de continuidade. Encon-
tramo-nos diante do mesmo ato misterioso: a manifestação de algo
de ordem diferente – de uma realidade que não pertence ao nosso
mundo – em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo
"natural", "profano" (ELIADE, 1992, p. 13).

Desse modo, Eliade apresenta uma dialética do sagrado e do profano, uma vez
que aponta o fato de um objeto poder revelar o sagrado, o sobrenatural, mas
não deixar de ser, na realidade, um objeto, que é um elemento profano. Assim,
o sagrado sempre se manifesta no plano real, material. Em sua análise sobre o
sagrado e o profano, o autor termina por demonstrar diferentes modalidades do
sagrado, tentando buscar os elementos comuns das religiões. Assim, os conceitos
de sagrado e de profano correspondem a duas modalidades de ser no mundo, a
do Homem religioso e a do Homem moderno profano.


Manifestando o sagrado, um objeto qualquer torna-se outra
coisa, e contudo, continua a ser ele mesmo, porque continua a
participar do seu meio cósmico envolvente. Uma pedra sagrada
nem por isso é menos uma pedra; aparentemente (com maior
exatidão: de um ponto de vista profano) nada a distingue de
todas as demais pedras. Para aqueles a cujos olhos uma pedra
se revela sagrada, a sua realidade imediata transmuda-se numa
realidade sobrenatural. Por outros termos, para aqueles que têm
uma experiência religiosa, toda a natureza é suscetível de revelar-
-se como sacralidade cósmica. O Cosmos na sua totalidade pode
tornar-se uma hierofania (ELIADE, 1992, p.13).

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CONCEITO DE RITO NA CULTURA E NA RELIGIOSIDADE

Os ritos são atos simbólicos que se repetem de acordo com os costumes e as


tradições de cada sociedade. Geralmente, quando pensamos em ritos, relacio-
namo-los com rituais religiosos, mas cabe esclarecer que existem ritos religiosos
e seculares que permeiam os tecidos sociais. Os ritos seculares podem se dar na
forma de rituais cívicos, que costumam estar associados ao culto aos símbolos
nacionais, como hinos, bandeiras e personagens históricos.
Os rituais religiosos são atos considerados sa-
grados nas diversas tradições religiosas. Podem rituais religiosos são
atos considerados
envolver ações, palavras, danças, músicas, objetos,
sagrados
locais e pessoas e serem, mais ou menos, presen-
tes e dramáticos, a depender de cada tradição. Tais
atos constituem as cerimônias. A Ciência da Religião estuda o conjunto das
cerimônias de cada tradição definindo-o como liturgia ou culto. Tais práticas
religiosas, geralmente, ocorrem em espaços considerados sagrados, como
igrejas, mesquitas e templos, nos quais objetos, palavras e personagens, tam-
bém, podem ser considerados sagrados.
Existem tipos diferentes de ritos religiosos, dependendo da finalidade e inten-
ção. No âmbito coletivo, muitas religiões praticam rituais litúrgicos de adoração
e devoção, como a missa, para os católicos, os cultos evangélicos ou a puja, para
os hindus. Muitos desses rituais incluem a prática de sacrifícios como forma de
oferecer algo às divindades, a fim de alcançar algum propósito. Existem vários
tipos de sacrifícios e oferendas, como vegetais, animais e sacrifícios humanos.
Outro tipo de ritual são os de iniciação e passagem, como batismos, casamento,
Bar Mitzvah (cerimônia que marca a maturidade dos jovens na comunidade
judaica) e ritos funerários, que marcam mudanças de fase na vida das pessoas.

P E N SA N D O J UNTO S

Estudante, você já participou de algum rito religioso? Reflita sobre o local, os


objetos e as pessoas consideradas sagradas envolvidas na prática que você
vivenciou. Qual seria o propósito desse ritual?

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PRINCIPAIS TEXTOS QUE TRATAM DOS RITOS NAS


RELIGIOSIDADES E CULTURAS SEMITAS E ORIENTAIS

Judaísmo

Figura 1 - Antiga Torá

Descrição da Imagem: a figura apresenta a fotografia da Torá, pergaminho escrito em hebraico enrolado em um
cabo de madeira. O pergaminho está na diagonal, em que, na parte esquerda, está mais baixo, onde tem uma
ponta de madeira. Mais acima, há parte das escrituras enroladas e outra parte aberta.

Uma das religiões semitas que abordaremos é o Judaísmo, que tem como texto
sagrado a Bíblia. Os judeus acreditam que Deus fez uma aliança com seu povo
escolhido, os hebreus. Essa e outras histórias narradas na Bíblia fundamentam
a fé judaica. A Bíblia judaica é formada por 24 livros do Antigo Testamento, os
quais são divididos em três grupos: os cinco livros de Moisés, chamados Torá, os
livros históricos e proféticos, chamados de Neviim, e os outros livros, chamados
de Ketuvim. Essas três palavras formam o nome judaico dado à Bíblia, Tenakh.

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A Torá estabelece as regras relacionadas ao culto judaico por meio de 613


obrigações, entre as quais encontram-se os dez mandamentos revelados a Moisés
e o Siddur, livro de orações diárias. No Neviim, torna-se explícita a relação entre
o Judaísmo e a história de Israel, uma vez que os eventos históricos são inter-
pretados à luz da crença na lei da justa retribuição, que estabelece que o povo
escolhido deve agir em conformidade com a vontade de Deus para receber suas
bênçãos. No Ketuvim, encontram-se os 150 Salmos que tratam dos serviços no
templo, das orações, da ação de graças e dos cânticos de louvor.
Além da Torá, hoje em dia, os judeus seguem as regras registradas no Talmud,
que significa estudo em hebraico. Trata-se de um livro usado pelos rabinos a fim
de ajudá-los na correta interpretação dos ensinamentos sagrados. Nesse livro,
foram registradas as regras que, antes da dispersão desse povo, eram transmitidas
oralmente, como forma de manter a Lei falada presente em todas as comunidades
judaicas pelo mundo.

Islã

Figura 2 - Alcorão aberto ao meio

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de um exemplar do Alcorão, livro escrito em árabe
com ornamentos coloridos, aberto ao meio. As páginas estão na cor amarela, a escrita, na cor preta, com alguns
detalhes em dourado. Há três marcadores de páginas, um na cor azul, outro, na laranja, e outro, na cor verde, e
suas pontas aparecem abaixo do livro saindo das páginas.

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O livro sagrado do Islã é o Corão, ou Alcorão, no qual as revelações de Maomé


foram registradas em árabe após a sua morte. O texto é dividido em 114 capí-
tulos, chamados Suras. Geralmente, os textos são recitados pelos muçulmanos,
segundo orientações recebidas do anjo Gabriel por Maomé.

Cristianismo

Figura 3 - Bíblia aberta em uma mesa dourada

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de um exemplar da Bíblia aberto ao meio. O livro está
na diagonal para o fundo, as páginas estão um pouco amareladas e a escrita se apresenta na cor preta.

O livro sagrado dos cristãos é a Bíblia, primeiro livro impresso, traduzido


para 270 línguas e considerado o livro mais lido do mundo. Há diferenças
em relação à organização dos textos bíblicos entre as religiões cristãs. Para
os católicos e ortodoxos, sua organização se dá em 73 livros, já os evangéli-
cos e protestantes consideram 66 livros. Esses livros são divididos no Antigo
Testamento (mesmos textos da Bíblia judaica) e no Novo Testamento, que
narra a vida e a morte de Jesus nos evangelhos bem como apresenta cartas
escritas por apóstolos.

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Uma nova fase de pesquisa bíblica teve início nos séculos XVIII
e XIX, quando muitos passaram a encarar a Bíblia como um
livro escrito como qualquer outro. Foram apontadas muitas
contradições e inconsistências na Bíblia; por exemplo, suas
duas histórias sobre a criação do homem. Esse foi o princípio da
pesquisa bíblica histórico crítica, a qual, valendo-se de métodos
científicos padronizados, procura obter o maior conhecimen-
to possível sobre a Bíblia. Inclui-se aí o estudo do grego e do
hebraico, as pesquisas sobre caligrafia antiga, fontes literárias
e descobertas arqueológicas, cujo objetivo é revelar o ambien-
te cultural em que as escrituras foram redigidas (GAARDER;
HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 244).

Hinduísmo

Figura 4 - Livro dos Vedas

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de um livro com capa vermelha, no qual está escrito,
com letras douradas, “Os Sagrados Vedas”. Embaixo do livro, há um pedaço de uma bandeira da Índia e, acima,
um cordão de contas indiano.

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No tocante às religiões orientais, abordaremos o Hinduísmo, nome dado às prá-


ticas religiosas que se desenvolveram na Índia há cerca de 4 mil anos. Os registros
mais antigos ligados aos ritos hinduístas os relacionam às religiões grega, romana
e germânica. Os hinos védicos, registrados no Livro dos Vedas, eram recitados por
sacerdotes durante ritos às divindades. As quatro coletâneas de hinos incluem os
Shruti, que seriam os textos revelados, e os Shmriti, textos escritos pelos homens.
Atualmente, os textos hinduístas mais lidos são as conversas entre mestre e
discípulo registradas nos Upanishads. É interessante perceber que o hinduísmo
foi e é bastante tolerante a outras religiões, tendo se originado, inclusive, de re-
ferências de outras religiões mais antigas.

Budismo

Figura 5 - Escrituras budistas na Tailândia

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de um exemplar de Tripitaka, em que percebemos
pequenas placas de madeira amarradas com um pequeno cordão por meio dos buracos no meio das placas, com
escritos em tailandês contendo os ensinamentos de Buda.

Somente após a morte de Buda, seus seguidores passaram a registrar seus ensina-
mentos em textos. O livro chamado Tripitaka contém os ensinamentos de vida
de Buda, com regras para a vida dos monges.

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Taoísmo

Figura 6 - Livro de Harmonia do Taoísmo

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de livro fechado com o símbolo do Taoísmo, o Tai Chi,
na capa, em cima de uma mesa.

O livro chamado Tao Te Ching contém as bases das crenças do Taoísmo. Os con-
ceitos do Tao e do Te significam, respectivamente, ordem do mundo e força vital.
A autoria do pequeno livro de cerca de 25 páginas é creditada ao filósofo Lao-Tse,
que teria vivido no século VI a.C., mas essa informação não é comprovada.

RITOS NAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES SEMITA

Judaísmo

O local sagrado para os ritos judaicos é a sinagoga, onde


se realizam cerimônias para a leitura da Torá, em hebrai-
co. O texto sagrado é guardado em uma Arca direcionada à
Jerusalém. Também, são realizadas orações. Os ensinamentos
da Lei são responsabilidade do rabino. Nesse espaço, o papel ativo fica
a cargo dos homens e não é permitido imagens religiosas.

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Em relação aos ritos de passagem, o Bar Mitzvah marca a passagem para a vida
adulta, aos 12 anos para as meninas e aos 13 anos para os meninos, que devem passar
por um ano de ensinamentos judaicos. O nascimento é marcado pelo rito da circun-
cisão para os meninos. Há ritos que são realizados dentro dos lares, com papel ativo
das mulheres. Um dos mais importantes é o Shabat, rito que rememora a criação do
mundo. Desde o pôr do sol de sexta-feira até o pôr do sol de sábado, todos devem
descansar, assim como Deus fez após criar o mundo. As esposas acendem as velas
na mesa posta, e os esposos abençoam o pão e o vinho.
Os ritos judaicos, também, abarcam regras rígidas em relação aos alimentos per-
mitidos, os Kosher. Muitos animais e seus derivados são proibidos por serem con-
siderados impuros. Como a vida está no sangue, é necessário extrair todo o sangue
dos animais abatidos de maneira específica, feita por um especialista judeu.

IN D ICAÇ ÃO DE SÉR I E

Nada Ortodoxa
Para escapar de um casamento arranjado, uma jovem judia
foge do Brooklyn para Berlim e se junta a um grupo de
músicos. Mas deixar o passado para trás não vai ser fácil.
Refletindo sobre a história: para visualizar alguns
ritos judaicos indico a série, em quatro capítulos, Nada
Ortodoxa. A série foi baseada em uma biografia homônima
da escritora Deborah Feldman, ou seja, é baseada em fatos
reais da vida de uma judia que foge de uma comunidade
ultraortodoxa em Nova York. A protagonista da história vive
em Berlim, na Alemanha, e trabalhou como conselheira da
produção. Aproveite para observar questões históricas,
culturais, religiosas e sociais que aparecem nos episódios,
como a relação dos personagens com o Holocausto e o
papel das mulheres na vida familiar judaica.

Islã

Os ritos sagrados do Islã são fundamentados em cinco pilares.

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O primeiro é a profissão do credo “Não há outro deus senão Alá, e Maomé é seu
Profeta”, que deve ser repetido várias vezes por dia.

ORAÇÃO

Outro pilar é a oração, que deve ser professada cinco vezes por dia, em direção
à Meca, onde localiza-se o santuário sagrado chamado Caaba. Para isso, é
necessário estar limpo, lavando o corpo ou apenas as mãos e o rosto.

CARIDADE

Há, ainda, a caridade, que determina que todo muçulmano pague uma taxa sobre
sua riqueza.

JEJUM

Mais um dos pilares relaciona-se ao jejum. Os ritos incluem a proibição de comer


animais impuros, como o porco, e consumir bebidas alcoólicas. Especialmente, no
nono mês do ano lunar, é necessário jejuar do nascer ao pôr do sol, em referência ao
retiro que Maomé fez e que todo muçulmano deveria fazer. Esse é o ritual do Ramadan.

PEREGRINAÇÃO

Por fim, existe a peregrinação, que estabelece que todos os fiéis devem fazer uma
peregrinação à Meca para visitar a Caaba.

Cristianismo

Entre os ritos religiosos dos cristãos, estão os denominados Sa-


cramentos, que são atos sagrados que marcam fases da vida dos
fiéis. Há diferenças entre as distintas crenças cristãs. Os católicos
romanos estabeleceram sete Sacramentos: batismo, confirmação, ou crisma,
penitência, eucaristia, ordem, matrimônio e unção dos enfermos. Os protes-
tantes, também, reconhecem como Sacramentos o batismo e a eucaristia.

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UN I AS S ELV I

Os cristãos também acreditam na oração como forma de entrar em contato


com Deus, mas não exigem nenhum gesto específico que acompanhe esse rito.
Existem, ainda, os ritos litúrgicos, como os cultos, as missas, a novena e as pro-
cissões bem como os rituais de cura, como exorcismos e benzimento, e os ritos
comemorativos, como a Páscoa e o Natal.

RITOS NAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES ORIENTAL

Hinduísmo

Os ritos litúrgicos hinduístas ocorrem nas esferas dos lares


e nos vários templos espalhados pela Índia. Nos templos,
os rituais incluem música, oferendas, sacrifícios, orações,
purificação e explicações dos textos sagrados.
Estudante, acompanhe a seguinte descrição dos ritos
realizados nos lares hinduístas:


A maioria dos hinduístas devotos têm em casa uma sala ou um
canto especial onde põem estampas e esculturas representando
um ou mais deuses. Na frente das estampas e imagens costuma ha-
ver um pequeno altar para a família celebrar o serviço divino. Em
alguns casos isso ocorre diversas vezes por dia; em outros, uma
vez por semana, geralmente na sexta-feira. O culto pode variar
de casa para casa, mas com frequência compreende o sacrifício,
a oração, a recitação de textos sagrados e a meditação. Antes de
iniciá-lo, é importante estar ritualmente limpo. Quase sempre,
um banho purificador é o primeiro passo. Prepara-se então o sa-
crifício, de acordo com certas regras. Pode-se pôr no altar arroz,
frutas ou flores. Feito isso, o adorador se inclina até o chão, com
as mãos unidas, diante das imagens divinas. É comum repetir o
nome do deus e recitar textos sagrados; porém, também é habitual
a oração espontânea, pessoal. Se foram postos frutos diante das
imagens, estes serão comidos pela família ou oferecidos às visitas
que chegarem (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 52).

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

Budismo

Os ritos budistas diferem de acordo com o enquadra-


mento dos seguidores de Buda. Existem regras mais rí-
gidas para os monges e práticas específicas para os leigos.
Os monges devem dedicar sua vida aos ensinamentos de
Buda, sem preocupações relacionadas à família e à vida so-
cial. O culto envolve lembrar-se dos ensinamentos por meio da contemplação às
imagens e estátuas do Buda, abundantes nos templos, bem como realizar preces
e oferendas, como flores, frutas e incensos.

IN D ICAÇÃO DE FI LM E

O Pequeno Buda
Um pequeno jovem americano conhece um grupo de monges
tibetanos que asseguram que ele é a reencarnação de um
verdadeiro professor Budista. Sob a incredulidade inicial, pais
e filho partem rumo ao país asiático onde encontram crenças
e formas de vida muito distintas das suas. Este filme é uma
fábula para a criança que existe em cada um de nós e abre
as portas ao Ocidente mostrando a experiência única do
Budismo.
Refletindo sobre a história: para saber mais sobre o
Budismo Tibetano, você pode assistir ao filme O Pequeno
Buda. Aproveite para conhecer, de forma didática, a história
do Buda Sidharta e seus ensinamentos.

Confucionismo

O filósofo Confucius viveu na China antiga (551–479 a.C.) e


estabeleceu pensamentos e rituais que foram adotados pela
China Imperial, mas que não foram muito praticados pela
maioria da população chinesa, acabando por se tornar uma
religião estatal. O próprio Confúcio não registrou seus en-
sinamentos, assim, suas ideias foram registradas por outros
após sua morte.
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UN I AS S ELV I

Os discípulos de Confúcio ergueram templos em sua homenagem, nos quais pra-


ticavam ritos de oferenda e sacrifício bem como práticas religiosas que disseminavam
os ideais de piedade filial, respeito e reverência. De acordo com tradições ancestrais,
a maioria dos chineses adora os antepassados por meio da crença nos espíritos.

Xintoísmo

Ao tratarmos das religiões orientais, devemos abordar a antiga


religião nacional do Japão, o Xintoísmo. Trata-se de um con-
junto de tradições de várias religiosidades que creem nos espíritos
ancestrais, ou seja, não há um único fundador. Muitos deuses cul-
tuados se manifestam na forma de elementos naturais, os kamis.
Os ritos são praticados em cerimônias grandiosas, como as festas
anuais nos templos, ou em rituais modestos frente aos Kamidanas, altares
nos lares japoneses, quando há a necessidade de se purificar com água. Também,
são realizados oferendas e sacrifícios bem como preces e refeições. Nesse caso,
um Naorai, distribuição pelo sacerdote de vinho de arroz.

HIBRIDISMOS RITUALÍSTICOS ENTRE O UNIVERSO CULTURAL


E RELIGIOSO SEMITA E RELIGIOSIDADE ORIENTAL

Ao longo da história, as diversas crenças religiosas que


se desenvolveram por meio de ritos acabaram por se religiões e
religiosidades
retroalimentar umas às outras. Isso significa que as di-
contêm elementos
ferentes religiões e religiosidades contêm elementos de
de tradições
tradições anteriores. Como exemplo, podemos citar o anteriores
Hinduísmo e o Budismo, religiões tolerantes que en-
tendem que a diversidade religiosa é necessária e benéfica. No Oriente, o culto aos
antepassados é comum em vários ritos religiosos. Os chineses antigos já falavam em
três caminhos: Taoísmo, Confucionismo e Budismo.
O sincretismo entre diversas tradições religiosas, contudo, também ocorreu no
Ocidente, como foi o caso dos cristãos, que se dividiram em várias igrejas. Sobretudo,
após o período das Reformas Religiosas, a partir do século XVI, grupos dissidentes
da Igreja Católica Apostólica Romana criaram as igrejas anglicana, reformada, lute-
rana, seguidas pela calvinista, presbiteriana, metodista, batista, quakers, entre outras.
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

NOVOS DESAFIOS
Estudante, como podemos ob-
servar, informar-se sobre as
distintas religiosidades e
suas práticas rituais
contribui, signi-
ficativamente,
para a constru-
ção de uma so-
ciedade diversa,
que respeita di-
ferentes identi-
dades, culturas
e crenças. Desse
modo, torna-se
essencial a inclu-
são deste conteúdo
no cotidiano das insti-
tuições de ensino, a fim de
superarmos preconceitos de
cunho religioso que, infelizmente,
estão muito presentes em nossa sociedade.
A partir do conteúdo estudado, fica perceptível que estudar religião e reli-
giosidades é muito diferente de disseminar narrativas confessionais com o fim
de convencer pessoas sobre determinado ponto de vista. É muito importante
que você tenha isso em mente em sua prática profissional.
Mais do que tentar provar a verdade das narrativas religiosas, o respeito à
diversidade nasce de análises do contexto histórico de desenvolvimento das
diferentes religiões e do estudo de ritos e mitos que compõem as culturas
religiosas, a fim de romper com a falta de informação que gera preconceitos
e atos discriminatórios.

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VAMOS PRATICAR

1. Os ritos são atos simbólicos que se repetem de acordo com os costumes e as tradições
de cada sociedade. Geralmente, quando pensamos em ritos, relacionamo-los com
rituais religiosos, mas cabe esclarecer que existem ritos religiosos e seculares que
permeiam os tecidos sociais.

Reflita sobre os ritos com os quais você já teve contato, seja presencialmente, seja por
meio de alguma mídia. Apresente uma definição de ritos seculares e de ritos religiosos
apontando informações, como local, objetos, sujeitos e propósitos de tais práticas.

2. “O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como


algo absolutamente diferente do profano. A fim de indicarmos o ato da manifestação
do sagrado, propusemos o termo hierofania. Este termo é cômodo, pois não implica
nenhuma precisão suplementar: exprime apenas o que está implicado no seu conteúdo
etimológico, a saber, que algo de sagrado se nos revela” (ELIADE, 1992, p. 13).
Fonte: ELIADE, M. O sagrado e o Profano. Tradução de Rogério Fernandes. São Paulo:
Martins Fontes, 1992.

Conforme exposto no texto base, Mircea Eliade propõe uma definição do sagrado rela-
cionando-o com o profano. Aponte qual o tipo de relação entre esses conceitos proposta
pelo autor:

a) Aproximação.
b) Oposição.
c) Semelhança.
d) Sinônimo.
e) Complementaridade.

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VAMOS PRATICAR

3. “Poder-se-ia dizer que a história das religiões – desde as mais primitivas às mais ela-
boradas – é constituída por um número considerável de hierofanias, pelas manifes-
tações das realidades sagradas. A partir da mais elementar hierofania – por exemplo,
a manifestação do sagrado num objeto qualquer, urna pedra ou uma árvore – e até a
hierofania suprema, que é, para um cristão, a encarnação de Deus em Jesus Cristo,
não existe solução de continuidade. Encontramo-nos diante do mesmo ato misterio-
so: a manifestação de algo ‘de ordem diferente’ – de uma realidade que não pertence
ao nosso mundo – em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo ‘natural’,
‘profano’” (ELIADE, 1992, p. 13).
Fonte: ELIADE, M. O sagrado e o Profano. Tradução de Rogério Fernandes. São Paulo:
Martins Fontes, 1992.

Segundo o autor Mircea Eliade, em sua obra O Sagrado e o Profano: a essência das
religiões, hierofania diz respeito ao conceito de sagrado. Tendo isso em mente, analise
as afirmativas a seguir.

I - Em sua conceituação de sagrado, Eliade utiliza a palavra grega hierofani para abordar
a manifestação do sagrado na realidade vivida.
II - Na definição de hierofani, o sagrado sempre se manifesta no plano material.
III - Assim como hierofani define o sagrado para Eliade, a palavra, também, define o pro-
fano, visto a semelhança entre os conceitos.

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

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VAMOS PRATICAR

4. “Foi depois do retorno da Babilônia que começou a se desenvolver a religião que cos-
tumamos chamar de judaísmo. O núcleo do judaísmo era a vida na sinagoga, local de
culto onde os fiéis se reuniam para orar e ler as escrituras. Esse tipo de serviço religioso
surgira por necessidade durante o exílio babilônico, uma vez que ali os judeus não
tinham um templo onde orar. Ao voltar do exílio, eles continuaram praticando esse ser-
viço nas sinagogas, que foram construídas em diversas cidades. Nestas, uma função
relevante era exercida pelos leigos versados nas escrituras, os quais zelavam por elas, e
buscavam interpretá-las e explicá-las” (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 108).
Fonte: GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2000.

Indique qual texto é considerado sagrado para os judeus:

a) Livro dos Vedas.


b) Alcorão.
c) Upanishads.
d) Tripitaka.
e) Bíblia.

5. “Por muito tempo o islã foi conhecido no Ocidente como ‘maometanismo’, em razão da
forte influência do profeta Maomé sobre o islã. O islã, a mais recente das grandes reli-
giões mundiais, remonta a Maomé, que nasceu em Meca, na Arábia, no final do século
VI, por volta de 570 d.C.” (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 128).
Fonte: GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2000.

Indique em qual texto os muçulmanos acreditam estarem registradas as revelações de


Maomé:

a) Alcorão.
b) Tripitaka.
c) Talmud.
d) Livro dos Vedas.
e) Upanishads.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Brasília: MEC, 2017. Dis-
ponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versao-
final_site.pdf. Acesso em: 10 jun. 2022.
ELIADE, M. O Sagrado e o Profano: a essência das religiões. Tradução de Rogério Fernan-
des. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000.
HATZENBERGER, D. F.; WENCZENOVICZ, T. J. A Epistemologia do Ensino Religioso: um estu-
do a partir da BNCC. In: FÓRUM DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO, 17., 2019, Novo Hamburgo.
Anais [...]. Novo Hamburgo: Prefeitura Municipal de Nova Hamburgo, 2019.

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GABARITO

1. Os ritos seculares podem se dar na forma de rituais cívicos, que costumam estar associa-
dos ao culto aos símbolos nacionais, como hinos, bandeiras e personagens históricos. Os
rituais religiosos são atos considerados sagrados nas diversas tradições religiosas. Podem
envolver ações, palavras, danças, músicas, objetos, locais e pessoas e serem, mais ou
menos, presentes e dramáticos, a depender de cada tradição. Tais atos constituem as
cerimônias. A Ciência da Religião estuda o conjunto das cerimônias de cada tradição de-
finindo-o como liturgia ou culto. Tais práticas religiosas, geralmente, ocorrem em espaços
considerados sagrados, como igrejas, mesquitas e templos, nos quais objetos, palavras
e personagens, também, podem ser considerados sagrados. Existem tipos diferentes de
ritos religiosos, dependendo da finalidade e intenção.

2. Opção C. Seguindo uma linha de definição por oposição, ou seja, aquilo que não é, Eliade
afirma que o sagrado é algo contraposto ao profano. Nas experiências religiosas vividas
pelos seres humanos, percebemos, na realidade, qualidades sagradas e profanas, ou seja,
distintas umas das outras.

3. Opção E. Seguindo uma linha de definição por oposição, ou seja, aquilo que não é,
Eliade afirma que o sagrado é algo contraposto ao profano e que a palavra hierofania
define a manifestação do sagrado nas experiências religiosas vividas pelos seres
humanos. Assim, não é correto afirmar que os conceitos de sagrado e de profano
seriam semelhantes para o autor.

4. Opção A. Os judeus acreditam que Deus fez uma aliança com seu povo escolhido, os
hebreus. Essa e outras histórias narradas na Bíblia fundamentam a fé judaica.

5. Opção A. O livro sagrado do Islã é o Corão, ou Alcorão, no qual as revelações de Maomé


foram registradas em árabe após a sua morte. O texto é dividido em 114 capítulos, cha-
mados Suras.

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TEMA DE APRENDIZAGEM 2

O UNIVERSO RITUALÍSTICO DAS


CULTURAS E RELIGIOSIDADES
INDÍGENAS E AFRICANAS

MINHAS METAS

Introduzir, brevemente, aspectos centrais das religiões indígenas e africanas.

Abordar o preconceito existente com essas religiosidades.

Apresentar os principais textos que tratam dos ritos nas religiosidades e culturas indí-
genas e africanas.

Conhecer ritos das culturas e religiosidades indígenas.

Conhecer ritos das culturas e religiosidades africanas.

Discorrer sobre os hibridismos ritualísticos entre o universo cultural e religioso africano e


os movimentos espiritualistas.

Propor a inserção deste conteúdo no cotidiano escolar da Educação Básica.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Estudante, iniciaremos nosso ciclo de aprendizagem refletindo so-
bre a realidade de grupos indígenas e afro descendentes no Brasil
para, a partir disso, tratarmos do universo ritualístico desses grupos.
Resgato, aqui, as palavras da autora Elizabeth Maria Beserra Coelho,
em seu texto “Políticas Públicas Indigenistas em Questão: o
dilema do diálogo (im)possível” (2003), ao afirmar que as
primeiras políticas públicas para os povos indígenas no
Brasil tinham como eixo a catequese e a civilização e elas
foram “terceirizadas”, uma vez que o Estado delegou às
missões religiosas essa tarefa. “Esse esquema de tercei-
rização acabou por trazer complicações de ordem polí-
tico-econômica. Os jesuítas, que ocuparam lugar significativo nesse
processo, passaram a disputar o poder com os colonos e acabaram
por ser expulsos do Brasil, nos idos de 1757” (COELHO, 2003, s. p.).
Coelho (2003) esclarece, ainda, que foi implantada uma política
propriamente estatal, mas que manteve como norma de atuação a
catequese e a proposta de civilizar os índios. Com a proclamação
da independência do Brasil, houve a necessidade de construção
da nova nação e, mirando a homogeneidade, o Estado brasileiro
“desconheceu as nacionalidades indígenas e passou a considerar
todos como cidadãos brasileiros” (COELHO, 2003, s. p.).
O antropólogo João Carlos Pacheco de Oliveira, um dos mais
destacados estudiosos dos povos indígenas do Brasil, afirma que
os “censos realizados em 1900, 1920, 1940, 1950 e 1980 não indi-
vidualizam a população indígena do país, classificando-os con-
juntamente com categorias sociais que indicavam a mestiçagem e
situando-os entre os brasileiros ‘pardos’” (OLIVEIRA, 2006, p. 158).
Fato que confirma o desrespeito à pluralidade e diversidade étnica.
Ainda de acordo com Oliveira, em 1916, no Código Civil Brasi-
leiro, ocorreu, pela primeira vez, no país, a formalização de uma de-
finição jurídica de índio, seguida pelo Decreto nº 5.484/1928, quando
esses povos passaram a ser tutelados pelo Estado. Em suas palavras:

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2


As terras ocupadas por indígenas, bem como o seu próprio ritmo
de vida, as formas admitidas de sociabilidade, os mecanismos
de representação política e as suas relações com os não-índios
passam a ser administradas por funcionários estatais; estabele-
ce-se um regime tutelar do que resulta o reconhecimento pelos
próprios sujeitos de uma "indianidade" genérica, condição que
passam a partilhar com outros índios, igualmente objeto da mes-
ma relação tutelar (OLIVEIRA, 2006, p. 114).

Oliveira ainda esclarece que, nos anos 1960, com muitas acusações de genocídio
de índios, corrupção e ineficiência administrativa dos órgãos governamentais,
ocorreu uma reformulação do aparato estatal pelos militares, após o golpe de
1964, incluindo a proposta de um novo órgão indigenista. Sobre a criação da
Fundação Nacional do Índio, ele afirma:


No final de 1967, foram extintos o SPI, o CNPI e o então Parque Na-
cional do Xingu, e seus acervos transferidos para a Fundação Nacional
do Índio (FUNAI), criada pela Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de
1967. [...] Na prática, o respeito à cultura indígena está subordinado à
necessidade de integração e o estímulo à mudança (aculturação) como
política prevalece. O foco da ação seria o patrimônio indígena, ren-
da manipulada para diversos fins, desde o financiamento de projetos
indigenistas a iniciativas administrativas (OLIVEIRA, 2006, p. 116).

Desse modo, o desrespeito à pluralidade étnica brasileira e à cosmovisão de mun-


do nativa explicita-se nas políticas culturais do Estado frente à questão indígena.
São significativas as palavras de Antonio Albino Canelas Rubim, ao afirmar que o
itinerário das políticas culturais produziu tradições marcadas pela ausência, pelo
autoritarismo e pela instabilidade. Em seu texto Políticas Culturais do Governo
Lula/Gil: Desafios e Enfrentamentos, o autor defende que a tônica das práticas
estatais no Brasil, desde o período Colonial, foi o menosprezo e a perseguição
das culturas indígenas e africanas, que não se modificaram após a independência
e instauração do Regime Republicano. Para o autor, o Estado continuou sendo
pouco atento às formas simbólicas e estéticas da cultura:

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UN I AS S ELV I


O uso em 1953 da expressão cultura para designar secundaria-
mente um ministério, Educação e Cultura, e a criação do Ins-
tituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), além de outras
medidas menores, não sugerem nenhuma mutação essencial
a esta persistente ausência de políticas culturais no Brasil. A
Nova República introduz uma nova modalidade de ausência
com suas ambíguas “políticas culturais”. Ela expande o Estado
no registro da cultura, mas, ao mesmo tempo, introduz um me-
canismo que solapa em grande medida uma atuação cultural
mais consistente do Estado. A lei Sarney e as subsequentes leis
de incentivo à cultura, através da isenção fiscal, retiram o poder
de decisão do Estado, ainda que o recurso econômico utilizado
seja majoritariamente público, e colocam a deliberação em mãos
da iniciativa privada. Nesta perversa modalidade de ausência,
o Estado só está presente como fonte de financiamento. A po-
lítica de cultura, naquilo que implica em deliberações, escolhas
e prioridades, é propriedade das empresas e suas gerências de
marketing (RUBIM, 2008, p. 56).

Nessa tradição de ausência e instabilidade, por parte do Estado, na gestão das


políticas culturais no Brasil, fica evidente que as culturas populares, sobretudo,
as culturas dos povos nativos e afro-brasileira, foram silenciadas nos quadros
institucionais, quando não apagadas deliberadamente. É importante chamar a
atenção para esses pontos se queremos avançar no estudo do universo ritualístico
das distintas tradições religiosas que compõem o nosso país.

VAMOS RECORDAR?
A fim de continuar refletindo sobre as tensões que marcaram
as relações entre o Estado brasileiro e os grupos indígenas,
convido você a ler o texto de Elizabeth Maria Beserra Coelho
sobre o dilema do diálogo (im)possível.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2

DESENVOLVA SEU POTENCIAL

ASPECTOS CENTRAIS DAS RELIGIÕES INDÍGENAS E


AFRICANAS

Os estudos sobre os povos nativos e afrodescendentes no período Moderno re-


duziram a participação desses grupos a uma simples, linear e inevitável “crônica
da sua extinção”, expressão de John Manuel Monteiro. Essa narrativa contribuiu
para a desvalorização dos saberes ancestrais e das suas epistemologias, acabando
por vincar a irrelevância dessas populações e justificar seu desaparecimento da
história e o apagamento das suas memórias. Ao tornar quase invisíveis afrodes-
cendentes e povos nativos, essa maneira de ver o passado colonial prolongou a
dominação exercida sobre esses grupos, não só durante o período Colonial, mas
também no tempo Pós-Colonial.
No caso específico dos trabalhos sobre a história brasileira, a grande maioria
contribuiu para invisibilizar os povos nativos, para a consolidação da memória
coletiva nacional voltada para a afirmação de um estado-nacional histórico cul-
turalmente eurocêntrico. A centralidade à história europeia, elevando-a ao nível
de História Universal, é uma configuração presente nas estruturas curriculares
de ensino superior e básico no Brasil e em muitos países não europeus.

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UN I AS S ELV I

Diferentemente das epistemologias eurocêntricas, as epistemologias nativas


relacionam várias matrizes de conhecimento, relações interpessoais, ambientais
e espirituais, a importância da língua em tais processos, o saber ancestral dos
povos autóctones, a coletividade do conhecimento e o papel relacional do in-
vestigador. Arévalo Robles esclarece que a relacionalidade é fundamental para a
compreensão das cosmovisões nativas.


A relacionalidade em certo sentido define a ‘totalidade’ como uni-
dade de tudo o que vive. Esta totalidade refere-se às coisas materiais
e conhecidas pelos sentidos, porém vão mais além ao integrar a sua
‘unidade’ mundos que vão mais além do planeta (o mundo de cima)
e mais adentro do mesmo (o mundo de baixo). O mundo médio é o
que caminham os humanos, os animais, as plantas. Este mundo tem
sido o objeto da ciência ocidental e apenas sua versão material. O
pensamento indígena integra os três mundos relacionalmente, tanto
o material como o imaterial, além de dar-lhe propriedades que não
concebem a ciência ocidental: tudo tem vida, tudo está relacionado
e tudo tem espírito. [...] Para a ontologia indígena, a realidade é mais
ampla que a visão ocidental. [...] Finalmente, ainda que a relaciona-
lidade holística dê conta da ‘totalidade’, as relações estão ligadas ao
lugar e a uma compreensão cíclica do tempo. A relacionalidade é
uma concepção global, porém se expressa, se vive e se sente no con-
texto que refere à terra, às plantas, animais e espíritos dos lugares,
por isso que os espaços são sagrados. Entretanto, o tempo refere-se
ao movimento do universo que integra a criação e a destruição, a
ordem e o caos, em uma permanente mudança que, por sua vez, é
estável e é regida por múltiplos ciclos que podem ser apreendidos
e compreendidos. O tempo tem momentos de iniciação e ação, o
ritmo social do tempo é marcado pela interpretação cósmica do
movimento (ARÉVALO ROBLES, 2013, p. 64).

Assim como ocorre com povos nativos americanos, ao olharmos para as histórias
dos Impérios Africanos antes das invasões europeias, um elemento estruturante
de grande parte das populações é a não separação entre natureza, poder, política
e religião. Trata-se de cosmovisões de acordo com o princípio da integração, com
vários elementos da vida se complementando.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2

Como afirma o doutor em Filosofia Eduardo Oliveira, professor da Univer-


sidade Federal da Bahia, “nestas sociedades não existe a dualidade homem/na-
tureza. Tudo está interligado, por isso tudo interage. O uno é o todo e o todo é
uno. Não há escatologia. O tempo dos ancestrais é o tempo passado e o tempo
do agora” (OLIVEIRA, 2003, p. 38) Os princípios que assentam a cosmovisão
africana são a integração, a diversidade e a ancestralidade.
Ao analisar o paradigma indígena com perspectiva africana, a autora Bagele
Chilisa considera que a palavra ubuntu representa a cosmovisão produzida pelas
civilizações do Vale do Nilo, expressando as relações entre vivos e não vivos e a
existência espiritual, em uma busca constante por justiça e relações harmonio-
sas. Essas seriam as bases de uma investigação decolonial, a fim de enfrentar as
injustiças do colonialismo (ARÉVALO ROBLES, 2013).

PRECONCEITOS RELIGIOSOS

De acordo com Leila Maria Gonçalves Leite Hernandez, em seu livro A África
na Sala de Aula: visita à História Contemporânea, os escritos sobre a África,
em particular, entre as últimas décadas do século XIX e meados do século XX,
contêm equívocos, pré-noções e preconceitos decorrentes, em grande par-
te, das lacunas do conhecimento, quando não do próprio desconhecimento
sobre o continente. Pela ocultação da complexidade e da dinâmica cultural
próprias da África, torna-se possível o apagamento de suas especificidades
em relação aos continentes europeu e americano. O mesmo ocorre em relação
aos povos nativos das Américas, que sofrem com preconceitos decorrentes
de seu “apagamento” da história.

P E N SA N D O J UNTO S

Estudante, quantas vezes você já ouviu falar, ou falou, da África e dos africanos
como se fossem um único país? Mesmo que se trate de um continente com
54 países com diferentes tradições culturais? Reflita sobre os efeitos dessa
homogeneização em relação ao estudo das diferentes culturas africanas. Você
acha que isso afeta o modo como entendemos as práticas religiosas africanas
e afrodescendentes?

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UN I AS S ELV I

O estudo das diferentes práticas religiosas deve levar à compreensão de que é


necessário conviver com as diferenças, respeitando diferentes culturas e o que
cada pessoa considera ser sagrado, sobretudo, no Brasil, país multiétnico e com
grande diversidade religiosa. Um efetivo passo para superarmos os preconceitos
é adquirir informação, necessária para a construção da tolerância e do respeito.

IN D ICAÇ ÃO DE FI LM E

Do Meu Lado
As vidas de duas vizinhas, uma umbandista e uma protes-
tante, começam a se cruzar quando uma infiltração abre um
buraco na parede que divide suas casas.
Refletindo sobre a história: para contribuir com as reflexões
sobre os equívocos e preconceitos que a falta de conheci-
mento e informação pode gerar, indico o filme curta-metr-
agem Do Meu Lado. Repare na mudança de comportamento
que ocorre nas vidas das personagens quando elas passam a
se conhecer melhor.

PRINCIPAIS TEXTOS QUE TRATAM DOS RITOS NAS


RELIGIOSIDADES E CULTURAS INDÍGENAS E AFRICANAS

Figura 1 - Texto hieróglifo egípcio

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de uma parede antiga, na cor de argila natural, com
relevo de desenhos e escrita hieroglífica do Egito antigo. Trata-se de uma escrita pictográfica, ou seja, junção
de imagens de objetos, pessoas e animais. No centro, da esquerda para a direita, há a representação de uma
figura humana, em pé, voltada para a direita, segurando uma haste, uma figura com corpo humano e cabeça de
um pássaro, em pé, voltada para a direita, segurando uma haste, uma figura humana sentada, voltada para a
direita, segurando um bastão em cada mão, uma mesa com alimentos e uma figura humana, em pé, voltada para
à esquerda, com os braços estendidos em direção à figura sentada.

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Culturas africanas

É isso mesmo, estudante, podemos citar como exemplo de um texto sagrado


de origem africana a escrita hieroglífica egípcia. Não devemos esquecer que
o Egito é um dos países do continente africano. Há cerca de 3 mil anos antes
de Cristo, os egípcios desenvolveram uma forma de escrita com várias ima-
gens figurativas somadas a símbolos que representam sons. Essa escrita foi
chamada de hieroglífica e muito utilizada nos rituais religiosos, sobretudo,
em túmulos e templos.
Foram encontrados hieróglifos em rochas e barro cozido. Sabe-se que os
suportes de papiro e placas de madeira, também, serviram à essa escrita. O
famoso Livro dos Mortos foi escrito em pergaminho e continha orações que
guiassem os mortos em sua viagem para o outro mundo, uma vez que os egíp-
cios antigos acreditavam em uma vida após a morte. Muitos rituais, também,
ficaram registrados com essa escrita nas paredes de templos no Egito.
De maneira geral, as religiões tradicionais dos
diferentes povos da África não têm textos escritos. religiões tradicionais
Muito do que sabemos hoje sobre as antigas práticas dos diferentes
religiosas chegaram até nós por meio de relatos de povos da África não
têm textos escritos
europeus, em suas próprias línguas. Há muitos pro-
blemas de interpretação e tradução que dificultam
nosso entendimento dessas práticas, muitas vezes, analisadas pelo viés eurocên-
trico, colonizador e cristão. Um dos problemas de interpretação desse material
advém da subestimação do outro, de seu mundo e dos horizontes culturais, que
gerou uma incompreensão da linguagem e de conceitos, como tempo, espaço
e ancestralidade. Outra fonte de conhecimento sobre as religiões africanas são
os mitos, passados de geração em geração por meio da tradição oral.

Culturas indígenas

O estudo das religiões dos povos nativos das Américas, em um período anterior
à chegada de europeus no continente, é dificultado pela falta de fontes para a
compreensão das antigas tradições. Muito do material que poderia ser utilizado
para estudo, como monumentos, obras de arte e registros escritos, foi destruído
ao longo do tempo, tanto pelos “conquistadores” quanto pelos próprios povos

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nativos em disputas locais. O mais importante é que a própria população local foi
destruída, impossibilitando uma transmissão da história de geração em geração.
Grande parte dos estudos dos antigos povos da América foram feitos com base em
vestígios arqueológicos e textos escritos após a conquista, em línguas europeias.

Figura 2 - Figuras rupestres

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de uma parede de rocha, na cor natural, com imagens
na parte inferior. Trata-se de representações de animais de quatro patas, na cor marrom escuro, répteis, na cor
amarela, mãos humanas, símbolos circulares e animais de quatro patas, na cor vermelha.

Em relação a textos em línguas nativas, para a região da Meso-América e An-


dina, há textos fixados com caracteres latinos depois da conquista. O estudo da
Meso-América seria o mais rico em termo de fontes, pois, ainda, existem códices
pré-colombianos e inscrições maias. Entretanto, outra dificuldade encontrada
pelos pesquisadores é o desconhecimento da escrita de diversos grupos habi-
tantes da região; por exemplo, muitas inscrições maias continuam não decifra-
das pelos estudiosos. Para o caso da região andina, há registros escritos do tipo
numérico-categóricos, considerados híbridos, como os quipos, que, também,
apresentam muita informação sobre a vida dos habitantes da região.

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Os Maias acreditavam em vários deuses ligados à natureza. Itzamná era a di-


vindade criadora, representando a morte e o renascimento da vida. Há dois textos
para o estudo da mitologia Maia: o Popol Vuh, Livro da Comunidade, datado do
ano 1550 e considerado a “Bíblia” dos Maia-Quiches, e o Chilam Balam, que foi
escrito na língua maia de Yucatã na época da invasão europeia.

A P RO F UNDA NDO

Quando falamos em textos para o estudo dos ritos nas religiosidades indígenas,
não podemos deixar de citar as representações rupestres existentes em roche-
dos e paredes de cavernas. É possível identificar representações de animais, como
veados, cavalos e javalis, bem como práticas relacionadas à vida dos povos nativos.
Uma vez que não havia a diferenciação entre os aspectos sagrados e profanos da
vida, ações do dia a dia integravam as práticas religiosas desses grupos.

RITOS DAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES INDÍGENAS

Os ritos religiosos são atos sagrados repetidos dentro de determinada comunidade


e marcam fases importantes da vida bem como estabelecem relações entre o passa-
do e o presente e entre os vivos, os mortos e as divindades. Entre os variados grupos
indígenas ao redor do mundo, os ritos podem ser separados entre ritos de iniciação,
ritos ligados ao nascimento, ao casamento, à morte, à caça, à guerra, entre outros.
Lembrando que, em sociedades guiadas por cosmovisões baseadas na inte-
gração e relacionalidade, não há a separação entre as esferas sagrada e profana da
vida. Assim, a religião está presente nas ações cotidianas. Respeitando a plura-
lidade e especificidade dos povos tradicionais, devemos compreender que ritos,
mitos e símbolos são próprios de cada grupo étnico. Desse modo, serão apresen-
tados alguns exemplos de ritos indígenas, entre as diversas tradições existentes.
Os Maias, grupo nativo da região denominada Mesoamérica, na América
Central, desde cerca de 1800 a.C., acreditavam na existência de três planos, sendo
a Terra, o céu e o submundo. A vida deveria sempre ocorrer em ciclos, que, de
tempos em tempos, repetiam-se. Essa crença levou à criação de calendários que
registravam esses ciclos e eram interpretados pelos sacerdotes, que realizavam
profecias baseadas nos ciclos de vida. Os ritos, também, eram associados ao ca-
lendário maia e incluía oferendas e sacrifícios humanos e de animais aos deuses.

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IN D ICAÇ ÃO DE LI V RO

A civilização maia
Editora: Zahar
Autor: Paul Gendrop
Sinopse: o autor aborda a história da civilização Maia, que hab-
itou o que, hoje em dia, conhecemos como partes do México,
Guatemala, El Salvador, Honduras e Belise. A leitura da obra
possibilita conhecer mais sobre as práticas religiosas desse
grupo, além de aspectos relevantes da sua história, como a ar-
quitetura, que eternizou templos grandiosos, como a pirâmide
localizada em Tikal, a cidade dos deuses.

Os Incas formaram, na região andina, o maior império da América antiga. Essa


civilização acreditava em um sistema dual, ou seja, seus ritos expressam a existência
de oposto,s como o bem e o mal, as chuvas e a seca, o sol e as tempestades. Eram
politeístas, mas o principal deus cultuado era o deus sol, chamado Inti, que podia
garantir boas colheitas e saúde. Entre as cerimônias em sua homenagem, está o Inti
Rami, Festa do Sol, celebrada no solstício de inverno com a oferenda de uma fo-
gueira, onde queimavam folhas de coca e milho, e um sacrifício humano. Além dos
deuses, os incas, também, cultuavam animais sagrados, como o condor e o jaguar.
Entre os ritos incas, as oferendas e os sacrifícios representavam gratidão pelas
colheitas, pelas vitórias e pela saúde. Esses atos sagrados poderiam ser realizados
nos templos, como o famoso Templo do Sol, na cidade de Cusco, no Peru, ou nos
huacas, lugares naturais, como rios, montanhas e lagos considerados sagrados.
Muitas vezes, os sacrifícios eram realizados por orientação dos huillca-humu,
sacerdotes que profetizavam os acontecimentos da vida dos incas.

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Povos indígenas do Brasil

O senso comum dos brasileiros é imaginar que os povos indígenas vivem


em aldeias em regiões rurais, de sua própria subsistência — a tal imagem
congelada no tempo. Contudo, a variedade de etnias e tradições indígenas se
estende até as aldeias urbanas que existem no país. A autora Linda Siokmey
Tjhio Cesar Pestana, em seu texto Reflexões sobre Mitos, Ritos e Espirituali-
dade Indígenas esclarece que, nas aldeias, o espaço, o tempo e os objetos são
sacralizados. Em suas palavras:


Através do artesanato, das danças, dos gestos, dos olhares, da
culinária, do ritmo de tambores, maracás e pés batendo no chão
– ritos que são expressões criativas e eloquentes da cultura indí-
gena – reatualizam-se e rememoram-se mitos que ressignificam
o passado, reforçam a identidade e descortinam a esperança de
um horizonte solidário e inclusivo, sem a lógica da dominação,
da competição e da violência (PESTANA, 2015, p. 96).

Como exemplo das práticas rituais indígenas brasileiras, podemos citar a


cerimônia do Toré, comum a várias etnias das regiões Norte e Nordeste.
Trata-se de um ritual que envolve música e dança para manifestar as rela-
ções com o divino, agradecer pela prosperidade e marcar atos relacionados
a pessoas importantes para a comunidade. Homens e mulheres dançam em
pares ao ar livre, formando um círculo e acompanhando os instrumentos com
canções nas línguas nativas.
Em muitas etnias, os objetos utilizados nos rituais são considerados sagra-
dos, como maracá, chocalho feito de cabaça, coco ou ovos de ema. Para que
o instrumento emita som, são colocadas pedras ou sementes em seu interior,
agitadas ao balançá-lo. Acredita-se que o som do instrumento é poderoso,
sendo gerador de cura, proteção e positividade. Assim, a liderança religiosa é
quem emana esse poder, por meio do Maracá, nos rituais. Além dos objetos,
há a crença de que os alimentos, também, são sagrados e compõem muitos
rituais, como ocorre com o milho e a mandioca/macaxeira/aipim.

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Figura 3 - Maracá

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de um maracá, instrumento musical feito de cabaça
redonda, na cor marrom. Na porção superior, é decorado com penas de aves, nas cores amarelo, vermelho, verde
e azul. No centro da cabaça, passa uma haste de madeira para ser segurada com as mãos e chacoalhar a cabaça.
As penas são presas à haste com cordões de couro enrolado. Na cabaça, há um símbolo indígena formado por
seis linhas que se cruzam.

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E U IN D ICO

Estudante, sugiro que você acompanhe, no vídeo indicado, a


cerimônia da Toré, tradição de canto e dança dos Kariri-Xocó.

Os rituais de iniciação são muito presentes na maioria das etnias brasileiras, como
no caso dos Yanomami, que marcam o fim da infância por meio da perfuração
do lábio dos garotos e a colocação de um enfeite ostentado com orgulho. Muitas
vezes, os atos sagrados podem gerar dor e incômodos que aumentam, ainda mais,
o simbolismo frente ao sagrado.


A espiritualidade do povo Guarani é chamada de ‘Mborayu’. Essa
religiosidade possui uma linguagem, o Aywu (a palavra), que dá
nome às coisas e organiza uma compreensão do espírito das coisas,
porque a realidade pertence a Ñemi’Guaxu (o grande mistério).
A ideia que nós ocidentais temos de religião, como religação com
transcendente, ou ao criador, não se aplica à espiritualidade Gua-
rani, pois os pertencentes a esse povo não marcam espaço e tempo
dividindo-os em categorias de sagrado e profano; para eles, a ma-
neira de ser Guarani ‘Ñande Reko’ contempla todos os aspectos da
vida, sendo que a vivência cotidiana e suas expressões religiosas
formam uma coisa só, e é nisso que se baseia sua espiritualidade.
No entanto, para podermos estudar a religiosidade do povo Gua-
rani, vamos considerar a ideia de religião indígena, sem esquecer
que essa expressão não se aplica totalmente à forma de crer dos
Guarani. Toda religiosidade dos guarani gira em torno do ‘Ñande
Reko’. [...] Os Guarani Ñandewa utilizam a palavra Ywy porá (terra
boa, maravilhosa ou perfeita para se morar), para se referir à terra
sagrada, ou seja, o lugar sagrado da palavra e da poesia, da beleza, da
dança, dos cantos, que é compartilhado quando é bebido o Kaayu
(a erva-mate), com o Poã (ervas que elevam) e é fumado petym. É
o lugar do Mborayu, do espírito-natureza do universo e do espírito
que nos une (BRASIL, 2005, p. 76).

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RITOS DAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES AFRICANAS

Os diferentes povos dos países do continente Africano caracterizam-se por


uma diversidade de culturas e tradições religiosas. Por muito tempo, a história
da África foi contada por um viés eurocêntrico, fato que gerou muitas incon-
sistências nos estudos sobre a região. O Deserto do Saara divide o continente
em duas partes, com estilos de vida diferentes, entre a região Norte e a região
Sul. Disso decorre uma noção de senso comum de não incluir civilizações,
como a egípcia, no imaginário Ocidental sobre a África. Sobre o assunto, os
autores da obra História da África e dos Africanos esclarecem que, diferen-
temente do que ocorreu com o cristianismo, os contatos de africanos com o
Oriente Médio, a partir do século IX, ocasionaram trocas que inseriram os
fundamentos islâmicos no continente de forma pacífica.


Importa dizer que as religiões da África são tão diversas quanto
as línguas e etnias do continente, já que cada uma delas tem seus
deuses, gênios ou ancestrais cuja adoração, ritos, oração ou sa-
crifício segue uma lógica única. Por isso, segundo Dieng (2007),

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à primeira vista tudo parece ser diferente entre as religiões dos


dogons, dos malis e dos zulus da África do Sul, ou entre os pan-
gos e os iorubás da Nigéria. Porém, um olhar mais aproximado
pode diagnosticar algumas características fundamentais que são
idênticas entre esses cultos essencialmente destinados a ligar os
homens ao mundo invisível, seja na forma natural ou sobrenatu-
ral. Na África, os povos têm mais ou menos a mesma concepção
sobre seus ancestrais, sobre os gênios, seus modos de encarnação
ou de reencarnação, bem como o entendimento sobre os vivos
(VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2014, p. 24).

A título de exemplificação da diversidade religio-


ausência da ideia de
sa africana, podemos citar como religiões tradi-
salvação, uma vez
cionais: Akan, Banto, Dinca, Dogon, Fon, Ganda,
que não existem as
Iorubana, Lovedu, Mbona, Mende, Nilótica, Nuer, noções de pecado,
Shilluk, Shona, Zande e Zulu, entre outras. O filó- culpa, paraíso e
sofo Eduardo Oliveira (2003) esclarece aspectos inferno
comuns a várias dessas religiões, incluindo: uma
dimensão comunitária, que se reflete no bem-estar
de todos os membros da comunidade; um pragmatismo, que vincula as ne-
cessidades das pessoas nas esferas religiosa, política e econômica; a ausência
da ideia de salvação, uma vez que não existem as noções de pecado, culpa,
paraíso e inferno; e o culto aos ancestrais.
Outra característica em comum é a existência de mitos de origem, rituais
e sacerdócio, que podem ser exercidos pelo chefe/rei ou por curandeiros,
adivinhos, oráculos, profetas e magos. Muitas vezes, o curandeiro precisa
anular um feitiço para restaurar a saúde ou atuar como adivinhos para
realizar um diagnóstico.
Assim, existem princípios organizadores das sociedades que incluem o
respeito à diversidade e a noção de integração, estabelecida na crença de que
todos os elementos do universo estão interligados. Esses princípios regem
os rituais tradicionais, que incluem os ritos de passagem e iniciação, ligados
ao nascimento, à morte, à vida adulta e ao casamento. Em muitos ritos de
puberdade, os garotos devem passar por testes e aprendizados difíceis antes
de serem considerados adultos.

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HIBRIDISMOS RITUALÍSTICOS ENTRE O UNIVERSO


CULTURAL E RELIGIOSO AFRICANO E OS MOVIMENTOS
ESPIRITUALISTAS

Ao longo do século XX, estudiosos dedicados às culturas afroamericanas


deram ênfase ao debate sobre sobrevivências X transformações, utilizando
conceitos, como sincretismo, aculturação, hibridismo ou miscigenação cul-
tural. A partir dos anos de 1990, as discussões sobre globalização, identidades
múltiplas e multiculturalismo geraram trabalhos focados no termo diáspora,
a fim de questionar teses centradas nos conceitos de cultura nacional, terri-
tório ou pureza racial. Desse modo, os estudos sobre a África e seus descen-
dentes têm apresentado as múltiplas experiências culturais das populações
negras dispersas pelo mundo.
No Brasil, os hibridismos culturais presentes em nossa história colonial
geraram formas culturais únicas. Do encontro de diversas crenças e religiões
tradicionais africanas, nasceu o candomblé. Somada ao catolicismo brasileiro
e às crenças hindu-cristãs do espiritismo kardecista, nasceu a umbanda. Nos
terreiros de umbanda, os ritos cultuam os orixás e espíritos de índios brasilei-
ros, os caboclos, bem como espíritos de negros escravizados, os preto-velhos.
Durante os rituais de umbanda no terreiro, esses espíritos, considerados
guias, podem se incorporar nos médiuns ao longo das danças acompanhadas
de música. Assim como no kardecismo, a comunicação entre vivos e mortos
objetiva o aconselhamento e a cura. Esse seria “o lado direito” da umbanda,
voltado para a prática do bem e da caridade. Existe, também, “a esquerda”,
especializada em “fazer feitiço” quando solicitado.

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Estudante, você pode se informar mais assistindo à entrevista


com o Pai de Santo Lúcio Moreira Filho, na qual ele fala sobre
origens, significado, liturgia e rituais da Umbanda. Acompanhe
no vídeo do canal da Associação Inter-Religiosa de Educação.

Papiro de Hufener, do livro Egípico dos Mortos, cena do julgamento do morto na


presença de divindades

Templo de Kukulkan, construído em forma piramidal, pelos maias, na antiga ci-


dade de Chichén Itzá

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NOVOS DESAFIOS
Estudante, após vermos aspectos importantes do universo ritualístico das religio-
sidades indígenas e africanas, proponho que você reflita sobre os desafios ligados
à inserção deste conteúdo na sua prática de Ensino Religioso. Apresento uma
proposta para trabalhar o tema das narrativas religiosas por meio de manifes-
tações culturais. Aproveite para trabalhar elementos previstos na Base Nacional
Curricular Comum, como “debater a dimensão pública da religião para construir
um ambiente de paz”.
Usando como material de apoio o texto Rap é educação; rap e religião: pro-
postas para o Ensino Religioso você pode explorar o repertório de rap nacional
a fim de analisar elementos religiosos presentes nas letras de rap. Por meio
desse gênero, é possível trabalhar com temas, como mitos e cosmologias, rela-
ções raciais, religião e tradições ancestrais, bem como diálogo inter-religioso.
As músicas do grupo Racionais MC’s são uma fonte valiosa de informações
sobre os hibridismos nas religiosidades afro-brasileiras. Cito, como exemplo,
as canções Gênesis e Capítulo 4, Versículo 3.

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VAMOS PRATICAR

1. “Assim, o conjunto de escrituras sobre a África, em particular entre as últimas décadas


do século XIX e meados do século XX, contém equívocos, pré-noções e preconceitos
decorrentes, em grande parte, das lacunas do conhecimento quando não do próprio
desconhecimento sobre o referido continente. Os estudos sobre esse mundo não oci-
dental foram, antes de tudo, instrumentos de política nacional, contribuindo de modo
mais ou menos direto para uma rede de interesses político-econômicos que ligavam as
grandes empresas comerciais, as missões, as áreas de relações exteriores e o mundo
acadêmico” (HERNANDEZ, 2005, p. 18).

Fonte: HERNANDEZ, L. M. G. A África na Sala de Aula: visita à História Contemporânea.


São Paulo: Selo Negro, 2005.

Reflita sobre os efeitos do desconhecimento da história do continente Africano para o


entendimento das religiões tradicionais. Argumente em que sentido a falta de informação
pode gerar atos de preconceito religioso.

2. “O pensamento indígena integra os três mundos relacionalmente, tanto o material como


o imaterial, além de dar-lhe propriedades que não concebem a ciência ocidental: tudo
tem vida, tudo está relacionado e tudo tem espírito” (ARÉVALO ROBLES, 2013, p. 64).
Fonte: ARÉVALO ROBLES, G. A. Reportando Desde Un Frente Decolonial: la emer-
gencia del paradigma indígena de investigación. In: ARÉVALO ROBLES, G. A.; CHAUS-
TRE, I. Z. (ed.). Experiencias, luchas y resistências em la diversidad y la multiplicidad.
Bogotá: Asociación Intercultural Mundu Berriak, 2013.

Conforme exposto no texto base, aponte qual é o princípio que guia as cosmovisões de
povos tradicionais, com vários elementos da vida se complementando:

a) Princípio da xamanização.
b) Princípio da socialização.
c) Princípio da separação.
d) Princípio da integração.
e) Princípio da universalização.

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VAMOS PRATICAR

3. “[...] nestas sociedades não existe a dualidade homem/natureza. Tudo está interligado,
por isso tudo interage. O uno é o todo e o todo é uno. Não há escatologia. O tempo dos
ancestrais é o tempo passado e o tempo do agora” (OLIVEIRA, 2003, p. 38).
Fonte: OLIVEIRA, D. E. de. Cosmovisão Africana no Brasil: elementos para uma filoso-
fia afrodescendente. Fortaleza: LCR, 2003.

Segundo o autor Eduardo de Oliveira (2003), em sua obra Cosmovisão Africana no Brasil:
elementos para uma filosofia afrodescendente, os princípios que assetam a cosmovisão
africana são a integração, a diversidade e a ancestralidade. Tendo isso em mente, analise
as afirmativas a seguir.

I - Em sociedades guiadas por cosmovisões, baseadas na integração e relacionalidade,


acredita-se em um deus único.
II - Em sociedades guiadas por cosmovisões, baseadas na integração e relacionalidade,
a religião está presente nas ações cotidianas.
III - Em sociedades guiadas por cosmovisões, baseadas na integração e relacionalidade,
não há a separação entre as esferas sagrada e profana da vida.

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

4. “Através do artesanato, das danças, dos gestos, dos olhares, da culinária, do ritmo
de tambores, maracás e pés batendo no chão – ritos que são expressões criativas e
eloquentes da cultura indígena – reatualizam-se e rememoram-se mitos que ressig-
nificam o passado, reforçam a identidade e descortinam a esperança de um horizonte
solidário e inclusivo, sem a lógica da dominação, da competição e da violência” (PES-
TANA, 2015, p. 96).
Fonte: PESTANA, L. S. T. C. Reflexões sobre mitos, ritos e espiritualidade indígenas.
Identidade, São Leopoldo, v. 20, n. 2, p. 95-102, nov. 2015. Disponível em: http://revistas.
est.edu.br/index.php/Identidade/article/view/1524/1283. Acesso em: 23 ago. 2023.

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VAMOS PRATICAR

Indique qual destes objetos é considerado sagrado para diversas etnias indígenas bra-
sileiras:

a) Rosário.
b) Papiro.
c) Conchas de búzios.
d) Maracá.
e) Atabaque.

5. “As religiões afro-brasileiras formaram-se em diferentes regiões e estados do Brasil


e em diferentes momentos da nossa história. Por isso, elas adotam não só diferen-
tes formas rituais e diferentes versões mitológicas derivadas de tradições africanas
diversificadas, como também adotam nome próprio diferente” (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2000, p. 318).
Fonte: GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2000.

Indique qual das religiões a seguir é considerada uma religião afro-brasileira:

a) Akan.
b) Xintô.
c) Iorubana.
d) Dogon.
e) Candomblé.

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REFERÊNCIAS

ARÉVALO ROBLES, G. A. Reportando Desde Un Frente Decolonial: la emergencia del para-


digma indígena de investigación. In: ARÉVALO ROBLES, G. A.; CHAUSTRE, I. Z. (ed.). Expe-
riencias, luchas y resistências em la diversidad y la multiplicidad. Bogotá: Asociación
Intercultural Mundu Berriak, 2013.
BRASIL. Diversidade Religiosa e direitos humanos. Curitiba: Assembleia Legislativa do
Paraná, 2005.
COELHO, E. M. B. Políticas Públicas Indigenistas em Questão: o dilema do diálogo (im)possí-
vel. Revista de Políticas Públicas, v. 7, n. 2, 2003. Disponível em: http://periodicoseletroni-
cos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/3743. Acesso em: 23 ago. 2023.
HERNANDEZ, L. M. G. A África na Sala de Aula: visita à História Contemporânea. São Paulo:
Selo Negro, 2005.
OLIVEIRA, D. E. de. Cosmovisão Africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodes-
cendente. Fortaleza: LCR, 2003.
OLIVEIRA, J. C. P.; FREIRE, C. A. da R. A Presença Indígena na Formação do Brasil. Bra-
sília: MEC, 2006.
PESTANA, L. S. T. C. Reflexões sobre mitos, ritos e espiritualidade indígenas. Identidade, São
Leopoldo, v. 20, n. 2, p. 95-102, nov. 2015. Disponível em: http://revistas.est.edu.br/index.
php/Identidade/article/view/1524/1283. Acesso em: 23 ago. 2023.
ROCHA, B. C. Rap é educação; rap e religião: propostas para o Ensino Religioso. Sacrilegens,
[S. l.], v. 19, n. 1, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/sacrilegens/article/
view/37652. Acesso em: 23 ago. 2023.
RUBIM, A. A. C. Políticas Culturais do Governo Lula/Gil: Desafios e Enfrentamentos. In: RU-
BIM, A. A. C.; BAYARDO, R. (org.). Políticas Culturais na Ibero: América. Salvador: EDUFBA,
2008.
VISENTINI, P. F.; RIBEIRO, L. D. T.; PEREIRA, A. D. História da África e dos africanos. Petró-
polis: Vozes, 2014.

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GABARITO

1. O estudo das diferentes práticas religiosas deve levar à compreensão de que é necessário
conviver com as diferenças, respeitando diferentes culturas e o que cada pessoa considera
ser sagrado, sobretudo, no Brasil, país multiétnico e com grande diversidade religiosa. Um
efetivo passo para superarmos os preconceitos é adquirir informação, necessária para a
construção da tolerância e do respeito.

2. Opção D. Os princípios que assentam a cosmovisão africana são a integração, a diversidade


e a ancestralidade. Um elemento estruturante de grande parte das populações nativas afri-
canas e indígenas americanas é a não separação entre natureza, poder, política e religião.

3. Opção D. Assim como ocorre com povos nativos americanos, ao olharmos para as histó-
rias dos Impérios Africanos antes das invasões europeias, um elemento estruturante de
grande parte das populações é a não separação entre natureza, poder, política e religião.
Trata-se de cosmovisões de acordo com o princípio da integração, com vários elemen-
tos da vida se complementando. Como afirma o doutor em Filosofia Eduardo Oliveira,
professor da Universidade Federal da Bahia, “nestas sociedades não existe a dualidade
homem/natureza. Tudo está interligado, por isso tudo interage. O uno é o todo e o todo
é uno. Não há escatologia. O tempo dos ancestrais é o tempo passado e o tempo do
agora” (OLIVEIRA, 2003, p. 38). Os princípios que assentam a cosmovisão africana são a
integração, a diversidade e a ancestralidade. Em sociedades guiadas por cosmovisões,
baseadas na integração, não há separação entre as esferas sagrada e profana da vida.
Assim, a religião está presente nas ações cotidianas.

4. Opção D. Em muitas etnias, os objetos utilizados nos rituais são considerados sagrados,
como maracá, chocalho feito de cabaça, coco ou ovos de ema. Para que o instrumento
emita som, são colocadas pedras ou sementes em seu interior, agitadas ao balançá-lo.
Acredita-se que o som do instrumento é poderoso, sendo gerador de cura, proteção e
positividade. Assim, a liderança religiosa é quem emana esse poder, por meio do Maracá,
nos rituais.

5. Opção E. No Brasil, os hibridismos culturais presentes em nossa história colonial geraram


formas culturais únicas. Do encontro de diversas crenças e religiões tradicionais africa-
nas, nasceu o candomblé. Somada ao catolicismo brasileiro e às crenças hindu-cristãs
do espiritismo kardecista, nasceu a umbanda.

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MINHAS ANOTAÇÕES

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TEMA DE APRENDIZAGEM 3

O UNIVERSO RITUALÍSTICO DAS


CULTURAS E RELIGIOSIDADES
AFRO-BRASILEIRAS E MOVIMENTOS
ESPIRITUALISTAS

MINHAS METAS
Apresentar uma breve introdução sobre as religiões afro-brasileiras e o que são os movi-
mentos espiritualistas.

Conhecer os principais textos que tratam dos ritos nas religiosidades e culturas afro-bra-
sileiras e nos movimentos espiritualistas.

Estudar os ritos na cultura e religiosidade afro-brasileira.

Estudar os ritos nos movimentos espiritualistas.

Discorrer sobre os hibridismos ritualísticos entre o universo cultural e religioso afro-bra-


sileiro e movimentos espiritualistas.

Discorrer sobre os hibridismos ritualísticos entre movimentos espiritualistas e outras


religiosidades.

Refletir sobre a inserção deste conteúdo no cotidiano escolar da Educação Básica.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Estudante, iniciaremos este tema de aprendizagem refletindo sobre o papel que
a religião desempenha em um contexto globalizado e multicultural como o que
vivemos. É interessante perceber que, ao mesmo tempo em que temos notícia
de atos de terrorismo praticados por grupos extremistas que se valem de discur-
sos religiosos como justificativa, também, são difundidas ações humanitárias
organizadas por diversas religiões.
Qual é o papel da religião em um contexto globalizado e multicultural no
Brasil, considerando as diversas religiões presentes em nosso país?
Entender o país onde vivemos implica lidar com os hibridismos de culturas
e religiosidades que coexistem internamente. Além da história colonial, marcada
por diferentes grupos étnicos e culturais que formam o povo brasileiro, o contex-
to atual de grandes levas migratórias gera encontros constantes com refugiados
e outros migrantes. Assim, conhecer essas tradições culturais contribui para o
convívio entre grupos diferentes.
Por um lado, as práticas religiosas podem proporcionar um senso de identi-
dade, comunidade e pertencimento para os indivíduos que compartilham uma
mesma fé. Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que a diversidade religiosa,
também, pode gerar tensões e conflitos, especialmente, quando diferentes crenças
entram em contato e têm dificuldades em encontrar um terreno comum.
É importante chamar a atenção para esses pontos se queremos avançar no
estudo do universo ritualístico das distintas tradições religiosas afro-brasileiras.

VAMOS RECORDAR?
A fim de continuar pensando sobre as correspondências en-
tre as tradições religiosas africanas e brasileiras, no passado
e no presente, sugiro que você assista ao documentário in-
titulado Atlântico Negro: na Rota dos Orixás, filme de 1998,
sob a direção de Renato Barbieri.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3

DESENVOLVA SEU POTENCIAL

INTRODUÇÃO ÀS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E O QUE


SÃO OS MOVIMENTOS ESPIRITUALISTAS

Afro-brasileiro é um ter-
mo usado para descrever
algo que é brasileiro, mas
derivado de culturas afri-
canas. A história escrava-
gista do Brasil gerou uma
cultura afro-brasileira,
uma vez que a escraviza-
ção de etnias africanas e
sua comercialização, via
Mundo Atlântico, desenvolveram muitos intercâmbios culturais. Por meio do tra-
balho, das relações familiares e da religiosidade, os povos escravizados construíram
novos vínculos culturais, sem deixar de lado suas tradições de origem.
Desse modo, em diferentes regiões do Brasil, desenvolveram-se religiões
afro-brasileiras que adotaram diferentes mitos e ritos derivados de religiões
tradicionais africanas, mescladas com outras cren-
ças. É importante destacar que as religiões afro- religiões afro-
-brasileiras não são todas iguais, como, por vezes, brasileiras não são
afirma-se. Muitas dessas religiões são consideradas todas iguais, como,
por vezes, afirma-se
espiritualistas devido à crença na imortalidade do
espírito ou alma.
Outras doutrinas também são consideradas espiritualistas, como as ordens
esotéricas, como a escola Rosacruciana, e, até mesmo, o catolicismo, o judaísmo,
o islã e o budismo, uma vez que admitem a existência e imortalidade de Deus e da
alma. Entre os distintos movimentos espiritualistas, encontra-se o chamado espiri-
tismo, crença em um mundo dos espíritos e na possibilidade de comunicação entre
os vivos e os mortos, ou seja, espíritos encarnados (na matéria) e desencarnados.

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GNOSIS

A palavra gnosis origina-se de gignósko, do grego, que significa conhecer.


Significa conhecimento, em oposição à ignorância. Ou seja, gnosis é o
conhecimento perene e universal, a partir da experimentação direta. A Gnosis,
como doutrina, dissemina técnicas e ferramentas para o autoconhecimento
por meio da psicologia gnóstica, da meditação e da prática dos três fatores
de revolução da consciência. A Gnosis contemporânea foi divulgada, a partir
da década de 1950, pelo filósofo contemporâneo Samael Aun Weor. Uma
das instituições gnósticas no Brasil é a Associação Gnóstica de Estudos
Antropológicos e Culturais, Arte e Ciência (AGEACAC).

ROSA-CRUZ

O Rosacrucianismo é um sistema espiritual e filosófico que remonta ao


início do século XVII. É baseado em uma série de textos conhecidos como
“Manifestos Rosacruzes”, que foram publicados, na Europa, por um autor
anônimo. Esses manifestos pretendiam transmitir conhecimentos ocultos
sobre a natureza do universo, a evolução espiritual humana e a busca pela
sabedoria. Os Rosacruzes acreditam que há uma sabedoria universal que
pode ser descoberta por meio de uma combinação de estudo, meditação e
práticas espirituais. No Brasil, uma das instituições é a A Ordem Rosacruz, que
busca promover o autoaperfeiçoamento do ser humano por meio do despertar
de seus poderes interiores.

SUFISMO:

O sufismo é uma corrente mística e espiritual dentro do Islã, que busca a


experiência direta e íntima de Deus por meio da prática espiritual e da busca
da verdade interior. Os sufis acreditam que é possível ter uma experiência
direta e pessoal de Deus por meio da devoção, meditação, oração, música,
dança e outras práticas espirituais. Eles procuram transcender as limitações
da vida cotidiana e alcançar um estado de consciência mais elevado,
buscando uma conexão profunda com o divino. No Brasil, temos a A Ordem
Naqshbandi do Brasil, uma das mais tradicionais ordens sufis do mundo.

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E U IN D ICO

Estudante, convido você a refletir sobre a intolerância


religiosa às religiões de matrizes africanas brasileiras por
meio do documentário produzido pelo Centro de Informação
da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Brasil.
Aproveite para saber um pouco mais sobre a riqueza da
cultura afrodescendente no país.

PRINCIPAIS TEXTOS QUE TRATAM DOS RITOS NAS


RELIGIOSIDADES E CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS E NOS
MOVIMENTOS ESPIRITUALISTAS

Religiões afro-brasileiras

Em povos tradicionais, como algumas etnias africanas, a transmissão de conheci-


mentos sobre o sagrado se dá na forma oral, de geração em geração. As histórias
sobre a criação do mundo foram contadas em forma de mitos de origem, de tradi-
ção oral. Muitas dessas tradições acabaram sendo registradas em textos escritos. No
caso do Brasil, os encontros étnicos gerados em nossos processos de colonização
marcam nosso sistema de mitos e lendas. Na umbanda, por exemplo, a crença nos
orixás traça representações politeístas com mitos de forte atratividade cultural.
É necessário esclarecer que, ao longo dos processos de migração forçada de
africanos para territórios americanos, valores e princípios negro-africanos vieram
para o Brasil junto às pessoas escravizadas. Conforme afirma Eduardo Oliveira, em
seu texto Cosmovisão Africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodes-
cendente (2003), a diáspora africana serviu para que valores civilizatórios africanos
se espalhassem pelo mundo pela imposição de viverem em terras estrangeiras.


Como não puderam trasladar suas instituições sociais, os afrodescen-
dentes preservaram em sua memória os mitos e os ritos de suas tradi-
ções. Marcada pela cultura oral, a sociedade africana criou centenas
de milhares de mitos para preservar e transmitir seu conhecimento
ancestral. A riqueza mitológica e ritualística africana, sem dúvida, é
um dos principais elementos para se entender o sucesso da recriação
da vida nas várias partes do planeta (OLIVEIRA, 2003, p. 85).

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Movimentos espiritualistas

Entre os movimentos espiritualistas no Brasil, destacamos o kardecismo, intro-


duzido no país na segunda metade do século XIX. O termo tem origem no nome
Allan Kardec, pseudônimo adotado pelo francês Léon Hippolyte Denizard Rivail
(1804–1869). Por volta de 1870, surgiram organizações chamadas de espíritas na
Bahia e no Rio de Janeiro.
Kardec registrou sua filosofia religiosa em obras, entre as quais se destaca o
Livro dos Espíritos, escrito em 1857. O subtítulo da obra, Filosofia Espiritualista,
demarca sua filiação ao movimento espiritualista. O autor, também, publicou o
Livro dos Médiuns, em 1861, o Evangelho Segundo o Espiritismo, em 1864, o Céu
e Inferno (1865) e A Gênese (1868). No Livro dos Espíritos, há perguntas que
teriam sido respondidas pelos espíritos desencarnados. No Livro dos Médiuns, o
autor explica a parte científica do espiritismo, enquanto, no Evangelho Segundo
o Espiritismo, são abordados os ensinamentos morais deixados por Jesus Cristo.


149- Em que se torna a alma no instante da morte?
— Volta a ser Espírito, quer dizer, retorna ao mundo dos Espíritos,
que deixou momentaneamente.
150- A alma depois da morte conserva a sua individualidade?
— Sim, não a perde jamais. Que seria ela se não a conservasse?
— Não tendo mais seu corpo material, como a alma constata a sua
individualidade?
— Ela tem ainda um fluido que lhe é próprio, tomado da atmosfera
de seu planeta e que representa a aparência de sua última encarna-
ção: seu perispírito (KARDEC, 2009, p. 77).

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Figura 1 - Allan Kardec / Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hippolyte_L%C3%A9on_Deni-


zard_Rivail2.jpg. Acesso em: 24 ago. 2023.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia, em preto e branco, de um homem de pele branca, calvo e
de bigode, vestido de terno e gravata, sentado em uma cadeira. Ele segura, na mão direita, uma folha de papel. À sua
direita, aparece uma parte de uma mesa coberta com uma toalha, com dois livros fechados em cima. Fim da descrição.

Outros livros considerados espíritas são as obras escritas por meio da psicografia,
prática na qual acredita-se que um espírito controla as mãos de uma pessoa e
comunica uma mensagem. Essa pessoa que recebe a mensagem é chamada de
médium. Atualmente, existem milhares de livros psicografados publicados no
Brasil, e essa literatura possui bastante popularidade no país.

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IN D ICAÇ ÃO DE FI LM E

Kardec
Na França católica do século XIX, o professor Léon Rivail
participa de uma sessão que o leva a fundar o espiritismo e o
coloca na mira das autoridades.
Refletindo sobre a história: para visualizar alguns ritos
kardecistas citados no texto, indico o filme Kardec, baseado
na biografia de Allan Kardec, fundador do espiritismo
francês. Aproveite para aprender sobre o contexto histórico
do período retratado e sobre a maneira como as questões
religiosas são constantemente atravessadas por questões
políticas, sociais e econômicas. No filme, é possível
reconhecer princípios da ciência positiva, da filosofia
secularizada e do materialismo político e racional do período.

RITOS NA CULTURA E RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA

A fim de tratarmos dos


ritos afro-brasileiros,
faz-se imprescindível
rememorar a história do
Brasil colonial, marcada
pela escravização de ne-
gro-africanos forçados a
migrar para o país. Nes-
se processo, a hegemonia
do senhor do engenho
frente aos escravizados
se fez presente em todos
os aspectos da vida, in-
clusive, em relação à re-
ligiosidade. O catolicismo foi adotado como a religião oficial do Estado brasileiro,
e as religiões dos escravizados, incluindo os povos indígenas, não foi considerada
religião, mas, sim, práticas de feitiçaria, mandinga e culto ao demônio.

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Durante muito tempo, nossa história colonial foi


o sincretismo
contada com ênfase nos encontros e nas mesclas que
foi uma prática
ocorreram entre as diferentes etnias que compõem de resistência
o ser brasileiro. O sincretismo foi considerado fator encontrada pelos
positivo e contribuiu para a construção do mito da escravizados
democracia racial no país. Contudo, frente à perse-
guição e proibição de tradições culturais africanas em terras brasileiras, o sincre-
tismo foi uma prática de resistência encontrada pelos escravizados.
Como estratégia de sobrevivência, negro-africanos escravizados utilizaram
muitos símbolos católicos para cultuar seus próprios deuses. Prostrar-se frente
à Santa Bárbara, por exemplo, era uma forma de cultuar Yansã em solo brasi-
leiro. Assim, religiões e religiosidades, como o candomblé, a umbanda e as Ir-
mandades Negras, são exemplos de respostas criativas forjadas sob o sofrimento
da escravização. Trata-se de práticas religiosas que agrupam diferentes etnias,
nações, línguas, culturas, ideologias e divindades trazidas da África. Em relação
ao seu componente ritualístico, sendo a vida sacralizada na cosmovisão africana,
a vida é continuamente ritualizada.


Dada a situação absolutamente nova em que se viram os afri-
canos, foi preciso selecionar os ritos e determinados aspectos
mitológicos, uma vez que a fragmentação das famílias extensas
fora uma estratégia utilizada pelos senhores de engenho para
evitar a organização e a resistência negra. Portadores de religiões
diferentes, línguas diferentes, costumes diferentes, os negro-afri-
canos selecionaram, ao longo da história, ritos e mitos que res-
pondiam melhor à situação de servidão e, é claro, inventaram
outros tantos, recriaram antigos ritos ancestrais e, numa síntese
que ainda hoje está se processando, criaram um corpo mitológi-
co e ritualístico que estrutura o território do sagrado das religiões
de matriz africana no Brasil (OLIVEIRA, 2003, p. 86).

Os espaços sagrados dos terreiros são locais de resistência e manutenção de tradi-


ções culturais, como os ritos ancestrais. Nos terreiros de candomblé e umbanda,
são utilizados objetos com funções específicas na relação dos homens com as
divindades. Os instrumentos musicais, como atabaques, agogôs e chocalhos,
auxiliam na invocação dos orixás, sendo que cada um tem um toque específico.

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Figura 2 - Caxixi

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de cinco caxixis, instrumentos musicais feitos de fibras
naturais com sementes, conchas ou pedrinhas, que fazem barulho ao serem chacoalhadas. À esquerda, há dois
caxixis em formato de sino, nas cores verde, roxo e palha natural. À direita, há três caxixis menores, em formato
de sino, em palha natural. Fim da descrição.

O som dos atabaques é utilizado em rituais afro-brasileiros e simbolizam uma “voz


das divindades” que acompanha as danças. É uma das formas de invocar os orixás,
sendo que cada um deles responde a um toque específico. “Estão associados ao sim-
bolismo do trovão, que representa o coração do universo” (PARANÁ, 2013, p. 50).

Figura 3 - Atabaque

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de três atabaques, instrumentos de percussão confec-
cionados em madeira e pele animal friccionada, que ressoa ao toque. Ao centro, há um atabaque maior, com dois
menores à direita e à esquerda. Fim da descrição.

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As chamadas comunidades de terreiro costumam mesclar os espaços público e pri-


vado com as casas (espaços domésticos) localizadas em volta do terreiro (espaço
coletivo sagrado). “Em toda roça de candomblé o espaço-mato é considerado o lugar
mais importante. Lá vivem os orixás. Lá eles serão alimentados” (OLIVEIRA, 2003,
p. 104). É na natureza que os orixás encontram os elementos que lhe dão existência,
demonstrando o elo entre o Homem e a natureza.
Nos terreiros, os rituais são praticados pelos inicia-
Os orixás são
dos nos mistérios dos orixás, que devem seguir normas
divindades que
rígidas em seu cotidiano. Os orixás são divindades que
correspondem às
correspondem às forças da natureza e carregam uma forças da natureza
simbologia própria, que envolve cores, alimentos e e carregam uma
rezas, elementos que fazem parte das normas a serem simbologia própria
seguidas pelos iniciados.
Cada pessoa tem seu orixá de cabeça, ou seja, a pessoa apre-
senta traços de personalidade de seu orixá. Os orixás não têm
a função de responsabilizar ou julgar as pessoas por sua bon-
dade ou maldade, não se tratam de divindades moralistas.
Assim, as regras de comportamento são rituais, e não
éticas. O rito privado e individual do jogo de búzios
permite descobrir o orixá de cada pessoa. Cabe
destacar que as cidades-estado africanas cultua-
vam apenas uma divindade, por exemplo, Oxum.
Contudo, no Brasil, são cultuados, pelo menos, 16
orixás do panteão africano.
Assim como em outras religiões, há ritos de passagem,
como o ritual de iniciação ao culto dos orixás. No período
de recolhimento, a pessoa iniciada recebe banhos de
purificação, oferendas, rezas, danças e aprendi-
zados. Os ensinamentos são passados de forma
oral. Fazem parte da iniciação a raspagem dos
cabelos, a pintura corporal e o recebimento de
um novo nome. Estudante, você está convidado
a ler a tradução da descrição de um ritual de um-
banda registrada por James Houk.

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Estas pessoas no trabalho incluíam três percussionistas, o
pai-de-santo (maior hierarquia masculina no terreiro), a mãe
pequena (assistente feminina) e duas fileiras de homens e mu-
lheres vestidos de branco (os médiuns). Acompanhado pelos
percussionistas, o pai-de-santo cantou a música de abertura
do ritual. Todos então ajoelharam quando ele recitou o ‘Pai
Nosso’ e ‘Ave Maria’. O pai-de-santo então disse a todos para
levantarem e começou a cantar várias canções de vários orixás.
Um médium fumigou a área com incenso enquanto os outros
cantavam uma canção para Ogum. Depois de finalizar esta mú-
sica, primeiro o pai-de-santo e depois os outros se jogaram em
frente do altar e bateram no chão com suas frontes enquanto
cantavam outra canção que reconhecia o caboclo (espírito de
um nativo americano). As preliminares acabaram e o cenário
estava pronto para a manifestação dos orixás. Os percussionis-
tas começaram a tocar mais deliberadamente e o pai-de-santo
convocou os caboclos com uma canção. Dentro de minutos o
espírito nativo americano Urubatao, o chefe espiritual do terrei-
ro, se manifestou pelo pai-de-santo. O assistente do pai-de-san-
to deu a ele os apetrechos associados a esse espírito, incluindo
um charuto (que foi fumado pelo espírito manifestado) e um
ornamento de cabeça de couro. Os outros médiuns passaram
por estados dissociativos semelhantes e também fumaram um
charuto. Os presentes foram atendidos pelos espíritos manifes-
tados para receber aconselhamento, conselhos médicos e etc.
(SALAMONE, 2004, p. 20).

Assim como em outras religiões, os ritos do candomblé incluem ritos de


passagem, como a iniciação. Os ritos funerários funcionam como rito de
permanência, e não de passagem. A morte é considerada apenas uma etapa
no ciclo da vida, assim, ritos funerários não enterram defuntos, mas geram
ancestrais. A força vital não se encerra com a morte, por meio dos ritos fune-
rários, ela é restituída para a comunidade por meio de sacrifícios de animais
e utilização de folhas e minerais possuidores de energia vital. Desse modo,
esses ritos simbolizam os princípios da cosmovisão africana: integração,
diversidade e ancestralidade.

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Figura 3 - Oferenda

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de um pote branco com pipoca e outro com farinha
de milho. Entre eles, há uma vela branca acesa, colar de contas verdes, ao fundo, e dois caracóis e conchas de
búzios, à frente. Fim da descrição.

P E N SA N D O J UNTO S

Estudante, você já parou para pensar a respeito do papel das mulheres nas re-
ligiões? Todos nós já ouvimos falar ou conhecemos mulheres que são pastoras,
bispas, freiras, mães de santo, xamãs ou benzedeiras. Como é a participação
das mulheres na sua religião, ou de seus familiares?

RITOS NOS MOVIMENTOS ESPIRITUALISTAS

Os diversos modos de crença nos espíritos se desenvolveram com diferentes prá-


ticas relacionadas a essa crença. Antes do século XIX, existiram sociedades espi-
ritualistas e teosóficas dedicadas ao estudo das manifestações dos mortos, porém
reservando-se um aspecto de mistério, ocultismo e magia. No caso do espiritismo
desenvolvido a partir de 1800, aceita-se que exista uma comunicação entre espíritos
encarnados e desencarnados por meio de possessões mediúnicas.

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Entre as diversas manifestações espíritas, podemos incluir os adeptos do can-


domblé, da umbanda, do xamanismo, do santo daime e do kardecismo. Os
kardecistas acreditam que a ligação com Deus deve acontecer no dia a dia, por
meio da caridade ensinada por Jesus Cristo. Desse modo, não se pratica ritos
com danças, músicas e vestes específicas e obrigatórias. Não são cultuados
altares com imagens, tampouco existem ritos de passagem, oferendas ou adivi-
nhação. A evolução espiritual deve ocorrer por meio de aprendizados, caridade
e oração. Há um rito específico relacionado ao restabelecimento da saúde física
e espiritual, a terapia mediúnica do passe, aplicado individualmente por um
médium em transe durante uma sessão espírita.

E U IN D ICO

Estudante, você pode saber mais sobre a doutrina e rituais do


Santo Daime no vídeo a seguir.

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HIBRIDISMOS RITUALÍSTICOS ENTRE O UNIVERSO


CULTURAL E RELIGIOSO AFRO-BRASILEIRO E MOVIMENTOS
ESPIRITUALISTAS

As distintas religiões espíritas praticadas no Brasil mantêm diversas intercone-


xões com movimentos espiritualistas ao redor do mundo. É interessante perceber
de que maneira os processos de hibridismos ocorreram em outros países. Nos
Estados Unidos, os movimentos espiritualistas mantêm intensas trocas com o
protestantismo por meio de um enfoque educacional. Ao longo dos séculos XIX
e XX, foram criados igrejas e seminários espiritualistas que formavam médiuns
profissionais que estudavam reencarnação, anatomia e fisiologia ocultas, orató-
ria, ritual e liturgia, história do espiritualismo, mediunidade, estrutura e história
bíblica, fenômenos psíquicos e administração.
A crença kardecista na reencarnação demonstra uma vinculação direta com a
crença na lei do carma, presente em religiões orientais, como o hinduísmo. O carma
refere-se ao processo de evolução dos espíritos, que se estende por reencarnações
sucessivas, nas quais se deve lidar com a causalidade moral. Toda ação tem uma
reação, e isso explicaria a situação das pessoas na encarnação atual no planeta Terra.
Por outro lado, o kardecismo prega a ética da caridade inspirada nos evange-
lhos da Bíblia. Jesus Cristo é visto como o espírito mais evoluído que já encarnou
na Terra, desse modo, todos devem seguir o mandamento, ensinado por ele, de
amor ao próximo, por meio de participações em obras assistenciais em comuni-
dades carentes, asilos, orfanatos e hospitais.

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A umbanda, também, pode ser citada como reli-


gião espírita repleta de hibridismos ritualísticos. Acre-
dita-se que os guias, espíritos de indígenas brasileiros
e negros escravizados são incorporados pelos médiuns
durante os toques e as danças rituais nos terreiros. Os
guias são cultuados como espíritos de luz que orientam
espiritualmente e curam fisicamente. Trata-se de espí-
ritos inferiores aos orixás. Estes, por sua vez, são agru-
pados em linhas e falanges segundo critérios, como a
origem étnica, as afinidades psicológicas e profissio-
nais, os elementos da natureza, os estágios de evolução
espiritual em que se encontram e a idade (GAARDER;
HELLERN; NOTAKER, 2000).

NOVOS DESAFIOS
Estudante, tendo em mente a importância dada ao estudo nos movimentos espiri-
tualistas originados no século XIX, apresento-lhe a sugestão de trabalhar com o tema
da ética em sua prática de ensino religioso. Estudar a ética que rege determinada
comunidade diz respeito à aquisição de conhecimentos sobre as práticas religiosas,
uma vez que muitas religiões não distinguem essas duas esferas da vida.
Você pode trabalhar, em sala de aula, a dificuldade de estabelecer normativas
éticas em contextos de grande diversidade religiosa e pontos de vista. Um caminho
encontrado pelos romanos antigos, para lidar com essa questão, foi o desenvolvi-
mento de normativas legais para todos os cidadãos.
Seria interessante comparar as normativas éticas presentes em acordos interna-
cionais, como a Declaração dos Direitos Humanos da ONU e as normativas religio-
sas locais, que, muitas vezes, entram em embate com leis mais gerais.
É importante entender que o Brasil é um país marcado por hibridismos culturais
e religiosos, resultado da miscigenação e da pluralidade de influências ao longo de
sua história. Nesse contexto, a religião pode ser vista como uma expressão cultural
e espiritual que contribui para a riqueza e a diversidade do país. Ao reconhecer e
valorizar essa diversidade religiosa, podemos fortalecer os laços sociais e construir
uma sociedade mais inclusiva, respeitosa e solidária.

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VAMOS PRATICAR

1. “Se de um lado a África-símbolo não é a realidade do continente africano contemporâneo,


como dizem os “acadêmicos”, de outro é também verdade que este símbolo é utilizado
com eficiência na construção da identidade do negro do Brasil bem como na legitimação
do candomblé como religião com status de africana” (OLIVEIRA, 2007, p. 30).
Fonte: OLIVEIRA, D. E. de. A Ancestralidade na Encruzilhada. Curitiba: Editora Gráfica
Popular, 2007.

De acordo com o excerto apresentado, argumente em que sentido o candomblé é con-


siderado uma religião afro-brasileira.

2. “As religiões afro-brasileiras formaram-se em diferentes regiões e estados do Brasil


e em diferentes momentos da nossa história. Por isso, elas adotam não só diferen-
tes formas rituais e diferentes versões mitológicas derivadas de tradições africanas
diversificadas, como também adotam nome próprio diferente” (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2000, p. 318).
Fonte: GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2000.

Aponte qual das religiões a seguir NÃO pode ser considerada afro-brasileira:

a) Umbanda.
b) Xangô.
c) Batuque.
d) Candomblé.
e) Banto.

3. O kardecismo prega a ética da caridade inspirada nos evangelhos da Bíblia. Jesus Cristo
é visto como o espírito mais evoluído que já encarnou na Terra, desse modo, todos devem
seguir o mandamento ensinado por ele de amor ao próximo por meio de participação em
obras assistenciais junto a comunidades carentes, asilos, orfanatos e hospitais.

Levando em consideração os livros publicados por Allan Kardec, analise as afirmativas


a seguir:

I - No Livro dos Espíritos, Allan Kardec registrou perguntas que teriam sido respondidas
por espíritos desencarnados.
II - No Livro dos Médiuns, Allan Kardec explica conceitos científicos do espiritismo.
III - No Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec apresenta os ensinamentos mo-
rais deixados por Jesus Cristo.

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VAMOS PRATICAR

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

4. Trata-se de espíritos inferiores aos orixás agrupados em linhas e falanges segundo


critérios, como a origem étnica, as afinidades psicológicas e profissionais, os elemen-
tos da natureza, os estágios de evolução espiritual em que se encontram e a idade
(GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000).
Fonte: GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2000.

A descrição apresentada no texto base refere-se à qual entidade incorporada por médiuns
na umbanda?

a) Ogum.
b) Guias.
c) Exú.
d) Pai de Santo.
e) Mãe pequena.

5. “Estão associados ao simbolismo do trovão, que representa o coração do universo”


(PARANÁ, 2013, p. 50).
Fonte: PARANÁ. Ensino religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR,
2013. Disponível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_
er_19_3_2015.pdf. Acesso em: 24 ago. 2023.

A afirmação presente no texto base sobre simbolismos de religiões afro-brasileiras diz


respeito ao som de qual dos instrumentos musicais a seguir?

a) Atabaque.
b) Berimbau.
c) Caxixi.
d) Agogô.
e) Flauta.

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REFERÊNCIAS

GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Araras: IDE, 2009.
OLIVEIRA, D. E. de. Cosmovisão Africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodes-
cendente. Fortaleza: LCR, 2003.
PARANÁ. Ensino religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR, 2013. Dispo-
nível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_er_19_3_2015.pdf.
Acesso em: 24 ago. 2023.
SALAMONE, F. A. (ed.). Encyclopedia of religious rites, rituals, and festivals. New York:
Routledge, 2004.

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GABARITO

1. Afro-brasileiro é um termo usado para descrever algo que é brasileiro, mas derivado de
culturas africanas. A história escravagista do Brasil gerou uma cultura afro-brasileira, uma
vez que a escravização de etnias africanas e sua comercialização, via Mundo Atlântico,
desenvolveram muitos intercâmbios culturais. Assim, em diferentes regiões do Brasil,
desenvolveram-se religiões afro-brasileiras que adotaram diferentes mitos e ritos deri-
vados de religiões tradicionais africanas, mescladas com outras crenças. O candomblé
é uma delas.

2. Opção E. A título de exemplificação da diversidade religiosa africana, podemos citar como


religiões tradicionais: Akan, Banto, Dinca, Dogon, Fon, Ganda, Iorubana, Lovedu, Mbona,
Mende, Nilótica, Nuer, Shilluk, Shona, Zande e Zulu, entre outras. Ou seja, Banto não se
encaixa como um exemplo válido de religião afro-brasileira.

3. Opção E. Kardec registrou sua filosofia religiosa em obras, entre as quais se destaca o Livro
dos Espíritos, escrito em 1857. O subtítulo da obra, Filosofia Espiritualista, demarca sua
filiação ao movimento espiritualista. O autor também publicou o Livro dos Médiuns, em
1861, o Evangelho Segundo o Espiritismo, em 1864, bem como o Céu e Inferno (1865)
e A Gênese (1868). No Livro dos Espíritos, há perguntas que teriam sido respondidas
pelos espíritos desencarnados. No Livro dos Médiuns, o autor explica a parte científica
do espiritismo, enquanto, no Evangelho Segundo o Espiritismo, são abordados os ensi-
namentos morais deixados por Jesus Cristo.

4. Opção B. A umbanda também pode ser citada como religião espírita repleta de hibridis-
mos ritualísticos. Acredita-se que os guias, espíritos de indígenas brasileiros e negros
escravizados são incorporados pelos médiuns durante os toques e as danças rituais nos
terreiros. Os guias são cultuados como espíritos de luz que orientam espiritualmente e
curam fisicamente.

5. Opção A. O som dos atabaques é utilizado em rituais afro-brasileiros e simbolizam uma


“voz das divindades” que acompanha danças. É uma das formas de invocar os orixás,
sendo que cada um deles responde a um toque específico.

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UNIDADE 2
TEMA DE APRENDIZAGEM 4

OS MITOS DENTRO DAS CULTURAS


E RELIGIOSIDADES SEMITAS E
ORIENTAIS

MINHAS METAS

Discutir sobre a importância do mito no contexto religioso.

Apresentar o conceito de mito na cultura e na religiosidade.

Estudar os principais textos que tratam dos mitos nas religiosidades e culturas
semitas e orientais.

Conhecer mitos das culturas e religiosidades semitas.

Conhecer mitos das culturas e religiosidades orientais.

Discorrer sobre os hibridismos mitológicos entre o universo cultural e religioso


semita e religiosidade oriental.

Propor a inserção deste conteúdo no cotidiano escolar da Educação Básica.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Estudante, iniciamos esse ciclo de aprendizagem refletindo sobre o que vem a ser
mitologia e sua importância em diferentes culturas. Por meio dos mitos, diferentes
grupos transmitem seus ensinamentos fundamentais, de geração em geração. As
profundas mensagens reveladas nos mitos alcançam dilemas existenciais da huma-
nidade, propondo respostas e caminhos para a superação de problemas e contato
com os outros (por meio de desejos compartilhados) e com as divindades. Qual é
o poder transformador dos mitos na vida humana e como eles nos conectam com
as questões mais fundamentais da existência e com as forças divinas?
Os ensinamentos presentes nos mitos contribuem na organização social, à
medida que as narrativas esclarecem os planos divinos e direcionam os caminhos
de acordo com a vontade dos deuses. Desse modo, os mitos religiosos ajudam a
dar sentido à vida humana, inspirando os indivíduos e unindo e organizando o
coletivo. Ao compreendermos as narrativas dos mitos, percebemos que eles não
são apenas histórias antigas e fantasiosas, mas, sim, um rico patrimônio cultural
que nos conecta com as questões mais profundas da existência humana.

VAMOS RECORDAR?
A fim de conhecer mais sobre a importância das diferentes
mitologias, convido você a ouvir uma possível resposta à
pergunta: o que é mitologia? Acompanhe o vídeo a seguir.

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DESENVOLVA SEU POTENCIAL

A IMPORTÂNCIA DO MITO NO CONTEXTO RELIGIOSO

Os mitos são representações coletivas, histórias passadas de geração em ge-


ração que narram acontecimentos e explicações sobre o mundo. Em tempos
remotos, essas histórias foram transmitidas de forma oral e, hoje em dia, mui-
tas delas já se encontram registradas em textos. Assim, estamos falando de
narrativas transmitidas por meio das palavras, ou seja, por meio da linguagem.
Os mitos são estudados por diversas áreas do conhecimento, como a
Linguística, a Filosofia, a Antropologia, a Sociologia, a História, a Psicaná-
lise ou as Ciências da Religião. Trata-se de uma maneira de dar significado
ao mundo e à história humana, passível de diferentes interpretações, posto
que as narrativas apresentam uma forma poética própria a cada cultura, não
havendo mitos universais.

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PESQUISADOR ORIGEM DOS MITOS

Friedrich Max Muller Na linguagem

Adolf Bastian Nas ideias elementares

Victor Henry Na origem biológica, equivalente ao instinto dos animais

Henri Bergson Na origem biológica, comparada com o instinto nos insetos

Sigmund Freud Na distorção de um desejo

Émile Durkheim No consciente coletivo

Carl Gustav Jung No inconsciente coletivo

Ernst Cassirer Em uma força espiritual

Otto Huth Na religião megalítica

Alexander Krappe Nos fenômenos naturais ou sociais

Quadro 1 - A origem dos mitos / Fonte: adaptado de Franco Junior (2010 apud ROSSI; PERONDI, 2020).

Em seu livro Rito, Mito e Símbolo como Fenômenos Religiosos e Sociológicos (2020),
os autores Luiz Alessandre Solano Rossi e Ildo Perondi esclarecem o caráter social
dos mitos e suas funções de organização social no presente e portador de tradições
do passado. Assim, os textos míticos podem ser estudados em relação a três aspectos:


1) a expressão ou reflexo da sociedade que, condicionando a elabo-
ração dos temas ou assimilando os mitos, neles se inscreve com as
suas formas próprias; 2) o seu significado ou valor representativo
para os membros da sociedade de cujo patrimônio fazem parte,
ou seja, o conjunto de associações despertadas pelo mito e 3) a sua
função que corresponde ao papel que lhes cabe na perpetuação da
configuração sociológica (ROSSI; PERONDI, 2020, p. 83).

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Especificamente, no contexto religioso, os mitos narram as intervenções do


divino em acontecimentos importantes do mundo dos homens, representan-
do experiências de vida coletivas. Contudo seu maior valor significativo está
na relação com o divino, na vivência religiosa. A estrutura narrativa poética
e fantasiosa dá sentido à existência, ajuda a responder perguntas relacionadas
às origens e ao significado das coisas, contribuindo com o desenvolvimento
de questões existenciais que sempre tocaram o ser humano.

O CONCEITO DE MITO NA CULTURA E NA RELIGIOSIDADE

O estudo dos mitos nas religiosidades passa pelo entendimento da palavra e suas
implicações conceituais. Entre os diversos autores
dedicados ao tema, destaca-se a produção do
estudioso romeno Mircea Eliade. Em seu
livro Mito e Realidade, o autor afirma
ser difícil encontrar uma definição de
mito aceita por todos, especialistas e
público em geral, porque os mitos são
muitos e complexos.
Eliade critica a linha explicativa que
entendeu os mitos como expressões de
“irrupção patológica de instintos” e “infan-
tilidade”. Por muito tempo, os mitos foram
considerados apenas em seus aspectos de
fantasia e ilusão. No entanto, mitólogos,
como Eliade e R. Barthes, reconhecem
seu valor à história humana e as
verdades de seus significantes
profundos. Assim, apresento a
definição proposta por Eliade:

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[...] o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimen-
to ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do ‘princípio’.
Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos Entes
Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade
total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie
vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre,
portanto, a narrativa de uma ‘criação’: ele relata de que modo algo
foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmen-
te ocorreu, do que se manifestou plenamente. Os personagens dos
mitos são os Entes Sobrenaturais. Eles são conhecidos sobretudo
pelo que fizeram no tempo prestigioso dos ‘primórdios’. [...] É essa
irrupção do sagrado que realmente fundamenta o mundo e o con-
verte no que é hoje (ELIADE, 2011, p. 11).

A partir do conceito proposto por Eliade, é possível afirmar que os mitos são
narrativas de criação de caráter sagrado e verdadeiro, uma vez que falam do
que, realmente, aconteceu em tempos passados. Por mais que não exista um
conceito de mito que seja consensual, os pesquisadores do tema concordam
com uma tipologia de classificação dos mitos. Na obra Cultura Religiosa: o
Homem e o Fenômeno Religioso (1994), J. Simões Jorge apresenta a classifi-
cação de Geo Widengren em mitos teogônicos e mitos antropogônicos, ou
seja, mitos de vida (da criação) e mitos sobre a outra vida (morte).
Joseph Campbell foi um estudioso e escritor norte-americano que desem-
penhou papel fundamental no estudo e na compreensão da mitologia. Sua
obra mais conhecida, O Herói de Mil Faces, explorou os padrões universais
presentes nos mitos e nas histórias heroicas de diferentes culturas ao redor
do mundo. Campbell defendia a ideia de que essas narrativas compartilham
um tema comum, conhecido como “jornada do herói”, ou “monomito”, que
descreve a jornada de autodescoberta e transformação de um protagonista.
Sua abordagem influente revelou as profundas conexões entre mitologia, psi-
cologia e espiritualidade e teve influência em George Lucas, para criar a saga
cinematográfica Star Wars.

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ZO O M N O CO NHEC I M ENTO

Mito religioso: explica a realidade por meio de histórias sagradas.


Lendas: narrativas que misturam fatos e lugares reais e históricos com
acontecimentos que são frutos da fantasia. Elas procuram dar explicações para
acontecimentos misteriosos e sobrenaturais. As lendas se vinculam ao folclore.
Na medida em que são contadas, elas vão se modificando ao modo de quem
conta a história.
Conto: narrativa que acontece em qualquer lugar e tempo (presente, passado
ou futuro). O conto não se aprofunda nas características físicas e nas ações
dos personagens. A função do conto é procurar levar o narrador a se envolver
na trama.
Fábula: narrativa com objetivo de trazer algum ensinamento moral, cujos
personagens são animais dotados de qualidades humanas.
Fonte: Paraná (2013, p.106).

A BÍBLIA COMO NARRATIVA MÍTICA

É importante entender que, por mais que a Bíblia seja um livro sagrado para
os cristãos, trata-se de um livro que pode ser estudado pelo seu viés histórico
e literário. Nesse sentido, os diferentes livros bíblicos são de distintos gêneros
literários. A fim de abordar o componente mítico da Bíblia, focaremos em seu
mito de criação presente no livro Gênesis.

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1 No princípio, Deus criou o céu e a terra. 2 A terra estava sem
forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso
soprava sobre as águas. 3 Deus disse: ‘Que exista a luz!’ E a luz
começou a existir. 4 Deus viu que a luz era boa. E Deus separou a
luz das trevas: 5 à luz Deus chamou ‘dia’, e às trevas chamou ‘noite’.
Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia. 6 Deus disse:
‘Que exista um firmamento no meio das águas para separar águas
de águas!’ 7 Deus fez o firmamento para separar as águas que estão
acima do firmamento das águas que estão abaixo do firmamento.
E assim se fez. 8 E Deus chamou ao firmamento ‘céu’. Houve uma
tarde e uma manhã: foi o segundo dia. 9 Deus disse: ‘Que as águas
que estão debaixo do céu se ajuntem num só lugar, e apareça o
chão seco’. E assim se fez. 10 E Deus chamou ao chão seco ‘terra’,
e ao conjunto das águas "mar". E Deus viu que era bom. 11 Deus
disse: ‘Que a terra produza relva, ervas que produzam semente, e
árvores que deem frutos sobre a terra, frutos que contenham se-
mente, cada uma segundo a sua espécie’. E assim se fez. 12 E a terra
produziu relva, ervas que produzem semente, cada uma segundo a
sua espécie, e árvores que dão fruto com a semente, cada uma se-
gundo a sua espécie. E Deus viu que era bom. 13 Houve uma tarde e
uma manhã: foi o terceiro dia. 14 Deus disse: ‘Que existam luzeiros
no firmamento do céu, para separar o dia da noite e para marcar
festas, dias e anos; 15 e sirvam de luzeiros no firmamento do céu
para iluminar a terra’. E assim se fez. 16 E Deus fez os dois grandes
luzeiros: o luzeiro maior para regular o dia, o luzeiro menor para
regular a noite, e as estrelas. 17 Deus os colocou no firmamento
do céu para iluminar a terra, 18 para regular o dia e a noite e para
separar a luz das trevas. E Deus viu que era bom. 19 Houve uma
tarde e uma manhã: foi o quarto dia. 20 Deus disse: ‘Que as águas
fiquem cheias de seres vivos e os pássaros voem sobre a terra, sob o
firmamento do céu’. 21 E Deus criou as baleias e os seres vivos que
deslizam e vivem na água, conforme a espécie de cada um, e as aves
de asas conforme a espécie de cada uma. E Deus viu que era bom.
22 E Deus os abençoou e disse: ‘Sejam fecundos, multipliquem-se
e encham as águas do mar; e que as aves se multipliquem sobre a
terra’. 23 Houve uma tarde e uma manhã: foi o quinto dia. 24 Deus
disse: ‘Que a terra produza seres vivos conforme a espécie de cada

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um: animais domésticos, répteis e feras, cada um conforme a sua


espécie’. E assim se fez. 25 E Deus fez as feras da terra, cada uma
conforme a sua espécie; os animais domésticos, cada um conforme
a sua espécie; e os répteis do solo, cada um conforme a sua espécie.
E Deus viu que era bom. 26 Então Deus disse: ‘Façamos o homem
à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar,
as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os
répteis que rastejam sobre a terra’. 27 E Deus criou o homem à
sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem
e mulher. 28 E Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam fecundos,
multipliquem-se, encham e submetam a terra; dominem os peixes
do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que rastejam sobre a
terra’. 29 E Deus disse: ‘Vejam! Eu entrego a vocês todas as ervas que
produzem semente e estão sobre toda a terra, e todas as árvores em
que há frutos que dão semente: tudo isso será alimento para vocês.
30 E para todas as feras, para todas as aves do céu e para todos os
seres que rastejam sobre a terra e nos quais há respiração de vida,
eu dou a relva como alimento’. E assim se fez. 31 E Deus viu tudo
o que havia feito, e tudo era muito bom. Houve uma tarde e uma
manhã: foi o sexto dia.
2 1 Assim foram concluídos o céu e a terra com todo o seu exército.
2 No sétimo dia, Deus terminou todo o seu trabalho; e no sétimo
dia, ele descansou de todo o seu trabalho. 3 Deus então abençoou
e santificou o sétimo dia, porque foi nesse dia que Deus descansou
de todo o seu trabalho como criador. 4 Essa é a história da criação
do céu e da terra (ROSSI; PERONDI, 2020, p. 55-57).

Temos aqui uma narrativa da formação do mundo, ou seja, um mito de cria-


ção. O estudo dos textos bíblicos requer o entendimento de que, no momen-
to de sua escrita, os autores dos textos não tinham o objetivo de escrever
história, no sentido atual da palavra. O interesse dos autores era registrar a
experiência daquele povo com suas divindades e transmitir um testemunho
da fé. Assim, por mais que a Bíblia possa ser utilizada como fonte histórica,
que complementa estudos arqueológicos, faz-se imprescindível ir além de
uma leitura literal das palavras ali registradas. O leitor literalista entende a
criação do mundo em seis dias ao pé da letra, e isso leva a interpretações
fundamentalistas de textos míticos, como a Bíblia.

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Leituras fundamentalistas de textos sagrados entram em embates diretos


com estudos científicos e acadêmicos de tais textos, uma vez que negam a histo-
ricidade dessa produção. Entender os textos sagrados de maneira acrítica e sem
levar em consideração seu componente mítico pode gerar atitudes intolerantes
frente a outras possíveis interpretações. Sobre o assunto, recorremos às palavras
de Rossi sobre o fundamentalismo religioso:


No entanto, é significativo acrescentar que o fundamentalismo que
nasceu em berço religioso, ultrapassou o contexto onde nasceu.
E não ultrapassou o contexto apenas em relação a fronteiras
territoriais, ou seja, alcançando múltiplos outros países; expandiu-
se também para outras áreas da vida do ser humano, como por
exemplo, a economia e a política, tornando-se um tema relevante
para também compreender a intolerância em alguns âmbitos da
sociedade (ROSSI; PERONDI, 2020, p. 61).

P E N SA N DO J UNTO S

Estudante, você já parou para pensar que você também pode ter aprendido
conceitos fundamentalistas ao longo de sua educação religiosa? Convido você
a tirar cinco minutos e analisar sua experiência pessoal. Você consegue iden-
tificar se, ao longo de sua educação escolar/acadêmica, você aprendeu novos
conhecimentos que o fizeram repensar sua interpretação de textos sagrados?

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MITOS DAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES SEMITAS

Mitos de vida

Os mitos de vida narram momentos de criação, desde a formação do mundo,


dos homens e dos animais até a formação dos comportamentos e fenômenos
naturais. As narrativas têm um forte componente poético e metafórico. Entre
os personagens frequentes, estão deuses, seres sobrenaturais, heróis e heroínas.
Nas doutrinas cristãs, muitas dessas narrativas encontram-se nos livros do
Antigo Testamento da Bíblia. Em muitos casos, é possível perceber aspectos
semelhantes em mitos de distintas tradições religiosas. Por exemplo, Widen-
gren acredita que o mito hebreu-cristão é uma reelaboração do antigo mito
babilônico, mesmo com diferenças e fragmentações. “No poema Enuma Elish,
o deus supremo, Marduk, Tiamat, faz o mundo do seu corpo. Esta luta mítica
também se encontra nos textos hebreus, no Salmo 74,14: ‘Tu aniquilaste a
cabeça do Leviatã’” (ROSSI; PERONDI, 2020, p. 45).

IN D ICAÇÃO DE FI LM E

A Mensagem (Muhammad, O Mensageiro de Deus/


Maomé, O Mensageiro de Alá)
É um clássico de 1976 dirigido e produzido por Moustapha
Akkad, mostrando parte da vida do Profeta do Islã por meio
da perspectiva de seu tio, Hamza, e de seu filho adotivo, Zaid.
Refletindo sobre a história: para entender um pouco mais
sobre os mitos de origem do Islã, indico o filme A Mensagem,
que conta a história do nascimento da religião até o
momento da conquista de Meca pelo Profeta Muhammad
e seus companheiros. Repare que no filme não é mostrado
o rosto de Maomé, isso porque os muçulmanos procuram
evitar a idolatria do personagem no rosto de algum ator,
para enaltecer sua religiosidade e história pessoal.

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Mitos de morte

Os mitos de morte nar-


ram acontecimentos em
outros mundos, com
destaque para a ideia do
paraíso, presente em mi-
tos de diversas tradições
religiosas. Para os cris-
tãos, o paraíso é o lugar
do descanso final, deseja-
do por todos os homens.
Como esclarecem Rossi e
Perondi (2020), os mitos
do ocaso do mundo são o
oposto dos mitos de for-
mação do mundo.

Um exemplo que aparece em mitos iranianos, da Ásia Central, e nas doutri-


nas cristãs é a narração da grande inundação que destruiu a vida na Terra:
“Assim foi destruído todo o ser vivente que havia sobre a face da terra, desde
o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; e foram extintos
da terra; e ficou somente Noé, e os que com ele estavam na arca” (Gn 7, 23)
(BÍBLIA, 1993, p. 20).

As narrativas míticas sobre a morte passam pelas ideias de reencarnação,


ressurreição, transmigração de almas e ancestralidade. Os cristãos (judeus,
católicos, protestantes ou muçulmanos) acreditam na ressurreição, ou seja,
que a alma volta a ter vida no céu ou no inferno. No Alcorão, livro sagrado
do Islamismo, está escrito “Assim como vos criou, retornareis a Ele”, e a Bíblia
narra a ressurreição de Jesus Cristo.

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MITOS DAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES ORIENTAIS

Mitologia hindú

Na religiosidade hindu, os mitos concentram-se nas mais de 33 milhões de di-


vindades, chamados Devi e Deva. Muitos são manifestações de deuses imortais,
como Vishnu e Shiva. O primeiro é representado como um jovem de feições
bonitas e amigáveis que se revela como Rama e Krishna. Já Shiva é a divindade
das meditações e do êxtase, retratada como um asceta. “Brahma é o criador,
quem faz o mundo. Vishnu é o sustentador, que protege as leis naturais e a ordem
universal. E Shiva é o destruidor, que no final de cada época dança sobre o mun-
do até reduzi-lo a pedaços” (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 51).
O Ramayana e o Mahabharata são duas das mais importantes epopeias épicas
da Índia antiga. O Ramayana conta a história do príncipe Rama e sua jornada
para resgatar sua esposa, Sita, das garras do demônio Ravana. É uma narrativa
mítica que explora temas, como dever, honra, lealdade, busca pela justiça, cora-
gem e sabedoria. Além de ser uma emocionante aventura cheia de batalhas épicas
e personagens carismáticos, o Ramayana, também, é uma fonte de profundos
ensinamentos espirituais e morais.
O Mahabharata é um épico complexo que transcende as fronteiras do
tempo e da cultura. É uma história mitológica que envolve diversos persona-
gens e suas lutas pelo poder, pela moralidade e pela justiça. A batalha épica de
Kurukshetra, que culmina na guerra entre os Pandavas e os Kauravas, é um
ponto focal do Mahabharata. O Bhagavad Gita, um conjunto de capítulos
que compõe o Mahabharata, é um diálogo entre o príncipe guerreiro Arjuna
e o Senhor Krishna, uma encarnação de Vishnu. O Gita, como é comumente
chamado, apresenta-se como um guia espiritual e filosófico, abordando ques-
tões existenciais profundas. É considerado uma das obras mais importantes
da literatura mundial, já que é vendido como um livro, transcendendo as
fronteiras culturais e religiosas
No hinduísmo, o sagrado se manifesta na forma feminina e masculina. Ao
lado de Vishnu, costuma estar a deusa Laksmi, sua esposa. Ela representa a beleza,
a riqueza material e espiritual e a generosidade. Geralmente, ela é representada
sobre uma flor de lótus desabrochada, com flores de lótus em duas de suas quatro
mãos e moedas nas outras duas.

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Shiva - Deus que representa a morte e a dissolução. Ele


protege seus seguidores da luxúria, da raiva, da ganân-
cia e da ilusão. É representado como um homem de cor
azul, simbolizando que é a luz que emerge da escuridão.
A serpente, em seu pescoço, representa a energia vital.

Vishnu - Deus da preservação, mantém o universo e


a vida e sustenta os princípios da ordem, da retidão
e da verdade. Seus quatro braços representam sua
onipotência e onipresença. Ele é representado com
uma serpente, simbolizando sua capacidade de per-
manecer em paz mesmo diante do medo.

Laksmi - Deusa da riqueza e da prosperidade. É


representada como uma mulher de quatro braços
dourados, distribuindo moedas de ouro e segurando
botões de lótus.

Brahma - É o deus criador do cosmos e de todos os


seres vivos, considerado o deus da criatividade e do
intelecto. Ele é representado com quatro rostos, que
recitam os quatro vedas — as escrituras sagradas do
hinduísmo.

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E U IN D ICO

Estudante, você está convidado a conhecer um pouco mais da


mitologia hindú no vídeo a seguir.

Mitologia japonesa

A mitologia japonesa, assim como a história do país, remonta há mais de 2.000


anos. São muitas e complexas narrativas com personagens de deuses, deusas e es-
píritos. A maioria dos mitos religiosos são de criação e relacionam-se a tradições
xintoístas e budistas. Essas narrativas míticas foram registradas em livros antigos,
com mais de uma versão para cada mito. Essa literatura divide-se nos escritos
Kojiki e Nihon Shoki, sendo o Kojiki, ou Registro de Assuntos Antigos do Japão,
o mais antigo. Esses livros foram escritos em japonês arcaico e são difíceis de ler.
No Japão, há a crença no mito da criação das ilhas japonesas e do restante do
mundo por meio de um casal divino, Izanaqui e Izanami. Segundo os mitos, eles cria-
ram a terra com uma lança decorada com joias, conectaram o céu e a terra e agitaram
o mar entre eles; cada vez que uma gota de água caía da lança, uma ilha era criada. O
casal também criou os kamis, divindades que conceberam os seres humanos.
Um dos descendentes diretos de Amaterasu, deusa do sol, foi enviado à Terra e se
tornou o primeiro imperador do país. A deusa é responsável por trazer luz ao mundo
pela fertilidade. Amaterasu tem dois irmãos, o deus da lua Tsukiyomi e Susanoo, um
deus poderoso e violento que é frequentemente associado às tempestades.

E U IN D ICO

Estudante, você está convidado a conhecer um pouco mais da


mitologia japonesa no vídeo a seguir.

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Mitologia chinesa

Quando falamos dos mitos chineses, trata-se de personagens divinos de três


religiões diferentes: o confucionismo, o budismo e o taoísmo. Muitos desses
deuses chineses já foram humanos, tendo atingido a divindade após a morte,
devido a virtudes próprias. O panteão é hierárquico, tanto em relação aos espaços
onde os deuses habitam quanto em relação às suas funções. Sobre isso, há deuses
relacionados à felicidade, ao lar, à riqueza, às artes etc.
Yu-ti, ou Augusto de Jade, é o Supremo Imperador, autoridade máxima,
responsável pela criação dos seres humanos a partir do barro. Uma das justifica-
tivas para as doenças seriam os danos causados nos moldes de barro pela água
de uma tempestade. A vida do panteão chinês no plano divino se assemelha à
vida no império chinês. Augusto de Jade é casado com Wang-mu-niang-niang,
a Rainha Mãe Wang, que organiza festas de imortalidade, onde os pêssegos são
muito apreciados. Esse é o mito que originou o pêssego ter se tornado símbolo
da longevidade na China.
O livro I Ching, comumente traduzido como O Livro das Mutações, é uma
das mais antigas e influentes obras literárias da China. Sua origem mítica re-
monta a lendas e tradições ancestrais, atribuindo sua autoria ao lendário Fu Xi.
Acredita-se que Fu Xi tenha recebido os ensinamentos e símbolos do I Ching,
diretamente, dos céus, proporcionando uma base mitológica rica e sagrada para
o livro. O I Ching é um compêndio de sabedoria filosófica, divinatória e espi-
ritual, baseado na interpretação de hexagramas formados por linhas inteiras e
quebradas. Cada hexagrama representa uma combinação única de elementos e
energias, oferecendo reflexões sobre as relações humanas, as mudanças do mun-
do e a busca do equilíbrio.

E U IN D ICO

Estudante, você está convidado a conhecer a lenda dos quat-


ro animais divinos da mitologia chinesa, sendo eles: o Dragão
Azul do Leste, o Pássaro Vermelho do Sul, o Tigre Branco do
Oeste e a Tartaruga Negra do Norte, responsáveis pela pro-
teção e equilíbrio do universo.

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HIBRIDISMOS NO UNIVERSO RELIGIOSO ORIENTAL

O cenário brasileiro é palco de diversas manifestações religiosas híbridas, en-


tre elas, destacam-se as novas religiões japonesas, em relação ao número de
fiéis e à diversidade de práticas. No censo demográfico do ano 2000, aparecem
cinco religiões de origem japonesa: Igreja Messiânica, Seicho-No-le, Perfect
Uberty, Tenrikyo e Mahicari. A pesquisa demonstra uma concentração de
fiéis nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, ou seja, em centros urbanos. É
interessante destacar que a maioria dos adeptos dessas religiões no Brasil não
são de descendência japonesa.
As novas religiões japonesas originam-se de religiosidades surgidas no Japão no
século XIX. Utiliza-se o termo Shin-Shayô para denomina-las. As transformações
nas tradições religiosas japonesas relacionam-se com a introdução de valores oci-
dentais modernos naquele momento da história do país. Essas novas religiões de
caráter universalista prosperaram fora do Japão, enquanto internamente religiões
tradicionais, como o budismo e o xintoísmo, continuaram predominantes.
Gilberto Baptista Castilho e Marília Gomes Ghizzi Godoy, em seu texto A
Presença de Valores Orientais na Cultura Brasileira: as Novas Religiões Japonesas
(2006), afirmam que a presença do espiritismo no Brasil contribuiu para a “acei-
tação e a procura pelas manifestações religiosas orientais, fato que teve sua razão
em função das semelhanças de princípios (karma, reencarnação).
A chamada Nova Era, também, contribuiu para a proliferação de religio-
sidades de origem orientais no Brasil. Nos anos 1950, nos Estados Unidos,
movimentos que congregam crenças de inspiração teosófica, gnóstica, rosa-
cruciana, budistas, taoístas e hinduístas foram sendo difundidos. Tratava-se
de um contexto histórico pós-Segunda Grande Guerra, que favorecia a busca
por novos sentidos para a humanidade, novas espiritualidades por meio de
experiências subjetivas, de natureza mística. Nos anos da Contracultura e do
movimento hippie, foram estimuladas práticas terapêuticas alternativas e alter-
nativas ecológicas para os dilemas do mundo moderno.
Todas essas referências chegam ao Brasil e alimentam a valorização de religio-
sidades conectadas à natureza, de usos de meios de cura fitoterápicos. Premissas
orientais pareciam se adequar mais a quem questionava dilemas gerados pela
realidade global, individualista, tecnocrática, massificada e midiatizada, possi-
bilitando caminhos para a resolução de angústias existenciais dos novos tempos.

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NOVOS DESAFIOS
Estudante, iniciamos este tema de aprendizagem entendendo a razão pela qual
os mitos são componentes importantes do contexto religioso de uma sociedade.
Em seguida, conhecemos como o autor Mircea Eliade conceitua os mitos reli-
giosos como manifestações de caráter sagrado e verdadeiro. Também estudamos
algumas narrativas de criação do mundo que, hoje, estão registradas em livros
sagrados, como a Bíblia. Por fim, você foi apresentado a entes sobrenaturais e
um panteão divino que compõe mitos de vida e de morte de religiões semitas
e orientais. No último tópico, destacamos o desenvolvimento de religiosidades
carregadas de hibridismos, como as novas religiões japonesas.
Os hibridismos da história brasileira, estendidos às religiosidades, insta-nos
a superar a crença em uma única noção de divindade. Assim, cabe ao ensino
religioso ser capaz de encontrar valores comuns na multiplicidade. O educador
deve inspirar o fortalecimento de laços, em vez de reforçar as distâncias. Em
um mundo marcado pela diversidade e multiculturalismo, o ensino religioso
tem o importante papel de promover o diálogo intercultural e o acolhimento às
diferenças. No plano religioso, esse diálogo requer um exercício de convivência
e de respeito à uma crença diferente da sua e aos que não creem em divindades.
A mitologia transcende fronteiras e nos lembra da nossa humanidade com-
partilhada, reforçando a importância de valorizar e preservar essas narrativas
como um tesouro cultural e uma fonte inesgotável de sabedoria. Ao mergulhar
nas histórias mitológicas, somos convidados a ampliar nossa compreensão do
mundo e abraçar a riqueza da diversidade cultural, alimentando, assim, nossa
própria jornada de autodescoberta e crescimento.

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VAMOS PRATICAR

1. “[...] a expressão ou reflexo da sociedade que, condicionando a elaboração dos temas


ou assimilando os mitos, neles se inscreve com as suas formas próprias; 2) o seu signi-
ficado ou valor representativo para os membros da sociedade de cujo patrimônio fazem
parte, ou seja, o conjunto de associações despertadas pelo mito e 3) a sua função
que corresponde ao papel que lhes cabe na perpetuação da configuração sociológica”
(ROSSI; PERONDI, 2020, p. 83).
Fonte: ROSSI, L. A. S.; PERONDI, I. Rito, mito e símbolo como fenômenos religiosos e
sociológicos. Curitiba: Intersaberes, 2020.

De acordo com o excerto apresentado, argumente em que sentido os mitos religiosos são
importantes individual e coletivamente.

2. “[...] o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tem-
po primordial, o tempo fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o mito narra como,
graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma
realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal,
um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma
“criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas
do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente” (ELIADE, 2011, p. 11).
Fonte: ELIADE, M. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2011.

A partir da definição de mito de Mircea Eliade, aponte qual das afirmações a seguir é a
correta:

a) Os mitos são narrativas de caráter fantasioso e ilusório, uma vez que falam do que
não aconteceu em tempos passados.
b) Os mitos são narrativas de criação de caráter sagrado, mas ilusório, uma vez que não
falam do que aconteceu em tempos passados.
c) Os mitos são narrativas de criação de caráter profano e verdadeiro, uma vez que falam
do que, realmente, aconteceu em tempos passados.
d) Os mitos são narrativas de criação de caráter profano e histórico, uma vez que falam
do que, realmente, aconteceu em tempos passados.
e) Os mitos são narrativas de criação de caráter sagrado e verdadeiro, uma vez que falam
do que, realmente, aconteceu em tempos passados.

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VAMOS PRATICAR

3. “[...] o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tem-
po primordial, o tempo fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o mito narra como,
graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma
realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal,
um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma
“criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas
do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente” (ELIADE, 2011, p. 11).
Fonte: ELIADE, M. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2011.

Levando em consideração o excerto anterior, analise as afirmativas a seguir.

I - Narrativa com objetivo de trazer algum ensinamento moral, cujos personagens são
animais dotados de qualidades humanas.
II - Narrativas que explicam a realidade por meio de histórias sagradas.
III - Narrativas que misturam fatos, lugares reais e históricos com acontecimentos que
são frutos da fantasia.

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

4. “Narrativa que acontece em qualquer lugar e tempo (presente, passado ou futuro). Não
se aprofunda nas características físicas e nas ações dos personagens. Sua função é
procurar levar o narrador a se envolver na trama” (PARANÁ, 2013, p. 106).
Fonte: PARANÁ. Ensino religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR,
2013. Disponível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_
er_19_3_2015.pdf. Acesso em: 24 ago. 2023.

A descrição apresentada no texto-base refere-se à qual tipo de narrativa?

a) Mito.
b) Conto.
c) Lenda.
d) Fábula.
e) Artigo.

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VAMOS PRATICAR

5. “1 No princípio, Deus criou o céu e a terra. 2 A terra estava sem forma e vazia; as trevas
cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas. 3 Deus disse: ‘Que
exista a luz!’ E a luz começou a existir. 4 Deus viu que a luz era boa. E Deus separou a
luz das trevas: 5 à luz Deus chamou ‘dia’, e às trevas chamou ‘noite’. Houve uma tarde
e uma manhã: foi o primeiro dia. 6 Deus disse: ‘Que exista um firmamento no meio das
águas para separar águas de águas!’ 7 Deus fez o firmamento para separar as águas
que estão acima do firmamento das águas que estão abaixo do firmamento. E assim
se fez. 8 E Deus chamou ao firmamento ‘céu’. Houve uma tarde e uma manhã: foi o
segundo dia. 9 Deus disse: ‘Que as águas que estão debaixo do céu se ajuntem num
só lugar, e apareça o chão seco’. E assim se fez. 10 E Deus chamou ao chão seco ‘terra’,
e ao conjunto das águas 'mar'. E Deus viu que era bom” (ROSSI; PERONDI, 2020, p. 55).
Fonte: ROSSI, L. A. S.; PERONDI, I. Rito, mito e símbolo como fenômenos religiosos e
sociológicos. Curitiba: Intersaberes, 2020.

A narrativa do texto base enquadra-se em qual tipo de gênero mítico?

a) Mito de morte.
b) Mito de saudação.
c) Mito de criação.
d) Mito grego.
e) Mito transcendental.

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REFERÊNCIAS

BÍBLIA. A Bíblia Sagrada. 74. ed. [S. l.]: Edições Claretiana, 1993.
CASTILHO, G. B.; GODOY, M. G. G. A presença de valores orientais na cultura brasileira: as no-
vas religiões japonesas. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, n. 39, p. 67-81, 2006.
ELIADE, M. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2011.
GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000.
JORGE, J. S. Cultura Religiosa: o homem e o fenómeno religioso. São Paulo: Loyola, 1994.
PARANÁ. Ensino religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR, 2013. Dispo-
nível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_er_19_3_2015.pdf.
Acesso em: 24 ago. 2023.
ROSSI, L. A. S.; PERONDI, I. Rito, mito e símbolo como fenômenos religiosos e socioló-
gicos. Curitiba: Intersaberes, 2020.

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GABARITO

1. No contexto religioso, os mitos narram as intervenções do divino em acontecimentos im-


portantes do mundo dos homens, representando experiências de vida coletivas. Contudo
seu maior valor significativo está na relação com o divino, na vivência religiosa. A estru-
tura narrativa poética e fantasiosa dá sentido à existência, ajuda a responder perguntas
relacionadas às origens e ao significado das coisas, contribuindo com o desenvolvimento
de questões existenciais que sempre tocaram o ser humano.

2. Opção E. Eliade critica a linha explicativa que entendeu os mitos como expressões de “ir-
rupção patológica de instintos”, fantasia e “infantilidade”. Por muito tempo, os mitos foram
considerados apenas em seus aspectos de fantasia e ilusão. Mas mitólogos, como Eliade,
reconhecem seu valor à história humana e as verdades de seus significantes profundos.

3. Opção B. Os mitos explicam a realidade, por meio de histórias sagradas, e se diferenciam


das lendas, narrativas que misturam fatos e lugares reais e históricos com acontecimen-
tos que são frutos da fantasia e das fábulas, narrativas com objetivo de trazer algum
ensinamento moral, cujos personagens são animais dotados de qualidades humanas.

4. Opção B. Mito religioso: explica a realidade por meio de histórias sagradas.


Lendas: narrativas que misturam fatos e lugares reais e históricos com acontecimentos
que são frutos da fantasia. Elas procuram dar explicações para acontecimentos miste-
riosos e sobrenaturais. As lendas se vinculam ao folclore. À medida que são contadas,
elas vão se modificando ao modo de quem conta a história.
Conto: narrativa que acontece em qualquer lugar e tempo (presente, passado ou futuro).
O conto não se aprofunda nas características físicas e nas ações dos personagens. A
função do conto é procurar levar o narrador a se envolver na trama.
Fábula: narrativa com objetivo de trazer algum ensinamento moral, cujos personagens
são animais dotados de qualidades humanas.

5. Opção C. Temos aqui uma narrativa da formação do mundo, ou seja, um mito de criação. O
estudo dos textos bíblicos requer o entendimento de que, no momento de sua escrita, os
autores dos textos não tinham o objetivo de escrever história, no sentido atual da palavra.
O interesse dos autores era registrar a experiência daquele povo com suas divindades e
transmitir um testemunho da fé.

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MINHAS ANOTAÇÕES

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TEMA DE APRENDIZAGEM 5

OS MITOS DENTRO DAS CULTURAS


E RELIGIOSIDADES INDÍGENAS E
AFRICANAS

MINHAS METAS

Refletir sobre as relações entre ciência e mito.

Apresentar os principais textos que tratam dos mitos nas religiosidades e culturas indí-
genas e africanas.

Conhecer alguns mitos das culturas e religiosidades indígenas.

Conhecer alguns mitos das culturas e religiosidades africanas.

Discorrer sobre os hibridismos mitológicos entre o universo cultural e religioso indígena e


religiosidade africana.

Estudar mitos que permanecem nessas culturas e religiosidades.

Analisar possibilidades de inserção desse conteúdo no cotidiano escolar da Educação Básica.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Estudante, neste tema de aprendizagem, falaremos da representatividade dos
mitos enquanto narrativas de verdade dos povos indígenas e africanos. A
partir do século XVI, com os processos de colonização de regiões, como a
América e a África, povos que transmitiam seus conhecimentos e tradições
ancestrais por meio dos mitos foram considerados, por autores europeus,
oriundos de países colonizadores, povos em estado primitivo, que represen-
tavam a infância da humanidade.
Como a visão eurocêntrica sobre os mitos indígenas e africanos como narra-
tivas infantis e primitivas afetou a representatividade e a valorização dessas tra-
dições ancestrais ao longo da história e quais os impactos disso na compreensão
e valorização da diversidade cultural?
Temos que ter em mente que as sociedades europeias da época começaram
a ter a racionalidade como princípio norteador da construção do conhecimen-
to, não incluindo os mitos na categoria de narrativas verdadeiras e confiáveis
enquanto construções de memória e portadoras de conhecimentos ancestrais.
Havia a crença de que o pensamento mítico era rudimentar e deveria ser supe-
rado em um processo evolutivo da humanidade, que teria como fim o desenvol-
vimento da filosofia e da ciência ocidental.
Desse modo, iniciamos este tema de aprendizagem apresentando a seguinte
questão que norteará nossos estudos: as narrativas míticas de povos tradicionais
são constituídas de racionalidade? Qual a relação entre ciência e mito? Convido-o
a refletirmos juntos.

VAMOS RECORDAR?
No vídeo Ciência e mito: 4 mitos de criação africanos e a
história da ciência, o professor Júlio César discute a relação
entre mito e ciência. Acompanhe o vídeo do canal História+,
do Núcleo de Estudo e Pesquisa SANKOFA, da Universidade
Federal Fluminense.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 5

OS MITOS E SUA TRANSMISSÃO

O estudo dos mitos nas culturas africanas demanda o aprendizado de aspectos


centrais da história do continente, como o fato de que os povos tradicionais sem-
pre se utilizaram da tradição oral para transmissão de conhecimentos. Portanto, a
linguagem é um componente importante das religiosidades africanas. Nesse sen-
tido, resgato as palavras dos autores da obra História da África e dos Africanos:


Na África são faladas mais de mil línguas diferentes, que são di-
vididas em quatro famílias: as afro-asiáticas, as khoisan, as níge-
ro-congolesas e as nilo-saarianas. Além do árabe, as mais faladas
são o suaíle e o hauçá. Há também várias línguas que pertencem a
famílias de línguas não africanas, como a malgaxe, que é uma língua
austronésia (malaia), e o afrikaans (derivado do holandês, mas que
se pode considerar uma língua “nativa”), pertencente à família das
línguas indo-europeias, assim como a maioria das línguas crioulas
da África. Além disso, a maior parte dos países africanos adotou,
pelo menos como uma de suas línguas oficiais, uma língua europeia
(português, francês e inglês nas respectivas ex-colônias), sendo que
essas línguas são, geralmente, faladas pela população urbana desses
países e, particularmente, por todas as pessoas com uma escolari-
dade significativa (VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2014, p. 20).

É importante destacar que, por mais que o continente Africano tenha sido in-
terpretado como o lugar do primitivismo e do atraso, a história dos impérios
anteriores à colonização europeia demonstra um desenvolvimento cultural, eco-
nômico e político carregado de dinamismo. Um exemplo são os manuscritos
em árabe, datados dos séculos VIII e IX, encontrados em centros, como Gao e
Timbuktu, na área sudanesa-saariana.
A importância da linguagem e da tradição oral na transmissão de conheci-
mentos e práticas culturais, também, apresenta-se no estudo das culturas indí-
genas. O Brasil é composto por cerca de 250 povos indígenas que falam, apro-
ximadamente, 180 línguas e dialetos. Cada etnia mantém sua própria maneira
de perpetuar suas tradições. Em muitos grupos indígenas, há pessoas que se
destacam na reprodução dos mitos, geralmente, são as pessoas mais velhas que
possuem grande conhecimento das tradições culturais de seu povo.

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UN I AS S ELV I

Além da transmissão oral, povos tradicionais registraram suas memórias e


seus relatos em representações rupestres, pintadas e esculpidas em grutas, ca-
vernas, abrigos e lajedos. Dessa forma, os mitos de povos tradicionais chegaram
até nosso tempo e foram publicados em formato de livros, que, muitas vezes,
costumamos ler para as crianças.

Figura 1 - Representações rupestres dos povos Dogon da África

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de uma parede de rocha, na cor natural, com imagens
que representam animais de quatro patas, na cor marrom escuro com contornos pretos e brancos. Há, ainda,
símbolos não identificados nas mesmas cores. Fim da descrição.

Silva e Grupioni (1995) esclarecem que os mitos de povos indígenas foram co-
letados e registrados nos processos de conquista de territórios coloniais, desde o
século XVI. Essas narrativas foram consideradas crenças e superstições de cunho
religioso que deveriam ser substituídas pela fé cristã católica, fato que gerou forte
censura ao seu conteúdo por parte dos colonizadores. Ainda assim, por meio de
transformações e fusões de uma linguagem viva, sobrevive um corpus mitológico
potente de povos indígenas e africanos. Atualmente, as coletâneas mitológicas
indígenas são muito utilizadas nas instituições de ensino brasileiras como recurso
pedagógico de livros de histórias infantis.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 5

E U IN D ICO

Estudante, você está convidado a conhecer um pouco mais


sobre as diferentes etnias brasileiras por meio do conteúdo
divulgado no website Povos Indígenas no Brasil. Navegue à
vontade!

MITOS DAS RELIGIOSIDADES E CULTURAS INDÍGENAS

Os mitos podem ser interpretados de diversas formas. Na abordagem que os con-


sidera uma narrativa carregada de verdades e conhecimentos ancestrais, o mito é
considerado uma linguagem, uma maneira de expressar “conceitos, imagens, no-
ções articuladas em histórias cujos episódios se pode facilmente visualizar” (SILVA;
GRUPIONI, 1995, p. 324). Assim, sobre o que falam essas histórias míticas?
Silva e Grupioni (1995) esclarecem que os mitos
apresentam personagens maravilhosos para tratar de Por mais que
complexos problemas filosóficos da humanidade. Por possam parecer
ingênuos, os mitos
mais que possam parecer ingênuos, os mitos abordam
abordam questões
questões sérias, nem sempre apreendidas por crianças
sérias
ou por aqueles que não conhecem bem as sociedades
de onde eles provêm. De acordo com a autora:

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Como se constróem com imagens familiares, signos com os quais
se entra em contato no dia-a-dia, os mitos têm muitas camadas de
significação e, no contexto em que tem vigência, são repetidamen-
te apresentados ao longo da vida dos indivíduos que, a medida que
amadurecem social e intelectualmente, vão descobrindo novos e in-
suspeitos significados nas mesmas histórias de sempre, por debaixo
das camadas já conhecidas e já compreendidas (SILVA, 1995, p. 327).

Em relação à relevância dos mitos dos povos indígenas na construção de sua


própria história, Marivaldo Aparecido de Carvalho, em seu texto A Presença
Indígena no Vale do Jequitinhonha: a Difícil Memória, afirma que os mitos apon-
tam questões fundamentais da relação entre colonizadores e povos indígenas.
Nesse sentido, o autor discorre sobre a narrativa da Acayaca, a árvore protetora
dos Borun do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais:


Sedentos por ouro e pedras preciosas, os colonizadores levaram
adiante a destruição do meio natural e dos povos que faziam deste
habitat o seu meio de vida. De certa maneira, a lenda sintetiza o pro-
cesso histórico da formação dos Vales Jequitinhonha e Mucuri, com
o ataque violento aos povos indígenas e a devastação quase que com-
pleta dos recursos naturais da localidade (CARVALHO, 2010, s. p.).

E U IN D ICO

Vamos conhecer a história da Acayaca? Assista ao vídeo pro-


duzido pela banda Urca Bossa Jazz, com letra da música de
autoria de Wagner Cinelli.

P E N SA N DO J UNTO S

Estudante, você já parou para pensar no quanto as histórias, os contos, as fábu-


las, os mitos e as lendas que contamos às crianças carregam aspectos rele-
vantes do nosso modo de viver? Você consegue lembrar de alguma história
que aprendeu na infância e que transmite ensinamentos religiosos? Qual seria
a relação entre mito e religião?

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Muitos mitos explicam a origem das coisas, como certos alimentos, práticas cul-
turais, como a agricultura, e fenômenos naturais,
como o trovão e os eclipses. Visto que as religio-
sidades indígenas são intimamente atreladas
ao meio natural e às atividades cotidianas,
não havendo uma separação entre as es-
feras sagradas e profanas da vida, a mito-
logia indígena apresenta temas comuns.
Veja algumas explicações indígenas sobre
a existência e os significados de astros,
como o Sol e a Lua, bem como sobre a origem
da Terra e do Homem.

E U IN D ICO

Estudante, convido você a conhecer um pouco mais sobre a


mitologia indígena brasileira.

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Monã criou o céu, a terra, os pássaros e todos os animais. Antes
não havia mar, que surgiu depois, formado por Amaná Tupã, o
Senhor das nuvens. Os homens habitavam a Terra, vivendo do
que ela produzia, regada pelas águas dos céus. Com o tempo,
passaram a viver desordenadamente segundo seus desejos, es-
quecendo-se de Monã e de tudo que lhes ensinara. Nesse tempo
Monã vivia entre eles e os tinha como filhos. No entanto, Monã,
vendo a ingratidão e a maldade dos homens, apesar de seu amor,
os abandonou, e à Terra também. Depois lhes mandou tatá, o
fogo, que queimou e destruiu tudo. O incêndio foi tão imen-
so, que algumas partes da superfície se levantaram, enquanto
outras foram rebaixadas. Desta forma surgiram as montanhas.
Deste grande incêndio se salvou apenas uma pessoa, Irin-Magé,
porque foi levado para a Terra de Monã. Depois dessa catástro-
fe, Irin-Magé dirigiu-se a Monã e, com lágrimas, o questionou:
— Você, meu pai, deseja acabar também com o céu? De que
me serve viver sem alguém semelhante a mim? Monã, cheio de
compaixão e arrependido do que fizera por causa da maldade
dos homens, mandou uma forte chuva que começou a apagar o
incêndio. Como as águas não tinham mais para onde correr, fo-
ram represadas, formando um grande lago, chamado Paraná, que
hoje é o mar. Suas águas até hoje são salgadas, graças às cinzas
desse incêndio que com elas se misturaram. Monã, vendo que
a Terra havia ficado novamente bela, enfeitada pelo mar, pelos
lagos e com muitas plantas que cresciam por toda parte, achou
que seria bom formar outros homens que pudessem cultivá-la.
Chamou então Irin-Magé, dando-lhe uma mulher por compa-
nheira para que tivesse filhos, esperando que fossem melhores
que os primeiros homens. Um de seus descendentes era uma
pessoa de grande poder e se chamava Maíra-Monã. Maíra quer
dizer ‘o que tem poder de transformar as coisas’, e Monã significa
velho, o ancião. Maíra-Monã era imortal e tinha muitos poderes
como o primeiro Monã. Depois que Maíra-Monã voltou para sua
Terra, surgiu um descendente muito poderoso, que se chama-
va Sumé. Ele teve dois filhos, Tamanduaré e Arikuté, que eram
muito diferente um do outro e por isso se odiavam mortalmente.
Tamanduaré era cuidadoso com a casa, era um bom pai de fa-

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mília e gostava de cultivar a terra. Já Arikuté não se preocupava


com nada, e passava o tempo fazendo guerra e dominando os
povos vizinhos. Certo dia, voltando de uma batalha, Arikuté
trouxe para seu irmão o braço de um inimigo, dizendo-lhe com
arrogância: — Veja lá, seu covarde! Um dia terei sua mulher e
seus filhos sob meu poder, pois você não presta nem para se
defender! O pacífico Tamanduaré, atingido no seu orgulho, lhe
respondeu: — Já que você é tão valente, em vez de trazer apenas
um braço, por que não trouxe o inimigo inteiro? Arikuté, irritado
com aquela resposta, jogou o braço contra a casa de seu irmão e
naquele instante, toda a aldeia foi levada para o céu, ficando na
Terra apenas os dois irmãos com suas famílias. Vendo isso, Ta-
manduaré, por indignação ou por desprezo, começou a golpear
a Terra com tanta força que acabou fazendo surgir uma fonte
de água, a qual não parava mais de jorrar. Jorrou tão forte e por
tanto tempo que chegou até as nuvens, iniciando uma grande
inundação. Para fugir desse novo dilúvio, os dois irmãos, com
suas mulheres, refugiaram-se na montanha mais alta da região.
Tamanduaré subiu numa palmeira com uma das suas mulheres,
e Arikuté subiu no jenipapeiro com sua esposa, permanecendo
lá até as águas diminuírem. Com essa inundação, todos os ho-
mens e animais morreram. Quando as águas abaixaram, os dois
casais desceram das árvores e voltaram a povoar a Terra, mas
cada família foi viver numa região distante. Os Tupinambá des-
cendentes de Arikuté são grupos rivais, até hoje, por essa razão
(PREZIA, 2001 apud PARANÁ, 2013, p.109-110).

E U IN D ICO

Vamos nos aproximar da oralidade da transmissão mítica ouvin-


do a história Todo Igarapé um Dia se Junta ao Grande Rio Ta-
pajós? Este mito narra a importância da água para as tradições
indígenas, uma vez que a água está viva e fornece alimento,
transporte, higiene e diversão. As águas são sagradas porque
representam o sangue de todos os ancestrais mortos desde a
colonização. Ouça esse mito indígena brasileiro!

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MITOS DAS RELIGIOSIDADES E CULTURAS AFRICANAS

Estudos sobre a histó-


ria dos diferentes países
africanos demonstram
que os contatos com
outras regiões do glo-
bo foram intensificados
entre os séculos VII e
XVI, com a assimilação
de muitas referências
culturais externas. Na
região ao Sul do deserto
do Saara, por exemplo,
ocorreu a inserção do
Islã no Império do Su-
dão, tornando essa reli-
gião muito difundida em outras partes do continente.
Os autores do livro História da África e dos Africanos (2014) afirmam que a
incorporação de elementos provindos dos contatos com povos de fora da África
tornou o entendimento das religiões africanas tradicionais mais complexo. Os
autores criticam os reducionismos presentes nos estudos sobre as religiões afri-
canas que as conceituam como animismo, fetichismo, magismo e totemismo,
sem aprofundar a complexidade de suas filosofias e práticas.


Importa dizer que as religiões da África são tão diversas quanto as
línguas e etnias do continente, já que cada uma delas tem seus deuses,
gênios ou ancestrais cuja adoração, ritos, oração ou sacrifício segue
uma lógica única. Por isso, segundo Dieng (2007), à primeira vista tudo
parece ser diferente entre as religiões dos dogons, dos malis e dos zulus
da África do Sul, ou entre os pangos e os iorubás da Nigéria. Porém,
um olhar mais aproximado pode diagnosticar algumas características
fundamentais, que são idênticas entre esses cultos essencialmente des-
tinados a ligar os homens ao mundo invisível, seja na forma natural ou
sobrenatural (VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2014, p. 24).

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Desse modo, a variedade de crenças, filosofias e práticas religiosas africanas de-


monstra a importância das religiões nas diferentes sociedades tradicionais no
sentido de codificar a existência, organizar as relações sociais e dar sentido à
existência. Valores presentes em crenças cristãs e islâmicas já se encontravam nas
religiosidades africanas antes dos contatos com povos externos.
Em relação aos mitos, as religiões africanas tradicionais têm uma cosmogonia
marcada por variadas narrativas sobre as origens, com a presença de divindades
criadoras do universo, dos homens, das coisas e de divindades menores ou au-
xiliadoras. Eduardo Oliveira (2003, p. 68) esclarece que “no plano cosmogônico
há uma comunidade hierarquizada”, que espelha a hierarquia social. São as di-
vindades auxiliadoras que gerenciam o mundo para as criadoras.


Uma mitologia africana nos dá conta que o mundo foi criado por
um Deus. Seu nome: Nana-Buluku. Ele era ao mesmo tempo macho
e fêmea. Sozinho ele deu a luz aos gêmeos Mawu e Liza e a eles foi
dado o domínio do mundo. À Mawu, a mulher, foi dado o comando
da noite, portanto ela é a lua. À Liza, o homem, foi dado o coman-
do do dia, portanto, ele é o sol. Eles acreditam que quando há um
eclipse da lua pelo sol, diz-se que o casal celestial está se dedicando
ao amor e povoando o mundo (SIBILA, 2022, on-line).

Assim como no mito africano apresentado, os mitos são narrativas que se rela-
cionam com a realidade, com o entorno natural, como os astros celestes.

E U IN D ICO

Estudante, você está convidado a conhecer um pouco mais


sobre a mitologia africana assistindo aos vídeos.

Mwana Afrika Oficina Cultural

Itan, a criação do mundo iorubá

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IN D ICAÇ ÃO DE LI V RO

As Egípcias, Retratos de Mulheres do Egito Faraônico


Editora: Bertrand
Autor: Christian Jacq
Sobre o livro: escrito pelo egiptólogo francês Christian Jacq,
autor de romances famosos sobre o Egito antigo, nesta obra,
podemos conhecer mais sobre o Egito faraônico, sobretudo,
sobre as mulheres na sociedade egípcia, tanto as rainhas--
faraós quanto as cidadãs anônimas, reclusas ou sacerdotisas.
O livro apresenta egípcias, como a rainha Ísis, Hetep-Herés
(mãe de Quéops), Meresankh, Nitócris, Iah-Hotep (libertou o
Egito dos hicsos em 1570 a.C.), Nefertiti e Cleópatra, a mais fa-
mosa delas. Vale como uma leitura que satisfaz a curiosidade
sobre o Egito e as histórias de suas mulheres.

HIBRIDISMOS MITOLÓGICOS

A história colonial dos continentes africano e americano deixou marcas profun-


das, as quais se estendem às práticas religiosas dos povos nativos que habitam
essas regiões. Os diversos movimentos migratórios, forçados ou não, forjaram
hibridismos culturais dos mais variados. Em relação às religiões, instauraram-se
discussões acerca da pureza das tradições religiosas e de sua legitimidade, tor-
nando necessário destacar que essa pureza tão discutida e procurada nunca foi
uma realidade em povos que mantêm contatos constantes uns com os outros.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 5

Os encontros, as trocas e os
contatos culturais, contudo,
geram transformações, mas
não deslegitimam as tradi-
ções. Prova disso é a con-
servação das cosmovisões
indígenas e africanas em
tempos contemporâneos.
Essas cosmovisões preser-
vam os princípios da integração, diversidade e ancestralidade. Nos impérios de
Gana, Mali e Songai, por exemplo, que mantiveram contatos com povos islâmi-
cos, “as religiões africanas permaneceram fiéis a seus mitos de origem e as suas
divindades, preservando sua cultura e identidade, através, é óbvio, de fusões
culturais e releituras simbólicas” (OLIVEIRA, 2003, p. 68).

IN D ICAÇÃO DE FI LM E

História das Religiões


A religião, a filosofia, o pragmatismo e o ceticismo são temas
que provocam a reflexão sobre a existência humana: de onde
viemos, para onde vamos e por que estamos aqui. Povos
de diversas partes do mundo, em épocas diferentes, cada
um a sua maneira, ainda procuram responder às perguntas
mencionadas. Em cada um deses três filmes, encontram-se
algumas respostas, vistas a partir da ótica espiritual ou racional
de africanos, ameríndios, budistas, católicos, ceticistas,
confucionistas, egípcios, gregos, judeus, romanos, taoístas e
xintoístas. Neles, a viagem espiritual passa pela geografia e
pela história.
Refletindo sobre a história: esta trilogia, chamada História
das Religiões, passa pela história de diferentes crenças
religiosas a fim de abordar a presença divina desde os tempos
de Abraão e como essa convivência impactou a história,
esboçando a imagem de Deus que conhecemos. Nos capítulos
nove e dez, você poderá aprofundar seus conhecimentos
sobre as religiões nativas da América e as religiões africanas
por meio de depoimentos de estudiosos de diversas áreas do
conhecimento.

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UN I AS S ELV I

NOVOS DESAFIOS
Estudante, nosso estudo dos mitos dentro de povos
indígenas e africanos nos mostrou a força representa-
tiva dos mitos e seu valor de verdade para os povos de
onde eles provêm. Mesmo que as mudanças advin-
das com as trocas culturais sejam uma realidade que
marca as religiosidades tradicionais, elas não desca-
racterizam as práticas e crenças religiosas enquanto
formas culturais complexas. Assim, os hibridismos
presentes nas narrativas míticas e nos rituais podem
enriquecer as religiões.
Reconhecer e valorizar a riqueza dos mitos indí-
genas e africanos bem como suas tradições ancestrais
é fundamental, em vez de marginalizá-los como me-
ras histórias infantis ou primitivas. A visão eurocên-
trica que desconsiderou a profundidade e a sabedoria
contidas nesses mitos contribuiu para a perpetuação
de estereótipos e preconceitos culturais.
É necessário que o estudo das religiosidades tra-
dicionais perpasse as diferentes possibilidades de in-
terpretação dos mitos, destacando os ganhos cogniti-
vos e sociais do entendimento das narrativas míticas
como formas de expressão, transmissão e preservação
do sagrado. A compreensão da mitologia de um povo,
enquanto registros de suas verdades e significados, le-
va-nos a respeitar as diferentes formas de transmissão
desses valores compartilhados pela linguagem.
As tradições e os ensinamentos sobre o sagrado
podem ser orais, pictóricos ou escritos, não havendo
uma hierarquia valorativa entre tais formas de expres-
são. Assim, histórias contadas, músicas, poesias, pin-
turas, desenhos e livros podem nos revelar as respostas
que procuramos sobre o sentido da existência e/ou
contribuir com a organização do nosso mundo social.

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VAMOS PRATICAR

1. “Como se constróem com imagens familiares, signos com os quais se entra em contato
no dia-a-dia, os mitos têm muitas camadas de significação e, no contexto em que tem
vigência, são repetidamente apresentados ao longo da vida dos indivíduos que, a me-
dida que amadurecem social e intelectualmente, vão descobrindo novos e insuspeitos
significados nas mesmas histórias de sempre, por debaixo das camadas já conhecidas
e já compreendidas” (SILVA; GRUPIONI, 1995, p. 327).

Fonte: De acordo com o excerto apresentado, argumente em que sentido os mitos reli-
giosos nem sempre são compreendidos pelas crianças.

2. “Sedentos por ouro e pedras preciosas, os colonizadores levaram adiante a destruição


do meio natural e dos povos que faziam deste habitat o seu meio de vida. De certa
maneira, a lenda sintetiza o processo histórico da formação dos Vales Jequitinhonha e
Mucuri, com o ataque violento aos povos indígenas e a devastação quase que completa
dos recursos naturais da localidade” (CARVALHO, 2010, s. p.).

Fonte: CARVALHO, M. A. A Presença Indígena no Vale do Jequitinhonha: a difícil memó-


ria. In: SOUZA, J. V. A. de.; HENRIQUES, M. S. (org.). Vale do Jequitinhonha: formação
histórica, populações e movimentos. Belo Horizonte: UGMG, 2010.

A partir da afirmação de Carvalho, aponte qual das histórias a seguir refere-se à descrição
do autor:

a) Itan.
b) Acayaca.
c) Serena.
d) Caipora.
e) Pássaro marrom.

3. “Importa dizer que as religiões da África são tão diversas quanto as línguas e etnias
do continente, já que cada uma delas tem seus deuses, gênios ou ancestrais cuja
adoração, ritos, oração ou sacrifício segue uma lógica única” (VISENTINI; RIBEIRO;
PEREIRA, 2014, p. 24).
Fonte: VISENTINI, P. F.; RIBEIRO, L. D. T.; PEREIRA, A. D. História da África e dos africa-
nos. Petrópolis: Vozes, 2014.

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VAMOS PRATICAR

Levando em consideração o excerto anterior, analise as afirmativas a seguir.

I - Fora o árabe, não existem línguas de famílias não africanas no continente.


II - Na África, são faladas mais de mil línguas diferentes, que são divididas em quatro
famílias: as afro-asiáticas, as khoisan, as nígero-congolesas e as nilo-saarianas.
III - Além do árabe, as mais faladas são o suaíle e o hauçá.

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

4. “[...] à primeira vista tudo parece ser diferente entre as religiões dos dogons, dos malis e
dos zulus da África do Sul, ou entre os pangos e os iorubás da Nigéria. Porém, um olhar
mais aproximado pode diagnosticar algumas características fundamentais, que são
idênticas entre esses cultos essencialmente destinados a ligar os homens ao mundo in-
visível, seja na forma natural ou sobrenatural” (VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2014, p. 24).
Fonte: VISENTINI, P. F.; RIBEIRO, L. D. T.; PEREIRA, A. D. História da África e dos afri-
canos. Petrópolis: Vozes, 2014.

De acordo com o excerto anterior, aponte qual das alternativas é a correta:

a) Há uma variedade de crenças, filosofias e práticas religiosas nas religiões das diferen-
tes sociedades tradicionais africanas, e elas não são similares entre si.
b) Há pouca variedade de crenças, filosofias e práticas nas religiões das diferentes so-
ciedades tradicionais africanas.
c) Há uma variedade de crenças, filosofias e práticas nas religiões das diferentes socie-
dades tradicionais africanas, mas elas mantêm divergências entre si.
d) Há uma variedade de crenças, filosofias e práticas nas religiões das diferentes socie-
dades tradicionais africanas, mas elas mantêm similaridades entre si.
e) Há pouca variedade de crenças, filosofias e práticas nas religiões das diferentes so-
ciedades tradicionais africanas, mas elas mantêm similaridades entre si.

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VAMOS PRATICAR

5. “Monã criou o céu, a terra, os pássaros e todos os animais. Antes não havia mar, que
surgiu depois, formado por Amaná Tupã, o Senhor das nuvens. Os homens habitavam
a Terra, vivendo do que ela produzia, regada pelas águas dos céus. Com o tempo, pas-
saram a viver desordenadamente segundo seus desejos, esquecendo-se de Monã e
de tudo que lhes ensinara. Nesse tempo Monã vivia entre eles e os tinha como filhos.
No entanto, Monã, vendo a ingratidão e a maldade dos homens, apesar de seu amor,
os abandonou, e à Terra também. Depois lhes mandou tatá, o fogo, que queimou e
destruiu tudo. O incêndio foi tão imenso, que algumas partes da superfície se levan-
taram, enquanto outras foram rebaixadas. Desta forma surgiram as montanhas. Deste
grande incêndio se salvou apenas uma pessoa, Irin-Magé, porque foi levado para a
Terra de Monã. Depois dessa catástrofe, Irin-Magé dirigiu-se a Monã e, com lágrimas,
o questionou: - Você, meu pai, deseja acabar também com o céu? De que me serve
viver sem alguém semelhante a mim? Monã, cheio de compaixão e arrependido do que
fizera por causa da maldade dos homens, mandou uma forte chuva que começou a
apagar o incêndio. Como as águas não tinham mais para onde correr, foram represadas,
formando um grande lago, chamado Paraná, que hoje é o mar. Suas águas até hoje
são salgadas, graças às cinzas desse incêndio que com elas se misturaram” (PREZIA,
2001 apud PARANÁ, 2013, p. 109).

Fonte: PARANÁ. Ensino religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR,


2013. Disponível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_
er_19_3_2015.pdf. Acesso em: 24 ago. 2023.

A narrativa do texto base enquadra-se em qual tipo de gênero mítico?

a) Mito de felicitação.
b) Mito de origem.
c) Mito de morte.
d) Mito transcendental.
e) Mito de tristeza.

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REFERÊNCIAS

CARVALHO, M. A. A Presença Indígena no Vale do Jequitinhonha: a difícil memória. In: SOU-


ZA, J. V. A. de.; HENRIQUES, M. S. (org.). Vale do Jequitinhonha: formação histórica, popu-
lações e movimentos. Belo Horizonte: UGMG, 2010.
OLIVEIRA, E. Cosmovisão Africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodescen-
dente. Fortaleza: LCR, 2003.
PARANÁ. Ensino religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR, 2013. Dispo-
nível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_er_19_3_2015.pdf.
Acesso em: 24 ago. 2023.
SIBILA, J. C. Mitologia #93: O mito nas aldeias africanas. Jornal da USP, 15 fev. 2022. Dis-
ponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/mitologia-93-o-mito-nas-aldeias-africanas/.
Acesso em: 29 ago. 2023.
SILVA, A. L.; GRUPIONI, L. D. B. (org.). A temática indígena na escola: novos subsídios para
professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC, 1995.
VISENTINI, P. F.; RIBEIRO, L. D. T.; PEREIRA, A. D. História da África e dos africanos. Pe-
trópolis: Vozes, 2014.

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GABARITO

1. Os mitos apresentam personagens maravilhosos para tratar de complexos problemas


filosóficos da humanidade. Por mais que possam parecer ingênuos, eles abordam ques-
tões sérias, nem sempre apreendidas por crianças ou por aqueles que não conhecem
bem as sociedades de onde eles provêm.

2. Opção B. Em relação à relevância dos mitos dos povos indígenas na construção de sua
própria história, Marivaldo Aparecido de Carvalho afirma que os mitos apontam questões
fundamentais da relação entre colonizadores e povos indígenas. Nesse sentido, o autor
discorre sobre a narrativa da Acayaca, a árvore protetora dos Borun do Vale do Jequiti-
nhonha, em Minas Gerais.

3. Opção D. Na África, são faladas mais de mil línguas diferentes, que são divididas em
quatro famílias: as afro-asiáticas, as khoisan, as nígero-congolesas e as nilo-saarianas.
Além do árabe, as mais faladas são o suaíle e o hauçá. Há, também, várias línguas que
pertencem a famílias de línguas não africanas, como a malgaxe, que é uma língua aus-
tronésia (malaia), e o afrikaans (derivado do holandês, mas que se pode considerar uma
língua “nativa”), pertencente à família das línguas indo-europeias, assim como a maioria
das línguas crioulas da África. Além disso, a maior parte dos países africanos adotou, pelo
menos, como uma de suas línguas oficiais, uma língua europeia (português, francês e
inglês nas respectivas ex-colônias), sendo que essas línguas são, geralmente, faladas
pela população urbana desses países e, particularmente, por todas as pessoas com uma
escolaridade significativa.

4. Opção D. A variedade de crenças, filosofias e práticas religiosas africanas demonstra a


importância das religiões nas diferentes sociedades tradicionais no sentido de codificar
a existência, organizar as relações sociais e dar sentido à existência.

5. Opção B. Muitos mitos explicam a origem das coisas, como certos alimentos, práticas
culturais, como a agricultura, e fenômenos naturais, como o trovão e os eclipses.

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MINHAS ANOTAÇÕES

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TEMA DE APRENDIZAGEM 6

OS MITOS DENTRO DAS CULTURAS


E RELIGIOSIDADES AFRO-
BRASILEIRAS E MOVIMENTOS
ESPIRITUALISTAS

MINHAS METAS

Compreender o que significa o termo afro-brasileiro.

Apresentar os principais textos que tratam dos mitos nas religiosidades afro-brasileiras e
movimentos espiritualistas.

Conhecer alguns mitos das culturas e religiosidades afro-brasileiras.

Conhecer alguns mitos dos movimentos espiritualistas.

Discorrer sobre os hibridismos mitológicos entre o universo cultural e religioso afro-bra-


sileiro e os movimentos espiritualistas.

Estudar mitos que permanecem nessas culturas e religiosidades.

Analisar possibilidades de inserção deste conteúdo no cotidiano escolar da Educação Básica

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Estudante, a partir da década de 1990, o termo diáspora vem sendo utilizado
a fim de construirmos um olhar crítico sobre o lugar da África e dos africa-
nos na história mundial. Passamos a balizar um projeto político e acadêmico
em torno da diáspora negra, do qual a Lei nº 10.639/2003, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional para incluir, no currículo oficial da
rede de ensino particular e pública, a obrigatoriedade da temática História e
Cultura Afro-Brasileira, faz parte.
De que forma a cultura negra foi reconstruída no contexto brasileiro, preser-
vando sua matriz africana?
As experiências diaspóricas marcaram africanos e seus descendentes, oriun-
dos de várias culturas, línguas e religiosidades, que viam um paraíso perdido
em seus lugares de origem. Contudo suas vidas tiveram de ser reconstruídas em
novas bases. Desse modo, nos processos diaspóricos, foram trazidos para o Brasil
valores e princípios negro-africanos. “São aspectos civilizatórios característicos
da cultura negra, re-construída no contexto brasileiro, preservando, entretanto,
sua matriz africana” (OLIVEIRA, 2003, p. 83).
Nesse sentido, é importante perceber a participação ativa dos africanos e de
seus descendentes na construção de interações multiculturais, que levaram à for-
mação das culturas afro-brasileiras. Entre as várias criações culturais afro-brasi-
leiras, as religiosidades ocupam um espaço fundamental da composição cultural
de nosso país, destacando-se enquanto processos perpassados por hibridismos
culturais, os quais ajudam a constituir o Brasil.

VAMOS RECORDAR?
A fim de pensarmos sobre a importância da identidade afro-
brasileira, sugiro que assista ao vídeo.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 6

DESENVOLVA SEU POTENCIAL

MITOS ENQUANTO TEXTOS LITERÁRIOS

Ao estudarmos os mitos de uma sociedade, estamos trabalhando com discursos


traduzidos em textos literários. Como texto, essas construções discursivas têm
como objetivo dizer algo sobre alguma coisa. Como afirmam Rossi e Perondi
(2020, p. 54), “o mito é um instrumento de comunicação para cuja realização
quatro elementos se apresentam inter-relacionados: um emissor, o destinatário,
uma realidade e o que se diz sobre ela – que seria a interpretação do mito”.
Nesses textos literários mitológicos, os protagonistas são as divindades, uma
vez que os mitos se ocupam do agir dos deuses. Tudo o que é significativo para
um povo precisa ser originado pelos deuses. Portanto, todo mito responde à uma
pergunta do ser humano religioso sobre seu ser no mundo. Diga-se de passagem,
não existem mitos sobre coisas banais (ROSSI; PERONDI, 2020).

Religiões afro-brasileiras

Nas religiosidades afro-brasileiras, como a Umbanda, os mitos centram-se nos ori-


xás. Os mitos integram os poemas oraculares cultivados pelos iniciados. Assim como
em outras religiosidades, existem os mitos de criação, que falam da criação do mundo

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UN I AS S ELV I

e de sua repartição entre os orixás bem como das relações desses com os homens e a
natureza. Ou seja, é pelos mitos que essas religiosidades explicam as origens.
Os mitos da Umbanda e do Candomblé relatam que a humanidade descende
dos orixás e herda deles suas características, assim, não haveria uma origem única
e comum de homens e mulheres. Além disso, mesmo sendo divindades, os orixás
disputam hierarquias e procuram ampliar seus domínios por meio de disputas
carregadas de estratégias.

Movimentos espiritualistas

Em relação a textos fundadores de movimentos espiritualistas, citamos os Mani-


festos Rosacruzes. O primeiro deles foi divulgado em 1614 e intitulado Fama Fra-
ternitatis Rosae Crucis. Na época, esse texto gerou reações da igreja católica, uma
vez que o texto propunha uma reforma universal no âmbito religioso. Nessa obra
fundacional, são explicadas as bases da Ordem Rosacruz. Nos anos 1615 e 1616,
foram publicados outros dois manifestos: o Confessio Fraternitatis e as Bodas
Alquímicas de Christian Rosenkreutz, cujos autores invocavam a fraternidade
dos Rosacruzes e se diziam membros do círculo místico Círculo de Tübingen.
Podemos citar, ainda, o Sufismo, fundado na mística do Islamismo, mas com-
posto por várias correntes que se ligam à espiritualidade de um mestre. Há uma
proximidade com o Judaísmo e com o Cristianismo em várias dessas correntes
que acreditam em uma revelação contida em um livro sagrado. Os pensamentos
de Jesus nos evangelhos são tão importantes quanto os ensinamentos de Maomé
no Corão. A busca esotérica de um caminho interior ocorre por meio de rituais
de iniciação, práticas corporais e exemplo de um mestre a ser seguido.
Na Índia, foi publicado o primeiro livro em punjabi com conteúdo considerado
sagrado pelos sufis indianos. Sahykh Faridu’d-Din, conhecido como Baba Farid,
foi um líder espiritual Chishti que publicou poemas sufi no século XII. “Mesmo
sendo fluente em árabe, persa e turco, Faridu’d-Din escolheu escrever seus poemas
em Punjabi sendo considerado o pai da literatura punjabi na região sul-asiática”
(SANTOS, 2016, p. 230). Cento e doze versos atribuídos a ele fazem parte do livro
sagrado sikh, o Adi Granth, também conhecido como Guru Granth Sahib. A obra
apresenta hinos que expressam amor, adoração a Deus e afirmação da paz e harmo-
nia entre os homens. Sobre a mensagem do livro, Santos (2016, p. 232) esclarece:

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 6


Os versos de Faridu’d-Din sedimentaram a interação entre mu-
çulmanos e sikhs. Seus ensinamentos e exemplo de vida vão para
além das fronteiras religiosas instituídas e fazem com que diferentes
margens sejam conectadas pelo mesmo rio da presença divina. Na
percepção de Faridu’d-Din, não existem fronteiras religiosas para a
manifestação da divindade.

MITOS NA CULTURA E RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA

P E N SA N D O J UNTO S

Estudante, você já parou para pensar na razão qual as religiões de matriz afri-
cana sofrerem tantas discriminações? Convido-o a refletir sobre a história do
nosso país e as relações entre os processos históricos e os preconceitos e dis-
criminações de hoje.

E U IN D ICO

Seguindo em uma mesma linha de pensamento, con-


vido-o a entender mais sobre a importância da estéti-
ca negra por meio das falas de Nátaly Neri no vídeo
“A importância da estética e autoestima negra”.

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UN I AS S ELV I

Antes de adentrarmos nas histórias do universo mitológico das religiosidades


afro-brasileiras, conheceremos um pouco mais dos principais protagonistas
dessas histórias, os orixás. Tanto nos mitos do Candomblé quanto nos mitos da
Umbanda, os orixás e suas relações entre si, com a humanidade e com os animais
e plantas compõem os relatos de criação, de morte e de iniciação. Repare que cada
orixá tem seu sistema simbólico com cores e elementos próprios.

Oxun — orixá das águas doces e do ouro,


deusa do amor e da fertilidade
Saudação: Ora yeyê ô!
Sexo: feminino.
Elemento natural: rios, lagoas e cachoeiras.
Cores das roupas e colares: amarelo ou
dourado.
Sincretismo: Nossa Senhora da Conceição,
Nossa Senhora Aparecida.

Xangô — orixá do trovão, deus da justiça


Saudação: Kaô kabiessi!
Sexo: masculino.
Elemento natural: trovoadas, raios e pedras
de raio.
Cores das roupas e colares: vermelho, mar-
rom e branco.
Sincretismo: São Jerônimo, São João Batista.

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Oxóssi — orixá da caça, deus da fauna


Saudação: Okê arô!
Sexo: masculino.
Elemento natural: florestas e matas.
Cores das roupas e colares: azul turquesa
e verde.
Sincretismo: São Sebastião e São Jorge.

Iemanjá — orixá das grandes águas, dos


mares e dos oceanos, a Grande Mãe, deu-
sa da maternidade
Saudação: Odoyá!
Sexo: feminino.
Elemento natural: mares e grandes rios.
Cores das roupas e colares: azul-claro,
branco e verde-claro.
Sincretismo: Nossa Senhora das Candeias
(ou dos Navegantes), Nossa Senhora da
Conceição.

Agora sim, conheceremos alguns mitos de criação das tradições religiosas


afro-brasileiras que versam sobre os orixás. Repare nos recursos discursivos
empregados nos mitos a seguir.


Bem no princípio, durante a criação do universo, Olofim-Olodumare
reuniu os sábios do Orum para que o ajudassem no surgimento da vida
e no nascimento dos povos sobre a face da Terra. Entretanto, cada um
tinha uma ideia diferente para a criação e todos encontravam algum in-

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conveniente nas ideias dos outros, nunca entrando num acordo. Assim,
surgiram muitos obstáculos e problemas para executar a boa obra a que
Olofim se propunha. Então, quando os sábios e o próprio Olofim já
acreditavam que era impossível realizar tal tarefa, Exu veio em auxílio
de Olofim-Olodumare. Exu disse a Elofim que para obter sucesso em
tão grandiosa obra era necessário sacrificar cento e um pombos como
ebó. Com o sangue dos pombos se purificariam as diversas anormali-
dades que perturbam a vontade dos bons espíritos. Ao ouvi-lo, Olofim
estremeceu, porque a vida dos pombos está muito ligada à sua própria
vida. Mesmo assim, pouco depois sentenciou: ‘Assim seja, pelo bem
de meus filhos’. E pela primeira vez se sacrificaram pombos. Exu foi
guiando Olofim por todos os lugares onde se deveria verter o sangue
dos pombos, para que tudo fosse purificado e para que seu desejo de
criar o mundo assim fosse cumprido. Quando Olofim realizou tudo
o que pretendia, convocou Exu e lhe disse: ‘Muito me ajudaste e eu
bendigo teus atos por toda a eternidade. Sempre serás reconhecido,
Exu, serás louvado sempre antes do começo de qualquer empreitada’
(PRANDI, 2017, p. 44-45).

Vamos comparar com uma versão da mitologia yorubá para a criação do mundo:


Na mitologia yorubá, o Deus Supremo é Olorum, chamado também
de Olodumare, na qualidade de criador de tudo o que existe. Olorum
criou o mundo, todas as águas, terras, todos os filhos das águas e do
seio das terras. Criou plantas e animais de todas as cores e tamanhos.
Até que ordenou que Oxalá criasse o homem. Oxalá criou o homem a
partir do ferro e depois da madeira, mas ambos eram rígidos demais.
Criou o homem de pedra - era muito frio. Tentou a água, mas o ser não
tomava forma definida. Tentou o fogo, mas a criatura se consumiu no
próprio fogo. Fez um ser de ar que depois de pronto retornou ao que
era, apenas ar. Tentou, ainda, o azeite e o vinho sem êxito. Triste pelas
suas tentativas infecundas, Oxalá sentou-se à beira do rio, de onde
Nanã emergiu indagando-o sobre a sua preocupação. Oxalá fala sobre
o seu insucesso. Nanã mergulha e retorna da profundeza do rio e lhe
entrega lama. Mergulha novamente e lhe traz mais lama. Oxalá, então,
cria o homem e percebe que ele é flexível, capaz de mover os olhos, os
braços, as pernas e, então, sopra-lhe a vida (PARANÁ, 2013, p. 108).

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As duas histórias apresentadas são relatos a respeito das origens, mas podemos
perceber que essa busca das origens não se situa em uma cronologia histórica.
Nos mitos, encontramos expressões, como “bem no princípio” ou “em outro
tempo”, no lugar de números que identificam datas precisas. Assim, o tempo
e o espaço do mito não são os mesmos de nossa experiência histórica.
Outro viés dos relatos míticos relacionados ao universo dos orixás são as
explicações da realidade. No mito a seguir, é explicado o nome Ogan, dado aos
homens que tocam tambores e entoam cânticos nas festividades dos orixás.


Exu Exu, o mais alegre e comunicativo de todos os orixás. Olo-
run, ao criá-lo, deu-lhe, várias funções, entre elas, a de comunica-
dor e o responsável por ligar tudo o que existe. Por isso, em todas
as festas realizadas no orun (céu), ele tocava tambores e cantava
para trazer alegria e animação a todos. Sempre foi assim. Até
que certo dia, os orixás acharam que o som dos tambores e dos
cânticos estava muito alto e que não ficava bem tanta agitação.
Então, os orixás pediram a Exu que parasse com tanto barulho,
para que a paz voltasse a reinar. Assim foi feito, e Exu nunca mais
tocou seus tambores. Um belo dia, numa dessas festas, os orixás
perceberam que as cerimônias estavam sem vidas e que ficava
mais bonita e alegre com o som dos tambores. Então pediram
para Exu voltar a animá-las. Exu ofendido por terem censurado
sua animação, não quis mais fazer, mas prometeu que daria essa
função para a primeira pessoa que encontrasse. Logo apareceu
um homem, de nome Ogan. Exu confiou-lhe a missão de tocar
tambores e entoar cânticos para animar todas as festividades dos
orixás. E a partir daquele dia, os homens que exercem esse cargo
são respeitados como verdadeiros pais e denominados Ogans
(PARANÁ, 2013, p. 48).

Como podemos perceber, os mitos não são apenas histórias fantasiosas que
servem para entreter, mas relacionam-se sempre com o real, com aspectos da
vida cotidiana e com a espiritualidade de cada cultura.

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E U IN D ICO

Estudante, você está convidado a conhecer mais sobre os


mitos dos orixás navegando pelo site a seguir. Aproveite
para saber um pouco mais sobre a riqueza da cultura
afrodescendente no Brasil.

A fim de trabalhar o tema das culturas afro-brasileiras em sala de aula, sugiro


apresentar a seguinte questão aos alunos: quais elementos presentes na sociedade
brasileira atual podem ser remontados ao período da escravidão?

A P RO F UNDA NDO

Você pode pedir para que seus alunos pesquisem sobre os elementos que po-
dem ser considerados permanências do regime escravista. Podem ser cole-
tados dados sobre o racismo, a desigualdade social, os casos de violência, o
acesso ao mercado de trabalho e as características culturais bem como relatos
pessoais sobre esses assuntos e as religiosidades. Após a apresentação dos
resultados, organize um debate sobre a questão da dívida histórica, um tema
que sempre gera embates entre grupos.

MITOS NOS MOVIMENTOS ESPIRITUALISTAS

No plano mítico, os sufis têm um segredo a ser mantido, sobre o qual não se pode falar,
mas, sim, experimentar por meio do êxtase. Para os sufis muçulmanos, o êxtase pode
se dar na meditação e no jejum, pois acreditam que o profeta Maomé tinha o hábito
de se refugiar nas cavernas das montanhas de Meca para isso e teria sido durante um
desses retiros que recebeu a visita do anjo Gabriel, que lhe comunicou a primeira
revelação de Deus. Uma das técnicas praticadas para alcançar o êxtase é a repetição,
que ocorre em vários rituais. Na imagem a seguir, vemos uma prática dedicada à re-
integração com o divino por meio do canto, da dança e dos versos do Corão, a sama.

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Figura 1 - Ritual do Sufismo

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia com cinco homens ao centro da cena, vestidos com
calças compridas, blusas de manga comprida e saia brancas, girando ao redor de si mesmo com os braços esten-
didos para cima. Eles vestem chapéus marrons, em formato cilíndrico, e estão em cima de um piso circular, na cor
cinza, que está alguns centímetros mais elevado que o chão. Ao fundo, uma banda de homens toca instrumentos
musicais, as paredes, ao fundo, têm uma arquitetura muçulmana, o ambiente é um pouco escuro, há luzes verme-
lhas como predominantes e uma luz azul ao fundo. Fim da descrição.

Os sufis, também, acreditam na história de um personagem heroico, o persa


Mansur Al-Hallaj, nascido no século IX. Ele teria sido acusado de heresia pelo
califa Al-Muqtadir e crucificado às margens do rio Tigre, isso porque, durante
um transe, teria proferido as palavras “eu sou a verdade”, em árabe, em referência
a um dos 99 nomes de Deus listados no Corão.
O sufismo desenvolveu-se muito intensamente na Índia, onde há uma figura
mítica importante, o Shaykh Mu’inal-din Chishti (1141–1236), ou Gharib Na-
waz, o Patrono dos Pobres, como ficou conhecido. Segundo as narrativas sobre
sua vida, ele se estabeleceu em Ajmer, cidade no atual estado do Rajastão, norte
da Índia. O personagem é reconhecido como o fundador da Ordem Chishti
na região, devido à sua proximidade genealógica espiritual com Muhammad,
profeta do Islã, e com Hasan al-Basri, um dos primeiros mestres do período de
formação do sufismo. As histórias sobre Mu’in al-din Chishti relatam muitos
milagres, atos sobrenaturais e confrontos espirituais nos quais seu poder supera
o de outros personagens.

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“Num relato, Mu’in al-din Chishti e seu mestre, Usman Harwani, estavam
diante do rio Tigre. Usman Harwani pediu para que Mu’in al-din Chishti fechasse
seus olhos. Ele então fechou os olhos e ao abri-los novamente, os dois já estavam
na outra margem do rio” (SANTOS, 2016, p. 220).
Falaremos, ainda, sobre a mística do Gnosticismo, movimento filosófico re-
ligioso que se originou na Ásia menor. Seus adeptos afirmam que suas bases são
filosofias provindas da Babilônia, do Egito, da Síria e da Grécia. Uma fonte de
informações sobre esse movimento espiritualista é Alexandria, no Egito, que
tinha uma biblioteca que abrigava diversas obras, das quais alguns manuscritos
sobreviveram ao longo dos anos.
Uma das bases filosóficas do Gnosticismo vem dos ensinamentos de Jesus
Cristo, figura mítica personificada por vários grupos gnósticos como o verdadei-
ro Gnóstico, aquele que conhece a: revelação interior ou oculta desvelada e que,
também, compreende a revelação exterior ou pública velada, aquele que detinha
a posse da Gnosis, o que significa a habilidade para receber e compreender a
revelação divina em si mesmo (BARBOSA; LIMA, 2019).

E U IN D ICO

Estudante, você está convidado a conhecer mais sobre a


história do Gnosticismo navegando pelo site a seguir.

Por fim, abordaremos um termo que se mantém sem consenso nos estudos sobre
as religiões, a Nova Era. Há muitas discussões entre os teóricos da religião sobre
possíveis definições de Nova Era, mas, como forma de esoterismo ocidental, há
várias influências que remontam a períodos longínquos da História. Uma das
influências são as correntes ocultistas dos séculos XVIII e XIX, como os traba-
lhos do místico cristão sueco Emanuel Swedenborg do médico e hipnotizador
alemão Franz Mesmer, bem como a Sociedade Teosófica, fundada pela russa
Helena Blavatsky. Do século XX, podemos citar as influências da ufologia, do
movimento da contracultura e dos hippies.

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Nos anos 1970, sobretudo, no Reino Unido, a Nova Era tornou-se muito popular,
avançando para outras regiões nos anos 1980 e 1990. As múltiplas influências
de pensamento acabaram por produzir a possibilidade de um encontro das es-
piritualidades, marcado por hibridismos e diálogos interculturais. Apesar do
ecletismo, a ênfase recai na ideia de que o indivíduo constrói sua própria espiri-
tualidade com muita liberdade de escolha.

HIBRIDISMOS MITOLÓGICOS ENTRE O UNIVERSO CULTURAL


E RELIGIOSO AFRO-BRASILEIRO E NOS MOVIMENTOS
ESPIRITUALISTAS

A Umbanda é considerada um exemplo explícito de uma religião afro-brasileira,


tanto por ter sido criada no Brasil quanto por representar o encontro cultural
híbrido formado por crenças e tradições religiosas africanas, formas popula-
res de catolicismo e sincretismos hindu-cristãos do espiritismo kardecista. Esse
hibridismo é celebrado com orgulho pelos seus adeptos, em um discurso de
acolhimento de todas as crenças e grupos de pessoas.

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Um exemplo desse aspecto híbrido é a associação dos orixás a um santo cató-


lico, oriunda da censura às religiões de matriz africana ao longo da nossa história
colonial e imposição do catolicismo à população negra escravizada. Essa foi uma
estratégia de sobrevivência e salvaguarda de suas memórias e tradições, a fim de
manterem os seus deuses vivos.
Outro exemplo de hibridismo religioso é o que acontece na Índia, palco
de muitos encontros interculturais. O Islã tornou-se parte da herança cul-
tural e religiosa da Índia desde sua chegada na região sul-asiática, por volta
do século XI, quando santos sufis começaram a ser acolhidos no território
indiano. A partir de então, ocorreu um incessante intercâmbio entre o sufismo
e as tradições hindus, como Yoga, Bhakti e Vedanta. Assim como ocorreu
no Brasil, com o surgimento de uma religião afro-brasileira, pode-se dizer
que a Ordem Chishti é essa mescla indiana, marcada pela aproximação das
tradições hindus com os sufis chishtis.

NOVOS DESAFIOS
O estudo das ciências da religião de distintas culturas e religiosidades ao redor
do mundo é balizado pela busca de questões à procura de respostas. O pesqui-
sador das religiões investiga de uma perspectiva externa e acaba encontrando
semelhanças e diferenças. Do mesmo modo, os adeptos das religiões, também,
buscam por respostas e, por vezes, seu posicionamento interno à crença pode
gerar relatos mais densos e extensos sobre tais questões.
Quem sou eu? Qual a origem do universo? Que forças governam o mun-
do? O que acontece quando morremos? Essas são algumas das questões exis-
tenciais que crentes e pesquisadores buscam responder. Em muitos casos,
possíveis respostas são carregadas de intercâmbios e hibridismos, demons-
trando a importância do diálogo intercultural e inter-religioso nessa busca
de explicações sobre nossa existência.
Cabe a você, estudioso das religiões, destacar a necessidade do diálogo na
busca de explicações e respostas. Só por meio de uma atitude respeitosa, tolerante
e aberta a diferentes culturas é possível avançar no conhecimento dessas questões
existenciais que ainda giram o mundo.

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VAMOS PRATICAR

1. “O mito é um instrumento de comunicação para cuja realização quatro elementos se


apresentam inter-relacionados: um emissor, o destinatário, uma realidade e o que se
diz sobre ela – que seria a interpretação do mito” (ROSSI; PERONDI, 2020, p. 54).
Fonte: ROSSI, L. A. S.; PERONDI, I. Rito, Mito e Símbolo Como Fenômenos Religiosos
e Sociológicos. Curitiba: Intersaberes, 2020.

De acordo com o excerto apresentado, argumente em que sentido os mitos religiosos


são discursos narrativos.

2. “Mesmo sendo fluente em árabe, persa e turco, Faridu’d-Din escolheu escrever seus
poemas em Punjabi sendo considerado o pai da literatura punjabi na região sul-asiá-
tica” (SANTOS, 2016, p. 230).
Fonte: SANTOS, D. de J. S. Sufismo na Índia: origem da Ordem Sufi Chishti e suas prin-
cipais práticas espirituais. Religare, v. 13, n. 1, 2016.

A partir da afirmação de Santos, aponte qual dos textos a seguir é de autoria de Fari-
du’d-Din:

a) Confessio Fraternitatis.
b) Adi Granth.
c) Fama Fraternitatis Rosae Crucis.
d) Círculo de Tübingen.
e) Corão.

3. “Os versos de Faridu’d-Din sedimentaram a interação entre muçulmanos e sikhs. Seus


ensinamentos e exemplo de vida vão para além das fronteiras religiosas instituídas e
fazem com que diferentes margens sejam conectadas pelo mesmo rio da presença
divina. Na percepção de Faridu’d-Din, não existem fronteiras religiosas para a mani-
festação da divindade” (SANTOS, 2016, p. 232).
Fonte: SANTOS, D. de J. S. Sufismo na Índia: origem da Ordem Sufi Chishti e suas prin-
cipais práticas espirituais. Religare, v. 13, n.1, 2016.

Levando em consideração o excerto anterior, analise as afirmativas a seguir.

I - A Índia não é considerada palco de hibridismos religiosos.


II - Santos sufis não foram acolhidos no território indiano.
III - O Islã tornou-se parte da herança cultural e religiosa da Índia desde sua chegada na
região sul-asiática, por volta do século XI.

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VAMOS PRATICAR

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

4. Orixá do trovão, deus da justiça; saudação: Kaô kabiessi!; sexo: masculino; elemento
natural: trovoadas, raios e pedras de raio; cores das roupas e colares: vermelho, marrom
e branco; sincretismo: São Jerônimo, São João Batista.
Fonte: CANDOBLÉ. Os orixás. [202?]. Disponível em: https://ocandomble.com/os-ori-
xas/. Acesso em: 29 ago. 2023.

De acordo com o excerto anterior, aponte qual das alternativas apresenta o orixá descrito:

a) Oxun.
b) Oxóssi.
c) Exú.
d) Xangô.
e) Omulu.

5. “Na mitologia yorubá, o Deus Supremo é Olorum, chamado também de Olodumare, na


qualidade de criador de tudo o que existe. Olorum criou o mundo, todas as águas, terras,
todos os filhos das águas e do seio das terras. Criou plantas e animais de todas as cores
e tamanhos. Até que ordenou que Oxalá criasse o homem. Oxalá criou o homem a partir
do ferro e depois da madeira, mas ambos eram rígidos demais. Criou o homem de pedra
- era muito frio. Tentou a água, mas o ser não tomava forma definida. Tentou o fogo, mas
a criatura se consumiu no próprio fogo. Fez um ser de ar que depois de pronto retornou
ao que era, apenas ar. Tentou, ainda, o azeite e o vinho sem êxito” (PARANÁ, 2013, p. 108).
Fonte: PARANÁ. Ensino religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR,
2013. Disponível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_
er_19_3_2015.pdf. Acesso em: 24 ago. 2023.

A narrativa do texto base enquadra-se em qual gênero mítico:

a) Mito de morte.
b) Mito de passagem.
c) Mitos de criação.
d) Mito de crescimento.
e) Mito de valorização.

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REFERÊNCIAS

BARBOSA, J. F.; LIMA, E. Gnosis e sua História, do surgimento até os dias atuais. Gnosis
Brasil, 26 mar. 2019. Disponível em: https://gnosisbrasil.com/artigos/historia-da-gnosis/.
Acesso em: 25 jun. 2023.
OLIVEIRA, D. E. de. Cosmovisão Africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodes-
cendente. Fortaleza: LCR, 2003.
PARANÁ. Ensino religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR, 2013. Dispo-
nível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_er_19_3_2015.pdf.
Acesso em: 24 ago. 2023.
PRANDI, R. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
ROSSI, L. A. S.; PERONDI, I. Rito, Mito e Símbolo Como Fenômenos Religiosos e Socioló-
gicos. Curitiba: Intersaberes, 2020.
SANTOS, D. de J. S. Sufismo na Índia: origem da Ordem Sufi Chishti e suas principais práticas
espirituais. Religare, v. 13, n.1 , 2016.

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GABARITO

1. Ao estudarmos os mitos de uma sociedade, estamos trabalhando com discursos tradu-


zidos em textos literários. Como texto, essas construções discursivas têm como objetivo
dizer algo sobre alguma coisa.

2. Opção B. Na Índia, foi publicado o primeiro livro em punjabi com conteúdo considerado
sagrado pelos sufis indianos. Sahykh Faridu’d-Din, conhecido como Baba Farid, foi um
líder espiritual Chishti que publicou poemas sufi no século XII. 112 versos atribuídos a ele
fazem parte do livro sagrado sikh, o Adi Granth, também conhecido como Guru Granth
Sahib. A obra apresenta hinos que expressam amor, adoração a Deus e afirmação da paz
e harmonia entre os homens.

3. Opção B. Exemplo de hibridismo religioso é o que acontece na Índia, palco de muitos


encontros interculturais. O Islã tornou-se parte da herança cultural e religiosa da Índia
desde sua chegada na região sul-asiática, por volta do século XI, quando santos sufis
começaram a ser acolhidos no território indiano. A partir de então, ocorreu um incessante
intercâmbio entre o sufismo e as tradições hindus, como Yoga, Bhakti e Vedanta.

4. Opção D. Xangô: orixá do trovão, deus da justiça. Saudação: Kaô kabiessi! Sexo: masculino.
Elemento natural: trovoadas, raios e pedras de raio. Cores das roupas e colares: vermelho,
marrom e branco. Sincretismo: São Jerônimo, São João Batista.

5. Opção C. A história apresentada é um relato a respeito das origens, mas podemos per-
ceber que essa busca das origens não se situa em uma cronologia histórica. Nos mitos,
encontramos expressões, como “bem no princípio” ou “em outro tempo”, no lugar de
números que identificam datas precisas. Assim, o tempo e o espaço do mito não são os
mesmos de nossa experiência histórica.

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MINHAS ANOTAÇÕES

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MINHAS ANOTAÇÕES

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UNIDADE 3
TEMA DE APRENDIZAGEM 7

OS SÍMBOLOS NAS MANIFESTAÇÕES


RELIGIOSAS SEMITAS E ORIENTAIS

MINHAS METAS

Compreender o que são símbolos.

Reconhecer a importância dos símbolos.

Estudar o conceito de símbolo na religiosidade.

Conhecer símbolos nas culturas e religiosidades semitas.

Conhecer símbolos nas culturas e religiosidades orientais.

Entender os hibridismos simbólicos.

Propor a inserção deste conteúdo no cotidiano escolar da educação básica.

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INICIE SUA JORNADA


Estudante, a diversidade de projetos, ideias e crenças que caracteriza a contempo-
raneidade caminho de encontro a universalismos e essencialismos. As diferentes
culturas espalhadas pelo globo são constituídas por sistemas simbólicos que as
comunicam e significam nos planos físicos e metafísicos. A humanidade sempre
compreendeu o mundo e os sentidos das coisas ao seu redor por meio de símbolos.
A razão moderna ocidental, com seus valores supostamente universais, con-
tudo, hierarquizou visões de mundo e crenças impondo hierarquias que atingi-
ram, também, os sistemas simbólicos e religiosos. Tais hierarquias não condizem
com o diálogo multicultural necessário à construção de um mundo plural e de-
mocrático. Como a compreensão dos sistemas simbólicos de diferentes culturas
pode contribuir para a promoção de uma maior compreensão e respeito mútuo
entre os diversos povos?
Chamo a atenção para o fato de que os símbolos são polissêmicos, ou seja,
podem ser interpretados de diferentes formas, de acordo com as práticas culturais
e experiências pessoais. Ou seja, a existência
dos sistemas simbólicos contribui para
a manutenção de polissemias, plura-
lidades e “culturas abertas”. Assim,
ao longo deste tema de aprendi-
zagem, procuraremos conhecer
os símbolos de algumas
tradições religiosas e a
maneira como eles con-
tribuem na interpretação
do mundo.

VAMOS RECORDAR?
Acompanhe as considerações de Rosana Batarelli sobre o
uso dos símbolos e dicas práticas para que você possa se
desenvolver e tornar-se ainda mais consciente!

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 7

DESENVOLVA SEU POTENCIAL

O QUE SÃO SÍMBOLOS?

Os símbolos são produzidos exclusivamente pelo ser


O símbolo sempre
humano a fim de comunicar. Trata-se de linguagens
representa,
que expressam sentidos na forma de palavras, núme-
substitui ou sugere
ros, imagens, gestos ou, até mesmo, sons. O universo algo
simbólico é composto de grande carga imaginativa e
atua em diferentes aspectos da vida em sociedade. O
símbolo sempre representa, substitui ou sugere algo, ou seja, relaciona-se à uma
ausência do que está sendo representado.
Ao longo das nossas vidas, vamos atribuindo significados às coisas, como as
memórias em torno de um cheiro ou uma música, datas comemorativas, objetos
de sorte, como figas ou trevo de quatro folhas. Também, simbolizamos a arqui-
tetura por meio de formas, cores e objetos que trazem boas energias.

E U IN D ICO

Estudante, convido-o a assistir ao vídeo a seguir para con-


hecer mais sobre o simbolismo e sua relação com a psique
humana.

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UN I AS S ELV I

QUAL A IMPORTÂNCIA DOS SÍMBOLOS?

Os símbolos são usados em várias esferas da vida humana, podendo represen-


tar as ciências, os valores morais, o poder, a nação ou a religião. Por meio dos
símbolos, os homens se comunicam e se conectam entre si e com as coisas.
Muitos símbolos são compartilhados em diferentes regiões, com diferentes
culturas, outros têm significados próprios. Assim, devemos destacar a polis-
semia dos símbolos e a possibilidade de diferentes interpretações de sentidos.
Na esfera religiosa, a simbologia exerce papel fundante, ou seja, os sím-
bolos são a forma básica da comunicação religiosa, uma vez que diz sobre o
não visível, sobre o imaginado. “O símbolo tem uma reserva de sentido. Ele
faz pensar e sempre diz mais do que diz. Na reserva, que se encontra oculta,
há uma fonte à procura de ser desvelada” (ROSSI; PERONDI, 2020, p. 101).
Sobre a importância dos sistemas simbólicos, em seu estudo História das
Crenças e das Ideias Religiosas, Mircea Eliade (2010) propõe seis funções dos
símbolos: transformar objetos comuns em incomuns, revelar o sagrado,
criar vínculos com o sagrado, perpetuar as manifestações divinas bem
como unificar e se comunicar com o sagrado.
Existe uma infinita variedade de símbolos e significados, mas há alguns
símbolos que se tornaram universais. Podemos citar, como exemplo, a sim-
bologia da água, que, em contextos religiosos, apresenta a função de limpar,
eliminar formas, purificar e regenerar. Já a cruz assume significados diferen-
tes, a depender do contexto. Ela é importantíssima para os cristãos por repre-
sentar a ressurreição de Cristo, mas, para um soldado romano que executa
a pena da crucificação, ela poderia ser símbolo de tortura. Já para algumas
crenças africanas, a cruz representa a encruzilhada, local de cruzamento dos
caminhos de vivos e mortos.
Temos um outro exemplo em relação à simbologia da chave, que, com his-
tórias diferentes, carrega significados semelhantes. Na Umbanda, a chave re-
laciona-se à abertura dos caminhos para a felicidade, enquanto, no Budismo,
simboliza a felicidade por ser utilizada para abrir o celeiro de arroz no Japão.

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Os símbolos, portanto, ganham sentido a partir de experiências muito
específicas. Assim, os símbolos religiosos de uma confissão religiosa
distinta do cristianismo poderiam ser considerados, aos olhos de um
cristão, justamente por ele não conhecer e não conseguir decodificar
o símbolo, algo de menor importância. Qual a razão desse comporta-
mento? A resposta a considerar é que é o lugar social de cada pessoa
que define a maneira pela qual ela interpretará e que sentido dará aos
símbolos que estão ao seu redor (ROSSI; PERONDI, 2020, p. 112).

E U IN D ICO

Estudante, convido-o a assistir ao vídeo a seguir para conhecer


mais sobre a importância do símbolo na vida humana.

OS SÍMBOLOS NAS RELIGIOSIDADES

As religiões fazem sua comunicação por meio de símbolos com diferentes formas,
cores e gestos presentes em rituais e templos. Os símbolos religiosos conectam
as pessoas ao sagrado por meio de sons, formas, cores, palavras e objetos. As
diferentes religiosidades atribuem significados próprios aos símbolos.

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P E N SA N DO J UNTO S

Estudante, você saberia dizer qual o significado da arquitetura de um templo?


Ou do uso de uma cor específica nas vestes de uma liderança religiosa?

Podemos citar, como exemplo, o fato de os ociden-


na simbologia dos
tais associarem a cor preta à morte, enquanto os
elementos naturais,
orientais associam a morte à cor branca. Em relação
como a água, a terra,
às vestes, a batina dos seminaristas católicos possui o fogo e o ar.
33 botões que representam a idade de Cristo. Gran-
de parte das culturas religiosas pelo mundo acredi-
tam na simbologia dos elementos naturais, como a água, a terra, o fogo e o ar.


A água é essencial ao mundo inteiro e é ela que mantém a vida. Nas
tradições religiosas, a água pode ser encontrada em diversos ritos por
representar a fonte de vida. A terra é que dá forma e estrutura a tudo
que existe. É o centro do universo. Lugar em que ocorre a transforma-
ção, valorizada por ter a capacidade infinita de produzir frutos. Nela
está a simbologia da maternidade, além de ser a fonte de todas as for-
mas vivas, de guardiã das crianças e de matriz, na qual se sepultam os
mortos. O ar representa o meio onde acontece o início de todas as ações
e realizações humanas. Estamos em constante união com esse elemen-
to, pois é através do ar que respiramos e, se ficarmos alguns instantes
sem ele, isso pode significar a morte. O fogo representa a mudança
contínua, contraste e harmonia. O fogo pode estar relacionado com a
vida e com a morte. A simbologia do fogo nas tradições religiosas está
em libertar e purificar (ROSSI; PERONDI, 2020, p. 152).

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SÍMBOLOS DAS RELIGIOSIDADES SEMITAS

Judaísmo

Uma das religiões semitas que abordaremos é o Judaísmo, religião fundamen-


tada pela Bíblia. O simbolismo judaico baseia-se na crença de que Deus fez
uma aliança com seu povo escolhido, os hebreus. Um dos símbolos de submis-
são à vontade de Deus é o uso da kipá, um pequeno chapéu que os homens
usam para cobrir a cabeça e simbolizar sua posição de humilde servo de Deus.
Outro símbolo muito conhecido do judaísmo é o candelabro de sete
pontas, o Menorah. Esse objeto simboliza a criação do mundo em seis dias,
conforme narrado na Bíblia. O sétimo dia seria o de descanso, chamado Sa-
bbath. O candelabro deve permanecer aceso durante o Hanucá, celebrado no
mês de dezembro, sendo considerado o “natal” dos judeus. A data rememora
a vitória dos judeus sobre os sírios na luta contra as imposições religiosas
gregas, em 165 a.C. A estudiosa Ana Szpiczkowski (1999) afirma que a origem
do Menorah é hebraica e que ele simboliza a luz para o futuro do povo judeu.
Após o término da Segunda Grande Guerra, contudo, o símbolo mais difundi-
do relacionado aos judeus é a estrela de Davi de seis pontas, isso porque, durante
o Nazismo na Alemanha, os judeus foram obrigados a usar a estrela de Davi em
suas roupas como sinal de diferenciação. Assim, os judeus eram “marcados” com
a estrela antes de serem levados aos campos de concentração e extermínio. Ana
Szpiczkowski (1999) esclarece que, após o término da Guerra, os judeus transfor-
maram a estrela no símbolo de orgulho nacional estampado na bandeira de Israel.
Uma versão sobre a simbologia da estrela afirma que a forma de dois triân-
gulos entrelaçados simboliza o formato do acampamento judeu durante a pe-
regrinação pelo deserto ao lado de Moisés, criado como estratégia de proteção
à arca de aliança, localizada no centro da estrela e protegida pelos grupos de
pessoas nas seis pontas.

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Relíquia da estrela de Davi — imagem de uma estrela


de seis pontas confeccionada em tecido na cor
amarela.

Kipá — fotografia das costas de um homem vestido


com camisa azul escuro e chapéu sem abas que cobre
o topo da cabeça, na cor azul escuro com detalhes em
branco.

Menorah — candelabro de metal na cor dourada com


hastes para suporte de sete velas acesas

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Islã

A simbologia do Islã liga-se muito à figura de Maomé, considerado o grande


profeta, e a seus ensinamentos, contudo sua imagem não pode ser cultuada em
templos e lares. Não há um símbolo sagrado para os muçulmanos enquanto a
cruz é sagrada para os cristãos, por exemplo. Os símbolos relacionados à religião
remetem a aspectos importantes dessa fé.
Um dos símbolos mais associados ao Islã é a lua crescente e a estrela, tam-
bém utilizado por estados muçulmanos. Há versões que defendem uma relação
desse símbolo com o calendário lunar seguido pelos muçulmanos e com os cinco
pilares da religião: oração, caridade, fé, jejum e peregrinação à Meca. Há, ainda,
quem associe a lua crescente ao início do Ramadã. Porém trata-se de um símbolo
não venerado pelos praticantes da religião.
Outro símbolo popularmente associado ao Islã é o Hamsá, imagem com
cinco dedos das mãos simbolizando os cinco pilares da religião. Também,
chamado de mão de Fátima, em alusão a uma das filhas do profeta Maomé.
Em relação aos objetos sagrados, utiliza-se a subha durante as orações, um
cordão com 99 contas que simbolizam os 99 nomes de Deus. Assim como em
outras crenças, o elemento água simboliza a purificação, sendo utilizado em
banhos nos mortos e na limpeza antes das orações.

Lua crescente e estrela — fotografia de um adorno no


formato de lua crescente junto a uma estrela de pon-
tas, na cor prata. A construção de concreto tem detal-
hes no estilo árabe na cor verde.

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Hamsá — imagem de um objeto de metal prateado no


formato de mão humana com cinco dedos. Na palma
da mão, há o desenho de um olho aberto. O objeto é
vazado e tem contornos estilísticos.

Subha — fotografia de objeto feito de contas na cor


bege. As contas são unidas por um cordão e, na ponta,
há um detalhe feito com os fios do cordão. Fundo da
foto de madeira na cor marrom.

Cristianismo

Para os cristãos, a cruz representa Jesus crucificado, o salvador da humanidade.


Contudo há diferenças nas representações da cruz. Quando ela é representada sem
Jesus pregado nela, a simbologia remete à ressurreição, ou seja, à vida. Já o Cristo cru-
cificado simboliza a salvação dos homens. Os rituais e as igrejas católicas são repletos
de simbolismos representados em imagens, cheiros, sons, palavras e elementos natu-
rais. Exemplos são os símbolos dos sacramentais, forma de pedir a benção de Deus.

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Sacramentais é o nome dado aos meios adotados pela Igreja de im-
plorar pelas bênçãos de Deus. Podem ser símbolos, cerimônias ou
objetos consagrados que despertam a devoção no fiel, por exemplo:
abençoar um doente ou uma criança; rosários, crucifixos e medalhas;
água (água benta), cinzas (na Quarta-Feira de Cinzas), folhas de pal-
meira (no Domingo de Ramos), velas (no dia 2 de fevereiro) e fogo
(véspera da Páscoa). Diferentemente dos sacramentos, os sacramen-
tais não foram introduzidos por Jesus, e sim pela Igreja. Além disso,
não se tornam efetivos em virtude de um poder divino inato, como
ocorre com os sacramentos, mas graças às orações coletivas e parti-
culares dos fiéis (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 202).

A água é o elemento da purificação, sendo utilizada em rituais, como batizado


e benção com água benta. Além disso, a água simboliza os novos tempos após o
dilúvio, conforme as narrativas bíblicas sobre os 40 dias e noites de chuva sobre
a terra, quando apenas Noé e sua família teriam sido poupados e destinados a
repovoar o mundo.
O fogo, também, tem uma simbologia cristã ligada à luz de Cristo. No sa-
cramento do batismo, uma vela acesa simboliza a fé depositada na criança pu-
rificada. O fogo, também, simboliza o dia de Pentecostes, comemorado 50 dias
depois da Páscoa, quando o espírito santo desceu à terra perante os discípulos
de Jesus em forma de línguas de fogo e lhes deu o dom de falar línguas, para que
eles espalhassem os ensinamentos de Jesus a todos os povos.
Entre as diferentes religiosidades cristãs, a Igreja ortodoxa utiliza com inten-
sidade elementos simbólicos em seus templos e rituais. Veja a seguir a descrição
de um serviço e sua simbologia:


A fim de compreender o serviço, é necessário primeiro nos familia-
rizarmos com o próprio edifício da Igreja, que é construído como
o Templo de Salomão, em Jerusalém. Entra-se primeiro num ves-
tíbulo, que contém a pia batismal, símbolo de que o ingresso na
Igreja se faz mediante o batismo. Em seguida vem a nave, onde a
congregação se posta durante o serviço. Oculto atrás de um biombo
fica o santuário, que corresponde ao Santo dos Santos no Templo
judaico do Antigo Testamento. Apenas o padre tem permissão de
entrar nesse santuário, mas quando as portas estão abertas a con-

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gregação pode ver o que acontece ali. O biombo se chama iconostas


(parede de imagens), porque é coberto de pinturas religiosas, ou
ícones, tão característicos da Igreja ortodoxa. São imagens de Jesus,
da Virgem Maria e dos apóstolos, santos e anjos. O fiel ortodoxo
acredita que Deus se revela por meio dos ícones. Essas imagens, que
também se encontram nos lares, são usadas na meditação. [...] O
serviço é uma reafirmação simbólica de toda a história da salvação,
desde a criação, passando pela natividade e pela morte de Jesus, até
sua ressurreição. [...] O clímax da liturgia é a eucaristia. Primeiro o
pão e o vinho são consagrados no santuário, e o padre e o diácono
recebem o sacramento no altar. Abre-se então a Porta Real, o par
central de portas duplas no iconostas. A congregação avança e fica
em pé para receber o corpo e o sangue de Cristo. Por causa da ênfase
que a Igreja ortodoxa dá à ressurreição de Cristo, seu serviço anual
mais relevante é o que se realiza na noite do domingo de Páscoa
(GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 209).

SÍMBOLOS DAS RELIGIOSIDADES ORIENTAIS

Hinduísmo

Um dos símbolos mais associados


às religiosidades orientais é a flor de
Lótus, uma espécie vegetal que fecha
suas pétalas à noite e desabrocha com
o nascer do sol. A flor cresce em águas
lamacentas e desabrocha na superfície
da água, simbolizando o desabrochar
espiritual, a reencarnação. Em países
nos quais as águas dos rios são consi-
deradas sagradas, como é o caso do
rio Nilo, no Egito, a flor simboliza a
fertilidade do rio. Na Índia, os hindus
associam a flor de Lótus ao coração
dos homens.

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Figura 1 - Flor de Lótus

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de uma flor, na cor rosa, com as pétalas abertas e o
miolo, na cor amarela. A flor encontra-se na superfície da água com folhas verdes ao redor. Fim da descrição.

Outro símbolo hindu muito conhecido é a vaca, animal sagrado que simboliza
a mãe da humanidade que sustenta a vida, por isso, não é permitido matar vacas
e consumi-las. O animal é adorado em celebrações religiosas e citado no livro
sagrado dos Vedas. Uma pessoa pode se purificar ao tocar em uma vaca. Outros
animais sagrados são o crocodilo, o macaco e a cobra.
No hinduísmo, a água, também, simboliza a purificação do corpo e do es-
pírito, sobretudo, se o banho for nas águas correntes de um rio. O rio Ganges é
chamado de Mãe Ganga e, em suas águas, os fiéis tomam banho, jogam as cinzas
dos mortos, bebem e se benzem. Por outro lado, temos a simbologia do fogo,
utilizado em rituais sagrados de purificação e de bênçãos. No mês de outubro,
é celebrada a festa Divali, que marca o ano novo por meio do ritual de acender
lamparinas no beiral das janelas das casas.


O ritual do fogo também aparece nas celebrações de casamento dos
hindus, pois através dele invocam os Deuses a fim de levarem uma
vida religiosa gloriosa. Outro ato na celebração do casamento, em
que temos como símbolo o fogo sagrado, é quando o casal oferece
arroz e manteiga ao fogo, representando a igualdade de direitos e
deveres. Somente quando o casal dá as quatro voltas ao redor do

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fogo sagrado é que são considerados marido e mulher, pois esse


momento é conhecido como mangal fera (ciclo da vida). Nessas
voltas, o homem promete a sua futura mulher que a manterá com
ele e a protegerá por toda a sua vida e, na última volta, a mulher
adianta-se prometendo guiar seu futuro marido pelos caminhos da
verdade. Para o hinduísmo esse ritual das quatro voltas ao redor do
fogo sagrado é importante, pois representa: dharma (religião, dever
e retidão), artha (prosperidade), kama (energia e paixão) e moksha
(libertação) (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 149).

Outro símbolo relacionado ao hinduísmo, também, aparece no Budismo, a


Swastika, símbolo milenar que foi apropriado pelo Partido Nazista da Alemanha
no século XX. Para os hindus, simboliza bem-estar e é associado à divindade
Ganesh. Em templos budistas, é possível ver o símbolo no peito, na palma da
mão e na sola do pé das imagens de Buda.

Figura 2 - Swastika

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de uma estátua feita de concreto com a imagem de Buda,
figura humanoide com traços asiáticos, sendo os olhos puxados e fechados. A figura tem uma marca pequena e
circular na testa, entre os dois olhos, e veste um adereço que cobre a cabeça e uma capa nos ombros. No centro
do peito, há um símbolo formado de traços quadriculares que formam a suástica. Fim da descrição.

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Taoísmo

Um símbolo taoísta tornou-


-se popularmente conhecido
no Ocidente como símbo-
lo dos opostos, o Yin-yang
(Taijitu 太极图), citado no
tratado Huainanzi e no apên-
dice do I-Ching, simboliza a
harmonia entre duas forças
opostas e complementares
presentes em todas as coisas.
Figura 3 - Yin-Yang
O yin é associado à parte fe-
minina, à terra, à passivida- Descrição da Imagem: a fiura apresenta um símbolo circular,
sendo a metade esquerda branca e a metade direita preta. Na
de e à escuridão, enquanto a parte branca, há um círculo preto e, na parte preta, há um círculo
yang é associada ao masculi- branco. Há um “S” separando a metade branca e a metade preta.
Fim da descrição.
no, ao céu, à luz e à atividade.

E U IN D ICO

Você poderá aprender mais sobre yin-yang na entrevista


concedida por Lucia Lee, em que ela explica como o yin e o
yang são compostos por corpo físico, energia e espírito e a
importância de integrar esses três elementos.

A água, para o taoísmo, possui um significado simbólico profundo e é, frequente-


mente, utilizada como metáfora para ensinar princípios fundamentais da filosofia
taoísta. A água é vista como um elemento que flui naturalmente, adapta-se às
circunstâncias (a qualquer recipiente) e é capaz de penetrar em qualquer espaço,
seguindo o caminho de menor resistência. No Ocidente, o simbolismo da água,
para o taoísmo, ficou conhecido depois de uma entrevista com Bruce Lee no
início dos anos 1970, com ele explicando a frase “seja como água”.

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HIBRIDISMOS SIMBÓLICOS

Os sistemas simbólicos são polissêmicos e abertos, ou seja, transitam pela alte-


ridade e diferença. Quando pensamos em símbolos religiosos, eles compõem o
sistema de crenças que significa o mundo, as coisas e as relações entre os seres e
o mundo no plano sagrado.
O Brasil, país formado por uma pluralidade de culturas e tradições ancestrais,
é palco de hibridismos culturais que se estendem às religiosidades. Ao abordar-
mos religiões consideradas híbridas, a Umbanda se destaca no cenário brasileiro.
Porém, também, temos hibridismos religiosos relacionados a outras tradições
ancestrais além das africanas.
Como exemplo de hibridis-
mo simbólico religioso de tradi-
ção oriental praticado no Brasil,
podemos citar a Seicho-no-iê,
fundada no Japão, em 1930, por
Masaharu Taniguchi. Um dos
símbolos associado a essa re-
ligiosidade é formado por um
círculo com o sol, a lua e uma es-
trela, simbolizando hibridismos
entre tradições do xintoísmo, do
budismo e do cristianismo. O sol
representa o xintoísmo, religião Figura 4 - Símbolo Seicho-No-Ie
tradicional do Japão antigo, a lua
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma imagem
representa o Budismo e a estrela de um símbolo circular, sendo a parte externa do emblema
representa o cristianismo, em re- a representação do sol, do qual saem 32 raios em forma
triangular. A parte inferior é formada pela representação
ferência à estrela de Belém vista da lua, em forma de cruz, e, no centro, há uma estrela de
pelos três reis magos. pontas. Fim da descrição.

O símbolo representa três


grandes religiões do mundo com o objetivo de expressar a unicidade da essência
dos ensinamentos religiosos, visto que a Seicho-No-Ie acredita que todas as reli-
giões contêm, na essência, uma única verdade. Assim, símbolos também podem
conter hibridismos, a fim de traduzir experiências com o sagrado.

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Os símbolos são a linguagem da expressão da fé e influenciam a vida cotidiana. Por


meio dos símbolos, traduzimos sentimentos, imagens do mundo invisível, profun-
do e intuitivo. Os símbolos atuam como mediadores das relações humanas mais
profundas, das suas crenças formadas por múltiplas e híbridas experiências de vida.

NOVOS DESAFIOS
Em uma visita a diferentes espaços religiosos, é possível perceber a variedade de
símbolos considerados sagrados e seus significantes. Nos templos religiosos, a
comunidade expressa sua fé, dando visibilidade às crenças. As formas simbóli-
cas visíveis ajudam as pessoas a sentirem a conexão com o divino por meio das
emoções. Outra característica que constitui os sistemas simbólicos é sua fun-
ção unificadora das pessoas que compartilham seus significantes, gerando uma
comunhão religiosa na comunidade. Assim, os símbolos levam à ação, à uma
prática religiosa compartilhada.
Sugerimos que esse aspecto prático dos símbolos religiosos seja trabalhado
em sua prática de ensino religioso, instigando o entendimento de como a per-
cepção simbólica pode contribuir com a solidariedade comunitária, gerando
vínculos entre as pessoas. Uma vez que os sistemas simbólicos são polissêmicos,
eles podem ser compartilhados de forma que experiências individuais podem
ser traduzidas para o plano coletivo, gerando vínculos comunitários.

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VAMOS PRATICAR

1. “[...] é essencial ao mundo inteiro e é ela que mantém a vida. Nas tradições religiosas,
a pode ser encontrada em diversos ritos por representar a fonte de vida” (ROSSI; PE-
RONDI, 2020, p. 152).
Fonte: ROSSI, L. A. S.; PERONDI, I. Rito, mito e símbolo como fenômenos religiosos e
sociológicos. Curitiba: Intersaberes, 2020.

A partir da afirmação apresentada, aponte qual dos elementos naturais a seguir é descrito
no excerto:

a) Terra.
b) Fogo.
c) Ar.
d) Água.
e) Vento.

2. Yin-yang, citado no tratado Huainanzi e no apêndice do I-Ching, simboliza a harmonia


entre duas forças opostas e complementares presentes em todas as coisas.

Em relação ao yin-yang, analise as afirmativas a seguir.

I - O yin é associado à parte feminina.


II - O yin é associado à escuridão.
III - Yang é associada ao masculino.
IV - Yang é associada à escuridão.

É correto o que se afirma em:

a) I e IV, apenas.
b) II e III, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) II, III e IV, apenas.

3. Não há um símbolo sagrado para os muçulmanos enquanto a cruz é sagrada para os


cristãos, por exemplo. Os símbolos relacionados à religião remetem a aspectos impor-
tantes dessa fé.

De acordo com o excerto anterior, aponte qual das alternativas não apresenta um símbolo
associado ao Islã:

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VAMOS PRATICAR

a) Kipá.
b) Lua crescente e estrela.
c) Hamsá.
d) Subha.
e) Alcorão.

4. O fogo, também, tem uma simbologia cristã ligada ao dia de Pentecostes.

Aponte qual das alternativas apresenta a representação do fogo para os cristãos.

a) Espírito Santo.
b) Candelabro de sete pontas.
c) Deus.
d) Tocha Viva.
e) Calor que transmite benção de Deus.

5. “A fim de compreender o serviço, é necessário primeiro nos familiarizarmos com o


próprio edifício da Igreja, que é construído como o Templo de Salomão, em Jerusalém”
(GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 209).
Fonte: GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2000.

Em relação ao excerto anterior sobre a Igreja Ortodoxa, analise as afirmativas a seguir.

I - Nas igrejas, há uma pia batismal, símbolo de que o ingresso na Igreja se faz mediante
o batismo.
II - A nave é onde a congregação se posta durante o serviço.
III - Apenas o padre tem permissão de entrar no santuário.
IV - O biombo se chama iconostas, porque é coberto de pinturas religiosas ou ícones.

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) II e IV, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.

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REFERÊNCIAS

ELIADE, M. História das crenças e das ideias religiosas I. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000.
ROSSI, L. A. S.; PERONDI, I. Rito, mito e símbolo como fenômenos religiosos e socioló-
gicos. Curitiba: Intersaberes, 2020.
SZPICZKOWSKI, A. Símbolos Visuais Judaicos. Revista de Estudos Orientais, n. 3, 1999.

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GABARITO

1. Opção D. Grande parte das culturas religiosas pelo mundo acredita na simbologia dos
elementos naturais, como a água, a terra, o fogo e o ar. A água é essencial ao mundo
inteiro e é ela que mantém a vida. Nas tradições religiosas, a água pode ser encontrada
em diversos ritos por representar a fonte de vida

2. Opção D. Yin-yang, citado no tratado Huainanzi e no apêndice do I-Ching, simboliza a


harmonia entre duas forças opostas e complementares presentes em todas as coisas. O
yin é associado à parte feminina, à terra, à passividade e à escuridão, enquanto a yang
é associada ao masculino, ao céu, à luz e à atividade.

3. Opção A. Um dos símbolos de submissão dos judeus à vontade de Deus é o uso da kipá,
um pequeno chapéu que os homens usam para cobrir a cabeça e simbolizar sua posição
de humilde servo de Deus..

4. Opção A. O fogo também simboliza o dia de Pentecostes, comemorado 50 dias depois


da Páscoa, quando o espírito santo desceu à terra perante os discípulos de Jesus em
forma de línguas de fogo e lhes deu o dom de falar línguas, para que eles espalhassem
os ensinamentos de Jesus a todos os povos.

5. Opção E. Entra-se primeiro num vestíbulo, que contém a pia batismal, símbolo de que o
ingresso na Igreja se faz mediante o batismo. Em seguida, vem a nave, onde a congregação
se posta durante o serviço. Oculto, atrás de um biombo, fica o santuário, que corresponde
ao Santo dos Santos no Templo judaico do Antigo Testamento. Apenas o padre tem per-
missão de entrar nesse santuário, mas quando as portas estão abertas, a congregação
pode ver o que acontece ali. O biombo se chama iconostas (parede de imagens), porque
é coberto de pinturas religiosas, ou ícones, tão característicos da Igreja ortodoxa.

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MINHAS ANOTAÇÕES

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TEMA DE APRENDIZAGEM 8

OS SÍMBOLOS NAS MANIFESTAÇÕES


RELIGIOSAS INDÍGENAS E
AFRICANAS

MINHAS METAS

Compreender a importância dos símbolos enquanto linguagem.

Conhecer símbolos nas culturas e religiosidades indígenas.

Estudar a simbologia nativa brasileira.

Reconhecer a simbologia nativa nos dias atuais.

Conhecer símbolos nas culturas e religiosidades africanas.

Estudar os hibridismos simbólicos e suas relações com a intolerância religiosa.

Propor a inserção deste conteúdo no cotidiano escolar da educação básica.

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INICIE SUA JORNADA


Desde tempos antigos, os símbolos atuam como uma
das formas de comunicação entre os seres humanos.
Por meio dos símbolos, diferentes povos transmitem
suas visões de mundo, mensagens e valores morais.
Assim como a linguagem requer um
conhecimento compartilhado en-
tre emissor e receptor, os sistemas
simbólicos têm um aspecto coleti-
vo, como os números e o alfabeto
compartilhado em um país.
O mesmo ocorre nas religiões,
que têm símbolos compartilhados e ancestrais uti-
lizados nas relações das pessoas com o sagrado e o
profano. Outro aspecto relacionado aos sistemas
simbólicos e à coletividade é a força de coesão dos
símbolos compartilhados, que fomentam identifi-
cação e laços comunitários.
Estudante, quais símbolos religiosos você
conhece? Você já usou algum símbolo para se
comunicar? Se pensarmos em símbolos, como as
bandeiras dos países, as placas de trânsito ou uma
cruz de uma igreja, podemos perceber que eles po-
dem ser criados de modo natural pela tradição e pela
convenção social ou legislação.

VAMOS RECORDAR?
A fim de continuar refletindo sobre o papel dos símbolos
nas religiosidades, convido você a ler o texto de Remí Klein:
O lugar e o papel dos símbolos no processo educativo-reli-
gioso (2006). Acesse o QR Code!

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DESENVOLVA SEU POTENCIAL

OS SÍMBOLOS NAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES


INDÍGENAS

Estudante, de maneira geral, os povos


nativos das Américas mantêm relação
direta entre seu sistema simbólico re-
ligioso e os elementos da natureza.
Povos politeístas acreditam em di-
versas divindades vinculadas com
o céu, a terra e a água, por exem-
plo. No caso de grupos antigos,
como os Maias, é difícil compreen-
der suas crenças espirituais sem uma
análise do entorno em que essas pessoas
viviam. A chamada Mesoamérica, territó-
rio que compreendia partes do atual México, da
Guatemala, de Honduras, de Belize, de Salvador, de Nicarágua e de Costa Rica,
caracterizava-se pela presença de muitos rios, montanhas e ricas fauna e flora
relacionadas aos espíritos ancestrais e naturais.
Entre as divindades maias, uma das figuras mais importantes é Itzamná,
divindade criadora que representa a morte e o renascimento. Essa divindade é
vinculada ao deus Sol, Kinich Ahau, e à deusa Lua, Ixchel. Outra representação
da religiosidade maia são os Bacabs, quatro divindades que representam os
quatro pontos cardeais, cada um associado a uma cor diferente.
Nas esculturas maias preservadas ao longo dos anos, há muitos elementos
representados com muito senso de proporção. Em muitas dessas esculturas,
objetos e paredes de ruínas, é possível observar a imagem de uma serpente
relacionada ao mundo espiritual. Outra divindade relacionada ao meio natural
é o jovem deus do milho, Ah Mun, símbolo do alimento básico dos maias, de
grande importância para esse povo. Divindades associadas às trevas e à morte
são Ek Chuah e Ixtab, deuses das plantações de cacau, da guerra e dos suicidas.

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Figura 1 - Chac

Descrição da Imagem: a figura apresenta a imagem de uma divindade esculpida na pedra, com rosto humanoi-
de, de perfil com nariz comprido, que representa a chuva. É representada junto às rãs, suas companheiras que
anunciam a chuva. Fim da descrição.

Outro povo nativo antigo das Américas é o Inca, que viveu na região da Cordi-
lheira dos Andes, no território que, hoje, compreende o Chile, o Peru, a Bolívia
e o Equador. Os incas acreditavam em forças espirituais duais, como a chuva e
a seca, o Sol e a Lua, a paz e a guerra. Uma das divindades mais cultuadas era o
deus Sol, chamado Inti, com vários templos construídos em sua homenagem,
como o Templo do Sol, na cidade de Cusco, no Peru. A imagem que representa
Inti é um rosto humano sobre um disco radiante.
Outra divindade cultuada era Mama Quilla, representada pela Lua e respon-
sável por assuntos femininos, como fertilidade, nascimentos e ciclos menstruais.
Já Viracocha era a divindade criadora do mundo. Animais, como o condor e o
jaguar, eram representados em objetos e ruínas por serem considerados sagrados.
Para os incas, os rios, as montanhas, os lagos e as rochas, também, eram sagrados.

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Figura 2 - Filtro dos sonhos

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma imagem de objeto composto de arco de madeira, revestido com
tiras de couro. A esse arco são amarrados vários fios, em formato de teia de aranha, com uma abertura no centro.
Das laterais esquerda e direita e da base inferior, pendem tiras de couro, na cor marrom, com contas de madeira
presas por nós e penas de aves marrom no final da tira. Fim da descrição.

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O filtro dos sonhos é muito conhecido como um símbolo indígena. Trata-se


de um amuleto Ojibwa, uma etnia da América do Norte que acreditava na deci-
fração dos sonhos e no poder do amuleto de filtrar os sonhos negativos. Segundo
essa tradição, os bons sonhos passam pelos fios da teia do filtro, enquanto as más
energias ficam presas ali.

A SIMBOLOGIA NATIVA BRASILEIRA

A maioria dos povos nativos do Brasil não tem


uma religião institucionalizada, mas, sim, prá-
ticas espirituais intimamente ligadas ao meio
natural. Muitos povos acreditam estarem ro-
deados por espíritos protetores ou malignos.
Quase todas as festividades têm relação com o
calendário agrícola, com a caça, com a guerra e
com os significados espirituais. Essas festas são
carregadas de símbolos de cunho religioso.


Ocorre que os índios, em suas diferentes versões cosmológicas, não
se consideram como ‘senhores do universo”, para quem todas as
outras espécies devem servir, como na nossa sociedade. As visões
de mundo indígenas geralmente colocam os humanos em relações
de troca com outros seres sobrenaturais, como aqueles relacionados
às diversas espécies animais (muitas vezes chamados de ‘donos’ ou
‘avós dos animais’), às plantas e fontes de água (‘donos’ ou ‘mestres
de plantas’ e igarapés). Certas ervas, árvores, animais ou aves aos
quais os índios atribuem poderes sobrenaturais são manipulados
exclusivamente pelos pajés. Consideram que todo o equilíbrio do
cosmos depende desta troca recíproca e adequada entre os homens,
os seres da natureza e os seres sobrenaturais. Não podemos estender
estas noções a todos os grupos indígenas, mas de maneira muito
geral pode-se dizer que atribuem a estes seres sobrenaturais a capa-
cidade de lhes provocar doenças através de feitiços. Consequente-
mente, uma caçada exagerada de animais poderia desencadear uma
mortandade desmedida de humanos (TASSINARI, 1995, p. 458).

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O vínculo entre a comunidade e o mundo espiritual é liderado por um ancião


com poderes curativos e proféticos. Em rituais de cura, por exemplo, muitas co-
munidades utilizam alguma erva da qual a fumaça tem uma simbologia própria
bem como artefatos que simbolizam a cura.

Figura 3 - Pintura corporal

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia do busto de uma mulher da etnia Dessana. Ela tem
pele parda e cabelos lisos e compridos e está usando um adereço na cabeça feito de penas de aves, nas cores
vermelho e amarelo, e colares de sementes naturais. Ela tem o rosto pintado com traços étnicos, nas cores ver-
melho e preto. Fim da descrição.

A pintura corporal, também, pode simbolizar uma defesa contra males espirituais
e maus espíritos. Os diferentes desenhos, formas e cores pintados no corpo podem
garantir boa sorte e proteção. Cada comunidade ou família costuma desenvolver
padrões próprios de pintura corporal. Em muitos grupos, essa tarefa é atribuição das
mulheres, que pinta os corpos dos maridos e filhos. Na arte indígena, em geral, gra-
fismos podem significar conhecimento, sabedoria e ligações com o sagrado. No caso
dos Tupi-Guarani, são utilizados três padrões gráficos com diferentes significados:

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Ypara Korá
Desenhos baseados na pele das cobras,
costumam apresentar formas de losango
e de quadrado. Esses símbolos significam
acolhimento, ou seja, que suas casas es-
tão sempre disponíveis para acolher os
parentes que vêm de longe.

Ypara Jaxá
Desenhos em linha reta que se assemelham
a correntes.

Ypara Ixy
Desenhos em zigue-zague que se asse-
melham ao movimento das cobras.

Outro artefato de grande carga simbólica para muitas etnias indígenas é o cocar,
um ornamento de cabeça feito de penas de aves que simboliza proteção contra
más energias por meio das cores. O formato em forma de coroa representa a
centralidade dos pensamentos, enquanto seu formato semiaberto refere-se à
busca por novos saberes. Para os membros da etnia Fulni-ô, o cocar conecta o
guerreiro com o grande espírito, por isso, deve ser utilizado apenas pelos homens.

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Figura 4 - Cocar

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia da parte traseira da cabeça de um homem. Este tem
cabelo curto e castanho e veste um adorno na cabeça feito de penas de aves, nas cores vermelho, branco e
amarelo. Essas penas estão presas por fios vermelhos que amarram na cabeça. Fim da descrição.

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Estudante, você pode perceber que os grafismos presentes nas pinturas


corporais, nas casas e nos objetos funcionam como uma linguagem que
expressa mensagens e valores das culturas indígenas. As mensagens falam
sobre as sociabilidades, os ritos de passagem, os momentos da vida e a visão
de mundo nativa.

IN D ICAÇ ÃO DE LI V RO

A Temática Indígena na Escola


Editora: MEC/MARI/UNESCO
Organização: Aracy Lopes da Silva Luis, Donizete Benzi Grupioni
Sobre o livro: o livro abarca uma variedade de temas so-
bre as mais de 200 etnias indígenas brasileiras. Os textos
apresentam contribuições de 22 autores que abordam o
convívio na diferença afirmado como possibilidade efeti-
va. Analisam-se as condições necessárias para o convívio
construtivo entre segmentos diferenciados da população
brasileira, visto como processo marcado pelo conheci-
mento mútuo, pela aceitação das diferenças e pelo diálo-
go. A leitura da obra, sobretudo, do capítulo “O sistema de
objetos nas sociedades indígenas: arte e cultura materi-
al”, possibilita conhecer mais sobre os sistemas simbóli-
cos relacionados aos artefatos nativos.

A SIMBOLOGIA NATIVA NOS DIAS ATUAIS

Ao contrário do que possa parecer, diversas culturas indígenas antigas per-


manecem vivas e ativas em países das Américas. No Peru, especialmente,
na cidade de Cusco, é possível visitar vários lugares e conhecer tradições
mantidas pelos descendentes dos Inca. Machu Picchu, situada no topo de
uma montanha, a 2.400 metros de altitude, é um exemplo disso. No Vale
Sagrado, em cidades, como Sacsayhuamán, Ollantaytambo e Písaca, con-
servam-se costumes ancestrais, como realizar transações comerciais pelo
sistema de trocas, morar nas mesmas casas de pedra construídas pelos Incas
etc. Atualmente, cerca de 10.000.000 pessoas do Norte do Equador ao Norte
da Argentina falam a língua quechua.

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No Brasil, as cerca de 305 etnias indígenas mantêm 274 línguas faladas. Nas
últimas décadas, os conhecimentos xamanísticos foram valorizados como re-
positórios de técnicas curativas. A indústria farmacêutica, ainda, desenvolve
pesquisas com espécies vegetais utilizadas pelos indígenas, buscando encontrar
explicações sobre suas capacidades curativas.
Cabe destacar a importância desse resgate de cosmovisões nativas, desde
que sejam consideradas as particularidades desses povos tradicionais. O con-
texto indígena deve ser levado em conta, visto que o conhecimento sobre o
mundo sobrenatural não se desvincula das práticas diárias. Assim, o diálogo
cultural requer um aprendizado amplo e profundo de tradições ancestrais que
simbolizam as práticas religiosas.

OS SÍMBOLOS NAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES


AFRICANAS

O estudo dos sistemas simbólicos africanos passa pela consta-


tação da riqueza e diversidade cultural e religiosa dos diferen-
tes povos que habitam o continente. Assim como em outras
regiões do globo, a cultura é transmitida por meio de signos,
os quais ajudam a compreender e interpretar a sociedade. Tra-
ta-se de uma linguagem que expressa visões de mundo. Entre
os símbolos africanos mais difundidos, estão os adinkras.
Você conhece esses ideogramas?
Os símbolos adinkras são criações do conjunto de povos
denominados Akan, que vivem em Gana, Burkina Faso, Togo
e parte oriental da Costa do Marfim. Esses símbolos expressam
os costumes e as crenças desse povo por meio de formas basea-
das em animais, plantas, corpo humano, objetos, astros celestes
e formas abstratas. Os adinkras são utilizados em estampas de
tecidos, objetos, joias e máscaras. Os autores Carlos Luiz Pereira
de Cerqueira e Marise de Santana (2020) afirmam que apenas
membros da realeza e lideranças espirituais podiam usar roupas
com os adinkras estampados, com a finalidade de homenagear
os ancestrais em importantes cerimônias.

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Ao longo do tempo, o conjunto de símbolos sofreu alterações em
relação aos seus usos, além do surgimento de novas figuras e se es-
palhou pelo mundo. Nesse sentido, passou a ser utilizado também
em contextos menos formais, como roupas de uso cotidiano, jóias,
paredes, objetos, e chegaram ao Brasil também aparecendo nesses
contextos. O que encontramos com mais facilidade é o Adinkra
de nome Sankofa, geralmente em portões, grades, estampas e ta-
tuagens. Este Adinkra simboliza um pássaro que olha para trás, e
significa algo parecido com ‘volte e pegue’ ou ‘voltar para buscá-la’,
nos ensinando o valor de aprender com o passado para a construção
do presente e do futuro (VELOSO, 2022, on-line).

O símbolo sankofa representa um coração estilizado, que simboliza a volta para


adquirir conhecimento do passado e a sabedoria, tentando passar a mensagem
de que, para construir um futuro melhor, é preciso mapear o passado.
Estudante, convido-o a refletir sobre a longevidade desses símbolos e os estereó-
tipos que você já ouviu falar sobre os povos africanos não terem história. Eles não
apenas têm uma longa história, como a registraram em distintos formatos, incluindo
uma forma de escrita simbólica. No caso das crenças religiosas, um adinkra impor-
tante é o Gye Nyame, que é o símbolo Adinkra mais popular e significa “exceto
Deus”, “supremacia de Deus”, simbolizando a onipotência e a imortalidade de Deus.

Figura 5 - Sankofa / Fonte: https://commons.wi- Figura 6 - Gye Nyame / Fonte: https://commons.


kimedia.org/wiki/File:Akindra.jpg. Acesso em: 30 wikimedia.org/wiki/File:Gye_nyame.png. Acesso
ago. 2023. em: 30 ago. 2023.

Descrição da Imagem: a figura apresenta a ima- Descrição da Imagem: a figura apresenta a ima-
gem de um símbolo no formato de coração com gem de um símbolo com contornos na cor preta e
contornos na cor preta. Fim da descrição. formato semelhante ao da letra Z estilizada. Fim
da descrição.

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E U IN D ICO

Estudante, convido-o a assistir ao vídeo a seguir para conhecer


mais sobre os símbolos adinkras.

Ainda sobre o sistema simbólico relacionado aos artefatos africanos, po-


demos citar estátuas, objetos do cotidiano e rituais ligados aos ancestrais.
Na forma de espíritos, esses ancestrais poderiam apoiar seus descendentes
em ações do dia a dia. A máscara, por exemplo, simboliza um elo entre
o mundo dos vivos e dos mortos, ou seja, tem uma função sagrada para
vários povos. Assim, temos objetos que materializam crenças e valores
morais e possuem funções na comunicação da comunidade. Os tambo-
res também são objetos sagrados e ancestrais utilizados para cultuar e
comunicar com as divindades.
Assim como em outras tradições, os elementos da natureza, também, são
carregados de simbologias. A água, por exemplo, simboliza o feminino em
muitos rituais e mitos.


As águas estão presentes nos rituais religiosos, nas abluções, nos
batismos, nas aspersões, nos banhos místicos, e também sob a
forma de chá, na cerimônia que faz da ingestão deste um profundo
momento meditativo. As águas dos rios, dos mares, das charnecas,
são líquidos que remetem ao berço uterino, ao leite nutritivo que
brota do corpo da mãe, e que depois se tornam sangue e vinho.
Sangue como líquido do corpo dos seres vivos e vinho como san-
gue do corpo da terra. A água é símbolo da vida e da morte, é sobre
as águas do rio que Caronte deve conduzir sua barca contendo os
mortos. Neste sentido, o feminino, as águas que o representam,
são as próprias forças transformadoras e inconstantes da vida e da
morte. São o fluir do passado, presente e futuro, num continuum
líquido e eternamente fecundo (PARANÁ, 2013, p. 56).

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E U IN D ICO

Estudante, convido-o a assistir ao vídeo a seguir para con-


hecer mais sobre os símbolos relacionados com a cura em
Angola.

HIBRIDISMOS E RESPEITO À DIVERSIDADE DE CRENÇAS

No Brasil, ainda, circula um discurso de que o país aceita bem a diversidade ét-
nica e cultural que forma nossa população. Contudo, ainda, ocorrem episódios
de intolerância religiosa, conforme atestam as notificações registradas por órgãos
públicos, como a Secretaria de Direitos Humanos. Esses registros demonstram
que têm aumentado a visibilidade dos atos de intolerância religiosa.
É importante esclarecer que a Constituição Federal Brasileira de 1988 garante
a liberdade de crença. No Art. 5º, é garantida a liberdade de consciência e escolha
de religião. A Lei nº 9.459/1997 estabelece que a discriminação religiosa é crime.
Nossa legislação, também, estabelece proteção aos locais de culto religiosos e
às liturgias. Entretanto, por mais que existam leis que garantam a prática dos
hibridismos religiosos brasileiros, ainda se faz necessário avançar no respeito às
diferenças de credos enquanto parte da nossa formação cultural.
Duas cidades onde é possível observar boa convivência de práticas religiosas
híbridas são Salvador, na Bahia, e Foz do Iguaçu, no Paraná. A primeira é palco
de diversos hibridismos simbólicos relacionados às religiões de matriz africana,
com rituais que acontecem na porta das igrejas e locais de culto pela cidade. A
segunda é uma cidade de fronteira, que congrega tradições de três países com
diferentes crenças religiosas.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 8

E U IN D ICO

Estudante, convido-o a assistir ao vídeo Intolerância e fé no


Brasil no qual líderes religiosos, que são referências para o
budismo, o judaísmo, o protestantismo, o catolicismo e as re-
ligiosidades afro-brasileiras, compartilham suas visões sobre
como enfrentar a intolerância religiosa.

NOVOS DESAFIOS
A prática do ensino religioso baseia-se na
premissa de refletir sobre tradições e costu-
mes das várias religiosidades, a fim de esti-
mular o diálogo religioso. No Brasil, o en-
sino religioso não é obrigatório em nossa
legislação federal, mas esse conhecimento
interdisciplinar pode contribuir para fo-
mentar o respeito entre diferentes grupos.
Conhecer os significados de símbolos
que integram algumas tradições religio-
sas ajuda a compreender a importância
da tolerância e igualdade de direitos nas
sociedades. Os símbolos são importantes
enquanto sistema de comunicação e na re-
lação com o sagrado, assim, estão presentes
no cotidiano e podem ser ressignificados
ao longo do tempo.
Assim como ocorre com as interpreta-
ções de escrituras sagradas, a interpretação
dos símbolos também não é enriquecida
com leituras fundamentalistas, sendo
necessário se desfazer de preconceitos. Es-
ses são aspectos a serem considerados em
sua prática profissional.

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VAMOS PRATICAR

1. [...] acreditavam em forças espirituais duais, como a chuva e a seca, o Sol e a Lua, a
paz e a guerra. Uma das divindades mais cultuadas era o deus Sol, chamado Inti, com
vários templos construídos em sua homenagem, como o Templo do Sol, na cidade de
Cusco, no Peru".
Fonte: ARANTES, M. O. Os símbolos nas manifestações religiosas indígenas e afri-
canas. 2023.

A partir da afirmação anterior, aponte qual dos povos refere-se à descrição apresentada:

a) Maias.
b) Incas.
c) Astecas.
d) Krenak.
e) Tupi.

2. Povos nativos das Américas mantêm relação direta entre seu sistema simbólico reli-
gioso e os elementos da natureza. Povos politeístas acreditam em diversas divindades
vinculadas com o céu, a terra e a água, por exemplo. No caso de grupos antigos, como
os Maias, é difícil compreender suas crenças espirituais sem uma análise do entorno
no qual essas pessoas viviam.

Levando em consideração o excerto anterior, analise as afirmativas a seguir.

I - Entre as divindades maias, uma das figuras mais importantes é Itzamná, divindade
criadora que representa a morte e o renascimento.
II - Representação da religiosidade maia são os Bacabs, quatro divindades que repre-
sentam os quatro pontos cardeais.
III - Divindade relacionada ao meio natural é o jovem deus do milho, Ah Mun, símbolo do
alimento básico dos maias, de grande importância para esse povo.

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

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VAMOS PRATICAR

3. Ornamento de cabeça feito de penas de aves que simboliza proteção contra más ener-
gias por meio das cores. O formato em forma de coroa representa a centralidade dos
pensamentos, enquanto seu formato semiaberto refere-se à busca por novos saberes.

De acordo com o excerto anterior, aponte qual das alternativas apresenta o nome do
artefato descrito:

a) Tiara.
b) Coroa.
c) Bico de pena.
d) Cocar.
e) Korá.

4. “Ocorre que os índios, em suas diferentes versões cosmológicas, não se consideram


como ‘senhores do universo’, para quem todas as outras espécies devem servir, como
na nossa sociedade. As visões de mundo indígenas geralmente colocam os humanos
em relações de troca com outros seres sobrenaturais” (TASSINARI, 1995, p. 458).
Fonte: TASSINARI, A. M. I. Sociedades Indígenas: introdução ao tema da diversidade cul-
tural. In: SILVA, A. L.; GRUPIONI, L. D. B. (org.). A temática indígena na escola: novos
subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC, 1995.

De acordo com o excerto apresentado, argumente em que sentido os símbolos religiosos


indígenas nem sempre são compreendidos fora de seu contexto de origem.

5. “Ao longo do tempo, o conjunto de símbolos sofreu alterações em relação aos seus
usos, além do surgimento de novas figuras e se espalhou pelo mundo. Nesse sentido,
passou a ser utilizado também em contextos menos formais, como roupas de uso
cotidiano, jóias, paredes, objetos, e chegaram ao Brasil também aparecendo nesses
contextos” (VELOSO, 2022, on-line).
Fonte: VELOSO, A. Tecnologia Ancestral Africana: Símbolos Adinkra. UFMG, ago.
2022. Disponível em: https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/tecnologia-ances-
tral-africana-simbolos-adinkra/. Acesso em: 30 ago. 2023.

A narrativa do texto base descreve qual tipo de símbolo africano?

a) Maculelê.
b) Catimbó.
c) Adinkras.
d) Zakumi.
e) Ibiri.

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VAMOS PRATICAR

CERQUEIRA, C. L. P.; SANTANA, M. Os Adinkras: Ideogramas das Tribos Africanas. In: SEMI-
NÁRIO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENHO, CULTURA E INTERATIVIDADE,
15., 2020, Feira de Santana. Anais [...]. Feira de Santana: UEFS, 2020 Disponível em: https://
periodicos.uefs.br/index.php/AnaisPPGDCI/article/view/7562. Acesso em: 30 ago. 2023.
KLEIN, R. O lugar e o papel dos símbolos no processo educativo-religioso. Estudos Teoló-
gicos, v. 46, n. 2, p. 74-83, 2006. Disponível em: http://www3.est.edu.br/publicacoes/estu-
dos_teologicos/vol4602_2006/et2006-2e_rklein.pdf. Acesso em30 ago. 2023.
PARANÁ. Ensino religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR, 2013. Dispo-
nível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_er_19_3_2015.pdf.
Acesso em: 30 ago. 2023.
TASSINARI, A. M. I. Sociedades Indígenas: introdução ao tema da diversidade cultural. In:
SILVA, A. L.; GRUPIONI, L. D. B. (org.). A temática indígena na escola: novos subsídios para
professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC, 1995.
VELOSO, A. Tecnologia Ancestral Africana: Símbolos Adinkra. UFMG, 16 ago. 2022. Disponível
em: https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/tecnologia-ancestral-africana-simbo-
los-adinkra/. Acesso em: 30 ago. 2023.

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GABARITO

1. Opção B. Outro povo nativo antigo das Américas é o Inca, que viveu na região da Cordilheira
dos Andes no território que, hoje, compreende o Chile, o Peru, a Bolívia e o Equador. Os
incas acreditavam em forças espirituais duais, como a chuva e a seca, o Sol e a Lua, a paz
e a guerra. Uma das divindades mais cultuadas era o deus Sol, chamado Inti, com vários
templos construídos em sua homenagem, como o Templo do Sol, na cidade de Cusco,
no Peru. A imagem que representa Inti é um rosto humano sobre um disco radiante.

2. Opção E. Povos nativos das Américas mantêm relação direta entre seu sistema simbólico
religioso e os elementos da natureza. Povos politeístas acreditam em diversas divindades
vinculadas com o céu, a terra e a água, por exemplo. No caso de grupos antigos, como
os Maias, é difícil compreender suas crenças espirituais sem uma análise do entorno no
qual essas pessoas viviam. A chamada Mesoamérica, território que compreendia partes
do atual México, da Guatemala, de Honduras, de Belize, de Salvador, de Nicarágua e de
Costa Rica, caracterizava-se por muitos rios, montanhas e ricas fauna e flora relaciona-
das aos espíritos ancestrais e naturais. Entre as divindades maias, uma das figuras mais
importantes é Itzamná, divindade criadora que representa a morte e o renascimento. Essa
divindade é vinculada ao deus Sol, Kinich Ahau, e à deusa Lua, Ixchel. Outra representa-
ção da religiosidade maia são os Bacabs, quatro divindades que representam os quatro
pontos cardeais, cada um associado a uma cor diferente. Outra divindade relacionada ao
meio natural é o jovem deus do milho, Ah Mun, símbolo do alimento básico dos maias, de
grande importância para esse povo.

3. Opção D. Um artefato de grande carga simbólica para muitas etnias indígenas é o cocar,
um ornamento de cabeça feito de penas de aves que simboliza proteção contra más
energias por meio das cores. O formato em forma de coroa representa a centralidade dos
pensamentos, enquanto seu formato semiaberto refere-se à busca por novos saberes.
Para os membros da etnia Fulni-ô, o cocar conecta o guerreiro com o grande espírito,
por isso, deve ser utilizado apenas pelos homens.

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GABARITO

4. A maioria dos povos nativos do Brasil não tem uma religião institucionalizada, mas, sim,
práticas espirituais intimamente ligadas ao meio natural. Muitos povos acreditam estarem
rodeados por espíritos protetores ou malignos. Quase todas as festividades têm relação
com o calendário agrícola, com a caça, com a guerra e com os significados espirituais.
Essas festas são carregadas de símbolos de cunho religioso.

5. Opção C. Entre os símbolos africanos mais difundidos, estão os adinkras. Os símbolos


adinkras são criações do conjunto de povos denominados Akan, que vivem em Gana,
Burkina Faso, Togo e parte oriental da Costa do Marfim. Esses símbolos expressam os
costumes e as crenças desse povo por meio de formas baseadas em animais, plantas,
corpo humano, objetos, astros celestes e formas abstratas. Os adinkras são utilizados
em estampas de tecidos, objetos, joias e máscaras.

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MINHAS ANOTAÇÕES

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MINHAS ANOTAÇÕES

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TEMA DE APRENDIZAGEM 9

OS SÍMBOLOS NAS MANIFESTAÇÕES


RELIGIOSAS AFRO-BRASILEIRAS
E NOS MOVIMENTOS
ESPIRITUALISTAS

MINHAS METAS

Compreender a importância dos símbolos enquanto linguagem.

Conhecer símbolos nas culturas e religiosidades afro-brasileiras.

Estudar a simbologia da Umbanda.

Reconhecer a simbologia afro-brasileira nos dias atuais.

Conhecer símbolos nos movimentos espiritualistas.

Estudar os hibridismos simbólicos.

Propor a inserção deste conteúdo no cotidiano escolar da educação básica.

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INICIE SUA JORNADA


Nos estudos sobre as religiões, aspectos relacio-
nados a crenças, rituais, mitos, ética, valores e
símbolos costumam ser aprofundados em suas
diversas características. Estudante, você está con-
vidado a refletir sobre as emoções que envolvem
as crenças religiosas. Rituais que integram pala-
vras, música, dança e performances geram emo-
ções profundas em seus participantes. Ocorre
que, nas cerimônias religiosas, essas emoções cos-
tumam ser externalizadas. A imaginação aguça-
da pelos símbolos religiosos, também, contribui
para a construção religiosa emocional.
Ao longo deste tema de aprendizagem, estudaremos o simbolismo ligado às
religiosidades afro-brasileiras e aos movimentos espiritualistas. Nesse sentido,
abordaremos algumas formas e práticas simbólicas que intensificam as emoções
nessas crenças. Quando pensamos em emoções atreladas a crenças religiosas, a
experiência mística aparece com grande carga emocional. O místico relata sentir
uma conexão direta com Deus ou com o universo, em um êxtase que rompe com
o abismo que separa o sagrado do profano. Essa experiência deriva de um lon-
go caminho de iluminação, repleto de técnicas e práticas diárias. Esse encontro
místico com Deus carrega emoções profundas de êxtase e ânsia.
As descrições de pessoas que dizem ter alcançado a iluminação ou o êxtase
relatam emoções semelhantes, apesar das diferenças de credos e práticas. Assim,
é possível perceber que muitos caminhos diferentes podem levar a um mesmo
ponto de chegada.

VAMOS RECORDAR?
A fim de continuar refletindo sobre as emoções no campo
das religiosidades, convido você a assistir à aula do profes-
sor Flavio Williges, da Universidade Federal de Santa Maria.

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DESENVOLVA SEU POTENCIAL

OS SÍMBOLOS NAS CULTURAS E RELIGIOSIDADES AFRO--


BRASILEIRAS

A Umbanda é uma das


religiões de matriz afri-
cana no Brasil, sendo co-
nhecida por suas práticas
rituais e crenças híbridas
que mesclam elementos
de distintas tradições
religiosas, como afri-
canismo, cristianismo,
hinduísmo e kardecismo.
A palavra Umbanda é de-
rivada de Umbundo e Quimbundo, que significa ciência médica. Trata-se de uma
religião monoteísta com crença nos orixás, nos anjos, nos santos católicos, em Jesus
Cristo, na ação dos espíritos, na reencarnação, na mediunidade e no exercício do
livre arbítrio. Costumamos falar de Umbanda sem nos atentarmos às suas diversas
ramificações, que geram diferentes práticas e rituais.


Dentro do Universo da Umbanda, tem-se a Umbanda de Almas e An-
gola, que é uma união entre a Umbanda Tradicional e os ritos africa-
nistas do Candomblé de Angola, a Umbanda Branca ou de Mesa, no
qual não se utilizam elementos africanos, não trabalham com Exus
e Pomba-giras, mas trabalham com Caboclos, Preto-velhos e Crian-
ças, assim com a sua base doutrinária os livros espíritas. A Umbanda
de Caboclo, onde o foco é nos Caboclos e com forte influência com
as culturas indígenas. A Umbanda Esotérica, que tem como seu re-
presentante e difusor W. W. Matta Pires, no qual visa o conjunto de
leis divinas, também fazem uso de práticas consideradas de cunho
esotérico-ocultista (cristais, numerologia, mantras, meditação, etc.).
Umbanda Iniciática, derivada da Umbanda Esotérica, fundamentada

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por Rivas, possui grande influência da cultura oriental principalmente


em termos de mantras indianos e utilização do sânscrito, e há a crença
de que a Umbanda é originária de dois continentes míticos perdidos,
Lemúria e Atlântida. A Umbanda Omolocô, que se encontra conjura-
ção dos cultos dos Orixás e Guias e das Linhas de Umbanda, a Um-
banda Popular ou mais conhecida como macumba, onde possui um
forte sincretismo dos Orixás com os santos católicos. A Umbanda de
Preto-velho, que seria a Umbanda que tem em seu comando ao Pre-
to-velhos. A Umbanda Traçada ou Umbandonblé, no qual em dias e
horários diferenciados, o sacerdote Umbanda ou/e Candomblé. E por
último a Umbanda Tradicional ou espiritualista, que é organizada por
Zélio Ferdinando (LEITE, 2018, p.1 6-17).

No campo do simbólico, de maneira geral, as religiões brasileiras de matriz afri-


cana utilizam uma variedade de materiais, cores e adornos em seus rituais. Como
afirma Danielle Romani, as cerimônias sagradas são carregadas de plasticidade
e simbolismo nos gestos, nas roupas e nos adereços das ialorixás, babalorixás e
iaôs. “O imaterial e o material mantêm um tênue limite, como se os orixás e os
seus devotos fossem uma única pessoa” (ROMANI, 2013, on-line).
Um dos símbolos mais presentes no Brasil são os fios de contas, também
chamados de guias, considerados objetos sagrados. Cada orixá é representa-
do por cores diferentes, e o uso dos fios de contas, como colares, braceletes ou
bordados nas vestimentas, associa a pessoa à sua devoção aos orixás. Seu uso é
obrigatório para filhos de santo do candomblé.


As cores das contas dos orixás sofrem pequenas alterações, depen-
dendo da nação do candomblé. Exu, normalmente, tem contas pretas
intercaladas com vermelhas ou cinzas, apesar dos xambás usarem as
cores branca e preta. As de Ogum alternam-se entre o verde ou o azul-
-marinho. As de Ossaim são verdes, ou verdes rajadas de branco. Para
Oxóssi, é utilizado o azul-turquesa. Omolu tem cores que variam entre
brancas raiadas de preto e marrom. Oxumaré, o orixá do arco-íris,
aceita as verdes raiadas de amarelo. Oxum, a deusa da beleza e do ouro,
adorna seus filhos com contas douradas ou de âmbar (alguns aceitam
o amarelo). Iansã, a senhora dos ventos e tempestades, se associa às
contas marrom ou cor de coral. Iemanjá, a rainha do amor, é cultuada

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com contas brancas translúcidas ou de cristal (apesar de alguns utili-


zarem um azul-turquesa). Xangô, o mais popular orixá dos terreiros
pernambucanos, traz contas vermelhas ou marrons, intercaladas com
contas brancas. Os filhos de Oxalá, que no sincretismo religioso bra-
sileiro é equiparado a Jesus, usam contas brancas leitosas. Em todos os
casos, independentemente do orixá ou das cores, todas trazem o seu
axé (ROMANI, 2013, on-line).

Outros adornos relacionam os orixás com objetos. Iemanjá costuma ser associada
a peixes, Xangô pode ser associado a um machado, e Oxalá, a uma pomba. Con-
tudo essa simbologia não integra os fundamentos do candomblé, por exemplo,
sendo utilizada como um costume popular.

IN D ICAÇÃO DE LI V RO

Joias de axé, fios de contas e outros adornos do corpo: a


joalheria afro-brasileira
Autor: Raul Lody
Sobre o livro: escrito pelo antropólogo Raul Lody, o livro aborda a
multiplicidade dos adornos nas religiões de matriz africana. São
destacadas as habilidades adquiridas pelos artesãos dos cultos
afros nos últimos séculos, sejam aquelas trazidas dos países do
continente Africano, sejam as adquiridas em território brasileiro,
ao qual chegaram como escravos. É muito interessante aprender
sobre a importância dos fios de contas, dos objetos sagrados e
do reconhecimento para o povo de santo.

O culto aos orixás é repleto de simbolismos associados a cores, comidas, dias


da semana e características pessoais. Há algumas variações entre as religiões de
matriz africana, mas podemos citar, como exemplo, Iemanjá, orixá feminino,
representada pela água, considerada a mãe dos orixás. Ogum é senhor da me-
talurgia, tendo domínio sobre o ferro e o aço e todas as ferramentas feitas com
esses materiais, como a lança, o martelo, a faca, a ferradura e a enxada. Assim,
seu símbolo é a espada, em referência à luta e ao trabalho. No sincretismo das
religiões afro-brasileiras, Ogum é associado a São Jorge, o cultuado Santo Guer-
reiro da religião católica. Conforme Gaarder, Hellern e Notaker (2000):

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EXU

Orixá mensageiro, guardião das encruzilhadas e da entrada das casas. Saudação:


Laroyê! Sexo: masculino. Elemento natural: minério de ferro. Cores das roupas e
dos colares: vermelho e preto. Sincretismo: diabo.

OXÓSSI (OU ODE)

Orixá da caça, deus da fauna. Saudação: Okê arô! Sexo: masculino. Elemento
natural: florestas e matas. Cores das roupas e dos colares: azul-turquesa e verde.
Sincretismo: São Sebastião e São Jorge.

OSSAIM

Orixá da vegetação, deus das folhas. Saudação: Euê assá! Sexo: masculino.
Elemento natural: folhas. Cores das roupas e dos colares: verde e branco.
Sincretismo: santo Onofre.

OXUMARÊ

Orixá do arco-íris. Saudação: Arrumbobô! Sexo: andrógino. Elemento natural:


chuva e condições atmosféricas. Cores das roupas e dos colares: amarelo, verde
e preto. Sincretismo: São Bartolomeu.

XANGÔ

Orixá do trovão, deus da justiça. Saudação: Kaô kabiessi! Sexo: masculino.


Elemento natural: trovoadas, raios e pedras de raio. Cores das roupas e dos
colares: vermelho, marrom e branco. Sincretismo: São Jerônimo, São João
Batista.

LANSÃ (OU OIÁ)

Orixá do relâmpago, dona dos espíritos dos mortos. Saudação: Eparrei! Sexo:
feminino. Elemento natural: relâmpagos, raios, ventos, tempestade. Cores
das roupas e dos colares: marrom e vermelho-escuro ou branco. Sincretismo:
Santa Bárbara.

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OBÁ

Orixá da água, deusa do trabalho doméstico e do poder da mulher. Saudação:


Obá xi! Sexo: feminino. Elemento natural: rios. Cores das roupas e dos colares:
vermelho e dourado. Sincretismo: Santa Joana d’Arc.

OXUM

Orixá das águas doces e do ouro, deusa do amor e da fertilidade. Saudação:


Ora yeyê ô! Sexo: feminino. Elemento natural: rios, lagoas e cachoeiras. Cores
das roupas e dos colares: amarelo ou dourado. Sincretismo: Nossa Senhora da
Conceição, Nossa Senhora Aparecida.

NANÃ

Orixá da lama do fundo das águas. Saudação: Saluba! Sexo: feminino. Elemento
natural: lama, pântanos. Cores das roupas e dos colares: lilás, azul e branco.
Sincretismo: Santa Ana.

OXAGUIÃ (OXALÁ JOVEM)

Orixá da criação da cultura material, da sobrevivência. Saudação: Epa Babá! Sexo:


masculino. Elemento natural: ar. Cores das roupas e dos colares: branco com um
mínimo de azul real. Sincretismo: Menino Jesus.

OXALUFÃ OU OBATALÁ (OXALÁ VELHO)

Orixá da criação da humanidade. Saudação: Epa Babá! Sexo: andrógino. Elemento


natural: ar, sopro da vida. Cor das roupas e dos colares: branco. Sincretismo:
Jesus Crucificado, Cristo Redentor, Senhor do Bonfim.

Em relação às vestimentas, nos rituais da Umbanda, são utilizadas vestes brancas,


significando pureza, tranquilidade e limpeza. A limpeza física e espiritual, tam-
bém, é simbolizada pela água, presente em banhos ritualísticos com ervas. Acre-
dita-se que os banhos restabelecem o equilíbrio energético. As ervas variam de
acordo com os objetivos dos banhos: sorte, saúde ou felicidade.

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IN D ICAÇ ÃO DE FI LM E

Àkàrà: no fogo da intolerância


Trata-se de um documentário que se une à luta contra a
intolerância que atinge, principalmente, as religiões de
matriz africana, discutindo um tema que sai do âmbito
religioso e que envolve até a forma como está sendo
conduzida a política governamental no Brasil. A partir
da conflitante realidade do acarajé, um dos pratos mais
tradicionais da culinária popular afro-brasileira, que vem
sofrendo uma série de adaptações regidas, principalmente,
pelo credo religioso de quem o prepara e comercializa,
percorremos caminhos diversos fazendo um apanhado dos
casos de intolerância religiosa mais marcantes acontecidos
nos últimos anos. Uma análise histórica desde a perspectiva
de quem sofre esse tipo de violência e a relação dessa com
o racismo estruturante instaurado na sociedade brasileira.
Refletindo sobre a história: o documentário, da diretora
Claudia Chavez, apresenta os depoimentos e o dia a dia
de três baianas de acarajé intercalando com explicações
de sociólogos, pesquisadores e ativistas de lutas anti-
intolerância religiosa.

Entre os símbolos sagrados da Umbanda, estão os pontos riscados, muitas vezes,


utilizados no início de uma cerimônia, com o objetivo de chamar as entidades
a serem trabalhadas, garantir a chegada dos guias, homenagear orixás e trazer
boas energias. Trata-se de símbolos, como círculo, tridente (associado a Exu),
hexagrama e triângulos entrelaçados.

E U IN D ICO

Estudante, você está convidado a saber mais sobre os pontos


riscados e aprender a identificá-los.

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OS SÍMBOLOS NOS MOVIMENTOS ESPIRITUALISTAS

Nesse estudo dos movi-


mentos espiritualistas,
focaremos nos conceitos
de Xamanismo e Wicca.
O primeiro diz respeito a
um conjunto de crenças
ancestrais que engloba
práticas de magia e evo-
cações para estabelecer
contato com o mundo
espiritual. O xamã seria
a pessoa com a capacida-
de de entrar em transe e
se conectar com os espíritos, a fim de realizar processos de cura de doenças,
dominar os elementos da natureza, predizer o futuro e afastar o mal.
O xamã é considerado alguém com grande poder de transformação, sendo
possível assumir a forma de outro ser, como um animal. Sua capacidade de viajar
a outro mundo lhe permite transcender. Os xamãs podem descobrir o espírito
animal guardião que existe no interior de cada um. Cada animal possui signi-
ficados próprios. O lobo, por exemplo, representa aptidões sociais, fidelidade e
generosidade. O urso está relacionado com o inconsciente e representa os ins-
tintos. A coruja representa o caminho para a sabedoria.

A P RO F UNDA NDO

O Xamanismo baseia-se em práticas ancestrais muito antigas, passadas ao lon-


go das gerações. No século XX, transformou-se em uma filosofia de vida que
permite a busca de equilíbrio, conhecimento, tranquilidade e bem-estar físico e
espiritual. A crença na sabedoria levando à uma transformação interior.

As práticas e técnicas usadas no Xamanismo incluem danças, músicas, batidas


de tambores e outros instrumentos musicais com grande carga simbólica.

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Figura 1 - Tambor xamânico

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia do instrumento musical tambor, que tem formato
esférico com pele de animal na cor bege. Abaixo dele, há um tapete de pele de animal na cor bege sobre um piso
de madeira clara. Sobre o tambor, há uma baqueta de madeira com ponta de tecido na cor marrom. À esquerda,
há um recipiente de metal esférico e, ao fundo, plantas verdes. Fim da descrição.

Os seguidores, também, praticam meditação e fazem rodas de conhecimento,


a fim de partilhar testemunhos e histórias. No Brasil, muitos grupos indígenas
praticam tradições xamânicas ancestrais, tendo xamãs como lideranças.

WICCA

Também identificada como bruxaria, a Wicca é uma religião xamânica ba-


seada em antigos rituais pagãos. Seus seguidores se autodenominam bruxos,
palavra estigmatizada ao longo da história devido ao período da Inquisição,
quando a Igreja Católica perseguiu e condenou à fogueira milhares de pessoas
consideradas bruxas.

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O estigma da Wicca, ou bruxaria, atribui à essa crença o satanismo, ou seja, a


adoração ao diabo, ou demoníaco, ligando a bruxaria, exclusivamente, à chamada
magia negra, mesmo a religião não acreditando na dualidade entre Deus e Dia-
bo. A identificação das bruxas ao Diabo é fundamentada pelo cristianismo, que
relacionou, durante a Idade Média, a sexualidade feminina ao mal.


Eva, seduzida pela serpente, comeu o fruto proibido por Deus e
induziu Adão ao mesmo ato condenando, assim, toda a humanida-
de a nascerem do pecado, ou seja, o sexo. Tais elementos produzi-
ram ‘discursos diagnósticos’ da presença do Diabo na humanidade
principalmente relacionado à sexualidade das mulheres, no qual o
sexo era visto como um caminho mais fácil de chegar à perdição,
satisfazendo os desejos insaciáveis do Diabo. Acreditava-se que a
aquisição dos poderes sobrenaturais por uma bruxa era através do
sexo com Diabo, em sua forma ‘real’, o que era caraterizado como
um processo doloroso (LEITE, 2018, p. 14-15).

Tais discursos que associam o mal à sexualidade feminina ainda persistem em dias
atuais, gerando muita incompreensão acerca do sagrado feminino nas religiões,
incluindo a Wicca. Na verdade, essa crença fundamenta-se nas relações das pessoas
com os elementos da natureza, sendo o feminino a personificação da mãe natureza,
a maior força do universo. Assim como nas religiosidades indígenas, os seres hu-
manos, outros animais e os elementos naturais teriam uma relação de irmandade.

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Num passado bem distante a Grande Mãe, criadora do Universo,
era divinizada. A mulher, na Terra, representava os poderes gera-
dores desta Grande Mãe, pois partilhava com ela do mesmo poder:
criar vida. Com o passar do tempo, as Deusas receberam diversos
nomes: Gaia, a Mãe Terra; Afrodite, a Deusa do amor; Ganga, a
Deusa representada no Rio Ganges (Índia); e Pele, na mitologia
havaiana, que é a Deusa do Fogo e dos Vulcões. Atualmente, en-
contramos alguns seguidores da antiga religião da Deusa, também
chamada de Wicca. Os seguidores da religião da velha Mãe acredi-
tam que as mulheres são portadoras de um princípio sagrado e que
seus corpos são divinos (PARANÁ, 2013, p. 60).

A Wicca é muito praticada em países da Europa, tendo sido introduzida no Brasil


na segunda metade do século XX. A partir de 1990, houve maior contato entre
wiccanos brasileiros e estrangeiros, ocorrendo uma regularização da religião no
país. Atualmente, existem seguidores de Wicca por todo o Brasil.
Entre os símbolos da Wicca, o
principal é o pentagrama, formado
por uma estrela de cinco pontas in-
serida em um círculo. Cada ponta
representa um elemento da nature-
za (ar, terra, fogo e água), além do
espírito. O pentagrama é utilizado
em forma de pingentes e em rituais
praticados pelos seguidores.
Assim, xamanismo, magia,
bruxaria ou espiritismo são al-
gumas das formas que grupos
humanos se relacionam com o
mundo espiritual. Essas diferen-
tes maneiras de viver as experiên-
cias e emoções religiosas podem
unir ou afastar as comunidades Figura 2 - Pentagrama
pelo mundo. O estudo das plura- Descrição da Imagem: a figura apresenta a imagem de um
lidades religiosas pode contribuir símbolo esférico com uma estrela de cinco pontas vazada
no interior do círculo. Fim da descrição.
com o diálogo inter-religioso.

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IN D ICAÇÃO DE FI LM E

A História de Deus
A crença em algo divino é algo que tanto une como sepa-
ra os homens, e Morgan Freeman deseja responder às suas
questões pessoais, em A História de Deus, numa viagem à vol-
ta do mundo para conhecer, por meio da história e da ciência, o
que é que nos une às nossas crenças.
Refletindo sobre a história: o documentário aborda as distin-
tas opiniões da humanidade a respeito dos mistérios que a fé humana provoca. A
primeira temporada tem seis episódios que falam sobre a criação, quem é Deus, a
razão pela qual o mal existe, milagres, apocalipse e morte. A segunda temporada
tem três episódios sobre profetas, médiuns, padres, sacerdotes, santos e diversos
outros líderes de diferentes religiões. É interessante perceber que, independente-
mente de culturas ou crenças, o ser humano busca pelas mesmas respostas, e as
religiões trazem essas respostas de formas bem parecidas umas com as outras.

NOVOS DESAFIOS
Estudante, é interessante perceber que, nas últimas décadas, o Brasil avançou em
sua legislação em relação ao quadro religioso pluralista entre as religiosidades.
Desde 1988, por exemplo, com a Constituição Brasileira, a prática dos cultos
afro-brasileiros deixou de ser enquadrada no crime de contravenção penal. Con-
tudo, ainda, precisamos avançar enquanto sociedade em relação ao preconceito
e à perseguição das práticas afro-religiosas ou práticas mágicas.
Nosso pluralismo é complexo e dinâmico, com a incorporação de novas reli-
giosidades e adoção de novas práticas, muitas vezes, com um hibridismo presente
em uma mesma experiência religiosa. Muitas pessoas frequentam várias religiões
e acreditam em sistemas simbólicos distintos, internalizando a complexidade cul-
tural que caracteriza o Brasil e marca uma difícil separação entre religião e ética.
Temos estudado muito sobre os fenômenos religiosos, tão importantes para a
normatização da vida em sociedade. Por meio das tradições religiosas, discursos
representam valores, imaginários e dogmas passados para as pessoas, gerando a
construção de sentidos e significados socialmente compartilhados. Assim, nesse
processo de partilha de significados, ocorrem os diálogos e a necessidade de
acolher o pluralismo religioso. Não basta a constatação da pluralidade étnica,
cultural e religiosa, o diálogo inter-religioso requer o entendimento de que a
diversidade é um valor não negociável.
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VAMOS PRATICAR

1. “Dentro do Universo da Umbanda, tem-se a Umbanda de Almas e Angola, que é uma


união entre a Umbanda Tradicional e os ritos africanistas do Candomblé de Angola,
a Umbanda Branca ou de Mesa, no qual não se utilizam elementos africanos, não
trabalham com Exus e Pomba-giras, mas trabalham com Caboclos, Preto-velhos e
Crianças, assim com a sua base doutrinária os livros espíritas. A Umbanda de Cabo-
clo, onde o foco é nos Caboclos e com forte influência com as culturas indígenas. A
Umbanda Esotérica, que tem como seu representante e difusor W. W. Matta Pires, no
qual visa o conjunto de leis divinas, também fazem uso de práticas consideradas de
cunho esotérico-ocultista (cristais, numerologia, mantras, meditação, etc.). Umbanda
Iniciática, derivada da Umbanda Esotérica, fundamentada por Rivas, possui grande in-
fluência da cultura oriental principalmente em termos de mantras indianos e utilização
do sânscrito, e há a crença de que a Umbanda é originária de dois continentes míticos
perdidos, Lemúria e Atlântida” (LEITE, 2018, p. 16-17).
Fonte: LEITE, S. A. O. De Guardião a Demônio: a Representação da Entidade Exu na
Umbanda Espiritualista. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Antropo-
logia) – Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História, Universidade Federal da
Integração Latino-Americana, Foz do Iguaçu, 2018.

A partir da afirmação anterior, aponte qual das alternativas apresenta uma caracterização
da descrição apresentada.

a) Separatismo religioso.
b) Hibridismo religioso.
c) Sectarismo religioso.
d) Culturalismo religioso.
e) Somatismo religioso.

2. “O imaterial e o material mantêm um tênue limite, como se os orixás e os seus devotos


fossem uma única pessoa” (ROMANI, 2013, on-line).
Fonte: ROMANI, D. Fios e Contas: Símbolos de Fé e Proteção. Revista Continente, 1
ago. 2013. Disponível em: https://revistacontinente.com.br/edicoes/152/fios-e-contas-
--simbolos-de--fe-e-protecao. Acesso em: 4 set. 2023.

Levando em consideração o excerto anterior que aborda as cerimônias sagradas da


Umbanda, sobre os aspectos carregados de simbolismo, analise as afirmativas a seguir.

I - Gestos.
II - Roupas.
III - Adereços.

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VAMOS PRATICAR

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

3. “Orixá das águas doces e do ouro, deusa do amor e da fertilidade. Saudação: Ora yeyê
ô! Sexo: feminino; elemento natural: rios, lagoas e cachoeiras; cores das roupas e co-
lares: amarelo ou dourado; sincretismo: Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora
Aparecida” (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 321-324).
Fonte: GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2000.

De acordo com o excerto anterior, aponte qual das alternativas apresenta o nome do
orixá descrito:

a) Exú.
b) Xangô.
c) Obá.
d) Iansã.
e) Oxum.

4. “As cores das contas dos orixás sofrem pequenas alterações, dependendo da nação
do candomblé. Exu, normalmente, tem contas pretas intercaladas com vermelhas ou
cinzas, apesar dos xambás usarem as cores branca e preta. As de Ogum alternam-se
entre o verde ou o azul-marinho” (ROMANI, 2013, on-line).
Fonte: ROMANI, D. Fios e Contas: Símbolos de Fé e Proteção. Revista Continente, 1
ago. 2013. Disponível em: https://revistacontinente.com.br/edicoes/152/fios-e-contas-
--simbolos-de--fe-e-protecao. Acesso em: 4 set. 2023.

Em relação a um dos nomes dado ao fio de contas descrito, analise as afirmativas a seguir.

I - Guias.
II - Colares sagrados.
III - Colar de Exú.
IV - Guardião.

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VAMOS PRATICAR

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) II e IV, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.

5. “Eva, seduzida pela serpente, comeu o fruto proibido por Deus e induziu Adão ao mes-
mo ato condenando, assim, toda a humanidade a nascerem do pecado, ou seja, o
sexo. Tais elementos produziram “discursos diagnósticos” da presença do Diabo na
humanidade principalmente relacionado à sexualidade das mulheres, no qual o sexo
era visto como um caminho mais fácil de chegar à perdição, satisfazendo os desejos
insaciáveis do Diabo” (LEITE, 2018, p. 14-15).
Fonte: LEITE, S. A. O. De Guardião a Demônio: a Representação da Entidade Exu na
Umbanda Espiritualista. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Antropo-
logia) – Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História, Universidade Federal da
Integração Latino-Americana, Foz do Iguaçu, 2018.

Em relação ao excerto anterior, analise as afirmativas a seguir.

I - A magia negra praticada pelas bruxas cultua o Diabo e o sexo.


II - A identificação das bruxas ao Diabo é fundamentada pelo cristianismo.
III - Eva é considerada pelos cristãos a primeira bruxa da história da humanidade.
IV - O cristianismo relacionou, durante a Idade Média, a sexualidade feminina ao mal.

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) II e IV, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.

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REFERÊNCIAS

GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000.
LEITE, S. A. O. De Guardião a Demônio: a Representação da Entidade Exu na Umbanda
Espiritualista. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Antropologia) – Instituto
Latino-Americano de Arte, Cultura e História, Universidade Federal da Integração Latino-A-
mericana, Foz do Iguaçu, 2018.
PARANÁ. Ensino religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR, 2013. Dispo-
nível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_er_19_3_2015.pdf.
Acesso em: 30 ago. 2023.
ROMANI, D. Fios e Contas: Símbolos de Fé e Proteção. Revista Continente, 1 ago. 2013.
Disponível em: https://revistacontinente.com.br/edicoes/152/fios-e-contas--simbolos-de-
-fe-e-protecao. Acesso em: 4 set. 2023.

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GABARITO

1. Opção B. A Umbanda é uma das religiões de matriz africana no Brasil, sendo conhecida
por suas práticas rituais e crenças híbridas que mesclam elementos de distintas tradições
religiosas, como africanismo, cristianismo, hinduísmo e kardecismo, caracterizando-se
por um hibridismo religioso.

2. Opção E. No campo do simbólico, de maneira geral, as religiões brasileiras de matriz afri-


cana utilizam uma variedade de materiais, cores e adornos em seus rituais. Como afirma
Danielle Romani, as cerimônias sagradas são carregadas de plasticidade e simbolismo
nos gestos, nas roupas e nos adereços das ialorixás, babalorixás e iaôs.

3. E. O culto aos orixás é repleto de simbolismos associados a cores, comidas, dias da se-
mana e características pessoais. Oxum é o orixá das águas doces e do ouro, deusa do
amor e da fertilidade.

4. Opção A. Um dos símbolos mais presentes no Brasil são os fios de contas, também
chamados de guias, considerados objetos sagrados. Cada orixá é representado por cores
diferentes, e o uso dos fios de contas, como colares, braceletes ou bordados nas vesti-
mentas, associa a pessoa à sua devoção aos orixás. Seu uso é obrigatório para filhos de
santo do candomblé.

5. Opção B. A palavra bruxa foi estigmatizada ao longo da história devido ao período da In-
quisição, quando a Igreja Católica perseguiu e condenou à fogueira milhares de pessoas
consideradas bruxas. O estigma da Wicca, ou bruxaria, atribui à essa crença o satanismo,
ou seja, a adoração ao diabo, ou demoníaco, ligando a bruxaria, exclusivamente, à cha-
mada magia negra, mesmo a religião não acreditando na dualidade entre Deus e Diabo.
A identificação das bruxas ao Diabo é fundamentada pelo cristianismo, que relacionou,
durante a Idade Média, a sexualidade feminina ao mal.

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MINHAS ANOTAÇÕES

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