Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 16

AO JUÍZO DA MM.

1ª VARA DO TRABALHO DE MANAUS DO ESTADO DO


AMAZONAS

PROCESSO Nº 0000278-02.2021.5.11.0012

ESSENCIAL SISTEMA LTDA, pessoa jurídica, já devidamente qualificada nos autos


em epígrafe, por seus advogados in fine assinados, com escritório na Avenida Rio
Madeira nº 888, Nossa Senhora das Graças, Manaus/AM, CEP 7777-000, proposta
por BRUNO SOARES DE AQUINO, em trâmite perante essa MM. Vara, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, oferecer

CONTESTAÇÃO

À Reclamatória Trabalhista que lhe move em face de BRUNO SOARES DE


AQUINO, fundamentada nas razões de fato e de direito, que a seguir, passa a
expor:

I- DOS FATOS

Trata-se de Reclamação Trabalhista motivada pelas medidas adotadas em face da


grave crise econômica enfrentada pela empresa, decorrente da Pandemia.

1. DO CONTRATO DE TRABALHO

O contestante foi admitido em 10/10/2021, para exercer a função de VIGILANTE


PATRIMONIAL. Para tanto, recebia um salário inicial de R$ 1547,12 (um mil,
quinhentos e quarenta e sete reais e doze centavos) por mês. Foi demitido sem justa
causa em 10/11/2022.

1/16
Excelência, a parte contrária alega que a demissão sem justa causa ocorreu sem
aviso prévio, porém no dia 03/10/2022, em uma segunda-feira, após uma conversa
com a contestada, o reclamante assinou o documento no qual constava a ciência
deste do desligamento da empresa. O documento, assinado pelo reclamante trata-se
do aviso prévio, feito nas conformidades da lei. Art 487, II CLT, a qual dispõe 30 dias
de antecedência.

Art. 487 - Não havendo prazo estipulado, a parte que,


sem justo motivo, quiser rescindir o contrato deverá avisar
a outra da sua resolução com a antecedência mínima de:

II - trinta dias aos que perceberem por quinzena ou


mês, ou que tenham mais de 12 (doze) meses de serviço
na empresa.

Documento em anexo

2/16
Oportuno se torna dizer Excelência, que ao apresentar fatos que contradizem a
realidade, a parte contrária mostra não agir conforme a boa-fé objetiva, ao alegar
não receber o aviso prévio, descumpre o observado no artigo 422 CC/2002

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na


conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.

Também não é verdade o que a parte contrária alega sobre a duração do contrato
de trabalho, pois o contestante foi contratado para trabalhar na escala 5x2 e

3/16
completava às 44h (quarenta e quatro horas) semanais no horário comercial,
conforme comprovado na folha de ponto. Documento em anexo

Contudo, Excelência, após uma reunião realizada no dia 29/09/2022, reunião


realizada às 7h da quinta-feira, decidiu por meio de votação, desligar 5 (cinco)
funcionários, dos quais o contestante estava incluso. Reunião comprovada por meio
de ata, e os nomes dos funcionários desligados comprovado por meio do documento
do RH. Documentos em anexo

4/16
Excelência, no dia 03/10/2022, os avisos prévios foram assinados pelos envolvidos,
logo após a reunião mencionada. Cada funcionário foi abordado individualmente, e
todos, inclusive o reclamado, pareceram estar em bom entendimento sobre a
situação financeira da empresa, inclusive não houve qualquer desentendimento
entre a contestada e o contestante.

Tona-se oportuno também afirmar, que no dia 24/10/2022 a contestada foi informada
a respeito da saúde do reclamante, contudo, neste período ele já se encontrava em
aviso prévio, e não havia estabilidade comprovada.

Excelência, mesmo após receber a notícia da grave doença, a contestada nunca


tratou o funcionário com discriminação ou preconceito. Pelo contrário, sempre
buscou acolhê-lo durante esse momento de fragilidade. Tanto é verdade que, em
27/10/2022, o requerente foi homenageado durante o evento de comemoração do
aniversário da empresa. Isso é comprovado por meio de fotos, inclusive postado na
rede social do reclamante. Documento em anexo

5/16
6/16
Além disso, Excelência, não procede a alegação da parte contrária de que o
contestante passou a fazer suas refeições separadamente dos demais funcionários.

Na realidade, ele sempre interagiu com os colegas, participando de conversas em


grupo e nunca foi excluído por eles. Além disso, o próprio reclamante, em diversas
ocasiões, demonstrou ser sociável por meio de postagens em suas redes sociais,
especialmente após a data de 24/10/2022, conforme observado. Documento em
anexo.

7/16
8/16
Excelência é improcedente a alegação que a vigilância do estoque se tratava de um
isolamento do reclamante do convívio social.

Evidentemente, excelência, durante todos os meses trabalhados, três vigilantes por


meio de escala de revezamento ficavam na dependência do estoque, no período não
superior às 2h (duas horas). O contestante assinava o documento de revezamento,

9/16
e estava ciente da escala desde sua contratação. Não obstante, não apenas aquele
setor é monitorado por câmeras de vigilância como toda extensão da propriedade da
empresa, porém, o uso de câmeras não substitui o exercício laboral do vigilante,
motivo este pelo qual houve a própria contratação. Documento em anexo

II - DAS PRELIMINARES

1. Da incorreção do valor da causa

Primeiro, é necessário impugnar a petição inicial quanto ao valor da causa, eis que o
contestante chega ao montante absurdo de R$10.000,00, valores relativos à pena
de multa (astreintes), totalizando 38.900,00, o qual atribui ao somatório dos pedidos.

Ocorre Excelência, que os valores atribuídos pelo contestante são temerários, e com
certeza foram incluídos na petição inicial aleatoriamente.

Assim, merece ser acolhida a presente preliminar de incorreção quanto ao valor da


causa, devendo o mesmo ser alterado para valor compatível com os pedidos em si e
com proveito econômico pretendido através de cada pleito, devendo ser observado,
no caso de sucumbência da contestada, os aspectos ora suscitados.

2. Inépcia da petição inicial

Vem a parte contestante, anteriormente a discussão do mérito, requerer que seja


julgado improcedente o pedido autoral, nos termos precisos do artigo 330, inciso I,
do CPC, “in verbis”:

“Art.330. A petição inicial será indeferida quando:

I – for inepta;

[...]

10/16
§1° Considera-se inepta a petição inicial quando:

I – lhe faltar pedido ou causa de pedir;

II – O pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses


legais em que se permite o pedido genérico;

III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a


conclusão;

IV – Contiver pedidos incompatíveis entre si. ”

Como disposto no artigo supracitado, é exigido que o pedido seja claro, coerente,
certo e determinado, não se admitindo pedido implícito, ou seja, aquele reputado
formulado, mesmo sem ter sido feito expressamente.

Na peça inicial, dos fatos, não ficou claro sobre a reintegração do contestante, uma
vez que os fatos narrados não decorrem logicamente à conclusão, além disso, não
foi capaz de indicar os motivos para reestabelecer a posse completa do cargo, ou
seja em devolver ao contestante o vínculo de emprego. Hodiernamente, não houve
abuso de poder da empresa com o empregado, pois o mesmo descumpriu o
contrato de trabalho, que deixou de arcar suas obrigações devido ao ato de
indisciplina e insubordinação, comportamento vedado pelo empregador.

Pelo exposto, resta claro, a toda evidência, que o pedido deduzido na inicial não é
certo. Assim, diante da evidente inépcia da inicia, impõe-se a extinção sem
julgamento do mérito, como preconiza o artigo 485, inciso I, c/c artigo 330, inciso I e
§1°, inciso II, ambos do CPC, c/c artigo 769, CLT.

III- DO MÉRITO

Excelência, por meio dos fatos apresentados, torna oportuno evocar o princípio da
primazia da realidade, conforme provas já alencadas nos autos, fica comprovado
que o contestante está agindo de má-fé contra a reclamada. Pois em momento
algum os direitos trabalhistas do contestante foram desrespeitados, em momento
nenhum a contestada o discriminou, pelo contrário, o acolheu.

11/16
Devido às discrepâncias substanciais entre o caso concreto em questão e o
paradigma estabelecido na Súmula 443, SOLICITO QUE NÃO SE APLIQUE O
ENTENDIMENTO SUMULADO POR MEIO DA TÉCNICA DO DISTINGUISHING. As
circunstâncias do caso paradigma são distintas dos presentes no caso em análise, o
que torna inadequada a sua aplicação direta.

A contestada, não tinha conhecimento da doença do reclamante no momento do


aviso prévio. Como visto, o aviso prévio ocorreu no dia 03/10/2022, e o requerente
informou sobre a doença apenas no dia 24/10/2022. Ou seja, excelência, 21(vinte e
um) dias após a assinatura do aviso prévio.

Conforme a jurisprudência do TST PROCESSO Nº TST-RR-21534-


25.2017.5.04.0662

A corte entendeu: “Muito embora haja precedentes


desta Corte Superior no sentido de que se presume
discriminatória a dispensa do empregado portador de
neoplasia maligna, necessário se faz aplicar a técnica
do distinguishing para superar os precedentes neste
caso concreto, uma vez que o quadro fático delimitado
no acórdão regional é de que a Reclamada não tinha
conhecimento da doença quando emitiu o aviso prévio,
pois os primeiros exames que comprovam o
acometimento da doença são posteriores ao fim do
vínculo, de modo que não há como concluir que houve
abuso de direito ou má-fé da Reclamada”.

1. DA FORÇA MAIOR

Excelência, com base no contexto temporal, apesar das inúmeras tentativas de


manter o quadro de funcionários, a reclamada estava enfrentando as consequências
da pandemia, que se agravaram no país nos anos de 2019 e 2020. Mesmo diante
das adversidades decorrentes da pandemia e da crise econômica, nos anos de 2021
e 2022, a reclamada empenhou-se em preservar seu corpo funcional.

12/16
Todavia, essa decisão foi pautada pelo Princípio da Função Social da Empresa,
conforme estabelecido no artigo 170, inciso III, da Constituição Federal de 1988, o
qual preconiza:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados
os seguintes princípios:

[..]

III - função social da propriedade;

É de notório conhecimento que, em razão da PANDEMIA do vírus SARS-CoV-2


("coronavírus"), causador da doença COVID-19, as Autoridades Públicas foram
obrigadas a tomar uma série de medidas que restringem a circulação de pessoas,
bem como estabelecem a suspensão de inúmeras atividades econômicas, restando
ativas somente as atividades consideradas como essenciais, cumprindo assim as
determinações previstas nos Decretos Federais nº 10.282/2020 e 10.292/2020.

Portanto os efeitos da pandemia sobre as relações jurídicas devem ser analisados


pelo Poder Judiciário, uma vez que perfeitamente enquadrados como FATO
SUPERVENIENTE e de FORÇA MAIOR.

A Medida Provisória nº 927/2020 previu em seu Art. 1º expressamente que para


efeitos trabalhistas, o estado de Calamidade Pública configura Força Maior:

Art. 1º. (...) Parágrafo único. O disposto nesta Medida


Provisória se aplica durante o estado de calamidade
pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de
2020, e, para fins trabalhistas, constitui hipótese de
força maior, nos termos do disposto no Art. 501 da
Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo
Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.

Nesse sentido, conceitua a CLT:

Art. 501 - Entende-se como força maior todo acontecimento


inevitável, em relação à vontade do empregador, e para a
realização do qual este não concorreu, direta ou indiretamente.

13/16
Assim, sendo tipificado por lei que a pandemia caracteriza força maior e, sendo
evidenciado que as atividades econômicas foram suspensas, causando grave
impacto na saúde econômica da empresa, tem-se pela possibilidade de aplicação do
Art. 502 da CLT que assim prevê:

Art. 502 - Ocorrendo motivo de força maior que determine a


extinção da empresa, ou de um dos estabelecimentos em que
trabalhe o empregado, é assegurada a este, quando
despedido, uma indenização na forma seguinte:

I - sendo estável, nos termos dos arts. 477 e 478;

II - não tendo direito à estabilidade, metade da que seria


devida em caso de rescisão sem justa causa;

III - havendo contrato por prazo determinado, aquela a que


se refere o art. 479 desta Lei, reduzida igualmente à
metade.

Resta, portanto, perfeitamente evidenciada a aplicabilidade do Art. 502 ao presente


caso, pois:

- FORÇA MAIOR: Os efeitos da pandemia caracterizam Força Maior, nos termos do


Art. 1º da MP 927/2020;

14/16
- INTERRUPÇÃO DAS ATIVIDADES: Suspensão total dos serviços e impactos
financeiros decorrentes, devidamente comprovados;

- IMPREVISIBILIDADE: Tratam-se de impactos totalmente imprevisíveis e


incalculáveis, não podendo ser considerado risco do empreendimento;

- Ausente qualquer conduta da empresa que pudesse desencadear o referido


resultado.

Portanto, perfeitamente enquadrada a presente situação em caso de FORÇA


MAIOR, legitimando as medidas adotadas.

IV- DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Diante do exposto, a reclamada pede e requer:

a) O acolhimento das razões preliminares, encerrando o processo sem


resolução de mérito por inobservância da incorreção do valor da causa, bem
como a inépcia da petição inicial, conforme art. 485 do CPC.
b) O ACOLHIMENTO NA ÍNTEGRA destas razões, para fins de julgar
TOTALMENTE IMPROCEDENTE a Reclamação Trabalhista proposta;
c) A produção de todas as provas admitidas em direito;

Nestes termos,
Pede e aguarda deferimento.
Manaus/AM, 30 de abril de 2024

CIBELE DA COSTA CARVALHO


Advogada OAB/AM 9763

15/16
ISRAEL DE JESUS BRAGA
Advogado OAB/AM 9865

MARLON GUEDES TAVARES


Advogado OAB/AM 9855

Documentos Comprobatórios:

1. Fotos
2. Testemunha
3. Aviso prévio
4. Ata da reunião
5. Folha de ponto
6. Lista de demissão RH
7. Rescisão contratual
8. Escala de revezamento
9. Procuração
10. Carta de Preposição

16/16

Você também pode gostar