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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUI – UFPI


CAMPUS MINISTRO PETRÔNIO PORTELLA
DEPARTAMENTO DE MÉTODOS E TÉCNICAS – DMTE
DISCIPLINA: METODOLOGIA DE ENSINO DE HISTÓRIA
DOCENTE: DRª. FRANCISCO GOMES VILANOVA

PRODUÇÃO TEXTUAL
ENSINO DE HISTÓRIA E DOCUMENTÁRIOS

Guilherme Felix Coutinho


Izidio Carvalho Silva Rodrigues
Lilian Eliane de Carvalho Meireles
Maria Eduarda de Sousa Santos Melo
Renato Ramos de Almeida

TERESINA-PI
2024
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GUILHERME COUTINHO. IZIDIO RODRIGUES. LILIAN MEIRELES.


MARIA EDUARDA MELO. RENATO DE ALMEIDA.

PRODUÇÃO TEXTUAL
ENSINO DE HISTÓRIA E DOCUMENTÁRIOS

Produção Textual sobre – as Fontes e Linguagens


do uso do Documentário no Ensino de História
elaborado e apresentado como 3ª Atividade
Avaliativa referente aos estudos e práticas da
disciplina de Metodologia de Ensino de História e
como requisito aprovativo da mesma do curso de
Licenciatura em História-UFPI, ministrada pelo
Prof. Dr. Francisco Gomes Vilanova.

TERESINA-PI
2024
2

O USO DE DOCUMENTÁRIO NO ENSINO DE HISTÓRIA: UMA ANÁLISE DOS


DOCUMENTÁRIOS SOBRE “LUIZ GAMA” COMO RECURSO CONTRA O
APAGAMENTO DO PROTAGONISMO NEGRO NO MOVIMENTO
ABOLICIONISTA NO SÉCULO XIX

Guilherme Felix Coutinho (UFPI)1. Izidio Carvalho Silva Rodrigues (UFPI)2. Lilian Eliane de
Carvalho Meireles (UFPI)3. Maria Eduarda de Sousa Santos Melo (UFPI)4. Renato Ramos de
Almeida (UFPI)5.

RESUMO:
O presente estudo apresenta uma análise do uso dos Documentários “Luiz Gama: O advogado
da Liberdade” (Jornalismo da TV Cultura, 2021) e “Tempo e História: Luiz Gama” (2016)
como recurso didático, fonte historiográfica e uma nova linguagem e abordagem no
desenvolvimento do Ensino de História Afro-brasileira com foco no protagonismo Negro no
Movimento Abolicionista do século XIX. O objetivo do presente estudo é demonstrar a
contribuição do uso assertivo dos documentários no processo de ensino de História,
principalmente sobre a História Afro-brasileira que foi e ainda é vitima incessantemente do
sistema de apagamento e exclusão total da história “oficial” do Brasil. Com uso da pesquisa
bibliográfica foi realizada a coleta, seleção e análise do uso de documentários no processo de
desenvolvimento do ensino de história com foco no combate da historiografia tradicional
brasileira que promove o apagamento e silenciamento da História e Cultua Afro-brasileira.
Destarte, que os resultados apontaram a imensurável contribuição dos documentários na
prática docente com foco no ensino de História, principalmente no Ensino de História e
Cultura Afro-brasileira no combate ao ensino tradicionalista que visa incessantemente o
apagamento e silenciamento da História e Cultura Afro-brasileira na historiografia e centros
de ensino da Educação Básica no Brasil.

Palavras-chave: Documentário. Ensino de História. História Afro-brasileira. Luiz Gama.


Movimento Negro Abolicionista.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como finalidade apresentar uma análise sobre o uso de
Documentários como recurso e material pedagógico e didático, fonte historiográfica no
processo de Ensino de História no ambiente da sala de aula nas turmas de Ensino Médio da
educação básica do Brasil.

1
Graduando do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí-UFPI. E-mail:
2
Graduando do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí-UFPI. E-mail:
3
Graduanda do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí-UFPI. E-mail:
4
Graduanda do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí-UFPI. E-mail:
5
Graduando do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí-UFPI. E-mail:
renatoramosdealmeida@gmail.com.
3

A relevância do presente estudo está pautada no processo formativo da aquisição de


conhecimentos – saberes e fazeres – de natureza teórico-prática da produção e execução do
Plano de Aula durante as Oficinas I e II – Aulas Simuladas desenvolvidas pela disciplina de
Metodologia de Ensino de História ministrada pelo Prof. Dr. Francisco Gomes Vila na turma
do 4º período do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal do Piauí-UFPI.
A produção textual justifica-se pela necessidade da comprovação do processo de
compreensão, entendimento e aquisição de conhecimentos de natureza teórico-prática e
caráter formativos e essenciais para o devido desenvolvimento e exercício da prática docente
mediante o domínio pleno, efetivo, eficaz, eficiente no que se refere aos aspectos estruturantes
que compõe o Ensino de História (temas de ensino conforme as diretrizes e parâmetros da
Base Nacional Comum Curricular-BNCC) nos centros de ensino da educação básica brasileira
que ofertam ensino fundamental II (anos finais – 6º ao 9º) e ensino médio (1º,2º e 3º).

2 METODOLOGIA

A Metodologia utilizada foi com base nas técnicas, métodos e instrumentos da pesquisa
de revisão bibliográfica com abordagem qualitativa em relação a problemática e objetivos do
estudo. Nessa perspectiva, Bardin (2015) ressalta que a pesquisa bibliográfica requer um
levantamento da literatura com base no objeto de estudo, problemática e objetivos para
facilitar o processo de busca, coleta, seleção e principalmente da análise e tratamento das
fontes de pesquisas, neste caso, publicações científicas e historiográficas sobre o Ensino de
História através do uso de Documentários como recurso didático no ambiente da sala de aula.
O processo de coleta e seleção das fontes de pesquisa ocorreu através do uso de
plataformas científicas, banco de dados especializados, por exemplo, Scielo, Google
Acadêmico, Biblioteca Virtuais, Repositórios Científicos. Os descritores utilizados: Ensino de
História e Documentários; Documentários de Luiz Gama; Uso de Documentários na sala de
aula; Documentário como recurso de ensino e didático, entre outros. Em relação as fontes de
pesquisa, foram devidamente utilizados: livros, e-books, artigos, periódicos, literatura
cinzenta, textos trabalhados na sala de aula.
O processo de análise integrativa das fontes de pesquisa foi executado em conformidade
com as técnicas, métodos e instrumentais da análise de conteúdo de Bardin (2015), que
consiste no processo de tratamento das fontes de maneira gradual e sistêmica em três etapas:
1º fase pré-análise; 2º fase exploração do material; 3º fase interpretação e inferência dos
resultados obtidos no estudo.
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3 DOCUMENTÁRIO COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE HISTÓRIA

O Ensino de História, assim como de qualquer outra disciplina que compõe a matriz
curricular desde a educação básica até a educação superior requer aspectos estruturantes de
natureza assertiva como: formação docente, domínio do conhecimento, domínio das
competências e habilidades para o devido desenvolvimento do processo de ensino e
aprendizagem, metodologia de ensino, recursos didáticos, entre outros (Bittencourt, 2009).
Nesse sentido, Gil (2018) ressalta que o Ensino de História tem na sua essência
teórico-prática alguns elementos considerados “tradicionalistas” que compõem a estrutura
educacional vigente, por exemplo, o ambiente da sala de aula, matriz curricular, o livro
didático como o recurso pedagógico “matriz”, uma espécie de “manual” de natureza
dogmática que contém todos os temas de ensino necessário para a devida formação escolar
dos educandos.
Diante do exposto faz-se necessário uma reflexão sobre outras possibilidades,
abordagens, métodos e técnicas que podem ser utilizadas no ensino de História, por exemplo,
recursos audiovisuais como cinema, animações, documentários entre outros como uma forma
de tornar o momento aula mais atrativo. De Sales (2010) aponta que a sociedade vive em um
mundo tecnológico, desse modo faz-se necessário a devida utilização da tecnologia para
melhorar o processo de ensino com foco na melhoria do nível de aprendizagem dos
educandos.
Nessa perspectiva, promover uma simples análise sobre o uso de novas tecnologias e
principalmente mídias audiovisuais (cinema, animação, documentários) no ambiente da sala
de aula provoca imediatamente inúmeras questões, por exemplo, porque utilizar? como
utilizar? quais os impactos provocarão na metodologia de ensino e didática do professor?
quais impactos provocarão na aprendizagem dos/as educandos/as? esses elementos possuem
potencial como recurso pedagógico e didático? Entre outros questionamentos.
Duarte (2004) aponta que o processo educacional deve oferecer inúmeras
possibilidades com base em novas abordagens, métodos, técnicas e a utilização de novos
recursos didáticos que impactem de fato a vida dos educandos de uma maneira que o deixe
sedento e faminto pela aquisição de conhecimento e o desenvolvimento do pensamento
crítico, que ao mesmo tempo seja algo saudável, confortável alinhado com as diretrizes a
parâmetros curriculares, assim como, como o repertório cultural oriundo das vivências e
experiências dos educandos. A partir dessa premissa de Duarte o uso de documentários no
ambiente da sala de aula como um recurso pedagógico, didático e principalmente histórico é
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extremamente salutar não somente para o desenvolvimento do ensino de História, mas


também para impactar de forma positiva, criativa, construtiva a vida dos educandos com uma
abordagem mais nova, que os mesmos reconheçam.
4 ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Em conformidade com a Lei 10.639/03 os educados devem ministrar aulas sobre


Africanidades nas áreas de conhecimento referente a Educação Artística e de Literatura e
História Brasileiras com foco nos seguintes temas: História da África e dos Africanos, a luta
dos Negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à
História do Brasil (Brasil, 2003).
Compreende-se, que a legislação delimita de maneira simplista apenas duas áreas do
conhecimento da matriz curricular vigente que devem contemplar o ensino sobre
Africanidades e suas implicações no processo de construção do Brasil. A primeira área está
focada no ensino das Artes que visa através das produções artísticas explanar e explicar temas
sobre os africanos e afro-brasileiros, assim como a segunda área tem ênfase nas obras
literárias e historiografia brasileira.

O Brasil, país multiétnico e pluricultural, [...] em que todos se vejam


incluídos, em que lhes seja garantido o direito de aprender e de ampliar
conhecimentos, sem ser obrigados a negar a si mesmos, ao grupo
étnico/racial a que pertencem e a adotar costumes, ideias e comportamentos
que lhe são adversos. (Brasil, 2004, p.18).

A problemática e seus respectivos entraves se iniciam e sustentam-se justamente na


questão/fato do Estado Brasileiro criar uma obrigatoriedade (legislação) do Ensino sobre a
História e Cultura Afro-brasileira, mas não oferta formação superior (acadêmica)
especializada para os educadores, nem fomenta e produz práticas pedagógicas e didáticas,
material didático adequado para a devida prática docente dos educadores na sala de aula da
educação básica a temática supracitada.
Gomes (2012) ressalta que o campo de ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira
na educação básica é vasto e construtivo, porém não existe políticas públicas efetivas para o
desenvolvimento do ensino e aprendizagem, os educadores na grande maioria não possuem
formação especializada, e milhares não tem interesse em trabalhar com os conteúdos,
preferem os materiais de matriz eurocêntrica que detém um certo domínio.
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Nessa perspectiva, o ensino sobre Africanidades e Afro-brasilidades na sala de aula


torna-se impossível. Salva-se, pouquíssimos casos de educadores/educadoras (geralmente são
Negros/Negras) que se propõem a estudar, pesquisar e se capacitar sobre a temática para
implementar uma prática docente contracolonial e antirracista ao longo do ano letivo. A
grande maioria dos educadores da educação básica só promovem o ensino sobre a África,
Africanos e Afrodescendentes no mês de novembro devido a comemoração da Semana da
Consciência Negra (20 de Novembro data da morte de Zumbi dos Palmares).
Gomes (2012) ressalta que outro elemento adverso (entrave) sobre o processo de
ensino da História e Cultura Afro-brasileira é a mentalidade eurocêntrica dominante enraizada
tanto na matriz curricular, como nos materiais didáticos (livros, manuais e etc.) e na
formação dos educadores (academias/universidades). Desse modo, a luta pelo ensino
contracolonial é contra um sistema opressor que tem mais de 400 anos de uma historiografia
construída e narrada de uma maneira que promoveu e promove o apagamento e
invisibilização dos povos africanos e afrodescendentes no processo da construção do Brasil. É
explícito que no Brasil o sistema educacional ainda hoje vive sobre os moldes da metodologia
de ensino da “história única” como diz Chimamanda Ngozi Adichie no seu livro O perigo de
uma história única (2019).
A visão do autor demonstra o tamanho e intensidade do entrave que os educadores (na
grande maioria Negros/Negras, salvo raríssimos casos de professores não negros) que buscam
seguir a legislação e efetivar diariamente o processo de ensino das Africanidades e Afro-
brasilidades na sala de aula na educação básica. Apesar dos inúmeros entraves e obstáculos
pode-se dizer que teve alguns avanços ao longo desses 20 anos da Lei 10.639/03,
principalmente por causa dos Movimentos Sociais de Militância Negra e Antirracista que
diariamente lutam e cobram o direito de ter acesso a sua História e Cultura ensinada, avivada,
valorizada e reconhecida no ambiente escolar como uma ferramenta de empoderamento e
combate incessante ao racismo estrutural e o eurocentrismo.
Para Mandela (2020), a problemática incessante na aplicabilidade plena e efetiva da
Lei 10.639/03 nas salas de aulas no dia a dia ao longo do ano letivo inteiro, assim como
políticas públicas referente a mesma, por exemplo, a Educação das Relações Étnico-raciais
ocorre devido a inúmeros motivos e causas estruturantes. Entre as inúmeras causas, destacam-
se as seguintes: racismo estrutural; a falta do monitoramento e fiscalização nos centros de
ensinos por parte do poder público, direção e coordenação pedagógica; imenso desinteresse
dos educadores brancos com a temática; o baixo quantitativo de educadores Negros/Negras
que realmente trabalham a temática nas salas de aulas durante o ano letivo inteiro e etc.
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5 DOCUMENTÁRIOS SOBRE A VIDA E MORTE DE LUIZ GAMA

No processo de exibição dos documentários sobre Luiz Gonzaga Pinto da Gama “Dr.
Luiz Gama” no momento aula na sala de aula para a turma de 2º ano do Ensino Médio ficou
evidente o quanto a grande maioria dos educandos não detinham conhecimento sobre um dos
maiores herói da História do Brasil, precisamente o maior Líder Negro, revolucionário em
todos os aspectos e sentidos da palavra que compõe a História Afro-brasileira que
infelizmente sofre com os mecanismos de apagamento e silenciamento da historiografia
“oficial” do Brasil.
O primeiro documentário, Tempo e História – Luiz Gama foi produzido pela equipe
Rádio e TV Justiça (2016) com consultoria historiográfica e biográfica de especialistas sobre
a vida e morte de Luiz Gama. A história de Luiz Gama é narrada com uma abordagem
didática através de relatos baseados em estudos documentais e da oralidade sobre os fatos de
natureza histórico-biográfica de especialistas, historiadores, biógrafos, lideranças negras,
ativistas, familiares que foram entrevistados pela equipe da Rádio e TV Justiça. Entre os
entrevistados podemos destacar os seguintes: Maria Clementina de Souza (Delegada de
Polícia de Classe Especial); Lígia Fonseca Ferreira (Historiadora e Biografa); Silvio Luís de
Almeida (Diretor do Instituto Luiz Gama), entre outros.
O segundo documentário, Luiz Gama – O Advogado da Liberdade, foi produzido pela
equipe do Jornalismo TV CULTURA (2021) através da liderança da jornalista Maria Manso,
diretor Simão Scholz, produtor Eugênio Araújo. A história de Luiz Gama é narrada através de
abordagem mista com uso de recursos jornalísticos e historiográficos com foco nas entrevistas
de jornalistas especialistas sobre a história de vida e luta de Luiz Gama, assim como, o uso de
partes de cenas do filme Dr. Gama (2021) e recursos de animações gráficas. A repórter
entrevista professores, pesquisadores, escritores e representantes de movimentos antirracistas
que falam sobre a importância do legado de Luiz Gama para a história da escravidão até os
dias de hoje no Brasil.
Destarte, que ambos os documentários foram produzidos com a finalidade de trazer a
luz, assim como, o devido reconhecimento e valorização da história de vida e luta de um dos
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maiores heróis da História do Brasil – Luiz Gonzaga Pinto da Gama que foi apagada e
silenciada por várias e várias décadas pelos “produtores” (elite branca) da historiografia
“oficial” brasileira, na verdade da história narrada pelos “brancos” que ocupam cargos nas
esferas de poder e controlam as “narrativas” e a construção de uma História do Brasil
excludente e mitológica em todos os aspectos e sentidos desse termo.

6 ANÁLISES E REFLEXÕES

No documentário Tempo e História – Luiz Gama (2016), a historiadora e biógrafa


Lígia Ferreira (2016) narra de maneira detalhada a trajetória de vida e luta de Luiz Gama,
desde o seu nascimento em Salvador-BA em 1830, relata sobre a sua matriarca Luiza Mahim,
assim como todas as adversidades que o mesmo perpassou após a sua matriarca ter que partir
para a cidade do Rio de Janeiro devido a sua liderança revolucionária contra a escravização do
povo negro na Bahia.
Leite (2019) aponta que os documentários possuem um potencial didático
imensurável, pois além de transmitir o conhecimento historiográfico sobre determinados
temas de ensino promove a materialização do mesmo e auxilia no processo de debates,
discussões, problematização e principalmente abre um leque de opções de métodos e tipos de
avaliação.
Em Luiz Gama – O Advogado da Liberdade (2021), o entrevistado narra de maneira
didática como Luiz Gama adquiriu as competências de ler/escrever, que mesmo tendo sido
tardiamente aos 17 anos, mas devido a sua capacidade intelectual e o autodidatismo, ele teve
muito facilidade de aprender vários ofícios, por exemplo, tipógrafo, escritor, jornalista, poeta,
chefe de polícia, e principalmente a sua formação em Direito que mesmo tendo sido negado a
sua oficialização pela “elite branca” que comandada a universidade, Luiz Gama encontrou um
dispositivo legal para exercer a advocacia nos tribunais como “rábula”.
Nesse sentido, De Sales (2010) afirma que os documentários, como uma produção
audiovisual traz para a sala de aula a materialização do conhecimento através da exposição
dos fatos históricos de forma vívida, concreta, como se fosse em tempo real, uma espécie de
viagem no tempo e os educandos fossem testemunha oculares da “História” ou do que mais se
aproxima da “História”. Leite (2019) aponta que o elemento crucial no uso dos documentários
no Ensino de História é a devida e assertiva utilização das fontes de pesquisas e as linguagens
com base na ciência história que são concedidas através da consultoria de especialistas
(historiadores, biográficos, antropólogos, e etc.) sobre os temas de ensino em questão.
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Os documentários são produções audiovisuais resultados de um processo de


estudo/pesquisa biográfica e historiográfica (Duarte, 2004). Estes auxiliam o processo de
reconhecimento, valorização e principalmente o “resgate”, traz a luz uma história que foi
negligenciada, apagada e silenciada por um longo tempo pelos senhores e patronos da
historiografia, neste caso, a historiografia “oficial” brasileira (Gomes, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, observou-se as inúmeras e imensuráveis possibilidades e cenários


metodológicos e didáticos que o uso dos documentários brasileiros pode promover para o
desenvolvimento do Ensino de História, neste caso em particular do Ensino de História Afro-
brasileira no ambiente da sala de aula para as turmas do Ensino Médio da educação básica
como um instrumento de resistência contra a historiografia “branca” brasileira.
O Ensino de História e Cultura Afro-brasileira é uma modalidade extremamente
urgente e relevante para a devida reparação, reconhecimento, valorização da contribuição do
Povo Negro para a formação do Brasil em todos os aspectos estruturantes. E neste caso, trazer
a luz a vida e luta de Dr. Luiz Gama um dos maiores heróis da História Brasil, um dos
maiores líderes e ícone da população negra através da utilização de documentários produzidos
com a finalidade de demonstrar para todo o Brasil e o mundo que existiu um Homem Negro
que foi escravizado ainda criança pelo próprio “pai”, aprendeu a ler/escrever, tornou-se
autodidata, cursou Direito, obteve a sua liberdade no ambiente de poder dominado pelos
“brancos” – o tribunal – utilizando a sua inteligência, genialidade, domínio do conhecimento
sobre as leis e dom da palavra (oratória e argumentação) com estratégias jurídicas
extraordinárias libertou mais 500 negros/negras escravizadas.
Desse modo, o uso do documentário como recurso didático no Ensino de História
promove a materialização do conhecimento e facilita a aprendizagem dos temas de ensino na
sala de aula, além de suscitar/estimular discussões, debates e rodas de conversas sobre os
assuntos em questão em conformidade com os currículos. Neste caso, a temática foi a vida e
luta de Dr. Luiz Gama no contexto do protagonismo Negro no Movimento Abolicionista no
século XIX com a finalidade de demonstrar que o processo de Abolição da escravização não
ocorreu pelas mãos de uma princesa “branca’, através do “Mito da Princesa Salvadora” e sim
através da luta incessante com vários mecanismos de resistências contra escravização do Povo
Negro no Brasil.
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Destarte, que o uso dos documentários como recurso didático tem a capacidade de
contribuir para o resgate, fortalecimento e reconhecimento de inúmeras histórias do Povo
Africano e Afrodescendente no processo da formação do Brasil, principalmente em
conformidade com as diretrizes da Lei 10.639/03 que busca promover uma Educação
Antirracista e contribuir para a formação de cidadãos críticos e que saibam respeitar, valorizar
e defender a equidade racial diariamente.

REFERÊNCIAS

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2015.

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de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira,
2003. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm. Acesso
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Disponível em: https://editalequidaderacial.ceert.org.br/pdf/diretrizes.pdf. Acesso em
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